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sexta-feira, 31 de março de 2017

Os conceitos e a "linha de enredo" do pensamento

Se refletirmos sobre a natureza dos conceitos e sobre a maneira não-crítica como aceitamos a realidade que eles criam, poderemos ter a impressão de estar presos no meio de um elaborado programa de computador que funciona sem a nossa decisão consciente. E, no entanto, tendemos a achar que comandamos o nosso pensamento. Somos nós que estamos operando o programa, ou será que é ele que está nos operando? Seríamos capazes de nos separar do programa e permitir que os nossos pensamentos e ações fossem informados por um conhecimento mais abrangente e confiável, intrínseco ao nosso próprio ser?

À luz de uma compreensão mais ampla, será que poderíamos retreinar a nossa mente para uma forma mais satisfatória de visão? Seria possível uma visão que conseguisse penetrar as nossas estruturas e padrões conceituais? Haveria um meio de abrirmos os nossos conceitos e revitalizá-los com significados que nos permitissem comunicar nossas ideias de forma mais completa? Poderíamos encontrar conceitos que fossem mais próximos da qualidade imediata de nossa experiência, e mais sintonizados com os nossos insights e sentimentos?

Talvez haja meios de vislumbrarmos um lado mais sutil da nossa consciência que poderia nos permitir examinar, com maior clareza, os padrões fixos da mente. Quando relaxamos o corpo, podemos diminuir o ritmo dos pensamentos e das imagens, e observar mais diretamente o processo dos pensamentos em si. 

Este relaxamento não precisa de qualquer técnica especial. É simplesmente uma questão de observarmos os pensamentos que vêm, sem comentários nem interpretações. Quando experimentamos esta maneira de observar o funcionamento da mente, o que vemos talvez não seja bem o que esperávamos: pode parecer não muito importante. Porém, com o tempo, é possível que comecemos a observar com uma qualidade de concentração relaxada e não-forçada, a qual, em si mesma, pode constituir uma experiência nova. Esta forma de olhar para dentro pode levar a importantes insights acerca da natureza dos pensamentos, bem como uma nova consciência das ligações que existem entre os pensamentos e os sentimentos.

Os pensamentos, quando deixados por si só, tendem a caminhar até um ponto em que pausam, quase como se tivessem convergido para uma parede vazia. Pode ser que já tenhamos vivenciado esta pausa, num momento em que seguíamos rigorosamente um determinado encadeamento de pensamentos, ou que nos percebemos "entalados" num problema. A qualquer momento, a mente pode ficar silenciosa por um instante. Se notamos esta pausa, geralmente consideramos que chegamos ao fim de uma cadeia de pensamentos. Se nenhum pensamento novo surge para continuá-la, voltamos nossa atenção para um outro assunto. 

No entanto, este aparente "beco sem saída", onde os pensamentos caminham para um único ponto e se desfazem, pode também representar a porta para um novo conhecimento. Focalizando-nos neste ponto com uma concentração equilibrada, podemos ver possibilidades de um modo de conhecer que se encontra além de nossos padrão habitual de pensamento.

Se permanecermos relaxados e atentos, poderemos perceber uma sensação de luminosidade, como se através do silêncio brilhasse uma luz. O fluxo normal dos pensamentos e o hábito de fixarmos a atenção no conteúdo dos pensamentos, dão-nos poucas oportunidades de perceber a presença de luz em nossas imagens mentais. Se afrouxarmos nosso apego ao conteúdo dos pensamentos e ficarmos atentos aos pensamentos em si, poderemos percebê-los surgindo de dentro desta luminosidade, logo antes de tomarem a forma de palavras.

O processo acontece tão rápido que imediatamente identificamos os pensamentos com palavras, ou talvez com blocos inteiros de palavras que dão início a um diálogo interno. À proporção que mais interpretações vão se seguindo, e que conceitos vão se combinando e evocando fortes cores emocionais, podemos nos dar conta de que os nossos sentimentos estão onerados por uma sensação de peso que parece escura e séria. Que pensamentos contribuem para esta sensação pesada? O que aconteceu com as qualidades de abertura e luz com as quais o processo havia se iniciado?

Ao fazermos estas perguntas, talvez o fluxo dos pensamentos faça novamente uma pausa, por um breve momento. Porém, quase que imediatamente, um novo fluxo de pensamentos se põe em movimento, durando um período longo ou talvez apenas poucos instantes, antes que uma nova sequência se inicie. De onde vêm estas fileiras de pensamentos? O que acontece quando tomamos posse dos nossos pensamentos e conscientemente os guiamos em uma direção específica?

Talvez pareça não haver pausas no fluxo dos pensamentos: somos envolvidos por uma sequência que tem um tema ou uma "linha de enredo", quando, de repente, o conteúdo muda e nos vemos no meio de uma outra história. Como fomos parar de uma história na outra? Será que cada uma delas tem um começo e um fim, ou será que são contínuas? Elas se sobrepõem, influenciado-se umas às outras?

Ao questionarmos os pensamentos desta maneira, conseguimos afrouxar nosso apego e fixação ao conteúdo dos pensamentos, e ganhar novos insights acerca dos nossos processos mentais. Cada pensamento constitui uma oportunidade para observarmos a nossa mente e aprendermos com ela. Com maior experiência, podemos começar a ver como os pensamentos podem, na verdade, criar confusão e prolongar estados mentais indesejáveis. Com o tempo, ficará mais óbvio o modo como um pensamento gera outro, e como a dinâmica dos pensamentos tende a se auto-propelir, alimentando e realimentando ciclos de impulsos que correm pela mente.

Da mesma forma que um tecelão cria uma tapeçaria, definindo a trama básica do tecido, e depois ornamentando-a com um desenho após outro, nossa mente parece ter pensamentos e imagens em réplicas intermináveis. Quando pegamos o começo de um pensamento, podemos observar como ele se inicia com um padrão simples, aberto e espaçoso, que vai se tornando mais denso, à medida que imagens se entrecruzam para formar padrões cada vez mais complexos.

Ao estimular lembranças e associações que evocam um universo de sentimentos e emoções, os pensamentos perdem sua abertura, enquanto vão se proliferando e se entrelaçando. Concomitantemente, podemos perceber nossas faculdades críticas em ação, rotulando nossa experiência como felicidade, depressão, êxtase, tédio, raiva, como algo nobre ou condenável. 

À medida que cada experiência é carimbada e testemunhada pela mente, nossos pensamentos a seu respeito tornam-se mais conscientes e "reais"; então, identificamo-nos com a experiência e reagimos a ela de acordo com o nosso condicionamento. Dentre todas as possibilidades de enxergarmos uma determinada experiência, vamos, quem sabe, optar por chamá-la de "prazer". A seguir, projetamos a experiência fora de nós, e decidimos que queremos ter aquela experiência. Ao buscarmos as coisas que associamos com o prazer, encontramos a nossa própria imagem do que o,prazer "deve ser". Ao tentar agarrar um objeto, esperando sentir prazer e desejando prolongá-lo, experimentamos prazer por apenas um curto tempo. Quase que imediatamente, sentimos que ele escorrega em nossa mão.

Observar os movimento de ir e vir dos pensamentos nos permite ver como a mente apõe rótulos às percepções, sentimentos e emoções, e como ela então produz comentários e mais comentários sobre o que estamos vivendo. Ao ver estes padrões de pensamento sendo tecidos diante de nossos olhos, podemos nos perguntar se eles, na realidade, formam uma trama sólida. Talvez seja possível nos vermos — não só a nossa personalidade, aparência e atividades, mas a própria raiz do nosso ser —  de modo diferente. Uma visão assim nova e aberta poderia aliviar a mente das tendências que congelam a experiência e nos deixam vulneráveis a confusões. Assim que descobrimos que é possível soltar a garra dos conceitos que nos enredam em dores emocionais, teremos dado os primeiros passos em direção a uma compreensão nova, capaz de transformar a qualidade de todas as nossas experiências.

Com um maior discernimento acerca de quem somos e do que somos, por que percebemos, sentimos, compreendemos e interpretamos da maneira como fazemos, seria possível considerar tudo o que sabemos de uma perspectiva inteiramente nova. Poderíamos, então, analisar nossas pressuposições mais a fundo, decidindo por nós mesmos o que é possível e  que não é possível mudar, que forma de pensar são saudáveis e úteis, e quais delas nos envolvem em sofrimentos desnecessários. À medida que continuássemos a questionar, nossos pensamentos poderiam se tornar mais vitais e mais claros, abrindo novas possibilidades de autocompreensão e de maior controle sobre a direção da nossa vida.

Tarthang Tulku em, Conhecimento da Liberdade
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill