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terça-feira, 31 de julho de 2012

Krishnamurti - Conhecimento, Especialização, Excesso Prejudicial

Por que vivemos acumulando conhecimentos? Fazemo-lo para alcançar a segurança, que aliás é essencial em certo aspecto de nossa existência. Pensam alguns que o conhecimento é meio de descobrimento. (…) O conhecimento não impede o descobrimento? Como pode a mente descobrir coisas novas, se, na sua totalidade, ela está preparada para juntar conhecimentos, saber? (…) A mente que possui conhecimentos, (…) saber, deve ficar livre deles, para poder descobrir; (…) (Debates sobre Educação, pág. 227)

Pergunta: Qual a diferença entre a acumulação da memória técnica ou dos afazeres do dia-a-dia, e a acumulação da memória emocional?

Krishnamurti: Isso é muito simples, senhor. Por que o cérebro, como depósito da memória, dá tanta importância ao conhecimento - tecnológico, psicológico e relacionados? Por que o ser humano tem dado tão extraordinária importância ao conhecimento? Possuo um escritório, torno-me um importante burocrata, o que significa que tenho conhecimento de como realizar certas funções, e me torno pomposo, estúpido, grosseiro. (Exploration into Insight, pág. 53)

Pergunta: É isso um desejo inato?

Krishnamurti: Isso dá segurança, obviamente. Dá status. O ser humano adora o conhecimento identificado com o intelecto. O erudito, o estudioso, o filósofo, o inventor, o cientista, estão todos apegados ao conhecimento e têm criado coisas maravilhosas no mundo, como ir à Lua, construir novos tipos de submarinos, etc. Têm inventado as mais extraordinárias e admiráveis coisas, sendo irresistível a maravilha desse conhecimento, e nós o aceitamos. (…) (Idem, pág. 53)

(…) Portanto, tem-se desenvolvido uma desordenada admiração, quase chegando à veneração, do intelecto. Isso se aplica a todos os livros sagrados e sua interpretação. (…) Precisamos, pois, descobrir uma harmonia natural em que o intelecto atue com perfeita lucidez, em que emoções e afeições, cuidado, amor e compaixão funcionem saudavelmente, e o corpo, que tem sido tão despojado, (…) mal usado, volte a sua condição própria. Como você consegue isso? (Idem, pág. 53-54)

Pergunta: Como se pode fazer a distinção entre o conhecimento e a descoberta do novo?

Krishnamurti: É claro, senhor. Quando o conhecimento interfere, não há descoberta do novo. Deve haver um intervalo entre o conhecimento e o novo; do contrário você está apenas considerando como novo o velho. (…) Por que há divisão entre a mente, o coração e o corpo? Vê-se isso. Como pode essa divisão chegar a um fim naturalmente? Como você faz isso - através de esforço, (…) dos ideais que temos sobre harmonia? (Idem, pág. 54)

Krishnamurti: Perguntávamos ontem por que o conhecimento se tem tornado tão importante como meio de iluminação. Aparentemente, todos os mestres religiosos têm insistido sobre o conhecimento, não só no Oriente senão também no Ocidente. E como a tradição é tão forte neste país, resulta realmente importante descobrir que papel representa todo esse pensar sistematizado na consecução da iluminação. (…) (Tradición y Revolución, pág. 143)

Quando se tem desenvolvido destreza em algo, isso confere certo sentimento de bem-estar, de segurança. E tal destreza, nascida do conhecimento, tem que se tornar invariavelmente mecânica em sua ação. Destreza na ação é o que se tem buscado, porque ela nos dá certa posição na sociedade, certo prestígio. Vivendo nesse campo todo o tempo, (…) tal conhecimento e destreza se tornam não só aditivos, senão que terminam por constituir um processo mecânico e reiterativo que, pouco a pouco, adquire seus próprios incentivos, sua própria arrogância e poder. Nesse poder encontramos segurança. (La Totalidad de la Vida, pág. 214)

Atualmente, a sociedade exige de nós mais e mais destreza - quer seja o indivíduo um engenheiro, um tecnólogo, um cientista, um psicoterapeuta, etc. - porém existe um grande perigo em buscar essa destreza que provém dos conhecimentos acumulados, porque nesse crescimento não há claridade. Quando a destreza se torna sumamente importante na vida, não só por ser o meio de ganhar a subsistência, senão porque o indivíduo é educado totalmente para esse propósito (…), então a destreza produz invariavelmente certo sentimento de poder, de arrogância e vaidade. (Idem, pág. 214)

O orgulho, a arrogância e a inveja decorrentes da eficiência em determinada função, nos levam à competição, à desordem, à discórdia e à infelicidade. A plena compreensão da vida traz um novo significado à atividade humana. Reduzir a vida ao nível estreito e fragmentado da luta pelo pão, pelos prazeres do sexo, da riqueza, da ambição, é fomentar desespero e interminável sofrimento. O cérebro opera na área especializada do fragmento, nas atividades egocêntricas, dentro do estreito limite do tempo. Por ser um fragmento, é incapaz de ver o todo da vida. Por mais hábil e refinado que seja, o cérebro desenvolve uma ação limitada, parcial. É a mente que contém o cérebro e não o contrário, e só ela poderá compreender o todo. (Diário de Krishnamurti, pág. 102-103)

Tecnologicamente, os cientistas têm ajudado a reduzir as enfermidades, a melhorar os meios de comunicação, porém também têm incrementado o poder devastador das armas bélicas - o poder de assassinar de uma só vez um número imenso de pessoas. Os homens de ciência não vão salvar a humanidade; nem o farão os políticos. (…) Os políticos buscam poder, posição e empregam todos os estratagemas (…). E exatamente o mesmo ocorre no chamado mundo religioso - a autoridade hierárquica, (…) em nome de alguma imagem criada pelo pensamento. (La Llama de la Atención, pág. 100-101)

A quem chamamos cientistas? Aos que trabalham em laboratórios e que, fora de tal atividade, são seres humanos como nós, com preconceitos (…), com igual cupidez, ambição e crueldade. Salvarão eles o mundo? Estão salvando o mundo? Não se estão utilizando do conhecimento técnico mais para destruir do que para curar? Em seus laboratórios podem estar buscando conhecimento e compreensão, mas não o fazem movidos pelo “eu”, pelo espírito de competição, pelas paixões (…)? (Autoconhecimento, Correto Pensar - Felicidade, pág. 166)

(…) Atuando como cientista, artista, padre, advogado, técnico ou fazendeiro, o cérebro é essencialmente produto da especialização. Incapaz de transcender os próprios limites, de sua atividade emanam o status social, os privilégios, o poder e o prestígio, que ele, o cérebro, cria para proteger-se. Incapaz de ver o todo, a mente especializada, com seu desejo de fama e poder, é a origem de todo conflito social. (Diário de Krishnamurti, pág. 102)

O especialista é incapaz de conceber o todo; vive para a sua especialidade, ocupação mesquinha do cérebro condicionado para ser religioso ou técnico. O talento e a aptidão do homem tendem a fortalecer o egocentrismo e sua ação é sempre fragmentada e conflitante. A capacidade humana só tem significado quando a mente atinge a compreensão global da vida. Caso contrário, a eficiência, um dos subprodutos da aptidão individual, torna seu portador implacável e indiferente à totalidade da vida (…) (Idem, pág. 102)

(…) O cientista utiliza o seu saber para alimentar a vaidade, assim também o professor, (…) os pais, (…) os gurus - todos querem ser alguém no mundo. (…) Que sabem eles? Só sabem o que está nos livros (…) ou o que experimentaram, sendo que suas experiências dependem do seu fundo de condicionamento. Os mais de nós, pois, estamos cheios de palavras, de conhecimentos, a que damos o nome de saber; e sem esse saber vemo-nos perdidos. O que existe, pois, é o temor, oculto logo atrás da cortina das palavras e dos conhecimentos; (…). (Novos Roteiros em Educação, pág. 114)

Assim, onde há temor, não há amor; e o saber sem o amor é destrutivo. É o que está acontecendo no mundo, atualmente. Por exemplo, sabe-se como é possível alimentar todos os seres humanos do mundo, mas não se começa a pôr isso em prática. (…) Se se desejasse realmente pôr fim à guerra, haveria possibilidade de fazê-lo, mas nada se faz, pelas mesmas razões. Assim, pois, o saber sem o amor não tem significação alguma. (…) (Idem, pág. 114)

Os problemas que se apresentam a cada um de nós e, portanto, ao mundo, não podem ser resolvidos pelos políticos nem pelos especialistas. Esses problemas não resultam de causas superficiais, (…). Os especialistas podem oferecer-nos planos de ação cuidadosamente elaborados, mas não são as ações planejadas que irão trazer-nos a salvação, mas tão somente a compreensão do processo total do homem, isto é, de vós mesmos. Os especialistas só têm capacidade para tratar de problemas num nível exclusivo, com o que aumentam os nossos conflitos e a nossa confusão. (O Caminho da Vida, pág. 25)

(…) Ora, para vos tornardes alguma coisa, precisais especializar-vos, (…) e tudo que se especializa logo morre, declina, porque a especialização implica sempre falta de adaptabilidade. Só o que é capaz de adaptação, de flexibilidade, pode subsistir. (…) (A Arte da Libertação, pág. 134)

(…) Está visto, pois, que a especialização é prejudicial à compreensão do processo do “eu”, que é autoconhecimento, uma vez que a especialização não permite a pronta adaptabilidade; e tudo o que se especializa não tarda a morrer, a definhar. (Idem, pág. 135)

Assim, para se compreender a si mesmo, o indivíduo precisa de extraordinária flexibilidade, e essa flexibilidade lhe é negada, se ele se especializa - na devoção, na ação, no saber. (…) (Idem, pág. 135)

Ora, será que a compreensão de nós mesmos requer especialização? O especialista conhece só a sua especialidade (…). Mas o conhecimento de nós mesmos requer especialização? Acho que não, pelo contrário. A especialização implica a restrição do processo total de nosso ser (…). Uma vez que precisamos compreender a nós mesmos como processo total, não podemos especializar-nos. Porque especialização significa exclusão (…). (Solução para os nossos Conflitos, pág. 74)

Pois bem (…) Atribuímos importância à feitura do instrumento, e esperamos, assim, por meio do instrumento, conhecer a vida; eis a razão por que a educação moderna é um verdadeiro fracasso; porque só tendes técnica, (…) cientistas maravilhosos, portentosos físicos, matemáticos, construtores de pontes, conquistadores do espaço - e daí? Estais vivendo? Somente como especialistas; mas, pode um especialista conhecer a vida? Só deixando de ser especialista. (O Que te fará Feliz?, pág. 63)

Requer então a inteligência especialização, a inteligência que é a percepção integral do nosso processo? E pode essa inteligência ser cultivada mediante qualquer forma de especialização? Pois é isso que está acontecendo (…). O sacerdote, o médico, o engenheiro, o industrial, o homem de negócios, o professor - temos a mentalidade da especialização. E julgamos que, para alcançar a forma suprema da inteligência - que é a verdade, (…) Deus, que não se pode descrever - julgamos que para alcançá-la precisamos tornar-nos especialistas. (…) (El Despertar de la Inteligencia, pág. 77)

(…) Você não pode dividir a vida em vida tecnológica e vida não tecnológica. É o que vocês têm feito, e é por isso que levam uma dupla vida. Então nos perguntamos: “É possível viver tão plenamente que a parte esteja incluída no todo? (…) Atualmente levamos uma dupla vida; (…). É assim que vocês dividem a vida e, portanto, ela é um conflito entre as partes. E nós nos referimos a algo por completo diferente, a um modo de viver no qual não haja divisão nenhuma. (…) (Idem, pág. 79)

Vede, em primeiro lugar, como a mente acumula saber e por que o faz; vede onde o saber é necessário, e onde ele se torna um empecilho à liberdade. É óbvio que, para fazermos qualquer coisa - conduzir um carro, falar uma língua, executar um trabalho técnico - precisamos do saber. Precisamos de grande abundância de saber; quanto mais eficaz, (…) mais objetivo, (…) mais impessoal, melhor; mas nós nos estamos referindo àquele saber que condiciona psicologicamente. (Fora da Violência, pág. 133)

O “observador” é o reservatório do saber. O “observador”, por conseguinte, pertence ao passado, ele é o censor, a entidade que julga com base no saber acumulado. O mesmo ele faz com respeito a si próprio. Tendo adquirido dos psicólogos conhecimentos sobre o “eu”, acredita o observador que conhece a si próprio. Ele se olha com esses conhecimentos e, por conseguinte, não se olha com olhos novos. (…) (Idem, pág. 133)

É possível libertar a mente do passado, por inteiro, e, se o é, como poderemos esvaziá-la? Em certos setores, o conhecimento trazido do passado é essencial. (…) Não podemos esquecer, pôr à margem, todos os conhecimentos técnicos que o homem adquiriu através de séculos; mas eu estou falando a respeito da psique, que tem acumulado tantos conceitos, idéias e experiências e se acha aprisionada nessa consciência que tem por centro o observador. (A Importância da Transformação, pág. 14)

Cabe-nos descobrir por nós mesmos (…). O conhecimento, com efeito, tem muita importância e significação. Se desejais ir à Lua, necessitais de extraordinários conhecimentos tecnológicos; (…). Mas, esse próprio saber se torna sério empecilho quando queremos descobrir uma maneira de viver totalmente harmoniosa (…). O saber é o passado, e, se vivemos de acordo com o passado, então, é óbvio, surge uma contradição: o passado em conflito com o presente. (…) (O Novo Ente Humano, pág. 24)

Agora, ao perceberdes que o pensamento perpetua o prazer e o medo (…) - qual o estado de vossa mente ao perceberdes essa verdade? E qual o estado da mente que sabe quando o pensamento é necessário, quando deve ser empregado, logicamente, objetivamente, equilibradamente, e sabe também que o pensamento, que é reação do conhecimento, ou seja, do passado, se torna um obstáculo a uma maneira de viver isenta de contradição? (…) (Idem, pág. 27)

Há, pois, uma ação que vem quando a mente está vazia de todo movimento de pensamento, exceto aquele movimento que é necessário quando o pensamento deve funcionar. A mente é então capaz de dar atenção aos fatos da vida diária. Mas, é ela capaz de funcionar dessa maneira se sois muçulmano, budista, hinduísta, e estais condicionado por esse fundo? Não o é, evidentemente. (…) Porque, se a psique não for transformada, continuareis a fazer, exteriormente, as mesmas coisas - modificadas, talvez, mas sempre segundo o velho padrão. (Idem, pág. 27)

Que lugar tem o conhecimento na transformação do homem? (…) O conhecimento é necessário na vida diária, quando vamos ao trabalho, (…) exercemos diversas habilidades, etc.; é necessário no mundo tecnológico, (…) científico. Porém, na transformação da psique, do que somos, tem o conhecimento algum lugar? (La Llama de la Atención, pág. 80)

(…) Perguntamo-nos se esse conhecimento psicológico pode alguma vez transformar radicalmente o homem, para convertê-lo em um ser humano totalmente descondicionado. Porque se há qualquer forma de condicionamento no psíquico, no interno, é impossível encontrar a verdade. A verdade é uma terra sem caminhos, e chega a nós quando nos livramos de todos os condicionamentos. (Idem, pág. 81)

Ora, o conhecimento é evidentemente essencial, pois, do contrário, não poderíamos funcionar de maneira nenhuma. (…) Mas o conhecimento impede também a clareza de percepção. O que quer que sejais, cientista, músico, artista, escritor – é só nos intervalos em que vossa mente está livre de seus conhecimentos, que há movimento criador. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 177)

A criação, pois, é algo que, não estando sujeito às limitações da mente ordinária, não é continuo. (…) Mas uma mente que seja capaz de ficar silenciosa conhecerá aquele estado que é eternamente criador; e essa é a função da mente (…). A função da mente não consiste apenas em sua parte mecânica, (…) de coordenar as coisas, (…) de destruir e tornar a coordenar. Tudo isso constitui a nossa mente ordinária, a mente comum, que recebe sugestões (…) do inconsciente, mas (…) na rede do tempo. (…) (Poder e Realização, pág. 85)

(…) Essa mente é produto da técnica; e quanto mais se cultivar a técnica, o “como”, o método, o sistema, tanto menos se conhecerá “a outra coisa”, o estado criador. Entretanto, temos necessidade da técnica (…). Mas quando essa mente mecânica, a mente que está ligada à memória, à experiência, ao conhecimento, quando essa mente existe só e funciona sozinha, sem a outra parte, é óbvio que ela só pode conduzir à destruição. (…) (Idem, pág. 85-86)

(…) A técnica pode trazer-nos essa liberdade em que está ausente o “eu”? Só quando o “eu” está ausente, há o poder de criar; a técnica, pelo contrário, dá apenas mais força ao “eu”, ou o distrai, modificando-o ou expandindo-o – e isso por certo não nos dá o poder criador. (Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 131)

O saber é uma outra forma de propriedade, e o homem que possui saber está satisfeito com ele; para ele, o saber é um fim em si. Tem ele a convicção (…) de que o saber resolverá (…) os problemas (…). É muito mais difícil, para o homem de saber, livrar-se de suas posses, do que para o homem de dinheiro. É extraordinária a facilidade com que o saber toma o lugar da compreensão e da sabedoria. (…) (Comentários sobre o Viver, 1ª ed., pág. 227-228)

O aumento da prosperidade e dos conhecimentos científicos, no mundo, não trará felicidade maior. Poderá atender, em maior escala, às nossas necessidades físicas (…). Poderá proporcionar mais confortos e comodidades – mais banheiros, melhores roupas, mais geladeiras, (…) carros. Mas essas coisas não resolvem nossos problemas fundamentais, que são muito mais profundos e prementes, e estão dentro de nós. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 111)

Pergunta: Do que dizeis, concluo claramente que a cultura e o saber são empecilhos. Empecilhos a quê?

Krishnamurti: É óbvio que o saber e a cultura constituem um empecilho à compreensão do novo, do atemporal, do eterno. O desenvolvimento de uma técnica perfeita não vos torna criador. Podeis saber pintar maravilhosamente, possuir a técnica, mas podeis não ser um pintor criador. Podeis saber escrever poemas tecnicamente perfeitíssimos, mas podeis, no entanto, não ser poeta. Ser poeta implica (…) a capacidade de receber o novo, sensibilidade para reagir às coisas novas. (…) (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 151)

Como mecânico, cientista, engenheiro, etc., necessitais da continuidade da memória, pois do contrário não podereis exercer vossas funções. Mas a continuidade do pensamento como feixe de lembranças relativas ao “eu” e ao “meu”, e as reações desse pensamento condicionado, tudo isso é tempo psicológico, medo. (…) Assim, para que o medo termine, é necessário que o pensamento termine. (…) (O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 24)

(…) A humildade é importante, porque a mente sem humildade não pode aprender. Poderá acumular conhecimentos, reunir mais e mais informações, mas (…) são coisas superficiais. Não sei por que tanto nos orgulhamos do nosso saber. Tudo se encontra em qualquer enciclopédia, e é tolice acumular conhecimentos para satisfação do orgulho e da arrogância pessoal. (Idem, 1ª ed., pág. 213)

(…) A mente que está abarrotada de fatos, de conhecimentos, será capaz de receber qualquer coisa nova, inesperada, espontânea? Se a vossa mente está repleta do conhecido, haverá espaço para receber alguma coisa procedente do desconhecido? Não há dúvida de que o saber se refere sempre ao conhecido e com o conhecido tentamos compreender o desconhecido, essa coisa que ultrapassa todas as medidas. (A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 151)

(…) O que é eterno não pode ser procurado; (…). Ele se apresenta quando a mente está tranqüila; e a mente só pode estar tranqüila quando é simples, quando já não está armazenando, condenando, julgando, pensando. Apenas a mente simples pode compreender o Real, e não a mente repleta de palavras, de conhecimentos, de ilustração. A mente que analisa, que calcula, não é uma mente simples. (Percepção Criadora, pág. 106-107)

Seleta de Krishnamurti 

Música: Regras Sociais - Generus


Regras Sociais
Generus

Estou aqui tentando ver a vida como ela é
Cansado de ouvir sermões eu quero é dar no pé
Entre clichês de uma sociedade toda padrão
Cheia de normas e outras regras isso é ilusão!

Saber como me apresentar
Ir bem vestido se for a algum lugar
Falar só momento certo, na hora certa...

Refrão:

Não agüento mais essas regras sociais
Esse condicionamento de atitudes não morais
Eu tenho a minha escolha, o meu livre arbítrio
Então me deixa em paz eu quero muito mais!

Estou aqui tentando ver a vida como ela é
Cansado de ouvir sermões eu quero é dar no pé
Entre clichês de uma sociedade toda padrão
Sigo seus normas, meu destino escrevo com minhas mãos!

Saber como me apresentar
Ir bem vestido se for a algum lugar
Falar só momento certo, na hora certa...

Refrão:

Não agüento mais essas regras sociais
Esse condicionamento de atitudes não morais
Eu tenho a minha escolha, o meu livre arbítrio
Então me deixa em paz eu quero muito mais!


Eles querem que te moldar, te mudar , lapidar te intimidar.
Eles querem te moldar, te mudar, lapidar te padronizar!

Música: A Hora da Virada - Vibrações Rasta


A Hora da Virada
Vibrações Rasta

Assissanaram nossa cultura
Pelo menos é o que pensam
Fizeram nossa vida mais dura
Os invasores são praga, e não bênção
Trouxeram a imposição, condicionamento
A catequização, um mundo de cimento
A imposição, condicionamento
A catequização, e um mundo de cimento

O explorador já deu muita risada
Agora chegou a hora da virada
Subestimaram nossa inteligência
Somos frutos da resistência!

Saia-se das amarras
Não durma, irmão, fique esperto
Siga com paz e garra
Lute se quiser estar liberto

Assissanaram nossa cultura
Pelo menos é o que pensam
Fizeram nossa vida mais dura
Os invasores são praga, e não bênção
Trouxeram a imposição, condicionamento
A catequização, um mundo de cimento
A imposição, condicionamento
A catequização, e um mundo de cimento

O explorador já deu muita risada
Agora chegou a hora da virada
Subestimaram nossa inteligência
Somos frutos da resistência!

Saia-se das amarras
Não durma, irmão, fique esperto
Siga com paz e garra
Lute se quiser estar liberto

Filme - Moebius


Título Original: Moebius
Ano: 1996
Duração: 88 min.
País: Argentina
Direção: Gustavo Mosquera
Roteiro: Cristiani Pedro, Gabriel Lifschitz, Arturo Onatavia (História: Deutsch AJ)
Música: Mariano Nunes West
Foto: A. Penalba & F. Rivaro
Elenco: Guillermo Angelelli, Roberto Carnaghi, Levy Anabella, Petraglia Jorge
Produtor: Gustavo Mosquera
Gênero: Mistério / Sci-Fi

Sinopse: No futuro não muito distante, um misterioso acidente ocorre no metrô de Buenos Aires. Um comboio de 30 passageiros desaparece no circuito fechado do sistema de metrô. A investigação será iniciada para encontrar a causa dessa desmaterialização. Um jovem topógrafo lidera a investigação com base em alguns mapas perdidos e arquivos. Ele não consegue encontrar o velho engenheiro que concebeu a intrincada rede do metrô, até que aparece uma jovem que vai facilitar a obtenção das primeiras pistas. Tudo parece ser inútil, mas um evento aleatório que vai colocar sua vida em risco o coloca em uma pista impossível, e ele vai enfrentar a surpreendente revelação final.

Comentário: Este filme foi baseado no conto de A.J. Deutsch de 1950 “A Subway Named Mobius” e é o primeiro filme produzido pela Escola Superior de Cinema de Buenos Aires. Seu objetivo foi essencialmente pedagógico. Os jovens estudantes, mais do que procurando por uma experiência de trabalho, passam pela porta principal para chegar ao mágico e maravilhoso mundo da criação do cinema.

Sem um olhar profundo, corre-se o risco de se ver em Moebius apenas mais um filme de ficção num subterrâneo qualquer. Muito mais do que isso, Moebius apresenta em suas entrelinhas, fortíssimos arquétipos, representados pelo mergulho nas profundezas da alma humana, nos subterrâneos do Ser que nos faz ser, em busca da compreensão da vida, em busca da iluminação, da descoberta de novas realidades onde se torna claro a ilusão do tempo psicológico e da separatividade, bem como o estado de sonambulismo coletivo e seu modo superficial e apressado de viver. Moebius, insiste fortemente na importância da sensibilidade da escuta e do olhar, sem os quais, torna-se impossível o contato com o inusitado, o atemporal e inefável. Mostra a representação entre a experiência do absurdo, quase morte e da Graça, capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem graça. Moebius apresenta de maneira simples, sem a necessidade de grandes produções, o processo da transformação de uma mente limitada pela sua forma analítica, cartesiana, numa mente que sente de maneira holística.


Algumas falas do filme:

"O subterrâneo é sem dúvida, um símbolo dos tempos atuais. Um labirinto onde em silêncio cruzamos com nossos semelhantes, sem saber quem são nem para onde vão. Centenas de rotas, nas quais aproveitamos para estabelecer um balanço, rever uma situação e tentar abordar mais que um trem, uma mudança de vida... É um estranho jogo, no qual submergimos nos mesmos infintos tuneis, sem nos darmos conta de que em cada transferência estamos mudando definitivamente nosso destino. No subterrâneo achei a mais poderosa máquina de olhar, porém nunca cheguei a imaginar o que em pouco tempo iria me ocorrer..."

O que acontece é que nós vivemos uma palavra, onde ninguém escuta, meu querido Prad... Eles não entendem o que está acontecendo... Eles nunca acordarão antes de descobrir que estão adormecidos. O que há com você? Você está assustado, Prad?... Vertigem... Isso é normal. Ninguém pode enfrentar o infinito sem sentir vertigem. Ninguém pode experimentar isto sem sentir uma discordância profunda. Se estamos nos movendo à velocidade do pensamento, como pode alguém estar encantado pela vida?

...Por que eu deveria preferir não ficar aqui nas sombras se lá fora é um mar de surdez, que está nos levando a ser irremediavelmente ingratos? Não pode ser possível que tudo se perca. Que fique aqui em nossas almas.




A essência deste filme pode muito bem ser descrita nestas palavras de Krishnamurti:

"Para galgardes as alturas, precisais começar de baixo. Para irdes longe, deveis partir de perto. Para alcançardes o cume da montanha, deveis primeiramente atravessar as sombras do vale. E assim, ó amigos, porque eu peregrinei pelo vale, porque demorei no meio das sombras, porque sofri e amei, desejo dizer-vos, da plenitude do meu coração, que o caminho direto é o único caminho, e que a união simples é a melhor união. E quando houverdes compreendido esse caminho, quando houverdes realizado essa união, o tempo e todas as suas complicações deixarão de existir. Sereis então vosso próprio Senhor, vosso próprio Deus, vossa própria Luz. E, uma vez realizado isso, todas as outras coisas serão secundárias e, portanto, desnecessárias."

Krishnamurti - A Finalidade da Vida - 1928

Krishnamurti — Sobre a mente condicionada

Se uma pessoa está cônscia, por pouco que seja, do seu próprio pensar, poderá ver que a mente condicionada, por mais esforços que faça, só poderá modificar-se dentro do seu próprio condicionamento, e tal modificação, evidentemente, não é revolução... Todo desafio é necessariamente novo e, enquanto a mente está condicionada, só corresponde ao desafio em conformidade com o seu condicionamento; dessa maneira, nunca pode haver uma reação adequada. (1)
* * *
Nossa mente está condicionada pela moderna educação, pela sociedade, pela religião, pelos conhecimentos e pelas inúmeras experiências que temos acumulado; foi moldada não só pelo ambiente, mas também pelas nossas reações a esse ambiente e a várias formas de relação. (2)
* * *
Os entes humanos estão condicionados; seus padrões de conduta, seus pontos de vista, suas atividades, sua agressividade, seus contraditórios estados mentais - ódio e amor, prazer e dor, desespero e esperança - a batalha constante… no campo da consciência, a invenção de deuses, crenças, seitas - tudo isso é produto da mente condicionada. Nossas nacionalidades, as divisões entre pessoas, raças, etc., tudo isso é resultado da educação que recebemos e da influência da sociedade. (3)
* * *
Não é o condicionamento inevitável… no sentido de que se verifica continuamente? Condicionais os vossos filhos como budistas, sinhaleses, tamilianos, ingleses, chineses, comunistas, etc. Há um constante martelar de influências … econômicas, climáticas, sociais, políticas, religiosas, atuando sem cessar... A mente é o passado, e o passado é a tradição, a moral. Vossa mente, pois, está condicionada; essa mente condicionada atende ao desafio, ao estímulo, e reage, invariavelmente, de acordo com o seu condicionamento, e é isso o que gera um problema. (4)
* * *
Por conseguinte, sempre que a mente condicionada enfrenta um estímulo, cria um problema, porquanto é sempre inadequada a reação de uma mente condicionada... O problema é sempre novo, o desafio, sempre novo; desafio implica coisa nova, do contrário não seria desafio. A mente condicionada, portanto, enfrentando o desafio, cria um problema, do qual resulta conflito. (5)
* * *
Por estarmos, na maioria, condicionados por influências sociais, econômicas, religiosas, etc., somos copistas, imitadores, e por isso não ligamos importância ao que é novo, chamamo-lo revolucionário... Mas se pudermos examiná-lo, se o observarmos com inteira isenção de preconceitos, de limitações, então talvez seja possível compreender-nos mutuamente e comungar uns com os outros. Só há comunhão quando não existe barreira alguma. (6)

Estamos dizendo que o condicionamento se verifica não só culturalmente, no sentido da religião, da moral social, etc., mas mediante o próprio conhecimento. Será possível ensinar aos alunos e a nós mesmos a libertar a mente do conhecimento e, apesar disso, a usar o conhecimento sem obrigar a mente a funcionar de modo mecânico? (7)
* * *
Nós como seres humanos vivemos nesta bela terra, que está sendo aos poucos destruída… não indiana, não britânica ou americana - temos de viver inteligentemente, com felicidade; mas isso aparentemente não é possível, porque estamos condicionados. Esse condicionamento é como um computador; estamos programados. Estamos programados para ser hindus, muçulmanos, cristãos, católicos, protestantes. (8)
* * *
Portanto, nosso cérebro está profundamente condicionado e estamos perguntando se é possível ficarmos livres desse condicionamento. A não ser que estejamos totalmente, completamente, livres de tal limitação, o simples inquirir ou perguntar qual é o novo instrumento, que não é o pensamento, carece de significação. (9)
* * *
Como dissemos, estamos programados. O cérebro humano é um processo mecânico. Nosso pensamento é um processo materialista, e esse pensamento tem sido condicionado para pensar como budista, hindu, cristão, etc. Portanto, nosso cérebro está condicionado. É possível ficar livre do condicionamento? Há os que dizem que não, porque... como pode esse condicionamento ser completamente erradicado, de forma que o cérebro humano possa tornar-se extraordinariamente purificado, original, de infinita capacidade? Muitas pessoas admitem isso, mas ficam satisfeitas em meramente modificar o condicionamento. Porém estamos dizendo que esse condicionamento pode ser examinado, observado, e pode haver total libertação do mesmo. Para descobrir por nós mesmos se é possível, ou não, temos de inquirir sobre nossas relações. (10)
* * *
Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do que é velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. Assim, pois, para descobrir o novo, o eterno... necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta… que não vise a um resultado… não interessada em “vir-a-ser”. (11)
* * *
Nosso problema, pois, consiste em libertar a mente dessa atividade egocêntrica, não só no nível das relações sociais, mas também no nível psicológico. É essa atividade do “eu” que está causando males e sofrimentos, tanto em nossas vidas individuais como em nossa existência como grupo e como nação. E só podemos pôr fim a tudo isso se compreendermos inteiramente o processo do nosso pensar. (12)

Fonte bibliográfica das citações:
(4) Krishnamurti - Nosso Único Problema
(5) Krishnamurti - Nosso Único Problema
(9) Krishnamurti - Mind Without Measure
(10) Krishnamurti - Mind Without Measure

Krishnamurti — Pensamento e Consciência

O pensamento é sempre uma reação externa, ele jamais pode reagir profundamente. O pensamento é sempre o externo; o pensamento é sempre um efeito, e pensar é a conciliação dos efeitos. O pensamento é sempre superficial, embora possa se localizar em diferentes níveis. O pensamento jamais pode penetrar o profundo, o implícito. O pensamento não pode ir além de si mesmo, e cada tentativa de fazer isso produz sua própria frustração.
“O que você quer dizer com pensamento?”
O pensamento é a resposta a qualquer desafio; o pensamento não é ação, execução. O pensamento é uma consequência, o resultado de um resultado; é o resultado da memória. Memória é pensamento e pensamento é a verbalização da memória. A memória é experiência. O processo do pensamento é o processo consciente, o oculto assim como o aberto. Todo esse processo de pensamento é a consciência; o desperto e o adormecido, os níveis mais superficiais e os mais profundos são, todos, parte da memória, da experiência. O pensamento não é independente. Não existe pensamento independente; “pensamento independente” é uma contradição em termos. O pensamento, sendo um resultado, opõe-se ou concorda, compara ou se ajusta, censura ou justifica, e portanto ele nunca pode ser livre. Um resultado jamais pode ser livre, ele pode deturpar, manipular, divagar, ir até certa distância, mas não pode se libertar de seu próprio ancoradouro. O pensamento está ancorado na memória e jamais pode ser livre para descobrir a verdade de qualquer problema.
“Você quer dizer que o pensamento não tem valor algum?”
Ele tem valor na conciliação dos efeitos, mas não tem valor em si mesmo como um meio para a ação. Ação é revolução, não conciliação de efeitos. A ação livre de pensamentos, idéias e crenças jamais está dentro de um padrão. Pode haver atividade dentro do padrão e essa atividade pode ser violenta, sangrenta ou o oposto; mas não é ação. O oposto não é ação, é uma continuação modificada da atividade. O oposto ainda está dentro do campo do resultado, e na busca do oposto o pensamento é apanhado na rede de suas próprias reações. A ação não é o resultado do pensamento, ela não tem relação com o pensamento. O pensamento, o resultado, jamais pode criar o novo; o novo é de momento a momento, e o pensamento é sempre o antigo, o passado, o condicionado. Ele tem valor mas não liberdade. Todo valor é limitação, ele tolhe. O pensamento é restringente, pois é valorizado.
“Qual é a relação entre consciência e pensamento?”
Eles não são iguais? Existe alguma diferença entre pensar e estar consciente? O pensamento é uma resposta; e estar consciente não é também uma resposta? Quando a pessoa está consciente daquela cadeira, é uma resposta a um estímulo; e a reação da memória a um desafio não é pensamento? É essa reação que chamamos de experiência. Experienciar é desafio e resposta; e esse experienciar, junto com a nomeação ou registro disso, esse processo total, em níveis diferentes, é consciência, não é? A experiência é o resultado, a consequência da experienciação. O resultado recebe um termo; o próprio termo é conclusão, uma das muitas conclusões que constituem a memória. Esse processo de conclusão é consciência. A conclusão, o resultado, é a consciência de si mesmo. O Eu é memória, as muitas conclusões; e o pensamento é a reação da memória. O pensamento é sempre uma conclusão; pensar é concluir, e, portanto, nunca pode ser livre.
O pensamento é sempre o superficial, a conclusão. A consciência é o registro do superficial. O superficial se separa como o externo e o interno, mas essa separação não torna o pensamento menos superficial.
“Mas não existe algo além do pensamento, além do tempo, algo que não seja criado pela mente?”
Ou lhe contaram sobre esse estado, você leu sobre ele ou existe a experienciação dele. A experienciação dele nunca pode ser uma experiência, um resultado; ele não pode ser conjeturado – e se for, será uma lembrança, não uma experienciação. Você pode repetir o que leu ou ouviu, mas a palavra não é a coisa; e a palavra, a própria repetição, impede o estado de experienciação. Aquele estado de experienciação não poderá existir enquanto houver pensamento; o pensamento, o resultado e o efeito jamais podem conhecer o estado de experienciação.
“Então, como o pensamento pode acabar?”
Perceba a verdade que o pensamento, o resultado do conhecido, jamais pode existir no estado de experienciação. A experienciação é sempre o novo; pensar pertence sempre ao velho. Veja a verdade disso e ela lhe trará a libertação – libertação do pensamento. Do resultado. Então haverá aquilo que está além da consciência, que não é dormir nem acordar, que é sem nome: aquilo é.

Imagem do dia

Admitindo a impotência perante o fluxo do pensamento condicionado

O pensamento não irá resolver os nossos problemas, porque eles foram criados pela atividade do pensamento. E o nosso principal problema é produzir uma mudança fundamental, radical, revolucionária, psicológica. (1)
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Todos os chamados livros sagrados são produtos do pensamento. Eles podem ser venerados como uma revelação, mas eles são essencialmente pensamento. (2)
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Qualquer ação nascida do pensamento limitado deve inevitavelmente provocar conflito. (3)
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Todos os problemas que a humanidade hoje enfrenta, tanto psicologicamente, como nas outras esferas, são o resultado do pensamento. E nós estamos alimentando o mesmo padrão de pensamento, e o pensamento nunca solucionará nenhum desses problemas. Há contudo um outro tipo de instumento que é a inteligência. (4)
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O pensamento, sem dúvida nenhuma, é a reação daquilo que vocês sabem. O conhecimento reage, e damos a isso o nome de pensamento. Se ficarem alertas, conscientes do seu próprio processo de pensamento, vocês vão se dar conta de que o que quer que pensem já moldou a mente; e uma mente moldada pelo pensamento deixou de ser livre, e por isso não é uma mente individual. (5)
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O pensamento é tão astuto, tão esperto, que deturpa tudo para sua própria conveniência. O pensamento em sua exigência de prazer cria seu próprio cativeiro. O pensamento é o criador de dualidade em todas as nossas relações: existe em nós a violência que nos dá prazer, mas há também o desejo de paz, o desejo de ser gentil e pacífico. Isto é o que acontece todo o tempo em todo nosso viver. O pensamento não só cria esta dualidade em nós, esta contradição, mas também acumula nas inumeráveis memórias tudo que nós tivemos de prazer e dor, e destas memórias ele renasce". (6)
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Para fazer cessar o pensamento é indispensável entender inicialmente o mecanismo do pensar. Preciso, até o mais profundo do meu ser, compreender o pensamento como um todo. Preciso examinar cada pensamento; eu não posso deixar que algum deles escape sem ser plenamente compreendido; desse modo, o cérebro, a mente, todo o ser ficarão bastante atentos. E quando então eu perseguir todo e qualquer pensamento até o fim, até a extremidade de sua raiz, desse momento em diante, verei que o pensamento cessa por si mesmo. Não preciso fazer nada a respeito porque o pensamento é memória. A memória é a marca deixada pela experiência e, enquanto a memória não for compreendida de forma plena e total, continuará a deixar marcas. A partir do momento em que eu tiver vivenciado completamente a experiência, esta não deixará marcas. Desse modo, se examinarmos cada pensamento e descobrirmos onde se situa a marca, e se permanecermos com essa marca, aceitando-a como um fato, esse fato irá desnudar-se e fará cessar esse processo particular de pensar, de maneira que cada pensamento, cada sentimento será compreendido. Então o cérebro e a mente se libertarão de um acúmulo enorme de recordações. Isso requer tremenda atenção, atenção não apenas para as árvores e os pássaros, mas atenção interior, para cuidar que cada pensamento seja compreendido. (7) 
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O pensamento é limitado porque o conhecimento é limitado, e qualquer que seja a atuação do pensamento, o que quer que ele crie, tem de ser limitado. Nossa mente e nosso coração precisam ser claros para saber o que é uma mente religiosa. Para descobrirmos a mente religiosa temos de negar todo e qualquer ritual e símbolos inventados pelo pensamento. Só negando aquilo que é falso encontraremos o que é verdadeiro. Você nega todos os métodos de meditação porque, no íntimo, sabe que eles foram inventados pelo pensamento. Foram apenas reunidos pelo homem. Como nossa vida é frágil e incerta, desejamos alguma satisfação mais profunda, um pouco de amor, algo estável, permanente e duradouro. Desejamos algo mais firme, imutável, e achamos que poderemos obtê-lo se fizermos certas coisas. Essas coisas são inventadas pelo pensamento e, sendo ele por si só contraditório, qualquer tipo de estrutura reunido na meditação não é meditação. Isso significa total negação de tudo o que o homem criou psicologicamente. Não me refiro à tecnologia, que não pode ser negada, mas à rejeição a todas as coisas que o homem inventou ou escreveu sobre a busca da verdade. Para fugirmos do cansaço, da tristeza e dos tormentos caímos nessa armadilha. Portanto, temos de rejeitar completamente todas as nossas atitudes mentais, os exercícios respiratórios, toda a atividade do pensamento. (8)
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Se você achar difícil estar atento, então experimente escrever todo pensamento e sentimento que surge ao longo do dia, anote suas reações de ciúme, inveja, vaidade, sensualidade, as intenções atrás de suas palavras, e assim por diante. Reserve algum tempo antes do café para escrever isto – o que pode exigir sair mais cedo da cama e abandonar alguma atividade social. Se você anota estas coisas sempre que pode, e à noite antes de adormecer olha tudo que escreveu durante o dia, estuda e examina isto sem julgamento, sem condenação, você começará a descobrir as causas ocultas de seus pensamentos e sentimentos, desejos e palavras... Agora, o importante nisto é estudar com a inteligência livre tudo que você escreveu, e estudando isto você se dará conta de seu próprio estado. Na chama da autoconsciência, do autoconhecimento, as causas do conflito são expostas e consumidas. Você deveria continuar a escrever seus pensamentos e percepções, intenções e reações, não uma vez ou outra, mas por um número considerável de dias até que você possa estar imediatamente atento a eles... Meditação não é só autoconsciência constante, mas abandono constante do ego. Além do pensamento de comum conhecido, existe a meditação, da qual provém a tranqüilidade da sabedoria, e na serenidade a algo maior acontece. Ao escrever o que a pessoa pensa e sente, os seus desejos e suas reações, propicia a consciência interior, a cooperação do inconsciente com o consciente, e isto por sua vez conduz em troca à integração e à compreensão. (9)
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Autoconhecimento não significa conhecer-se, mas conhecer a atividade do pensamento. Porque o eu é pensamento, a idéia. Portanto, observe cada movimento do pensamento, não deixando nunca que um pensamento passe sem se certificar do que ele é. Tente. Faça isso e você verá o que acontece. Isso revigora o cérebro. Veja: o pensamento é medo, o pensamento é prazer, o pensamento é tristeza. E o pensamento não é amor. O pensamento não é compaixão. (10)
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O autoconhecimento brota quando você observa e compreende todos os seus sentimentos e pensamentos, momento por momento, dia a dia. A totalidade dessa compreensão resolverá os problemas da vida. (11)
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O autoconhecimento não é um processo de continuidade do pensamento, mas de redução, de cessação do pensamento... O pensamento só pode terminar quando você conhecer o conteúdo total da pessoa que pensa; e assim começamos a ver como é importante ter autoconhecimento. A maioria de nós se contenta com o autoconhecimento superficial, com arranhar a superfície, com o bê-a-bá da psicologia. Não adianta ler alguns livros de psicologia, arranhar um pouco a superfície e dizer que sabe. Isso é mera aplicação à mente daquilo que se aprendeu... Uma mente que acumula não pode aprender. (12)
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Nunca investigamos a profundidade mesma do pensamento: e porque nunca o questionamos, ele assumiu a predominância. Ele é o tirano da nossa vida e os tiranos raramente são desafiados. (13)
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Permanecemos presos nas rotinas do embotamento, porque pensar com muita seriedade significa estar descontente, o que é muito doloroso; e a maioria de nós não deseja atrair tristezas. Desejamos fugir da tristeza, e por isso toda a nossa estrutura de pensamento é confusão, distração... Ser sensível significa dor; mas precisamos ser dolorosamente sensíveis, para compreender. Entretanto, procuramos manter-nos do lado de fora da dor, e, evitando-a, reduzimo-nos a simples máquinas de imitação. (14)
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Meditação é o perceber total de cada movimento do pensamento, e jamais negação dele; quer dizer, é deixar cada pensamento "florescer" livremente: pois só em liberdade pode o pensamento "florescer" e terminar. Assim, com esse trabalho (se isso se pode chamar "trabalho") ou, melhor, com essa observação, a mente tudo compreende. Está então quieta, sabe o que realmente significa "estar quieta", estar verdadeiramente tranqüila. E, nessa tranqüilidade, existem várias outras formas de movimento que, para quem nunca refletiu a esse respeito, só verbalmente se podem descrever. (15)
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A menos que a mente descubra a fonte do pensamento, ver-se-á sempre de novo enredada num sistema de vida que levará finalmente ao conflito, uma maneira de vida que é violência. Aquela fonte precisa ser descoberta. Enquanto existir observador e coisa observada, haverá contradição, distância, intervalo de tempo, separação entre ambos, e o pensamento tem de existir... Enquanto houver observador e coisa observada, e, entre ambos, intervalo de tempo, distância, espaço - essa separação dará origem ao pensamento. Só quando o observador é o objeto observado, e não há observador nenhum, não há pensar. (16)
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Se você observar a sua própria mente, verá o quanto é difícil estar livre de conclusões. Afinal, o que você sabe é uma série de conclusões, constituída daquilo que lhe foi ensinado, do que você aprendeu dos livros ou do que achou em suas próprias reações - e sobre tal base começa a pensar, a levantar o edifício do pensamento! Mas, sem dúvida, a mente que deseja descobrir o que é a Verdade ou Deus, deve começar sem nenhum pressuposto, nenhuma conclusão, quer dizer, livre para investigar. E se você observar sua própria mente, verá que não é livre. Está cheia de conclusões, pejada de conhecimentos, provindo de muitos milhares de dias passados; ela pensa segundo o Gita, segundo a Bíblia ou o Alcorão, ou um certo instrutor, e começa com o pressuposto de que o que dizem é a Verdade. Mas, se ela já sabe o que é a Verdade, é claro que não tem necessidade de procurar a Verdade. (17)
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Infelizmente, para a maioria de nós, o pensamento se tornou demasiado importante. Dizeis: "Como posso existir, ser, sem pensar?" "Como posso ter a mente vazia?" Para a maioria das pessoas, ter a mente vazia equivale a ficar em estado de estupor, de idiotia, ou coisa parecida, e vossa reação instintiva é de rejeitar tal estado. Mas, sem dúvida, a mente que é muito tranqüila, a mente que não está sendo distraída pelo próprio pensamento, a mente que é aberta, pode encarar o problema de maneira muito direta e muito simples. É essa capacidade de olharmos nossos problemas sem nenhuma distração, que representa a única solução. Para tanto, é preciso que a mente seja muito tranqüila, muito serena. Essa mente não é resultado, não é produto do exercício, de meditação, de controle. Ela não nasce de qualquer espécie de disciplina, constrangimento ou sublimação; nasce sem esforço algum por parte do "eu", do pensamento; nasce quando compreendo o processo total do pensar, quando posso ver um fato sem distração alguma. Nesse estado de tranqüilidade, da mente que se acha verdadeiramente silenciosa, existe o amor. E só o amor pode resolver todos os problemas humanos. (18)
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Bibliografia
(1) Krishnamurti - Sobre a Mente e o Pensamento
(2) Krishnamurti - A Arte de Aprende
(3) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(4) Krishnamurti - O Futuro da Humanidade
(5) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(6) Krishnamurti
(7) Krishnamurti e a Educação 
(8) Krishnamurti - Nossa Luz Interior
(9) Krishnamurti - O Livro da Vida 
(10) Krishnamurti - Diálogos sobre a visão intuitiva
(11) Krishnamurti - O Problema da Revolução Total
(12) Krishnamurti - Sobre a aprendizagem e o conhecimento
(13) Krishnamurti - A Arte de Aprender
(14) Krishnamurti - Da Insatisfação à Felicidade
(15) Krishnamurti - A Mutação Interior
(16) Krishnamurti - Encontro com o eterno
(17) Krishnamurti - O Homem Livre
(18) Krishnamurti - A Primeira e a ùltima Liberdade

Krishnamurti - Sobre Política

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Imagem do dia

Do respeito à tradição ao amor pela Verdade

Krishnamurti - Autodefesa

Ele era um homem bem conhecido e estava em posição de prejudicar outros, o que não hesitava em fazer. Era astutamente superficial, desprovido de generosidade, e trabalhava e benefício próprio. Disse que não gostava muito de discutir os assuntos, mas as circunstâncias o tinham forçado a fazê-lo, e aqui estava ele. Por tudo que disse e deixou de dizer, ficou bastante claro que era muito ambicioso e moldava as pessoas a seu redor; ele era cruel quando valia a pena e amável quando queria algo. Tinha consideração pelos que estavam acima dele, tratava seus iguais com tolerância condescendente e ignorava completamente aqueles que estavam abaixo dele. Não fez mais do que olhar de relance para o motorista que o trouxera. Seu dinheiro o tornara desconfiado e ele tinha poucos amigos. Falava de seus filhos como se fossem brinquedos para diverti-lo, e não suportava ficar sozinho, disse. Alguém o prejudicara e ele não pode retaliar porque a pessoa estava além de seu alcance; dessa forma, estava descontando naqueles que ele podia alcançar. Era incapaz de entender porque estava sendo desnecessariamente brutal porque queria prejudicar aqueles que dizia amar. Enquanto falava, lentamente começou a se descontrair e a se tornar quase simpático. Era a simpatia do momento, cujo calor seria cortado instantaneamente se fosse frustrado ou se algo lhe fosse exigido. Como nada estava sendo pedido, estava livre e temporariamente afetuoso.
O desejo de ferir, de prejudicar os outros, seja por uma palavra, por um gesto ou mais profundamente, é forte na maioria de nós; é comum e assustadoramente prazeroso. O próprio desejo de não ser ferido dá origem ao ferir os outros; prejudicar os outros é uma maneira de se defender. Essa autodefesa adota formas peculiares, dependendo das circunstâncias e tendências. Como é fácil ferir o outro, e quanta bondade é necessária para não ferir! Ferimos outros porque nós mesmos estamos feridos, estamos muito machucados por nossos próprios conflitos e sofrimentos. Quanto mais somos interiormente torturados, maior o impulso de sermos exteriormente violentos. A agitação interior nos impele a buscar proteção externa; e quanto mais a pessoa se defende, maior o ataque sobre os outros.
O que é que defendemos, que protegemos tão cuidadosamente? Certamente, é a idéia de nós mesmos, em qualquer que seja o nível. Se não protegêssemos a idéia, o centro de acumulação, não haveria o “eu” e o “meu”. Estaríamos assim totalmente sensíveis e vulneráveis aos mecanismos de nosso próprio ser, tanto o consciente quanto o oculto; mas como a maioria não deseja descobrir o processo do “eu”, resistimos a qualquer interferência na idéia de nós mesmos. Esta é inteiramente superficial; mas como a maioria vive na superfície, satisfazemo-nos com ilusões.
O desejo de fazer mal a outro é um instinto profundo. Nós acumulamos ressentimento, o que proporciona uma vitalidade estranha, um sentimento de ação e vida; o que é acumulado deve ser gasto através de raiva, insulto, depreciação, obstinação e seus opostos. É essa acumulação de ressentimento que necessita de perdão – o que se torna desnecessário se não houver armazenamento da mágoa.
Por que armazenamos lisonjas e insultos, ofensas e carinhos? Sem esse acúmulo de experiências e suas reações nós não somos; nós somos nada se não temos um nome, um apego, uma crença. É o medo de ser nada que nos compele a acumular; e é esse mesmo medo consciente ou inconsciente que, apesar de nossas atividades acumuladoras, produz nossa desintegração e destruição. Se conseguirmos estar atentos à verdade desse medo, então essa verdade é que nos libertará dele, e não nossa determinação intencional de ser livres.
Você é nada. Você pode ter seu nome e título, sua propriedade e conta bancária, ter poder e ser famoso; mas, apesar de todas essas garantias, você é como nada. Você pode estar totalmente inconsciente desse vazio, desse nada, ou pode simplesmente não querer estar cônscio dele; mas ele existe, faça você o que quiser para evitá-lo. Você pode tentar escapar dele de maneiras tortuosas: por meio de violência pessoal ou coletiva, de adoração individual ou coletiva, de conhecimento ou diversão, mas quer você esteja adormecido ou acordado, ele está sempre lá. Você só pode enfrentar sua relação com esse nada e seu medo estando atento às fugas de uma forma desprovida de escolha. Você não está relacionado a ele como uma entidade separada, individual; você não é o observador assistindo a isso; sem você, o pensador, o observador, isso não existe. Você e o nada estão unidos; você e o nada são um fenômeno conjunto, não dois processos separados. Se você, o pensador, estiver com medo disso e for abordá-lo como algo oposto e contra você, então qualquer ação que puder realizar deverá, inevitavelmente, levar à ilusão e a mais conflito e sofrimento. Quando existe a descoberta, a experienciação daquele nada sendo você, aí o medo – que existe apenas quando o pensador está separado de seus pensamentos e assim tenta estabelecer uma relação com eles – afasta-se inteiramente. Somente então é possível que a mente silencie; nessa tranqüilidade, a verdade toma forma.

Krishnamurti - Que base tenho para pensar, se não conheço a mim mesmo?

Sem conhecer integralmente o "processo" das minhas relações, nos seus diferentes níveis, o que penso e o que faço não tem nenhum valor. Que base eu tenho para pensar, se não conheço a mim mesmo? Temos tanto desejo de agir, tanto emprenho em fazer alguma coisa, em realizar alguma espécie de revolução, alguma espécie de melhoria, alguma modificação no mundo; mas sem conhecermos o nosso próprio funcionamento (processo), tanto na periferia como no interior, nos falta toda a base para a ação e o que fazemos não pode deixar de criar mais sofrimento e mais luta. A compreensão de nós mesmos não se consegue pelo processo de nos retirarmos da sociedade, ou de nos recolhermos numa torre de marfim. Se você e eu nos dedicarmos a estudar o assunto  com toda a atenção e de maneira inteligente, veremos que só podemos compreender a nós mesmos em relação e não no isolamento. Ninguém pode viver no isolamento. Viver é estar em relação. É só no espelho das relações que compreendo a mim mesmo — o que significa que devo estar sempre sobremodo atento, em todos os meus pensamentos, sentimentos e ações, na vida de relação. Não constitui isso um processo difícil nem empreita sobre-humana; e, como acontece com todos os rios, se bem que a nascente seja quase imperceptível, as águas vão ganhando ímpeto, no seu curso, à medida que vão se aprofundando. Se, neste mundo louco e caótico, você se empenhar naquele processo, avisadamente, com atenção, com paciência, sem condenar, verá como ele começa a ganhar ímpeto, independentemente da questão de tempo.
A verdade existe minuto por minuto, na vida de relação, e temos de vê-la em cada ato, cada pensamento e cada sentimento que surge em nossas relações. A verdade não é coisa que se possa acumular, armazenar; temos de achá-la de novo, no pensamento e no sentimento, a cada instante — o que não representa um processo cumulativo e, por conseguinte, não depende do tempo. Quando você diz que, com o tempo, compreenderá, graças à experiência ou ao saber, está justamente impedindo a compreensão, porque esta não resulta de acumulação alguma. Você pode acumular saber, mas isso não é compreensão. A compreensão surge quando a mente está livre do conhecimento. Quando a mente não exige a satisfação de desejos, quando não procura experiência, há tranquilidade; e quando a mente está tranquila, só então haverá compreensão. Só quando você e eu estamos verdadeiramente dispostos a ver claramente as coisas tais como são, é que nos é oferecida a possibilidade de compreensão. A compreensão vem, não por meio de disciplinamento, de compulsão, de coerção, mas, sim, quando a mente está tranquila e disposta a ver as coisas com lucidez. A serenidade da mente nunca se pode conseguir por meio da compulsão, sob qualquer forma, consciente ou inconsciente; tem de ser espontânea. A liberdade não está no fim, mas no começo; porque o fim e o começo não são diferentes, o meio e o fim são idênticos. O começo da sabedoria é a compreensão do processo total de nós mesmos, e esse autoconhecimento, essa compreensão, é meditação.  
Krishnamurti - Que estamos buscando? - ICK

Krishnamurti - Não há religar por meio da crença e conceitos - só acréscimo de conflitos.

As idéias puseram os homens uns contra os outros. A expansão do dogma não nos liberta do dogma. A crença está dividindo os homens. A divisão é a ênfase da crença, e constitui um bom meio de explorar os crédulos. Na crença vocês acham conforto, segurança — que são só ilusões. Sempre que há tendência para a separação, há de haver desintegração. Onde há a força aprisionante da crença, é inevitavelmente a desintegração. Vocês se chamam de hinduístas, muçulmanos, cristãos, teosofistas, e o que mais que seja, e com isso vocês se fecham. Suas idéias geram oposição, inimizade, antagonismo; do mesmo modo, as suas filosofias, por mais geniais, por mais idealistas ou divertidas que sejam. Assim como um homem tem paixão pela bebida, assim também vocês têm a paixão das suas crenças. Eis porque as religiões organizadas falharam no mundo inteiro. 
A verdadeira religião é o "experimentar", que nada tem a ver com a crença. É aquele estado mental que, no processo do autoconhecimento, descobre a verdade instante por instante. A verdade nunca é contínua, nunca é a mesma, é incomparável. A verdade é o singular; não é o símbolo de coisa alguma. A adoração de qualquer símbolo provoca desastres, e uma mente entregue à crença, qualquer que seja ela, nunca será uma mente religiosa. E só a mente religiosa, e não a mente ideológica, é capaz de resolver o problema. Citar palavras de outras pessoas não tem valor algum. A mente que cita, seja Platão, seja Buda, é incapaz de "sentir", a realidade. Para experimentar, sentir a realidade, a mente deve estar de todo desnuda; e a mente assim não é uma mente que busca.
Religião, pois, não é crença; religião não são cerimônias; religião não é uma idéia, nem várias idéias combinadas em ideologia. Religião é o "experimentar" a verdade do que é, momento por momento. A verdade não é um fim supremo — não há fim supremo para a verdade. A verdade se encontra no que é; está no presente, nunca é estática. A mente nublada pelo passado não pode em absoluto compreender a verdade. Todas as religiões, tal como são atualmente, dividem os homens. As crenças dessas religiões não são a verdade. A verdade não pode ser encontrada em nenhuma crença de reencarnação; a verdade só pode ser conhecida, quando há um findar, o findar que está implicado na morte. Suas crença em Deus não é religião, não é a verdade. Pouca diferença existe entre o crente e o descrente; tanto um como o outro estão condicionados pelo seu ambiente; eles produzem divisões no mundo, por meio de idéias, por meio de crenças. Por conseguinte, nem o crente nem o descrente podem experimentar a realidade.
Quando vocês vêem as coisas como são, sem preconceitos, sem louvor nem condenação, em relação direta com o que é, há ação. A mente, que é a estrutura de idéias e resíduo de todas as lembranças e pensamentos, nunca pode achar a realidade. A realidade tem de vir por si. Vocês só podem procurar uma cosia que conhecem; não podem procurar a realidade. Vejam a verdade que há nesta questão, vejam a beleza da mente que experimenta diretamente e que age, portanto, sem recompensa, nem punição. Mas a experiência não é a medida da verdade. O "eu" de vocês é pensamento, e pensamento é memória; experiência é memória transmudada em pensamento. Por conseguinte, a mente, em tais condições, pode "organizar" a palavra "verdade" e explorar os outros; mas é incapaz de experimentar a realidade. Só a mente que nenhuma idéia possui é incapaz de experimentar a realidade.
Um homem religioso é o verdadeiro revolucionário. O homem que age em conformidade com idéias, pode matar os outros. Na relação direta com o que é, há o experimentar, e a mente que se acha nesse estado não fabrica idéias. A mente que não tem nenhuma idéia, é sensível, capaz de ver o que é, de maneira direta, e capaz, portanto, de ação. Só essa ação é revolucionária.

Krishnamurti - Que estamos buscando - ICK
Conferência em Madrasta, 18 de dezembro de 1949   

Krishnamurti - A fuga do que É pela ilusão da busca pela verdade

Se nos for possível compreender integralmente o problema do buscar, do procurar, talvez estejamos em condições de compreender o complexo problema da insatisfação e do descontentamento. A maioria de nós está em busca de alguma coisa, em vários níveis da existência — conforto físico ou bem estar psicológico; e dizemos que estamos à procura da verdade ou da sabedoria. Ora, o que significa isso, de fato? O que estamos procurando? Só podemos procurar uma coisa que conhecemos; não podemos procurar uma coisa que desconhecemos. Não podemos procurar uma coisa que não sabemos se existe; só podemos procurar algo que tivemos e perdemos. A busca é o desejo de satisfação.
Em geral vivemos insatisfeitos, exterior e interiormente; e se nos observarmos com toda a atenção, veremos que o descontentamento é apenas a busca de uma satisfação permanente, em diferentes níveis da existência, à qual chamamos verdade, felicidade, compreensão, ou por outro nome qualquer. Basicamente, esse impulso consiste em encontrar satisfação permanente; e, estando descontentes com tudo quanto fazemos, não encontrando satisfação em nenhuma das coisas que tentamos, apelamos para um instrutor, uma religião, um caminho, outra pessoa, na esperança de achar satisfação definitiva. Assim, essencialmente, a nossa busca não visa à verdade, mas à satisfação. O mais de nós estamos descontentes, insatisfeitos, com as coisas como são; e a nossa luta psicológica, nossa luta interior visa encontrar um refúgio permanente; quer seja um refúgio de idéias, quer de relações imediatas, o impulso básico é um desejo de alcançar satisfação completa. Esse impulso é o que chamamos buscar. 
Experimentamos várias satisfações, vários "ismos"; e quando eles não satisfazem, apelamos para a religião e seguimos gurus, um depois de outro, ou nos tornamos cínicos. O cinismo também proporciona grande satisfação. Nossa busca é sempre no sentido de um estado mental isento de toda e qualquer perturbação, de toda luta, na qual haja satisfação completa. Existirá possibilidade de completa satisfação em qualquer coisa que a mente busque? A mente anda em busca de suas próprias "projeções", que são proporcionadoras de satisfação, aprazimento; e no momento em que acha inconveniente uma dessas projeções, larga-a e passa a outra. Isto é, estamos em busca de um estado psicológico tão tranquilizador, tão conciliatório, que elimine todos os conflitos. Se examinarmos profundamente, veremos que um tal estado é uma impossibilidade, a não ser que vivamos na ilusão ou ligados a uma forma qualquer de asserção psicológica. 
Pode o descontentamento encontrar satisfação permanente? E com o que é que estamos descontentes? Queremos um emprego melhor, mais dinheiro, uma esposa melhor, ou uma forma religiosa melhor? Se examinarmos com atenção, veremos que todo o nosso descontentamento é uma busca de satisfação permanente — e que a satisfação permanente é impossível. A própria segurança física é impossível. Quanto mais desejamos estar em segurança, tanto mais ficamos fechados, tanto mais nos tornamos nacionalistas, e o resultado final é a guerra. Nessas condições, enquanto andarmos em busca de satisfação, haverá conflito cada vez maior. 
É possível ficarmos contentes? O que é contentamento, de fato? O que produz contentamento, como ele aparece? Sem dúvida, o contentamento só aparece quando compreendemos o que é. O que produz descontentamento é a maneira complexa por que encaramos o que é. Por causa do meu jeito de transformar o que é noutra coisa diferente, existe a luta do "vir a ser". Mas a mera aceitação do que é também cria um problema. Por certo, para compreender o que é, requer-se vigilância passiva, sem o desejo de transformá-lo em coisa diferente; isso significa que devemos estar passivamente conscientes do que é. Então é possível transcendermos o mero aspecto exterior do que é. O que é nunca é estático, embora a nossa reação possa ser estática. 
Nosso problema, por conseguinte, não é a busca de satisfação definitiva, que chamamos Deus, ou de um melhor estado de relação, mas, sim, a compreensão do que é. Para compreender o que é, requer-se uma mente extraordinariamente ágil, que perceba a futilidade do desejo de transformar o que é em outra coisa, ou de comparar ou procurar conciliar o que é com outra coisa. 
Essa compreensão não vem por meio da disciplina, do controle, ou do auto-sacrifício, mas sim, pelo afastamento dos obstáculos que nos impedem de ver diretamente o que é.
A satisfação é infindável, contínua; e a menos que percebamos isso, somos incapazes de aceitar o que é, tal como é. A relação direta com o que é, eis a ação correta. Ação baseada numa idéia não passa de autoprojeção. A idéia, o ideal, a ideologia, tudo isso faz parte do processo do pensamento, e o pensamento é uma reação a condicionamentos, em qualquer nível. Por conseguinte, o cultivo de uma idéia, de um ideal, de uma ideologia, é um círculo em que a mente fica encerrada. Quando percebemos todo o processo da mente e suas ardilosas manobras, só então há a compreensão produtiva de transformação.

Krishnamurti — O que estamos buscando? - ICK
Conferência realizada em Madrasta em 18 de dezembro de 1949 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill