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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Corpo e mente: nossa ignorância dual

Dizem-nos os Sábios que deixaremos de identificar-nos com o nosso corpo — e assim nos libertaremos de uma vez por todas dos sofrimentos que surgem por intermédio dele — apenas quando alcançarmos a experiência direta do Ser real. Assim como agora temos a experiência direta do corpo, devemos ter a experiência direta desse Ser como ele realmente é. Essa ignorância, que nos leva a identificar-nos  com o corpo, é um hábito mental arraigado, engendrado na mente durante longo tempo de ações e pensamentos errôneos. Deles surgiram os vários apegos às coisas. Tais hábitos mentais formam a própria estrutura da mente; e a simples introdução de um pensamento contrário — que é muito fraco, igual a um recém-nascido — fará pouca diferença. A mente fluirá pelos mesmos canais habituais. Continuará sujeita às mesmas atrações e repulsões. E isso acontecerá porque enquanto é possível ao filósofo livresco sentir às vezes que ele não é o seu corpo, não pode, com a mesma facilidade, chegar a sentir que não é a mente. E esta dupla ignorância só terá o fim quando conhecermos o Ser — não teórica mas praticamente, isto é, pela experiência real do Ser. 

Até surgir essa compreensão, não se pode dizer que o filósofo tenha se descartado de sua ignorância. Ela sobrevive com todo rigor. Seu conhecimento filosófico não faz qualquer diferença em seu caráter. De fato, como assinala Ramana Maharshi, o filósofo livresco está até mesmo em piores condições do que os outros homens. Seu coração é assediado por novos apegos — dos quais o iletrado está livre — que não lhe dão tempo para dedicar-se à tarefa de descobrir o Ser real. Muitas vezes não tem nem mesmo consciência da presente necessidade de se prepararem para tal empresa, harmonizando o conteúdo de sua mente e dirigindo suas energias para o Ser, e não para o mundo. Infere-se daí que, quem conhece o Ser apenas por intermédio de livros, não conhece mais do que a gente simples. Por essa razão o Sábio compara o filósofo livresco ao gramofone. Não é melhor do que ninguém pela sua erudição, assim como o gramofone não é melhor pelas coisas que repete. 

os livros, devemos lembrar, não passam de sinais indicadores na estrada para a sabedoria, que nos liberta; logo, essa sabedoria não pode ser encontrada nos livros. O Ser que precisamos conhecer está no INTERIOR e não no exterior. Caso a sabedoria desperte, nessa oportunidade, o Ser, refulgindo em todo o seu esplendor, mostrar-se-á diretamente, sem qualquer agente intermediário. O estudo dos livros porém engendra a ideia de que o Ser é algo externo, que se precise conhecer como um objeto, por intermédio da mente. 

A vasta confusão que reina nas especulações filosóficas e teológicas é devida, diz Ramana Maharshi, a essa ignorância. Todos estão totalmente convencidos de que as questões abstrusas, referente ao mundo, à alma e a Deus, podem ser resolvidas, final e satisfatoriamente, pelas especulações intelectuais sustentadas por argumentos tirados da experiência humana COMUM, a qual é o que é, devido a essa ignorância. Filósofos e teólogos desde o início da criação — se é que houve criação — sobre a causa primeira, o modo da criação, a natureza do tempo e do espaço, a realidade ou irrealidade do mundo, a discordância entre o determinismo e o livre-arbítrio, o estado de libertação, e assim por diante, numa sucessão infinita. E NÃO CHEGAM A NENHUMA CONCLUSÃO. Ramana Maharshi explica-nos que não pode haver conclusão final — uma conclusão que não possa ser derrubada por argumentos novos, ou aparentemente novos, enunciados por outros comentadores, a menos que o Ser real SEJA ALCANÇADO. Para aquele que atingiu o Ser real, estas controvérsias chegaram ao fim. Mas para os outros, elas devem continuar, a menos que ouçam o conselho de Ramana Maharshi, cuja finalidade é fazer com que deixem de lado TODAS ESSAS QUESTÕES e se dediquem de coração a busca do Ser. Ou aceitamos o ensino dos Sábios sobre essas ESPECULAÇÕES, pelo menos à título de hipótese, DE MODO A NÃO SERMOS DESVIADOS, por elas, da nossa busca, ou reconhecemos a profunda verdade de que esses assuntos NÃO TÊM A MENOR IMPORTÂNCIA E NÃO PRECISAM DE RESPOSTAS — que a única coisa necessária é encontrar o Ser. Essas questões surgem, se é isso que acontece, apenas para aqueles que consideram a mente e o corpo como o Ser. 

Compreendemos assim, que todos os nosso sofrimentos são devidos à nossa ignorância sobre o Ser real. Devemos vencê-las se quisermos gozar a VERDADEIRA FELICIDADE, pois, a remoção da causa é a única forma de cura radical que existe. O mais é TRATAMENTO PALIATIVO, que pode até mesmo, no final de contas, SER MALÉFICO, agravando, na verdade, a doença. E só poderemos ficar livres dessa ignorância, por meio da experiência com o Ser. 

MAHA YOGA

A ilusão da busca de conhecimento externo

Somos incapazes de ver como o conhecimento correto de NÓS MESMOS pode ser necessário ao nosso modo de viver. Aspiramos a aprender como dobrar o mundo à nossa vontade ou então como a ele adaptarmo-nos de modo a podermos tirar o melhor proveito, por pior que seja. Não vemos como o conhecimento correto de NÓS MESMOS pode ser-nos útil neste mister... estamos completamente convencidos de que nos conhecemos perfeitamente bem. 

Acreditamos que o conhecimento é de grande valor, e procuramos conhecer a verdade sobre tudo que possivelmente vamos encontrar na vida. Somos tão fanáticos quanto a isso, que desejamos tornar compulsória a todos a aquisição do conhecimento. E todo esse conhecimento é concernente AO MUNDO — e não A NÓS MESMOS. Com o passar dos séculos, cada nação, ou grupo de nações, acumulou bastante conhecimento — história, geografia, astronomia, física, ética, teologia, biologia, sociologia, e até mesmo o que se conhece pelo nome imponente de filosofia ou metafísica. Se todo esse conhecimento externo, que vem se amontoando, desse felicidade, deveria ter havido um aumento constante da felicidade humana. Mas o caso é outro. 

Pode-se alegar que o aumento do conhecimento nos deu um maior domínio sobre as forças cegas da Natureza, e que isto é tudo para chegar-se ao bem. Mas não é bem assim. Esse domínio foi colocado por uma sorte funesta nas mãos de poucos, e quanto maior se tornar, mais profundo serão o desespero e a degradação em que as massas afundam. E a percepção de sua miséria se alívio não pode deixar de envenenar a taça da felicidade — ou de arremedo de felicidade — para aqueles entre a minoria afortunada que não sejam totalmente egoístas. O milênio, que os cientistas de uma era agora esquecida profetizaram, está mais longe do que nunca. Na verdade, a ciência trouxe o mundo a um estado em que a própria sobrevivência da raça humana está sendo seriamente ameaçada. É pura maldade — indigna daqueles que aspiram a uma genuína e imaculada felicidade — afirmar que todo este conhecimento tem sido para o bem. E isso deve levar-nos a suspeitar que não há conhecimento algum. Pelo menos, podemos supor que a felicidade não pode ser encontrada por intermédio DESSA ESPÉCIE DE CONHECIMENTO. O ensinamento dos sábios confirma tal suspeita. Ramana Maharshi chega mesmo a caracterizar todo esse conhecimento externo como IGNORÂNCIA. 

(...) Ramana Maharshi afirmou que a investigação do mundo exterior a nada nos poderá levar, exceto à ignorância. Disse ele que QUANDO PROCURAMOS CONHECER ALGUMA COISA QUE NÃO SEJA NÓS MESMOS, SEM PROCURARMOS CONHECER A VERDADE DE NÓS MESMOS, O CONHECIMENTO QUE OBTEMOS PROVAVELMENTE NÃO PODE SER EXATO.

(...) A razão dada por Ramana Maharshi é que quem desejar saber a Verdade seja do que for, deve PRIMEIRO CONHECER-SE A SI MESMO E COM PERFEIÇÃO. Quer dizer que aquele que não se conhece, parte de um erro inicial, o qual DETURPA todo o conhecimento resultante de sua investigação. Quem se conheceu a si mesmo, no entanto, está livre de tal erro, e somente ele é capaz de encontrara a Verdade do mundo ou das coisas do mundo. A qualidade daquele que pretende adquirir conhecimento é elemento indispensável ao conhecimento por ele adquirido. Será conhecimento correto somente se o pretendente estiver ADEQUADAMENTE HABILITADO para a pesquisa. 

(...)Mas não nos conhecemos? Pensamos que sim. O homem vulgar afirma com convicção que se conhece a si mesmo da forma adequada; e pode ser-lhe impossível chegar a entender que NÃO SE CONHECE, mesmo que o escute e um Sábio. É necessário termos a mente muito adiantada e grandemente PURIFICADA para percebermos e reconhecermos QUE NÃO NOS CONHECEMOS A NÓS MESMOS — que as ideias sobre nós mesmos, acalentadas durante tanto tempo, estão erradas. Os Sábios nos dizem que nossas ideias sobre nós mesmos são um misto de verdade e erro.

(...) Ramana Maharshi diagnostica a doença — escravidão aos desejos e temores — como devida à ignorância sobre o que é o nosso Eu real, e à consequente premissa falsa de que o corpo é o Eu. E isso se confirma pela observação de que desejo e medo surgem em virtude do corpo. 

MAHA YOGA

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Características do "Estado Místico"

O estado místico, quer espontâneo quer induzido mediante a meditação e outras práticas, produz a liberação de ENERGIA do inconsciente que permite a realização das POTENCIALIDADES mais elevadas do ser humano. Parece conveniente, portanto, que o estado místico seja estudado pela ciência sem preconceitos, num esforço para descobrir se ele pode, de fato, fornecer a chave que leve o indivíduo e a sociedade à vida saudável.
RENÚNCIA VOLUNTÁRIA - Outra característica que Prince considera comum ao esquizofrênico e ao místico é a renúncia aos apegos mundanos. Contudo, o esquizofrênico abandona o trabalho e a família não por escolha, mas por estar muito doente para assumir responsabilidades ou enfrentar a vida. O místico, por outro lado, de modo VOLUNTÁRIO E COM PLENA CONSCIÊNCIA, renuncia aos prazeres e às recompensas da vida mundana para ir em busca daquilo que considera o bem supremo. Desse modo, Buda abandonou sua herança régia a fim de descobrir as causas do sofrimento humano e os modos de mitigá-lo.

Um exemplo recente de renúncia às coisas deste mundo pode ser encontrado na vida de Albert Schweitzer, que abandonou uma carreira auspiciosa na Europa para fundar um hospital no coração da selva africana. Ele declarou que a base de sua filosofia, a "reverência pela vida", foi-lhe revelada através de um súbito vislumbre místico. Um ato semelhante de RENÚNCIA VOLUNTÁRIA pode ser visto na decisão de Thoreau de abandonar a oportunidade de fazer riqueza com sua descoberta de um novo método para a fabricação de grafita a fim de procurar a autocompreensão nos bosques de Walden.

A relação daqueles que, conscientemente, rejeitam os valores e confortos materiais para perseguir um ideal, não se limita àqueles indivíduos de orientação religiosa. O momento transcendente que transforma as atitudes e os hábitos da vida não conhece limites espaciais ou temporais; ele pode atingir tanto o homem ativo no mundo quanto o filosófico. A história preservou-nos os nomes de incontáveis pessoas que abandonaram a segurança, o amor e a riqueza pessoais a fim de devotarem-se ao serviço de outras, o que não traz nenhum rendimento a não ser sua própria recompensa.

A vida de uma pessoa mentalmente doente, mergulhada há anos num estupor catatônico, fora do alcance de qualquer contato humano, constitui uma trágica perda. Como é possível comparar tal retraimento em relação ao mundo com vidas plenas e gratificantes que resultaram da RENÚNCIA CONSCIENTE das satisfações pessoais — vidas que amiúde tanto beneficiaram a humanidade? — (Claire Myres Owens)

ÊXTASE - Um resultado universalmente comprovado da experiência mística é o êxtase, a felicidade ou o júbilo. Na opinião de Prince, trata-se apenas de uma regressão à experiência bem-aventurada da amamentação ou de um estado semelhante à falsa elação dos estados psicóticos. Aqui, mais uma vez, sua limitada compreensão é transmitida aos seus leitores através de uma citação enganosa de Francisco de Sales, colocada fora de contexto: " Nesse estado [a oração da quietude], a alma assemelha-se a uma criancinha ainda no seio da mãe".

A simplificação demasiada de Prince é resultado da confiança atual depositada nas técnicas freudianas, nas quais as configurações simbólicas perdem uma parte de seu significado. O conhecimento profundo da literatura do misticismo, por outro lado, revela o grau em que aqueles que experimentaram o estado de consciência expandida são obrigados a confiar no símbolo, na parábola, na imagem e na analogia em seus esforços para comunicar na linguagem formal a qualidade essencial de uma realidade informe.

O tema da criança constitui uma dessas tentativas de exprimir a natureza da experiência mística em termos que possam ser compreendidos pela maioria dos homens; possui um efeito redentor. A imagem da inocência e da pureza, não contaminada pelo interesse mundano ou egoísta, que vai ao encontro da realidade com uma visão pura, espontânea e serena, tem sido repetidamente evocado para exprimir o estado mental e interior NECESSÁRIO àquele que aspira ao conhecimento espiritual. Assim disse Jesus: "A menos que vos torneis semelhantes a uma criança, não podereis entrar no reino do céu."

Levando em consideração essa prática, de Sales talvez estivesse querendo dizer que os místico, do mesmo modo que o lactente, tem a sensação de estar retornando à sua fonte — cósmica, não maternal; que ele também está se entregando, com segurança, a um poder infinitamente mais forte que ele próprio — um poder universal e não-pessoal; que ele está participando de uma nutrição primária, elementar, natural ao homem e superior a todas as outras — alimento para a mente e para o espírito, e não para o corpo; e que seu êxtase o purifica de modo a sentir-se, mais uma vez, puro e inocente como um bebê.

O êxtase do místico tem sido uma fonte de poder redentor, que o purga da dúvida a respeito de si mesmo e da vacilação. A experiência de Moisés diante da sarça ardente deu-lhe força e coragem para libertar os israelitas do cativeiro. A visão de Pascal de uma enorme fogueira e de uma cruz em chamas alterou sua filosofia e sua vida. Ainda que reconheçamos que essas visões simbólicas sejam projeções psicológicas, não podemos desprezar o testemunho histórico de seu poder transformador.

O psicótico pode ter sensações momentâneas de êxtase ou excitação e acreditar que descobriu os segredos do universo, mas suas fantasias não geram nenhuma compreensão da verdade ou da realidade. O esquizofrênico pode manifestar distorções e exageros dos padrões básicos do inconsciente coletivo que ele compartilha com todos os homens; mas essas distorções, por si só, não determinam o caráter essencial do inconsciente.


Mais interessante é a alegação de Prince de que não s de que não só a elação mas também a condição depressiva, que o místico chama de "a noite escura da alma", são comuns aos estados místicos e maníacos. É verdade que muitos místicos testemunharam essa condição de esterilidade espiritual. Prosseguindo a comparação de Prince, parece-me que o psicótico perde contato com a assim chamada realidade (talvez um termo melhor seja atualidade) do mundo. O místico, contudo, em sua "noite escura", perde contato com a realidade suprema que ele conheceu. Tudo o que lhe resta, nesse PERÍODO DE ARIDEZ, é o mundo dos fenômenos que, como contraste, é insípido, limitado e desinteressante. A porta de seu inconsciente mais profundo, que dá acesso ao princípio integrador universal, está fechada para ele; ele se sente excluído e o resultado pode ser uma profunda depressão. Afinal de contas, os místicos são seres humanos com fraquezas humanas. Depois de um despertar espontâneo de certa duração, eles podem ingressar num período natural de reação, resultado do fluxo e refluxo da vida psíquica, tão mal compreendido. É interessante notar que aqueles que escreveram com uma tristeza exaltada acerca da "noite escura" geralmente são aqueles que passaram por súbitas e espontâneas experiências, em relação às quais estavam DESPREPARADOS. As alusões a essa condição, na literatura hinduísta e budista, ocorrem num contexto tão sistematizado, devido a seus métodos de preparação à descoberta de si mesmo, que são aceitas como parte do processo de crescimento.

MORTIFICAÇÃO - Depois das experiências místicas desse nível mais profundo de consciência, ele descobre que seus padrões de vida anteriores NÃO MAIS SÃO SATISFATÓRIOS. Sente que devem ser DEPURADOS ou MORTIFICADOS, o que Underhill interpreta como "A Purificação do Eu". Na linguagem da dicotomia dos níveis de consciência de Willian James, a nova consciência subliminal, com a qual o indivíduo acabou de entrar em contato, é acentuadamente diferente da consciência diária no mundo social, já não são se aplicam a essa experiência mais pessoal e, portanto, DEVEM SER DESCARTADOS.

As práticas ascéticas extremas de muitos místicos, que ocorrem durante este estágio, destinam-se a DEPURAR o indivíduo de sua necessidade de antigas relações que ele mantinha com a realidade social. Assim que isto for concluído, o processo de depuração ou mortificação termina. Como assinala Underhill, a despeito de sua etimologia, o objetivo da mortificação, para o místico, é a vida, mas essa vida só pode surgir através da "morte" do antigo "eu".

ILUMINAÇÃO DO EU - Depois que o indivíduo DEPUROU-SE do seu interesse anterior e de seu envolvimento com o mundo social, ele entra no terceiro estágio ou no que Underhill chama de "A Iluminação do Eu". Aqui, ele experimenta de modo mais pleno aquilo que se encontra além dos limites de seus sentidos imediatos. A principal característica atribuída a este estágio consiste na apreensão jubilosa daquilo que o místico experimenta ser o Absoluto, o que inclui extravasamentos refulgentes de êxtase e arroubo nos quais o indivíduo exulta de seu relacionamento com o Absoluto. Aquilo que distingue este estágio dos estágios posteriores, contudo, é o fato de que o indivíduo ainda experimenta a si próprio como uma entidade separada, ainda não unificada com o que ele considera ser o Supremo. Ainda persiste uma SENSAÇÃO do estado-do-eu, do ego, de si mesmo.

NOTE ESCURA DA ALMA - talvez este seja o estágio mais notável do processo místico. Embora possa ser encontrado em todas as experiências místicas, sua expressão emocional só aparece na tradição ocidental, onde recebeu seu nome a partir da frase evocativa de São João da Cruz: "A Moite escura da Alma". Há, aqui, a total negação e rejeição do júbilo do estágio precedente. O indivíduo sente-se TOTALMENTE AFASTADO e DISTANTE de suas experiências anteriores, bem como EXTREMAMENTE SOZINHO e DEPRIMIDO. É como se tivesse sido atirado para o meio de uma região devastada ou de um IMENSO DESERTO, sem nenhuma esperança de sobrevivência.

Durante o período purificador, o indivíduo deve depurar-se de seus APEGOS ANTERIORES AO MUNDO SOCIAL. Agora, ele deve depurar-se de sua EXPERIÊNCIA DO EU. Sua própria vontade deve tornar-se totalmente SUBMERSA pela "força" desconhecida que ele experimenta ESTAR DENTRO DELE. Enquanto afirma sua própria vontade ou individualidade, ele mantém distância ou separação daquilo que sente ser o Supremo.

A VIDA UNITIVA - este estágio, embora não seja o estágio final, constitui o ponto culminante da busca do místico: a completa e total absorção no mundo pessoal, insocial, que tem sido chamado de "A Vida Unitiva". Ele consiste na obliteração dos sentidos e até mesmo da sensação do eu, resultado na experiência da unidade com o universo. Este estágio tem sido descrito como um estado de CONSCIÊNCIA PURA, no qual o indivíduo não experimenta nada — nenhuma coisa. O indivíduo APARENTEMENTE fez contato com as regiões mais profundas de sua consciência e experimenta o processo como tendo sido concluído. Emocionalmente, o indivíduo sente-se totalmente tranquilo e em paz.

RETORNO DO MÍSTICO - Embora não mencionado como um estágio independente pelos comentadores, o retorno do místico, da experiência de unicidade com o universo, para as exigências da vida social constitui a parte MAIS IMPORTANTE de seu caminho. Em muitos místicos, pode-se observar que eles renovam seu envolvimento prático nas situações sociais com uma vitalidade e forças novas. Como observou santa Tereza: "marta e Maria devem trabalhar em conjunto quando oferecem pousada ao Senhor", dando a entender que o envolvimento material e espiritual são igualmente importantes. As vidas de santa Tereza, de são Francisco de Assis e de santo Inácio, para citar apenas três, dão testemunho do importante PAPEL PRÁTICO que os místicos têm exercido no mundo. Na tradição clássica oriental, encontra-se a mesma ênfase dada ao retorno ao mundo. O exemplo principal é Buda, que retornou de seu êxtase sob a árvore BO ao mundo social do qual ele "fugira".

O místico agora não mais considera detestável seu envolvimento com o mundo mas, na verdade, parece ACOLHER COM ALEGRIA a oportunidade de entrar no mundo social que ele abandonara. Este paradoxo aparente torna-se compreensível quando se considera que não foi ao mundo que o místico esteve renunciando mas, meramente, A SEUS APEGOS e NECESSIDADES em relação a ele, que impossibilitavam o desenvolvimento de sua experiência pessoal, insocial. Depois que se tornou capaz de abandonar essas necessidades sociais, condicionadas, e sentiu-se livre da atração exercida pelo mundo social, ele experimentou a liberdade de viver no interior da sociedade conjuntamente com seus esforços interiores, deixando de ver os costumes e as instituições sociais como obstáculos à sua auto-realização.

Jonh White — O Mais Elevado Estado de Consciência

O deserto da alma

Este vídeo é parte integrante do Trabalho de Conclusão para a Especialização em Psicologia Analítica Junguiana - Unicamp - e narra primordialmente dois textos do Liber Novus: "O deserto" e "Experiências no deserto"

O Deserto da Alma
Imagens Alquímicas na operação de calcinatio

Eu os convido a adentrar o mundo anímico da alma, aonde o tempo é kairós, a funções são intuição, sensação e sentimento. O deserto como o lugar da Alma não poderia ser transmitido de outra maneira, senão pela linguagem típica do inconsciente, através de som e imagem.

Serão aqui evocadas imagens alquímicas da operação de calcinatio, resultado de experiência imediata, conforme descrita por Von Franz, fruto de trabalho em análise, sonhos, desenho e pintura.
A elaboração desta apresentação foi, para mim, mais como a criação de um trabalho artístico do que a produção de um trabalho acadêmico. Pois, como diz Barcellos, é impossível compreender a Alquimia psicologicamente sem a entrada na metáfora, na poiésis da matéria. Tentaremos aqui fugir do racionalismo conceitual para explorar uma dimensão mais próxima ao que Hillman chamou de palavras-imagem, palavras-arte.

Dentro dos quatro estágios clássicos do calor, experimentaremos mais detalhadamente o terceiro grau, aquele comparado ao calor produzido pela areia escaldante e recomendado, portanto, a operação de calcinatio: a redução de corpos em cal pela queima. Segundo Hillman, a redução da confusão a uma essência, de lembranças nebulosas a uma imagem pungente, o coração quente da coisa, a redução máxima por meio do calor.

Uma Opus contra naturam, que objetiva acelerar processos naturais e alcançar a perfeição da substancia, leia-se, sua essência. A alma que pede para ser trabalhada, inocente, ignorante, e portanto, perigosa, nos alerta Hillman, caso mantida em seu estado natural. O cru pedindo para ser cozido, base arquetípica de idéias de evolução, progresso e perfeição. "Perfeição da substância", não do sujeito. A arte e prática alquímicas à serviço da natureza, da Anima Mundi. Conheça seu fogo, conheça sua matéria, sugere ele. A madeira preteja, a pedra embranquece, cada material incendeia a sua maneira. A quantidade e qualidade do calor no trabalho analítico devem ser determinadas pelo material com a qual se trabalha, enquanto que o fogo para o processo vem da frustração das exigências de poder do ego.

Em sua biografia, Jung afirma que do confronto com seu próprio inconsciente, descrito no Livro Vermelho, emerge todo o material a partir do qual, subsequentemente, ele construiria a sua teoria da psique. Portanto, é a partir de dois textos do Liber Primus -- O Deserto e Experiências no deserto -- que faremos nossa entrada na idéia arquetípica de calcinatio.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Um novo modo de autoconhecimento

Esse modo de autoconhecimento pode ocorrer de maneira dramática, como se deu com São Paulo na estrada de Damasco, ou pode manifestar-se sem nenhum sinal exterior de drama interior. A experiência resultante, contudo, tem-se revelado semelhante por todo o mundo e através da História. Por intermédio de seus próprios testemunhos, os "iluminados" — indivíduos que vivenciaram o estado supremo de consciência — sentiram uma sensação profunda de paz em relação aos outros e de harmonia com o mundo. Eles compreendem que o universo, tal como Dante escreveu no final de A DIVINA COMÉDIA, está se movendo segundo a força do Amor. Eles percebem um plano cósmico, uma ordem moral, em relação ao caos e ao acaso aparentes do gás estelar e da poeira intergaláctica. Eles vêem, com Hamlet, "uma divindade que molda nossos propósitos". Tal é o "deus" (ou Buda, Tao, Brahma) de incontáveis religiões e filosofias. Em todos os casos, a percepção auto-envolvente de que "eu" e o "outro" estamos unidos cria homens novos ou renascidos. Ela transforma a noção desolada e desesperançada da vida em uma noção na qual todas as coisas ganham um sentido deleitável. Ela transforma a configuração absurda da existência em uma visão do mundo que dá lugar à exuberância inevitavelmente esperançosa, uma vez que o sujeito descobre o desígnio fundamental onde, anteriormente, havia apenas percepções e experiências desconexas e confusas. 

No mesmo grau de importância do autotestemunho encontram-se as observações de outros indivíduos acerca dos iluminados. Quase sem exceção, têm sido considerados santos, visionários e profetas: Jesus, Buda, Lao Tsé, Jacob Boehme, Ramakrishna, Walt Whitman, Aldous Huxley. Socialmente venerados, revelaram uma coragem, uma amabilidade, uma compaixão, uma integridade e uma santidade excepcionais. Embora tenham conservado as características do ser humano, foi-lhes reservado um lugar particularmente distinto e tornaram-se identificáveis através de uma aura — às vezes literalmente visível sob a forma de uma luz intensa — que exerce uma poderosa influência sobre os outros homens. Além disso, nunca deixam de recomendar aos demais seres humanos que se preparassem, através da oração, das boas ações, do estudo e da meditação, para receberem a benção que não pode ser imposta ou prevista; quando ocorre, ela é sempre uma surpresa. Apesar disso, sustentam que ela deve ser buscada, segundo as palavras do mandamento de Jesus: "Com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda a tua força e com toda a tua mente".

John White em, O mais elevado estado de consciência

Não há mais energia para lidar com o não essencial


Vivemos pelo pensamento e não pela Consciência

Os seres humanos, por todo o mundo, têm feito do intelecto um dos fatores de maior importância na nossa vida diária. Observamos que os antigos hindus, os egípcios e os gregos, todos eles consideravam o intelecto como sendo a função mais importante na vida. Mesmo os budistas deram importância a ele. Em cada universidade, faculdade e escola pelo mundo todo, seja em um regime totalitário ou nas chamadas democracias, o intelecto tem um papel dominante. Queremos dizer por intelecto a capacidade de entender, de discernir, de escolher, de pesar, ponderar, e toda a tecnologia da ciência moderna. A essência do intelecto é todo o movimento do pensamento, não é? O movimento domina o mundo tanto na vida exterior como na interior. O pensamento também criou o mundo, todos os rituais, os dogmas, as crenças. O pensamento também criou as catedrais, os templos, as mesquitas com sua maravilhosa arquitetura e os santuários locais. O pensamento tem sido responsável por uma infindável tecnologia em expansão, as guerras, os materiais bélicos, a divisão dos povos em nações, em classes e raças. O pensamento tem sido e provavelmente ainda é o instigador de tortura em nome de Deus, da paz, da ordem. Ele também tem sido responsável pela revolução, pelos terroristas, pelo princípio supremo e os ideais pragmáticos. Vivemos pelo pensamento. Nossas ações são baseadas no pensamento, nossos relacionamentos também estão fundamentados no pensamento, assim o intelecto tem sido adorado em todos os tempos. 

Mas o pensamento não criou a natureza — o firmamento com suas estrelas em expansão, a terra com toda sua beleza, com seus vastos mares e campos verdes. O pensamento não criou a árvore, mas ele a tem usado para construir a casa, para fazer a cadeira. O pensamento usa e destrói. 

O pensamento não pode criar o amor, a afeição e a qualidade de beleza. Ele tece uma rede de ilusões e realidades. Quando vicemos unicamente pelo pensamento, com todas as suas complexidades e sutilezas, com seus propósitos e direções perdemos a grande profundidade da vida, pois o pensamento é superficial. Embora ele tenha a pretensão de mergulhar profundamente, o próprio instrumento é incapaz de penetrar além de suas limitações próprias. Ele pode projetar o futuro, mas esse futuro nasce das raízes do passado. As coisas que o pensamento criou são reais, existem de fato — como a mesa, como a imagem que você adora —, mas a imagem, p símbolo que você adora são formados pelo pensamento, incluindo todas as ilusões — românticas, idealistas, humanitárias. Os seres humanos aceitam e vivem com as coisas do pensamento — dinheiro, posição, status e a luxúria de uma liberdade que o dinheiro traz. Isso é todo o movimento do pensamento e do intelecto — e através dessa janela estreita de nossa vida olhamos para o mundo. 

Existe algum outro movimento que não seja do intelecto e do pensamento? Essa tem sido a investigação de muitas religiões e esforços científicos e filosóficos. Quando usamos a palavra religião, não estamos nos referindo ao absurdo das crenças, dogmas, rituais e a estrutura hierárquica. Ao falar de uma mulher ou de um homem religioso, nos referimos àqueles que se libertaram de séculos de propaganda, do peso morto da tradição, moderna ou antiga. Os filósofos que se contentam com teorias, conceitos e jogos de ideias, não tem possibilidade de explorar além da janela estreita do pensamento, nem o cientista com suas capacidades extraordinárias, com seu pensamento talvez original, com seu imenso conhecimento. O conhecimento é o depósito da memória e deve haver liberdade do conhecido para explorar o que está para além dele. Deve haver liberdade para investigar sem nenhum laço, escravidão, sem qualquer apego à experiência própria, às próprias conclusões, a todas as coisas que o homem impôs a si mesmo. O intelecto deve estar tranquilo, em quietude absoluta, sem nenhum tremor, nenhum movimento do pensamento.

A nossa educação agora está baseada no cultivo do intelecto, do pensamento e do conhecimento — que são necessários no campo da nossa ação diária, mas que não tem lugar no nosso relacionamento psicológico uns com os outros, pois a própria natureza do pensamento divide e destrói. Quando o pensamento domina todas as nossas atividades e todos os nossos relacionamentos, ele produz um mundo de violência, terror, conflito e miséria. 

Jiddu Krishnamurti

Por que caímos? Para aprender a meditar



O amor está além da limitada consciência

(...) A mente com suas respostas emocionais, com todas as coisas que o pensamento agregou, é nossa consciência. Essa consciência, com todo o seu conteúdo, é a consciência de todos os seres humanos, modificada, não inteiramente similar, diferente em suas nuances  e sutilezas, mas as raízes de sua existência são basicamente comuns a todos nós. Os cientistas e os psicólogos estão examinando essa consciência e os gurus estão brincando com ela para seus próprios fins. Os que são sérios estão examinando a consciência como um conceito, como um processo laboratorial — as respostas do cérebro, ondas alfas, etc. — como algo fora deles próprios. Mas nós não estamos interessados em teorias, conceitos e ideias a respeito da consciência; nós estamos interessados em suas atividades na nossa vida diária. Ao entender essas atividades, as respostas diárias, os conflitos, nós temos um INSIGHT na natureza e estrutura de nossa consciência. Como indicamos, a realidade básica dessa consciência é comum a todos nós. Não é a sua ou a minha consciência particular. Nós a herdamos e a estamos modificando aqui e ali, porém, seu movimento básico é comum a toda a humanidade. 

Essa consciência é a nossa mente com toda a sua complexidade de pensamento — as emoções, as respostas sensoriais, o conhecimento acumulado, o sofrimento, a dor, a ansiedade, a violência. Tudo isso é a nossa consciência. O cérebro é antigo e está condicionado por séculos de evolução, por todo tipo de experiência, pelas acumulações recentes do conhecimento expandido. Tudo isso é a consciência em ação, em todos os momentos de nossa vida — a relação entre os seres humanos com todos os prazeres, dores, confusão dos sentidos contraditórios e a gratificação do desejo com dua dor. Esse é o movimento de nossa vida. Nós estamos perguntando, e isso deve ser enfrentado como um desafio, se esse movimento ancestral pode ter um fim — pois isso se tornou uma atividade mecânica, uma forma tradicional de viver. No fim existe um começo e só então não existirá nem fim nem começo. 

A consciência parece ser um assunto muito complexo, mas essa realidade é muito simples. O pensamento agregou todo o conteúdo de nossa consciência — sua segurança, sua incerteza, suas esperanças e seus medos, a depressão e a euforia, o ideal e a ilusão. Uma vez que isso é apreendido — que o pensamento é responsável por todo o conteúdo da nossa consciência —, a questão inevitável surge: pode o pensamento ser detido? Muitas tentativas, religiosas ou mecânicas, foram feitas no sentido de pôr fim ao pensamento. A própria exigência de acabar com o pensamento é parte do movimento do pensamento. A própria busca por uma superconsciência é ainda a medida do pensamento. os deuses, os rituais, toda a ilusão emocional das igrejas, templos e mesquitas com suas maravilhosas arquiteturas, é ainda o movimento do pensamento. Deus é alçado aos céus pelo pensamento.

O pensamento não criou a natureza. Ela é real. A cadeira é real e feita pelo pensamento; todas as coisas que a tecnologia gerou são reais. Ilusão é tudo aquilo que se afasta da realidade dos fatos (aquilo que está  realmente acontecendo agora), mas podem se tornar uma realidade porque vivemos das ilusões. 

O cachorro não é feito pelo pensamento, mas o que queremos que ele seja é o movimento do pensamento. O pensamento é medida. O pensamento é tempo. A totalidade disso é a nossa consciência. A mente, o cérebro e os sentidos são parte dela. Perguntamos: pode esse movimento chegar a um fim? O pensamento é a raiz de todo nosso sofrimento, de toda a nossa feiura. O que estamos pedindo é o fim disso — as coisas que o pensamento agregou —, não o fim do pensamento em si mesmo, mas o fim de nossa ansiedade, pesar, dor, poder e violência. Com o fim disso, o pensamento encontra seu lugar próprio e limitado — o conhecimento e a memória que precisamos ter no dia-a-dia. Quando os conteúdos da consciência, que foram agregados pelo pensamento, não estão mais ativos, então existe um vasto espaço e assim há a liberação da imensa energia, que estava limitada pela consciência. O amor está além dessa consciência. 

Krishnamurti em, Cartas às escolas

A fragmentação da energia impede o florescimento da bondade

O florescimento da bondade é a liberação de toda nossa energia. Não é o controle ou a supressão da energia, mas, sim, a total liberação dessa vasta energia. Ela é limitada e restrita pelo pensamento, pela fragmentação de nossos sentidos. O próprio pensamento é essa energia colocando-se dentro de um sulco estreito, um centro do eu. O florescer da bondade só pode acontecer quando a energia está livre, mas o pensamento, por sua própria natureza,  limita essa energia e assim ocorre a fragmentação dos sentidos. Por consequência, existem os sentidos, as sensações, os desejos e as imagens que o pensamento cria através a partir do desejo. Tudo isso é uma fragmentação da energia. Esse movimento limitado pode perceber a si mesmo? Ou seja, os sentidos podem ter percepção de si mesmos? Pode o desejo ver que ele surge a partir dos sentidos, a partir da sensação, da imagem criada pelo pensamento, e pode o pensamento perceber a si mesmo e ao seu movimento? Tudo isso implica a questão: pode o corpo físico, em sua inteireza, ter percepção de si mesmo? 

(...) O prazer domina nossa vida — seja nas formas mais rudes ou nas formas mais educadas. E o prazer é essencialmente uma lembrança — aquilo que tem sido ou a antecipação daquilo que pode acontecer. O prazer não está nunca no momento. Quando o prazer é negado, suprimido ou bloqueado, dessa frustração, atos neuróticos, como a violência e o ódio, acontecem. Então o prazer busca outras formas e saídas; satisfação e insatisfação surgem. Estar cônscio dessas atividades, tanto físicas quanto psicológicas, requer uma observação do movimento total de nossa vida. 

Quando o corpo percebe a si mesmo, então poderemos fazer uma pergunta adicional e talvez mais difícil: será que o pensamento, que construiu toda essa consciência, pode perceber a si mesmo? Na maior parte do tempo, o pensamento domina o corpo e, assim, o corpo perde sua vitalidade, inteligência, sua energia intrínseca e, portanto, tem reações neuróticas. Será que a inteligência do corpo é diferente da inteligência total, que só pode surgir quando o pensamento, tendo consciência de sua própria limitação, encontra seu lugar adequado? 

Como dissemos no começo desta carta, o florescimento da bondade pode acontecer apenas quando há a libertação da energia total. Nessa libertação não há atrito. É somente nessa suprema energia não dividida que existe esse florescer. Essa inteligência não é filha da razão. A totalidade dessa inteligência é compaixão. 

A humanidade tem tentado liberar essa imensa energia através de várias formas de controle, através da disciplina exaustiva, através do jejum, através das renúncias e sacrifícios oferecidos a um Deus ou a algum princípio supremo, ou por meio da manipulação dessa energia através dos vários estados. Tudo isso implica a manipulação do pensamento em direção a um fim desejado. Porém o que estamos dizendo é bem o contrário de tudo isso. 

Krishnamurti em, Cartas às escolas

Quando se pensa em meditação, não existe meditação


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pensamento, Sentimento, Ação; Harmonia, Ação Integrada

Por que razão dividiu o homem a sua existência em compartimentos diferentes - o intelecto e as emoções? Cada um desses compartimentos parece independente do outro. Na vida, essas duas forças motoras são muitas vezes tão contraditórias, que parecem dilacerar a própria estrutura de nosso ser. Harmonizá-las, de modo que o homem possa atuar como uma entidade total, foi sempre um dos principais alvos da vida. (…) (A Luz que não se Apaga, pág. 100)

Exatamente: o pensar e o sentir são uma só coisa; sempre, desde o começo, foram uma só coisa, e é isso, precisamente, o que estou dizendo. Nosso problema, por conseguinte, não é a integração dos diferentes fragmentos, mas, sim, a compreensão dessa mente e desse coração que são uma só coisa. (…) (Idem, pág. 102)

Desejo explicar, hoje, que há um modo de viver naturalmente, espontaneamente. (…) Quando viveis completamente na harmonia de vossa mente e coração, então o vosso agir é natural, espontâneo, sem esforço. (Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 130)

Afinal, sentir é pensar, não? As duas coisas são inseparáveis. (…) O sentimento sempre acompanha o pensamento. E sentimento é percepção-sensação-contato, etc. Sentir é ser sensível; (…) (O Passo Decisivo, pág. 65)

Achais mesmo muito importante que a mente e o coração se unam? (…) Por que procurar uni-los? Essa preocupação é ainda do intelecto e não oriunda (…) de vossa sensibilidade, que faz parte de vós. Dividistes a vida em intelecto e coração; intelectualmente observais o emurchecer do coração e, verbalmente, vos preocupais com isso. (A Outra Margem do Caminho, pág. 21-22)

(…) Aquilo a que vos opondes é a periculosidade do intelecto, que endeusais. Essa periculosidade cria uma multidão de problemas. Vedes provavelmente os efeitos das atividades intelectuais, no mundo - as guerras, a competição, a arrogância do poder - e talvez tenhais medo do que está para acontecer, do desespero do homem. (Idem, pág. 22)

(…) Enquanto existir essa divisão entre os sentimentos e o intelecto - um a dominar o outro - um destruirá o outro, inevitavelmente; não há possibilidade de uni-los. (…) O amor não pertence a nenhum dos dois, porque o amor não é de natureza dominadora. Não é uma coisa fabricada pelo pensamento ou pelo sentimento. (…) O amor está no começo e não no fim de algum esforço. (A Outra Margem do Caminho, pág. 22)

Separamos o intelecto do sentimento, desenvolvemos o intelecto à custa do sentimento. Somos como um tripé com uma perna mais longa do que as outras, não temos equilíbrio. Somos educados para sermos intelectuais; (…) (A Educação e o Significado da Vida, pág. 79)

(…) O que pode produzir a transformação em nós, e por conseguinte na sociedade, é a compreensão do processo integral do pensar, que não é diferente do sentir. Sentir é pensar; (…) (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 73)

Krishnamurti: (…) Só conheço dois movimentos: um, o de pensar - o movimento intelectual, racional; o segundo, o sentimento de benevolência, delicadeza, doçura; (…) São dois movimentos separados? Ou porque os temos tratado como dois movimentos separados, surge todo nosso infortúnio, nossa confusão? (Tradición y Revolución, pág. 402)

Não achais necessário que o pensamento claro e correto seja sensível? Para sentir profundamente, não é necessário um coração aberto? Não se requer um corpo sadio para que as suas reações sejam prontas e adequadas? Embrutecemos nossa mente, nosso sentimento, nosso corpo, com as crenças e a malevolência, com estimulantes poderosos e insensibilizantes. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 17)

Se não desejais sentimentos embotados e empedernidos, deveis pagar o preço disso. Urge abandonardes a pressa, a confusão, as profissões e atividades inadequadas. Deveis torna-vos cônscios de vossos apetites, de vosso ambiente delimitador, e começardes, então, com uma justa compreensão dos mesmos, a novamente despertardes a sensibilidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 18)

Com a observação constante de vossos pensamentos-sentimentos, cairão por terra as causas do egotismo e da estreiteza mental. Se desejais atingir um elevado grau de sensibilidade e clareza, deveis trabalhar deliberadamente para esse fim; não podeis ser mundanos e ao mesmo tempo sinceros na busca da Realidade. (Idem, pág. 18)

Hipertrofiamos o intelecto, em prejuízo de nossos sentimentos mais profundos e claros, e uma civilização baseada no cultivo do intelecto há de produzir brutalidades e o culto da prosperidade. O basear-se no intelecto ou só no sentimento conduz ao desequilíbrio (…) É necessário que compreendamos as tendências do intelecto, mediante vigilância constante,(…) transcender o próprio raciocinar. (Idem, pág. 18-19)

(…) O culto do intelecto, em oposição à vida, conduziu-nos à nossa atual frustração, com suas inumeráveis vias de fuga. (…) A presente crise nasceu do culto do intelecto, e foi o intelecto que dividiu a vida numa série de ações opostas e contraditórias; foi o intelecto que negou o fator de unificação que é o amor. (A Arte da Libertação, pág. 248)

O intelecto encheu o nosso coração, que estava vazio, com coisas da mente; e só quando a mente está cônscia do seu próprio raciocinar é capaz de transcender a si mesma, e só então haverá enriquecimento do coração. Só o (…) enriquecimento do coração pode trazer a paz a este mundo louco e cheio de lutas. (Idem, pág. 248)

Com essa busca de saber, com nossos desejos gananciosos, estamos perdendo o amor, estamos embotando o sentimento do belo, a sensibilidade à crueldade; estamo-nos tornando cada vez mais especializados e cada vez menos integrados. A sabedoria não pode ser substituída pela erudição (…) (A Educação e o Significado da Vida, 1ª ed.,pág. 78)

(…) A erudição é necessária, a ciência tem o seu lugar próprio; mas, se a mente e o coração estão sufocados pela erudição, e se a causa do sofrimento é posta de parte com uma explicação, a vida se torna vazia e sem sentido. (…) (Idem, pág. 78)

Que quer dizer “razão”? Pode a razão separar-se do sentimento? Vós os separastes, porque desenvolvestes o intelecto e nada mais. E tendes, assim, uma espécie de tripé, com uma perna muito mais longa que as outras duas e que por isso não pode ficar em equilíbrio. É o que aconteceu. Somos altamente intelectuais. (…) E temo-nos servido do intelecto como meio para encontrarmos a Realidade. (Uma Nova Maneira de Viver, pág. 139)

Mas o intelecto representa uma parte, somente, e não o todo. Compreender a realidade e raciocinar são duas coisas diferentes. Sem razão (…) não podemos viver. Razão é equilíbrio, integração. (…) Mas a razão, como a conhecemos, é operação intelectual e não pode produzir senão fragmentação, como estamos vendo no mundo todo (…) O intelecto está produzindo toda esta devastação, degradação e miséria (…) A razão precisa transcender a si mesma, para encontrar a Realidade. (Idem, pág. 139)

Expressando-o diferentemente, com o raciocinar não se pode encontrar o real, porquanto o raciocinar é produto do passado, (…) depende do tempo, é reação no tempo e, por conseguinte, o raciocinar não pode nunca ser o atemporal. É preciso que o raciocinar termine, porque só então poderá manifestar-se o atemporal. Quando a mente tem percepção do seu existir, sobrevém um silêncio extraordinário, uma grande tranqüilidade (…) É nesse estado que pode dar-se a criação (…) (Idem, pág. 139-140)

(…) Separamos a mente dos sentimentos (…) a inteligência da mente e do coração, que para mim são uma só coisa. Inteligência é pensamento e sentimento em perfeita harmonia. (A Luta do Homem, pág. 83)

(…) Entendo por pensamento, não o mero raciocínio intelectual, que é somente cinzas, mas o equilíbrio entre os sentimentos e a razão, entre os afetos e o pensamento; e esse equilíbrio não é influenciado nem atingido pelo conflito dos opostos. (…) (A Luta do Homem, pág. 147-148)

(…) E a mente e o coração, que são para mim a mesma coisa (…) se debilitam e obscurecem pela memória (…) Mas, se fordes ao encontro do ambiente sempre renovados, sem a carga dessa memória do passado, (…) vereis então surgir a compreensão de todas as coisas (…) (A Luta do Homem, pág. 113)

Assim, a própria ação destrói as ilusões, não a disciplina auto-imposta. (…) Isso abre imensas avenidas à mente e ao coração (…) Mas só podereis viver completamente quando tiverdes percepção direta e a percepção direta não se atinge por meio de escolha (…) de esforço (…) Ela está na chama do apercebimento, que é a harmonia da mente e do coração na ação. (Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 162-163)

Quando estiverdes apercebido, com a mente e o coração, da necessidade da ação completa, agireis harmoniosamente. Então todos os vossos temores, (…) barreiras, (…) desejo de poder, de atingir - tudo isso se revelará, e as sombras da desarmonia dissipar-se-ão. (Idem, pág. 93)

Agora, já expliquei que o conflito não produz o pensar criador. Para se ser criador, para se produzir qualquer coisa, a mente precisa estar em paz, o coração cheio. (…) (A Arte da Libertação, pág. 219)

Essa tranqüilidade da compreensão não é produzida por ato de vontade, porquanto a vontade é também parte do vir-a-ser, do ansiar. Só pode estar tranqüila a mente-coração depois de cessar o tormento e o conflito do anseio. Assim como um lago se apresenta calmo após o vendaval, assim também está tranqüila a mente-coração, em sua sabedoria (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143)

(…) Cumpre compreender esse anseio logo que se revele no nosso pensar-sentir-agir. Pela auto-vigilância constante, é possível compreender e transcender as tendências do anseio, do vir-a-ser pessoal. Não dependais do tempo, mas buscai com ardor o autoconhecimento. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 143-144)

(…) Poucos de nós estamos preparados para examinar um problema profundamente, e perceber o movimento de nosso próprio pensamento, sentimento e ação, como um todo geral, integrado; (…) (A Arte da Libertação, pág. 133)

Mas, que é ação? Bem considerada, ela é aquilo que pensamos e sentimos. E enquanto não tiverdes percepção de vosso pensamento, de vossos sentimentos, tem de haver insuficiência (…) (A Luta do Homem, pág. 81-82)

A ação é esse movimento que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa ação é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Pois bem: se esse movimento do pensamento for claro, simples, direto, espontâneo, profundo, não existirá então conflito no indivíduo, contra a sociedade, porque a ação é, nesse caso, a própria expressão desse movimento vivo e criador. (A Luta do Homem, pág. 153)

Nessas condições, (…) Não há técnica de pensar, mas somente a espontânea ação criadora da inteligência, a qual é a harmonia da razão, do sentimento e da ação, não separadas ou divorciadas entre si. (Idem, pág. 153)

Pensar criativamente é estabelecer harmonia entre a mente, o sentimento e a ação. Isto é, se estais convencidos de uma ação, em visardes a uma recompensa final, essa ação, resultado da inteligência, afasta todos os óbices impostos à mente pela falta de compreensão. (A Luta do Homem, pág. 154-155)

Visto que a todos nós interessa a ação e que, sem ação, não se pode viver, é de toda necessidade entrarmos a fundo na questão e procurarmos compreendê-la plenamente. É uma questão difícil, porque vivemos, em geral, uma vida desintegrada, seccionada (…) Assim, (…) precisamos verificar o que é atividade e o que é ação. (…) Há uma vasta diferença entre atividade e ação. (…) (A Arte da Libertação, pág. 39)

(…) Muito importa compreender a distinção entre atividade e ação. Eu chamaria atividade à conduta de vida baseada em níveis independentes, (…) “desintegrados” - isto é, queremos viver como se a vida estivesse num único nível, sem nos preocuparmos com os outros níveis, com outros campos da consciência. Se examinarmos tais atividades, verificaremos que se baseiam em idéias, e a idéia é um “processo” de isolamento (…) e não de unificação. (…) (Idem, pág. 40)

(…) A “ação integrada” não nasce de uma idéia; nasce assim que compreendeis a vida como um processo total, não fragmentado em compartimentos separados, em atividades separadas do todo da existência. (…) (A Arte da Libertação, pág. 41)

Nosso problema, portanto, é o de como agir “integralmente”, como um todo, e não em diferentes níveis não relacionados entre si. Para se agir como todo, (…) integralmente, é óbvia a necessidade de autoconhecimento. O autoconhecimento não é uma idéia: é um movimento. (…) (Idem, pág. 41)

(…) Nessas condições, o homem sincero não deve deixar-se envolver na atividade, mas, sim compreender as relações, pelo processo do autoconhecimento. A compreensão do processo do “eu”, do “meu”, na sua inteireza, traz a “ação integrada”, e essa ação é completa, não criará conflito. (Idem, pág. 41-42)

Existe uma ação que não seja resultado do movimento do pensar, (…) não condicionada por ideologias (…) criada pelo pensamento? Existe uma ação que esteja totalmente livre do pensamento? Uma ação semelhante seria então completa, total, íntegra - não fragmentária, não contraditória. Uma ação assim seria uma ação total, na qual não haveria arrependimento, nenhum sentido de “Eu houvera desejado não fazer isso”, ou “Tratarei de fazer aquilo”. A desordem surge quando opera o movimento do pensar; o pensamento mesmo é fragmentário e, quando opera, tudo tem de ser fragmentário (…) Qual é uma ação sem pensamento? (La Totalidad de la Vida, pág. 196)

(…) Ação significa fazer agora, não fazer amanhã ou haver feito no passado. Como o amor, essa ação não é do tempo. O amor e a compaixão estão mais além do intelecto, (…) da memória; são um estado da mente que assim atua [N.Revisor: há um erro gramatical aqui; examinar o texto em inglês], porque o amor e a compaixão são supremamente inteligentes - e a inteligência atua. Onde há espaço há ordem, que é a ação da inteligência; esta não é minha nem de vocês, é inteligência que nasce do amor e da compaixão. O espaço na mente implica que esta não se encontra ocupada; (…) (La Totalidad de la Vida, pág. 196-197)

Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e conhecer o momento em que cessou a ocupação. Vereis, então, que a ação resultante desses momentos de desocupação é a única ação “integrada”. Quando não está ocupada, a mente não está contaminada pela sociedade, não é produto de inumeráveis influências, não é hinduísta nem cristã, nem comunista, nem capitalista. Por conseguinte, ela própria é uma totalidade de ação, com que não tereis de ocupar-vos e em que não precisais pensar. (Da Solidão à Plenitude Humana, pág. 78)

A ação é esse movimento, que é, ele próprio, pensamento e sentimento (…) Essa ação é a relação entre o indivíduo e a sociedade. Ela é conduta, trabalho, cooperação, que chamamos preenchimento. Isto é, quando a mente atua sem visar a uma culminância ou objetivo, e é portanto criador o seu pensar, esse pensar é ação (…) (A Luta do Homem, pág. 153)

(…) Intrinsecamente, o pensamento é um produto do tempo, é medida e, portanto, fragmentário. (…) Se o vêem claramente uma vez, então poderão descobrir que é a ação, uma ação correta, precisa, na qual não há imaginação nem argumentações, nada senão o factual. (La Verdad y la Realidad, pág. 73-74)

Estamos tratando de descobrir que é a ação total, não fragmentária, a ação que não se acha presa no movimento do tempo, que não é tradicional e, portanto, não é mecânica. Quer o indivíduo viver uma vida sem conflito, viver em uma sociedade que não destrua a liberdade e, assim, sobreviver, (…) (Idem, pág. 74)

Assim, a ação, como a conhecemos, é, na realidade, reação, incessante “vir-a-ser”, ou seja, negação, evitação do que é; mas quando estamos cônscios do vazio, sem escolha, sem condenação, nem justificação, então, nessa compreensão do que é, há ação, e essa ação é o Ser criador. (…) (A Arte da Libertação, pág. 109-110)

Como disse (…), a inteligência é a solução única que produzirá a harmonia neste mundo de conflito, a harmonia entre a mente e o coração, na ação. (…) (Palestras em New York City, 1935, pág. 27)

Ora, (…) A essência da inteligência reside na compreensão da vida ou da experiência com a mente e coração frescos, renovados e aliviados de fardos. (…) (Idem, pág. 49)

Compreendo a pergunta. (…) Quando há harmonia total - harmonia real, não imaginária - quando o corpo, o coração e a mente estão integrados de modo completo e harmonioso, quando existe esse sentido de inteligência que é harmonia, e essa inteligência está usando o pensamento, haverá então divisão entre o observador e observado? Evidentemente, não. Quando não existe harmonia, há fragmentação, e então o pensamento cria a divisão do “eu” e do “não eu”, o observador e o observado. (El Despertar de la Inteligência, pág. 177)

A harmonia é quietude. Existe uma harmonia entre o corpo, o coração e a mente, harmonia completa, sem dissonância. Ao passo que, se o corpo é sensível, se está ativo e não deteriorado, tem sua própria inteligência. Deve o indivíduo possuir um corpo assim, vivo, ativo, não drogado. (…) (El Despertar de la Inteligencia, 1ª ed., pág. 174)

(…) E deve também ter um coração - não excitação, não sentimentalismo, nem emocionalismo, nem entusiasmo, senão esse sentido de plenitude, de profundidade, de qualidade e energia que só pode existir quando há amor. E deve ter uma mente com um espaço imenso. Então há harmonia. (Idem, pág. 174-175)

Como, pois, há de a mente encontrar isso? [N.Revisor: É esse o sentido?] Estou seguro de que todos vocês (…) se perguntarão: como pode um indivíduo ter esse sentimento de completa integridade, de unidade entre o corpo, o coração e a mente, sem sentido algum de distorção, divisão ou fragmentação? (…) Vocês vêem a realidade disso, (…) Vêem a verdade de que devem ter completa harmonia dentro de si, na mente, no coração e no corpo. Como podem vocês chegar a isso? (El Despertar de Ia Inteligencia, II, pág. 175)

Pois bem, (…) Como dissemos, quando há harmonia há silêncio. Quando a mente, o coração e o organismo estão em harmonia completa, há silêncio; porém, quando um dos três se deforma, se perverte, o que há é ruído. (…) Porém quando vocês vêem a verdade disso - a verdade, não o que “deveria ser” - quando vêem que isso é o real, então é a inteligência que o vê. Portanto, é a operação da inteligência a que produzirá esse estado. (Idem, pág. 175)

O pensamento é do tempo, a inteligência não é do tempo. A inteligência é imensurável - não a inteligência científica, (…) a de um técnico, ou a de uma dona-de-casa, ou a de um homem que conhece muitíssimo. Isso está dentro do campo do pensamento e do conhecido. Quando a mente se acha em completo silêncio (…) só então há harmonia total, imenso espaço e silêncio. Somente então o imensurável é. (Idem, pág. 175-176)

Pergunta: A harmonia surge quando finda o conflito?

Krishnamurti: Quero descobrir o que é harmonia entre a mente, o corpo e o coração, a completa sensação de ser total, sem fragmentação, sem super-desenvolvimento do intelecto, mas com o intelecto operando claramente, objetivamente, sã mente; e o coração operando não com sentimento, emocionalismo, exaltação histérica, mas com uma qualidade de afeição, cuidado, amor, compaixão, vitalidade; e o corpo com sua própria inteligência, não influenciada pelo intelecto. O sentimento de que tudo está operando, funcionando belamente como uma maravilhosa máquina é importante. É possível? (Exploration into Insight, pág. 52)

Há integração, quando somos capazes de observar os fatores da desintegração. A integração não está num ou noutro nível da nossa existência, ela é a reunião do todo. Antes que isso seja possível, temos de descobrir o que significa desintegração (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 192)

Pergunta: Qual a maneira de alcançar a integração?

Krishnamurti: Que quer dizer integração? Não significa completar-se, viver sem conflito nem sofrimento? Em geral tentamos a integração nas camadas superficiais da consciência; procuramos Integrar-nos a fim de funcionarmos normalmente dentro do padrão da sociedade; desejamos ajustar-nos a um ambiente, que aceitamos como normal; mas não impugnamos o valor da estrutura social que nos circunda. A aquiescência a um padrão é considerado integração; a educação e a religião organizada facilitam-nos essa aquiescência. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 132-133)

A integração não tem significado mais profundo do que o mero ajustamento à sociedade e seus padrões? (…) Não é a integração o ser puro, e não apenas a satisfação de nosso desejo de nos tornarmos um todo, (…) “normais”? (…) O impulso à integração pode resultar da ambição, do desejo de mando, do temor à insuficiência, etc. (…) Há uns poucos que reprimem o anseio de prosperidade material, mas dão guarida ao desejo de se tornarem virtuosos, serem mestres, alcançarem a glória espiritual. Também aqui não temos a verdadeira integração. (…) (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 133-134)

(…) Dá-se a verdadeira integração quando, por todas as camadas da consciência, existe percepção e compreensão. Nossa consciência superficial é fruto da educação, de influências, e é só quando o pensamento transcende as limitações por ele próprio criadas, que pode haver a verdadeira integração. As numerosas partes adversas e contraditórias de nossa consciência só podem integrar-se quando já não existe a causa dessas divisões: dentro do padrão do “eu”, só pode haver conflito, nunca integração, plenitude. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 134)

Verifica-se a integração quando estamos livres do anseio. Não é ela um fim, em si, mas se buscardes o autoconhecimento, sempre com profundeza, tornar-se-á a integração o caminho por onde alcançareis a Realidade. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 134)

Ora, a inteligência, sem dúvida, só pode surgir quando sois livres para pesquisar, livres para pensar, livres para impugnar todas as tradições, para que nossa mente se torne muito ativa, muito lúcida e sejais, como indivíduo, uma entidade “integrada”, plenamente eficaz, - e não uma entidade assustada que nunca sabe o que lhe cumpre fazer e, por isso, obedece, sentindo intensamente uma coisa e sendo obrigada a ajustar-se a outra exteriormente. (…) Por isso, interiormente, há um conflito constante. (Novos Roteiros em Educação, pág. 33)

Ora, por certo, quando o falso é percebido como falso, o verdadeiro existe. Quando se está cônscio dos fatores da degeneração, não apenas verbalmente, mas profundamente, não há integração? (…) A integração não é um alvo, um fim, mas um estado de ser; é uma coisa viva, e como pode uma coisa viva ser alvo, objetivo? (…) Quando não há conflito, há integração. A integração é um estado de completa atenção. Não pode haver atenção completa quando há esforço, conflito, resistência, concentração. (Reflexões sobre a Vida, pág. 61)

Seleta de Krishnamurti

O que é meditação e por que se deveria meditar?

Há muitas pessoas aqui e espero que alguns de vocês entendam o que está sendo dito. Você sabe que estivemos discutindo juntos durante a última semana, nossos problemas humanos; não só discutimos juntos como dois amigos, mas o que cada um de nós descobriu por si mesmo, em nossa conversa e em nossa exploração e investigação. Deve ter ficado bastante óbvio para a maioria de nós, se somos realmente sérios e não tratamos estes encontros como um tipo de festival — um pouco mais sério que o festival pop ou outros tipos de festivais. 

Esta manhã, será bom falarmos juntos, como falamos sobre o medo, prazer, sofrimento, dor e morte, acho que deveríamos falar esta manhã do problema muito complexo e sutil do que é meditação. É um assunto bastante sério e talvez alguns de vocês irão gentilmente dar suficiente atenção ao que vai ser dito, se se importam. 

Esta palavra está agora se tornando tão comum, até os governos estão começando a usá-la; mesmo as pessoas que querem dinheiro estão tentando meditar mais para ganhar mais dinheiro; elas estão tentando meditar a fim de ficarem calmas e assim conseguirem fazer melhores negócios; e os médicos estão praticando meditação, porque vai ajudá-los a operar adequadamente e assim por diante. E existem diferentes tipos de meditações: zen, tibetana e aquelas que você mesmo inventa; e com tudo isto em mente, o tipo de meditação indiana, a tibetana, a zen, a meditação do Grupo de Encontro e a aspiração de ter uma mente silenciosa, calma, imóvel. Tendo tudo isto em mente, vamos descobrir, se pudermos esta manhã, por que se deveria meditar e qual é o significado da meditação. 

Esta palavra recentemente popularizou-se a partir da Índia; e as pessoas vão à Índia e ao Japão e à outros lugares a fim de aprender a meditar, a fim de praticar meditação, a fim de obter algum tipo de resultado através da meditação: iluminação, melhor compreensão de si mesmo, ter paz na mente — o que quer que isso signifique —, e geralmente elas têm um pouco de paz, mas não uma mente pacífica. E os gurus inventaram seus próprios tipos de meditação e assim por diante. Certo? Estou certo de que vocês estão cientes de tudo isto. E naturalmente há a moda passageira chamada meditação transcendental. É realmente uma forma de "siesta" pela manhã, "siesta" depois do almoço, "siesta" depois ou antes do jantar, de modo que sua mente, por assim dizer, se torne quieta e você pode fazer mais bagunça depois. 

Então, considere tudo isto, os vários tipos e práticas e sistemas e questione-os. É bom ter dúvida, é bom ser cético até certo ponto. É como um cachorro na coleira, você deve deixar o cachorro sair às vezes, correr livremente; assim, dúvida, ceticismo deve ser mantida na coleira o tempo todo, mas às vezes deve-se permitir que corra livre. E a maioria de nós aceita a autoridade daqueles que dizem "Sabemos como meditar, contaremos tudo à você". 

Então, por favor, estamos juntos examinando o problema todo ou toda a questão do que é meditação, não como meditar, porque então, se você pergunta "como eu vou meditar?", então encontrará um sistema para meditar; o "como" implica um método. Mas, ao contrário, se você está investigando a questão do que é meditação e por que se deveria meditar, então, nunca perguntaremos como meditar. O próprio questionar, o próprio perguntar é o começo da investigação, que é o começo da meditação. 

Como dissemos, este é um problema muito complexo e temos que seguir com muita calma e hesitantemente, mas sutilmente nesta questão. Como dissemos durante a última semana, estamos investigando, estamos examinando de modo que você não esteja ouvindo ao orador, você esteja fazendo a pergunta a você mesmo e descobrindo a resposta certa, sem aceitar qualquer tipo de autoridade, especialmente a autoridade do orador sentado nesta infeliz plataforma; isso não dá a ele qualquer tipo de autoridade, porque ele está sentado sobre uma plataforma e fala. Não existe autoridade nos chamados assuntos espirituais, se posso usar essa palavra "espiritual" no assunto do espírito, no assunto de investigar em alguma coisa que requer muito e muito, muito cuidadoso exame. Então, estamos fazendo isto juntos, não meditando juntos, mas investigando o que é meditação e daí descobrir por si mesmo, conforme vamos adiante, todo o movimento da meditação. Isto está certo?

primeiro acho que a pessoa deve ter o cuidado ao observar que a meditação não é uma coisa que você faz. Meditação é uma coisa inteiramente, um movimento na totalidade da questão de nosso viver. Esta é a primeira coisa: como vivemos, como nos comportamos, se temos medos, angústias, sofrimentos, ou se estamos eternamente no encalço do prazer, se construímos imagens de nós mesmos e dos outros. Isso é parte de nossa vida e na compreensão dessa vida e de todos aqueles vários assuntos envolvidos na vida, e estando livres deles, de fato estando livres, então podemos prosseguir na investigação do que é meditação. É por isso que, nos últimos dez dias ou na última semana, dissemos que precisamos pôr em ordem nossa casa, nossa casa como nós mesmos — completa ordem. Então, quando essa ordem for estabelecida, não de acordo com um padrão, mas quando há compreensão, compreensão completa do que é ordem, o que é confusão, por que estamos em contradição em nós mesmos, por que existe constante luta entre os opostos e assim por diante, o que estivemos conversando nos últimos dez dias ou na última semana. Tendo posto isso em ordem, nossa vida em ordem, e o próprio colocar as coisas em seu lugar apropriado é o começo da meditação. Certo? Se não fizermos isso, de fato, não teoricamente, mas na vida diária, em cada momento de nossa vida, então, se você não fez isso, então a meditação se torna meramente outra forma de ilusão, outra forma de prece, outra forma de querer alguma coisa — dinheiro, posição, geladeira e assim por diante. Assim, estamos perguntando agora: qual é o movimento da meditação?

(...)
Jiddu Krishnamurti em Brockwood Park, 1978

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Reflexões sobre o suicídio

Oi Out,
Quero contribuir para as suas reflexões a respeito da confusão entre desordem mental e emergência espiritual, em especial quanto ao ato suicida.
Há algum tempo fiquei sabendo de um antropólogo, desses que vão viver numa aldeia indígena durante muitos anos, que estava acontecendo uma epidemia de suicídios entre crianças indígenas, que se enforcavam da própria altura por flexão das pernas. Agora, ao investigar se isto ainda ocorre, descobri que os índios recorrem mais frequentemente ao suicídio do que o resto dos brasileiros. A população indígena do Alto Solimões tem, proporcionalmente, o segundo maior índice de suicídio por habitante do mundo (perde somente para a Groenlândia). A explicação técnica mais frequente é o despertencimento. Ao que parece, a personalidade desencaixada de uma cultura, ou suspensa entre estágios culturais distintos, cobra um alto preço, às vezes impagável, de adequação.

[Aqui um link interessante da TV ONU.] https://www.youtube.com/watch?v=ngUZ6_6xVXA#t=549

Consta que 1 milhão de pessoas se suicida anualmente, numa proporção de 3 homens para cada mulher. É a décima causa de morte no mundo. As tentativas de suicídio são estimadas em 10 milhões anuais. Os países com as maiores taxas (depois da Groenlândia) são Lituânia, Coreia do Sul (onde o suicídio é a causa principal de morte em pessoas abaixo dos 40 anos!), a Guiana, o Cazaquistão e a Bielorússia. E por aí vai.

Fui atrás destes dados para tentar compreender algum desenho, algo que pudesse explicar este fato. Como era de se esperar, falhei. O suicídio é um acontecimento complexo, impossível de ser explicado por uma causa única. Recuso-me a especular, tanto no geral quanto no particular, como um ato destes pode ser engendrado. (O mundo não precisa de mais alguém adivinhando a realidade e contribuindo para o falso.)

Alguns exemplos. O suicídio é sacrificial na cultura japonesa (país que ocupa o nono lugar no ranking). O mesmo vale para os jihadistas islâmicos (o homem-bomba vai direto ao paraíso). Nestes casos, portanto, o suicídio é socialmente honroso. Ao contrário, ele é execrado na cultura judaica (a alma sofrerá danação eterna, o corpo não terá direito a enterro em campo santo). A Igreja Católica renega o suicídio, mas nunca conseguiu decidir se a morte pelo martírio voluntário deve ser considerado um suicídio ou não.

Imagina-se que o suicídio seja tão antigo quanto a humanidade (há evidências de auto-mutilação no homem pré-histórico). Mas não é possível saber se uma pessoa morreu por seus próprios meios ou de outra forma.

Fora isso, sabe-se que outras espécies animais o praticam (tem uma formiga no Brasil que é muito estudada por isso). Mas o suicídio é definido como um ato da vontade e esta é uma propriedade profundamente humana. Assim, os atos de morte autógena entre animais têm sido entendidos como um processo natural, apesar de sua obscuridade.

Quanto ao uso do paradigma para a compreensão deste fenômeno, quero convidar você a refletir sobre isto: nem sempre o que é verdadeiro, é certo. A verdade e o bem não caminham atrelados. Infelizmente. Tantos gênios, santos, profetas conheceram e propagaram a verdade, perceberam o ilusório e denunciaram o falso. Ainda assim o mundo evoluiu por seus próprios descaminhos, sem jamais erradicar a dor, a ignorância, a desorientação. Sócrates, Jesus, Buda, Lao Tse, Maomé, só pra citar alguns dos que compreenderam profundamente a verdadeira raiz do sofrimento e do mal. Todos falharam. Nenhum deles foi capaz de alavancar uma sociedade fraterna e desconstruir o ego em larga escala. Não foram eficientes para aprimorar o convívio interpessoal, reduzir conflitos e guerras. A partir de suas revelações, seus sucessores contribuíram para piorar ainda mais o quadro.

Pessoalmente, acho isso tudo compreensível. Pois nem K, nem Bagwan, nem São João da Cruz ou Nietzsche, nem Grof nem Wilber jamais poderão conduzir um único indivíduo para fora de sua própria miséria. Pois o gatilho para qualquer possibilidade de despertar sempre ocorrerá na própria experiência pessoal, na medida do indivíduo, venha a iluminação na forma que vier, quer seja sofrimento ou êxtase, depressão ou ânsia, estagnação ou busca. Danação ou graça. Doença mental ou salvação. Ou tudo junto. Ao mesmo tempo ou em fases alternadas.

Termino com uma citação clássica, só pra provocar:

"Nossas maiores bênçãos vêm a nós através da loucura, desde que a loucura seja inculcada por uma dádiva divina." Platão em Fedro.

Abraço e grato por seu trabalho
Helio Biesemeyer

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Como ir além da cultura e da sociedade?

A psicologia está a serviço da sociedade. O psiquiatra tenta de todo modo deixá-lo novamente ajustado à sociedade; ele está a serviço da sociedade. A política, é claro, está a serviço da sociedade. Ela lhe dá um pouco de liberdade, de modo que você possa ser um escravo. Essa liberdade é simplesmente um suborno — pode ser tomada de volta a qualquer momento. Se você pensa que você é realmente livre, logo, logo, você pode ser jogado numa prisão. A política, a psicologia, a cultura, a educação, todas estão a serviço da sociedade. Apenas a religião é basicamente rebelde. Mas a sociedade tem lhes enganado. Ela criou suas próprias religiões: Cristianismo, Hinduísmo, Budismo, Islamismo — esses são truques sociais.

(...) Têm existido escolas... que tentam criar uma sociedade que não é, absolutamente, uma sociedade. Elas criam caminhos e meios para torná-lo verdadeiramente e totalmente livre — nenhum cativeiro sobre você, nenhuma disciplina de qualquer espécie, nenhum limite. Você tem permissão de ser o infinito e o todo. 

Jesus é anti-social, mas o cristianismo não é anti-social, o budismo não é anti-social. A sociedade é muito esperta: ela imediatamente absorve — até mesmo fenômenos anti-sociais ela absorve no social. Ela cria uma fachada, ela lhe dá uma moeda falsa e, então, você fica feliz, exatamente como uma criança pequena que ganha um seio falso, de plástico. Elas ficam sugando aquele objeto e sentem que estão sendo nutridas. Aquilo as acalmará, é claro, e elas adormecerão. 

(...) A sociedade não pode lhes dar a liberdade. É impossível, porque a sociedade não pode prover um meio de tornar todos absolutamente livres. Então, o que fazer? Como ir além da sociedade? Eis a questão para um homem religioso. Mas parece impossível: aonde quer que você vá, a sociedade está ali. Você podem até ir para os Himalaias — então, vocês criarão uma sociedade lá. Você começará a falar com as árvores; porque é muito difícil ficar sozinho. Você começará a fazer dos pássaros e animais, amigos e, mais cedo ou mais tarde, haverá uma família. Você esperará todos os dias pelo pássaro que vem de manhã e canta. 

Nesse momento, você não compreende que se tornou dependente, que o outro já entrou. Se o pássaro não vem, você sentirá uma certa ansiedade(...) A tensão entra, e isso não é de modo algum diferente de quando você ficava preocupado com a esposa ou preocupado com os filhos. Isso não é de modo algum diferente, é o mesmo padrão: o outro. Mesmo que você vá para os Himalaias, você criará uma sociedade. 

Então, algo tem de ser compreendido: a sociedade não existe sem você, ela é algo dentro de você. E a menos que as raízes dentro de você desapareçam, onde quer que você vá a sociedade entrará na existência de novo e novamente.(...) Não é que a sociedade esteja lhe seguindo, ela está em você. Você sempre cria a sua sociedade ao seu redor — você é um criador. Existe algo em você como uma semente, que cria a sociedade. Isso mostra realmente que a menos que você seja transformado completamente, você jamais irá além da sociedade, você sempre criará a sua sociedade. E todas as sociedades são o mesmo; as formas podem diferir, mas o padrão básico é o mesmo. 

Por que você não pode viver sem a sociedade? Aí que está o problema.(...) As raízes têm de ser trazidas à luz, de modo que você possa compreender.

OSHO

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sobre a alienação mental das pessoas "bem informadas"


Sobre ócio e ambição espiritual


Entre o absurdo e a Graça, encontra-se a mediocridade


O insight pulveriza de pronto o conflito


A constatação de uma realidade ridícula, patética

É impressionante o nível de alienação mental das pessoas "bem informadas" ou tidas como dotadas de "grandes conhecimentos". Todos querem saber de tudo que se passa na terra, nos mundos espirituais e nos mundos cósmicos. Querem saber das energias que constituem a vida, nos mais diversos níveis possíveis. Alguns carregam bibliotecas inteiras na memória, como perfeitos computadores humanos. Todos apresentam-se com grande abertura para a "aquisição" de conhecimento. Uma espécie bestamente programada para consumir, assim como adquire geladeiras e celulares para depois jogarem fora, adquire novos conhecimentos para depois serem desprezados e substituídos por outros “mais modernos”. Para viciados no consumo, tudo vira consumo.

Mas para uma coisa vivem completamente fechados, como a ostra em sua concha – para o fundamento de si mesmos, em si mesmos. O que sou eu, afinal de contas?

Sabem de tudo e investigam tudo o dia inteiro, mas quando de se trata de descobrir a "si mesmo intrinsecamente", fogem, como foge o diabo da cruz.

Afinal das contas, quem detém o conhecimento e dá valor a ele? Quem inventa o conhecimento? A mente. O que é a mente? Onde está a mente? A vida que me dá vida vem de mim ou de algo fora de mim? Existe algo entre mim e eu mesmo, no sentido mais simples, profundo e intrínseco possível?

O que é isso que existe aqui na forma de um corpo e pensamentos cogitando outros mundos e outros níveis de consciência? O que é a consciência, afinal? Como a criança inocente que cucuta a cobra com uma varinha curta, querem mexer no que pensam que é consciência.

Se há seres espirituais e extra-terrestres, a vida que os faz vivos também vem de seu ser intrínseco, por qualquer que seja sua forma, por mais sutil ou “elevada” que seja.

Fica clara a constatação de uma realidade ridícula, patética feita de medo e fugas, onde tanto eles (os seres espirituais e extra-terrestres) fogem de si mesmos para cá, como nós fugimos de nós mesmos para lá.

É ridículo!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Matrix e o paradigma holotrópico


















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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill