Sobre o "chute psíquico"
"Para que a energia espiritual possa realmente trabalhar não se deve ter complacência com estados pessoais que desvirtuem o sentido dos encontros... Para moldar o ferro é preciso aquecê-lo, mas também é preciso usar a força."Trigueirinho
"A primeira preocupação do instrutor de filosofia é derrubar os ídolos de pés de barro do estudante ou explicar-lhe com franqueza aquilo que ele na realidade faz ao adorá-los. Pois o instrutor ocupa aquela mesma e desagradável posição do diretor de um hospital psiquiátrico que muitas vezes é obrigado a concordar com os doentes que julgam ser aquilo que não são — um Napoleão, por exemplo — mas que num dado momento se vê forçado a dizer intempestivamente àquelas pobres criaturas que elas não são o que julgam ser! Naquele momento detestável o médico, sem a menor dúvida, tornar-se-á a pessoa mais odiada de toda a instituição!" — Paul Brunton em, A sabedoria além da ioga
"Caro confrade, antes de mais nada, tenha bem claro em sua mente e coração: aqui nada vendemos e nada pedimos. Não somos uma religião, seita, grupo, família ou qualquer forma de segregação. Aos que buscam alguma liderança, disputas de conhecimento, reafirmação de suas crenças emprestadas, este não é o espaço. Aqui sugerimos que cada um, através de sua própria observação atenta— tanto do observador como daquilo que aqui observa —, faça bom uso ou não do que, agora, compartilhamos. Não conduzimos, não ensinamos, não damos respostas, não acomodamos, não combatemos e não funcionamos no modus operandi da normose coletiva. O material publicado é aberto a todos sem qualquer condição, cabe a cada um ter o comando da sua vida e seus atos. Pelo silêncio mental lhe é permitido a escuta atenta de todas as suas respostas."
O Chute psíquico é necessário tanto para — por hora digamos assim — "a proteção da confraria contra sua mente condicionada", bem como para o início da consciência da importância do exercício de uma escuta atenta, sem a qual, torna-se impossível a abertura da mente para um novo paradigma... O chute psíquico deixa claro a importância de se retirar a "roupagem de conhecimento" e, em seguida, de mente aberta, ouvir holísticamente... Em nossos encontros, não temos tempo para responder questionários. Nossa mensagem não é democrática: aqui, funciona do nosso jeito; não há espaço para negociações; se preferir seguir à sua maneira, basta seguir viagem... Só pedimos que confie em nós! Procure relaxar! Permita-se perceber que o processo de condicionamento é real!
Caro confrade, nossa experiência tem demonstrado que, todo aquele que se encontra impulsionado pelo processo divisor da rede do pensamento condicionado, inconscientemente não percebe o quanto está identificado com um processo de formação de imagens, tanto de si, como de Deus, do mundo que pensa lhe cercar, da alegria, do amor, da felicidade, do prazer e do sucesso. Com base nesta percepção, temos por fato que, todo principiante que se depara com este processo de observação sem escolhas, certamente não precisa de incentivo no que diz respeito a continuidade de seu imitativo discurso, do seu bem decorado modo "programado" de estar na vida de relação, o qual na maioria das vezes se mostra baseado em conceitos, crenças, achismos e imagens, todos extraídos do conhecimento livresco, institucional ou acadêmico.
Nossa experiência têm demonstrado, que, apesar de inicialmente soar como algo profundamente autoritário, arrogante e prepotente, a melhor maneira de impulsioná-lo é por meio daquilo que amorosamente convencionamos chamar de "chute psíquico"; uma intervenção orientada, capaz de causar um colapsar no inconsciente orgulho espiritualizado e na vaidade de oratória, tendo por resultado, uma trinca no poderoso sistema de defesa de seu polido "ego", abrindo assim o terreno fértil, capaz de possibilitar o despertar do sonho de controle em que vive, como é muito bem representado metafóricamente no filme "A Origem", escrito, dirigido e produzido pelo britânico Christopher Nolan, e protagonizado pelo ator Leonardo DiCaprio.
Foi através desse "chute psíquico" que nossos primeiros membros tiveram a possibilidade da ocorrência do despertamento de sua natural inteligência intuitiva, que causa um aguçamento amoroso na luz da lógica, da razão e do bom senso, através da qual, o discernimento entre o falso e o verdadeiro se apresenta. Só então, a manifestação da realidade que somos pode se fazer consciente.
Confira nos vídeos abaixo, a expressão da necessidade do chute psíquico, apresentado na arte cinematográfica:
Tanto a nossa experiência como as cenas iniciais do filme "O Último Samurai", nos mostram que, para que possa ocorrer um estado de total abertura de mente e coração, para que o confrade despertante possa receber este novo paradigma apresentado pelos membros de pensadores compulsivos, se faz necessário, ao aqui chegar, estar-se vivendo um estado de total rendição, de total prostração diante de um modo de vida alicerçado na vontade próprio, no desejo, na busca de segurança psicológica e num modo reativo orientado pelo governo da mente.
Em "O último samuraí", temos mais que uma cena nos apresentando a importância de uma "intervenção orientada", da aplicação de vários "chutes psíquicos" para que ocorra a manifestação do tão necessário estado de prontificação para o recebimento de uma nova mensagem, de uma nova educação psíquica, de uma nova maneira de estar na vida de relação, a qual só pode ocorrer quando do exercício da capacidade de uma escuta holística, tanto da mente, como do coração.
"Se houver apenas cinco pessoas que queiram escutar, que queiram viver, que tenham a face voltada para a eternidade, será o suficiente. De que servem milhares que não compreendem, completamente imbuídos de preconceitos, que não desejam o novo(...)? Gostaria que todos os que queiram compreender sejam livres, não para me seguir, não para fazer de mim uma gaiola, que se torne uma religião, uma seita. Deverão estar livres de todos os temores (...), do medo da espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida." - Krishnamurti - Discurso da dissolução da Ordem Estrela
Pergunta: Por que os Gurus da história frequentemente parecem agir com crueldade em relação aos discípulos? Qual é a conexão entre a crueldade do Guru e sua compaixão?
Muktananda: A crueldade do Guru é sua compaixão. Li um poema de Kabir Sahib. Ele dizia que o Guru é como o oleiro. Um oleiro modela um pote dando golpes por fora com uma de suas mãos enquanto o sustenta por dentro com a outra, a fim de que não desmorone. Do mesmo modo, externamente, pode parecer que o Guru esteja maltratando o discípulo, mas, interiormente, ele o está sempre sustentando e protegendo. Assim, o Guru é cruel e é também muito compassivo.
(...) Assim, há compaixão na crueldade do Guru. O Guru não é nem uma pessoa violenta nem um ser que quer promover uma festa entre os seus discípulos. Para eliminar as faltas e os defeitos de seus discípulos, às vezes ele parece estar agindo de modo brutal e cruel; entretanto, nesta mesma crueldade há grande ternura e compaixão.
Tulsidas diz em seu RAMAYANA que, quando há um tumor no corpo de uma criancinha, a mãe não o cobre com talco, nem o abana. Ela enche seu coração de coragem, lanceta o tumor e o elimina. Machuca a criança e ela chora alto. Do mesmo modo, por causa do amor por seu discípulo, o Guru usa o meio mais rude, o método mais cruel para eliminar suas falhas. Mesmo que o discípulo chore amargamente, mesmo que o machuque, o Guru não se incomoda. - Muktananda