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terça-feira, 30 de junho de 2020

O assistido fundo de poço mental emocional

Toda projeção mental reflete uma dependência psíquica

segunda-feira, 29 de junho de 2020

sexta-feira, 26 de junho de 2020

A compartilhada herança de insuficiência psíquica

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Você é psicologicamente autossuficiente?

domingo, 21 de junho de 2020

O significado da autossuficiência psíquica

sexta-feira, 19 de junho de 2020

O eu ilusório é um produto social

Somos impotentes diante dos pensamentos e emoções

Cruzando a ponte do condicionado vir-a-ser



Como você pode se transformar, produzir a mudança radical do vir-a-ser para Ser? Como você pode conhecer esse estado de Ser, que é virtude e liberdade, se você está no vir-a-ser e, portanto, vive se esforçando, lutando e batalhando consigo mesmo?

Durante anos você foi condicionado para se tornar alguma coisa: para não ser isso, e se tornar aquilo. Como você pode colocar de lado tal condicionamento, e abandonar a luta e apenas Ser?

Quanto mais você luta para conseguir aquilo que condicionou ser retidão, obviamente, tanto mais se fecha em si mesmo, e no isolamento, não existe liberdade.

Portanto, você só pode fazer uma coisa: ficar passiva e penetrantemente consciente, do seu processo de vir-a-ser. Se você é superficial, limitado, dependente e não criativo, precisa estar passivamente consciente dessa inquietante condição de ser, sem lutar para vir a ser algo diferente disso.

No momento em que você luta contra tal condição percebida, dá ainda mais importância ao limitado esforço pessoal e, assim, fortalece o muro de resistência, o qual sua moral condicionada, enxerga como retidão. Mas, para quem é moralista, a verdade nunca chega. A verdade só pode vir para quem é livre, e para você ser livre, não pode cultivar o condicionamento da moral, a qual é tida por retidão.

Portanto, você tem de estar consciente desse constante e sempre limitado esforço pessoal, apenas consciente, sem lutar nem condenar, e se estiver realmente atento, passivamente consciente e em constante vigilância, tranquila e rapidamente, verá cair por terra as condições que causam a limitação, sem qualquer necessidade de esforço de sua parte; você verá surgir a ordem que não é retidão, nem ajustamento e nem isolamento.

A Liberdade que é virtude, não é uma coisa fechada, e é só nela que pode nascer a verdade. Por conseguinte, é essencial ser virtuoso, e não seguir a condicionada moral estabelecida, pois é a virtude que traz a ordem.

O moralista é um ser confuso, está em conflito, desenvolvendo a vontade como meio de resistência, e o moralista conduzido pela vontade, jamais encontrará a verdade, porque nunca está livre. O Ser é que gera a virtude na qual existe liberdade, o Ser é ver, aceitar e viver o que é, sem tentar nenhuma espécie de transformação, nem condenação.

Só quando a mente já não se identifica com a memória psicológica, quando não busca mais a retidão moral como forma de resistência, só então existe liberdade, e com essa liberdade é que vem a realidade, cuja bem-aventurança você tem de experimentar.

Mas o fato é que você, assim como a grande maioria, tem enorme medo de ser livre, medo esse que é uma grande tolice. Liberdade implica inteligência, amor, não-exploração, não-submissão a terceiros e nem a própria vontade pessoal condicionada.

A liberdade implica extraordinária elevação do nível da razão, a qual é virtude. A retidão moral é sempre um processo de ajustamento, de isolamento, visto que o ajustamento, o isolamento e a retidão se completam, enquanto a virtude e a liberdade coexistem.

Você precisa se tornar consciente de que o descondicionamento de seu mecanismo mental e emocional, não é algo a ser alcançado no futuro, mas sim no agora, e se você adiar o descondicionamento para amanhã, atrairá a confusão, estará preso na onda da ansiedade, da inquietude e do sofrimento.

O descondicionamento é agora, e não amanhã, pois a percepção libertária só se dá no presente. Agora você não tem tal qualidade de percepção, porque não coloca todo seu coração, mente e atenção, naquilo que deseja compreender. Se você colocar o coração e a mente para compreender, compreenderá e se libertará de tudo que o limita.

Se você der seu coração e mente para descobrir a exata natureza das suas limitações, se estiver plenamente consciente de sua natureza, desde já você se verá livre e ilimitado.

Infelizmente, você já condicionou tanto a mente com o conteúdo de programações espiritualitas ou religiosas, e com a condicionada moral social, que se tornou incapaz de olhar diretamente, a exata natureza de onde nascem todas suas limitações, e é nisso que está a sua dificuldade.

Sendo assim, a percepção libertária está sempre no presente; nunca no futuro. A percepção libertária é agora, e não nos dias futuros. E a liberdade, que não é isolamento, só pode surgir quando você compreende sua responsabilidade em relação ao todo. 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A trave da medição pela moral estabelecida

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Carecemos de criativa e integrativa lucidez.

Adicionar legenda
Out: Estamos percebendo a estrutura, que sempre esteve aí, funcionando sempre nesse mesmo modo: inadequação, falta de sentido e de comunhão com a vida, em qualquer forma de manifestação.

F.: Out, isso é o que está sendo visto aqui. Não tem como negar, nem como não ver.

Out: Isso ocorre não só com você, mas com o resto da humanidade.

F.: Entendi, hoje é bem claro que é isso.

Out: a diferença é que você está vendo e se permitindo SENTIR.

F.: Melancolia é o que é visto e sentido

A.: Sem espontaneidade

Out: Tudo o que fazemos (fora o que é para a real sustentação do corpo), nada mais é do que uma forma de fuga de si mesmo, através de atividades não essenciais. Não conseguimos sentar e, apenas, SER... pois a inquietude não deixa.

F.: sem fuga.

Out: Por causa da constante inquietude, inventamos o que comprar, o que fazer, o que consumir, o que assistir, com quem conversar... tudo, menos, sentar e ser com a inquietude; vamos tentando dar sentido a um modo de ser que é percebido sem sentido, pelo fato de não ser holisticamente sentido.

F.: Eu vejo que o processo permitiu isso: nos deixar com a inquietude. Já não conseguimos mais ler nem assistir nada.

C.: Sim

Out: Não é que não conseguimos... É que não faz mais sentido.

F.: Não faz. mas, não vejo que há o que fazer. Sinceramente, não encontro uma atividade que permita algo de novo; não saímos mais fazendo por fazer.

Out: Chega-se num ponto, em que precisa ocorrer “algo além” do observador.

F.: Tudo se mostra mais do mesmo, portanto, não dá!

Out: Precisamos de uma percepção além do condicionado percebedor, pois é percebido que toda percepção é sempre limitada aos nossos condicionamentos.

F.: É o que é, vero!

Out: Precisamos de algo fora do eu, ou dos “eus” (D-eus); a vinda do que é chamado de “espírito santo” (não adulterado).

F.: Você tem razão e, no momento, temos que ficar com o que se tem.

Out: Precisamos do que chamam e “a salva-ação”, ou seja, a revelação daquilo que tira a ação, da antiga ação que, em última análise, é uma forma de escapismo; algo que coloque a ação em seu real propósito de ser. Fora disso, toda ação não é ação, mas sim, reação; e como já vimos, toda reação é uma ação em ré, portanto, só cristaliza o viver na limitação e na inquietude.

F.: fundo de medo, ansiedade e inquietude; o sentimento gira nisso.

Out: Portanto, sem o que chamamos de "integrativa percepção libertária", permanecemos adictos de um inquietante e incompleto modo de perceber a realidade, atividades, acontecimentos e relações.

F.: A percepção de que o medo toma grande parte.

Out: O medo se dá pela estrutura estar vendo ameaçado, tudo aquilo que ela construiu, de inconsciente e inconsequente, para se proteger, para se autoafirmar como realidade.

F.: isso: autoproteção da imagem.

Out: Mas qualquer coisa feita pela estrutura, neste momento, é outra forma de proteção para se autoafirmar, para se proteger, para se assegurar.

F.: Isso está muito claro, assim como de que não há o que fazer!

Out: só a integrativa percepção libertária, tem o PODER SUPERIOR de tornar nova todas as coisas.

F.: Interessante: nem morrer sou capaz!

Out: O querer morrer, é uma forma de querer se autoafirmar em outro mundo.

F.: Isso está bem claro também: nem morrer para a estrutura.

Out: Isso é a própria estrutura querendo se autoafirmar em algo que ela projeta não ser ela mesma. Isto é XEQUE-MATE!

F.: É!

Out: Vamos subir dois filmes hoje, que mostram bem essa questão. Nossa educação fez de nós seres psicologicamente dependentes, calculistas, separatistas e usuários. Isso fez sentido durante um tempo, e agora, com o esclarecimento de que isso é um modo insano de viver, não faz mais. No entanto, carecemos de LUCIDEZ isenta do cálculo autocentrado e, sem ela, tudo que fazemos, retroalimenta o cálculo e a medição.  Portanto, a limitação, o vazio, a total ausência de comunhão. Chegamos com isso, num modo moral de ser... mas a moral, só impede o conflito externo, não tem poder de acabar com o conflito interno, e quando este se amplifica, dá-se a recaída no padrão moral. É preciso algo que nos leve muito mais além da forçosa e titubeante moral. Para chegarmos até o presente modo de perceber a realidade, algo se manifestou em forma de ferramenta depuradora da percepção. Esse algo estava sempre no externo, mas agora, o externo foi percebido como limitante. Agora, o algo tem que ser interno, nisso que somos; fora disso, só perpetuamos o ciclo de ilusão, limitação e sofrimento, tanto para nós, como para os demais que nos cercam.

Carência de liberdade mental e emocional, carência de criativa e integrativa lucidez. Não dá mais para imitar, não dá mais para simular, e não dá mais para fingir acreditar na simulação alheia, pois está tudo desmascarado. A estrutura sempre será insegura, sempre preocupada consigo mesma, sempre intranquila, limitada e imitativa, sempre com fortes tendências de ajustamento, e no ajustamento, não há como ter liberdade expressão. Sem liberdade, é um viver pisando em ovos.

F.: Por aí não dá mais! É só observar, ver como é, como funciona e pronto: Impotência! Não tem o que fazer. E vimos que não tem nem quem faça o que... já tentamos na prática, e não adiantou... Ilusão de controle, de escolha e de decisão.

A: Exatamente! Na mosca!

terça-feira, 16 de junho de 2020

Dos medos do eu ilusório à Plenitude do Eu Eterno

Como viver neste mundo após o vislumbre transpessoal?

segunda-feira, 15 de junho de 2020

A extraordinária vivência da não-dualidade

Enquanto no eu ilusório, você só vive o passado

domingo, 14 de junho de 2020

No Eu Eterno não existe tempo nem passado

sábado, 13 de junho de 2020

A perigosa Verdade do Eu Eterno

Observando nosso compartilhado estado interno

Para você viver de modo verdadeiramente grandioso, você deve ter pleno entendimento do propósito da vida. Este pleno entendimento, do qual unicamente provêm as verdadeiras ideias, conduz à uma vida harmoniosa, à incorruptibilidade do pensamento e à perfeição do amor. Queremos estabelecer dentro de cada um de vocês, o equilíbrio, a harmonia que é a verdadeira criação. 

O que é a sua vida? Se você a observar de modo impessoal e cuidadosamente, verificará que a sua vida está entravada por pequenas e contínuas manias e angústias, por aborrecimentos, depressões, incertezas, esperanças vãs de consecução, por um implorar e um rogar, por descontentamentos e ambições infrutíferas, e pelo prazer que sempre termina em lágrimas. Este é o estado interno de todo ser humano: um torvelinho, uma luta contínua e um esforço infindável. Qual a causa disto? Sustentamos que as suas ideias sobre a vida, não correspondem ao que é Eterno. 

Sustentamos que para viver com grandeza, com êxtase de propósito, você necessita colocar a raiz de suas ideias no Eterno, no perdurável. 

Para você vencer esta incerteza, esta enorme luta, este caótico combate, suas ideias, sua vida, sua razão, seus pensamentos, seus afetos, devem ter o seu ser naquilo que é Eterno. 

É na sua vida diária que você tem de realizar a eternidade. É em todas as suas ações, em cada um de seus pensamentos, em cada um de seus sentimentos, que você deve contemplar a eternidade. Você não pode fugir para um outro mundo em busca da felicidade. É enquanto vive neste mundo que você precisa encontrar a Verdade. É pelo processo de viver neste mundo, que você atinge a vastidão da vida. São seus pensamentos diários, seu amor de todos os dias, seus atos jornalísticos que criam a luta, a angústia, o prazer, a solidão, a corruptibilidade da vida. É com essas coisas que o homem está a todo instante lutando, e em sua expressão de luta, ele rouba a luz de terceiros, e cria o caos ao redor de si. É somente pelo encontro da Verdade, que você modifica essas expressões.

Portanto, se faz necessário o descobrimento da Verdade; ela deve ser estabelecida na conduta da sua vida, pelo modo como você trata as pessoas, na maneira pela qual as julga, nas ações que nascem do pensamento e do afeto. A Verdade somente reside neste processo. No processo de estabelecer a incorruptibilidade, de atingir a perfeição do pensamento e do amor, é que a Verdade se encontra. 

Você não deve fazer disto uma religião, um dogma, ou uma crença, porém, pela conduta de sua vida, você deve mostrar que compreende e que tem seu pensamento e seus afetos, radicados no eterno, o qual, sustentamos, é a libertação de toda a corrupção, pois a corrupção é uma limitação. Portanto, você deve buscar a incorruptibilidade do eu, o eu que está dentro de cada um, pelo esforço individual, não coletivo, pois somente nesta incorruptibilidade do eu, é que reside a liberdade. 

Liberdade do eu limitado é verdade. Conhecimento do Eu ilimitado é vida eterna, é libertação, esse equilíbrio que é verdadeira criação. Pois o eu é o Eterno, ele não tem começo e nem fim, não conhece morte e nem nascimento. ELE É. O eu limitado, que existe em cada um em estado de corrupção, está buscando estabelecer esta incorruptibilidade, a qual é a verdade. No processo de tornar esse eu incorruptível, é que reside a libertação. 

Você precisa entender isto, e deste entendimento, fazer derivar suas ideias da vida. Então, tudo o que você fizer, sejam quais forem as suas ações, seus pensamentos e sentimentos, trarão eles a marca da eternidade. Das manifestações do eu limitado, das expressões da sombra, você busca suas razões de conduta e extrai suas conclusões. Sustentamos que isto é errado e resulta no caos que lhe rodeia. Porém, se você quiser entender a verdade e estabelecer suas ideias na verdade, deve buscar a esse eu e torná-lo incorruptível. Somente desta verdade você deve tirar suas ideias e viver continuamente focalizado nessa verdade. 

Dessa primavera terna, a qual é a incorruptibilidade do eu, que é vida, devem nascer seus atos, pensamentos e seu amor. E então, você será como a chuva que desce sobre as terras estéreis, tornando todas as coisas renovadas e frescas, outorgando deleite e êxtase, destruindo aquelas perversões e ilusões, que os homens tomam como realidade. 

Krishnamurti, 1929

Pensar é uma droga que dá barato até certo ponto

A Mente Adquirida é a Roda de Samsara

A Crise Iniciática e o Processo de Descondicionamento

Por quais fatores somos condicionados?

A Entrega como última reação do eu ilusório

Como assim, o eu não é real?

O eu ilusório é a matriz de toda carência

Observar, Absorver e Absolver-se do eu ilusório

Sobre o personavírus e a adulteração psíquica (editado)

Não há libertação, sem educação do eu progressivo

A verdade é algo absoluto e sem direção

Você precisa se libertar de suas prisões

Liberte-se da impureza corruptora do eu

A revolução religiosa e o florescer do Eu Eterno

A natureza do "eu" progressivo

O eu pessoal é o mesmo eu do coletivo

A Verdade não pode coexistir com a mentira

A Verdade e a mentira não podem morar juntas. Você deve ser inteiramente pela Verdade, ou inteiramente contra ela, você não pode condescender. Você não poderá avançar por qualquer outro modo. Você não pode permanecer na sombra e adorar o sol; você tem que sair da sombra e deleitar-se ao sol, regozijar-se em sua pureza, a fim de que você mesmo se torne puro, perfeito, incorruptível. Você não pode transigir, pois a Verdade não reside em esperanças mortas. 

Na mente da maioria que nos escutam, existe uma inclinação a acreditarem que aquilo que dizemos é puramente destrutivo, e, daí, algo negativo, que a todo o instante estamos derrubando, que não somos construtivos. O que dizemos não é construtivo nem destrutivo, porque falamos da Vida, e na Vida não há nem destruição nem construção. É insensatez dividir a vida em construtivo e destrutivo. Porém, quando dizemos que algumas coisas são infantis, desnecessárias, insensatas, não essenciais, falsas, é porque desejamos tornar clara a única coisa realmente essencial, nítida, positiva, evidente, distinta. Somente de você, portanto, de todo indivíduo, é que depende a destruição e a reconstrução. No próprio processo de desconstrução, você está construindo. É isto que você não percebe. Logo que você tenha deixado de lado todas as coisas infantis, todas as muletas, todas as coisas não essenciais, fúteis, triviais, dentro de você começa a crescer essa certeza segura que está acima de todas as coisas transitórias, e que é constante, que é a verdadeira medida do seu entendimento.

Portanto, isso não é uma questão de destruição, mas sim, antes, de um desejo de descobrir por si mesmo o verdadeiro valor e significado, o verdadeiro propósito da vida. Para este descobrimento, você necessita deixar de lado tudo que é de pequeno valor, pois que de outro modo, sua mente se perverterá, seu julgamento será distorcido. 

Você tem que vir a esta Verdade da qual falamos, a qual afirmamos ter atingido, sem fardos, imaculados. A ela você não pode vir com a mente prejudicada e ideias preconcebidas, com falsas esperanças e temores, ambições e glória pessoal. Colocando de lado todas as coisas que antes tínhamos por necessário, é que achamos aquilo que é Eterno, incondicionado, que é a própria Verdade. 

Foi rudemente rompendo inteiramente com o passado, dentro de nós mesmos, que encontramos aquilo que é perpétuo, que não é passado e nem futuro, que não tem começo e nem fim, que é Eterno. Tendo por esse meio encontrado aquilo que é perdurável — e não existem outros meios — gostaríamos de dar aos outros o entendimento.

Krishnamurti, 1929

Na verdade, todos temem a liberdade

Não se preocupe com coisa como pode ou não existir um caminho de discipulado, o qual a Verdade conduza ou a existência de um tal caminho se tornará uma barreira. Dizemos que a Verdade é uma terra sem caminhos, que não pode ser abordada por qualquer caminho, por nenhuma estrada ou por intermédio de terceiros. 

Você não pode interpretar isto mais que de um modo. Você acha tudo isso muito difícil, porque não abandonou seus velhos modos de pensar. Você quer que os novos métodos se transformem nos velhos e, por essa maneira, se firmem confortavelmente nos antigos. O que você deseja, é não ser de modo algum perturbado. Você quer que lhe deixem em paz em suas águas tranquilas e estagnantes. Se assim for, esqueça tudo isto. Mas, se você quiser o que é novo, abandone o antigo, não brinque mais com essas coisas. Isto não é uma luta de egoísmo. Falamos acentuadamente, porque existe miséria e tristeza na face de todos, existe o caos, a contínua luta, e por ela você é colhido, e não a abandona porque se amedronta. Antes você quer morar nessa tristeza, nesse sufoco, do que abandonar o antigo e lutar pelo novo. Assim, ao vermos tristeza, dor, sofrimento, regozijo, prazeres que são limitados pelas lágrimas, queremos libertar o homem. Porém, como não podemos libertá-lo, pois ele mesmo tem que se libertar, nosso papel é despertá-lo, impeli-lo para essa liberdade, não por meio do sentimentalismo, por meio do êxtase, ou por meio da autoridade, porém, por meio da penetrante observação, pela sensatez, pelo apercebimento, pela autovigilância.

Assim como em cada primavera, toda árvore emite novas folhas, assim também deve haver contínua mudança em você, e você se amedronta de mudar. Você quer que a Verdade lhe seja dada exatamente pelos velhos métodos, a fim de poder ficar tranquilo, feliz e por esse modo degenerar para a estagnação. É isto o que está ocorrendo por todo o mundo.

Para entender a Verdade, você precisa nela mergulhar. Você deve se achar tão ansioso, a ponto de deixar tudo de lado e pular — não insensatamente, não sem discernimento, porém, com extremo cuidado, com sensatez, com a inteligência que escolhe entre as coisas essenciais e as não essenciais — e então, você compreenderá.

Não há padrão ético para o homem liberto

Duvidamos que os grandes instrutores do passado criaram regras de conduta e sistemas éticos. Geralmente são os discípulos que estabelecem o sistema e as regras de conduta. Os instrutores realmente grandes não estabelecem regras, visto que eles querem libertar os homens, e você não pode se libertar por sistemas de ética ou de conduta. Isso é algo puramente individual.

Existe um padrão eterno para o homem que atingiu a Verdade e, no entanto, não existe para ele padrão ético, pois que é livre. Um padrão eterno em assuntos de ética não pode, em último turno, existir. Estes padrões são inventados pelo homem para a reta conduta do seu próximo, e nunca para ele mesmo. Você não pode dizer que existe um padrão eterno de ética, porque um padrão é uma forma de medição, pela qual se julga e se pode comparar. Quando você tiver atingido essa liberdade que é Verdade, você será todas as coisas e toda a coisa concebível estará em você, pois que a Libertação é Vida, é a exata natureza de tudo que é. Para tal homem, não existe padrão. Isto não quer dizer que você possa fazer exatamente o que lhe apraz, pois não o pode. O homem que luta para atingir o Eterno, deve ter um padrão pelo qual possa “medir”, e este padrão é a compreensão do Eterno, porém ninguém pode estabelecer uma lei para ele.

De certo modo, a conduta correta, é e não é o mesmo que a verdadeira criação. Verdadeira criação é o momento de equilíbrio ao qual você chega por meio da harmonia entre a razão e o amor. Sustentamos que esta harmonia, é a verdadeira criação. Você precisa chegar a essa harmonia que é equilíbrio, por meio da reta conduta, que é autodisciplina, imposta por si mesmo, à luz do Eterno; não a disciplina imposta por terceiros, por meio do medo, nem pela esperança de salvação, porém, a autodisciplina imposta por meio do entendimento e do preenchimento da vida. 

A conduta reta é uma expressão da Verdade, assim como a arte é uma expressão de beleza. A verdadeira criação, é a expressão da Verdade, pois que a verdadeira criação é perfeita harmonia, a qual não pode ser perturbada, que é serena, plácida, forte e segura. Este equilíbrio é Verdade. Essa Vida que foi atingida por intermédio da perfeição e a incorruptibilidade do eu, é Verdade. Portanto, é a expressão da Verdade, como a arte é a expressão da beleza.

A mais alta forma de inteligência

É pelo fato de você estar brincando com coisas não essenciais, que nosso padrão de vida não se aplica ao seu e, sendo assim, tudo que dissermos, será desfigurado para se adaptar às suas conveniências. Enquanto as limitações criarem uma barreira, haverá tristeza. E daí, muitos direitos e deveres eu criam barreiras e tristeza; portanto, não queremos ter direito algum, ou qualquer dever que me crie limitação. Agora, você não poderá negligenciar as responsabilidades já tomadas. Porém, seu dever, se puder assim evitar, é não assumir novas responsabilidades. Direitos e deveres e outras coisas tais, vistas do ponto de vista do Eterno, são somente meios para chegar a um fim, são degraus. Porém, você tem que observar que são degraus, e seguir em frente, não se detendo amarrado por esses deveres e esses direitos. 

Se continuamente você se esforçar por encontrar a Verdade, e tiver isto como seu padrão de vida, observe tudo o mais por ele. Não observe pelos velhos padrões ou pelos padrões que lhe são apresentados, por deveres e direitos, porém, pelo padrão que você estabelecer por meio da busca e do cuidadoso discernimento entre o essencial e o não essencial, pois que isto é inteligência. A capacidade de escolher o essencial, é a mais alta forma de inteligência, pois que o essencial é aquilo que torna o homem eternamente livre. Se você tiver isto como seu padrão eterno, por ele poderá medir tudo quanto surja.

Krishnamurti, 1929

A única coisa que importa

Você não pode se aproximar da Verdade por um caminho, seja ele qual for, nem por qualquer religião, nem por um rito qualquer, ou qualquer cerimônia, nova ou antiga. Todas as formas de cerimonia religiosa, destinadas a auxiliar o homem, não podem de modo algum ajudar o homem quanto a Verdade. Se são antigas ou novas, é coisa que nada significa. Se você não as tiver novas, buscará as antigas. Muitos deixaram formas antigas e tomaram outras novas, na esperança de encontrarem a Verdade, e não a encontraram. 

Para agora mesmo encontrar a Verdade, você necessita libertar-se de todas essas coisas. Para ajudar fundamentalmente, você não deve proporcionar auxílio exterior, mas sim ajudar a purificar o esforço individual e a fortificar a incorruptibilidade do eu. Esta é a única coisa que importa, e não todos os seus sistemas espirituais, igrejas e rituais. Você deseja todos esses sistemas, porque não pode se manter por si mesmo, livre, seguro, certo do que está buscando. Se você não tiver um sistema, inventará outro, pois que todos os sistemas são feitos pelo homem. Esses sistemas espirituais não são a resultante da Vida, nem corporificam a Verdade. 

Sustentamos que encontramos, aquilo que todo homem no mundo anda buscando, e dizemos que, se do mesmo modo você desejar achar, precisa ser forte, livre, e colocar de lado todas essas coisas infantis. Você não poderá encontrar auxílio perdurável, verdadeiro, incondicional, vindo do exterior, nem a indulgência com essas coisas representa verdadeira auto-expressão. 

Enquanto você vai adorar em um santuário fechado, a Vida dança continuamente nas ruas e escapa de você. Você quer encontrar a Verdade nos santuários e nos tabernáculos feitos pela mão do homem, porém, você não quer adorar a Vida, em si mesma, que está por toda parte, o coração, na luta de todos os que lhe rodeiam. 

Existe algo maior do que todas essas criações objetivas do homem, e você não pode chegar ao maior, por meio dessas. A essas você quer usar como muletas, como brinquedos, com os quais joga as crenças para o fortificar. Se você não experimentar a sua força deixando de lado as muletas, como poderá chegar a conhecer sua integridade, sua vitalidade? A Verdade não reside em nenhum sistema, crença ou ritual, em nenhum desses caminhos. É distanciando-se dessas coisas, as quais são sombras, irrealidades, que você encontrará o criador de todas as sombras, a semente de todas as coisas e a própria criação em si mesma. 

Portanto, preocupe-se com a Vida, que é o eu de todo ser humano; fortifique, purifique e torne incorruptível esse eu, e então, serão perfeitas as formas criadas por esse eu. Você está tomando a sombra pela realidade, adorando as sombras e esquecendo as realidades. Se você realmente se acha ansioso de encontrar, de estabelecer a felicidade em si mesmo, tem que abandonar seus jardins de infância. Se você arder pela Verdade, tem que sair de suas sombras, deixar seus brinquedos, e gozar aquilo que cria todas as coisas e que é você mesmo. 

Krishnamurti, 1929

Deixe de lado seus brinquedos infantis

Por meio da autoridade, você tem estabelecido certas crenças para si mesmo, as quais não chamaremos conhecimento, por não serem baseadas na observação e no esforço individual. Foi-lhe dado um grupo de crenças, um sistema de pensamento, e você vem aqui para verificar o que dizemos e o torcê-lo a fim de o adaptar às suas particulares teorias, dogmas e crenças. Um homem forte, livre, que tenha atingido a meta, um homem que verdadeiramente lute pela perfeição da vida, não possui crenças, pois que as crenças atuam como muletas e encorajamentos. Por causa do medo, em virtude do medo da salvação, pela dependência das coisas externas, os indivíduos têm criado inúmeros deuses, altares, templos, e igrejas, e por meio destas, têm buscado aquilo que jamais pode ser encontrado por tais processos. Pelo fato de desejarem buscar a salvação no exterior, o auxílio nas coisas externas, esperam que nos adaptemos confortavelmente e os ajudem em suas trivialidades e incertezas; julgam que poderiam os adicionar às suas coleções de inúmeros deuses. Isto é infantil, porque jamais poderão encontrar essa harmonia que é a Libertação, vinda do exterior; ela está dentro do indivíduo a todos os instantes. 

E a maioria acha-se por tal modo embalsamada em preconceitos, em ideias preconcebidas do que é a Verdade, do que é o céu e o inferno; tudo para a maioria é tão claro, dentro de um âmbito tão estreito, que, quando a Verdade lhes aparece, a maioria a rejeita. Não aceita a Verdade de braços abertos, não a abriga em seu coração, por ela não anseia como o homem que se afoga anseia por ar. O que lhe dizemos, nada tem que ver com qualquer coisa não essencial, com seus cultos, preces, ritos, com suas crenças e inúmeras teorias. Esta busca não tem nenhum valor se você for encorajado pelos dizeres de outrem. Pelo fato de ser dependente, você quer que sua dependência seja intensificada. Porém, precisamos criar homens fortes, que entendam o todo, e por esse modo alterem as tristezas, as trivialidades que existem no presente mundo. Tais homens devem brotar destas reuniões e não seres débeis. Pessoas fracas produzem pessoas fracas, os supersticiosos animam a superstição, porém, os homens que realmente houverem compreendido, que estejam lutando em prol da única coisa essencial, alterarão o semblante do seu próximo e o deles mesmos. 

A Verdade é uma terra para a qual não existem caminhos, e dela você não pode se aproximar por uma via qualquer que seja ela. Assim, se você se achar ansioso por entender o que estamos dizendo — verdadeiramente ansioso — então você deve colocar de lado todas essas coisas, sem transigência.  Estamos certo, porém, a nossa certeza, não deveria determinar preconceitos ou animar à propulsão, fosse a quem fosse. Porém, pelo fato de você estar ansioso, com o desejo de verificar a Verdade, deve examinar com inteligente cuidado, o que estamos lhe dizendo. Falamos a respeito do preenchimento final toda a vida — a qual todo o ser humano isoladamente tem de chegar. Se você se encontra realmente ansioso pela Verdade, tem que colocar de lado todos os brinquedos infantis, para chegar ao mundo onde não existem ilusões, onde existe a Verdade, a certeza e a perfeição que é Libertação. Para saber o que é a Verdade, você tem que vir absolutamente descarregado, colocando de lado todas as coisas infantis, libertos do medo, incondicionados, e com o desejo de observar. Portanto, ou continua plenamente com seus brinquedos, ou os abandona de vez. 

Sustentamos, sem sombra de dúvida, que somos a Verdade integral, incondicionada, não um fragmento dela, porém o Todo. E se você quiser compreender o Todo, tem que vir a ele absolutamente descarregado. Se você quiser descobrir se estamos certo ou errado, se encontramos aquilo que é Eterno ou meramente o que é transitório, você tem que vir para esta descoberta, com um espírito ardente e aventuroso. Como você poderá se assegurar, se você mesmo se acha sobrecarregado, com todas essas coisas infantis que não têm valor, que não podem ser confrontadas com aquilo que é o Eterno? Você efetua inúmeros sacrifícios com desconforto e muitas coisas que são fisicamente desagradáveis, porém, mental e emocionalmente, você se acha sobrecarregado, pesado de preconceitos e, assim, você é incapaz de descobrir por si mesmo, se o que estamos dizendo é verdadeiro ou falso, real ou irreal, essencial ou não essencial. 

Você deve colocar de lado seus brinquedos infantis e se esforçar para realizar a liberdade, a imensidade, a incorruptibilidade da Vida. Uma vez que você tenha visto, quando tiver alcançado um vislumbre dessa visão, então saberá que aquilo do que falamos, não é destrutivo nem construtivo, que não é dinâmico nem estático, pois que falamos a respeito da Vida, que é o Todo, que é a semente de todas as coisas, e, para compreender o Todo, você não pode vir sobrecarregado com um fragmento qualquer, porém, ao contrário, você deve achar-se livre, ansioso, em seu desejo de descobrir. 

Krishnamurti, 1929

Não espere por salvação vinda do exterior


Fortemente sentimos ter chegado o tempo em que cada indivíduo precisa mudar drasticamente, isto é, separar-se integralmente de tudo que colheu do passado, dado o fato de haver compreendido. Em você, ainda não ocorreu um suficiente despedaçamento, um corte radicalmente relativo ao passado, e um tal decepar somente se produz, quando você realmente estiver ansioso de achar algo que lhe dê uma satisfação perdurável, entendimento, consolação para substituir aquilo que de você for retirado.

Sem esse corte absoluto relativamente ao passado, você jamais chegará a criar coisa alguma, quer em si mesmo, quer na sociedade. O elemento mais essencial para o entendimento, vem a ser a destruição de todas as barreiras criadas com aquilo que se apresenta no presente, mas você quer continuar pelo mesmo velho caminho, ter seus Mestres, seus Gurus, seus ritos, cerimônias e conciliar tudo isso, com aquilo que se apresenta à você.

De maneira alguma lhe é possível, viver ao mesmo tempo com o passado e com o futuro. Você pode se dizer fraco, e por isso necessitar de apoio de alguém que lhe encoraje. Porém, isto não constitui real encorajamento. Se você confiar em terceiros para a sua felicidade e crescimento, se tornará ainda mais fraco, em vez de se fortificar. Portanto, não espere por salvação vinda do exterior, seja de que forma for, pois do contrário, você somente adotará novos convencionalismos, no lugar dos antigos.

O que necessitamos, é criar homens fortes, que se achem seguros de sua salvação, certos quanto ao seu propósito e que não busquem o conforto, ou as autoridades exteriores, o encorajamento de terceiros. O estar assim concentrado, exige uma contínua observação. Estar desprevenido e não pensar claramente, é o maior infortúnio que possivelmente pode lhe atingir. O não estar percebido determina a busca de conforto. Você tem que pensar constantemente em seu propósito de vida, não artificialmente, porém, entenda cheio de equilíbrio e autovigilância.

De nada serve todos os seus estudos, se ao mesmo tempo, em si mesmo, não existir a vida genuinamente nascida do claro entendimento. Não nos preocupamos com a invenção de teorias, de novas filosofias, de novos sistemas ou combinações destas coisas, mas sim, integralmente com ideias, pensamentos e sentimentos que possam ser vividos, que devem ser vividos. Achamos aquilo que, para nós, é absoluta certeza, aquilo que é a Realidade Absoluta — não a relativa, porém, Absoluta.

Portanto, queremos demonstrar que as ideias por nós encontradas, podem ser vividas por todos, e precisam ser vividas por todos. Elas não são para os especialmente privilegiados. A perfeição não é uma excentricidade, porém, uma coisa natural. Trata-se do resultado do constante esforço e observação, apercebimento, auto recolhimento. Resulta de contínuo focalização dos esforços na direção dessa Realidade, a qual não pode ser afetada por nenhuma circunstância exterior, por nenhuma autoridade externa, por qualquer influência, tristezas ou prazeres externos. Se você concorda com isto que falamos, deveria se esforçar para se desembaraçar de todas as dependências externas.

Aquilo que atingimos, precisa ser atingido por você. Não é privilégio de uns poucos, é a flor de toda a humanidade, do mundo dos mortais. Assim como cada qual no mundo é colhido pela roda do tempo e espaço, do sofrimento e tristeza, da dor e prazer, desejamos que você se retire dessa roda, a roda do que é transitório, do que não é essencial, do irreal, do ilusório, e mediante este retirar, estabelecer por si mesmo, uma certeza absoluta, a qual não possa ser contestada.

Você tem buscado há anos e, apesar disso, ainda não pode sustentar com segurança sua opinião, seja contra quem for. Você está incerto, não sabe se o que dizemos é real ou irreal. Você não poderá se manter firme perante os outros, sem estremecer, enquanto não conquistar essa certeza, enquanto não sentir que obteve sucesso, enquanto não sentir que obteve êxito, enquanto não souber que o que dizemos é realidade, e em virtude de ter se fortificado.

Não buscamos por pessoas que meramente concordem com aquilo que dizemos. Porém, se você concorda, então deve fazê-lo tão integralmente, se opondo a tudo o mais, sendo uma chama que destrua tudo o mais. Você tem que ser ou uma coisa ou outra, não pode permanecer neutro. Se você for essa chama, então seu ser inteiro, seu semblante, sua atitude, seu afeto, seus pensamentos, seu ambiente físico, tudo em você, deverá ser a expressão deste fato. Porém, se você não concorda, esqueça isto, e seja contrário, com tanta violência como seria a favor. É assim que entendemos as coisas, porque o caminho que você vem trilhando, não produziu e não produz coisa alguma.

Até que ponto você tem modificado a gente do exterior, até que ponto tem alterado as suas próprias circunstâncias, a sua própria vida? Sua concordância com o que dizemos, não produziu nenhuma mudança e, portanto, na realidade, você não concorda. Você, como as pessoas ordinárias, se acha amedrontado, é fraco, tão medroso quanto às superstições, autoridades, convencionalismo, como os de fora. Sua concordância não produziu homens fortes, gente indiferente a tudo, porém, segura de sua própria força.

Você não pode ter ambas as coisas, não pode cultuar uma imagem e, ao mesmo tempo, falar de liberdade. Não pode adorar quadros, e a despeito disso, falar da realidade. Não pode ser escravo e, ao mesmo tempo, falar da autonomia psicológica que vem da certeza interna, do verdadeiro entendimento que nasce da observação.

Você não pode estar filiado a sistemas e, ao mesmo tempo, falar da verdade de toda a vida. Você deve ser uma coisa ou outra, deve ser quente ou frio. Se for quente, então precisa incinerar todas as coisas externas, destruir todas as ervas daninhas, as superstições, os medos, os deuses, as irrealidades, as coisas não essenciais da vida. Se você for frio, então, deixe de lado o que estamos lhe dizendo, e seja egoísta, estreito e temeroso.  Por favor, não alimente medos a este respeito, e certifique-se de uma coisa ou de outra. Não há vantagem em a todo o instante, estar se esforçando para alcançar uma coisa e, depois de a ter obtido, deturpá-la para adaptar à outra. Você não pode torcer, não pode conciliar as duas, a antiga e a nova. Por esse meio, você só criará maiores tristezas, desentendimentos e lutas.

Não estamos nos esforçando para lhe estimular à uma coisa ou à outra. Não nos importamos que você concorde conosco ou não, visto que oportunamente, você concordará. Se não for agora, o fará dentro de uma centena de milhões de anos, pois falamos daquilo que é a Flor da Vida, a fragrância, a formosura de toda a humanidade.

Você não pode, ao mesmo tempo, pertencer à luz e às trevas, à certeza e à incerteza, ao essencial e ao não-essencial. Se os seus pensamentos, emoções e ideias, pertencerem ao domínio do transitório, então você jamais encontrará aquilo do estamos lhe falando. Para você descobrir se tais coisas são as sementes que produzirão a Flor do Eterno, você tem que passar por um processo de eliminação, de completo desapego de todas as coisas que tiver adquirido, visto que suas ideias não têm suas raízes no Eterno, porque você ainda não descobriu aquilo que é Eterno. Uma vez que você o tenha descoberto, seu ideal naturalmente tomará a forma dessa imortalidade, dessa certeza da qual falamos.

Falamos a respeito dessa Vida que é a vida de todos, mutante e imutável, constante e variável, à qual tem de chegar todo ser humano, todas as vidas individuais no mundo, pois que a imperfeição cria a individualidade; e a perfeição que é Vida, que é Verdade — Absoluta, não a relativa, não a condicionada — você tem que verificar que não existe caminho para ela. Não pode haver estradas para ela — pois a Verdade não tem caminhos. O oceano recebe todos os rios. Um rio pode atravessar um país, outro rio pode passar por outro, experimentando diferentes climas nutrindo diversas árvores, diferentes raças, diversos tipos de pessoas, ou correr através das areias desertas: e, contudo, todos eles vão para o mesmo mar. A Verdade é semelhante ao Oceano, sem caminhos e sem rotas fixas.

A vida é livre, incondicionada, ilimitável e, para atingi-la, é preciso não trilhar qualquer caminho que seja limitado e restrito. Pois a Verdade é o Todo, e não a parte. Você não pode chegar à Verdade com a mente não depurada, apenas parcialmente evoluída, e com emoções semi evoluídas, visto que a Verdade é a harmonia e o equilíbrio perfeito da mente e do coração, que é a Vida. Todo homem e mulher, toda a coisa na vida está buscando, esmiuçando, lutando, na tristeza, na dor e no êxtase, por essa liberdade que não pode ser perturbada, a qual é perfeição, o preenchimento de toda a vida.

Você necessita ser livre, não pertencente a nenhum Deus, religião ou crença. Não se incline diante de nenhuma autoridade, passada ou presente, pois toda autoridade é improdutiva. Se a sua mente e o seu coração, estiverem estrangulados pelo culto, pela prece, pelo medo, pela incerteza, então suas ideias não poderão ter sua raiz no Eterno, nessa imortalidade que é perfeição. Portanto, afaste-se de todas essas coisas, pois sendo escravo de todas essas coisas, você vive à sua sombra; e como você poderá entender a luz do sol?

Ninguém pode levá-lo para o sol, a não ser que você o faça por si mesmo. É bem infantil falar em salvação por intermédio de terceiros, pois ninguém pode salvá-lo. Você mesmo tem que fazer o formidável esforço para sair da sombra. Se você permanecer nela, então diga: “Nas trevas me agito e nelas sinto prazer”. Você tem pleno direito a isso. Porém, se você quiser gozar da luz, da sua claridade, pureza e serenidade, então você tem que sair da treva.

Krishnamurti, 1929

A conquista do libertário percebimento


Para você possuir o verdadeiro apercebimento de si mesmo, necessita ser constantemente concentrado, o que é algo muito difícil. Você não pode encontrar a si mesmo, se dissipar toda sua energia em conversas e murmúrios. Aquilo do qual falamos, não é nada extraordinário, pois é a consumação da vida individual e universal. Para você entender isto e trazer a teoria para a prática, na ação diária, deve se libertar de todas as influências objetivas externas.

Até agora você tem tido certos padrões, os quais têm seguido, porém, pela revolta, pela destruição da autoridade, pela sua própria inclinação, esses padrões foram destruídos. Agora você necessita estabelecer um novo valor, por si mesmo, um verdadeiro padrão que atue como um guia.

Para o fim de encontrar os retos valores e padrões, você tem que passar por um processo de eliminação. Não se trata simplesmente de fazê-lo mental e emocionalmente, deve ser produzido um correspondente resultado físico à sua renúncia, à sua rejeição. Observe que renuncia e auto sacrifício são coisas que na verdade, não existem para o homem que realmente compreende. E como haveriam de existir? Esforce-se para deixar de lado todas as coisas que lhe foram impostas, que você adquiriu, a fim de poder verificar qual o núcleo de sua inteira substância; para encontrá-lo, naturalmente você tem de deixar de lado todas essas coisas. Ora, isto não é renúncia, e sim, depuração.

Para possuir essa autonomia psicológica no que se refere às coisas externas, para descobrir sua verdadeira substância, você tem que se libertar do medo da salvação, visto que ninguém lhe salvará, exceto você mesmo. Nenhum edificar de igrejas, nenhuma concepção pessoal de deuses, de imagens, de preces, de cultos, ou cerimonias de nenhuma espécie, lhe dará esse interno entendimento e tranquilidade a que nos referimos.

Dedicamo-nos em produzir homens fortes e incorruptíveis no mundo, de visão clara e que deem lugar a uma geração que tenha claro entendimento. Portanto, você precisa se libertar dos antigos e modernos deuses. O que você está esforçando por fazer? Libertar-se ou ser criança fraca que necessite sempre ser guiada e ajudada? A seu tempo, você deve tornar-se forte, libertar-se de todos os deuses, por ser você mesmo, potencialmente, semelhante a um deus. Assim, por que adorar algo externo que não tem valor? É curioso que você sempre adora aos deuses e jamais ao homem do campo, jamais a si mesmo ou aos seus colegas de trabalho. Quem é o deus que você cultua? Certa deidade remota, ao passo que ainda nem sequer sabe, como há de ser amistoso para com seus semelhantes!

Depois você precisa se libertar da tradicional ideia de bem e do mal. O que você faz presentemente? Cria novas crenças, novas tradições, novos temores, novos deuses, novos mestres, novos gurus. E nós lhe falamos acerca de algo ao qual todos os deuses, toda a humanidade tem de chegar. Você cultua somente os estágios intermediários, que não têm valor real. Se você quiser modificar a sociedade e destruir a sombra que sobre ela existe projetada, e torna-la saudável, pura e forte, você mesmo necessita ser forte e se libertar de todo o temor dessas coisas. Você precisa destruir essas coisas que são falsas e não essenciais, que criam superstições e caos e, para fazê-lo, você necessita de estar para além do alcance das garras do medo.

Depois necessita ainda libertar-se do medo da punição e do estímulo da recompensa. Pela sua própria substância você será recompensado; pelo seu próprio pensamento será punido; e ninguém mais lhe pode impulsionar ou embaraçar, recompensar ou punir. Assim, você precisa se libertar dessa alternativa mundial: “se você executar a ação assertiva, será recompensado; se fizer o mal, irá para o inferno”.

Sua vida inteira é regida pela ideia da punição e da recompensa. Talvez você tenha colocado de lado o céu e o inferno tradicionais das religiões, porém inventou outros, igualmente desastrosos e irreais, igualmente falsos. Para descobrir sua própria pureza, entendimento e força, você tem que se libertar da noção de recompensa e do castigo. Precisa se libertar do medo dos convencionalismos quanto ao que os seus semelhantes possam dizer, coisa que, na verdade, é ainda muito mais difícil do que se libertar do medo dos deuses. Os convencionalismos foram feitos para os débeis, e os débeis são produto dos convencionalismos.

Porém, o libertar-se do medo dos convencionalismos, não significa licenciosidade. As convenções foram feitas para forçar as pessoas fracas a manterem-se no caminho considerado reto. Porém, se você estiver liberto do medo das convenções, isto significa que você tem que levar a pratica uma exigência maior quanto a si mesmo, no que se refere a ação correta. Você tem que mudar, tem que se libertar dos temores convencionais, do que pensam seus semelhantes, família e sociedade, e tem que se libertar do medo do seu guru, enfim, de todos esses inumeráveis e imaturos temores.

E depois, você precisa ainda se libertar do temor da perda e do lucro, financeiro, físico, emocional e mental. Você é responsável por si mesmo. Certifique-se de que isto é verdadeiro em relação a tudo que é mutável: perda e ganho de dinheiro, de poder, de amor, de todas as inúmeras coisas que implicam perda e lucro. Atente-se a isso, e você verificará a exatidão do que estamos falando.

E deve inda ter lugar a libertação do medo da vida e da morte. Na Vida, não pode existir em dado momento o nascimento e em outro a morte. É somente a expressão física que muda. E todos correm muito mais em direção a morte do que a Vida. Você se interessa mais pelo que acontece depois da morte do que pelo que acontece durante a Vida, porque para você existe vida e morte, que é nascer e morrer. Assim como existe noite e dia, escuridão e luz, assim também existe na existência há nascimento e morte. Você tem que se libertar do temor desta, pelo fato de pretender descobrir sua própria pureza e estabelecer seu próprio padrão individual.

Em seguida, você precisa deixar de temer a solidão, assim como o anseio por estar em relação. A maioria dos indivíduos, por causa do medo, não pode se manter só, quer alguém sobre quem descansar, necessita ser encorajado ou desencorajado, alguém que lhe teça elogios. Você deseja louvores, lisonjas — toda a sua religião é esta: recompensa e castigo, que são companhia e solidão. Assim como você não pode ter o ouro purificado sem ação do fogo, assim também você não pode produzir homens fortes sem a adversidade. É preciso eu você chore e se ria a fim de chegar a compreender e, no entanto, na Vida não há nem riso, nem pranto. Você precisa se capaz de se manter só, indiferente à companhia, e a solidão, visto que tais coisas não existem. Porque, se você tiver amor à Vida, verá que a Vida não possui nem solidão nem companhia: A VIDA É!

Você deve também libertar-se do temor da incerteza. A maioria das pessoas acham-se todas inseguras. Para elas foi erguido um padrão que veio a ser destruído e acham-se agora na insegurança. Querem que os guias averiguem e depois as informem. Ora, os guias não o farão, porque não há mais guias nem crenças para serem guiadas. Você tem que averiguar por si mesmo, tem que assegurar-se se tais coisas são certas, para além de toda dúvida e quando por tal modo tiver se assegurado, estará liberto desse temor da incerteza.

Portanto, você tem que duvidar de todas as coisas, a fim de que, em seu êxtase de dúvida, possa se certificar. Não duvide quando se sentir fatigado, não duvide quando se sentir infeliz, assim como todos o podem fazer. Você deve duvidar somente em seus momentos de êxtase, porque então poderá verificar se o que fica é verdadeiro ou falso.

Você deve também se libertar de toda autoridade. A autoridade em assuntos espirituais não pode ser mantida por um instante sequer. É a sua experiência pessoal que tem importância, não a autoridade. Centenas de vezes, todas as religiões do mundo disseram que, somente por meio de seu próprio entendimento, só por meio da rejeição de tudo, você achará. E apesar disso, você segue a autoridade, porque isto lhe convém muito mais. Liberte-se do temor da autoridade, a qual pode ser decepada como uma árvore e, inteiramente destruída.

Em seguida, você necessita libertar-se do desejo de conforto, tanto físico como emocional e mental. O conforto cria o desejo de abrigar-se, e o abrigo assume sempre a forma de um deus. E esse deus é conservado em um tabernáculo, igreja ou templo. Tal deus nasce do medo. Assim, liberte-se do conforto e do encorajamento físico, emocional e mental. Não é uma fria filosofia fria o que lhe damos. Falamos a respeito da Vida, que não é quente nem é fria, que não é nem uma filosofia, nem um grande sistema.

Uma vez ainda você necessita libertar-se do amor e do ódio, isto é, libertar-se de cuidados sobre se você é estimado ou não. Você deve ser indiferente ao ser ou não odiado. Suas ações devem nascer, não do amor, porém do intrínseco desejo. Você não deve deixar que nem o amor e nem ao ódio, deturpem o seu julgamento. Se você fizer certas coisas ou se modificar de certa maneira, em virtude de amar a alguém, isso não é verdadeiro amor nem motivo verdadeiro para a ação. A ação deve brotar de motivos impessoais.

Depois, há ainda o medo da não expressão de si mesmo. Como você pode se expressar, se não sabe aquilo que é? Para procurar saber o que você é, primeiro tem que se libertar de todas essas coisas.

Medo do desejo, medo da ambição, ciúme, inveja, competição, e além disso, o medo da dor e da tristeza — e de tudo isto você precisa libertar-se, a fim de descobrir o que permanece e o que é Eterno. Você imagina que é livre e traduz essa liberdade, dando-lhe uma expressão física. Se você quiser alterar a sociedade, não pode pertencer a uma parcialidade, qualquer que seja ela.

De nada lhe serve mudar o título. É preciso que haja completo afastamento, e é este o único meio de avançar. O que fica depois deste processo de eliminação, de afastamento, de destruição de todas as coisas não essenciais, é uma mente calma, um coração que não pode ser perturbado, plácido, enérgico, entusiasta. Equilibrado, forte, seguro, estático, claro e puro. Resolutos e determinados são amente e o coração daquele que rejeitou todas essas coisas.

E quando você tiver atingido isto, poderá envergar a capa do Eterno, não antes. Você não pode se tornar incorruptível se existir em sua mente e coração, uma parcela que seja de corruptibilidade.


Krishnamurti

A perigosa Verdade do Eu Eterno


A Verdade constitui um perigo para todas as sociedades, para todas as crenças organizadas, para todos os sistemas de pensamento. Se você, como indivíduo, possuir a Verdade, então, será automaticamente uma casa de força que há de varrer, todas as coisas não essenciais que o rodeiam. Porém, você não poderá organizar a Verdade. Se você perceber essa Verdade e viver essa Verdade, e se tornar parte dessa Verdade, então você se tornará como a luz a solar que dissipa todo o nevoeiro.

A Verdade da qual falamos, constitui um perigo para o que quer que seja não essencial. Porém, você tem que verificar por si mesmo, o que é essencial e o que não é. Ninguém pode lhe dizer.

Você não pode organizar a Vida ou a Verdade. Todas as crenças, todas as ideias de salvação, de se ser conduzido para um céu especial, são tentativas para organizar o pensamento humano. Porém, não se pode sistematizar o pensamento, e por meio dessa sistematização, escravizar a mente.

O que importa é aquilo que você é, e não o que faz ou de como há de converter a sociedade. Você o fará, se for belo e bondoso, se seu semblante evidenciar seu pensamento, se realmente for alegre, pois que, então, todos virão a você para ver como se arranja para conseguir isso nesse mundo tão caótico.

É como indivíduo que você dever tornar centro dessa energia dinâmica, a qual varre para o lado, tudo que não é essencial — como indivíduo, não como corporação organizada. Se, como indivíduo, você for inquebrantável a respeito de certa coisa, por saber ser ela real, então virá a modificar a sociedade. Porém, não poderá modificá-la se você mesmo se encontrar inseguro. Para você se certificar da Verdade do que estamos lhe dizendo, em primeiro lugar deverá ponderar se sua edificação da vida é baseada na autoridade, se os seus deuses, se os seus temores têm existência real, e, depois, pelo processo de “interna” eliminação, começar a ter em consideração, os verdadeiros valores da vida. A fixação interna do que é essencial, esse é o seu vital trabalho preliminar.

Quando falamos a respeito do medo da salvação, tínhamos em vista, apontar o apego ao culto, à prece, ao Deus externo, às autoridades, às superstições, aos ritos, às igrejas, aos santuários, e aos templos. O fato de você se amedrontar com tudo isso, significa que ainda se apega ao que não é essencial. Seja realmente honesto, não hipócrita, e então verificará como essas coisas afetam a vida.

A partir do momento em que você tenha se certificado das coisas essenciais das quais lhe falamos, naturalmente você modificará a si mesmo. Isso é o que realmente importa. Você deve se assegurar de tal modo, do que é essencial, que possa proporcionar ao “Eu”, o manto da incorruptibilidade e, pelo fato de envergar esse manto — se tornará um perigo para tudo quanto for corruptível.

É como indivíduo que você cria as coisas que não são essenciais. Elas não veem à existência por si próprias, você as cria, por não saber como distinguir entre o que é essencial e o que não é. Quem criou todas as mesquitas, templos e igrejas do mundo? Os supersticiosos, os sacerdotes, você e nós. Por causa da nossa falta de discernimento daquilo que é duradouro e daquilo que é transitório.

Quando você deixar de dar expressão às coisas externas, não essenciais, naturalmente virá a criar o que é essencial. E esta criação é da máxima importância, não simplesmente o afastamento daquilo que é antigo, porém, a criação do que é novo.


Krishnamurti, 1929

A vida é o único mestre


Para nós a vida é o único mestre, aprendemos por meio da experiência da alegria e da tristeza, do êxito e da falência. Ninguém jamais respondeu as nossas perguntas, exceto a própria vida, e ela não fala por meio de palavras, suas lições são experiências. Em nossa libertação de tudo quanto é relativo, nos tornamos a própria vida; — o oceano que é todas as coisas — tornou-se o mestre. Porém, deve também surgir em nossa mente a ideia de que seu ensinamento não se evidencia primariamente por meio das palavras. As palavras apenas escondem, ocultam a verdade que elas se esforçam por expressar; somente na própria vida do homem, é que o Eterno se torna o transitório, é aí que tem lugar a quadratura do círculo e não na linguagem ou no símbolo.

As palavras dos grandes instrutores constituem a menor parte de seu ensinamento; o efeito produzido por suas vidas, sempre está fora de toda a proporção com as palavras que proferem. Eles são os Despertadores de uma nova vida, que neles já está plenamente consciente e que vagamente se agita nos seus semelhantes. Visto que a doutrina que eles ensinam possa se encontrar em ensinos precedentes, no entanto, ela é inteiramente nova, pelo fato de a viverem por um modo em que jamais pudera anteriormente ser vivida. A coisa nova que despertam é um modo de viver e não uma doutrina. Despertam uma nova faculdade no homem, uma nova resposta para a vida, e fazem isto por meio da vida que vivem, e por serem o que são. No entanto, aquilo que trazem, não é estranho à humanidade de seus dias. Acima de tudo, eles são Homens Representativos, nos quais já se encontra liberto, aquilo que nas multidões, procura por libertação. Assim, eles o trazem à vida e o fazem nascer em outros. Portanto, são Despertadores antes do que mestres do Mundo. Não ensinam uma doutrina, vivem uma vida; não possuem discípulos, porém, filhos nascidos de uma vida que é a deles.

Quando os “discípulos” tentam propagar-lhes a doutrina, é sinal seguro de que essa vida já está se perdendo. Aqueles que quiserem ajudar na obra do Despertar, tem que viver uma vida nova, e não pregar uma nova doutrina. Portanto, livros e conferências são coisas secundárias. Sem a vida da qual eles são as centelhas, não terão significado.

Portanto, o supremo trabalho do Despertar, é o de viver uma vida. O que devemos mostrar aos outros, não é quão exatamente nos é possível repetir as palavras de algum mestre, e ainda menos o como desdenhamos àqueles que não compreendem, mas sim, o como vivemos.

A arte da vida, uma ova arte de viver, deve ser nossa atividade criativa. Nenhuma arte é mais exigente, do que esta arte de viver; nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, são todos parte dessa nova criação. Pelo fato de ser criação, pode afetar os outros, neles despertar a vida. Só assim podemos “ensinar”, e somente assim. Mais importante do que a publicação dos nossos livros, é a propagação da vida que despertamos. E isto somente pode ter lugar por parte do homem, na obra de arte que é a sua própria vida. Sem isto, os livros perderão sua significação no decurso de uma geração, pois que devem nascer de uma corrente viva de vida.

Esta nova criação é essencialmente obra do indivíduo, ninguém pode ajudar a outrem neste sentido, nada pode ser utilizado como apoio ou auxílio. Porém, é em nossas relações para com os demais, com o nosso trabalho, que o nosso novo modo de viver se evidencia, sendo a vida de comunidade a orquestração da nossa música.

Necessitamos criar escolas nas quais a nova vida seja uma realidade vivida, e não um ensinamento repetido com frases de bolso que venham constituir os primórdios de uma nova ortodoxia. Permitimo-nos imaginar tais escolas no futuro, em todos os países.

Neste caso é o amor da vida que reina, e não o pensamento da fuga ou o refúgio da vida. Aqui o homem será o seu próprio libertador, e não um deus qualquer, por ele criado. Nestes dias, a vida não será atada pelo dogma, pelo rito ou pela autoridade, porém, fluirá livre e oportunamente.

Tais escolas modernas deveriam ser como oásis num deserto; homens sedentos de realidade, de vida livre, a elas recorreriam e, na atmosfera de uma nova vida, encontrariam a orientação perdida, a solução de suas inquietudes. Pois a vida é a única solucionadora dos problemas e inquietudes do homem, de suas interrogativas e perplexidades.

Pensamos que um lugar como este, deveria ser o primeiro dentre essas escolas. Uma vez que o novo modo de vida tivesse sido estabelecido pelo grupo dali, poderia ramificar-se e serem fundadas outras escolas semelhantes. O que se necessita em primeiro lugar, é de um grupo de pessoas suficientemente sinceras para cooperarem neste trabalho de criação. Sem as pessoas adequadas para principiar, nada pode ser executado.

Em segundo lugar, é necessário revisar o modo de vida exterior. Esta nova vida dificilmente poderá ser vivida em ambientes que expressem o desejo do conforto de uma idade passada. Uma certa severidade do ambiente é necessária para manter o indivíduo desperto, pois o conforto alimenta o sono, os objetos supérfluos têm um efeito de distração e desintegração. A mais completa simplicidade nos dispositivos para a vida, e uma atmosfera de tranquilo recolhimento e infatigável observação sobre o que é real, todas essas coisas necessitam ser criadas para fazer da nova vida uma realidade. O conforto é que faz adormecer a vigilância e a intensidade da vida, toda a agitação e tumulto que afogam a voz da vida, todas as distrações que mais não são que substitutos para uma vida que não tem propósito, tudo isso deve ser deixado de lado; o trabalho deve ser feito na tranquilidade de uma perseverança amplamente desperta.

Então um estrangeiro deprimido e fatigado pela vida, que tenha perdido a orientação e ande em busca de certeza, pode vir a uma dessas escolas e, em sua atmosfera, despertar para uma nova vida. Não há necessidade de pregar homilias sobre o que se deve ou não fazer; a vida é uma nova moral e, se estiver desperta em um homem, a todo instante será um guia seguro.

Assim, a nova escola pode ser um oásis no deserto, nela os homens virão beber da vida para depois se retirarem renovados, bastando-se a si mesmos, apercebidos de sua meta.

Para nós esta é a maneira de ensinar de que agora se necessita, e é uma tarefa e um propósito para as muitas propriedades existentes por todo mundo no sentido de continuarem os nossos trabalhos.

Naturalmente, na vida de cada indivíduo, tem que ter lugar a mesma criação de vida nova, pois que a criação individual é sempre a base para o esforço em comunidade.

Ninguém necessita esperar por uma comunidade ou uma nova escola; cada qual pode ser um oásis de vida em torno de si para todos, pode ser um mestre pela vida que ele próprio viver. Pois ensinar é, primordialmente, viver.

Krishnamurti, 1929

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill