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quinta-feira, 31 de março de 2016

O que deve ser feito - Jiddu Krishnamurti

Excerto legendado da sessão #1 de P&R de Jiddu Krishnamurti em Madras, 1981

Nando Reis e o processo de abstinência

sexta-feira, 18 de março de 2016

Inventariando os padrões de adulteração psíquica

quinta-feira, 17 de março de 2016

No princípio era a educação

segunda-feira, 14 de março de 2016

Na negação está a perpetuação da adulteração psíquica

domingo, 13 de março de 2016

Lembra quem era você antes da adulteração psíquica?

sexta-feira, 11 de março de 2016

Incesto Emocional

“Se quiser realmente conhecer um homem, dê-lhe autoridade.” — Provérbio

Algumas famílias escolhem – aleatoriamente – um filho, apenas um, para ser o “tutor” da família. A partir desse recrutamento os esfor­ços desse filho não mais serão dirigidos para suas necessidades de crian­ça, mas sim para ações adultas destinadas a unir, proteger e estabilizar a família desajustada. Os meninos educados desse modo receberam, de alguns psicólogos, o nome “Personalidade Atlas” – deus grego condena­do a suportar o céu nos ombros para impedi-lo de amassar a Terra.

Os estudos mostram que muitas dessas famílias são dominadas por uma mãe poderosa, egocêntrica, emocionalmente instável e pron­ta para xingar e explodir sob qualquer pretexto. Estas mães têm sido diagnosticadas pelos psiquiatras como possuidoras de um transtorno de personalidade ”limítrofe” (borderline), onde se inclui a irritação, impulsividade, tentativas de suicídio, autolesão, sentimento crônico de vazio, pavor de ser abandonada, além de terem um sentido da realidade diferente do das outras pessoas. Essas mães esperam, e exigem, que o resto da família aceite e apoie seu ponto de vista acerca de tudo o que ocorre à sua volta. Só ela tem razão, os outros estão sempre errados. Responde com explosões de ira às frustrações e decepções e, quase sempre, acusa os familiares ou parentes de fazerem “pouco caso” dela.

É nesse ninho disfuncional que desenvolve o filho, ou filha, des­tinado a suportar, apaziguar e resolver as misérias e “loucuras” ali exibidas a todo momento. Sua resposta precisa ser rápida e capaz de pôr fim às exigências extravagantes da mãe egocêntrica e possessa. A culpa da vida desestruturada e sem objetivo dos pais é colocada no infeliz e tolerante filho escolhido. Ele é forçado a participar e tomar partido nas brigas tolas dos pais: em qual programa a TV deve estar ligada, ou quanto tempo cada um deve ficar no banheiro.

O filho altruísta, nessas ocasiões, é acusado por ambos de es­tar tomando o lado de um ou de outro deles. Este sofredor deverá ouvir as histórias chatas dos pais, consolá-los com palavras vazias e adocicadas, franzir a testa e mudar o tom de voz para demonstrar preocupação com as queixas acerca da saúde, da estabilidade e da sobrevivência deles. Como guardião da imagem da família falida, o escolhido, ainda muito cedo, deve se engajar em atividades designa­das para eliminar, camuflar ou, no mínimo, diminuir os danos exibi­dos pela família. Muitos desses pais exigem sua ajuda em situações delicadas como tomar a responsabilidade em falcatruas e obrigar um dos irmãos a tomar decisões cruciais.

Geralmente a escolha é feita cedo. Pouco a pouco esse filho passa a exercer o papel de “pai e mãe” da família, participando dos diversos problemas que seriam próprios dos progenitores. Ele opina acerca do que a mãe terá de fazer ao descobrir que o pai tem uma amante, a cuidar do alcoolismo da mãe. Esse papel é exercido com frequência pelas crianças cujas mães são alcoólatras. É esse filho que vai buscar soluções para pagar as dívidas da família, opinar e decidir se os pais devem ou não se separar, ou, ainda, se devem voltar a mo­rar juntos. Alguns pais consultam o filho acerca de terem ou não mais um filho, ou se seria melhor praticar um aborto. Também esse infeliz poderá dizer ao pai, inventando uma mentira, que sua mãe foi fazer compras, quando esta, de fato, estava com o namorado.

Muito cedo aprendem a cozinhar, limpar, comprar e cuidar dos irmãos mais novos, inclusive impedindo-os de ver a mãe cambalear ou desmaiar. Fazendo o papel de “mãe” da mãe, elas ajudam-na a comer, fazer sua higiene ou a ir-se deitar. Com o tempo, essa tarefa passa a ser realizada rotineiramente. Além de cuidar dos pais, essa criança mantém em segredo as informações negativas da família. Estas “escolhidas”, olhadas externamente, são elogiadas pelos pais, parentes e amigos, percebidas como perfeitas, cooperativas e “devo­tadas” aos pais. Isso as anima a continuar nesse caminho ingrato.

A criança escolhida para ser o “provedor”, pode exercer tam­bém a função de “esposo substituto” para o cônjuge desesperançado, solitário e infeliz. Caberá a ela fornecer ao cônjuge o apoio emocional e companhia que deveria vir do outro esposo. Para alguns autores essas crianças são vítimas de “incesto emocional”, uma forma séria de abuso por ser a criança seduzida a fazer um papel familiar que não compete a ela e nem é esperado culturalmente.

Altamente treinados para esse trabalho de ajuda, mais tarde es­ses “pacientes” preocupados e sensíveis aos problemas dos outros, não de si mesmo, provavelmente encontrarão outros exploradores e, explorados por esses, irão ocupar posições de responsabilidade, continuando a fazer o que aprenderam precocemente: ajudar as pes­soas a qualquer preço. Casam-se, muitas vezes, com mulheres tendo o mesmo perfil de sua mãe e cuidam delas para sempre. Estes santos ou altruístas fanáticos, que viveram orientados pelos problemas alheios e não pelos próprios, morrerão, possivelmente infelizes e arrependi­dos, por não terem escolhido, há muito, um caminho diferente do trilhado.

Galeno Alvarenga

quinta-feira, 10 de março de 2016

Como se recuperar da adulteração psíquica?

quarta-feira, 9 de março de 2016

Adultos adulterados adulterantes

A importância do resgate do poder de empatia


Poderia um grande milagre acontecer para que nós olhássemos através dos olhos dos outros, por um instante.” Henry David Thoreau
E se um milagre acontecesse e pudéssemos sentir o que as outras pessoas sentem, como seria?

Dentro das pessoas passam coisas que você não vê, sentimentos que você não sente. Cada um é formado por histórias, que podem conter lutas, partidas, desencontros, amores não vividos, doenças, mortes, perdas. Histórias nem sempre são bonitas, a vida nem sempre é alegria.

Colocar-se no lugar do outro é nos livrarmos de todas as verdades, princípios e valores que temos. É colocar-se no lugar do outro com a mente nua. Por um instante sentir tudo que ele sente, suas dores, seus valores, sua vida. É um processo doloroso, pois se o outro sente dor, sentirei dor. Se sente tristeza, sentirei tristeza. Sentiremos os sentimentos bons e ruins.

Assim saímos da inercia, apatia e frieza, passamos a um estágio de mais sensibilidade. Este estágio nem sempre é prazeroso, pois começamos a perceber que as pessoas sofrem mais do que imaginávamos. Mas, através disso, chegamos a uma compreensão mais profunda da humanidade.

Empatia” surgiu da palavra grega empátheia, que significa “entrar no sentimento”. Para alcançarmos este estágio é necessário deixar de lado nossos próprios pontos de vista e valores para podermos entrar no mundo do outro sem julgamentos. A empatia é essencial nos relacionamentos, pois você começará a ouvir com a intenção de entender e não de argumentar.

A essência de escutar com empatia não é concordar, mas entender profundamente o que o outro quer dizer e principalmente, o que está sentindo. Em todo relacionamento, seja amoroso, de trabalho, familiar ou entre amigos a empatia é uma forma de minimizar conflitos e expandir a compreensão.
“Se, por um instante, você pudesse estar no lugar dos outros, ouvir o que eles ouvem, ver o que eles veem, sentir o que eles sentem, você os trataria diferente?”
Pense nisso, a empatia é um ato de amor!

sexta-feira, 4 de março de 2016

Não é fácil nadar contra a maré

Aquele que desperta para o fato de que o desafio contemporâneo é um primeiro lugar individual e somente em segundo lugar um desafio social, talvez não, a princípio, capaz de encontrar um meio de afeiçoar a sua vida exterior mais de acordo com o ideal da sua vida. Mas se quiser pesar o que deseja com o que precisa sacrificar para obtê-lo, descobrirá frequentemente que incidiu no erro comum de tomar o ambiente habitual pelo ambiente indispensável. O homem comum não dá tento do quanto é presunçosa a sua concepção, assim como não sabe que a sua presunção oferece resistência à intuição mística do interior e aos ensinamentos da verdade do exterior. 

Até há pouco tempo era costumeiro relegar os partidários do misticismo ao asilo da credulidade, da fraude e até da loucura. Num certo número de casos individuais, os críticos estavam perfeitamente justificados em fazê-lo, pois quando o pretenso místico perde o seu curso reto, desvia-se facilmente para uma dessas aberrações. Mas condenar por atacado todo misticismo somente por causa da lamentável situação de uma parte dele, é injusto e constitui, por si mesmo, um método desequilibrado. As pessoas que se intitulam sensatas, normais e práticas em todo o mundo, são na verdade, menos capazes de enfrentar a crise do que algumas das chamadas sonhadoras tolas, anormais e destituídas de espírito prático, e apelidadas de maníacas, fanáticas e excêntricas. E, todavia, isso não é tão estranho, afinal de contas. Quando homens como Jesus, Buda e Sócrates apareceram pela primeira vez, eles e os seus adeptos foram cognominados de maneira semelhante. Eles também foram os hereges do seu tempo, simplesmente porque se recusavam a congelar-se no materialismo autodestrutivo da sociedade convencional.

As pressões sociais podem impedir um homem de viver em conformidade com ideias que as contrariam. Se ele não quiser abandonar a comunidade, terá de abrir mão das suas ideias, modificá-las ou escondê-las. Um ajustamento compulsório dessa natureza não é bom para os seus nervos nem para o seu caráter. É um comentário irônico sobre a natureza da nossa civilização que tanta coisa que é de perene veracidade nas ideias místicas e tão conhecida dos antigos asiáticos, impressione muitos modernos como sendo tão nova, ou porque nunca tenham ouvido falar nela, ou porque, tendo ouvido falar nela, eles a ignoraram completamente. 

Ideias estranhas e desconhecidas desse gênero, que colidem com as ideias há muito tempo esposadas pela sociedade ou perturbam as que foram recebidas por convenção, surgem contra a natureza humana, cuja primeira resposta instintiva é contradizê-las. Isto ainda se verifica até quando houve fatos, provas e indícios solidamente estabelecidos. Tal é o poder de um hábito de uma vida inteira e a força de uma opinião preconcebida! O reformador que procura sobrepujá-los escala uma íngreme ladeira. Só os chamados fanáticos e excêntricos se dispõem a ouvi-lo. Os demais que também o ouvem fazem-no malgrado seu, quando têm a mente desesperada ou o corpo quebrado. 

Não é agradável nadar contra a corrente da sociedade em nome de um individualismo místico; na verdade, é algo heroico, algumas vezes. A ideia de modificar os hábitos rotineiros e de livrar-se de tendências adquiridas durante toda uma vida, apavora e enfada a maioria das pessoas. Estas se tornaram vítimas dos hábitos que prevaleceram à sua volta e as próprias tendências assumiram existência assim psicológica como física, convertidas em fixações profundamente arraigadas no interior da mente subconsciente. Entretanto, o sofrimento estará à espera dessas vítimas se elas insistirem em permanecer prisioneiras do seu próprio passado cediço e não se acomodarem à concepção diferente agora exigida. Por que haveriam elas de obstinar-se em conservar as condições passadas de pensamento ou os padrões ancestrais de resposta sempre que estes se revelassem incapazes de satisfazer às exigências presentes? 

Todo homem se acha, até certo ponto, sob a tutela das massas. A todo momento influem nele sugestões recebidas da multidão. Ele é mais ou menos um escravo — escravo das formalidades sociais, escravo das instituições estabelecidas, escravo de códigos convencionais e escravo da opinião pública. Se bem essa escravidão fosse muito pior em outros tempos, mesmo em nossa época pouca gente pensa, sente e age plena e livremente de acordo apenas com a sua vontade individual. É mais provável que o homem pense, sinta e aja, em grande parte, de acordo com o que tiver sido sugerido por outras pessoas. Daí que ele dificilmente viva a sua própria vida independente ou obedeça ao seu próprio eu interior mas, como toda a gente, vive a vida da multidão. Ainda que alguma parte da sua atitude para com a vida seja inata, a maior parte não o é. É-lhe imposta pela instrução e pelos ensinamentos que recebeu, pelos ambientes cujas influências ele aceita e pelos padrões convencionais a que ele se conforma. Quando uma concepção de mundo é tão amplamente afeiçoada pela sugestão externa, a necessidade de pensar por si mesmo torna-se, ao mesmo tempo, uma virtude primária e um fator necessário da saúde mental.

A multidão humana está emergindo da adolescência e, aqui e ali, semiconscientemente, está-se preparando para a sua maioridade. Novas esferas de experiências estão-se abrindo para ela. Urge que ela aceite parte da responsabilidade de pensar por si mesma, que lhe advém com a aproximação da maturidade. Ela se encontra hoje numa posição intelectual que é muito diferente daquela em que se encontraram todos os seus antepassados. Já não é o simples agarrar-se da criança aos vestidos da autoridade e o acatar cegamente as determinações do seu líder. Ela, hoje, precisa começar a descobrir o seu caminho por si mesma e a compreender por que segue essa determinada direção. A História ingressou numa época em que as massas precisam começar a descobrir por si mesmas e em si mesmas a verdade que, antigamente, lhes era transmitida e, muito adequadamente, era aceita por elas, em cega confiança, de outros homens. Agora é mister que elas se preparem para abandonar esse adolescente depender de outros. O destino já não lhes permitirá que dependam indevidsamente e apenas do amparo da autoridade externa; — elas precisam aprender também a depender da sua própria e crescente inteligência. Uma criança que for sempre carregada pela mãe, desde a infância até a maturidade, nunca aprenderá a caminhar e se tornará, na realidade, fraca demais até para ficar em pé. É forçoso que ela tente e tropece, e até caia, às vezes, antes que os seus membros possam ser usados com eficiência.

Se a vida se tornar exclusivamente autoritária, se o homem da massa se sujeitar a ter todo o seu pensar, todo o seu responder e todo o seu viver levado a cabo por outros, acabará ficando demasiadamente enfraquecido ou debilitado para pensar, responder e agir por conta própria. Pois quando é incapaz de ter ter um pensamento que não tenha recebido de fora, quando não toma uma única decisão sua, mas vive recorrendo aos outros para que a tomem por ele, como poderá crescer? Todos precisam agora começar a libertar-se das sugestões raciais que lhes foram impostas, precisam começar a assumir, por esforço próprio, as suas atitudes individuais para com a vida. Já não é sem tempo que o homem revele, ainda que vagamente, alguns dos atributos da maturidade que aurorece. Precisa começar a colocar de parte a passiva aquiescência irrefletida e tornar-se mais responsável pelas suas próprias crenças e pela sua própria vida.

Uma das primeiras coisas que o estudante de Filosofia descobre como consequência dos seus estudos semânticos é a tremenda influência que a sugestão exerce na vida humana, e um dos primeiros problemas que ele enfrenta é separar os hábitos, os pensamentos e as emoções de outras pessoas dos seus hábitos, pensamentos e emoções. Isso, todavia, é difícil, porque são quase indistinguíveis dos seus — ambos funcionam juntos dentro do seu coração e sobre ele. Ideias e impulsos nascidos dentro dele têm de misturar-se com os de origem externa e até de ser submergidos por eles.

Nenhum professor é realmente indispensável, muito embora todos eles sejam sempre úteis. A Vida e as suas experiências, a Natureza e os seus silêncios, a Reflexão e as suas conclusões, a Meditação e as suas intuições, proverão ao que busca o de que ele necessita. Cumpre-lhe encontrar nas lutas e nas dificuldades da vida um ginásio em que possa exercitar a sua razão e acrescentar a sua capacidade, e não uma desculpa para buscar o conforto de segunda mão de uma sociedade sobre cujos ombros são colocados todos os fardos. Pois ele está aqui essencialmente para revelar as suas próprias faculdades de intuição e inteligência; ele está aqui essencialmente para obter uma compreensão da existência para si e por si mesmo. Além disso, ele deve compreender que as dores e os sofrimentos da vida ajudam a purgá-lo dos seus apegos e a suscitar o seu conhecimento latente de que este mundo do vir-a-ser será sempre imperfeito, de modo que ele possa voltar o o rosto para o mundo do ser que é sempre perfeito.

A evolução, ao mesmo tempo, é um fato tremendo e uma força sempre premente. Impele toda vida para a frente e para cima. Mas esse duplo movimento não pode realizar-se sem ultrapassar e negar os seus estádios anteriores. Por isso mesmo, o homem precisa libertar-se das suas antigas servidões. Precisa começar a procurar em si mesmo, em seus próprios recursos, latentes e maravilhosos, a ajuda de que precisa. Pois tudo isso é o primeiro passo para o passo final, encontrar a divindade dentro de si mesmo, o que, afinal de contas, é o supremo e grandioso objetivo das suas encarnações terrestres.

É necessário, contudo, não incidir em erro aqui. O que se quer dizer é que, enquanto o egoísmo do ego deve agora ser atenuado, a capacidade do ego de julgamento individual, ao mesmo tempo, tem de ser aumentada.

Paul Bunton

quinta-feira, 3 de março de 2016

Sem base emocional, não há real maturidade

[...]As pessoas não sabem, mas deveriam ser instruídas nesse sentido, que tudo o que acontece em todo o mundo é um quadro, em tons exagerados, do que está acontecendo no interior delas mesmas, em grau variável. Alguns mais, outros muito menos, entregaram suas vidas interiores ao domínio da animalidade e do materialismo conjugado e, todavia, não o sabem. Dessa forma, a mesma regra, porém de modo mais espetaculoso e mais cruel, está tentando desapiedadamente tomar conta de suas vidas exteriores. Trouxeram consigo os remanescentes de vigorosas propensões do estado animal da sua existência, e aduziram a isto um intelecto astuto, mal dirigido e egoísta, derivado do estado humano presente. Os animais matam porque têm fome, mas os homens são piores, na medida em que a posse da qualidade da astúcia os leva a matar ou torturar por outros motivos também. Violentas energias e paixões explosivas fazem muito barulho em seus corações. Desejos que arrastam para baixo prendem-nos entre presas aguçadas. Instintos agressivos perambulam como tigres e suspeitas tenebrosas rojam como víboras no interior das suas mentes conscientes ou subconscientes. Cobiças egoístas têm um firme habitat em suas atitudes. Ódios, acrimônias e lascívias agitam-se por dentro e são fomentados por fora. 

Inevitável e inescapavelmente esses pensamentos bestiais assumem a forma exterior e surgem as lutas históricas. Como poderá a verdadeira paz entrar no mundo enquanto a mentalidade da luta feroz não o tiver deixado? Nenhuma lei, nenhum governo, poderão colocar freio, até certo ponto, às suas expressões em ação. O estadista poderá regulá-los dentro de certos limites, mas não passará disto. Sempre que essa mentalidade puder dominar, não somente envenenará o ser interior, mas também contribuirá para a experiência exterior. A cólera sentida hoje poderá manifestar-se amanhã no plano físico como um acidente em que o seu portador, caindo, se machucará — este é apenas um incidentezinho que ilustra a importância do autocontrole e o valor do pensamento correto. 

Onde quer que as pessoas tenham de viver juntas num lar, ou trabalhar juntas num campo, numa fábrica, num escritório ou numa firma, a presença de uma única personalidade agressiva e indisciplinada entre elas bastará a criar dificuldades ou a provocar brigas. Por aí podemos perceber os benefícios que a insistência de todos os guias espirituais no autotreinamento e no auto-aperfeiçoamento pode acarretar ao viver social. Isto ensina os homens a alçar-se à sua natureza superior e a manter sujeita a sua natureza inferior. Na medida em que eles forem capazes de fazer uma coisa dessas, a sociedade se beneficiará com eles. Mas na medida em que as advertências dos profetas são menosprezadas e a sabedoria dos filósofos é posta de lado, manifestam-se a discórdia, as lutas e as guerras. 

Quando a emoção descontrolada se precipita na direção errada, seja na cólera, na lascívia, no ódio ou no orgulho, ela tende também a fugir com a paz e a felicidade. Torna-se um perigo para a pessoa e para a propriedade. Os que mais preponderam entre os complexos maus, que, sob a lei da recompensa, acarretam o sofrimento quando ativados, são os agressivos, os violentos, os explosivos e os egoisticamente passionais. As pessoas que querem conservar essas causas das suas dificuldades simplesmente porque são naturais ou familiares, mas não querem experimentar as próprias dificuldades, que a elas se seguem, inexoráveis, adotam uma atitude ilógica. Enquanto as iras e as concupiscências, os ódios e as lubricidades não morrerem no coração dos homens, os conflitos e as contenções persistirão em suas vidas. E essa morte das paixões primitivas só se verificará com a entrega total do ego ao Eu Supremo. Os que o procuram não são muitos: os que o conseguem, pouquíssimos. A paz na terra é um nobre sonho; a sua plena realização está muito distante (se bem a sua realização limitada não esteja) enquanto um número maior de pessoas não vier a procurá-lo neste, que é o único caminho verdadeiro e duradouro. Cada indivíduo precisa lidar com a sua natureza inferior por si mesmo e em si mesmo, precisa opor-lhe o intelecto, em lugar de fazer que o intelecto se sujeite a ela. Isto feito, não somente ele aproveitará, mas também todo o seu povo. 

A humanidade precisa aprender a governar as suas violentas paixões negativas, as suas emoções agressivas e os seus hostis pensamentos destruidores, precisa começar a lutar contra si mesma se quiser, um dia, abster-se de lutar contra os outros, precisa crescer, perder a sua maturidade emocional adolescente e elevar-se, deixando de lado as suas atitudes infantis, totalmente egocêntricas. A busca da paz dentro de si mesma deve preceder e, assim, inevitavelmente, criar a paz no mundo sem paz. O desequilíbrio universal, em parte, é o resultado da incapacidade de reconhecer que não basta ser fisicamente maduro, que ainda é necessário ser emocional, intelectual e espiritualmente maduro.

É um fato de que a vida espiritual está fora da visão e além do poder de muita gente hoje em dia. Se perquirirmos as causas disso, chegaremos à conclusão de que essa gente se escravizou por tanta maneira à sua natureza inferior, tornou-se tão suscetível às sugestões e aos ambientes externos materialistas, que só as coisas que ela pode tocar, sentir e ver com os seus corpos têm para ela alguma realidade ou algum significado. Só essas coisas atraem essa gente, e não as coisas mais belas da mente e da intuição, nem os ideais mais sublimes da intuição. 

O que a sabedoria dita e a experiência endossa é que, para a humanidade poder conhecer um mundo melhor será preciso que melhores pensamentos e melhores sentimentos da humanidade sejam o prelúdio dessa desejável condição. A noção de que ela poderá ter uma ordem melhor de sociedade sem se preocupar em melhorar-se primeiro, é uma noção ociosa. E para que o começo seja real e não um começo simulado, a reforma há de começar com o caráter humano. Pois do seu longo passado, ela trouxe um resíduo de qualidades e sentimentos que pertencem naturalmente ao reino sub-humano, às feras selvagens e vorazes do jângal. Foi a sua combinação com o intelecto frio e impiedoso que deu em resultado os homens megalomaníacos, desordenadamente ambiciosos, os quais, por seu turno, conduziram tantos outros pelas estradas da discórdia, do egoísmo e do ateísmo para o que, afinal, só pode ser o desastre e a condenação.[...]

Paul Brunton

quarta-feira, 2 de março de 2016

Qualquer coisa é melhor do que a verdade

A experiência nos ensina que temos apenas uma única arma duradoura na luta contra as doenças mentais: a descoberta e a aceitação da história, única e específica, de nossa infância. É possível nos libertarmos totalmente das ilusões? Toda e qualquer vida é cheia de ilusões, talvez porque a verdade nos pareça insuportável. Mesmo assim, a verdade nos é tão essencial, que o preço por sua perda é adoecer gravemente. Dessa forma, procuramos descobrir, por meio de um longo processo, nossa verdade pessoal, aquela que, antes de nos brindar com um novo nível de liberdade, dói continuamente — a menos que nos contentemos com um reconhecimento intelectual. O que nos faz permanecer na esfera da ilusão. 

Não podemos mudar em nada nosso passado, não podemos desfazer os males que foram imputados na infância. Mas podemos nos mudar, "consertar", reconquistar nossa integridade perdida. Isso é possível à medida que decidimos observar mais de perto o conhecimento sobre o passado arquivado em nosso corpo, e colocá-lo mais perto de nossa consciência. Certamente, é um caminho desconfortável, mas é o único que nos oferece a possibilidade de, finalmente, deixar a invisível (e ao mesmo tempo cruel) prisão da infância, nos transformando de vítimas inconscientes do passado em pessoas responsáveis, que são cientes de sua história e, com isso, capazes de conviver com ela. 

A maior parte das pessoas faz exatamente o contrário. Não quer saber nada de sua história e, dessa forma, não sabe que, no fundo, é continuamente determinada por essa história, pois vive situações não-resolvidas, reprimidas na infância. Não sabe o que teme e evita perigos que um dia foram reais, mas que hoje não existem mais. Essas pessoas são impulsionadas por lembranças e necessidades inconscientes que, frequentemente, determinam de maneira mais perversa quase tudo o que fazem ou falhem no seu fazer — enquanto permanecerem inconscientes e não-resolvidas.

A repressão aos maus-tratos sofridos no passado leva algumas pessoas, por exemplo, a destruir a própria vida e a vida de outros, incendiar casas de estrangeiros, promover vinganças, tudo em nome de um "patriotismo", a fim de ocultar a verdade de si mesmas e sentimentos de desespero de uma criança torturada. Outras reproduzem ativamente o sofrimento a que foram submetidas, em clubes de flageladores, em cultos a sacrifícios de todos os tipos, no mundo sadomasoquista, chamando a tudo de libertação. As mulheres furam seus mamilos para pendurar brincos, posam para jornais e contam, orgulhosas, que não sentiram dor e que se divertiram com isso. Não há do que duvidar nessas informações, pois essas mulheres tiveram de aprender muito cedo a perder a sensibilidade. E o que não fariam hoje em dia para não sentir a dor da garotinha que sofreu abuso sexual pelo seu próprio pai, e precisou imaginar que o atentado fora prazeroso? Uma mulher que sofreu abuso sexual quando criança, que negou a realidade de sua infância, está constantemente fugindo dos acontecimentos passados — com a ajuda de amantes, álcool, drogas ou ações excepcionais. Ela precisa estar continuamente "ligada", a fim de não sucumbir ao "tédio", não pode se permitir um segundo de tranquilidade, quando seria possível sentir a ardente solidão da realidade de sua infância, pois teme esse sentimento mais do que a morte — a menos que tivesse a sorte de aprender que o reavivamento  e a consciência dos sentimentos da infância, não matam, libertam. O que não raro mata é reprimir os sentimentos, cuja experimentação consciente poderia nos revelar a verdade.

Durante a infância, Michael sofreu  constante abuso
de seu pai, que o batia frequentemente e o aterrorizava
psicologicamente. Os ensaios eram supervisionados
pelo pai com um cinto na mão.  
A repressão dos sofrimentos da infância determina não só a vida do indivíduo como também os tabus da sociedade. Conhecidas biografias ilustram isso de maneira muito clara. Ao ler a biografia de artistas famosos, por exemplo, notamos que suas vidas começam em algum ponto da puberdade. Antes disso, o artista teve uma infância "feliz" ou "sem preocupações", ou ainda, "cheia de privações" ou "muito estimulante", mas o modo como a infância de cada um transcorreu parece ser de absoluto desinteresse.  Como se na infância não estivessem escondidas as raízes da vida toda. Gostaria de ilustrar o fato com um exemplo simples.

Em suas memórias, Henry Moore escreveu que, quando menino, podia massagear as costas de sua mãe com óleo para reumatismo. Ao encontrar essa passagem no livro, subitamente, fiz uma leitura muito pessoal das obras de Morre: mulheres grandes, reclinadas, de cabeças pequenas — nelas vi a mãe pelos olhos do garoto, cuja perspectiva diminuía a cabeça e percebia como imensas as costas próximas. Isso pode ser irrelevante para os críticos de arte. Mas, para mim, é um indício de quão fortemente as experiências de uma criança podem se conservar no inconsciente, e que possibilidades de expressão podem despertar quando o adulto está livre para admiti-las.

Nesse caso, a lembrança de Moore não era nociva e pôde sobreviver intacta. Mas todas as experiências traumáticas da infância permanecem no escuro. Nesse escuro ficam também escondidas as chaves para a compreensão da vida posterior.

Alice Miller em, O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill