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domingo, 28 de junho de 2015

O Sublime: uma experiência de bem-aventurança

A imaginação perverte o percebimento de o que é; no entanto, como nos orgulhamos de nossa imaginação e de nosso especular. A mente especulativa, com seus pensamentos complicados, não é capaz de transformação fundamental; não é uma mente revolucionária. Vestiu-se como deveria ser e está seguindo o padrão de suas próprias projeções limitadas, confinantes. O que é bom não está no que deveria ser, mas na compreensão do que é. A mente tem de por de lado toda imaginação e especulação para que o Real tenha existência.

Ele era moço ainda, mas chefe de família e conceituado homem de negócios. Parecia muito preocupado e atribulado, e ansioso por dizer alguma coisa.

"Há tempos ocorreu-me uma experiência verdadeiramente extraordinária, e como nunca relatei a ninguém não sei se sou capaz de a descrever com clareza para você; espero que sim, pois não há ninguém mais a quem possa me dirigir. Essa experiência arrebatou-me completamente o coração; entretanto, foi-se e dela só me resta a vã lembrança. Talvez você possa ajudar-me a captá-la novamente. Vou relatar-lhe com a possível exatidão o que foi esse estado abençoado. Tenho lido a respeito dessas coisas, mas tudo o que li não passava de vãs palavras, que só me falavam aos sentidos; o que me aconteceu foi uma coisa fora da esfera do pensamento, da esfera da imaginação e do desejo, e eu a perdi. Rogo-lhe para que me ajude a recuperá-la". Calou-se por um instante, e continuou:

"Uma certa manhã despertei muito cedo; a cidade ainda dormia e seus rumores ainda não haviam começado. Senti-me impelido a sair; vesti-me rapidamente e saí para a rua. Nem sequer o caminhão do leite havia começado a circular. A primavera estava em início e o céu era de um azul pálido. Apoderou-se de mim um forte sentimento de que deveria ir ao parque, distante cerca de uma milha. Desde o instante em que transpus a porta da rua, veio-me um estranho sentimento de leveza, como se estivesse caminhando no ar. O edifício fronteiro, um desgracioso conjunto de apartamentos, perdera toda sua fealdade; até os tijolos pareciam mais vivos e luminosos. Todo objeto insignificante, que eu de ordinário não teria sequer notado, parecia dotado de uma qualidade extraordinária, peculiar e, coisa estranha, tudo parecia parte de mim mesmo. Nada estava separado de mim; com efeito, o "eu", como observador, como percipiente, tinha-se ausentado, se você percebe o que quero dizer. Não havia "eu" separado daquela árvore ou do jornal jogado na sarjeta ou das aves que chamavam umas às outras. Era um estado de consciência que eu nunca antes experimentara."

"No caminho do parque", prosseguiu, "havia uma loja de flores. Centenas de vezes passei por ali e de cada vez não dava mais do que um simples relance de olhos para as flores. Mas naquela manhã parei diante da loja. A vitrine estava ligeiramente embaçada, do calor e da umidade interiores, mas isso não me impedia de ver as diversas variedades de flores. Enquanto ali estava, a contempla-las, comecei a sorrir e a rir, possuído de uma alegria nunca experimentada anteriormente. As flores estavam a falar-me e eu a falar com elas; sentia-me misturado com elas, elas faziam parte de mim mesmo. Ao dizer-lhe isso poderei dar-lhe a impressão de que me achava num estado histérico, ligeiramente privado de razão; mas não era assim. Vestira-me com muito cuidado, perfeitamente cônscio dos meus atos, escolhendo peças limpas de vestuário, consultando o relógio, vendo os letreiros das lojas, inclusive o de meu alfaiate, e lendo os títulos dos livros expostos na vitrine de uma livraria. Tudo era vivo e eu amava todas as coisas. Eu era o perfume daquelas flores, mas não havia "eu" a cheiras as flores, se você entende o que quero dizer. Não havia separação entre elas e mim. Aquela loja de flores apresentava um fantástico espetáculo de cores, de uma beleza que parecia extasiante, pois o tempo e sua medida haviam cessado. Devo estar ali mais de vinte minutos, mas garanto-lhe que não tinha noção nenhuma de tempo. Foi-me difícil partir de perto daquelas flores. O mundo de luta, de dor e sofrimento era inexistente naquela hora. Com efeito, num tal estado as palavras são sem significação. As palavras são descritivas, discriminativas, comparativas, mas naquele estado não existiam palavras. "Eu" não estava experimentado; só havia um estado — a experiência. O tempo cessara: não havia passado, presente ou futuro. Só havia — Oh! Não sei expressá-lo por palavras, mas não importa. Havia uma Presença — não, não é esta a palavra. Era como se a Terra, com tudo o que nela e sobre ela existe, tivesse recebido uma benção dos céus, e eu, dirigindo-me para o parque, fazia parte dela. Ao aproximar-me do parque, fiquei completamente fascinado pela beleza daquelas árvores familiares. Do amarelo pálido ao verde mais escuro, as folhas dançavam cheias de vida. Cada uma das folhas destacava-se, separadamente, e toda a riqueza da Terra se concentrava numa única folha. Senti o coração acelerar-se; tenho um coração robusto, mas mal podia respirar, ao entrar no parque, e pensei desmaiar. Sentei-me num banco, as lágrimas rolavam-me pelas faces. Rodeava-me um silêncio verdadeiramente intolerável. Mas esse silêncio estava purificando todas as coisas, lavando-as da dor e do sofrimento. Ao internar-me mais no parque, havia música no ar. Fiquei surpreso, pois não havia vasas nas imediações e por certo ninguém teria levado um rádio para o parque àquela hora da madrugada. A música fazia parte daquela totalidade. Toda a bondade, toda a compaixão do mundo estava presente naquele parque, Deus estava ali."

"Não sou teólogo nem muito menos religioso", continuou, "já entrei pelo menos uma dúzia de vezes numa igreja, mas isso nunca teve muita significação para mim. Não suporto o amontoado de absurdos que se presencia numa igreja. Mas naquele parque estava presente um Ser, se se pode empregar tal palavra, no qual todas as coisas viviam e agiam. As pernas me tremiam, forçando-me a sentar-me novamente, recostado numa árvore. O tronco era uma entidade viva como eu, e eu fazia parte daquela árvore, daquele Ser, do mundo. Devo ter desmaiado. Aquilo fora excessivo para mim: as cores intensas e vivas, as folhas, as pedras, as flores, a incrível beleza de todas as coisas. E, por sobre tudo aquilo, a benção de..."

"Quando tornei a mim já era nado o sol. Em geral, levo uns vinte minutos, a pé, até o parque; mas já fazia quase duas horas que eu saíra de casa. Fisicamente, sentia-me sem forças para voltar a pé; e, assim, deixei-me ficar ali, sentado, reunindo as forças e sem ousar pensar. Ao voltar para casa, lentamente, levava comigo, toda inteira, aquela experiência; durou ela dois dias e, tão subitamente como viera, desapareceu. Começou então o meu tormento. Durante uma semana inteira não cheguei, sequer, às proximidades do meu escritório. Queria de volta aquela experiência extraordinária, viva, queria tornar a viver, e para sempre, naquele mundo beatífico. Tudo isso aconteceu há dois anos. Andei pensando seriamente em ir-me para um recanto solitário do mundo, mas o coração me dizia que não a recuperaria dessa maneira. nenhum mosteiro pode oferecer-me aquela experiência; não a encontrarei em nenhuma igreja cheia de velas acesas e onde só nos oferecem a morte e a escuridão. Pensei em partir para a Índia, mas abandonei também tal idéia. Experimentei então uma certa droga; ela me fez mais vívidas as coisas, etc., mas não é de narcóticos que eu preciso. Isso é querer comprar muito barato o "experimentar"; e o que se tem é uma ilusão e não uma coisa real".

"Aqui estou, pois", concluiu. "Tudo eu daria, minha vida e todos os meus haveres, para viver de novo naquele mundo. Que devo fazer?"

Ele veio a você, sem você o ter chamado, senhor. Você nunca o procurou. Enquanto você estiver procurando, não o terá nunca. Justamente o desejo de tornar a viver aquele estado extático, está impedindo a vinda do novo, a experiência nova daquela suprema felicidade. Veja o que aconteceu: você teve aquela experiência e está vivendo agora da lembrança morta de ontem. "O que foi" está impedindo a vinda do novo.

"Você quer dizer que devo pôr fora e esquecer tudo o que foi e ir arrastando de dia em dia minha insignificante existência, interiormente esfomeado?"

Se você não continuar a relembrar e a pedir mais — o que constitui um verdadeiro esforço — será então possível que aquela mesma coisa que escapa inteiramente ao nosso controle, atue por sua vontade própria. A avidez, mesmo com um alvo sublime, só pode gerar sofrimento; a ânsia de mais abre a porta do desejo. Aquela bem-aventurança não pode ser comprada com nenhum sacrifício, nenhuma virtude, e nenhuma droga. Ela não é uma recompensa, um resultado. Vem espontaneamente; não a busque.

"Mas aquela experiencia foi real, veio da esfera do Sublime?"

Sempre queremos que outra pessoa confirme um fato ocorrido, nos dê certeza a respeito dele, para ficarmos abrigados nesta certeza. Tornar-se certo ou seguro em relação ao que foi, ainda que tenha sido o Real, significa fortalecer o irreal e gerar a ilusão. Trazer para o presente o que passou — agradável ou desagradável — é fechar a porta ao Real. A Realidade não tem continuidade. Ela existe momento por momento; é atemporal, imensurável.

Krishnamurti

sábado, 27 de junho de 2015

O vazio da existência e a resistência ao vazio

Um dos maiores desafios no processo de autoconhecimento e transformação pessoal é saber lidar com o vazio existencial que emerge, especialmente, em momentos de crise. Um dia acordamos e ele simplesmente está lá, instalado em nós. Não sabemos nem queremos saber de onde veio nem por quê nem pra quê, mas sabemos que queremos que ele desapareça o mais rápido possível. E para isso estamos dispostos a pagar qualquer preço, fazer qualquer loucura, consumir qualquer besteira, desatinar qualquer absurdo usando as 3 táticas clássicas - anestesiar, escapar ou entupir o vazio com todo tipo de lixo.

Ignorado nas mídias sociais, inexistente no "show business", negado no mundo corporativo e incompreendido pela maioria, o vazio e seus afluentes esvaziantes foram amaldiçoados pela nossa cultura liquefeita e hiperacelerada que tanto valoriza a superfície, o banal, o instantâneo, o virtual e o fake. Segundo esta visão distorcida da realidade, se permitir estar no vazio é um crime a ser punido, uma doença a ser curada, um estado a ser evitado. Porém, o mais curioso deste processo é constatar que não importa o que façamos, nem a potência da droga que consumimos, o maldito vazio teima em escapar pelas frestas invisíveis da psique e sempre retorna sorrateiro para nos mostrar que há algo errado neste pantomima.

Não sei quando começou este processo de domesticação e negação do vazio, mas suspeito que começou no dia em que deixamos de nos aceitar como seres humanos que, as vezes, em meio à complexidade escaldante da vida, se estraçalham por aí, se perdem sem rumo na vida, desentendem o que lhes está acontecendo, colapsam, choram e sofrem suas dores e tremores variados, com seus percalços descalços, com seus medos bobos e imaturidades constantes. Sim, ser humano é um caos, as vezes criativo, as vezes dramático e quase sempre os dois juntos, e o vazio, sim, o vazio existencial está justamente aí para nos ajudar, para nos alertar, para nos mostrar que está na hora de sair da psicomatrix de mentiras e ilusões, que precisamos respirar, caminhar, dar um abraço, rir, sorrir, tomar sol e não fazer nada para resgatar o fio da meada de nós mesmos esquecido lá no fundo do poço da alma debaixo da montanha de lixo emocional que acumulamos desde sempre.

O vazio é um estado-portal que tem o poder de nos reconectar a n ós mesmos; é entre, através e além dele que podemos resgatar nosso caminho perdido, nossa vontade adormecida, nossos sonhos soterrados e nossa criatividade embotada. O vazio é um canal de resgate, de reencontro de reparo e reconexão. Estar, aceitar, ficar e sustentar o vazio pode ser, no começo, desesperador, angustiante, ansiolítico e enlouquecedor, mas negá-lo, fugi-lo ou entupi-lo sistematicamente é a mais vil das traições, a traição a nós mesmos, ao nosso melhor futuro e ao fluxo natural de verdades que desliza silenciosamente em nós esbanjando beleza e sabedoria.

Holoplex

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Você é realmente feliz?

Sua mente está em paz? Concluiu sua busca?[...] não existe tal coisa como paz mental. Mente significa perturbação; a própria inquietude é a mente. O ioga não é uma atributo da mente, nem tampouco um estado mental.[...] Examine-o com cuidado e verá que a mente está fervendo com pensamentos. Ocasionalmente, pode ficar vazia, depois de um tempo, ela volta para a inquietude habitual. Uma mente sossegada não é uma mente pacífica.

Você diz que quer pacificar sua mente. Quem quer pacificar a mente é, ele mesmo, pacífico?[...] Você não vê a contradição? Durante vinte anos buscou a paz mental, e não pode encontrá-la porque uma coisa essencialmente inquieta não pode estar em paz.

[...] A paz que assegura ter encontrado é muito frágil; qualquer coisa pode rachá-la. O que você se chama de paz é só ausência de perturbação. Dificilmente merece o nome de paz. A paz verdadeira não pode ser perturbada. Pode você reivindicar uma paz mental inexpugnável?

[...] O ser não necessita ser aquietado. É a própria paz, não algo que está em paz. Apenas a mente está inquieta. Tudo o que conhece é a inquietude em seus muitos modos e graus. O agradável é considerado superior e o doloroso é desestimado. O que chamamos progresso é meramente uma mudança do desagradável para o agradável. Mas as mudanças por si mesmas não podem levar-nos ao imutável, já que tudo o que tem um início deve ter um fim. O real não começa; apenas se revela a si mesmo como algo sem principio nem fim, todo-penetrante, todo poderoso, primeiro motor imóvel, eternamente imutável.

[...] Você diz que é feliz. Você é realmente feliz, ou você está apenas tentando convencer a si mesmo? Olhe para si mesmo sem medo e você irá perceber imediatamente que a sua felicidade depende de condições e circunstâncias, por isso ela é momentânea, não é real. A verdadeira felicidade flui de dentro.

Nisargadatta Maharaj

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O Presente da Impermanência

Há momentos em que tudo vem abaixo.

E, às vezes, no meio deste desastre, nos sentimos perdidos, abandonados, sem esperanças. Sentimos como se nosso caminho estivesse cheio de obstáculos, como se tivéssemos perdido nossa casa..

Mas espere. 

Se as coisas não tivessem vindo abaixo, como você poderia recordar Isso que nunca vem abaixo? 

Não foi a comoção deste desastre que forçou você a fazer uma pausa, respirar e contemplar verdades mais profundas? 

Não foi esta devastação que fez você recordar teu verdadeiro caminho, um caminho que jamais pode ter obstáculos?.

Você construiu teu mundo com coisas que são transitórias, impermanentes, não essenciais para a tua felicidade. 

O desmoronamento de teu mundo, agora se sente como um tanto cruel, como se fosse um castigo do Universo, uma piada de mau gosto. .

Mas há compaixão aí. 

A vida está tratando de desperta-lo de tua letargia espiritual. 

Ela te diz: não construas o teu mundo naquilo que muda, que não dura, que não é essencial. 

Construa o teu mundo na compreensão profunda de tua verdadeira natureza. 

Construa o teu mundo sobre a base mais sólida que há. 

Construa o teu mundo no amor..

Deixe que o impermanente te recorde o que é essencial.
.
Jeff Foster

sábado, 20 de junho de 2015

A importância da atenção

Você não é honesto nem desonesto; dar nome a estados mentais só serve para expressar sua aprovação ou desaprovação. O problema não é seu, é só de sua mente. Comece por dissociar-se de sua mente. Recorde-se absolutamente que você não é a mente, e que os problemas da mente não são seus. [...] Seja consciente de si mesmo, vigie sua mente, dê a ela toda sua atenção. Não busque resultados rápidos; pode ser que não note nenhum. Sem que você saiba, sua psique mudará, haverá mais claridade em seu pensamento, mais claridade em seus sentimentos, mais pureza em sua conduta. Não tem que trata de consegui-lo, ainda assim você testemunhará a mudança. Porque o que você é agora é a falta de atenção, e o que virá será o fruto da atenção.[...] Até agora sua vida foi obscura e inquieta. A atenção, o estado de alerta, a Consciência, a claridade, a vivacidade, a vitalidade, todas são manifestações de integridade, de unidade com sua verdadeira natureza. A verdadeira natureza é neutralizar a obscuridade e a inquietação e reconstruir a personalidade de acordo com a verdadeira natureza do Ser. A unidade com a verdadeira natureza é o servente fiel do ser, sempre atento e obediente. [...] A atenção quer dizer interesse e amor. Para conhecer, fazer, descobrir, ou criar, você deve dar o seu coração a ela o que significa atenção. Todas as bençãos fluem dela.[...] Dedique toda sua atenção ao mais importante de sua vida, você mesmo. De seu universo pessoal você é o centro; sem conhecer o centro, o que pode conhecer?

[...] O problema da humanidade não é outro senão o mau uso da mente. Todos os tesouros da natureza e do espírito estão abertos para o homem que utiliza a mente de forma correta. 

Nisargadatta Maharaj

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A compreensão da Verdade não requer tempo

Pode alguém compreender a verdade imediatamente, sem preparação? Pois eu digo que sim - não por alguma fantasia minha, nem por alguma ilusão, mas faça uma experiência psicológica com isso e verá. Aceite um desafio qualquer, qualquer incidentezinho - não fique à espera de uma grande crise - e veja como responde a ele. Tenha consciência dele, de suas respostas, de suas intenções, de suas atitudes e você as compreenderá, compreenderá o seu substrato. Asseguro-lhe que poderá fazê-lo imediatamente se prestar a isso toda a sua atenção. Se estiver procurando o sentido pleno do seu substrato, ele lhe revelará a sua significação e, então, você descobrirá, de um só golpe, a verdade, a compreensão do seu problema. A compreensão nasce do agora, do presente, sempre intemporal. O postergar, o preparar-se para receber o que é amanhã, é simplesmente impedir-se a si próprio de compreender o que é agora. Você se prepara para compreender amanhã o que só pode ser compreendido “agora”. Por conseguinte, você jamais compreenderá. Para perceber a verdade não se faz mister a preparação, preparação implica tempo e o tempo não é o meio de compreender a verdade. O tempo é contínuo e a verdade é intemporal...

Krishnamurti

Elementos essenciais de qualquer Experimento Habilidoso

Fator: Atenção Ativa tipo especial de vigilância  intensa, embora relaxada, que pode ser descrita como uma atitude “Fala, que estou escutando”, como autorização total ou aceitação total de minhas tendências, como vigilância ativa e precaução dirigida ao próprio surgimento do pensamento e das emoções. Trata-se de uma autorização-atenção ardente ao que é Agora, observando dentro e fora com olhos iguais. Levada a efeito corretamente, essa atenção ativa redunda em:

Fator: Cessação  suspensão do  pensamento, da conceituação, da objetivação, da tagarelice mental. A “cessação”, com efeito, é a suspensão do primeiro modo de conhecer, do conhecimento dualístico e do mapa simbólico, que finalmente distorce a Realidade. Em resumo, esta é uma cessação do Dualismo Primário. Uma suspensão do espaço, do tempo, da forma e do dualismo e, nessa condição, prevalece um Silêncio mental completo. Isto é permanecer com o que é. A condição de “permanecer” é o “estado das coisas tais quais são”, o Silêncio, a Imobilidade, a que chamaremos (segundo Huang Pó) “sentar num Bodhimandala”, ou  seja, sentar  num  lugar em  que  a  imaginação pode  irromper  a  qualquer instante. Se a “cessação” for limpa e completa, reverterá em:

Fator: Percepção Passiva visão especial que é ver em nada. “Ver em nada é a verdadeira e a eterna visão.” Repetindo, essa percepção, essa visão, não é um olhar para um simples espaço em branco ou vácuo, mas um olhar para nada de objetivo - a pura percepção intemporal sem o dualismo primário de sujeito e objeto e, por isso, completa em si mesma, sem nada que lhe seja exterior nem objetivo. Porque nada está fora dela, ela opera sem esforço de espécie alguma, de um jeito completamente espontâneo, sem referência ao passado ou ao futuro. Opera acima do espaço e do tempo no Agora absoluto, apontando para nada além de si mesmo e não vendo nada além de si mesmo. Em outras palavras, é o segundo modo de conhecer, de conhecer tudo sem separação de coisa nenhuma. E um instante dessa percepção pura é a própria Mente. Quer o compreendamos, quer não, é sempre o caso.

Ken Wilber

Toda é um conflito de desejos opostos


quarta-feira, 17 de junho de 2015

A mente adquirida finge buscar por ajuda

No meio do desabafo tem um Deus sendo abafado


A importância do reverberar presencial


O processo é solitário mas não sozinho


O condicionamento de ser uma pessoa


O retorno para a natureza original


O despertar do sexto sentido


Apenas os corajosos podem viver

Apenas os corajosos podem viver. A coragem é o primeiro passo a ser aprendido. Apesar de todos os medos, temos que começar a viver. E por que é preciso coragem para viver? Porque a vida é insegurança. Se você fica preocupado demais com proteção, você permanecerá confinado em um pequeno cantinho, quase em uma prisão, construída por você mesmo. Será seguro, mas não será vivo. Não terá aventura, êxtase. Seja corajoso e deposite tudo aos pés da vida; nada mais é valioso. Não sacrifique a sua vida por pequenas coisas – dinheiro, segurança; nadas disso tem valor. Cada um deve viver sua vida tão totalmente quanto possível; somente então surge a alegria, somente então o transbordamento da graça divina se torna realmente possível.

[...]A existência de fato preenche as suas necessidades, não o que você gosta e desgosta, não o que você quer; mas as suas necessidades reais, verdadeiras e autênticas são sempre cuidadas. A existência não pode ser indiferente a você: você é parte dela. Ser indiferente a você significaria ser indiferente a ela mesma, o que é impossível. A existência já teria desaparecido há muito tempo, se fosse assim.

Nós somos as suas ondas. Nós somos as flores dessa árvore de vida e existência. O seu desejo de ser amado e o seu desejo de amar é o seu desejo mais supremo. Ele mostra algo da sua natureza básica fundamental, ele representa o seu centro mais interno, ele representa isso.

Uma vez que você entenda o amor como Deus, toda a sua visão da vida irá mudar. Então você não irá venerar num templo ou numa igreja ou numa mesquita: então o amor será a sua veneração. E então você não terá medo da existência, porque ela cuida de você. O medo desaparecerá. Você não terá medo nem mesmo da morte, porque a morte só pode levar aquilo que não é mais necessário, mas ela não pode destruir você.

A existência é a sua mãe, ela não pode permitir destruição. Nada é destruído, jamais. Agora, mesmo os físicos concordam com isso: nada é destruído em tempo algum e nada é criado. Nem mesmo um pequeno grão de areia pode ser destruído ou criado. A existência contém a mesma quantidade de matéria, vida, amor e energia que sempre conteve e que sempre conterá.

Martinho Lutero disse uma coisa tremendamente significante. Ele disse 'Pecca fortiter: peque audaciosamente'. É estranho. A declaração parece ser inacreditável: um homem como Martinho Lutero dizendo 'Peque audaciosamente'. Mas realmente vale a pena refletir a respeito do seu significado. Ele está dizendo: o amor permeia toda a existência, assim não tenha medo. Mesmo se você estiver em pecado, seja audacioso nele, porque a existência está sempre pronta para perdoar, está perdoando.

O amor sempre é perdão. Ele não quer dizer que você deve pecar. Ele está simplesmente dizendo: o seu pecado é nada comparado ao perdão que flui da existência para você."

( Osho )

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Certifique-se de estar pronto para o autoconhecimento

Para quem está nos primeiros passos do processo de autoconhecimento, antes de tudo, certifique-se de que realmente seja o seu momento; veja se está pronto para esse caminho iniciático; veja se está realmente cansado de buscar em valores finitos, aquilo que somente o Infinito pode lhe assegurar; se está realmente esgotado do sistema... Porque, se ainda estiver depositando suas fichas, criando expectativas em atividades como relacionamentos, situação financeira, em posses e propriedades, em sucesso, poder, prestígio, reconhecimento, em segurança... É melhor sair correndo dessa estrada de entrada estreita... É melhor sair correndo porque o autoconhecimento aponta tão somente para a verdade, a qual está no reconhecimento de sua real natureza e todos que se encontram em sua volta, com raras exceções, não vão querer ver você abrindo os olhos para a Verdade que escancaras com toda forma de mentira, segredo e umbigóides conveniências; isso porque, de certo modo, todos estão comprometidos com um colecionar de confortáveis ilusões; são prisioneiros de mentiras convenientes; estão sobre os domínios da mente adquirida, a qual é a essência do sistema padronizante; e eles vão fazer de tudo para que seus olhos não se direcionem com propriedade para a jornada do autoconhecimento, pois isso lhe tornaria perigoso para eles.
Então, se ainda estiver muito mesclado, muito... Se as dependências emocionais ainda se mostram muito fortes, corre-se o risco de surtar a ponto de quase enlouquecer; isso porque, como já é de conhecimento no terreno da espiritualidade antiga, “Não dá para servir a dois senhores”... Não tem como!
Se for percebido que ainda não se encontra pronto para esse processo de autoconhecimento, não problema algum... Existem várias escolas iniciática compatíveis para vários estágios de percepção. Certifique-se com algum deles que se encaixa mais com as suas atuais necessidades, uma vez que sempre é possível aprender algumas letras básicas do tão necessário Bê-á-bá emocional. O autoconhecimento requer um exaustivo e honesto trabalho de base emocional e, não raro, muitos são os que acabam inclusive usando o autoconhecimento para dar sustentação ao processo corruptor da mente adquirida, para procrastinar situações que necessitam de emergenciais reparações. Fugir desse exaustivo trabalho é um certeiro convite ao retorno ou ampliação de padrões comportamentais que progressivamente nos afastam do Elemental.
É preciso estar bem certo de que se chegou ao ponto de saturação capaz de nos prontificar a fazer frente à necessária abertura de questões que durante muitos anos insistimos em mantê-las hermeticamente fechadas sobre uma vida de fachada. Por que o autoconhecimento escancara tudo; não deixa uma só portinha sequer fechada... levanta a portinhola de todo sótão; abre a porta de todos os porões; joga pra fora do armário todas as roupas marcadas pela imensidão de nossos desejos e que já não nos servem mais.
O autoconhecimento não é democrático, ou melhor, egocrático. Ele não foi feito para acariciar as desconfortáveis zonas de conforto da mente adquirida; ele vem para lançar ao chão a mente adquirida e torna-la servidora de confiança de uma Consciência Amorosa Integrativa, destituindo-lhe seus antigos poderes e mando. O autoconhecimento retrata bem o espírito de uma frase dos ensinamentos do Cristo: “Eu não vim para trazer a paz, mas sim, a espada”; o autoconhecimento vem para cortar tudo que é falso... É um deitar machado nas profundas raízes da mente adquirida.
Quando se entra na jornada do autoconhecimento, não há mais como compactuar dos interesses umbigóides da mente adquirida. Dentro dos ditames da mente adquirida é só ilusão, é só percepção invertida. Nós estamos invertidos, está tudo invertido... Há uma carta do Tarô que é o homem invertido... É preciso inverter o nosso atual estado de ser, porque se o mesmo não for invertido... Tudo se mostra cada vez mais difícil.
Então, para adentrar com toda seriedade e paixão necessária no caminho do autoconhecimento, tem que se estar pronto; tem que já ter percebido a falência de todas as historinhas que nos contaram e que nos prometiam por felicidade, por liberdade, por bem-estar e unidade. Foram muitas as historinhas que nos contaram e ninguém pode ser responsabilizado por elas, uma vez que todos são também vítimas de adultos adulterados adulterantes; todos foram também iludidos do mesmo modo.
Estar pronto para a jornada do autoconhecimento é estar pronto para a dádiva de uma graça que nos faz perceber a desgraça na qual estávamos inseridos... Acobertando a Graça que somos.
Então, o autoconhecimento não é uma espécie de diversão; ele não deixa pedra sobre pedra. É preciso ter caminhado por um bom tempo no deserto do irreal; é preciso estar farto do falso e ter a coragem de afirmar para si mesmo, ter a coragem de abrir mão do que for necessário para seguir mais leve em direção à verdade. O que for falso vai ficar pelo caminho.
Então, você está pronto pra isso?
Se não está, ainda é tempo de sair correndo...


Outsider

A difícil vitória sobre os desejos

A grande e difícil vitória, a conquista dos desejos da alma individual, é um trabalho que requer tempo; portanto, não espere obter sua recompensa, enquanto não forem acumulados muitos anos de experiência. Quando o momento de aprender esta regra é chegado, o homem está a ponto de se tornar mais do que homem.

O conhecimento, que agora é seu, só lhe pertence porque sua alma tornou-se una com todas as almas puras e com o mais íntimo. Ele é um bem que lhe é confiado pelo Supremo. Traia-o, faça mal uso de seu conhecimento ou negligencie-o, e é possível que, mesmo agora, você caia do elevado estado que alcançou. Seres notáveis já caíram, até mesmo do limiar, incapazes de sustentar o peso de suas responsabilidades, incapazes de passar adiante. Portanto, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento, e esteja preparado para a batalha. 

Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos. Somos muitos apenas na periferia; a multiplicidade existe apenas na circunferência. Quanto mais nos movemos em direção ao centro, mais nos movemos em direção ao uno. No centro, somos um.

Na periferia, existimos como muitos. Sua personalidade é diferente da personalidade do seu vizinho. Sua individualidade é diferente de todas as demais. Mas seu centro mais profundo não é diferente. Seu centro mais profundo é o centro mais profundo de tudo. Quando você o alcança, alcança o uno.

O mundo todo é apenas a circunferência. O centro - você pode chamá-lo de Deus ou pode chamá-lo de alma suprema ou do que preferir - mas quando você alcança o seu centro mais profundo, alcança o centro mais profundo de tudo. E aí, nesse uno, todos os segredos estão ocultos. Aí, todos os mistérios podem ser revelados a você.

Osho em, Uma Nova Alquimia

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O processo de luto das dependências psicológicas


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Habitar no deserto antes de se dar a conhecer

Nós estamos iniciando um trabalho sobre os símbolos da vida e começamos por ouvir um cântico  que diz "habitar no deserto antes de nos darmos a conhecer", porque nós temos muita pressa de nos manifestar, temos muita pressa de nos dar a conhecer, de inspirar os outros, de mandar nos outros mas, isto tudo, não acaba bem quando a gente ainda não atravessou o deserto. Então, o cântico está chamando atenção para isto. Nós quando estamos no caminho espiritual, temos uma grande necessidade de alimento espiritual, temos uma avidez interior da consciência que não se contenta mais com as coisas do mundo, nem com as coisas da vida; a consciência não se satisfaz mais com aquele ensinamento que vem de fora, por mais correto que ele possa ser, por mais real que ele possa ser, mas nós chegamos num ponto que não nos satisfazemos mais  com isso e, ao mesmo tempo, nós não temos ainda aquela possibilidade de nos nutrirmos e de encontrar este ensinamento, esta força, dentro de nós. É um momento intermediário este, porque todos nós deixamos de nos contentar com as coisas do mundo e da vida, sempre um pouquinho antes de conseguirmos a verdadeira Vida, de conseguirmos a coisa que estamos buscando. Todos passam por isso. E esse trecho do nosso caminho, no qual nada de fora nos satisfaz mais, mas ainda não temos aquilo de dentro, fluente, ainda não temos aquilo disponível, isto é que se chama "O deserto — atravessar o deserto". Mas, nós só chegamos nisso, nesta situação, depois que estamos realmente decididos a sermos guiados internamente.

E não temos outra decisão a tomar porque não se encontra mais guia aqui fora, não se encontra mais nada o que satisfaça realmente. E fica este intervalo, fica este hiato, fica este deserto, fica este trecho de caminho que nós temos que fazer, porque neste trecho do caminho aonde a gente não é nem uma coisa e nem outra, aonde a gente não encontra o que quer e não sabe onde buscar, ou sabe onde buscar e quando vai buscar lá não vem, nós precisamos de atravessar este deserto, nós precisamos desta situação, porque é nesta situação que nós vamos comprovar se somos perseverantes. É nesta situação que nós vamos comprovar para nós mesmos se a nossa fidelidade já está madura, já está treinada. Porque se, a nossa fidelidade é falsa, e se a nossa perseverança era artificial, ou era de um principiante, neste deserto, isto fica claro e, então, esta travessia não prossegue, não se dá e então nós passamos a viver situações intermediárias de compromisso até que estejamos prontos para uma nova prova e para um novo impulso. Se nós permanecemos nesta situação — e só na fé podemos estar ai, não — de precisarmos de uma coisa que deve vir de dentro e isto ainda não vem e fora nada corresponde, e se nós perseveramos, se nós não desistimos, e no momento que a gente decide continuar e prosseguir, apesar de tudo, neste momento, o deserto acaba. Neste momento começa a vir aquilo que tem que vir de dentro e isto é imperceptível, isto não dá sinais, não, e quando a gente percebe... Está chegando! Quando a gente percebe está vindo!

Enquanto nós não passamos por esta prova, tudo que nós passamos para os outros não é verdadeiro, não é comprovado em nós e o outro não sente segurança naquilo que a gente está passando, porque a gente ainda não atravessou o deserto. Então, nenhum de nós pode garantir se realmente é fiel e nenhum de nós pode garantir se é realmente perseverante, se é verdadeiro aquilo que diz ser. E o outro percebe isto! E não tem um referencial real, não recebe uma força que ele precisa, que ele necessita. E é bom que nós tenhamos isto claro para não decepcionarmos o outro neste ponto da fé e da perseverança, num momento em que o outro está numa situação critica, difícil para ele, e numa situação na qual nós já passamos. E sabemos que nestas situações de transição é bom que a gente não seja desestimulado, é bom que nossa parte melhor seja reforçada. Isto que constrói esta base sólida, isto que nos ajuda a atravessar este deserto e a darmos ao outro uma força e ajudarmos um outro em tudo aquilo que ele precisa, isto tudo é baseado na gratidão. Quem não tem gratidão pelo próprio processo, quem não tem gratidão pelas próprias provas pelas quais passa, não encontra jamais esta base em si. Então, a gratidão não se vai aprender nesta etapa; nós atravessamos o deserto, corretamente, sem fraquejarmos, quando já temos de fases anteriores, a gratidão treinada, a gratidão desenvolvida, a gratidão estabelecida em nós. Porque é só a gratidão que faz nós atravessarmos estas provas como se elas não pudessem nos abalar, como não podem mesmo nos abalar. São provas pelas quais nós passamos para o nosso crescimento; nós passamos pelas provas para crescermos espiritualmente, para desenvolvermos internamente. E, se dentro de uma prova, nós não somos gratos a ela, nós jamais teremos esta força, jamais teremos esta fidelidade de atravessar um deserto , jamais atravessaremos estas etapas de não saber onde estamos — que isto acontece ao longo do caminho espiritual — e de não saber como ter o alimento necessário. E aqui é preciso esta gratidão, já estabelecida no ser, gratidão que nós treinamos em outras etapas, treinamos diante de outras circunstâncias, de outras vivências, não é? E também, este firme propósito de não desviarmos da meta. Esta decisão de não sair do caminho, com o que quer que aconteça, e vai acontecer aquilo que pra nós é a coisa mais difícil... Então, vai acontecer uma coisa diferente para cada um. A prova para ver se você não desiste, vai ser diferente para cada um; porque esta prova é aquela mais dura para você. O plano escolhe a coisa que mais poderia te fazer retroceder e te dá aquilo e aquela é a sua prova. E ali você tem que comprovar a si mesmo que você é firme, isto é, que você é, que você não depende do outro, que você não depende do que o outro faz, o outro te faz aquilo que pra você é a coisa pior, ele está naquele papel e as circunstâncias estão naquele papel. Então, ali, você tem que ser firme, ali você tem que dizer: "Eu prossigo, eu prossigo, independentemente disto, apesar disto, eu prossigo!" Porque isto não tem a menor importância, tudo isto não tem a menor importância. O que tem importância é que você prossiga, nada mais!... O que se passou, o que se passa, o que você está sentindo, o que você está pensando, tudo isto não tem a menor importância diante deste ponto, de você prosseguir apesar de tudo. Este que é o ponto! E este é o ponto deste cântico, isto é o que está atrás deste cântico. E claro que ele não nos deixa assim, mas ele diz, em seguida, que nos mundo internos está a fonte do ensinamento. Você vá para o seu interior, você vá para dentro de si, de uma vez por todas, deixe de ficar esperando que isto venha de fora, ou que isto venha de alguém, de uma vez por todas, deixe disto e vá buscar o que você precisa, o ensinamento, o ensinamento para a vida, a forma de viver, a forma de estar na vida, você vá buscar tudo no seu interior. Isto é o que este cântico está trazendo para nós nesta altura.[...]

Trigueirinho em, Experiência do Deserto (palestra em áudio) 

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quem é o louco?

O que é um louco? É aquele que nunca vem para a realidade, que sempre divaga em seu próprio mundo de palavras – e ele foi tão longe em sua divagação que você não pode trazê-lo de volta. Ele não está com a realidade, mas você está com a realidade?

Você também não está – você vive sonhando, desejando, vive se distraindo com seus pensamentos... Você nunca está habitando o momento presente. Estou errado? Então podemos dizer que a diferença é apenas de grau. Um louco divagou para muito longe, você nunca divagou para tão longe – apenas na vizinhança – e você sempre volta e novamente toca a realidade e vai novamente.

Você apenas toca a realidade, mas essa raiz é muito frágil e a qualquer momento ela pode ser quebrada – a mulher morre, o marido a abandona, você vai a falência – e aquela raiz frágil se quebra. Então você passa a divagar e divagar; então não há volta, então você nunca toca a realidade realmente. Esse é o estado do louco, e o homem normal é diferente apenas em grau.

E qual é o estado de um buda, de um iluminado, de um homem desperto, de entendimento, de consciência? Ele está profundamente enraizado na realidade, ele nunca se afasta dela ao divagar – exatamente o oposto de um louco.

Então perceba... Você está no meio. A partir desse meio, ou você pode mover-se na direção de ser um louco – movendo-se continuamente para o passado ou futuro –, ou você pode mover-se na direção de ser um buda – permanecendo presente, no momento presente. Depende de você. Não dê muita energia aos pensamentos, isso é suicida; você está envenenando a si mesmo. Sempre que os pensamentos começam, se forem desnecessários – e noventa e nove por cento deles são desnecessários – imediatamente volte a realidade. E qualquer coisa vai ajudar: até mesmo o toque na cadeira onde você está sentado, ou o toque na cama onde você está deitado. Sinta o toque – porque é mais real do que os seus pensamentos a respeito de Deus, porque o toque é uma coisa real.

Toque aquilo, sinta o toque, seja o toque, fique no aqui e agora. Você está comendo? Saboreie bem a comida, o sabor. Cheire-a bem, mastigue-a bem – você está mastigando a realidade! Não fique perdido em pensamentos. Você está tomando banho? Divirta-se! A água está caindo em você? Sinta-a! Torne-se mais e mais um centro de sentimentos em vez de um centro de pensamentos.

E sim, o caminho está bem diante dos seus olhos. Mas o sentimento não é muito permitido. A sociedade vê você como um ser que pensa e não como um ser que sente, porque o sentimento é imprevisível, ninguém sabe aonde ele vai levar, e a sociedade não pode deixar você por conta própria. Ela lhe dá todos os pensamentos: todas as escolas, colégios e universidades existem como centros para treiná-lo para o pensamento, a verbalizar mais. E quanto mais palavras você tem, mais talentoso você é considerado; quanto mais articulado você é com as palavras, mais educado você é considerado. E não vou lhe enganar... Será difícil, porque trinta, quarenta, cinquenta, sessenta anos de treinamento... Mas quanto mais cedo você iniciar, melhor.

Então... Volte para a realidade."

( Osho )

domingo, 7 de junho de 2015

O processo de individuação

Individuação é o termo que Jung usou para se referir ao processo que realizamos ao longo de nossa vida no sentido de nos tornarmos os seres humanos completos que nascemos para ser. A individuação é nosso despertar para o ser total, permitindo que nossa personalidade consciente se desenvolva até absorver todos os elementos básicos inerentes em cada um de nós no nível pré-consciente. Essa é a "realização do projeto" ao qual nos referimos.

Por que chamar a isso "individuação"? Porque esse processo de construir a nós mesmos e nos tornarmos completos também revela nossa estrutura especial, individual. Mostra como as características e possibilidades humanas universais são combinadas em cada um de nós diferentemente, variando de indivíduo para indivíduo.

Jung enfatizou a singularidade da estrutura psicológica de cada ser. Desta forma, o nome com o qual designou este processo não é casual; reflete sua convicção de que quanto mais encaramos o inconsciente e fazemos uma síntese entre o seu conteúdo e o que está na mente consciente, mais percebemos o sentido de nossa individualidade única.

Ao mesmo tempo, a individuação não significa se tornar isolado da raça humana. Uma vez que nos sentimos mais seguros como indivíduos, mais completos em nós mesmos, é também natural que procuremos as miríades de caminhos que nos fazem semelhantes aos nossos companheiros humanos — valores, interesses e qualidades humanas essenciais que nos une à tribo humana. Se olharmos com cuidado, veremos que nossa individualidade consiste na forma especial de combinarmos os padrões psicológicos universais e o sistema de energia que todos os seres humanos têm em comum. Jung chamou estes padrões de arquétipos.

Uma vez que os arquétipos são universais, estão todos presentes no inconsciente de cada um. Mas eles se combinam em variações infinitas para criar a psique individual humana. Podemos com-pará-los com o corpo humano físico. De muitas formas, nossos corpos são semelhantes aos demais. Temos braços, pernas, coração, fígado e pele, de um ou outro feitio. São características universais da espécie humana. Entretanto, se comparo minhas impressões digitais ou fios de meu cabelo com os de outras pessoas, percebo que dois corpos humanos não são exatamente iguais.

Da mesma forma, as energias e capacidades psicológicas universais, na raça humana, estão combinadas diferentemente em cada um de nós. Cada pessoa tem uma estrutura psicológica distinta. É só pela vivência desta estrutura inerente que descobrimos o que significa ser um indivíduo.

Se trabalhamos na individuação, começamos a perceber a diferença entre as idéias e os valores que vêm de nosso self e as opiniões que absorvemos do mundo à nossa volta. Podemos parar de ser mero apêndice da sociedade, pessoas estereotipadas: aprendemos que temos nossos próprios valores, nossa própria maneira de viver, que procedem naturalmente de nossas naturezas inatas.

Desenvolve-se um grande senso de segurança nesse processo de individuação. Começamos a entender que não é necessário lutar para sermos iguais a outrem, pois sermos nós mesmos é a base mais firme em que podemos nos apoiar. Percebemos que conhecer-nos a nós mesmos completamente e desenvolver todas as forças que estão dentro de nós é uma tarefa para a vida inteira. Não precisamos imitar a vida de ninguém. Não precisamos de outras pretensões, pois o que já temos é riqueza suficiente e é bem mais do que jamais esperamos.

Robert A. Johnson em, Sonhos, Fantasia e Imaginação Ativa - A Chave do Reino Interior

sexta-feira, 5 de junho de 2015

O arquétipo do Caminho

Ao meio da jornada da vida, tendo perdido o caminho verdadeiro, achei-me embrenhado em selva tenebrosa.” (Dante Alighieri, A Divina Comédia)
O Arquétipo do Caminho, da Jornada, da Peregrinação fala da eterna busca da alma pelo seu centro. Ele se torna consciente quando percebemos que nossas vidas traçam um longo percurso cujo sentido e significado vai se revelando à medida que avançamos na nossa caminhada. Geralmente é por volta da metade da vida que entramos em contato com esse arquétipo. Isso porque já percorremos um bom pedaço da estrada e podemos olhar para trás e avaliar nosso percurso, bem como podemos olhar para frente e ajustar nossos passos rumo a objetivos mais abrangentes e diferenciados. É o momento ideal para se fazer um “balanço”, uma avaliação de nossa proposta de vida e permitir mudanças revitalizadoras, novos trajetos e pontos de vista.

Aqui vamos falar um pouco sobre quatro aspectos que se relacionam com a vivência desse arquétipo e dos símbolos correlatos.

O Jardim das Delícias.
A Expulsão do Paraíso.

Esse é o princípio de tudo: o jardim do Éden, como aparece na tradição judaico-cristã, mas também de inúmeras outras formas análogas em várias culturas. Há sempre um início paradisíaco, uma condição original de abundância, plenitude, felicidade, inocência, onde todos os seres convivem em harmonia e não há escassez, doença e morte. A ideia de um paraíso perdido, uma Idade de Ouro que remonta à origem dos tempos, é um arquétipo universal que revela a nostalgia por uma condição de harmonia que foi perdida e para a qual desejamos retornar.

Efetivamente todos nós já experienciamos uma condição de plenitude no início de nossas vidas, dentro do útero materno: lá onde a temperatura, o alimento, a proteção estavam sempre presentes sem que precisássemos fazer qualquer esforço; lá onde não havia separação, dualidade, angústia ou perdas e estávamos imersos e fundidos na totalidade. No entanto, se quisermos crescer e nos desenvolver chega o momento em que temos que abandonar esse paraíso e como no Gênesis, somos expulsos da nossa inocência ou inconsciência original para que possamos aprender, a desenvolver a consciência e iniciar a jornada.

Esse período inicial é muito importante porque permanece como referência de um estado de harmonia e plenitude que já foi vivido realmente e que portanto pode ser recuperado. Nos momentos mais difíceis e dolorosos essa vivência inicial pode servir como a chamada “luz no fim do túnel” e ser nossa guia rumo à saída para o sol. Porém, se nos recusamos a sair desse paraíso ele rapidamente se transforma e pode nos devorar, impedindo nosso crescimento e desenvolvimento. A “Mãe Amorosa” se revela então como a “Deusa Destruidora”, os animais amigos se transmutam em dragões e monstros ameaçadores. Assim, querendo ou não, somos lançados na outra etapa do caminho.

O Início da Jornada.
O Labirinto.

Toda vez que abandonamos uma situação conhecida e cômoda, que, no entanto, já estava esgotada em suas possibilidades de crescimento, é como se saíssemos do regaço materno, da segurança do paraíso para nos perder no caos de um mundo sem referências, a selva tenebrosa de Dante. Esse início de jornada pode ser voluntário ou forçado por uma circunstância adversa que a vida nos proporciona, mas em ambos os casos é sempre um período muito difícil. Não há sinais de orientação, não há estradas retas e bem demarcadas, não sabemos para onde ir, como ir e o que procurar. Temos que ir andando às apalpadelas, tateando, caindo e levantando. É um período perambulação, mas também de grandes possibilidades de evolução. Nos tornamos peregrinos, buscadores e experimentadores e é exatamente esta incerteza que abre espaço para o “novo” surgir.

Caminhar dentro do caos com paciência, persistência e abertura para acertos e erros, faz surgir uma nova luz, uma nova percepção e o labirinto se revela como um caminho espiralado que pode nos levar ao centro, ao tesouro perdido, à harmonia e paz do paraíso. Mas, durante a caminhada no labirinto não sabemos se estamos próximos ou não do centro. O caminho de volta também não é evidente e assim temos que aprender a enfrentar nossos medos e não fugir dos desafios. Isso nos leva à próxima característica simbólica da nossa jornada.

As Tarefas do Percurso.
O Herói
.

Ao aceitarmos a caminhada e os desafios que ela nos propõe, começamos a vivenciar outro arquétipo que nos ajuda a cumprir nossas tarefas: o arquétipo do herói. Este arquétipo é a vivência do desenvolvimento da nossa força, das nossas habilidades, do nosso saber, das potencialidades ignoradas que vão se aprimorando à medida que enfrentamos nossos monstros interiores.

É preciso muita coragem para entrar no labirinto e se perder antes de poder se encontrar. No entanto, esta não é a prova mais difícil. Depois de termos vencido nossos medos, fragilidades e limitações e termos cumprido com as tarefas que a vida nos propõe, começa outra etapa que é o aprendizado da humildade. Temos que reconhecer que mesmo sendo heroico, o ego está subordinado a um princípio maior, e que só a conexão com este princípio pode proporcionar sentido e significado a todas as conquistas obtidas. O herói não pode ficar preso na armadilha da sua própria habilidade e força em vencer os dragões, ele deve vencer também a sua vaidade e prosseguir a caminhada rumo ao centro. Para isso ele tem que reconhecer que sua força provém exatamente desse centro. Esse reconhecimento permite que o arquétipo do herói se transmute no arquétipo do Sábio e é essa vivência de sabedoria que finalmente nos leva de volta à casa, ao paraíso perdido.

O Retorno ao Centro

Estar no centro é a vivência de recuperação da harmonia, da paz e do equilíbrio perdido. É a volta a casa, à experiência de plenitude original só que agora não mais vivida inconscientemente como no início. Agora a experiência é produto de uma busca consciente e voluntária.

A caminhada no labirinto se transforma em “circum-ambulação”, ou seja, caminhamos agora em torno do centro, de onde emana nossa força e alento. Estamos novamente próximos da fonte original de inesgotável abundância, felicidade, amor, beleza e sabedoria. Quando o ego e o Self se encontram há uma intersecção do mundo visível com o invisível, um casamento do Céu com a Terra, do sagrado com o profano e abre-se a porta para transformações profundas que vão além da compreensão intelectual. A personalidade se amplia para receber a vivência do numinoso e finalmente exercer sua totalidade.

Depois de conseguirmos chegar ao centro e sermos abençoados com essa vivência temos que retornar à vida cotidiana e compartilhar o que recebemos, compartilhar o tesouro encontrado. Só assim se completa o círculo da jornada que temos que percorrer infinitas vezes durante a vida. O arquétipo do caminho se revela enfim como uma pulsação em torno do centro, em um ir e voltar, um achar e perder o rumo, em idas e vindas constantes que vão tecendo um desenho com mil cores e formas, que se desmancham e voltam a se formar, como as belas mandalas de areia tibetanas.

E assim como as mandalas nos ensinam, também o nosso caminhar nos revela que o essencial está sempre presente e está além de todos os caminhos. Ele engloba tudo: o paraíso inicial, o labirinto das ilusões, as lutas do herói, a chegada ao centro e se faz presente em todos os grandes e pequenos momentos, a cada gesto e curva do caminho.

Vera L. P. de Almeida

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Renegar a autoridade psicológica não é pecado

O bem estar espiritual não está na profissão

Não é fácil quebrar a identificação com a normose

A saturação com a mente adquirida é que nos move

A necessidade de aceitação é o combustível da normose

A importância do questionamento das crenças

A dependência de aceitação e notoriedade social

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O que fazer depois da percepção das mentiras sociais?


Viagem ao centro do Ser que somos


Por que tentar tornar sábio quem está feliz na mediocridade?


O significado de unicidade


A importância do questionamento de nossas crenças

terça-feira, 2 de junho de 2015

Saindo da crise

Assim como uma lanterna não projeta luz sobre si mesma, ou como o olho não vê a si próprio, não podemos achar que sairemos da crise pensando sobre como sair dela, pelo simples fato de que este "pensar sobre" já é contaminado com tudo aquilo que nos colocou nesta crise. Refiro-me a distorções da realidade, crenças limitantes, formadas a partir de julgamentos, preconceitos, comparações, conclusões, apegos, desejos, repulsas, medos, enfim, esse ranço mental fragmentário que é a verdadeira natureza de toda crise. Essa é a real crise, e é necessário nos LIBERTAR dela. Essa identificação com opiniões, com ideologias, com o que se pensa sobre as coisas, é o conflito central que gera todos os outros, pois é justamente o que nos divide. É estrutural. Observarmos e compreendermos a estrutura do pensar e a maneira como estamos acorrentados a ele – ao intelecto – difere de nos apegar às ideias pensadas como soluções para os problemas criados por esse mesmo apego. Existe uma inteligência, uma linguagem universal que nos devolve a percepção de unicidade, e que faz uso do intelecto apenas para se expressar neste mundo. Isso é diferente de viver preso ao intelecto, resistindo à existência desta inteligência, embora querendo desfrutar da Paz que só pode vir como sintoma de estarmos abertos para Ela.

Luiz Rocha

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Eckhart Tolle comenta o Tao Te Ching


A normose tem cura para quem procura

"Ninguém precisa se envergonhar de estar mental e emocionalmente doente, pois é a coisa que normalmente acontece com os que fazem parte da grande massa, isto é 95% da população. E fazer parte da grande massa, isto é 95% da população. E fazer parte dos 5% restantes pode até ser uma sensação de isolamento." - Livro Bronze de N/A.
Quando o normótico começa a tomar consciência da sua verdadeira natureza e do significado da sua existência, observa-se uma aceleração do seu processo evolutivo. E isso ocorre porque o mesmo começa a colaborar com o impulso evolutivo e a se tornar consciente, sentindo cada vez mais forte e irresistível a premência de reencontrar a realidade de si mesmo capaz e lhe proporcionar a Unidade interna necessária para a conquista de um modo de vida equilibrado, efetivo e feliz. 

O processo de recuperação da normose, num primeiro momento, inclui um minucioso e destemido questionamento quanto ao atual sistema de crenças, a coragem de recusar a submissão às mesmas que se mostram disfuncionais e obsoletas, o destemor dos resultados da opinião social a seu respeito e a coragem suficiente para rejeitar ideias religiosas bem como os costumes de terceiros e um questionamento destemido e minucioso quanto aos padrões que se encontram subjacentes às insatisfações pessoais, e descobrir o que está limitando a realização e o prazer de viver. Traz consigo a responsabilidade de buscar por ideias avançadas capazes de suplantar sua insanidade estagnante. Os que se interessam o suficiente para enfrentar este processo indiferente ao desprezo social, assim como explorar o que está além das ideias institucionalizadas, estão aptos para exercerem a divina missão de não mais perpetuar essa condição em si mesmos e no mundo que os rodeia. Para o exercício desta missão, se faz necessário a conscientização de que o grosso da sociedade sofre de uma espécie de alergia diante de conversas que levem ao questionamento quanto à normose e que apenas poucos são capazes de ousar por uma independência e juízo individual. Precisa ter em mente que muitos normóticos (assim como ele mesmo no decorrer do exercício da própria normose), por medo de perder a estabilidade financeira ou por medo do abandono e da solidão se afastam de práticas e de pessoas que possam colocar em xeque a sua atual maneira de viver, chegando muitas vezes, até mesmo a hostilizá-las, pois sentem que as mesmas, colocam em perigo as coisas e os relacionamentos dos quais dependem para ter segurança e uma boa imagem. Com razão diria Thomaz Merton, em seu livro Na liberdade da Solidão - Editora Vozes
"Não pode o homem dar seu assentimento a uma mensagem espiritual enquanto tem a mente e o coração escravizados pelo automatismo". 
É preciso ter em mente que o normótico só irá procurar por ajuda para a limitação imposta por sua disfuncional maneira de viver, quando não tiver mais com o que anestesiar a dor do tédio, a insatisfação e a falta de sentido existencial. Transcrevo abaixo, pensamentos de alguns escritores que elucidam bem este ponto de vista. São eles:
"Via de regra só o fazem sob o impacto de uma grande dor, crise emocional ou outra perturbação que temporariamente os faça voltarem-se para dentro de si mesmos e torne toda a atividade centrada no eu, fútil e sem sentido. É estranho que ao atingir aquele ponto em que a vida não parece mais valer a penas ser vivida é que as pessoas começam a interessar-se deveras pelo aspecto espiritual da existência, quando anteriormente só ligavam para o seu lado material. É nesse ponto que recorrem à religião em busca de lenitivo, à filosofia em busca de compreensão, e, quando ambas as coisas não aparecem suficientes, a cultos estranhos e heterodoxos em busca de uma luz qualquer. Contudo, qualquer que seja a fonte a que recorrem a fim de obter orientação interior e esclarecimento, ver-se-ão sempre em última instância face a face com o mistério do eu, o qual exigirá sempre, conquanto de forma silenciosa, investigações mais profundas. Torna-se portanto obrigatório, que o homem entenda tal coisa e faça da autocompreensão uma das razões primordiais de sua vida. Até que assim faça, religião, filosofia, psicologia superior, em suma, todas as trilhas do conhecimento não-sensorial continuarão a confundi-lo e intrigá-lo." — Paul Brunton — A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento.
"Como é triste  que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando estamos a ponto de morrer!... Não há comentário mais desalentador sobre o mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morre despreparada para morrer, como viveu despreparada para viver". — Sogyal Rinpoche — O Livro Tibetano do Viver e do Morrer 
"Há um lugar no seu interior onde se pode permanecer calmo e de lá olhar com equilíbrio e discernimento as perturbações da consciência de superfície e agir sobre ela para mudá-la. Se você puder aprender a viver nesta calma do ser interior, você terá encontrado sua base estável." — Sri-Aurobindo
"Ao enxergar sob uma luz bem mais abrangente os padrões que condicionam a vida, é possível que não ficássemos tão dispostos a participar de ações que sempre resultaram em sofrimento... Com um entendimento assim, não haveria limites para a nossa visão do ser humano, nem limites para a liberdade humana." — Tartangh Tulku - Conhecimento da Liberdade - Editora Dharma
"...Quem tiver a coragem e a paciência para permitir que sua mente raciocine por essa forma, livre da ideologia convencional, será em última instância gratificado com a descoberta da verdade eterna a cerca do homem. Dar-se por satisfeito com as teorias científicas e filosóficas correntes, que podem e devem ser completamente modificadas nas próximas décadas ou então ser taxadas de errôneas e incompletas pela geração seguinte, é demonstrar inércia e covardia mental. A verdade não é para os preguiçosos ou tímidos". — Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Editora Pensamento
"Esta normalidade é uma mediocridade que não admite ou até mesmo condena tudo o que se encontra fora de suas normas e o considera como anormal sem levar em conta que muitos comportamentos ditos como anormais são em realidade começos ou tentativas para ultrapassar a mediocridade." — Roberto Assagiolli
O normótico que quer se recuperar precisa buscar por momentos de solidão onde possa praticar uma qualidade de escuta interior pela qual possa se manifestar a Presença do que está presente, no mais profundo de sua essência, abrindo-se cada vez mais "Àquele que É". Ele precisa superar o estadio de identificação corporal para uma maior identificação com o Transpessoal. Precisa entrar num estado de apatia, ou seja, um estado onde não mais se deixa enganar pelas promessas de satisfação vindas do externo, o qual faz com que o normótico saia da sua horizontalidade em busca do Essencial, acima de todas as coisas — a busca da ação da verticalidade do SER. 

O normótico não consegue perceber a realidade da prisão em que vive, do mesmo modo que o peixe não se percebe prisioneiro num aquário. Por essa razão, o normótico submete sua liberdade à autoridade grupal em detrimento de sua autonomia. Não consegue perceber que são nas escolhas individuais, na mais ampla liberdade do homem que se encontra o potencial de saúde. 

Outsider
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill