A mente é sempre velha. Nunca é nova.
Não pode ser por sua própria natureza, porque a mente significa memória. Como pode a memória ser nova? mente significa o conhecido. Como pode o conhecido ser novo? Olhe para a sua mente; tudo o que ela carrega é velho, morto. Quando você chega a conhecer um momento, ele já passou. Quando você reconhece que sabe algo, esse algo já se foi. Não está mais aqui e agora. Moveu-se para o mundo da morte.
Portanto, a mente por sua própria natureza, tal como é, já é velha. É por isso que não cria algo original. A mente não consegue ser original, só consegue repetir. Ela pode repetir de mil maneiras, pode repetir cada vez com novas palavras, mas o ponto permanece o mesmo. A mente não tem capacidade para conhecer, para encontrar o frescor, a juventude, o novo. Para encontrar o novo, sua mente tem de ser colocada de lado, pois só assim seus olhos não estarão tapados pelo passado, pelas cinzas do passado; só assim seu espelho poderá refletir o que está aqui e agora.
Tudo o que é novo nasce da consciência, não da mente. A consciência é a sua mais profunda fonte. A mente é a poeira acumulada em cada uma das suas jornadas. É como se você tivesse viajado muitas e muitas vezes, apanhando lama e acumulando pó, sem nunca tomar um banho. E isto é o que lhe tem acontecido. Sua mente nunca tomou um banho. Mas você se apega a ela, a toda essa sujeira. Todos os métodos de meditação nada mais fazem do que lavar a mente, dar um banho, um banho interior, para que a poeira escorra e a consciência que está oculta venha à tona e encontre a realidade.
A realidade está aqui, você está aqui, mas o encontro não acontece porque a mente se interpõe entre você e a realidade. Tudo o que você vê, vê através da mente. Tudo o que você ouve, ouve através da mente. Por isso, está quase surdo, quase cego. Jesus dizia sempre a seus discípulos: “Quem tiver ouvidos, que ouça! Quem tiver olhos, que veja!” Todos eles tinham olhos como os seus. Todos eles tinham ouvidos como os seus. Mas Jesus sabe, como eu sei, o quanto você está surdo, o quando está cego…
Quando uma pessoa ouve pela mente, na verdade, não estão ouvindo porque a mente interpreta, colore, muda, confunde a si mesma, e quando algo chega até você já está velho. A mente já fez o seu truque. A mente já deu o seu próprio sentido, sua própria interpretação. A mente já fez a crítica.
É por isso que, a menos que você se torne um verdadeiro ouvinte, não compreenderá. Ouvir corretamente significa ouvir sem a mente. Olhar verdadeiramente significa olhar sem a mente, sem interpretar, sem julgar, sem condenar, sem avaliar, sem dizer sim ou não. Quando eu converso com você , vejo a sua mente balançando afirmativa ou negativamente. Mesmo que o balançar seja invisível, eu o vejo. Pode ser que você não esteja consciente disso, mas, algumas vezes, ao dizer “sim”, sua mente já interpretou; já avaliou. E você perdeu.
Ouça simplesmente, sem julgar, e de repente, perceberá que a mente tem confundido tudo.
Lembre-se disto: A mente é velha, não pode nunca ser nova. Portanto, não pense nunca que a sua mente é original. Nenhuma mente pode ser original. Todas as mentes são velhas, repetitivas. É por isso que ela gosta tanto das repetições e está sempre contra o novo. Por terem sido criados pela mente, o estado, a civilização, a moral estão sempre contra o novo. Nada pode ser mais ortodoxo do que a mente.
Com a mente, nenhuma revolução é possível. Se você é um revolucionário através da mente, pare de enganar a si mesmo. Um comunista não pode ser revolucionário porque nunca meditou. Seu comunismo é mental. Apenas trocou de Bíblia: não acredita mais em Jesus, acredita em Marx ou em Mao, a última edição de Marx. O comunista é tão ortodoxo quanto qualquer católico, hindu ou maometano. Seu ortodoxismo é o mesmo porque a ortodoxia não depende do que é acreditado. A ortodoxia depende de se acreditar através da mente. E a mente é o elemento mais ortodoxo, mais conformista do mundo.
Qualquer coisa que a mente crie, nunca será nova, será sempre anti-revolucionária. É por isso que a única revolução possível no mundo é a religiosa, não pode haver outra. Apenas a religião pode ser revolucionária porque só ela chega à própria fonte. Só ela abandona a mente, o velho. Assim, de repente, tudo é novo, porque era a mente que estava tornando tudo velho através de suas interpretações.
De repente, você volta a ser criança. Seus olhos são jovens, inocentes. Você olha sem informações, sem ensinamentos. De repente, as árvores têm um novo frescor, o verde mudou — já não é mais opaco; é vivo, brilhante. De repente, o canto dos pássaros é totalmente diferente.
(…) Só a meditação pode matar a mente — nada mais. A meditação é o suicídio da mente, é a mente cometendo suicídio. Sem qualquer química, sem qualquer meio físico, você põe sua mente de lado. Torna-se o mestre. E quando você é o mestre, tudo é novo. Desde a própria origem até o derradeiro final, tudo é novo, jovem, inocente. A morte não existe, nunca ocorreu neste mundo. A vida é eterna.
(…) O que você tem alcançado pelos pensamentos? Nada mais do que ansiedade, tensão. Entretanto, continua apegado na esperança de que, um dia ou outro, em algum lugar do futuro, a verdade seja alcançada através deles. Até agora, nada assim aconteceu e nunca acontecerá. A verdade nada tem a ver com os pensamentos. Ela está aqui! Basta olhá-la! Não há necessidade de se pensar a respeito. Pensar seria necessário se ela não estivesse aqui, se você estivesse tateando no escuro. Mas, na existência, não existe nenhuma escuridão. A existência é a luz absoluta. Não é preciso tatear. Você está com os olhos fechados, por isso tateia desnecessariamente e pensa: “Se eu parar de tatear, estarei perdido.” Pensar é tatear.
Meditar é abrir os olhos. Meditar é olhar. Os hindus chamam a meditação de darshan, porque darshan significa olhar — olhar diretamente, sem pensar a respeito. O próprio olhar transforma. Mas você carrega os pensamentos nesse velho pote e vai remendando-o, tomando conta dele: se ele se quebrar, o que acontecerá a seus valiosos pensamentos? E, no entanto, eles não são absolutamente valiosos.
Algum dia, faça esta pequena experiência: feche a porta de seu quarto, sente-se e comece a escrever seus próprios pensamentos — tudo o que vier à sua mente. Não os modifique porque você não precisará mostrar esse pedaço de papel a ninguém. Por dez minutos, simplesmente escreva. Depois, olhe. Olhe o que os seus pensamentos são. Se você olhar, pensará que algum maluco os escreveu. Se mostrar esse papel ao seu amigo mais íntimo, ele olhará para você e pensará: “Você ficou louco?” E a situação dele é idêntica à sua. Mas nós continuamos escondendo a loucura. Temos máscaras atrás das quais escondemos a nossa loucura.
Por que você valoriza tanto esses pensamentos? Eles são drogas, são química. Observe bem: pensar é algo químico, é uma droga. Quando você começa a pensar, entra num tipo de sono hipnótico. É por isso que se torna viciado — é exatamente como o ópio. Com o pensar, você pode esquecer o mundo, os problemas, as responsabilidades. Sonhando, pensando, pode criar um mundo totalmente diferente dentro de si.
(…) Os cientistas dizem que se você for privado de sonhar e de dormir por alguns dias ficará louco, porque a catarse não acontecerá e a loucura começará a entrar em erupção. Explodirá. Durante a noite, você sonha — isso é uma catarse. Durante o dia, você pensa — isso também é uma catarse que contribui para a sua sonolência. É uma droga. Com os pensamentos, não é preciso preocupar-se com o que está acontecendo. Basta fechar-se dentro deles. Os pensamentos são sempre bem-vindos; com eles você se sente confortável: eles são o seu próprio lar, mesmo que estejam sujos e velhos. Depois de viver tanto tempo com eles, você já se acostumou. Já se acostumou com a sua prisão. Isso acontece com os prisioneiros que ficam muito tempo encarcerados: ao sair, sentem medo, sentem medo da liberdade. Sentem medo porque sabem que ela lhes trará novas responsabilidades. E não existe nada como sair da mente — é a liberdade total.
Os hindus dão a esse estado o nome de moksha — liberdade total. Não existe nada que se possa comparar a ele: é o estilhaçamento de todas as prisões. Depois, simplesmente você, sob o céu infinito. O medo o agarra: você quer voltar atrás, para sua casa, para o seu canto aconchegante, murado, protegido. No seu canto, você não tem medo. Nele, o infinito não está presente.
O infinito assemelha-se á morte. Você acostumou-se com o finito, com os limites preciosos, com as distinções delineadas. É por isso que não pode jogar fora os pensamentos, não pode jogar fora o velho pote. Ao invés disso, continua aumentando-o cada vez mais. E ele é exatamente como a sua barriga: quanto mais pensamentos você coloca, mais ele se expande. A única diferença é que a barriga pode arrebentar se você comer demais, mas a mente não.
Uma mente comum pode conter todas as livrarias do mundo. Em sua pequena cabeça, existem setenta milhões de células e cada uma pode conter, pelo menos, um milhão de informações. Nenhum computador foi desenvolvido ainda que possa ser comparado com a sua mente. Em sua pequena cabeça, você carrega o mundo inteiro. E ela continua se expandindo.
OSHO