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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Diálogos sobre o estado não condicionado pelo medo

Out: Não adianta conjecturar sobre o modo de ser, enquanto não ocorre o colapso da débil, inseguro e limitada estrutura com base no medo. Sem dúvida, tal estado é uma realidade. No entanto, como ele vem, porque vem ou o porquê de não vir, não tem como saber (pelo menos é o que parece até aqui). Não tem como saber como chegar naquilo. Várias escolas místicas, esotéricas, espiritualistas, tentaram formular um sistema, um método, um caminho, os quais, ao fim de longo esforço, se mostraram apenas como novas formas de condicionamentos que não libertam de fato. Aquilo que muitos indivíduos viveram em breves lampejos, se encontra além do próprio entendimento, além do cérebro, além da biologia e fisiologia. Aquilo não está condicionado por nada físico, mental ou emocional... Aquilo É por si.

R.M.: Sim... Aquilo é. Sem dúvida alguma, se debruçar sobre conjecturas é pura perda de tempo, sinal de imaturidade.

O: O indivíduo não precisa de "vegetais sagrados" para entrar num estado alterado de consciência, visto que ele sempre viveu e ainda vive num estado de consciência alterado por crenças, achismos e condicionamentos. Já aquele estado de ser vivenciado em forma de vislumbres,  é a própria consciência sem qualquer alteração ou condicionamento.

R.: Out, você precisa se permitir alguma iniciação quântica, para alinhar sua frequência vibracional, para ser capaz de acessar a quinta dimensão.

O: Pois é! Tem ilusão para todo tipo de mente. Na real, quanto mais observamos as variedades das experiências ilusórias, mais solitários e desamparados ficamos... Não tem nada dos condicionamentos manifestos que possa nos levar ao Imanifesto Incondicionado. Todas essas invencionices do terreno da crença, do misticismo, do esoterismo, da espiritualidade e da psicanálise, não tem nada de diferente das compartilhadas drogas sociais como política, futebol, jornalismo tendencioso, reality shows e celebrações culturais... Tudo isso só serve para narcotizar por pouco  tempo, a inquietude provocada pela base de medo.

C: Out, você já reparou que tudo que surge, seja nos nossos contatos diários ou de qualquer parte deste planeta, são repetidas abordagens, muitas delas copiadas de livros tidos por sagrados ou da fala de homens e mulheres considerados santos ou mestres ou, então, repetições dos conteúdos das mídias sociais, das tvs ou das escolas? Somos constantemente bombardeados por isso, não surge nada de realmente original e significativo. É terrível a convivência com isso.

O: Sim, são atualizações de crenças já vistas como ilusórias.

C: É exatamente o que sinto.

R: Sim, a mente precisa se sentir envolvida, identificada com algo que veja espelhado na sociedade. Você quer ver algo que incomoda profundamente a maioria das pessoas? Experimente afirmar em seu meio, que a vida não tem nenhum objetivo... É revelador observar a própria mente diante dessa afirmação. A minha, se contorce toda, tentando arrumar ou justificar algum objetivo; sua última cartada foi a conquista da iluminação, o despertar. Uma vez eu disse a uma psicóloga, que eu não tinha nenhum objetivo na vida. Ela apresentou um olhar assustado e me deu o retorno de que meu caso era o mais grave de todos.

O: Isso natural, afinal, ser psicólogo, não é atestado algum de ser um ser estabilizado no estado incondicionado de ser.

R: Out, neste ponto em que acredito que nos encontramos, onde nada mais da cultura capitalista ou espiritualista nos causa identificação, por vezes, os dias se mostram bem pesados. É assim mesmo. No entanto, na minha vivência, por vezes acontecem breves momentos de um respirar mais leve. Parece que chega um momento do processo de descondicionamento, que se faz necessário abandonar toda a lógica e razão. É um momento muito delicado que, por vezes, soa como loucura.

O: Não tem nada de loucura nisso. Lógica e razão são sempre condicionados ao tempo, espaço e tradição cultural. O que foi lógico e racional nos tempos da ditadura, hoje, para a maioria de nós, já não soa como lógico e racional. E, em muitos lugares, comportamentos ditatoriais ainda soam como lógicos e racionais.

R. Esse ponto do abandono da lógica e da razão condicionada, é algo próximo da “rendição”, apesar de ser algo que também não podemos fazer por vontade própria. Vejo que, o máximo que podemos fazer, é nos aproximarmos do colapso por meio do abuso e nossa vontade condicionada. É paradoxal, porque, no fundo, nada estamos fazendo. No entanto, podemos sim caminhar em direção ao abismo, e saltar no nada, no vazio, na dissolução do eu imaginado no Real. Por vezes, surgem alguns clarões, onde tudo se mostra claro e simples. Posso dizer até que seja uma experiência direta da dissolução do eu... Comigo, quando surge esse rompimento da estrutura, ocorre uma leveza em paralelo com algo assustador e não agradável.

O: Para mim isso é ranço das suas crenças, daquilo que leu, afinal, se houve de fato a dissolução do eu, por que ele ainda se encontra aí e não a clareza simplificadora?

R: A resposta é clara: o eu sempre vai se utilizar de uma série de truques para não permitir o colapso libertário.

O: As crenças ilusórias além de estarem sempre presentes, estão aumentando em suas variações com o advento das redes sociais.

R.M.: Uma fauna sem fim... Eu mesmo me dedicava a um pretenso boletim astrológico, do qual dei um tempo, porque percebi que não me compete interferir no karma de ninguém. Se o karma de fato existir, o que tiver que acontecer com o indivíduo, acontecerá. Cada um que lide com as consequências de seu karma da melhor forma que lhe for possível.

O: Para mim, karma, planejamento kármico, são também ilusões, produtos de condicionamentos culturais.

R.M.: Tenho observado isso. Fica essa barganha de fazer aquilo que gera isso... do que fiz lá atrás – que nem ao menos sei o que foi e que não tenho acesso real -... e a outra pessoa em outa vida e lugar imaginado... Me parece mais um delírio.

O: Entramos em contato com esses implantes sociais, em períodos em que estávamos por demais desequilibrados, dominados por várias manias, tendências compulsivas, medos, inquietos, ansiosos e confusos, em busca de algo para nos agarrar e nos acalmar. Por estarmos tão desequilibrados, não havia como observar todas essas crenças e implantes sociais de modo lúcido e sóbrio. Então, eles se tornaram tão reais para nós, que passamos, muitas vezes de modo compulsivo, a ser mais um condicionante agente sistêmico, trabalhando para implantar nossa crença incerta, em outros indivíduos do nosso convívio.

R.M.: Na mosca! E percebo também a tendência oscilatória de não conseguir sustentar toda inquietação e logo recorrer, se apegar a algo próximo de nós, para nos sentirmos menos inquietos e inseguros, um pouco mais completos e estáveis. Algo semelhante a uma recaída num comportamento obsessivo compulsivo, pois, as ofertas são muitas.

O: Essa tendência de recorrer ao já percebido como ilusório, vai ruindo com o amadurecimento da observação. Somos lançados num profundo e inquietante vazio, numa quase que insuportável solidão psicológica. A observação amadurece ainda mais com a entrega passiva a vivência plena desse vazio e dessa solidão, sem se entregar aos apoios ilusórios de um passado imaturo.

R.M.: A sedução para se filiar a algum grupo é algo forte demais. Quanto mais inseguro e assustado, mais o indivíduo se aproxima de outro indivíduo que assim também se encontra, só que este último cria para sua própria proteção e conforto, uma teoria, um sistema, uma prática um pouco remodelada de práticas passadas já consagradas, tão sedutoras quanto o seu próprio medo. Quanto maior o medo inconfesso, maior a teoria! Quanto mais desconforto, maior a busca por ilusões.

O: Não há teoria que possa nos apresentar o estado não condicionado pelo medo. Tais teorias sempre dão ao indivíduo a liberdade das asas de Ícaro. O indivíduo nunca alcançará com seu esforço, aquilo que não vem do esforço. Nosso esforço é impotente até no que diz respeito ao alcance do colapso da débil, maníaca e limitada estrutura psicológica com base no medo.

R.M.: Verdade! Isso não vem do esforço! Hoje você está certeiro, ou, quem sabe, eu que estou escutando melhor. Hoje é a segunda que encaixou feito luva.

O: Tanto o colapso como o estado não condicionado pelo medo, não podem ser condicionados de forma alguma, porque eles não são produtos do cálculo, da lógica ou da razão; eles são fatos que independem de nosso esforço. Por isso que toda teoria, crença, programação, ritual, prática ou estudo — no que diz respeito a um estado livre do medo — é investimento na ilusão. Tudo isso, assim como o esforço, é a própria estrutura insegura se fortalecendo. Agora, tente dormir com isso!

A: Enquanto meditava aqui, me veio o seguinte: Talvez alguns poucos homens e mulheres foram ou são a expressão laboratorial que não “deram certo” ou não funcionaram na perspectiva do observador. E não me refiro a “estar” livre; é constatar o fato de que nunca estivemos livres em sua totalidade integrativa. O máximo de liberdade que experimentamos foram nos momentos de vislumbre do estado não condicionado pelo medo. A base não condicionada pelo medo, produziria que qualidade de ser?

O: Qualquer conjectura sobre isso, para mim, é investimento na ilusão.

A: Para mim, isso dá margem para reflexões.

O: A reflexão é sempre no campo do já conhecido, no campo do manifesto. Como refletir sobre o que não é plenamente conhecido? Pura perda de tempo e energia. O máximo que conseguimos é observar e entender melhor o mecanismo do conhecido limitado, insatisfatório e inquietante. Não podemos falar da totalidade incondicionada, enquanto condicionados pela memória do que vivemos em vislumbres.

A: Pois é! Enquanto isso, ficamos empacados como estamos, observando todo esses bosteiro social.

O: Estamos como o personagem Morpheus, do filme Matrix,  fugindo dos sentinelas sistêmicos, num quarto escuro da nave Nabucodonosor: indivíduos semi conscientes, mas não livres.

A: Observando bem, isso é outra tentativa de verbalizar o já vivenciado, e não o agora. Realmente, não faz sentido.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Explodindo a estrutura mental, calculista e psicologicamente dependente



CP: Bom dia Out! Essas pinturas estão ficando lindas demais!

O: Mas enquanto as faço, não vejo sentido. Não sinto que é isso que eu deveria estar fazendo, mas não sei o que é que daria sentido real. Pinto e desenho para passar o tempo e, ao fim do dia, apesar da beleza das artes, sinto que foi mais um dia jogado fora. 

CP: Out, sinto isso, seja por qualquer coisa que eu faça. É um como um desespero assistido, onde vejo que o dia está passando, sendo perdido e, mesmo percebendo o falso em tudo, a verdade não vem...

O: Tem momentos que a falta de sentido fica tão forte, que bate a vontade de sair de dentro de si mesmo. Você só não se entrega ao desespero, por causa da observação passiva não reativa.

CP: Sim, dá um desânimo, mas, fica sempre faltando algo, que não sabemos o que é. Então, fica aquela coisa esquisita. 

O: Tudo se mostra muito vago, superficial e nada toca fundo.

CP: O pensamento diz que é, mas a observação mostra que não é, que não toca profundamente! Sinto que estamos empacados e que de nada vale os nossos esforços. Parece ser algo que não depende de nós. A experiência tem demonstrado que tudo que vem da mente condicionada, não soluciona essa falta de sentido e conexão, pois sempre se mostra de modo angustiante, mais do mesmo. 

O: Exatamente. Nada que a mente sugere, nos apresenta aquele: "Ah! É isso! Ah! Finalmente é por aqui!" Então, não só a minha experiência, mas também o que nos apresenta a experiência compartilhada por outros confrades, é que sempre fica no ar esse clima angustiante e ansioso...

CP: E nada toca fundo. O pior, é que a pessoas ao nosso redor, querem que a gente se sinta tocado por algo. Mas nada toca...é foda!

O: Não tem como! Não consigo funcionar no modo tido por normal. 

CP: Não dá  para funcionar dentro dessa normalidade insana.

O: Por mais que tentemos, nosso entusiasmo não se sustenta. 

CP: Não mesmo, porque a observação passiva não reativa não deixa, logo mostra que não nos é natural, reconhece no ato. 

O: A observação reconhece de imediato, tudo aquilo que não nos compete, no entanto, não sei dizer o porquê, ela não nos aponta aquilo que, de fato, nos compete. Então explode o vazio, a inação, ou a forçosa ação entediante.

CP: É bem aí que se inicia o nosso silencioso desespero. Out, já chutei o balde por muitas coisas viu...

O: Sei bem como é... Tem momentos em que a angústia ou a ansiedade se mostram de forma tão intensa, que dá vontade de sumir do mundo. Mas isso é visto também sem sentido. AÍ nos voltamos para o vazio, para angústia, para a ansiedade.

CP: Agora você tocou no que sinto neste exato momento. E a mente sempre clama por alguma fuga para não se sentar, silenciosamente, com o vazio, a angústia e a ansiedade.

O: Ela sempre se identifica com alguma fuga, no entanto, tal fuga não se sustenta... Mal começa e a observação logo aponta o falso, que é algo totalmente desnecessário, superficial e, até mesmo, falso.

CP: Exato. E aí ficamos empacados. 

O: E quase sempre bate aquela letargia quase que incontrolável, a qual a observação identifica como mais uma tentativa de fuga da exaustão causada pelo looping de pensamentos e emoções inquietantes. Então, você respira fundo, toma novamente seu centro, só para identificar, novamente, o vazio de sentido e conexão real. E você olha ao redor e percebe que as pessoas parecem não sentir nada disso. Elas parecem conseguir "funcionar".

CP: É bem assim mesmo! Dá uma angústia, por ficar nesse looping...

O: Mas é só elas abrirem a boca e você logo percebe o quanto estão cegas.

CP: Parecem não sentir e viverem no automático, de modo repetitivo, compartilhando bobagens ou memórias de um passado que também em nada nos toca. Isso é muito cansativo.

O: A maioria permanece extremamente imatura, agarra em algum tipo de distração que, para nós, já se mostrou infantil demais.

CP: Exato.

B: Ontem, minha filha surtou novamente. Chorou muito enquanto se queixava do medo que sente do futuro e por achar que nada faz sentido. O pior é que, por me ver na mesma situação, sinto que não tenho como ajudá-la. Sinto muito medo de perdê-la. Para ela, estudar, trabalhar, entre outras as coisas, não faz sentido. Ambos estamos perdidos. Tento falar que ela não está fora, que isto é verdadeiro, mas ela muito jovenzinha para isso. Estou com problemas em todas as áreas e as vezes penso que surtarei. 

O: São momentos muito diferentes. O adolescente nem sonha com isso que vivemos. Ele ainda não começou a construir no falso. 

CP: Isso mesmo... Minha neta tem uns lances assim de tédio, algumas percepções que até me surpreendem, no entanto, nem sonha o que vivemos... Os adolescentes têm muitos sonhos e objetivos. 

O: Nosso caso diz respeito à completa ausência de conexão e a total incapacidade de sentir algo com real sentido para dedicar a energia do dia. Não se trata de falta de energia ou de depressão, aliás, energia é o que não nos falta. Já fomos adolescentes com medos, sonhos e objetivos, sendo que foram exatamente eles, que nos trouxeram até a situação em que nos encontramos.

CP: Você acertou bem no alvo!

O: Queremos um objetivo que faça real sentido e que não seja uma resultante de nossos medos. 

L: Mas será que realmente existe algum? Talvez isso nem exista: algo com sentido e real conexão.

O: Ainda não encontrei, no entanto, algo no mais fundo, indica que isso é possível. Talvez seja só mais uma crença.

L: Ou, talvez, a mudança de nossa percepção sobre a mesma coisa, possa lhe dar um valor nessa existência absurda. Quem sabe, o lance seja ver com outros olhos. Mas, por enquanto, só temos estes. 

O: Mas isso cai nas conjecturas que não ajudam em nada.

L: Sim, tudo conjecturas mesmo.

CP: Por aí, é recair no velho vício dos achismos, vício esse que já identificamos como outra forma de fuga.

L: Tudo é achismo mesmo. Melhor só observar. 

R: Porém, manter a neutralidade, sem alimentar expectativas, é algo muito mais difícil.

L: Viver pode ser a única coisa. Viver e ponto final. O resto, foram criações humanas para dar conta do recado.

O: você está insistindo no campo da conjecturas. 

L: A vida tendo algum sentido ou não e pensarmos sobre isso... é tudo conjectura mesmo, afinal, nada sabemos.

O: No entanto, o que sentimos como sem sentido e sem conexão, não se trata de uma conjectura: é fato! 

L: Pois é: sempre caímos nas conjectura.

R: A mente humana é isto: uma máquina de fazer conjecturas. Este estado em que a mente não está ausente é que alimenta as recaídas recai em conjecturas. Vejo que é bem isso que ela sempre faz: categoriza, encaixota e cria conjecturas, nas quais, aparentemente, estamos todos presos.

O: Não tem nada de aparentemente, pois, trata-se de um fato.

CP: Percebo o mesmo ocorrendo aqui.

R: Da minha parte, foi uma vida dedicada à práticas espirituais que, na melhor das hipóteses, só ajudam o praticante no que diz respeito a lida com as questões dos condicionamentos cotidianos. Por mais escolas que frequentei até aqui, não vejo uma luz em ninguém e vejo muita gente confusa e perdida. 

O: Poucos assumem isso como o fazemos aqui. A maioria se distrai com alguma crença ou conjectura.

R: Ainda participo de um grupo, no qual percebo claramente o desencontro dos devotos que estão no caminho há mais de 30 anos; alguns deles, com quase 40 anos de práticas e ainda totalmente perdidos. A coisa parece ser muito difícil. 

O: Esse lance de filiação grupal, é grupo, bola fora! 

R: Nesse grupo, são apenas 3 pessoas; estudamos um texto, mas mesmo assim, vejo que não é nada fácil.

O: Estudar textos é uma forma de droga socialmente incentivada, para a fuga do vazio e da falta de sentido.

R: Sim, um alívio momentâneo para toda forma de inquietação. Mas percebo que é só mais uma forma de condicionamento... Basta o indivíduo ficar duas semanas sem estudar... Logo recai, pois acaba o efeito do paracetamol espiritual e volta tudo de novo. Talvez seja por isso que tantos mestres enfatizam a repetição. O esquecimento é uma forma presente na prática,  então, precisamos sempre estarmos atentos, caso contrário a clareza é obscurecida.

O: Os mestres, só são mestres em introjetar vários condicionamentos que eles copiaram de outros mestres igualmente confusos, mas que também sabiam disfarçar sua confusão no meio de devotos ainda mais confusos. 

R: Não estamos estabelecidos em nada.

O: Estamos sim: no vazio, na angústia, na ansiedade e no looping da falta de uma ação sentida com real sentido.

R: E, quando não temos estes condicionamentos, naturalmente voltamos ao estado de angústia, estado esse que nos impele a procurar por algo, por uma leitura, uma palestra, um vídeo, uma filiação grupal... É muito parecido mesmo com uma pessoa adicta em algo, pois, lidar com a falta sentido, é foda!

O: Antes do amadurecimento da observação passiva não reativa, nos enchíamos de coisas vazias, as quais, hoje, não fazem o menor sentido. 

R: Há 30 anos atrás, me perguntei sobre isso e, até agora... Só ficou uma prateleira de livros que é tudo lixo! Mas para chegarmos até aqui, foi preciso pastar e ler todo aquele monte de condicionamento extraídos das mais diversas tradições, até perceber que são, igualmente, conjecturas. E foram décadas presos nelas, no looping da busca do "eterno"... Buscar, ler, entender, seguir e, por fim, mais uma vez, se frustrar... E, então, movido pelo vazio, ler e ouvir e tudo novamente. 

O: Ler e "pensar" que entendeu.

R: Mas acho que o cansaço é o melhor professor. Cansou... para... zera... observa... Pesado demais, não é?

O: Pesado é o vazio e esse impulso interno para encontrar uma ação que realmente tenha sentido.

R: Pois é... Acho que não temos nem mais palavras. Tipo minha cachorra: vive e pronto! Sem dramas! Mas temos um cérebro que fica atiçando, querendo respostas e o cacete a quatro, não é mesmo? E, mesmo depois de tanta busca, além de não acharmos, percebemos que, de fato, ninguém achou. Se alguém tivesse achado algo realmente significativo, capaz de produzir uma efetiva mutação psicológica, o mundo já teria conhecimento. Mas, não vemos um que tenha realmente descoberto a pólvora...

O: Isso: não achamos e vemos que ninguém achou; alguns, na mais suprema das ilusões, apenas alimentam o achismo de que acharam. Trata-se do sublime achismo ilusório, o qual só encontra espaço por causa do desespero dos confusos buscadores.

CP: É bem isso mesmo!

O: O fato é que somos seres vazios, não conectados à nada, medrosos, calculistas e incapazes de saber o que é o amor real. Só sabemos o que é dependência e codependências psicológicas, as quais são estruturadas no cálculo medroso. A mente calculista desses que se auto-organizam como mestres, nunca afirmará isso, por medo de perder seus confusos  financiadores. Se ele assim o fizesse, seus confusos e medrosos seguidores, correriam para outro mestre igualmente confuso e simulador de paz e bem-aventurança.

R: Pois é... Eu tenho aqui algumas conclusões pessoais: estamos presos aqui, sem nada e, quando digo presos, quero dizer até em relação aos nossos órgãos perceptivos e também a respeito da nossa mente. Posto isto, não temos condições de avaliar nada, apenas podemos alimentar suposições. E esses que se dizem mestres, possuem no menu, uma variedade de teorias e discursos, prontos para serem adotados pelos que se identificarem mais com o seu perfil... Daí para frente, já sabemos da história. Vez por outra, pagamos uma aposta para ver o que tem por aí... No campo do sensível, podemos até sentir muitas coisas mas, não conseguimos explicar e muito menos entender, e daí que vem o bode. O sujeito sentiu algo e... eeeeeee... nada! O que foi isto? Nada... e cada mestre terá uma história para lhe contemplar, para simular ser o pai da criança. Mas no campo do sensível e das experiências, estamos totalmente perdidos.

O: Sim, nossos sentidos estão presos. Sabemos disso por causa da breve experiência do estado ilimitado de percepção da realidade. Nessa experiência, os sentidos funcionam na totalidade e integrados. Na experiência do estado incondicionado, no vislumbre, no despertar, seja lá o nome que mais lhe agrade, ali você não se vê preso nem ao corpo... E tudo é sentido com total sentido. Quando se volta dessa experiência, a vida, sem aquele estado maravilhoso de ser, parece deixar de ter sentido, pois, diante daquilo, tudo se mostra incalculavelmente superficial. 

R: Pois é! Aí me pergunto: O que foi aquilo? Qual seu significado? O que aconteceu e por que nos aconteceu? Como reproduzir aquilo? Qual a circunstância X? Para que?

O: Já me perguntei isso vária e várias vezes e, igualmente à você, não encontrei uma resposta realmente satisfatória. A meu ver, essa experiência, apesar de ser a mais bela das experiências, fode mais a vida do indivíduo do que o próprio looping de vazio, angústia e ansiedade.

R: Para mim, isso também é um fato!

O: Quando você sabe que aquilo existe, que é uma possibilidade real... Fudeu tudo que você tinha por objetivo. 

R: Os YouTubers chamam essa experiência de "Falha na Matrix". Mas, aqui entre nós, até hoje, não vi nenhuma explicação que produza convicção. 

CP: Depois dessa experiência atemporal é que o vazio vem com tudo. 

O: Porque mesmo quem fala dela, em seu discurso, também se mostra vazio.

R: Pois é! E o que fazer com essa experiência atemporal, é que me parece ser o X da questão.

O: O que sinto é que, na solução dessa equação, somem as demais, porque ela é lucidez integral. Naquele estado de ser, tudo está perfeito e cheio de sentido e conexão.

CP: Fato!

R: E não temos nenhuma pista, pois tudo são conjecturas e teorias extraídas de grupos religiosos, filosóficos, psicológicos, espiritualistas e afins.

O: Os quais a observação já nos apresentou como superficiais e, portanto, sem sentido de participação e filiação. Então, o indivíduo se vê lançado no deserto daquela falha na Matrix, na angústia do que chamo de "desespero lúcido".  Os mestres, os grupos, as teorias, as programações e conjecturas, todos são percebidos como partes integrantes da mesma Matrix.

R: Sim, ficamos apenas na observação, na expectativa, na ansiedade e as vezes na frustração! E aí sim, lidar com este desconforto, é um grande desafio, sem contar que nosso ver e viver na sociedade, vira do avesso, causando estranhamento em relação à sociedade. Alguém deve ter furado tudo isso, mas é um em um milhão!

O: Desconheço.

R: Pois é... E se houvesse mesmo, estaria por todos os lugares, não acha? Pensa na Megasena: sei o segredo... o universo ia querer também....algo do gênero!

O: Novamente recaindo no vício das conjecturas.

R: Ficamos aqui... Trocando figurinhas... Alguém dos seus contatos descreveu algo da experiência que ele conseguiu se resolver?

O: Até aqui, ninguém! Aliás, são poucos os que ficam aqui. Correm atrás de alguma escola, droga ou mestre.

R: Então, todo mundo na mesma... Todos com muitas teorias nas costas e sem nenhuma explicação real.

O: É compreensível que as coisas sejam assim; sua pergunta mesmo, aponta a necessidade de segurança da mente confusa e medrosa. Todos querem se certificar de que alguém chegou no pote de ouro no fim do arco-íris das ilusões espirituais.

R: Percebi isso aqui... eu mesmo fui..., mas mantenho o vínculo pois serve como um contraponto de lucidez, já que posso estar entrando num louco delírio espiritual. Eu não desisto... ainda tenho um pouco de paciência e anergia para me enfiar nestes troços...

O: Paciência e energia ou insanidade?

R: Opa! Paciência e energia! E não entro com tudo não, não consigo! Estudo um texto e pronto... grupo, grupo mesmo, não. Não participo das reuniões... Só me dedico a um dia estudo. Nada!

O: Talvez, por não entrar com tudo, é que não percebe de vez que tudo isso é falso e ilusório, afinal tanto 1x0 como 9x0, é sempre 0.

R: Ainda me serve de alento intelectual... Acho que, entre os devotos desses grupos, tem muito de auto sugestão.

O: Um grupo de mentes condicionadas, ávidos para agarrar outros condicionamentos igualmente ilusórios.

R: Verdade... percebo muita forçada de barra; vejo e fico quieto, só tentando achar uma resposta.

O: Não percebeu ainda que, tentar achar resposta onde nunca a terá, é a sua forçada de barra?

R: Sim... até agora, no nível intelectual, organiza a zona toda, mas não resolve. Mas eu também entendo que muitos, antes de nós, devem ter se debruçado sobre isto... este questionamento, esta angústia, etc. Será que alguém não teve um insight, um direcionamento?

O: Você está rodando há 40 anos e ainda não percebeu que não?

R: São séculos com isto na cabeça do ser humano... Gente, gerações, mentes nisto... será que eu não procurei corretamente?

O: Pode procurar e não encontrará nada de conciso, depurado de condicionamento e cilada.

R: Sim, isso me parece ser uma verdade..., mas será que não tem um" santo" que descreva ou algo do gênero, com consistência e sem delírios e conjecturas?

O: Mostre-me esse santo.

R: Ainda estou procurando. Permaneço atento ao que pode aparecer, vasculhando seria o melhor termo.

O: Se você estivesse realmente atento, não estaria mais procurando por tal santo. Se estivesse atento, não vasculharia mais.

R: É uma espécie de escavação... Informações, textos, sei lá... Sim, ainda na ilusão, mas na busca.

O: Escavações só apresentam coisas mortas. Se você viu que é ilusão e continua na ilusão, então, você não quer o real.

R: Meio que desisti disto: realizações e entendimento. Apenas fico aqui na espreita, vai que surge algo, afinal, não fomos os únicos a  ter pensado nisto. Quero ver se alguém descreve algo que reflete algo de realmente funcional.

O: Se você está na espreita, então, não desistiu.

R: Procuro uma brecha nesta ilusão, que me eleve ou, ao menos, me dê uma luz.

O: A brecha na ilusão surge automaticamente, quando você não investe mais na ilusão. Isso é simples demais.

R: Faz sentido!

O: Mas você não quer isso, uma vez que isso significa ser lançado no vazio total, na solidão total, na terrível incerteza. 

R: Como lidar com o vazio total? Como gerenciar isto?

O: Perguntando para os outros é que não vai ser.

R: Pois é, disso, com certeza, eu já sei.  Foi só uma reflexão em voz alta. O texto ainda me serve como um conforto, um paracetamol espiritual, uma fuga que me distrai.

O: Sim fuga...

R: Foda! Mas é isto Out! Vamos aqui, qualquer coisa te aviso. Vou aqui...

O: Descubra a pólvora e, com ela, exploda essa estrutura insegura, calculista e dependente de doações psicológicas de terceiros.

R: É bem isso!

O: Valeu!

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill