segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
A necessidade de uma disciplina psíquica
domingo, 30 de dezembro de 2012
Pode se libertar a mente do processo de deterioração?
Seria interessante e proveitoso examinarmos nesta tarde a questão relativa ao fator de deterioração da mente. Quando jovens, somos muito zelosos, temos tantas ideias entusiásticas, revolucionárias, mas em geral acabamos enredados numa dada atividade e, lentamente, nos esgotamos. Vemos isso acontecer ao redor de nós e dentro de nós mesmos; e é possível deter esse processo de deterioração que constitui sem dúvida um dos nossos problemas principais? Se é ao capitalismo ou ao socialismo, à esquerda ou à direita, que cabe organizar o bem-estar mundial — agora, que a produção é imensa — não me parece ser esse o problema. Penso que o problema é muito mais profundo, e o problema é este: pode-se libertar a mente, de maneira que ela permaneça livre para sempre e, por conseguinte, não mais sujeita à deterioração?
Não sei se já pensastes neste problema, ou se já tendes observado como a pouco e pouco se esgota a vitalidade o vigor, a vivacidade da nossa mente e ela se torna, gradualmente, um instrumento de hábitos e crenças mecânicos um complexo de rotina e repetição. Se realmente temos pensado a este respeito, devemos ver que isso é um problema, para a maioria de nós. Quando vamos envelhecendo o peso do passado, a carga das coisas lembradas, das esperanças, das frustrações, dos temores, tudo parece cercar e fechar a mente e dela nunca nos vêm coisas novas mas só repetições, um sentimento de ansiedade, uma perpétua fuga de si mesmo e, por fim, o desejo de encontrar alívio de alguma espécie, um pouco de paz, um Deus que nos satisfaça completamente.
Ora, se pudéssemos examinar bem esta questão, acho que seria muito proveitoso. Pode a mente ser libertada de todo esse processo de deterioração e ultrapassar a si mesma, não de maneira misteriosa ou miraculosa, não amanhã ou noutra data futura, mas imediatamente, instantaneamente Esse descobrimento pode ser função da meditação. Porque é, pois, que nossa mente se deteriora? Porque é que nada existe de original em nós, que tudo o que sabemos é mera repetição, que nunca há constância de criação? Estes são os fatos, não é verdade? Que é que causa essa deterioração, e pode a mente detê-la? Iremos debater a este respeito, dentro em pouco, e espero tomeis parte na discussão.
A mim é bem óbvio que existirá necessariamente deterioração enquanto houver esforço. E pode-se observar que nossa vida está toda baseada no esforço — esforço para aprender, adquirir, reter, ser alguma coisa ou renunciar ao que somos e virmos a ser outra coisa. Haverá sempre esta luta de ser ou vir a ser, consciente ou inconscientemente, voluntariamente ou sob o impulso de desejos ocultos; e esta luta não é a causa principal da deterioração da mente?
Como disse, nós vamos debater esta questão, depois de eu dizer mais umas palavras, e peço-vos portanto não fiqueis apenas a ouvir palavras. Estamos tentando descobrir juntos por que razão a onda de deterioração está sempre a perseguir-nos. Sei que existe o problema imediato da alimentação, do vestir e morar, mas acho que temos de considerar este problema de um ângulo diferente, se queremos resolvê-lo; e mesmo àqueles de nós que têm o suficiente para comer e vestir e têm onde morar, apresenta-se outro problema que ê muito mais profundo. Observa se no mundo tanto a existência da extrema tirania como de uma liberdade relativa; e se só nos interessasse a distribuição universal dos alimentos e outros produtos, então talvez a tirania absoluta pudesse ser útil. Mas nesse processo se destruiria a possibilidade de desenvolvimento criador do homem; e, se o que nos interessa é o homem total e não unicamente o problema social e econômico, neste caso acho que tem de surgir inevitavelmente uma questão muito mais fundamental. Porque existe este processo de deterioração, esta incapacidade de descobrir o novo, não no terreno científico, mas dentro de nós mesmos? Por que razão não somos criadores?
Se observardes o que está sucedendo, seja aqui, seja na Europa ou América, devereis perceber que quase todos estamos imitando, conformando-nos, obedecendo ao passado à tradição, e como indivíduos jamais descobrimos, profundamente, fundamentalmente, coisa alguma por nós mesmos. Vivemos como máquinas, de onde nos advém um certo sentimento de desdita, não é verdade? Não sei se realmente investigastes isto, mas parece-me que uma das causas principais desse conformismo é o desejo de nos sentirmos interiormente seguros. Para se estar em segurança psicologicamente, tem de haver separação, e para se estar separado necessita-se de esforço, esforço para ser algo; e esse pode ser um dos fatores que está impedindo o descobrimento de qualquer coisa nova, por parte de cada um de nós. Podemos discutir este ponto?
(Pausa)
Muito bem, senhores, vamos expressar o problema de maneira diferente. Vê-se que a meditação é necessária, uma vez que, por meio da meditação, se podem descobrir muitas coisas. A meditação abre-nos a porta a experiências extraordinárias, tanto fantasiosas como reais; e estamos sempre a indagar como se medita, não é verdade? Os mais de nós lemos livros que prescrevem um sistema de meditação, ou recorremos a um certo instrutor para que nos ensine a meditar. Mas nós, aqui, queremos saber, não como meditar mas o que é meditação; e a própria investigação para saber o que é meditação, é meditação. Entretanto nossa mente deseja saber como meditar e, desse modo facilita-se a deterioração.
Se o pensamento é capaz de investigar com muita profundeza e de desnudar-se diante de si mesmo, sem procurar corrigir, mas sempre vigilante a fim de descobrir; sem condenar, mas sempre examinando as coisas muito atentamente, então, esse estado mental pode chamar-se meditação. E essa mente, sendo livre, é capaz de descobrimentos. Para ela não existe deterioração, porque nunca há acumulação. Mas a mente que diz: "Ensina-me como tornar-me tranquila, como chegar lá, e me esforçarei para seguir o método que indicardes" — essa mente, é bem óbvio é imitativa, sem audácia e, por conseguinte, está provocando a própria deterioração.
Aos mais de nós só interessa o como, que é um meio de certeza, segurança. O como — por mais nobre, por mais exigente, por mais disciplinador que seja — só nos pode levar ao conformismo. A mente que quer ajustar-se pelos seus próprios esforços torna-se escrava de um método, perdendo, por conseguinte, a extraordinária capacidade de descobrimento. E se não houver o descobrimento, em vos mesmo, de algo original, novo, não contaminado, ainda que tenhais a mais perfeita organização para produzir e distribuir os meios de satisfazer as necessidades físicas, continuareis a ser igual a uma máquina. Por conseguinte, este problema vos concerne, não? Pode a mente, tão mecanizada que está, tão dominada pelo hábito, pelo passado, libertar-se do passado e descobrir o novo, chamai-o Deus ou como quiserdes? Podemos discutir sobre isto?
(Pausa)
Senhores, este problema é novo para vós, ou acaso nunca pensantes nestas coisas por esta maneira? Mais uma vez vou expressar o problema de modo diferente.
Sois bem versados no Upanishads, no Gita, na Bíblia, estais bem familiarizados com a filosofia do hinduísmo, do cristianismo, do comunismo, etc. Estas filosofias, estas religiões, muito evidentemente não resolveram o problema humano. Se dizeis: “O problema humano não foi resolvido porque não temos seguido estritamente os preceitos do Gita" — a resposta óbvia que se pode dar é que, seguir qualquer autoridade, por mais nobre ou tirânica que ela seja, torna a mente mecanizada, sem originalidade, tal qual um disco de gramofone, que só é capaz de repetir e repetir e repetir; e em tal estado não se pode ser feliz.
Agora, conhecedores deste fato, de que maneira vos lançaríeis ao descobrimento do Real, por vós mesmos? Compreendeis, senhores, Deus, a Verdade, ou o que quer que seja, tem de ser uma coisa totalmente nova, uma coisa fora do tempo, fora da memória, não achais? Não pode ser uma coisa lembrada, do passado, uma coisa que foi dita ou conjecturada, criada pela mente. E como ireis descobrir essa coisa? Certamente, ela só pode ser descoberta quando a mente está livre do passado, quando a mente deixa de criar imagens, símbolos. Quando a mente formula imagens, símbolos, não é isso um autêntico fator de deterioração. É provável seja isso o que está acontecendo na índia, bem como no resto do mundo.
Está claro o problema? Ou isso não é problema para vós?
Krishnamurti – Da solidão à plenitude humana
O aprendizado espiritual não pode vir das palavras
Algo pode ser compreendido, mas o entendimento que vem através do outro nunca pode ser mais do que intelectual. Eis porque Krishnamurti pede o impossível. Ele diz: "Não me entenda intelectualmente" — mas nada, exceto o entendimento intelectual, "pode vir de outro alguém". Eis porque o esforço de Krishnamurti tem sido absurdo. O que ele está dizendo é autêntico, mas quando exige mais do que compreensão intelectual do ouvinte, é impossível. Nada mais pode vir de alguém, nada mais pode ser entregue.
O indivíduo tem de começar em algum lugar. Todo começo tende a ser um falso começo, mas o indivíduo tem de começar. Através do falso, através do apalpar, a porta é encontrada. O indivíduo que pensa que começará apenas quando o começo correto estiver ali, nunca começará. Mesmo um passo falso é um passo na direção correta. Por que é um passo, um começo. Você começa a apalpar no escuro e através do apalpar a porta é encontrada.
Eis porque eu disse para estar consciente do processo linguístico — o processo das palavras — e para buscar uma consciência dos vazios, dos intervalos. Haverá momentos em que não haverá esforço consciente de sua parte e você se tornará consciente dos vazios. Este é o encontro com o Divino, o encontro com o existencial.
Quando quer que haja um encontro, não fuja dele. Esteja com ele. Será assustador em princípio; é propenso a ser. Quando quer que o desconhecido é encontrado, o medo se cria, porque para nós o desconhecido é morte. Assim, quando quer que haja um vazio, você sentirá a morte vindo para você. Então, morra! Apenas esteja nela e morra completamente no vazio. E você será ressuscitado. Por morrer sua morte no silêncio, a vida é ressuscitada. Você está vivo pela primeira vez, realmente vivo.
Assim, para mim, meditação não é um método, mas um processo; meditação não é uma técnica, mas um entendimento. Não pode ser ensinada; pode ser apenas indicada. Você não pode ser informado sobre ela, porque nenhuma informação é realmente informação. Ela é do externo e a meditação surge das suas próprias profundezas interiores.
Assim, procure, seja um buscador e não seja um discípulo. Então você não será um discípulo de algum guru, mas um discípulo da vida total. Então você não estará apenas aprendendo palavras. O aprendizado espiritual não pode vir das palavras, mas dos vazios, dos silêncios que lhe estão sempre cercando. Eles estão lá, até mesmo na multidão, no mercado, no bazar. Busque os silêncios, busque os vazios internos e externos e um dia você descobrirá que está em meditação.
A meditação vem para você. Ela sempre vem; você não pode trazê-la. Mas o indivíduo tem de estar em busca dela, porque somente quando você estiver em busca, você estará aberto para ela, vulnerável a ela. Você é um anfitrião dela. A meditação é um convidado. Você pode convidá-la e esperá-la. Ela vem a Buda, vem a Jesus, ela vem a todo o que está pronto, que está aberto e buscando.
Mas não a aprende de algum lugar; caso contrário, você será enganado. A mente está sempre procurando alguma coisa mais fácil. Isto se torna a fonte para a exploração. Então há gurus e charlatões, e a vida espiritual é envenenada.
Mas isto está sendo feito. Então esteja consciente disto e não pergunte a ninguém, "O que é meditação? Como meditar?" Ao invés disto, pergunte quais são os obstáculos, quais são os empecilhos. Pergunte porque não estamos sempre em meditação, onde o crescimento foi interrompido, onde fomos mutilados. E não busque um guru, porque os gurus são mutiladores. Qualquer um que dá fórmulas prontas não é um amigo, mas um inimigo.
Tateie no escuro. Nada pode ser feito. O próprio apalpar tornar-se-á o entendimento que o libertará da escuridão. Jesus disse: "A verdade é liberdade". Entenda esta liberdade. A verdade é sempre através do entendimento. Ela não é alguma coisa que você encontra e acha, é alguma coisa para dentro da qual você cresce. Assim, esteja na busca do entendimento, porque quanto mais entendido você se tornar, mais próximo estará da verdade. E em algum momento imprevisível, desconhecido, inesperado, quando o entendimento chegar a um apogeu, você estará no abismo. Você não é mais e a meditação é.
Quando você não é mais, você está em meditação. Meditação não é mais de você; está sempre além de você. Quando você está no abismo, a meditação está lá. Então o ego não está; então você não está.Então o ser é. Eis o que as religiões querem dizer por Deus: o ser supremo. Esta é a essência de todas as religiões, de todas as buscas, mas não será encontrada pronta em nenhum lugar. Assim, esteja alerta de todo aquele que a proclama.
Continue a tatear e não tenha receio do fracasso. Admita falhas, mas não repita as mesmas falhas. Uma vez é tudo; é o bastante. A pessoa que continua a errar em busca da verdade é sempre perdoada. É uma promessa das próprias profundezas da existência.
OSHO - A psicologia do Esotérico
Compreendendo o vício da verbalização da existência
A mente está sempre verbalizando. Você pode conhecer palavras, você pode saber línguas, você pode conhecer a estrutura conceitual do pensamento, mas isso não é o pensar. Ao contrário, é uma fuga do pensar. Você vê uma flor e você a verbaliza; você vê um homem atravessando a rua e você o verbaliza. A mente pode transformar cada coisa existencial em palavras. Então as palavras se tornam uma barreira, um aprisionamento. Esta constante transformação das coisas em palavras, da existência em palavras, é o obstáculo à mente meditativa.
Assim, a primeira exigência em direção à mente meditativa é tornar-se consciente de sua constante verbalização e ser capaz de pará-la. Apenas veja as coisas; não verbalize. Seja consciente da presença delas, mas não as transforme em palavras. Deixe as coisas serem, sem linguagem; deixe as pessoas serem, sem linguagem; deixe as situações serem, sem linguagem. Não é impossível; é natural. É a situação tal qual existe agora, que é artificial, mas nós nos tornamos habituados a isto, ela tornou-se tão mecânica, que nós nem mesmo temos consciência de que estamos constantemente transformando a experiência em palavras.
O nascer do sol está ali. Você nunca está consciente do vazio entre vê-lo e verbalizá-lo. Você vê o sol, você o sente e imediatamente você o verbaliza. A distância entre o ver e o verbalizar se perde. O indivíduo deve estar consciente do fato de que o nascer do sol não é uma palavra. É um fato, uma presença. A mente automaticamente transforma experiências em palavras. Estas palavras então surgem entre você e a experiência.
Se dois amantes nunca estão em silêncio, é uma indicação de que o amor morreu. Agora eles estão enchendo o vazio com palavras. Quando o amor está vivo, as palavras não estão lá, porque a própria existência do amor é tão dominadora, tão penetrante, que a barreira das palavras e da linguagem é ultrapassada. E comumente é somente ultrapassada no amor.
A meditação é a culminação do amor; amor não por uma pessoa em particular, mas pela existência total. Para mim, meditação é um relacionamento vivo com a existência que o cerca. Se você pode estar apaixonado com qualquer situação, então você está em meditação.
E isto não é um truque mental. Não é um método de imobilização da mente. Ao contrário, requer um profundo entendimento do mecanismo da mente. No momento em que você entende seu hábito mecânico da verbalização, de transformar a existência em palavras, um vazio é criado. Vem espontaneamente. Segue ao entendimento como uma sombra.
O problema real não é como estar em meditação, mas saber porque você não está em meditação. O próprio processo da meditação é negativo. Não está acrescentando algo a você; está negando alguma coisa que já foi acrescida.
A sociedade não pode existir sem linguagem; ela precisa da linguagem. Mas a existência não a necessita. Não estou dizendo que você deveria existir sem linguagem. Você terá que usá-la. Mas você deve ser capaz de ligar e desligar o mecanismo da verbalização. Quando você está existindo como um ser social, o mecanismo da linguagem é necessário; mas quando você está sozinho com a existência, você deve ser capaz de desligá-la. Se você não pode desligá-la se ela continua e continua e você é incapaz de pará-la — então você é um escravo dela. A mente deve ser um instrumento, não o mestre.
A mente, e o mecanismo linguístico da mente, não é o supremo. Você está além dela; a existência está além dela. A consciência está além da linguística; a existência está além da linguística. Quando a consciência e a existência tornam-se uma, elas estão em comunhão. Esta comunhão é meditação.
A linguagem deve ser abandonada. Não estou dizendo que você tem de reprimí-la ou eliminá-la. Eu apenas quero dizer que ela não tem de ser um hábito de vinte e quatro horas por dia, para você. Quando você caminha, você tem de mover as pernas; mas se elas continuam a se mover quando você está sentado, então você está louco. Você deve ser capaz de desligá-las. Da mesma forma, quando você não está falando com ninguém, a linguagem não deve estar ali. É uma técnica para comunicar. Quando você não está se comunicando com ninguém, ela não deve estar ali.
Se você é capaz de fazer isto, você pode crescer para dentro da meditação. Meditação é um processo de crescimento, não uma técnica. Uma técnica é sempre morta, assim ela pode ser acrescentada a você, mas um processo é sempre vivo. Ele cresce, expande-se
A linguagem é necessária, mas você não deve sempre permanecer nela. Deve haver momentos em que não haja verbalização, quando você apenas existe. Não é que você esteja apenas vegetando. A consciência está lá. E é mais aguda, mais viva, porque a linguagem a obscurece. A linguagem limita-se a ser repetitiva, assim ela cria tédio. Quanto mais a linguagem é importante para você mais tedioso você será.
A existência nunca é repetitiva. Cada rosa é uma nova rosa, completamente nova. Nunca foi e nunca será de novo. Mas quando nós a chamamos rosa, a palavra "rosa" é uma repetição. Ela sempre esteve lá; sempre estará. Você matou o novo com uma palavra velha.
A existência é sempre jovem e a linguagem é sempre velha. Mediante a linguagem você foge da existência, você foge da vida, porque a linguagem é morta. Quanto mais envolvido você está com a linguagem, mais desvigorado você será por ela.
(...) Nós vivemos em palavras. Isto é, nós não vivemos. No fim há somente uma série de palavras acumuladas e nada mais. As palavras são como fotografias. Você vê algo que está vivo e tira uma foto. A foto está morta. Então você faz um álbum de fotografias mortas. Uma pessoa que não vive em meditação é como um álbum morto. Somente fotografias verbais lá estão, somente memórias. Não está vivo, tudo foi apenas verbalizado.
Meditação significa viver totalmente, mas você pode viver totalmente apenas quando está em silêncio. Por estar em silêncio não quero dizer inconsciente. Você pode estar silencioso e inconsciente, mas não é um silêncio vivo. De novo você se engana.
Através de mantras você pode auto-hipnotizar-se. Por simples repetição de uma palavra, você pode criar tamanho tédio na mente, que a mente dormirá. Você cai no sono, cai na inconsciência. Se você continuar entoando "Ram-Ram-Ram", a mente adormecerá. Então a barreira da linguagem não está lá, mas você está inconsciente.
Meditação significa que a linguagem não deve estar lá, mas você deve estar consciente. De outra forma, não há comunhão com a existência, com tudo o que é. Auto-hipnose não é meditação. Nenhum mantra pode ajudar, nenhuma entoação pode ajudar. Ao contrário, estar em estado hipnótico é uma regressão. Não é ir além da linguagem, é cair abaixo dela.
Assim, abandone todos os mantras, abandone todas as técnicas. Deixe os momentos existirem onde as palavras não estejam. Você não pode livrar-se das palavras com um mantra, porque o próprio processo usa palavras. Você não pode eliminar a linguagem com palavras; é impossível.
Assim, o que deve ser feito? Aliás, você não pode fazer absolutamente nada, exceto entender. O que quer que você seja capaz de fazer, pode surgir somente de onde você está. Você está confuso, você não está em meditação, sua mente não está em silêncio, assim qualquer coisa que venha de você, apenas criará mais confusão. Tudo o que pode ser feito exatamente agora é começar a estar consciente de como a mente funciona. Eis tudo — apenas estar consciente. Consciência não tem nada a ver com palavras. É um ato existencial, não um ato mental.
Assim, a primeira coisa é estar consciente. Esteja consciente do seu processo mental, de como sua mente trabalha. No momento em que você se torna consciente do funcionamento de sua mente, você não é a mente. A própria consciência significa que você está além: à parte, uma testemunha. E quanto mais consciente você se tornar, mais você será capaz de ver os vazios entre a experiência e as palavras. Os vazios estão ali; mas você está tão inconsciente, que eles nunca são vistos.
(...) Quanto mais consciente você se torna, mais lenta a mente se torna. É sempre relativo. Quanto menos consciente você é, mais rápida a mente é; e quanto mais consciente você é, mais lento é o processo da mente. Quando você está mais consciente da mente, a mente diminui seu ritmo e os vazios entre os pensamentos se alargam. Então você pode vê-los.
Osho - A psicologia do esotérico
sábado, 29 de dezembro de 2012
Quando a pessoa se torna consciente, se torna só
Você não pode tornar outra pessoa responsável por sua evolução. Aceitar esta situação dá-lhe forças. Você está no seu caminho para crescer, para evoluir.
Nós criamos deuses, ou nos refugiamos nos gurus, de tal forma que não tenhamos responsabilidade por nossas próprias vidas, por nossa própria evolução. Nós tentamos colocar a responsabilidade em algum lugar distante de nós. Se nós não somos capazes de aceitar algum deus ou algum guru, nós tentamos então escapar da responsabilidade através de intixicantes, ou drogas, através de alguma coisa que nos torne inconscientes. Mas estes esforços para negar a responsabilidade são absurdos, juvenis, insfantis. Eles apenas postergam o problema; não são soluções. Você pode postergar até à morte, mas o problema ainda permanece, o seu novo nascimento continuará no mesmo caminho.
Uma vez que você começa a se tornar consciente de que somente você é responsável, não há escape através de nenhum tipo de insconsciênia. E você é tolo de tentar escapar, porque a responsabilidade é uma grande oportunidade para a evolução. Da luta que é criada, algo novo pode evoluir.
Tornar-se consciente significa saber que tudo depende de você. Mesmo seu deus depende de você, porque ele é criado por sua imaginação. Tudo no fundo é uma parte de você, e você é responsável por ela. Não há ninguém para ouvir suas desculpas, não há cortes-de-apelos. Toda responsabilidade é sua.
E você é sozinho, absolutamente sozinho. Isto precisa ser compreendido muito claramente. No momento em que uma pessoa se torna consciente, ela se torna só. Assim não fuja desse fato através da sociedade, dos amigos, das associações, das multidões. Não fuja dele! É um grande fenômeno; todo o processo da evolução trabalha em direção a isso. A consciência chega ao ponto agora onde você sabe que está só. E somente no estado de ser sozinho é que você pode atingir a iluminação.
Eu não estou falando de solidão. O sentimento de solidão é aquele que vem quando o indivíduo foge do estado de ser sozinho, quando o indivíduo não está pronto para aceitá-lo. Se você não aceitar o fato de ser sozinho, então você se sentirá solitário. Então você encontrará alguma multidão ou alguns meios de intoxicação nos quais esquecer-se a si mesmo. A solidão criará sua própria mágica do esquecimento.
Se você puder estar só, mesmo que por um momento apenas, totalmente só, o ego morrerá; o “Eu” morrerá. Você explodirá, você não será mais. O ego não pode permanecer só. Ele só pode existir em relação a outros. Sempre que você está só, um milagre acontece. O ego torna-se fraco, agora ele não pode continuar a existir por muito tempo. Assim, se você pode ser corajoso o bastante para estar só, você gradualmente tornar-se-á sem ego.
Estar só é um ato muito consciente e deliberado, mais deliberado do que o suicídio, porque o ego não pode existir sozinho; mas ele pode existir no suicídio. As pessoas egoísticas são as mais propensas ao suicídio. O suicídio está sempre em relação a alguém. nunca é um ato de isolamento. No suicídio, o ego não sofrerá. Ao contrário, tornar-se-á mais expressivo. Entrará em um novo nascimento com força maior.
Através do isolamento interior o ego se desmancha. Não há nada com o que se relacionar, desta forma não pode existir. Assim, se você está pronto para estar só, não vacilantemente — nem retrocendendo nem fugindo, apenas aceitando o fato do isolamento tal como ele é —, tornar-se-á uma grande oportunidade. Então você é como uma semente que tem muito potencial nela. Mas lembre-se, a semente deve destruir-se a si mesma para a planta crescer. O ego é uma semente, uma potencialidade. Se ele é destruído, o divino nasce. O divino não é nem o “Eu” nem o “Vós”, é o um. Através do isolamento interior você chega a esta unicidade.
Você pode criar falsos substitutos para esta unicidade. Os hindus tornam-se um, os cristãos tornam-se um, os maometanos tornam-se um; a Índia é um, a China é um. Isto são apenas substitutos para a unicidade. A unicidade vem somente através do isolamento interior total.
Uma multidão pode chamar a si mesma de um, mas a unicidade está sempre em oposião a alguma outra coisa. Já que a multidão está com você, você se sente descontraído. Agora você já não é mais o responsável. Você não destruiria um templo sozinho, você não incendiaria uma mesquita sozinho, mas como parte de uma multidão você pode fazê-lo, porque agora você não individualmente responsável. Todos os outros são responsáveis, assim ninguém em particular é responsável. Não há consciência individual, somente consciência grupal. Você regride na multidão e se torna tal como um animal.
A multidão é um falso substituto para o sentimento de unicidade. Aquele que está consciente da situação, consciente da sua responsabilidade como um ser humano, consciente da dificuldade, da tarefa árdua que vem com o ser humano, não escolhe quaisquer substitutos falsos. Ele vive com os fatos como são; ele não cria qualquer ficção. Suas religiões, suas ideologias políticas, são apenas ficções, criando um sentimento ilusório de unicidade.
A unicidade vem somente quando você se torna ausente de ego, e o ego pode morrer somente quando você está totalmente só. Quando você está completamente só, você não é. Aquele exato momento é o momento da explosão. Você explode para dentro do infinito. Isto, e somente isto, é evolução. Eu a chamo revolução, porque não é inconsciente. Você pode tornar-se sem ego ou não. Depende de você.
Estar só é a única revolução real. Muita coragem é necessária. Somente um Buda está só, somente um Jesus ou um Mahavir está só. Não que eles tenham deixado suas famílias, abandonando o mundo. parece assim, mas não é assim. Eles não estiveram abandonando coisas negativamente. O ato era positivo; era um movimento em direção ao isolamento. Eles não estavam abandonando. Eles estavam em busca de encontrarem isolamento interior.
A busca toda é por aquele momento de explosão quando o indivíduo está isolado. No isolamento há regozijo. E apenas então a iluminação é obtida.
Nós não podemos estar isolados, os outros não podem tampouco estar isolados, assim nós criamos grupos, famílias, sociedades, nações. Todas as nações, todas as famílias, todos os grupos, são feitos de covardes, daqueles que não são corajosos o suficiente para esteram sós.
Coragem real é a coragem de estar só. Significa entendimento consciente do fato de que você é sozinhoe você não pode ser diferente. Você pode ou enganar-se a si mesmo, ou viver com este fato. Você pode continuar enganando-se a si mesmo por vidas e vidas, mas continuará simplesmente num círculo vicioso. Somente se você viver com este fato do isolamento, o círculo é quebrado e você pode vir ao centro. Aquele centro é o centro da divindade, do todo, do santo.
Osho — A Psicologia do Esotérico
Sendo o jardineiro de seu próprio ser
A consciência só surge após a meditação, nunca antes disso. Você não nasce com uma consciência. Pode observar as crianças pequenas: se elas veem uma formiga, elas a matam. Você acha que a criança tem alguma consciência? Você acha que a criança é uma criminosa, uma assassina?
Não, nada disso. Ela está apenas cheia de curiosidade, explorando seu mundo. Ela entrou num mundo novo, e está explorando-o. Mas não há a questão da consciência. Ela não sentq eu, quando ela está batendo num cachorro, sem a miníma razão, o cachorro também sente dor. As crianças não têm qualquer consciência; elas têm apenas as sementes.
Todos esses peloíticos estão tentando convercer a humanidade: “Você tem uma consciência”. Mas você não tem. Você terá que desenvolvê-la, terá que trabalhar consigo mesmo. Terá que aprender como ser silencioso, e como ouvir a tranquila e pequena voz interior.
Eu acho que nenhum desses políticos que fizeram esta Declaração tenha tido alguma experiência do que seja a consciência, do que seja estar consciente. Ela só acontece depois de uma longa, longa busca interior.
Você não recebe tudo pelo nascimento. Você nasce apenas com o necessário para a sia sobrevivência; todo o resto está em você apenas como semente. Se você está intencionalmente interessado em desenvolver sua consciência até seu pico mais alto, isso é por sua conta.
A natureza o provê apenas do essencial para a sobrevivência — não de vida, de alegria, de silêncio, de êxtase, de amor. A natureza pode se arranjar apenas com o sexo — qual a necessidade do amor? Para que criar complicações? O amor, você terá que encontrar. A consciência, você terá que fazer crescer. Você terá que se transformar num jardineiro do seu próprio ser — seu ser é seu jardim.
O seu ser é o Jardim do Éden, do qual a Bíblia fala. Esse Jardim do Éden não está em algum lugar numa outra estrela — está dentro de você. Você foi expluso dele, e tem andado por todos os lados, mas nunca tem entrado. No momento em que você vai para dentro, você está de volta ao Jardim do Éden. Mas, agora, ninguém tem cuidado desse jardim, por milhares de anos. Você nunca se volta para dentro. Tudo ficou na semente; agora nada floresce, nenhuma folhagem, nenhum verdor… Mas você pode trazer tudo de volta para a vida, porque tudo está potencialmente aí.
Essas pessoas não compreendem o que é consciência.
Elas aprenderam apenas palavras.
Osho — Sobre os Direitos Humanos Básicos
Encarando a atividade egocêntrica que cria divisões
Andando na corda bamba da Liberdade
Filme: Um divã para dois
Formato: AVI
Elenco: Meryl Streep, Tommy Lee Jones e Steve Carell

Filme: O Vingador do Futuro

Áudio: Onde há medo, há agressão

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Estamos prisioneiros do mal que o pensamento cria
Para a maior parte de nós, pensar tornou-se extraordinariamente importante. Nunca nos damos conta de que o pensamento é sempre velho. O pensamento nunca é novo, nem nunca pode ser livre. Falar em liberdade de pensamento é completamente sem sentido, a não ser que isso signifique podermos expressar o que queremos, dizer o que nos apetece; em si mesmo o pensamento nunca é livre, porque é resposta da memória. Podemos observar isso por nós. O pensamento é a resposta da memória, da experiência, do conhecimento. O conhecimento, a experiência, a memória são sempre velhos e assim o pensamento é sempre velho; nunca pode portanto ver nada verdadeiramente novo.
Poderá a mente olhar para o problema do medo sem a interferência do pensamento? Compreendem?
Uma pessoa tem medo. Tem medo do que fez. Esteja pois completamente atenta a ele, sem a interferência do pensamento — e haverá medo então? Como dissemos, o medo é originado por meio do tempo; tempo é pensamento. Isto não é filosofia, nem é nenhuma mística; observai-o simplesmente em vós próprios e vereis.
Percebe-se que o pensamento tem de funcionar objetivamente, com eficiência, de maneira lógica e sã. Quando se vai para o emprego, ou quando se faz seja o que for, o pensamento tem de operar, de outro modo não se pode fazer nada. Mas o momento em que o pensamento dá origem ou sustenta o prazer e o medo, então deixa de ser eficiente. Então, gera desajustamento na relação e causa portanto conflito.
Assim, pergunta-se se poderá haver um findar do pensamento numa direção e no entanto com o pensamento a funcionar na sua mais alta capacidade. Estamos empenhados em saber se o pensamento pode estar ausente quando, por exemplo, a mente vê o por do sol em toda a sua beleza. Só então se vê essa beleza, e não quando a mente está cheia de pensamentos, de problemas, de violência. Ou seja, se o observarmos, no momento de vermos o por sol, o pensamento está ausente. Olhamos aquela luz extraordinária sobre os montes, com grande encantamento, e nesse momento o pensamento não tem nisso lugar nenhum.
No instante seguinte porém o pensamento diz: “Que maravilhoso, que belo foi, quem me dera pintá-lo, escrever um poema sobre ele, gostava de contar aos meus amigos esta coisa bonita.” Ou ainda: “Gostava de ver um pôr do sol assim, outra vez amanhã”. E nessa altura o pensamento começa a criar problemas. Porque então diz: “Amanhã hei de ter esse prazer outra vez”; e quando isso não acontece, há dor. É muito simples, e é exatamente por causa da sua simplicidade que isso passa desapercebido. Todos desejamos ser terrivelmente “inteligentes” — somos muito sofisticados, muito intelectuais, lemos muito… Mas toda a história psicológica da espécie humana — não quem foram os reis, ou que guerras houve, nem todo este absurdo das nacionalidades — está dentro de cada um. Quando somos capazes de ler isso em nós mesmos, compreendemos. Então, somos uma luz para nós próprios, então não há autoridade, então somos realmente livres.
A nossa pergunta portanto é: Poderá o pensamento deixar de interferir? É esta interferência que produz tempo. Compreendem? Reparemos na morte. Há grande beleza no que está envolvido na morte, e não é possível compreender essa beleza se houver qualquer forma de medo. Estamos apenas a mostrar que receamos a morte por ela poder acontecer no futuro, sendo inevitável. Assim, o pensamento pensa nisso, e fecha-lhe a porta. Ou então, pensa em algum medo que se teve — o sofrimento, a ansiedade — e que isso poderá repetir-se… Estamos prisioneiros do mal que o pensamento cria.
Contudo, podemos ver também a extraordinária importância do pensamento. Quando se vai para o emprego, por exemplo, ou quando se faz alguma coisa de caráter técnico, tem de se usar o pensamento e o conhecimento.
Percebendo todo este processo, desde o início desta conversa até agora — vendo tudo isto — pergunta-se: “Será o pensamento capaz de estar silencioso? Poder-se-á por exemplo ver a beleza de pôr do sol e ficar completamente envolvido na beleza desse poente sem que o pensamento introduza aí a questão do prazer?” Reparem nisto, por favor. Se assim for, a conduta é cheia de retidão. Só quando o pensamento não cultiva o que acha que é virtude é que a conduta é de fato virtuosa, do contrário, torna-se deformada e sem integridade. A virtude não é do tempo ou do pensamento; o que significa que ela não é produto do prazer ou do medo.
Assim, agora o problema é: Como é possível, por exemplo, olhar o pôr do sol sem que o pensamento teça prazer ou dor à volta disso? Será possível olhá-lo com tal atenção, com um envolvimento nessa beleza de tal modo completo que, uma vez visto o pôr do sol, isso fique terminado, para que o pensamento não o transporte, como prazer, para “amanhã”?
(…) Observar, por exemplo, o pôr do sol se a interferência do pensamento exige uma disciplina tremenda; mas não a disciplina do conformismo, não a da repressão ou do controle. A palavra “disciplina” significa aprender — não conformar-se ou obedecer — aprender acerca de todo o processo de pensar e do lugar que lhe pertence.
A negação do pensamento necessita de grande observação. E para observar tem de haver liberdade. Nesta liberdade conhece-se o movimento do pensamento e há então aprendizagem ativa.
Que entendemos nós por aprender? Quando se vai para a escola ou para a universidade aprende-se muita informação, não de grande importância talvez, mas aprende-se. Isso torna-se conhecimento, e é a partir desse conhecimento que atuamos, quer no campo tecnológico, quer em todo o campo da consciência. Sendo assim, temos de compreender profundamente o que essa palavra “aprender” realmente significa.
A palavra “aprender” representa obviamente um presente ativo. Está-se sempre a aprender. Mas quando esse aprender se torna um meio de acumulação de conhecimentos, ele é então uma coisa totalmente diferente. Ou seja, aprendi da experiência anterior que o fogo queima. Isso é conhecimento. “Aprendi-o”, portanto não me aproximo do fogo. Cessei de aprender. E a maior parte de nós “tendo aprendido” atua a partir daí. A informação que acumulamos acerca de nós próprios — ou dos outros — torna-se conhecimento ; então esse conhecimento torna-se quase estático e é a partir disso que atuamos. Por consequência, essa ação é sempre velha. Aprender é pois algo inteiramente diferente.
Se esta tarde se tem estado a ouvir com atenção, tem-se estado a aprender a natureza do medo e do prazer; tem-se estado a aprender, e é daí que se atua. Espero que compreendam a diferença. Aprender implica uma ação constante. Está-se sempre a aprender. E o próprio ato de aprender é agir. O agir não está separado do aprender. Para a maior parte de nós, porém, a ação está separada do conhecimento. Ou seja, há a ideologia ou o ideal, e de acordo com esse ideal agimos, só aproximando a ação desse ideal. E assim, portanto, a ação é sempre velha.
Aprender, tal como ver, é uma grande arte. Que acontece quando vemos uma flor? Será que a vemos realmente, ou vemo-la através da imagem que temos dessa flor? São duas coisas inteiramente diferentes. Quando olhamos para uma flor, para uma cor, sem a nomear, sem o gostar ou não gostar, sem nenhuma cortina entre nós e aquilo que se vê como flor, sem a palavra, sem o pensamento, então a flor tem uma cor e uma beleza extraordinárias. Mas quando se olha para a flor através de um conhecimento botânico, quando se diz “isto é uma rosa”, já se condicionou o olhar.
Ver, assim como aprender, é de fato uma arte; mas não é preciso ir a nenhuma escola para aprender. Pode-se aprende-la onde se está. Podemos olhar um flor, e descobrir como olhamos para ela. Se somos sensíveis, se estamos acordados, atentos, então vemos que o espaço entre nós e a flor desaparece e quando esse espaço desaparece vemos a flor de maneira muito intensa e cheia de vitalidade. Do mesmo modo, quando nos observamos a nós próprios sem esse espaço — e portanto, sem ser como “o observador” e “a coisa observada” — vemos então que não há contradição e portanto não há conflito.
Quando se vê a estrutura do medo, vê-se também a estrutura e a natureza do prazer. Ver é aprender sobre isso, e a mente portanto não fica aprisionada na procura do prazer. A vida tem então um sentido completamente diferente. Vive-se — mas não à procura de prazer.
Krishnamurti — extrato da conferência na Universidade da Califórnia, em Berkeley
Mensagem de Fim de Ano

Filme: Sociedade Feroz
Origem: Canadá / Estados Unidos
Ano: 2005 • cor • 107 min
Direção: Griffin Dunne
Produção: Griffin Dunne eNick Wechsler
Roteiro: Dirk Wittenborn
Gênero Drama - Idioma original Inglês
Elenco:
Diane Lane: Liz Earl
Anton Yelchin: Finn Earl
Donald Sutherland: Ogden C. Osborne
Chris Evans: Bryce
Kristen Stewart: Maya
Elizabeth Perkins: Sra. Langley
Paz de la Huerta : Jilly
Christopher Shyer : Dr. Leffler
Blu Mankuma : Gates
Garry Chalk : McCallum
Ryan Mcdonald : Ian
Dexter de Bell : Marcus Gates
Kaleigh Dey : Paige
Aaron Brooks : Giacomo
Teach Grant : Dwayne
Fierce People — Sociedade Feroz (título no Brasil) ou Gente Estranha (título em Portugal) — é um longa-metragem com Diane Lane, Anton Yelchin e Donald Sutherland. Foi lançado em DVD no Brasil, em 2007. Finn Earl (Anton Yelchin) é um jovem de 16 anos que deseja passar o verão com seu pai, um antropólogo que está numa tribo de índios na América do Sul. Ao tentar ajudar sua mãe, Liz (Diane Lane), uma massagista dependente de drogas, Finn é preso. Para tentar reorganizar sua vida Liz decide se mudar para a casa de campo de Ogden C. Orborne (Donald Sutherland), um milionário que foi seu cliente tempos atrás. Lá Finn se apaixona pela neta de Ogden, Maya (Kristen Stewart) e, aos poucos, recupera a confiança na mãe,que batalha pra se livrar do uso das drogas.

Onde há medo, há agressão
Como seres humanos a olhar para este mapa da vida, vemos que um dos maiores problemas é o medo. Não um medo particular, mas o medo: medo de viver, medo de morrer, medo de não ser capaz de conseguir, medo de fracassar, medo de ser dominado, reprimido, medo da insegurança, da morte, da solidão, medo de não ser amado.
Onde há medo, há agressão. Quando a pessoa tem medo torna-se muito ativa, não apenas para fugir do medo, mas porque o medo produz uma atividade agressiva. Podeis observar isso em vós mesmos, se estiverdes interessados.
O medo é um dos maiores problemas da vida. Como poderemos resolvê-lo? Poderá o home ficar para sempre livre do medo, não só a nível consciente, mas também nos níveis ocultos, secretos da mente? Poderá esse medo ser resolvido pela análise? Poderemos fazê-lo desaparecer fugindo-lhe? A questão é, portanto: Como é que uma mente que tem medo de viver, que tem medo do passado, do presente e do futuro, como é que uma mente assim há de ficar completamente livre do medo? Libertar-se-á dele gradualmente, pouco a pouco — levará tempo? Se levar tempo — muitos dias, muitos anos — ficar-se-á velho e o medo estará ainda...
Assim, como poderá a mente libertar-se do medo, não só do medo físico, mas, também da estrutura do medo na psique, dos medos psicológicos? Compreendem a minha pergunta? Poderemos dissolver completamente o medo, libertar-nos instantaneamente, ou terá o medo de ser compreendido gradualmente e resolvido pouco a pouco? Esta é a primeira questão. Poderá a mente, que está condicionada para pensar que pode resolver o medo pouco a pouco, com o tempo, através da análise, através da observação introspectiva, ficar livre do medo gradualmente? Esse é o ponto de vista tradicional. É como aquelas pessoas que, sendo violentas, têm ideologias da não-violência. Dizem: "Chegaremos gradualmente a este estado de não-violência, quando a mente não for violenta". Mas isso levará tempo, talvez dez anos, talvez a vida inteira, e entretanto é-se violento, está-se a semear os germes da violência.
Tem de haver pois uma maneira — por favor, ouçam isto com muita atenção — tem de haver uma maneira de acabar de todo com a violência, imediatamente; sem ser por meio do tempo, sem ser por meio da análise, de outro modo estaremos condenados, como seres humanos, a ser violentos para o resto da vida.
Da mesma maneira, poderemos por termo ao medo de maneira completa? Poderá a mente ficar totalmente liberta do medo? Não no fim da vida, mas agora?
Não sei se já alguma vez fizeram a si próprios esta pergunta. E se a fizeram talvez tenham dito "não é possível" ou "não sei como fazê-lo". E, assim, vive-se com o medo, com a violência e cultiva-se a coragem, ou então o recalcamento, a resistência, a fuga; ou adere-se a uma ideologia de não-violência. Mas todas as ideologias são insensatas, porque quando se vai atrás de uma ideologia, de um ideal, está-se a fugir do que é, e quando se está a fugir, não se pode compreender o que é.
Assim, a primeira coisa para compreender o medo é não fugir, e isso é dificílimo. Não tentar evadir-se por meio da análise, que leva tempo, por meio do álcool, do ir à igreja ou de outras espécies de atividades. É o mesmo, quer a fuga seja por meio de uma droga, da bebida, do sexo ou de "Deus". Será então possível deixarmos de fugir? É este o primeiro problema na compreensão do que é o medo, e na sua dissolução, para que se fique inteiramente livre dele.
Como sabem, liberdade é algo que a maior parte de nós não quer. Desejamos libertar-nos de determinada coisa, das necessidades ou das pressões imediatas, mas ser livre é completamente diferente. Liberdade não é licenciosidade, não é fazer o que nos apetece — a liberdade exige uma disciplina tremenda, que não é a disciplina do soldado, ou a disciplina da repressão e do conformismo.
A palavra "disciplina", na sua raiz, significa aprender. E para aprender acerca de alguma coisa — não importa o quê — é preciso disciplina, a própria aprendizagem é disciplina; não se trata de nos disciplinarmos primeiro e depois aprendermos. O próprio ato de aprender é disciplina, o que liberta de toda a repressão, de toda a imitação. Portanto, seremos nós capazes de ficar livres do medo, do qual nasce a violência, do qual brotam todas estas divisões religiosas e nacionalistas, de "o meu clã" e "o teu clã"?
Quem conhece o medo sabe como ele é terrível. Cobre tudo de escuridão, roubando completamente a lucidez, de tal modo que a mente com medo não é capaz de compreender o que é a vida nem quais são os problemas reais. Assim, parece-me que a primeira coisa a fazer é perguntar a nós mesmos se alguém pode ficar realmente livre do medo, tanto físico como psicológico.
Quando estais diante de um perigo físico, reagis e isso é inteligência; não é medo, de outro modo destruir-vos-eis. Mas quando há medos psicológicos — medo do amanhã, medo do que se fez, medo do presente — a inteligência não funciona. Se examinarmos isto psicologicamente, interiormente, veremos por nós mesmos que toda a nossa estrutura social está baseada no princípio do prazer, porque a maior parte de nós procura prazer, e onde existe essa procura existe também o medo. O medo acompanha o prazer. Isto é bem evidente, se o examinarmos.
Como poderá a mente estar tão completamente livre do medo que seja capaz de ver tudo com grande lucidez? Vamos investigar se a mente é capaz de se libertar dele, de maneira total. Percebem a questão? Aceitamos o medo e vivemos com ele, tal como aceitamos a violência e a guerra, como fazendo parte da vida. temos tido milhares e milhares de guerras e estamos constantemente a falar de paz; mas o modo como vivemos a nossa vida diária é guerra, conflito, um campo de batalha. E aceitamos isso como inevitável. Nunca perguntamos a nós mesmos se podemos viver uma vida de completa paz, sem qualquer espécie de conflito.
Há conflito porque há contradição em nós. Isto é bem simples. Há em nós diferentes desejos contraditórios, exigências opostas, e isso traz conflito. Aceitamos todas estas coisas como inevitáveis, como parte da nossa existência; nunca as pomos em causa.
Temos de estar livres de toda a crença, o que quer dizer de todo o medo, para sabermos se existe uma Realidade, um estado intemporal. Para o descobrir é preciso estar liberto — liberto do medo, da avidez, da ambição, da inveja, da competição, da desumanidade; só então a mente estará lúcida, sem obstáculos, sem conflito nenhum. Só uma mente assim é serena e apenas a mente serena pode descobrir se existe o eterno, o inominável.
Mas não se pode chegar a essa serenidade por meio de qualquer prática ou qualquer "disciplina". Essa serenidade só acontece, quando se está livre — livre de toda esta ansiedade, medo, ciúme, violência, desumanidade. Portanto, poderá a mente ser livre — não eventualmente, não daqui a dez ou cinquenta anos, mas imediatamente?
Se fizerdes esta pergunta a vós próprios, pergunto-me qual será a vossa resposta. Direis que isso é possível ou não? Se dizeis que é impossível, estais então a bloquear-vos e não podereis ir mais além; e se dizeis que é possível, isso também tem o seu risco. Só se pode examinar o possível, se se sabe o que é o impossível — não é verdade? Estamos a pôr a nós mesmos uma questão tremenda: Poderá a mente condicionada através dos séculos, politicamente, economicamente, pelo clima, pelas igrejas, por várias influências, poderá uma mente assim mudar imediatamente? Ou precisará de tempo — intermináveis dias de análise, de sondagem, de explicação, de pesquisa? Um dos nossos condicionamentos é que aceitamos o tempo, um intervalo em que uma revolução, uma mutação, possa ter lugar.
Precisamos de mudar completamente: isso é a maior das revoluções — não é atirarmos bombas para nos matarmos uns aos outros. A maior de todas as revoluções é a mente ser capaz de se transformar a si mesma de modo imediato e de ser inteiramente diferente amanhã. Talvez se diga que isso não é possível. Se encararmos realmente a questão sem qualquer fuga e tivermos chegado àquele ponto em que dizemos que é impossível, então descobriremos o que é possível; mas não podemos pôr essa questão, "o que é possível?", sem compreendermos o que é impossível. Estamos a nos comunicar?
Perguntamos portanto se a mente que tem medo, que está condicionada para ser violenta, para ser agressiva, poderá transforma-se imediatamente. E só podemos fazer essa pergunta — atentem nisto um pouco, por favor — quando compreendemos a impossibilidade e a inutilidade da análise (psicológica). Essa análise implica aquele que analisa, quer seja um analista profissional, quer seja o próprio a analisar-se. Quando uma pessoa se analisa a si mesma, há várias coisas a considerar. Primeiro, há que saber se o analisador é diferente da cosia que analisa. Será diferente? Torna-se evidente, quando observamos, que o analisador é o analisado. Não há diferença entre o analisador e aquilo que vai analisar. Não reparamos nisso, e portanto começamos a análise. Digo "estou zangado, sou ciumento" e começo a analisar por que é que sou ciumento, quais são as causas desse ciúme, dessa cólera, dessa violência; mas o analisador faz parte daquilo que está a analisar. O observador é o observado, e quando vemos isso, quando compreendemos a inutilidade do que estamos a fazer, deixamos definitivamente a análise.
É muito importante compreender, ver realmente a verdade disto, mas não verbalmente: a compreensão verbal não é compreensão, é como ouvir uma quantidade de palavras e dizer "sim, compreendo as palavras". Mas ver realmente que o analisador, o observador é o observado é um fato extraordinário, uma realidade tremenda; não há então divisão entre o analisador e a coisa analisada e portanto não há conflito. O conflito só existe quando o analisador é diferente da coisa que analisa; nessa divisão há conflito.
(...) A nossa vida é um conflito, e estar livre de conflito é observar o fato do "observador", do "analisador", do "pensador". Há medo e o observador diz: "Tenho medo." reparem um momento e verão a beleza disso — há assim uma divisão entre o observador e a coisa observada. Então, o observador atua e diz: "Tenho de ser diferente, o medo tem de acabar". Procura a causa do medo e assim por diante; mas o observador é o observador, o analisador é o analisado. Quando ele compreende isto não verbalmente, o fato do medo sofre uma mudança completa.
Reparem, não tem nada de misterioso. Uma pessoa tem medo, é violenta, dominadora, ou é dominada. Tomemos como exemplo uma coisa muito mais simples. Uma pessoa sente inveja, ciúme. Será o observador diferente desse sentir que chama ciúme? Se for diferente então poderá agir sobre o ciúme e essa ação tornar-se-á conflito. Porém, se a entidade que sente o ciúme não é diferente do ciúme, que pode ela fazer então? “Sou ciumento”; enquanto o ciúme for diferente de “mim”, estou num estado de conflito, mas se o ciúme é eu, se não é diferente de mim, então que hei de fazer? Não o aceito e digo: “Sou ciumento.” Isso é um fato. Não o afasto, não fujo dele, não tento reprimi-lo. O que quer que eu faça ainda é uma forma de ciúme. Que acontece, portanto? A inação é ação total. A inação em relação ao ciúme, por parte do observador que é o observado, é o cessar do ciúme. Compreendem? Estamos a nos comunicar?
Krishnamurti — extrato da primeira conferência na Universidade da Califórnia, em Berkeley
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)