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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sobre sonhos

O bosque dormia; o serpenteante atalho que o atravessava estava escuro e não se percebia o mais leve movimento. O prolongado crepúsculo estava desaparecendo nesses instantes, e o silêncio da noite cobria a terra. A pequena correnteza, tão por um fio em seu gotejar durante o dia, ia cedendo à quietude da noite que se aproximava. Através das pequenas aberturas entre as folhas se divisavam as estrelas, brilhantes e muito próximas. A escuridão da noite é tão necessária como a luz do dia. As acolhedoras árvores, recolhidas agora em si mesmas, se mostravam distantes; se encontravam aí, rodeando a ele, porém afastadas e inacessíveis; dormiam e não havia que molestá-las. Nesta quieta escuridão, havia um crescer e um florescer que reunia forças para se enfrentar à vibrante vitalidade do dia.

À noite e o dia são essenciais, ambos dão vida e energia a todas as coisas vivas. Só o homem a dissipa. O dormir é muito importante; um dormir sem demasiado sono nem agitação. Enquanto dormimos ocorrem muitas coisas, tanto no organismo físico como no cérebro (a mente é o cérebro); ambos é uma só coisa, um movimento único. Para esta estrutura total, o dormir é absolutamente essencial. Durante o sono advém a ordem, o ajuste das funções e se originam percepções mais profundas; quanto mais quieto está o cérebro, tanto mais profundo é o discernimento. O cérebro necessita segurança e ordem para funcionar harmoniosamente, sem atrito algum. A noite se encarrega disso, e durante o dormir tranqüilo há movimentos, há estados que o pensamento jamais poderá alcançar. Os sonhos são desordem; deformam a percepção total. Enquanto dorme a mente se rejuvenesce a si mesma.

Porém, ao se dizer que os sonhos são necessários, que se não sonhar se pode enlouquecer, afirma-se que ajudam e são reveladores. Estão os sonhos superficiais, que não tem muito significado, estão os sonhos significativos e também existe o estado sem sonhos em absoluto. Os sonhos são em suas diferentes formas e símbolos a expressão de nossa vida cotidiana. Se não há harmonia, se não há ordem em nossa vida cotidiana de relação, então os sonhos são uma continuação dessa desordem. Enquanto dormimos, o cérebro trata de produzir essa ordem a partir desta confusa contradição. Nesta luta constante entre a ordem e a desordem, o cérebro se desgasta. Porém, ele deve ter segurança e ordem para poder funcionar, e assim é como chegam a serem necessárias as crenças, as ideologias e demais conceitos neuróticos. Converter a noite em dia é um desses hábitos neuróticos. A insensatez que se desenvolve no mundo moderno depois do anoitecer, é um escape da rotina e o tédio do dia.

A total percepção da desordem na relação tanto privada como pública, pessoal ou distante, o dar-se conta, sem opção alguma, do ‘que é’ durante as horas conscientes do dia, produz ordem onde imperava a desordem. Então o cérebro não necessita buscar por ordem enquanto dormimos. Os sonhos são só superficiais, sem significação. A ordem na totalidade da consciência, não só no nível ‘consciente’, se produz quando cessa completamente a divisão entre o observador e o observado. Transcende-se ‘o que é’ quando o observador que é o passado, que é tempo chega a seu fim. O presente ativo, ‘o que é’, não se acha escravo do tempo, como é o observador.

Só quando a mente o cérebro e o organismo tem esta ordem total durante o sono, que há uma percepção profunda desse estado inexpressável em palavras, desse movimento intemporal. Isto não é nenhum sonho fantástico, alguma válvula de escape. É a meditação em sua expressão máxima e completa. Tanto faz se o cérebro está ativo, desperto ou dormido, porém o constante conflito entre a ordem e a desordem, desgasta ao cérebro. A ordem é a mais alta forma de virtude, sensibilidade, inteligência. Quando existe esta grande beleza da ordem, da harmonia, o cérebro não está incessantemente ativo; certas partes se encarregam da memória, porém essa é uma parte muito pequena; o resto do cérebro se acha livre do ruído da experiência. Dessa liberdade é a ordem, a harmonia do silêncio. Esta liberdade e o ruído da memória se movem juntos; a ação deste movimento é inteligência. A meditação consiste em estar livre do conhecido e, não obstante, operar no campo do conhecido. Não há um ‘eu’ como operador. Esta meditação se desenvolve tanto no sonho como na vigília.

O atalho saía lentamente do bosque e, de horizonte a horizonte, o céu se encontrava repleto de estrelas. Nos campos nada se movia.

Autor: Krishnamurti - 10 de Outubro de 1973
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill