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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vocês sabem o que é a vida?

Que tipo de educação você têm agora?

“Ah, estamos na faculdade, e aprendemos as coisas habituais que são necessárias para determinada profissão”, ele respondeu. “Eu serei engenheiro; meus amigos aqui estudam física, literatura e economia, respectivamente. Estamos cursando o plano de estudos prescrito e lendo os livros indicados, e quando temos tempo, lemos um ou outro romance; mas, afora os esportes, estudamos a maior parte do tempo.”

Vocês acham que isso é suficiente para terem boa educação para a vida?

“Pelo que o senhor disse, não”, replicou o segundo. “Mas isso é tudo que temos, e achamos que, de modo geral, estamos sendo educados de modo geral.”

Aprender a ler e escrever apenas, cultivar a memória e passar em algumas provas, adquirir certas capacidades ou habilidades para conseguir um emprego — isso é educação?

“Mas isso não é necessário?”

Sim, preparar-se para ter um meio correto de ganhar o sustento é essencial; mas não é o todo da vida. Há também o sexo, a ambição, a inveja, o patriotismo, a violência e muitas outras coisas. Vocês estão sendo educados para encarar essa coisa chamada vida?

“Quem pode nos educar?”, perguntou o terceiro. “Nossos mestres e professores parecem indiferentes. Alguns são inteligentes e cultos, mas nenhum dedica qualquer pensamento a esse tipo de coisa. Somos empurrados para frente, e teremos sorte se conseguirmos obter diplomas; tudo está se tornando bem difícil.”

“Exceto por nossos impulsos sexuais, que são bastante definidos”, disse o primeiro, “não sabemos nada da vida; todo o resto parece vago e remoto. Ouvimos nossos pais reclamando de falta de dinheiro, e percebemos que eles estão presos em certas rotinas pelo resto de seus dias. Assim, quem pode nos ensinar sobre a vida?”

Ninguém pode lhes ensinar, mas você pode aprender. Há uma vasta diferença entre aprender e ser ensinado. Aprender acontece ao longo da vida, ao passo que ser ensinado acaba dentro de algumas horas ou anos — e depois, pelo resto de sua vida, vocês repetirão aquilo que lhes foi ensinado, que logo se torna cinzas mortas; e assim a vida, que é algo vivo, torna-se um campo de batalha de esforços vãos. Você são atirados na vida sem tranquilidade ou oportunidade para compreende-la; antes, que saibam qualquer cosia sobre a vida, já estão bem no meio dela, casados, amarrados a um emprego, com a sociedade implacavelmente esbravejando a seu redor. Deve-se aprender sobre a vida desde a mais tenra infância, e não no último instante; quando já estão chegando à idade adulta, é quase tarde demais.

Vocês sabem o que é a vida? Ela se estende do momento em que nascem ao momento em que morrem, e talvez além. A vida é um todo vasto e complexo; é como uma casa em que tudo está acontecendo a um só tempo. Vocês amam e odeiam;são cobiçosos, invejosos e, ao mesmo tempo, sentem que não deveriam ser. São ambiciosos, e há frustração ou sucesso, seguindo o rastro da angústia, do medo e da crueldade; e, cedo ou tarde, chega o sentido de futilidade de tudo isso. E há os horrores e a brutalidade da guerra, e a paz pelo terro; há o nacionalismo e a soberania, que apoiam a guerra; há a morte ao fim da estrada da vida, ou em algum ponto ao meio dela. Há a busca por Deus, com suas crenças em conflito e as disputas entre as religiões organizadas. Há o esforço para conseguir e manter um emprego; há casamento, filhos, doença e o jugo da sociedade e do Estado. A vida é tudo isso, e muito mais; e vocês são atirados nessa bagunça. Em geral, afundam nela, infelizes e perdidos; e se vocês sobrevivem subindo até o alto da escala, ainda são parte da bagunça. Isso é o que chamamos vida; perpétuo esforço e dor, com um pouco de alegria ocasional. Quem lhes ensinará tudo isso? Ou melhor, como vocês aprenderão sobre ela? Mesmo que tenham capacidade e talento, são atormentados por ambição, pelo desejo de fama, com suas frustrações e infelicidades. Tudo isso é a vida, não é assim? E ultrapassar tudo isso também é vida. 

“Felizmente, ainda sabemos pouquíssimo sobre toda essa luta”, prosseguiu o primeiro, “mas o que o senhor menciona já está potencialmente em nós. Eu quero ser um engenheiro famoso, quero vencer todos os outros; portanto, tenho de trabalhar duro e conhecer as pessoas certas; preciso planejar, calcular o futuro. Devo abrir meu caminho na vida.”

Aí está. Todos dizem que devem abrir seu caminho pela vida cada um por si, seja em nome dos negócios, da religião ou do país. Você quer ser famoso, e o mesmo quer o seu vizinho, e o mesmo quer o vizinho dele; e é assim com todos, desde o mais alto ao mais baixo na Terra. Assim, construímos uma sociedade baseada em ambição, inveja e aquisição, em que cada homem é inimigo do outro; e vocês são “educados” para se conformar a essa sociedade em desintegração, para se encaixar em sua estrutura perversa.

A importância da Crise

A maioria de nós se acha numa crise - por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente.

Há intensa pressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas observando a vida tranqüilamente" isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo.

Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdade contida no problemas?

A maioria de nós se acha numa crise - por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas observando a vida tranqüilamente" isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdade contida no problemas? A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos: "Quereis ter a bondade de resolver este problema?" Quando falamos, procuramos uma solução e não a compreensão do problema. De modo idêntico quando tratamos da questão da reencarnação, do problema se há ou não há continuidade, do que entendemos por continuidade, do que entendemos por morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou não continuidade, não devemos buscar uma solução fora do problema. Precisamos compreender o próprio problema - e trataremos disso noutra reunião, porque a nossa hora está quase esgotada.

Minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos - e já expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico, do preparo técnico. A confiança que nasce do autoconhecimento é inteiramente diferente da confiança da agressividade e da capacidade técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a alegria de descobrir, o êxtase de compreender, só pode nascer quando eu compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a nós mesmos não constitui empresa tão complexa, podemos começar em qualquer nível da consciência. Mas, como eu disse no último domingo, para termos essa confiança é necessária a intenção de conhecermos a nós mesmos. Nesse caso, não me deixo facilmente persuadir: desejo conhecer tudo o que há em mim e, assim, estou aberto para toda informação relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo sentimento, em constante movimento dentro em mim, urgindo, surgindo e desaparecendo. Certamente, essa é a maneira de possuirmos aquela confiança: conhecer a nós mesmos, exatamente como somos, e não visarmos a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos apenas aceitando uma idéia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos, espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a todos os impulsos do vosso ego. E começando a compreender o fluxo, o movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereis como dessa compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal, assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem essa confiança, por certo, não podemos dissipar a confusão; e sem dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor de nós, como poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?

Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qual é a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de, abrir a porta às perturbações, às tribulações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.

Krishnamurti - Bangalore - Índia - 18 de julho de 1948.
Do livro: Novo Acesso à Vida

O desejo de ser, ou de não ser, gera condicionamentos

Éramos três ou quatro na sala, e logo além da janela havia um gramado amplo e resplandecente. O céu era de um azul pálido, com grandes e movimentadas nuvens.

"Será possível", indagou o homem, "que a mente se livre de seu condicionamento? Se for, qual é o estado de uma mente que se descondicionou? Ouvi suas palestras durante vários anos, e dediquei muita reflexão ao assunto, mas minha mente não parece capaz de romper com as tradições e as ideias que foram implantadas na infância. Sei que sou tão condicionado quanto qualquer outra pessoa. Desde a infância, somos ensinados a nos conformar — brutalmente, ou com carinhos e sugestões gentis — até que a conformidade se torna instintiva, e a mente teme a insegurança de não se conformar.

"Tenho uma amiga que cresceu em ambiente católico", continuou ele, "e, naturalmente, ela ouviu falar sobre o pecado, o fogo do inferno, as alegrias confortadoras do céu e tudo mais. Ao chegar à maturidade, e depois de muito pensar, ela abandonou a estrutura católica de pensamento; mas, mesmo agora, na vida adulta, ela se vê influenciada pela ideia de inferno, com seus pavores contagiantes. Embora minha formação seja um tanto diferente na superfície, tal como ela, também tenho medo de não me conformar. Vejo o absurdo do conformismo, mas não consigo me livrar dele; e, mesmo que pudesse, provavelmente estaria fazendo o mesmo de outra forma — simplesmente me conformando a um novo molde."

"Essa também é minha dificuldade", disse uma das senhoras. "Vejo com bastante clareza as muitas maneiras pelas quais estou presa à tradição; mas será que posso me livrar de meu presente cativeiro sem recair em outro? Há pessoas que passam de uma organização religiosa, sempre buscando, nunca satisfeitas; e quando finalmente, ficam satisfeitas, tornam-se terrivelmente chatas. Provavelmente, é o que acontecerá comigo se eu tentar romper com meu presente condicionamento: sem perceber, serei arrastada para outro padrão de vida."

"Na verdade", continuou o homem, "a maioria de nós nunca pensou profundamente como a mente é quase completamente moldada pela sociedade e pela cultura em que crescemos. Não nos damos conta de nosso condicionamento, e simplesmente prosseguimos, lutando, buscando, ou sendo frustrados nos moldes de determinada sociedade. Esse é o destino de quase todos nós, incluindo políticos e líderes religiosos. Infelizmente, para mim, talvez, compareci a muitas de suas palestras, e logo começou a dor do questionamento. Durante algum tempo, não pensei no assunto com profundidade, mas, de repente, vi que me tornava sério. Andei experimentando, e agora estou consciente de muitas coisas em mim que jamais havia notado. Se eu puder continuar sem que os presentes sintam que estou tagarelando demais, gostaria de me aprofundar um pouco mais na questão do condicionamento".

Quando os outros lhe garantiram que também estavam profundamente interessados nesse tema, ele prossegui.

"após ouvir ou ler a maioria das coisas que você disse, percebi o quanto sou condicionado; e, da mesma maneira, vi que um indivíduo deve livrar-se do condicionamento — não apenas do condicionamento da mente superficial, mas também do inconsciente. Percebi a absoluta necessidade disso. Mas o que realmente está ocorrendo é o seguinte: o condicionamento que recebi em minha juventude continua, e, ao mesmo tempo, há um forte desejo de me descondicionar. Assim, minha mente está presa nesse conflito entre o condicionamento que percebo e a ânsia por me livrar dele. Essa é a minha situação atual. Como devo proceder agora?

O anseio da mente por se libertar do condicionamento põe em marcha outro padrão de resistência e condicionamento, não? Ao se tornar consciente do padrão ou molde em que cresceu, você deseja libertar-se dele; mas esse desejo de liberdade não condicionará a mente mais uma vez, de maneira diferente? O antigo padrão insiste que se conforme à autoridade, e, agora, você está desenvolvendo uma nova autoridade, que insiste que você não deve se conformar; assim, você tem dois padrões em conflito entre si. Enquanto houver essa contradição interna mais condicionamentos ocorrerão.

"Sei que o antigo padrão é completamente absurdo e morto, e que preciso libertar-me dele; caso contrário, minha mente continuará da mesma maneira estúpida".

Sejamos pacientes e nos aprofundemos na questão. A velha regra lhe dizia para se conformar, e por diversas razões — medo da insegurança, entre outras — você se adaptou. Pois bem, por razões de um tipo distinto, mas nas quais ainda há medo e desejo de segurança, você sente que não deve se conformar. É isso que ocorre, não?

"Sim, mais ou menos. Mas o antigo é estúpido, e eu tenho de me livrar da estupidez."

Permita-me destacar que você não está ouvindo. Segue insistindo que o antigo é mau, e que você precisa do novo. Mas alcançar o novo não é o problema, em absoluto.

"Este é meu problema, senhor."

Será. Você acredita nisso, mas vejamos. Por favor, não prossiga com seus pensamentos sobre o problema, apenas ouça, pode ser?

"Vou tentar."

Uma pessoa se conforma instintivamente por várias razões: por apego, medo, desejo de recompensa e assim por diante. Essa é a primeira reação de um indivíduo. Porém, chega alguém e diz que o indivíduo deve se livrar do condicionamento, e daí surge o anseio por não se conformar. Está entendendo?

"Sim, senhor, está claro."

Pois bem, há alguma diferença essencial entre o desejo de se conformar e o anseio por libertar-se da conformidade?

"Parece que deveria haver, mas realmente não sei. O que me diz, senhor?"

Não cabe a mim dizer, nem a você aceitar. Será que você não tem de descobrir por si mesmo se existe alguma diferença fundamental entre esses dois desejos aparentemente opostos?

"Como posso descobrir?"

Ao não condenar o primeiro nem buscar ansiosamente pelo segundo. Qual é o estado da mente que anseia por livrar-se da conformidade, e que a rejeita? Por favor, não me responda, apenas sinta, realmente vivencie esse estado. As palavras são necessárias para a comunicação, mas não são a experiência real. A menos que você realmente vivencie e compreenda esse estado, seus esforços por se libertar só provocarão a formação de outros padrões. Não é assim?

"Não compreendo muito bem."

Certamente, não dar fim completo ao mecanismo que produz padrões, moldes, sejam eles positivos ou negativos, implica continuar num padrão ou condicionamento modificado.

"Eu compreendo isso verbalmente, mas não o sinto de fato."

Para um homem faminto, a mera descrição da comida não têm valor; ele deseja comer.

Há o anseio que forma a conformidade e o anseio por ser livre. Independente do quão diferentes pareçam dois anseios, não são fundamentalmente semelhantes? E, se assim são, então sua busca por liberdade é vã, pois você apenas se deslocará de um padrão a outro, incessantemente. Não há qualquer condicionamento nobre, ou melhor, todo condicionamento é dor. O desejo de ser, ou de não ser, gera condicionamentos, e é esse desejo que deve ser compreendido.

Krishnamurti

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

V de Vingança - Dublado

Diálogo sobre tédio e o estado de Presença

Deca: Oi!

Out: Oi!

Deca: Tudo bem?

Out: Tirando o vazio com sua manifestação de ansiedade, tudo bem.

Deca: Idem... Tédio, total falta de sentido.

Out: Percebo que a mente, diante do vazio, diante do tédio, diante da rotina, diante da falta de sentido, sugere situações externas — "aparentemente novas" —, como se na obtenção, na materialização dessa sugestões, passaríamos a ver, a vivenciar algo com real sentido.

Deca: Sim!

Out: São sugestões de distrações criadas pela mente para fazer frente ao estado que se apresenta, uma forma de fuga do que é. Há o observador observando, sentido tudo isso e percebendo sua limitação para transcender isso que se apresenta; a mente sugere que, talvez, através de algo tido por "superior", por algo de conteúdo "espiritual", alguma prática como a leitura de algo de mais conteúdo, possa ser eliminado esse estado que o observador observa e sente. De fato, como já faz parte da experiência do observador, tal leitura, tal escuta, distrai momentaneamente do barulho da mente, mas, passada sua ação, lá está novamente o barulho da mente, com o observador a observá-lo, vendo-se limitado, impotente diante da descoberta de um estado de ser onde tédio e falta de sentido não sejam uma realidade perpetuante. Como o observador não se depara com algo prazeroso, que o faça "sentir" algo diferente da realidade desconexa que em si observa, a mente sugere por atividades externas que, segundo sua projeção, poderiam proporcionar ao observador, alguma fonte de prazer, mesmo que momentâneo. Com essas projeções, surgem também a ansiedade por conseguir tornar realidade a manifestação dessas projeções mentais, que sempre ocorrem na ponte do tempo psicológico, passado/futuro.

Deca: sim.

Out: No entanto, a consciência acusa ao observador a falência de se identificar com tais projeções, com tais idéias, as quais apontam para a busca do limitado prazer momentâneo; então, o observador se vê novamente diante do vazio.

Deca: Sim.

Out: E, assim, a mente reinicia seu ciclo com novas projeções...

Deca: Intermináveis projeções.

Out: ...Observador observando o vazio; mente sugerindo atividades que silenciem o vazio; consciência acusando a total falência da identificação com tais sugestões... Esse ciclo parece não ter fim... Diante disso, ocorre uma consciência ao observador, de sua total impotência no que diz respeito a descoberta de um modo de romper com esse ciclo vicioso.

Deca: Sim.

Out: E, mediante esse estado de consciência, novamente, diante do observador, o estado de vazio... Ficar com o vazio, além de ser profundamente doloroso, é apontado pela mente como sendo uma "perda de tempo" e, imediatamente, a mente vem com uma nova sugestão que possa dar fim ao sentimento doloroso de vazio... Mesmo que essa sugestão seja para a leitura de algo de “conteúdo superior”, digamos assim.

Deca: Sim.

Out: A mente sugere que, talvez, no livro tal, no áudio tal, no site tal, na fala de tal guru, o observador consiga encontrar a "resposta final" para seu constante estado de tédio, insatisfação, vazio e falta de sentido existencial. Se o observador se identifica com tal sugestão, ocorrem das duas uma: ou ele se depara com algo que amplia ainda mais a consciência de sua impotência para transcender a sua própria limitação, limitação essa que o mantem enclausurado nesse círculo vicioso, ou, ao se deparar com o conteúdo buscado, sente-se totalmente frustrado diante de tal conteúdo. Então, novamente no vazio, o observador se vê observando o vazio, os barulhos da mente, os barulhos do "silêncio externo", como o som da energia perpassando os aparelhos elétricos do recinto em que se encontra. Imediatamente, a mente, apoiando-se nas antigas falas de terceiros — falas estas armazenadas na memória —, insiste para que o observador "faça algo", para que se entregue a alguma atividade qualquer, a fim de, pelo menos, manter sua mente ocupada, distraída de si mesma. No entanto, para o observador, nenhuma dessas sugestões se mostram com sentido. Assim, o observador se vê novamente diante do vazio...

Deca: Sim.

Out: A mente insiste na sugestão de que, através de algum tipo de busca externa, tais sentimentos dolorosos podem ser momentaneamente eliminados. Mas, pela observação, pela escuta atenta, há também a consciência da total falência dessas sugestões. A mente sugere que o estado de bem-estar poderá ser encontrado em qualquer outro ponto que não seja o ponto onde, no agora, se encontra o observador.

Deca: Sim.

Out: Esse parece ser o seu constante jogo, no qual mantém o observador num estado de busca que, em última análise, faz parte de sua inconsciência, parte de sua ignorância, ignorância essa pela qual se mantém nesse ciclo vicioso.

Out: Diante disso, o que lhe vêm à mente? O que poderia acabar de vez com esse estado dual, observador e coisa observada?

Deca: Sim.

Out: Fiz-lhe uma pergunta.

Deca: Ah! Pensei que fosse do texto. O que sei não adianta, porque é do pensamento.

Out: Então, também ocorre em seu Ser, a percepção da necessidade de uma assim chamada "ocorrência" que não esteja nos limites do pensamento, nos limites do conhecido?

Deca: Claro! Algo que transcenda tudo isso que "eu sei" e que não é meu.

Out: Isso nos coloca novamente diante do vazio; nos lança novamente no terreno do primeiro passo, o passo da total impotência.

Deca: Exatamente!

Out: Então, talvez seja isso o que os Sábios de todos os tempos — os assim chamados "homens iluminados" — quiseram se referir de que "o primeiro passo é também o último passo".

Deca: É, quando estamos impotentes ficamos entregues, a mercê; talvez essa é a entrega dos anônimos.

Out: Entregar-se ao vazio?

Deca: Ou seja lá qual for o seu nome… Sabendo que através do pensamento, nada podemos fazer; somente algo superior mesmo a tudo isso.

Out: Não estaríamos assim, caindo no terreno da crença, da esperança? E essa crença e esperança, não podem ser mais uma das sugestões da mente para fugir da compreensão desse vazio? 

Deca: Não! Essa entrega é também não esperar por nada; é ficar no aberto…

Out: Ficar aberto ao que é sem aceitação dos conteúdos sugeridos pela mente...

Deca: Sim!

Out: Isso nos leva a sentir algo na dimensão do coração... a quentura.

Deca: Exato!

Out: Isso é o que sinto agora!… O vazio, os sons do silêncio ambiente, e a constatação de uma Presença na dimensão do coração. Não se trata de forma alguma de uma espécie de "escapismo místico.

Deca: Sim! É o que é! Nesse momento, sinto que todos somos um.

Out: Essa meditação parece fazer surgir uma “quentura” na região coronária, onde, através dela, um estado de bem-estar reconciliador, se apresenta.

Deca: O Ser é um só, habitando em todos, e nós somos esse ser… Dá pra sentir a conexão… E olha só o nome: natura UNA… CARACAS! Meu peito está pegando fogo.

Out: A entidade observadora, de fato, encontra-se condicionada aos pronomes possessivos... "meu peito"... Ocorre-me a pergunta: por que não nos mantemos nesse "estado abrasador" reconciliador? A resposta que vem: porque ainda somos facilmente "hipnotizados" pelas sugestões da mente. Ocorre-me que a manutenção desse estado de "estar consciente" da consciência que somos e  não mais se manter identificado como sendo esse estado tido por muitos como natural — de ser a mente, o corpo, as emoções e os sentimentos —, é algo parecido com o movimento de aprender a andar... Inicialmente é algo vascilante, temos que nos apoiar em algo para fazer frente ao medo e as dificuldades; facilmente caímos e com a queda, o choro. Depois que se aprende a andar, não há nenhuma presença de esforço para andar e não há mais como se esquecer, ou ter que pensar em “como” se faz andar… Parece que agora você se encontra muito ocupada. Nos falamos mais tarde. Um beijo em seu coração! Vou compartilhar esta conversa! Até mais tarde!

Deca: Não estou não!

Out: Ok! Quer continuar?

Deca: Sim!

Out: Enquanto você se mantinha em silêncio, dê uma olhada no que li...

“…Pergunta: Pode-se ter uma experiência temporária do Eu Real, a realidade subjacente, mas então ela desaparece. Você pode dar alguma orientação em como permanecer estável naquele estado?

Annamalai Swami: Uma lampião que está aceso pode apagar se o vento estiver forte. Se você quiser vê-lo novamente, você tem que reacendê-lo. Mas o Ser não é assim. Ele não é uma chama que pode ser apagada pela passagem dos ventos dos pensamentos e desejos. Ele é sempre luminoso, sempre brilhante, está sempre lá. Se você não está consciente dele, isso significa que você colocou uma cortina ou um véu na frente dele que bloqueia sua visão. O Ser não oculta a si mesmo atrás de uma cortina. É você que coloca a cortina lá ao acreditar em ideias que não são verdadeiras. Se a cortina se abre e então se fecha novamente, isso que dizer que você ainda está acreditando em ideias erradas. Se você erradicou-as completamente, elas não reaparecerão. Enquanto essas ideias estiverem cobrindo o Eu Real, você ainda precisa fazer constante sadhana.

Então, voltando à sua questão, o Eu Real não precisa estabilizar-se. Ele é pleno e completo em si mesmo. É a mente que pode ser estabilizada ou desestabilizada, não o Ser… Quando você medita ou faz sadhana, você está fluindo de volta para a fonte de onde você veio. Depois de ter alcançado essa fonte, você descobre que tudo o que existe – mundo, Guru, mente – é um. Diferenças e distinções não surgem lá.”

Deca: Sim! Aquilo que a gente vem falando, precisa tirar todo esse entulho para, quem sabe, o SER,  se manifeste.

Out: a prática da atenção plena ao que é!

Deca: Observação plena!… Um momento, por favor!…

Out: Ok! Enquanto isso, deixe terminar de postar o que li:

“…Não dualidade é jnana; dualidade é samsara. Se você puder abandonar a dualidade, só Brahman permanece, e você percebe que você mesmo é esse Brahman, mas para fazer essa descoberta a meditação contínua é necessária. Não reserve períodos de tempo para isso. Não considere isto como alguma coisa que você faz quando está sentado com os olhos fechados. Essa meditação tem que ser contínua. Pratique-a enquanto estiver comendo, caminhando, e mesmo conversando. Ela tem que acontecer o tempo todo.”

Deca: Atenção plena!… É meditação, é observação!

Out: Mas percebo que nos distraímos muito facilmente pelas sugestões de prazer ou pelas atividades do cotidiano.

Deca: Com certeza!

Out: Parece que só quando nos vemos imersos na dor é que nos tornamos mais propensos a dedicar atenção a esse movimento da meditação. Tipo aquela frase de Paulo de Tarso... “Quando estou fraco, estou forte; quando estou forte, estou fraco.”

Deca: É por aí!

Out: Quando o eu está fraco, a Consciência do que é, é mais forte; quando o eu está forte, a Consciência se perde na esfera dos desejos… Na esfera da masturbação mental.

Deca: Mas você acha que a Consciência se perde?

Out: Sempre a limitação das palavras… Não é que a Consciência se perca; apenas fica “velada” pela ação da identificação com as imposições do eu, do ego. Quando não há o espaço gerado pela observação, ocorre aquilo que tenho chamado de “estado de torpor hipnótico” que leva à atitudes inconscientes e inconsequentes. Durante todo o processo, a Consciência está ali, sinalizando, mas, a força do ego parece sobrepujá-la; não conseguimos deter a identificação... Sei que você sabe bem o que é isso.

Deca: e quando ele está forte é o grande perigo; e como! Mesmo que seja por pouquíssimo tempo, mas ainda há a identificação.

Out: É como naquele outro dizer de Paulo de Tarso… “Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço... Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim... Com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está... Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo... Tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimeno... Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?

Deca: Sim!

Out: Miserável homem que sou!... Está aí a identificação com o corpo, com a mente, as emoções, os desejos, os pensamentos... O pecado seria a identificação plena com as sugestões da mente.

Deca: Sim!

Out: O contato consciente com  Deus, proposto pelos grupos anônimos, seria aqui, a ação, pela meditação, da retomada da Consciência que somos.

Deca: A morte física acho que é uma das maiores distrações do pensamento.

Out: Você quer dizer "o medo da morte física?"

Deca: Sim!

Out: Sim! “Uma das”… Bem, preciso sair para comer algo! Nos falamos mais tarde! beijos!

Deca: Não sei se vou ter carona; te ligo a hora que chegar no Metro Conceição.
Beijão!

Correr de Mim - Juraildes da Cruz


Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Quando o calcanhar chegava, o dedão do pé já tinha ido
Escondendo eu me achava e me achava escondido
Só sei que quando penso que sei já não sei quem sou
Já enjoei de me achar no lugar que aonde eu vou eu to
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Tô pensando em tirar férias de mim, mas eu também quero ir
Só vou se minha sombra não for, se ela for eu fico aqui
Um dia desses sonhando eu pensei não vou me acordar
Vou me deixar dormindo e levanto pra comemorar
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
O espelho me disse só tem um jeito pro assunto
Não adianta querer morrer porque se morrer vai junto
Se correr o bicho pega, mas se limpar o bicho some
Tem que desembaraçar o novelo da vida do homem

Se quiser que eu vá eu vou, se quiser que eu fico eu fico
Quero ver você sair, meu irmão, dessa sinuca de bico
Se quiser que eu vá eu vou, se quiser que eu fico eu fico
Quero ver você sair dessa sinuca de bico
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Eu pensei correr de mim, mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria mais pra perto eu chegava
Se quiser que eu vá eu vou, se quiser que u fico eu fico
Quero ver você sair dessa sinuca de bico
Se quiser que eu vá eu vou, se quiser que u fico eu fico
Quero ver você sair dessa sinuca de bico

Por que os pensamentos penetram a mente mesmo quando indesejados?

Todas as pesquisas sobre o não-Ser são vãs, se não daninhas, porque retardam a empreita principal, a Busca do SER. E, assim acontece, mesmo se chegarmos à conclusão correta sobre a natureza do mundo, se, pelo menos até então, não tivermos iniciado essa Busca.

Mas, para os que estão seriamente interesados em achar o SER, sem poder prosseguir, com determinação mental na Busca, esta pesquisa não é desnecessária nem incoveniente. Isso acontece porque a maioria dos seres, mesmo os que pretendem, seriamente, libertar-se do jugo, são estorvados, na Busca, por pensamentos indesejáveis, que surgem e preenchem a mente.

O fluxo habitual da mente dirigi-se para o mundo e não para o SER. mesmo quando conseguimos afastar a mente do mundo, concentrando-a no SER, ela se solta e vagueia até voltar para o mundo.

Mas, por que os pensamentos penetram na mente mesmo quando não são desejados? Os Sábios dizem que é porque alimentamos a crença de que o mundo é real.

O Sábio de Arunachala nos diz em uma de suas composições que se não fosse pela nossa crença de que o mundo é real, seria muito mais fácil para nós obtermos a Revelação do Ser. O maior assombro, diz o Sábio, é este — que nós, apesar de sermos sempre o SER REAL, esforçamo-nos para nos unir a Ele. Diz-nos que surgirá o dia em que riremos de nossos esforços atuais para atingirmos essa finalidade. Mas, isso que acontecerá nesse dia de risos, existe mesmo atualmente — a Verdade. Pois não temos que nos transformar nesse SER? Nós somos Ele.

Poder-se-á perguntar que essa crença nossa tem a ver com a Busca. Uma das razões é esta: Tudo que julgamos ser real tem entrada indubitavelmente franca em nossas mentes. Não podemos negar admissão aos pensamentos concernentes a coisas reais, por meio de uma simples aão da vontade. Mas, isso não é tudo. Atualmente, consideramos o mundo como Real num sentido em que ele não o é. E, por considerá-lo assim, tornamos impossível para nós a compreensão do SER. até que abandonemos essa crença. Acontece, assim, que é o próprio mundo que obscurece o SER para nós.

Como pode ser isso? Os Sábios dizem que o SER é a Realidade que sustenta o mundo. Assim como, quando se julga, por engano, que uma corda é uma cobra, a cobra obscurece a corda, da mesma forma, o mundo obscurece o SER. Só existe uma Realidade, que em nossa ignorância se apresenta como o mundo, e que aparecerá como realmente é — o SER — quando transcendermos a ignorância. Ao experimentarmos a Verdade, descobriremos que o que agora nos parece este mundo múltiplo, de nomes e formas, no tempo e no espaço, não passa do SER Real, que é a indivisível Realidade, sem nome, sem forma, sem tempo, sem espaço e sem mutações. E é axiomático que a aparência exclui a realidade. Enquanto supusermos que a corda é uma cobra, ela não pode aparecer como corda que realmente é? A falsa cobra efetivamente oculta a corda real. O mesmo acontece com o SER. Enquanto o SER nos parecer o mundo, não o reconheceremos como o SER. A aparência do mundo oculta efetivamente o SER. E continuará a fazê-lo até que nos libertemos da aparência. E não podemos realizar isso a menos que compreendamos que essa aparência não é o Real. Por essa razão, a Realidade — que também é o Ser — não existe para aquele que acredita que o mundo é real, assim como a corda não tem existência para aquele que a vê como uma cobra. Por esse motivo, ele nega a ordem moral do universo, ainda que ele possa crer honestamente que exista uma Realidade.

Assim,acontece que, devido a uma falsa crença, o SER — que é infinitamente grande e venturoso, a nossa mais valiosa propriedade — se pudermos chamá-LO de propriedade — está, por enquanto, perdido para nós. E que perda maior pode haver?

WHO

Áudio: O conhecimento falso é o inimigo do despertar da Verdade

O intelecto é um excelente instrumento a serviço da ignorância

A validade do intelecto é limitada por sua origem, isto é, pela  ignorância primordial. Aos que não têm a consciência de sua sujeião a essa ignorância, e aos que se sentem satisfeitos continuando submissos a ela, o intelecto é o instrumento mais do que suficiente para todos os seus objetivos. Isto é, o intelecto é um instrumento excelente a serviço dessa ignorância. Mas para a finalidade de transcendê-la, tem pouco valor. O máximo que o intelecto pode fazer por nós é reconhecer suas limitações e deixar de obstar nossa Busca da Verdade. Pode fazer isso, tão logo comece a perceber a verdade da sua própria origem impura e a necessidade de confiar nas evidências dos Sábios como um passo em direção à Busca, pela qual podemos obter uma Revelação autêntica do Ser Real. Assim, a controvérsia entre a razão e a Revelação é apenas aparente.

WHO

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Âncoras do Agora

Âncoras do Agora
  • Não leve seus pensamentos a sério.
  • Não resista ao que é, apenas, observe.
  • Pela auto-observação, monitore seu estado mental-emocional.
  • Não faça do que é seu inimigo.
  • Infelicidade é resistência ao que é.
  • Agir pela energia negativa é dar continuidade ao conflito.
  • Mantenha acesa a luz da presença.
  • Deixe de ser um feixe de reflexos condicionados. 
  • O discernimento traz a ação; a negatividade, reação.
  • Não deixe o medo criar raízes em sua mente.
  • Observe sua mente e emoções; sorria para elas.
  • Insanidade é projetar o futuro ou resistir ao presente.
  • A cada instante morra para o passado.
  • Sinta a plenitude do Ser no momento presente; sinta sua presença.
  • Retome seu ritmo: sinta sua respiração.
  • Monitore sua mente e emoções.
  • Não se enrosque na rede do tempo psicológico.
  • No presente está a morte do eu.
  • Só o presente nos liberta do passado.
  • Esteja presente com todas as células do seu ser.
  • Abrace seu propósito interno.
  • Dar tempo ao estudo do tempo, não nos liberta do tempo.
  • Não procure entender o passado, mas esteja no presente o mais que puder.
  • A sanidade está na transcendência da mente.
  • Não há nada que você precise entender antes de conseguir se tornar presente.
  • Torne-se presente como observador de sua mente.
  • Torne-se presente o mais intensamente possível.
  • Pela presença consciente, eleve-se sobre o pensamento e assim, encontre a verdadeira libertação.
  • Ouse exercer sua Divina Presença, a sua verdadeira natureza.
  • Liberte-se da ilusória identificação corpo/mente.
  • Na observação da mente desfaz-se a raiz da insanidade.
  • Sinta a presença viva que lhe habita.
  • Recupere a consciência do Ser aprisionado pela mente.
  • A verdade do que você é, encontra-se no interior do seu corpo; não é preciso ir à lugar nenhum.
  • A consciência é o poder oculto dentro do momento presente.
  • Somente a presença é capaz de nos libertar do ego e suas imagens.
  • Neste momento, sinta o "Eu Sou" que você é.
  • Não se perca no que acontece em sua mente e no mundo das formas.
  • Perceba: o ego não sobrevive sem discórdias e conflitos.
  • O que buscamos? Consciência sem pensamentos. 
  • Quando a mente dirige a nossa vida, o conflito, as lutas e os problemas são inevitáveis.
  • Não dê 100% de atenção ao mundo exterior e à sua mente; deixe alguma coisa no interior.
  • Mantenha a porta aberta para a serenidade no fundo ser que você é.
  • Torne-se consciente do Não-Manifesto em todas as suas atividades.
  • Aqui e agora, ouse ser uma ponte entre o Não-Manifesto e o manifesto.
  • Pelo contato consciente com seu corpo interno sutil, permaneça ligado à Fonte de puro amor.
  • Quando dissolvemos o tempo psicológico através de uma percepção intensa do momento presente, nos tornamos, direta ou indiretamente, conscientes do Não Manifesto.
  • Busque pela dimensão interior, busque pela dimensão do profundo.
  • Em vez de ser seus pensamentos e emoções, seja a consciência por trás deles.
  • Pela observação, deixe de ser possuído pela mente.
  • Faça uso do pensamento, sem se deixar ser por ele possuído.
  • O maior inimigo do ego é o momento presente, ou seja, a vida em si.
  • O que o futuro lhe reserva é fruto do seu estado de consciência agora.
  • A identificação com a forma dá continuidade ao ego.
  • No fogo do sofrimento do ego, encontra-se a chama da consciência que somos.
  • A consciência é o Poder Superior no momento presente. 
  • Sempre que nos sentirmos superiores ou inferiores a alguém, isso é o ego em ação.
  • O que sou não pode ser definido pelo pensamento.
  • Sempre que assumimos papéis, estamos inconscientes.
  • Máscaras e papéis são jogados ao chão, quando em estado de atenta presença.
  • A natureza exata da infelicidade nunca é a situação, mas nossos pensamentos sobre ela.
  • O que você pensa é que cria suas emoções - observe a ligação entre eles.
  • Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por detrás deles.
  • A consciência não está no "fazer", mas no "ver" com atenção.
  • Deixe emergir, por si mesmo, quem você é além da mente. 
  • O inferno está na idéia de que existem os "outros".
  • Uma das principais características do ego está na oposição ao que é.  
  • O ego adora quando você faz de si mesmo um problema.
  • Antes de qualquer indagação, faça a pergunta fundamental da sua vida: quem sou eu?
  • Conhecer a si mesmo é muito mais do que a adoção de conceitos, idéias ou crenças.
  •  Conhecer a si mesmo é estar enraizado no Ser em vez de estar perdido na mente.
  • É por meio  do reconhecimento de quem não somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos é removido.

O conhecimento falso é o inimigo do despertar da Verdade

Dizem-nos os Sábios que deixaremos de identificar-nos com o nosso corpo — e assim nos libertaremos de uma vez por todas dos sofrimentos que surgem por intermédio dele — apenas quando alcançarmos a experiência direta do Ser Real. Assim como agora temos a experiência direta do corpo, devemos ter a experiência direta desse Ser como ele realmente é. Essa ignorância, que nos leva a identificar-nos com o corpo, é um hábito mental arraigado, engendrado na mente durante longo tempo de ações e pensamentos errôneos. Deles surgiram os vários apegos às coisas. Tais hábitos mentais formam a própria estrutura da mente; e a simples introdução de um pensamento contrário — que é muito fraco, igual a um recém-nascido — fará pouca diferença. A mente fluirá pelos mesmos canais habituais. Continuará sujeitas às mesmas atrações e repulsões. E isso acontecerá porque enquanto é possível ao filósofo livresco sentir às vezes que ele não é o seu corpo, não pode, com a mesma facilidade, chegar a sentir que não é a sua mente. E esta dupla ignorância só terá fim quando conhecermos o Ser — não teórica mas praticamente, isto é, pela experiência real do Ser.

Até surgir essa compreensão, não se pode dizer que o filósofo tenha se descartado de sua ignorância. Ela sobrevive com todo vigor. Seu conhecimento filosófico não faz qualquer diferença no seu caráter. De fato, como assinala o sábio, o filósofo livresco está até mesmo em piores condições do que outros homens. Seu coração é assediado por novos apegos — dos quais o iletrado está livre — que não lhe dão tempo para dedicar-se à tarefa de descobrir o Ser Real. Muitas vezes não têm nem mesmo consciência da premente necessidade de se prepararem para tal empresa, harmonizando o conteúdo de sua mente e dirigindo suas energias para o Ser, e não para o mundo. Interfere-se daí que, quem conhece o Ser apenas por intermédio de livros, não o conhece mais do que a gente simples. Por essa razão o sábio compara o filósofo livresco ao gramofone. Não é melhor do que ninguém pela sua erudição, assim como o gramofone não é melhor pelas boas coisas que repete.

Os livros, devemos lembrar, não passam de sinais indicadores na estrada para a sabedoria, que nos liberta; logo, essa sabedoria não pode ser encontrada nos livros. O Ser que precisamos conhecer está no interior e não no exterior. Caso a sabedoria desperte, nessa oportunidade, o Ser, refulgindo em todo o seu esplendor, mostrar-se-á diretamente, sem qualquer agente intermediário. Os estudos dos livros porém engendra a idéia de que o Ser é algo externo, que se precise conhecer como um objeto, por intermédio da mente.

A vasta confusão que reina nas especulações filosóficas e teológicas é devida a essa ignorância. Todos estão totalmente convencidos de que as questões abstrusas, referentes ao mundo, à alma e a Deus, podem ser resolvidas, final e satisfatoriamente, pelas especulações intelectuais sustentadas por argumentos tirados da experiência humana comum, a qual é o que é, devido a essa ignorância. Filósofos e teólogos discutem desde o início da criação — se é que houve criação — sobre a causa primeira, o modo da criação, a natureza do tempo e do espaço, a realidade ou irrealidade do mundo, a discordância entre o determinismo e o livre-arbítrio, o estado de libertação, e assim por diante, numa sucessão infinita. E não chegam a nenhuma conclusão… Não pode haver conclusão final — uma conclusão que possa não ser derrubada por argumentos novos, ou aparentemente novos, enunciados por outros contendores, a menos que o Ser real seja alcançado. Para aquele que atingiu o Ser real, estas controvérsias chegaram ao fim. Mas para os outros, elas devem continuar, a menos que ouçam o conselho do Sábio, cuja finalidade é fazer com que deixem de lado todas essas questões e se dediquem de coração a busca do Ser. Ou aceitamos o ensino dos Sábios sobre essas especulações, pelo menos a título de hipótese, de modo a não sermos desviados, por elas, da nossa busca, ou reconhecemos a profunda verdade de que esses assuntos não têm a menor importância e não precisam de respostas — que a única coisa necessária é encontrar o Ser. Essas questões surgem, se é que isso acontece, apenas para aqueles que consideram a mente ou o corpo como o Ser.

Compreendemos, assim, que todos os nossos sofrimentos são devidos à nossa ignorância sobre o Ser Real. Devemos vencê-la se quisermos gozar a verdadeira felicidade, pois a remoção da causa é a única forma de cura radical que existe. O mais é tratamento paliativo, que pode até mesmo, no final de contas, ser maléfico, agravando, na verdade, a doença. E só poderemos ser livres dessa ignorância, por meio da experiência com o Ser.

Não é empresa fácil, pois o instrumento a ser usado nesse trabalho é a mente. Ela tem que se desligar de tudo o mais e dirigir-se para o Ser Real. Mas a mente não se desliga facilmente de suas preocupações costumeiras. Se for forçada a isso, não se concentra, e logo volta ao ponto de partida. Assim é porque está cheia de idéias que são frutos da ignorância; e tais idéias rebelam-se para defender a vida de sua geratriz, a ignorância, porque a vida desta é também delas. Temos, portanto, de liquidar todas essas idéias.

Por serem causadas pela ignorância primordial, provavelmente tais idéias são falsas. E é lógico que o conhecimento falso é o inimigo do despertar da Verdade. Portanto, é necessário que examinemos essas idéias e as rejeitemos, se julgadas incorretas; ou mesmo apenas duvidosas. Somente assim, estaremos seguros contra sublevações traiçoeiras, ao empreendermos a busca do Ser Real.

Nessa análise, devemos guiar-nos pela absoluta devoção à Verdade. O Gita nos diz: “Aquele que ama a Verdade e submete todo o seu ser ao amor da Verdade, A encontrará.” Essa condição é muito importante. É claro que não pode haver amor parcial pela Verdade. Um amor à Verdade sendo limitado implica amor também pela inverdade, em maior ou menor grau. O amor perfeito pela Verdade significa uma total boa-vontade para renunciar a tudo que se julgue ser falso, em decorrência de uma análise justa. Implica, também, a capacidade de submeter a exame completo e imparcial todas as crenças que temos agora quanto ao mundo, à alma e a Deus. O amante da Verdade caracteriza-se por não ter maior apego às suas crenças do que as crenças alheias. Conserva-as a título de hipótese e pode claramente refletir sobre a possibilidade de achar que são insustentáveis e dignas de renúncia. É a isenção de apego às suas próprias crenças que lhe permite fazer uma análise imparcial de sua validade. E, se em decorrência dessa análise, julgar que não são válidas, não somente renúncia a elas, como também fica sempre alerta contra a possibilidade de que voltem, até que venham perder influência sobre ele. Por conseguinte, devemos cuidar para que sejamos devotos somente da Verdade, e livres de erros. E em prol da Verdade, renunciar ao amor que devotamos às nossas crenças, de modo que a Verdade possa reinar suprema em nossos corações quando a tivermos encontrado.

O que se conhece como filosofia é apenas este exame imparcial de todas as nossas idéias — do conteúdo inteiro de nossa mente.  Somente isso é verdadeira filosofia. Tudo o mais não passa de pseudofilosofia. E podemos afirmar com segurança que pseudofilósofos são aqueles que, ou não compreenderam o fato de que ignoram o Ser, ou estão completamente satisfeitos de permanecerem sujeitos a tal ignorância.

Consideremos agora como nos certificarmos de que, em nosso filosofar, evitaremos os engodos que se emboscam em nosso caminho, e de que chegaremos a idéias que não serão adversárias da nossa Busca do Ser Real.

WHO

Mente


“Mente” significa “palavras”; o ser ( self ) significa silêncio. A mente não é nada além das palavras que você acumulou; o silêncio é o que sempre esteve com você, não é uma acumulação. Esse é o significado do ser. É a sua qualidade intrínseca. No terreno do silêncio você continua a acumular palavras, e as palavras, no total, são conhecidas como “a mente”. Silêncio é meditação. É uma questão de mudar a gestalt, de desviar a atenção das palavras para o silêncio — que está sempre lá.

 Osho

Meditação é Alegria



Meditação não é algo da mente, é algo além da mente. E o primeiro passo é alegrar-se com ela. Se você  se alegrar com ela, a mente não poderá destruir a sua meditação. Caso contrário, ela se transformará em outra busca do ego; ela o tornará muito sério. Você começará a pensar: “Sou um grande meditador. Sou mais santo do que as outras pessoas. O mundo todo é apenas profano — sou religioso, sou virtuoso.” Isso é o que tem acontecido aos milhares dos assim chamados santos, moralistas, puritanos: eles estão simplesmente participando dos jogos do ego — jogos sutis.

Por esse motivo, quero cortar o mal pela raiz. Divirta-se com a meditação. Ela é uma canção a ser cantada, uma dança a ser dançada. Encare-a como uma diversão e você ficará surpreso: se puder se divertir com a meditação, ela se desenvolverá a passos largos.

Mas você não tem qualquer objetivo; está apenas sentindo prazer em ficar sentado em silêncio, apenas sentindo prazer no próprio ato de se sentar em silêncio. Não que você esteja ansiando por poderes de iogue, por sidis, ou por milagres. Tudo isso é tolice, a mesma velha tolice, o mesmo velho jogo, jogado com novas palavras, em um novo plano... A vida tem de ser encarada como uma brincadeira cósmica —  e então subitamente você relaxa porque não há nada com o que ficar tenso. E nesse próprio relaxamento algo começa a mudar em seu íntimo —  uma mudança radical, uma transformação — e as pequenas coisas da vida começam a adquirir um novo sentido, um novo significado. Então nada é pequeno, tudo começa a ter uma nova qualidade, uma nova aura; você começa a sentir uma espécie de divindade em toda parte. Não  se torna um cristão, um adepto do hinduísmo ou um muçulmano; torna-se simplesmente um amante da vida. Você aprende somente uma coisa: a regozijar-se com a vida.

E regozijar-se com a vida é o caminho para Deus. Faça da dança o seu caminho para Deus...faça do riso o seu caminho para Deus...faça do canto o seu caminho para Deus!...

Osho

Reflexões sobre um estado sobrenatural de ser


Parece-me um fato que, o homem não tem como se ver livre dos constantes ataques da ansiedade, do medo e dos desejos — ataques estes que dão margem a uma enorme quantidade de outros sentimentos torturantes, tais como o vazio, o tédio, a insatisfação e a falta de sentido — enquanto não tem um encontro consigo mesmo, um encontro com sua real natureza, natureza essa que nada tem em comum com essa imagem criada, idealizada e sustentada por décadas através da constante prática forçada da imitação e do ajustamento limitante. Parece-me que, sem a ocorrência de algo “sobrenatural”, ou seja, algo que transcenda os limites dessa natureza que o faz se identificar e dar vazão a uma enorme gama de atitudes anti-naturais — e que por muitos são tidas por normais —, não há como o homem se ver livre desse constante estado de ansiedade que o aprisiona num modo de existência sem vida, forçando-o à uma constante e compulsiva busca por plenitude de vida, sempre na esfera das coisas mortas, como por exemplo, a palavra, o livro e o mundo das imagens. Sem esse “toque sobrenatural”, vê-se o homem numa dolorosa rotina sem sentido, rotina essa da qual não pode abrir mão, devido os forçados compromissos referentes ao seu custo de vida — ainda que este seja bem limitado por meio de um modo de vida pautado na simplicidade voluntária (refiro-me aqui ao limitado número de homens semi-conscientes, uma vez que, a maioria por estar dormindo, por estar num estado de sonambulismo crônico, nem se apercebe de sua triste situação de servidão escravagista). Assim, em nome de atender as exigências dos compromissos referentes ao forçado custo de vida, paga o homem com alto custo: o custo da possibilidade de saber por experiência direta, o que vem a ser a realidade do que é Vida. Parece-me que, sem esse “toque sobrenatural”, toque esse que transpassa a natureza de todos os esforços humanos, seja por meio da lógica, da razão ou de seu limitado acúmulo de conhecimento, no que diz respeito a manifestação da vivência de um estado de ser que é pura liberdade e felicidade, esse estado de ser fica apenas nos limites da idéia, nos limites da mente, nos limites do pensamento, nos limites da imaginação. Para o homem plenamente identificado com a mente, identificado com o endeusamento do intelecto, tal estado de ser é visto como algo utópico, algo fora da realidade e, segundo sua visão, todo aquele que coloca seus esforços no sentido de saber se há ou não essa realidade, sofre de algum tipo de insanidade mental, insanidade essa que deve ser nomeada, classificada, rotulada e devidamente tradada com os últimos experimentos resultantes das pesquisas dos laboratórios da indústria dos rentáveis psicotrópicos. Por lhe faltar esse estado de ser “sobrenatural”, a genuína, a verdadeira capacidade criativa, o frescor da novidade, que é o agora, o eterno, escapam-lhe das mãos, fazendo com que sua existência fique sempre nos limites da imitação, do plágio. Pergunto-me: sem a manifestação desse estado criativo de ser, como pode o homem, ver-se livre dos constantes ataques dos sentimentos de rotina, de tédio, insatisfação e falta de sentido? Deixo ao confrade, o espaço para reflexão. 

Out

Observando os enredos da mente

Ecce Homo - Sobre o Trabalho

‎"No mundo inteiro há muita gente exigindo emprego; são muitas mãos estendidas numa época em que o número de cargos disponíveis tende a diminuir. A era pós-industrial apresenta novos desafios para a sociedade. Como poderemos integrar tantos trabalhadores em uma economia que não está gerando empregos? As mudanças no mercado de trabalho acontecem tão rapidamente que a sociedade tem dificuldade em absorvê-las. As pessoas se dividem entre as que trabalham demais e as que não tem emprego. As condições de trabalho estão se deteriorando e há cada vez mais gente insatisfeita com os seus empregos. Pressionadas até o limite essas pessoas sofrem de doenças causadas pelo excesso de estresse."

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Está na hora de acordar!

Você já ouviu falar sobre a doença do sono? A mente é essa doença; é o sono íntimo. Mesmo enquanto você está acordado ela não lhe permite estar acordado, você anda em profunda hipnose, é um sonâmbulo. Você faz coisas mecanicamente, exatamente como uma máquina automática. Você é como um autômato: come, fala, faz as coisas, é eficiente; mas não pense que está acordado. Você não está.

Você tem vários tipos de sono: algumas vezes, você dorme na cama; outras vezes no templo, na rua. Algumas vezes você faz compras dormindo; outras vezes dorme fazendo coisas ou não fazendo nada. Algumas vezes, você dorme com sonhos; outras vezes dorme com pensamentos — mas seu sono continua.

Pela manhã, você não acorda. Pela manhã, um novo tipo de sono com os olhos abertos principia — os sonhos vagueiam, os pensamentos continuam e você entra na rotina. O acordar não é necessário para o ritual diário. É por isso que ninguém gosta que coisas novas aconteçam todos os dias. Quando elas acontecem você tem de ficar acordado. Com o velho, com a rotina, você pode mover-se sonolentamente, não tem necessidade de estar acordado. Em uma vida de setenta anos, se você conseguir ficar acordado por sete momentos, já será muito. É por isso que Gautama Siddahrtha acordou, nós o chamamos de Buda, O acordado. Porque este é um fenômeno raro — estar acordado. 

OSHO

Que estupidez é essa que o mantém acreditando na mente?

A menos que esteja pronto para viver sem esperanças, você não pode se tornar religioso. Até mesmo os homens que você chama de religiosos não têm nada a não ser esperanças criadas pela mente. Você está pronto para viver sem esperanças? Você está pronto para viver sem futuro? Então, é simples, não há necessidade de se retirar — a mente se retirará por si mesma. Então não haverá nenhuma apego à mente. Mas você tem medo — a mente pode ficar sentida. A mente é o demônio e ele pode não voltar a convidá-lo, então o que você fará?

As pessoa vêm a mim. Elas pensam que sua busca é religiosa — mas essa busca ainda é mental. Elas ainda estão caminhando pelos escuros vales da mente, ainda estão ouvindo a mente, ainda têm expectativas em relação ao dinheiro e falharam. Elas tiveram expectativas em relação ao sexo e falharam. Elas criaram expectativas em relação a muitos e muitos caminhos e falharam. Agora, elas têm esperança na meditação, no Mestre — a esperança continua presente. Lembre-se: se você tiver qualquer expectativa em relação a mim, não me compreenderá. Eu não posso preencher suas expectativas.

Por que você não pára de ter esperanças? Por que sempre as tem? Qual é a base disso? É o descontentamento. Por causa dele é que as esperanças são criadas. A esperança é o disfarce. Você está em tal estado de descontentamento, de miséria, aqui e agora, que necessita de alguma esperança no futuro. Essa esperança ajuda-o a mover-se. Com esperança você pode tolerar o presente de algum modo — a esperança é uma anestesia. O presente é miserável, doloroso; a esperança é alcoólica, é uma droga que faz o inconsciente o bastante para que você seja capaz de tolerar o presente.

Esperança significa que aqui e agora há descontentamento. Mas alguma vez você já olhou para o fenômeno completo? Em primeiro lugar, por que você está descontente aqui e agora? Por quê? Porque você teve esperanças no passado. É por isso que aqui e agora você está descontente. Este hoje foi amanhã ontem. Agora essa esperança não está sendo preenchida; então você está se sentindo miserável, frustrado. E para ocultar essa miséria, para passar pelo dia de hoje de algum modo, você novamente cria esperanças no amanhã.

Você vive na rotina e está de tal modo nela que será difícil conseguir sair. Amanhã o mesmo acontecerá: você ficará frustrado porque a mente pode prometer mas não pode cumprir. Se ela pudesse, não haveria nenhuma necessidade de meditar; neste caso, Buda teria sido um tolo, meditando.

Se a mente pudesse cumprir, então todos os meditadores seriam tolos, todas as pessoas iluminadas seriam bobas. Mas a mente não pode cumprir, e eles conseguiram compreender todo o mecanismo, toda a miséria que há nisto. Este é o mecanismo: ontem, a mente prometeu que alguma coisa seria entregue a você amanhã. Agora o amanhã chegou, é hoje, e a mente não cumpriu o prometido — você se sente na miséria, suas expectativas foram frustradas. Então a mente diz: “Amanhã eu lhe darei".” Novamente ela promete, e que tipo de estupidez é essa que faz com que você a ouça outra vez? Amanhã o mesmo mecanismo se repetirá — é um círculo vicioso.

Quando você ouve a mente torna-se miserável. Quando não a ouve, hoje é o Paraíso! E não existe nenhum outro paraíso; hoje é nirvana. Se você não ouvir a mente… simplesmente não a ouça e sua miséria acabará, porque a miséria não pode existir sem expectativas, sem esperanças. Quando a miséria existe, você precisa ter esperanças para escondê-la, para viver de algum modo. Viva sem esperanças — e você será um homem religioso; você terá se retirado.

OSHO

Áudio: A sociedade fez de você um ator, um imitador

Meditação em grupo pelo Paltalk, na noite de 26/11/2012

Estudar é algo morto, intelectual. Aprender é vivo!

Nenhuma universidade pode lhe oferecer um curso de religião. Elas fazem isso, mas tudo o que ensinam não é religião absolutamente.

Pode ser uma história de religião — não religião. Pode ser filosofia da religião — não religião. Elas podem auxiliá-lo a aprender o Alcorão, a Bíblia, o Gita, mas não religião. Elas podem falar sobre Jesus, Buda, Krishna e você aprenderá muitas coisas, mas não compreenderá a verdadeira base, a própria essência.

(…) A religião é tão delicada, tão frágil, que nenhum invólucro pode protegê-la. No momento em que você a transfere, ela já está morta. Ela vive numa vida interna. Vivem em um Buda, em um Mestre. Ele não a pode dar, mas você pode abrir-se para ela.

É exatamente como quando o sol surge pela manhã. O sol não pode dar vida à flor — não! Mas a flor pode abrir-se através dele e ser enriquecida pela sua própria abertura. Se a flor permanecer fechada, o sol não poderá fazer nada . O sol não poderá bater na porta, não poderá distribuir a luz, distribuir vitalidade e vida — não! O sol passará despercebido. Um Buda vem — Eu estou aqui, você pode se abrir. Mas se permanecer fechado, nada poderá ser feito. Assim, isso compete a você. Depende totalmente de você aprender ou não — isto não é um estudo.

Estudar é algo morto, intelectual. Aprender é vivo! Não vem da cabeça, surge do coração. Você aprende pelo coração e estuda pela cabeça. Quando estuda, torna-se um grande erudito. Vá e olhe para os grandes homens cultos; todas as universidades estão repletas deles. Você não encontrará pessoas mais mortas do que eles. Estão quase na sepultura — estão quase enterrados! Nunca viveram; estão tão obcecados pelas palavras que não levam em conta a vida.

Esses eruditos podem estar falando de amor, mas nunca amaram. Eles não podem se permitir isto — é muito arriscado, e eles são tão instruídos, não podem dar um passo tão perigoso! Eles falam sobre meditação, lêem a respeito, mas nunca fazem nada. É perigoso! Nada pode ser mais perigoso do que a meditação. E um erudito está sempre em busca de segurança: segurança nas palavras, segurança nas doutrinas, segurança em tudo. Ele não é um jogador, não pode apostar sua vida. E a menos que você arrisque sua vida, não poderá aprender.

Este aprendizado é do coração, é exatamente como o amor. É por isso que Jesus repetia sempre que Deus é amor. Ele não estava dizendo — como os cristãos entenderam, ou como não entenderam — que Deus é um amante. Não! Ele não quis dizer que Deus ama. Essa frase justamente indica que o caminho é pelo coração, não pela cabeça.

(…) Lembre-se sempre de dar o primeiro passo de modo certo. Se o primeiro passo estiver certo, então metade da jornada estará vencida, quase terminada. Se o primeiro passo estiver certo, tudo o que vier se seguirá automaticamente, você chegará à meta. Assim, não vá ao Mestre para estudar, vá para aprender. Se você for para estudar, o Mestre lhe ensinará, mas o ponto mais significante não poderá ser transmitido — vá para aprender.

Qual a diferença entre essas duas atitudes? Muitas são as diferenças: quando você vai para estudar, quer mais informações; quando vai para aprender, quer mais ser — não informações. Quando você aprende, seu ser cresce. Quando você estuda, sua memória é que cresce. Quando você estuda, sabe cada vez mais e mais; quando aprende torna-se cada vez mais — e essas são coisas totalmente diferentes. Um homem pode ter uma grande memória, saber muitas coisas, e, no seu íntimo, ser completamente mendigo, pobre, não ter nada. Ele pode estar-se iludindo que conhece muitas coisas, mas esse conhecimento não o auxiliará — a menos que ele seja. O conhecimento é fútil! Apenas ser auxilia.

Se você estiver morrendo, quem irá com você? Seu conhecimento ou seu ser? Quem o auxiliará? Quem será a ponte? O que você poderá carregar consigo além da morte? Conhecimento? O cérebro será deixado para trás porque faz parte do corpo. Apenas o ser é levado para lá. E como você nunca o olhou, ele permaneceu pobre, faminto — você nunca o alimentou.

O aprendizado é do ser, o conhecimento é apenas da memória, da mente. As universidades podem lhe dar conhecimento, os professores podem lhe dar conhecimento, mas apenas um homem iluminado pode lhe dar, pode auxiliá-lo — e este auxílio é indireto — a ganhar mais ser. Você pode receber este auxílio, mas isto depende totalmente de você.

Se você vier para estudar, perderá o primeiro passo. E o primeiro passo é muito significativo, porque o primeiro eventualmente se transforma no último. A semente é muito significativa: a semente é o primeiro passo e é ela que se transforma em árvore. Ela pode levar muitos anos para florescer, mas se você tiver plantado a semente errada, então mesmo um milhão de vidas não serão de qualquer auxílio.

(…) Que tolice! Um Mestre está vivo e você fica obcecado pelas escrituras. Os diamantes estão por toda a parte e você fica se apegando em bijuterias, em pedras coloridas! O Mestre está vivo e você continua interessado em palavras mortas.

(…) Um homem que está junto com o Mestre para estudar, está sempre repleto de perguntas — porque é assim que as pessoas estudam. Você tem de criar perguntas para obter respostas, então você vai colecionando as respostas e torna-se mais instruído.

Um homem que não está querendo estudar, mas sim aprender, tem apenas uma pergunta, não muitas. Lembre-se: muitas perguntas não podem ser respondidas porque, se você é desse tipo de homem que tem muitas perguntas, qualquer resposta obtida servirá apenas para criar mais perguntas — nada mais. Todas as soluções apenas lhe darão mais problemas.

(…) Mas quando você tem apenas uma pergunta… isto é muito difícil. Só um homem muito sábio faz apenas uma pergunta. Para chegar a ter apenas uma pergunta é preciso que você esteja amadurecido — porque muitas perguntas demonstram curiosidade, uma pergunta demonstra que o seu ser chegou a uma conclusão. Neste momento, isto está em jogo: se esta pergunta for resolvida, tudo estará resolvido. É uma questão de vida ou morte.

Ter uma pergunta significa ter uma direção. Ter uma pergunta significa ter chegado à unidade! Só quando você chega à unidade a resposta pode lhe ser dada; caso contrário, você não está preparado. E nenhum Mestre vai perder seu tempo e energia, se você tiver muitas perguntas. Faça apenas uma pergunta!

Em primeiro lugar, descubra o que é essa pergunta significativa. Não se mova na periferia! Venha para o centro! Na periferia, podem existir muitos pontos a serem questionados;mas no centro existe apenas um ponto. Quando você se movimenta na periferia, está caminhando no círculo: uma pergunta o conduz a outra que por sua vez o conduz a outra e assim por diante — ad infinitum. Mas, no centro, há apenas uma pergunta.

E esta pergunta pode ser respondida até mesmo sem uma resposta: se você tiver apenas uma pergunta, o Mestre olhará para você e a pergunta estará respondida. Porque quando você tem apenas uma direção, você está alerta: sua chama está tão luminosa, sua mente tão clara — não repleta de nuvens, não com milhões de nuvens, apenas com um sol — você está tão límpido, tudo está tão vívido, claro, chamejante que apenas um olhar pode ser a resposta, apenas um toque já é o suficiente. Mas se você estiver repleto de perguntas, mesmo que o Mestre o martele com respostas, de nada adiantará.

(…) Você é a pergunta, você é o criador da questão. Você — o ego, a mente — você é a doença. Por que você não se retira? Muitas perguntas foram feitas — apenas uma resposta foi dada, e mesmo esta não pode ser compreendida. Porque uma pessoa que faz muitas perguntas não pode compreender uma resposta. Sua mente não consegue entender o que pertence ao um. Ela só entende a diversidade. Diversidade significa estar sempre do lado de fora; a unidade está sempre do lado de dentro — porque o centro está em seu interior e a periferia está do lado de fora.

(…) Se você ficar, as perguntas continuarão a vir. As perguntas vêm da mente exatamente como as folhas vêm da árvore. Você continua regando a árvore e as folhas continuam vindo. Naturalmente as folhas velhas irão cair e as novas virão. Assim, se o Mestre responder uma pergunta, a velha irá embora, mas uma nova virá, a qual será novamente substituída. E uma nova pergunta é pior do que uma velha porque da velha você está farto. Pode jogá-la fora. Você já viveu o suficiente com ela.

Uma nova pergunta é como uma nova vida: novamente você está amando, novamente o romance principia, novamente há poesia e novamente lá está o absurdo. Um novo pensamento é mais perigoso do que um velho porque, do velho, você já está farto. Você já se aborreceu com ele, quer jogá-lo fora. É por isso que Buda, ou Ryutan, ou pessoas como eles, nunca respondem suas perguntas. Eles não gostam de dar novos abrigos para a sua mente. Eles não gostam de lhe dar novos substitutos para o velho.

Buda costumava dizer: “Se quiser ter a resposta, não pergunte. Quando você não perguntar, eu responderei. Se perguntar, a porta será fechada”.

Buda costumava insistir sobre isso com os recém-chegados: “Por um ano, permaneça comigo sem perguntar nada. Se você perguntar, não poderá continuar vivendo comigo, terá de ir embora. Por um ano, fique simplesmente silencioso.” A pergunta não deve ser feita nem mesmo por dentro. Se você a fizer, mesmo que seja invisível, Buda saberá.

(…) Mesmo que você não pergunte, se a mente perguntar você estará perguntando, porque o pensar é uma ação sutil. Mais cedo ou mais tarde, ele se torna visível. A bolha está lá, ela virá a superfície. Você pode reprimi-la mas não pode enganar Buda.

Quando é que uma pergunta pode ser admitida? Quando não houver nenhuma pergunta. isto parece paradoxal: se não há nenhuma pergunta, o que você irá perguntar? Mas apenas então você pode fazer uma pergunta, uma busca, uma indagação. Então todo o seu ser  é uma indagação. E quando você se coloca diante de um Buda, com todo o seu ser transformado numa indagação, numa sede, numa fome interna — tão interna que nem mesmo você esteja presente, apenas a fome — então Buda pode alimentá-lo, então a resposta pode lhe ser dada. Caso contrário, qualquer coisa que Buda diga parecerá irrelevante.

(…) Você não está suficientemente cansado da mente? Então retire-se! A mente já não fez o suficiente? A mente já não criou caos suficiente para você? Por que você está apegado a ela? Qual esperança, qual promessa o mantém preso a ela? Ela o tem enganado continuamente. Ela diz: “Lá — naquela meta, naquela posse, naquela casa, naquele carro, naquela mulher, naqueles bens — tudo está lá.”

Você caminha para lá e quando chega nada vem para as suas mãos, exceto frustração. Todos os desejos, no fim, transforma-se num caso deplorável, numa grande tristeza.

E essa mente continua prometendo, prometendo — sem nunca cumprir nenhuma promessa, mas você nunca lhe diz: “Você está me engando, pare com isso!” Você tem medo de dizer.

OSHO

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A sociedade fez de você um ator, um imitador

É mais fácil imitar do que ser autêntico porque a imitação está apenas na superfície. A autenticidade necessita do seu centro, necessita de você em sua totalidade. E isso é demais para você. Você se envolve apenas na superfície; no íntimo, permanece desligado. A imitação é muito fácil: toda a cultura, toda a sociedade baseia-se nela.

Todos estão lhe dizendo como se comportar, e tudo o que eles lhe ensinam não é nada mais do que imitação. As pessoas chamadas de religiosas, os padres, os teólogos — também estão lhe ensinando: seja como Jesus, seja como Buda, seja como Krishna! Ninguém nunca lhe diz: Seja somente você mesmo! Ninguém! Parece que todos estão contra você. Ninguém lhe permite ser você mesmo, ninguém lhe dá nenhuma liberdade. Você pode estar neste mundo, mas deve imitar alguém.

Isso tudo é muito ridículo porque as mesmas coisas foram ditas a Buda. Diziam a Buda: Seja como Ram, seja como Krishna! Mas Buda não os seguiu e foi assim que tornou-se Buda. Ele se iluminou porque nunca foi uma vítima da imitação. Você não pode imitar. Se imitar, permanecerá falso.

(…) Todo o mundo tornou-se irreal, tornou-se ator. Ninguém é verdadeiro. É muito difícil encontrar um homem real. Se você puder encontrá-lo, não o deixe. Fique perto dele, sua realidade tornar-se-á infecciosa. Sua proximidade já será uma transformação suficiente para você. Você não precisará fazer coisa alguma. Isso é o que chamamos de satsang: estar perto de um homem verdadeiro, de um homem real, de um homem autêntico. Nada mais é necessário! Apenas estar perto dele, observá-lo, sentir o seu jeito de ser — isso é o suficiente.

Mas a sociedade fez de você um ator, um imitador. Você não é real, é falso. Nunca lhe foi permitido ser você mesmo, e isto é a única coisa que você pode ser. Você não pode ser mais nada. Pode tentar, imitar! Mas a imitação permanecerá apenas na superfície. No íntimo, você permanecerá você mesmo — e é assim que deve ser. A falsidade que você coloca sobre si mesmo não pode se tornar o seu ser. Como poderia? Ela pode, quando muito, ser uma veste, uma postura, um gesto superficial.

O mundo todo o ajuda a ser um imitador. Assim, quando você chega a um  mosteiro, perto de um Mestre, tenta usar outra vez os velhos métodos utilizados no mundo. Começa a imitar lá também. Mas lá, isto não será de nenhuma ajuda; lá isto será a barreira. No mundo, está bem imitar porque o mundo está cheio de imitadores. Se você for real, terá problemas; se for falso, será aceito. Este assim chamado mundo quer apenas que você seja uma sombra, não um homem real porque um homem real é perigoso.

Apenas as sombras podem ser subjugadas, podem ser obedientes, podem seguir; tudo o que lhes é dito para fazer, elas fazem. Um homem real não diz sempre sim; algumas vezes ele diz não. E quando ele diz não, ele quer dizer não! Você não pode subjugá-lo, não pode suprimi-lo.

Desde o nascimento, nós treinamos as crianças para serem falsas. Isso é o que nós chamamos caráter. Se elas se tornam falsas, irreais, nós as apreciamos, as premiamos com medalhas, dizemos que são reais. A falsidade é chamada de real, ideal. E se uma criança se rebela, tenta ser ela mesma, torna-se uma criança-problema. Precisa ser psicoanalisada ou enviada para alguma instituição onde possam concertá-la — algo está errado com ela. Mas não há nada de errado, ela está simplesmente se afirmando. Está dizendo: “Deixem-me ser eu mesma.”

(…) A esposa não permite que o marido seja ele mesmo. O marido não permite que a esposa seja ela mesma. Ninguém permite a ninguém ser ele mesmo, porque isto é considerado perigoso.

Reprima! E a sociedade é reprimida. Se a sociedade é triste, é natural que assim o seja: não poderia ser de outro modo. Pessoas falsas não podem ser felizes. Podem ser, quando muito, tristes, deprimidas. Freud disse que não existe remédio para a humanidade, que não há esperança de felicidade. Ele está certo. Do jeito que a humanidade está indo, se continuar assim, somente um estado de tristeza, de depressão, de desespero será possível. Apenas um suportar a si mesmo de algum modo, como uma carga — sem dança, sem energia borbulhando, sem vitalidade, sem cantos, sem flores, sem nada — somente um arrastar-se por aí.

As pessoas falsas só podem ser assim mesmo. Quando essas pessoas ficam muito cansadas, muito enjoadas dessa assim chamada sociedade, vão a um Mestre em busca da verdade. Lá também tentam suas velhas técnicas, mas lá elas saem perdendo. Está certo ser falso com pessoas falsas porque com elas é difícil ser verdadeiro. Mas quando você está em busca da verdade, quando vem a um Mestre, quando a necessidade de conhecer o que é a realidade surge em você, a imitação não é permitida. Se você imitar, estará carregando seu velho padrão, seu velho modo de vida, e esse modo de vida tornar-se-á a barreira.

Em religião, nenhuma imitação é permitida. Mas olhe para as pessoas religiosas; você verá igrejas, templos, mesquitas e lá encontrará os maiores imitadores. Isto significa que já não existe mais religião — as igrejas, os templos e as mesquitas são agora catacumbas. Com Jesus, você tinha de ser real, mas com o papa, no Vaticano, você tem de ser um imitador. Agora, o cristianismo do Vaticano faz parte da sociedade.

Jesus nunca foi parte da sociedade. permaneceu sempre um estranho. Todas as pessoas realmente religiosas têm permanecido estranhas, desligadas.

Quando morrem, então igrejas são fundadas sobre seus corpos mortos. Essas igrejas são parte da sociedade, são manejadas pela sociedade, controladas por ela.

A sociedade tem tramas muito engenhosas. Se você consegue escapar do mercado, logo é fisgado pela igreja porque ela é apenas uma extensão do mercado. O mercado alimenta a igreja, a controla. Na realidade, ele é o proprietário da igreja. Um padre não representa o Divino, representa o mercado.

O padre representa a economia política da sociedade. Marx está certo quando diz que a religião é apenas uma peça do jogo nas mãos dos capitalistas, dos feudalistas ou daqueles que exploram e são poderosos. A religião tem servido apenas como um instrumento de exploração. Marx está certo em relação à religião do Vaticano, à do Puri Shankaracharya ou à de Meca e Medina. Mas está errado sobre Maomé, sobre o original Shankaracharya, sobre Jesus. Está errado porque eles existiram não como parte da sociedade; existiram na solidão, como estranhos; existiram contra a sociedade e a imitação. Existiram como mensageiros do Divino. Este é o significado de avatar, o significado de filho de Deus, o significado de profeta, de paigamber — eles existiram como mensageiros do além.

(…) Quanto mais maduro se é, menos se imita; Se você ainda imita, ainda é um adolescente, ainda não atingiu a maturidade, ainda não se tornou um adulto. O que é ser adulto? É compreender que você tem de ser você mesmo e não um imitador, isto é que é maturidade.

Se você olhar para si mesmo, não encontrará esta maturidade. Você tem estado imitando os outros. Alguém tem um carro novo — de repente, você começa a imitar, precisa de um carro novo também. Os vizinhos sempre o deixam nervoso. Estão sempre comprando isso e aquilo e você tem de imitá-los. E quando isso ocorre, você está exatamente como os macacos.

Não imite! Seja maduro! Imitar não o levará a lugar algum. Por quê? O que é imitar e o que é ser autêntico, verdadeiro?

Imitar significa estabelecer um ideal a partir dos outros; significa ter um ideal que não é seu, um ideal que não vem de dentro de você, que não é um florescimento natural vindo do seu interior. Algum outro estabelceu o ideal e você vai atrás. Se não o alcança, sente-se miserável por não ter conseguido atingi-lo. Se o alcança, sente miserável também porque esse nunca foi o seu ideal. Você nunca o quis, isso nunca ocorreu no seu interior.

Eis porque existe tanta miséria no mundo: as pessoas ficam se imitando. Se falham, sentem-se miseráveis porque não atingiram. Se são bem sucedidas, também se sentem na miséria. Observe: nada fracassa tanto quanto o sucesso, se for uma imitação. É possível alcançar um objetivo após longa e extenuante jornada, após muito esforço e perda de tempo e energia. Mas então você descobre: “Eu nunca quis ser isso. Alguma pessoa deve ter querido e eu peguei emprestado o seu ideal”. Não pegue ideais emprestados, isso é infantil.

OSHO

O absurdo é necessário para trazê-lo fora de sua mente

O absurdo é necessário para trazê-lo fora de sua mente… porque a mente é raciocínio. Através do raciocínio você não pode sair da mente. Através do raciocínio você se move e se move, mas contínua no círculo.

Isso é o que você tem feito por muitas vidas. Uma coisa leva à outra, mas esta outra faz parte do círculo do mesmo modo que a anterior. Você sente que está se movendo porque a mudança está presente, mas continua seguindo num círculo. Continua se movendo aqui e ali, mas sempre em voltas; não consegue sair da periferia. Quanto mais raciocina sobre como sair, quanto mais cria sistemas, técnicas e métodos para sair, mais se embaraça. O problema básico é: a razão não pode trazê-lo para fora porque o raciocínio é o próprio estado no qual você se encontra. Algo irracional é necessário. Algo além da razão é necessário. Algo absurdo, louco — apenas isto pode trazê-lo para fora. Todos os grandes Mestres têm inventado situações absurdas. Se você pensar sobre elas, não compreenderá. É preciso seguir suas linhas sem nenhum raciocínio. É por isso que a filosofia não auxilia muito. Somente a religião pode auxiliar porque ela é a loucura absoluta.

Tertuliano disse: “Eu creio em Deus porque Deus é absurdo.” Não há razão para se crer Nele. Há alguma razão para se crer em Deus? Alguém já foi capaz de provar que Deus existe? Não há raciocínio que possa provar a Sua existência,   há somente a fé. Fé significa absurdo. Fé significa não ter nenhuma razão para crer e mesmo assim crer. Fé significa não ter nenhum argumento, nenhuma prova e mesmo assim colocar toda a sua vida em jogo; não ter nenhuma prova de que Deus existe e mesmo assim se atirar no abismo. Qualquer pessoa racional sentirá que você enlouqueceu. É assim que os racionalistas sempre se sentiram. Para eles, Buda, Krishna e Jesus enlouqueceram, estão falando absurdos.

Existe uma escola no Ocidente que prova que todas as religiões são absurdas. Eu sou um homem religioso e digo que eles estão certos — por razões erradas, eles estão certos. Eles pensam que se você provar que a religião é absurda você a desprezará, a refutará. Não!

Os homens religiosos têm dito constantemente: “Nós somos absurdos! Nós não pertencemos ao mundo sensato, pertencemos a algo que está além. E o além está sujeito a ser absurdo.” Que sentido você pode fazer a partir da religião? Se você fizer algum sentido não a compreenderá. Estará   Estará, então, no mundo da teologia, da filosofia, dos sistemas — mas não poderá tocar nunca na pureza que está além da razão.

(…) O que acontece quando alguém é capaz de acreditar no absurdo? Fica fora da razão. Repentinamente, o círculo para, a roda para, porque você deixa de a alimentar. os argumentos cessam, os pensamentos cessam. De repente, você está fora disso como se tivesse acordado de seu sono. E o maior sono é a razão, porque ela cria sonhos tão maravilhosos e tão reais que todos são iludidos por eles.

Quando você está acordado e fora do círculo vicioso, Deus aparece e nada mais existe. Então, você sabe! Mas antes que este conhecimento aconteça, a fé é necessária. Todos os filósofos que tentaram, durante séculos, provar que Deus existe não são religiosos, não estão servindo a Deus; estão fazendo um grande dano. Porque quando você dá uma prova, você faz com que Deus seja parte da mente também. E quando alguém crê porque Deus é um fato provado, não consegue sair da razão.

Por isso, todos as pessoas religiosas, todos os Mestres têm inventado truques a fim de trazê-lo para fora da razão. O Zen tem a sua própria técnica que é conhecida como “koan”. Um koan é um quebra-cabeça absurdo. Você não pode solucioná-lo. Por mais que tente, seu esforço será irrelevante. Mas o Mestre continuará insistindo para você trabalhar mais e mais intensamente: “Você não está tentando o suficiente para solucionar o problema: o problema é insolúvel! Não depende de você trabalhar intensamente nele ou não. Mas se você o fizer, com a sua totalidade, repentinamente se tornará consciente do absurdo; nunca antes.

De repente, você começará a rir: “Era tudo um absurdo!” Então, você poderá rir, o riso louco que vem quando a razão não está funcionando — Você já viu um louco rindo? O riso dele é totalmente diferente do seu. O seu é raciocinado, há razão para ele. Alguém contou uma piada, alguém caiu na rua, escorregou em uma casca de banana e você ri. Há uma razão: algo ridículo aconteceu. Porque você ri quando um homem cai na rua ou escorrega numa casa de banana? Por quê? O que há de hilariante nisso?

Existe algo nesse fato. O ego é a coisa mais ridícula no homem, e quando um homem cai por causa de uma casca de banana, a casca de banana torna-se mais forte do que ele. O total absurdo do ego é provado: o homem não é nada. Mesmo uma casca de banana pode jogá-lo fora do equilíbrio.

Toda civilização é egocêntrica. Culturas inteiras, nações, todos os sonhos de grandeza vêm ao homem porque ele é o único animal que permanece ereto sobre dois pés.  Por isso é que o homem pensa que não é um animal. O homem pensa que é diferente, único, que não pertence ao mundo animal. Mas quando você escorrega numa casca de banana, de repente cai dentro do mundo animal; é um animal indefeso, nada mais. Eis porque é ridículo ver um homem cair.

Pense! Se um mendigo cair por causa de uma casca de banana não rirá tanto. Mas se um primeiro-ministro cair, você morrerá de rir. Por quê? Porque um mendigo é um mendigo; ele já faz parte do mundo animal — nada demais. Mas se for o primeiro-ministro, o presidente, o rei, a rainha… Você não pode imaginar a rainha da Inglaterra caindo… exatamente como um ser humano; Impossível! Essas pessoas criaram uma falsa impressão em torno de si mesmas: a impressão de que são infalíveis. E uma simples casa de banana arrebenta toda a situação. Você fica exposto! É apenas um indefeso ser humano. E não somente um indefeso ser humano, mas apenas um animal — sobre quatro pernas, não sobre duas.

OSHO

A Presença Observadora

"Ao observarmos a nós mesmos, um maior grau de presença surge automaticamente em nossas vidas. No momento em que percebemos que não estamos presentes, estamos presentes. Sempre que formos capazes de observar nossas mentes, deixamos de estar aprisionados. Um outro fator surgiu, algo que não pertence à mente: a presença observadora.
Esteja presente como alguém que observa a mente e examine seus pensamentos, suas emoções, assim como suas reações em diferentes circunstâncias. Concentre seu interesse não só nas reações, mas também na situação ou na pessoa que leva você a reagir. Preste atenção ao pensamento, sinta a emoção, observe a reação. Não veja nada como um problema pessoal. Sentirá então algo muito mais poderoso do que todas aquelas outras coisas que você observa, uma presença serena e observadora por trás do conteúdo da sua mente: o observador silencioso."

"Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa auto-imagem, um desafio na vida que nos cause medo, quando as coisas "vão mal" ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar "inconscientes". A reação ou a emoção nos domina, "passamos a ser" ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu estado habitual de sobrevivência. 
Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do tempo infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora. Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo — passado ou futuro — quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta a capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada."

"O passado se perpetua pela falta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado no presente."

"Se é a qualidade de nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que é que determina a qualidade de nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no Agora". 

“O desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas formas de medo são causadas por excesso de futuro e pouca presença. A culpa, o arrependimento, o ressentimento, a injustiça, a tristeza, a amargura, todas as formas de incapacidade de perdão são causadas por excesso de passado e pouca presença.”

“Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro. A presença é a chave para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre Agora”.

“Você não pode estar infeliz e completamente presente no Agora, ao mesmo tempo”.

“Caso apareça uma situação com a qual você precise lidar agora, a sua ação vai ser clara e objetiva, se conseguir perceber o momento presente. Tem muito mais chances de dar certo. Não será uma reação vinda do condicionamento da sua mente no passado, mas sim, uma resposta intuitiva à situação. Em situações em que a mente teria reagido, você vai achar mais eficaz não fazer nada. Fique só centrado no Agora”.

“Ao fim dessa luta compulsiva com o Agora, a alegria do Ser passa a fluir em tudo o que fazemos. No momento em que a nossa atenção se volta para o agora, percebemos uma presença, uma serenidade, uma paz. Não dependemos mais do futuro para obtermos plenitude e satisfação, não o olhamos mais como salvação.”

“Quando cada célula do nosso corpo está tão presente que vibra com a vida, e quando conseguimos sentir essa vida a cada momento como alegria do Ser, podemos dizer que estamos livres do tempo.”

“Perder o Agora é perder o Ser”.

Saber que você não está presente já é um grande sucesso. O simples saber já é presença — mesmo que, no início, dure só alguns segundos no tempo do relógio antes de desaparecer outra vez. Depois, com uma frequência cada vez maior, você escolhe dirigir o foco da consciência para o momento presente. Você se torna capaz de ficar presente por períodos mais longos. Portanto, antes que sejamos capazes de nos estabelecer com firmeza no estado de presença, oscilamos, periodicamente, de um lado para o outro, entre a consciência e a inconsciência, entre o estado de presença e o estado de identificação com a mente. Perdemos o Agora várias vezes, mas retornamos a ele. Por fim, a presença se torna o estado predominante.
A maioria das pessoas nunca vivencia a presença. Ela acontece apenas de modo breve e acidental, em raras ocasiões, sem ser reconhecida pelo que é. Muitos seres humanos não se alternam entre consciência e inconsciência, mas somente em diferentes níveis de inconsciência.”

“Chamo de inconsciência comum essa identificação com os nossos processos de pensamentos, e emoções, nossas reações, desejos e aversões. É o estado normal da maioria das pessoas. Nesse estado, somos governados pela mente e não temos consciência do Ser. Não se trata de um estado de sofrimento agudo ou de infelicidade, mas de um nível baixo e contínuo de desconforto, descontentamento, enfado ou nervosismo, como uma espécie de estática ao fundo. Talvez você não perceba muito bem essa situação porque ela já faz parte da nossa vida “normal”, da mesma forma que você não percebe o barulho contínuo ao fundo, como o zumbido do ar-condicionado, até ele parar. Quando isso acontece de repente, ocorre uma sensação de alívio.”

“O melhor indicador do nível de consciência é a maneira como você lida com os desafios da vida. É através desses desafios que uma pessoa já inconsciente tende a se tornar mais profundamente inconsciente, e uma pessoa consciente a se tornar intensamente consciente. Podemos nos valer de um desafio para nos acordar ou para permitir que ele nos empurre para um sono mais profundo. O sonho do nível da inconsciência comum se transforma, então, em pesadelo.
Se você não consegue estar presente mesmo em situações normais, como, por exemplo, quando está sozinho em uma sala, caminhando no campo ou ouvindo alguém, certamente não será capaz de permanecer consciente quando alguma coisa ‘vai mal’. Será dominado por uma reação, que é sempre, em última análise, alguma forma de medo, e empurrado para uma inconsciência profunda. Esses desafios são os seus testes. Só o modo como você lida com eles mostrará onde você está no que se refere ao seu estado de consciência, e não a quantidade de horas que você consegue ficar sentado com os olhos fechados.
Portanto, é fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo está correndo de modo relativamente tranquilo. É assim que se aumenta o poder de presença. Ele gera um campo energético de alta frequência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma negatividade, nenhuma discórdia ou violência pode penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a escuridão não consegue sobreviver na presença da luz.”

“Quando ficamos mais conscientes do presente, podemos ter um insight sobre o porque de determinados condicionamentos. Podemos perceber, por exemplo,  se seguirmos algum padrão nos nossos relacionamentos e podemos ver mais claramente coisas que aconteceram no passado. Fazer isso é bom e pode ser útil, mas não é o essencial. O que é essencial é a nossa presença consciente. Ela dissolve o passado. Ela é o agente transformador. Portanto, não procure entender o passado, mas esteja presente tanto quanto conseguir. O passado não consegue sobreviver diante da sua presença, só na sua ausência.”

“Sempre que observamos a mente, livramos a consciência das formas da mente, criando aquilo que chamamos o observador ou a testemunha. Consequentemente, o observador — que é a pura consciência além da forma — se torna mais forte, e as formações mentais se tornam mais fracas. Quando falamos sobre observar a mente, estamos personalizando um fato de verdadeiro significado cósmico porque, através de você, a consciência está despertando do seu sonho de identificação com a forma e se retirando da forma. Isso é o prenúncio — e também parte — de um acontecimento que provavelmente ainda está num futuro distante, no que diz respeito ao tempo cronológico. Esse conhecimento é conhecido como o fim do mundo.”

Eckhart Tolle

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill