Na sociedade, existe uma profunda expectativa de que você se comporte exatamente como todos os demais. No momento em que se comporta de forma um pouco diferente, você passa a ser um sujeito estranho, e as pessoas têm muito medo de estranhos.
As pessoas sempre querem participar de um grupo ao qual se ajustem.
Nesta sociedade, ninguém aceita a si mesmo. Todo mundo se condena. Esse é o estilo de vida da sociedade: condenar-se. E, se você não está se condenando, se está se aceitando do jeito que é, você tem que se afastar da sociedade.
E a sociedade não tolera ninguém que saiu do rebanho, porque ela vive de números; é uma política de números. Quando há muitos números, as pessoas se sentem bem. Números grandes fazem com que as pessoas sintam que tem de estar certas - elas não podem estar erradas, milhões de pessoas estão com elas. E, quando ficam sozinhas, grandes dúvidas começam a vir à tona: Ninguém está comigo. O que garante que estou certo?
É por isso que eu digo que, neste mundo, ser um indivíduo é o maior sinal de coragem.
Para ser um indivíduo, é preciso o mais destemido dos treinamentos: “Não importa que o mundo inteiro esteja contra mim. O que importa é que a minha experiência é válida. Eu não me importo com os números, com quantas pessoas estão comigo. Eu me importo com a validade da minha experiência — se estou simplesmente repetindo as palavras de outra pessoa, como um papagaio, ou se a fonte das minhas afirmações é a minha própria experiência. Se é a minha própria experiência, se isso é parte do meu sangue, dos meus ossos, do meu âmago, então o mundo inteiro pode pensar de outro jeito; ainda assim, eu estou certo e eles estão errados. Não importa, não preciso da aprovação deles para sentir que estou certo. Só aqueles que dependem das opiniões de outras pessoas precisam do apoio dos outros.
Mas é assim que a sociedade humana tem sido até agora. É assim que ela mantém você no rebanho. Se os outros estão tristes, você tem que ficar triste; se sofrem, você tem que sofrer. O que quer que eles sejam, você tem que ser também. Não se permitem diferenças, porque as diferenças acabam levando para o indivíduo, para o único, e a sociedade tem muito medo do indivíduo e da unicidade. Isso significa que alguém ficou independente do grupo, que essa pessoa não dá a mínima para o grupo. Seus deuses, seus templos, seus padres, suas escrituras, tudo ficou sem sentido para ela.
Agora ela tem seu próprio ser e seu próprio jeito, seu próprio estilo — de viver, morrer, celebrar, cantar, dançar. Ela chegou em casa.
E ninguém pode chegar em casa junto com a multidão. Só se pode chegar em casa sozinho.
— É absolutamente inevitável que um Buda seja sempre um incompreendido?
Prem Madira: Sim. É absolutamente inevitável. Não pode ser de outra maneira. Um Buda está destinado a ser incompreendido. Se um Buda não é incompreendido então ele não é um Buda de verdade.
Por que é assim? Porque o Buda vive em um estado além da mente, e nós vivemos na mente. Traduzir algo do além para a mente é a coisa mais impossível do mundo. Não pode ser feito, embora todo Buda tenha tentado fazê-lo. Isto também é inevitável. nenhum Buda pode evitá-lo. O Buda tem que dizer o que não se diz, ele tem que expressar o inexprimível, ele tem que definir o indefinível. Ele tem que fazer este ato absurdo, porque no momento que ele alcança o além da mente nasce uma grande compaixão. Ele pode ver pessoas tropeçando na escuridão, ele pode ver pessoas sofrendo sem necessidade - criando seus próprios pesadelos, criando seus próprios infernos e afundando-se em seus próprios infernos criados.
Como ele pode evitar não sentir compaixão? E no momento que nasce a compaixão ele quer comunicar-lhes que, "Isso é o seu próprio fazer." Que, "Você pode sair disso, há uma maneira fora disso, há um estado mais além disso; a vida não é o que você pensa que é." Seu pensamento sobre a vida é apenas o pensamento de um cego sobre a luz. O homem cego pode seguir pensando sobre a luz, mas ele nunca será capaz de chegar a uma conclusão verdadeira. Suas conclusões podem ser muito lógicas, mas ainda assim, elas perderão a experiência. A luz é uma experiência. Você não necessita lógica para isso, o que você necessita são olhos.
Buda tem olhos. E olhos são alcançados apenas quando você tiver ido além da mente, quando você se tornar uma testemunha da mente; quando você chegar a um estado mais além da psicologia: quando você souber que você não é os seus pensamentos, nem o seu corpo; quando souber que você é apenas o conhecer - a energia que reflete, a energia que é capaz de ver - que você é pura visão.
Uma vez Buda foi questionado, "Quem és tu?" Ele era um homem tão lindo e a irmandade de Buda estava reunida tão devotada a ele, que muitas vezes lhe era questionado, "Quem és tu?" Ele parecia um imperador ou um deus que veio dos céus, e ele viveu como um mendigo. Muitas e muitas vezes ele era questionado, "Quem és tu?" E o homem que estava perguntando era um grande erudito. Ele dizia, "És tu do mundo dos deuses? És tu um deus?" Buda disse, "Não." "Então és tu um gandharva?" Gandharvas eram os músicos dos deuses. Buda tinha uma tal música ao seu redor - a música do silêncio, o som do não som, o aplauso com uma só mão - que era natural perguntarem-lhe, "És tu um gandharva, um músico celestial?" Buda disse, "Não." E o homem continuava perguntando.
Há muitas categorias, na mitologia hindu, de deuses para os homens. Então finalmente ele pergunta, "És tu um grande rei, um chakravartin, aquele que comanda todo o mundo?" E Buda disse, "Não." Chateado, o erudito perguntou, "És tu um homem ou nem mesmo isso?" Buda disse: "Não fique chateado, mas o que eu posso fazer? Eu tenho que dizer a verdade tal como ela é. Eu não sou nem mesmo um homem." Agora o erudito está totalmente irado, furioso. Ele diz, "Então és tu um animal? " Buda disse, "Não - nem um animal, nem uma árvore, nem uma pedra." "Então quem és tu?" o homem perguntou. Buda disse, "Eu sou a consciência, apenas a pura consciência, apenas um espelho refletindo tudo aquilo que é."
Quando chega este momento ocorre uma grande compaixão. Buda disse que aqueles que sabem estão destinados a sentir compaixão por aqueles que não sabem. Eles começam tentando ajudar. E a primeira coisa que tem que ser feita é comunicar às pessoas que estão cegas que os olhos são possíveis, que elas não estão totalmente cegas, mas apenas estão mantendo seus olhos fechados. Você pode abrir seus olhos. Você não nasceu cego, apenas lhe foi ensinado a permanecer cego. A sua sociedade lhe ensina a ser cego. Sua sociedade lhe ensina a ser cego porque a sociedade precisa de pessoas cegas. Elas são bons escravos porque elas são sempre dependentes de seus líderes, políticos, pânditas, sacerdotes. Elas são pessoas muito convenientes, elas nunca criam qualquer problema. Elas nunca são rebeldes. Elas são obedientes, sempre prontas a se submeter a qualquer tipo de absurdo a qualquer político estúpido, a qualquer sacerdote estúpido. E, de fato, quem mais deseja ser um político além de pessoas estúpidas, e quem quer se tornar um sacerdote exceto pessoas estúpidas? Estas são as dimensões para o medíocre, para o inferior. Aqueles que estão sofrendo de um complexo de inferioridade, se tornam políticos - apenas para provar que eles não são inferiores, para o mundo e para eles mesmos.
A sociedade, o sistema, quer que você seja cego. Desde o começo ela ensina a cada criança: "Você é cega"; ela condiciona cada criança: "Você é cega." Todo o seu sistema educacional é nada mais do que um conspiração contra cada criança - para mantê-lo cego. Ela não lhe ensina meditação, porque meditação é a arte de abrir seus olhos. Quando alguém chega à consciência, ele naturalmente sente grande compaixão. Por toda volta, ele vê que as pessoas - que têm olhos, que têm capacidades internas de verem a verdade, que são desde o seu nascimento capazes de se tornarem Budas, seres iluminados, acordados - estão sofrendo. E todo o sofrimento é ridículo, não precisa existir. A compaixão acontece e a compaixão começa a se comunicar, mas a comunicação é difícil, impossível. Buda fala do pico e você vive nos vales escuros, aonde a luz nunca chega. Ele fala em palavras de luz; quando elas lhe alcançam seu significado muda. Quando sua mente as agarra ela as colore com sua própria cor. Não é assim apenas se tratando de Budas - mesmo a comunicação ordinária parece ser impossível. O marido não consegue se comunicar com a esposa, os pais não conseguem se comunicar com seus filhos, os professores não conseguem se comunicar com seus alunos. O que dizer a respeito de Budas? Mesmo as pessoas que vivem no mesmo nível não conseguem se comunicar, porque as palavras são coisas enganosas. Você diz uma coisa mas, no momento em que ela chega ao outro, aí está sob o poder dele como interpretá-la.
A rainha estava viajando pelo interior da Inglaterra quando ela viu um homem, sua mulher, e um bando de crianças. Impressionada, a rainha perguntou, "Estas crianças são todas suas? "Sim, vossa alteza, respondeu o homem. “Quantas crianças vocês têm?" perguntou a soberana inglesa. Dezesseis, foi a resposta. "Dezesseis crianças," repetiu Sua Majestade. "Nós deveríamos lhe dar um título de nobreza (de 'caráter')." "Ele tem um," disse a mulher, "mas ele não o usa."
Ou, se você não entendeu, outra história para você: Thor, o Deus germânico do trovão, estava se sentindo inquieto, então ele decidiu tirar uma folga no fim de semana. Levando um punhado de jóias do departamento de pequenas somas de Valhalla, ele desceu para a Terra, comprou um elegante "traje de discoteca" e algumas correntes de ouro e se dirigiu aos bares de dança de sábado a noite. Depois de uma longa noite na cidade ele finalmente levou para casa a mulher mais bonita que ele viu e passou o resto da noite e a manhã satisfazendo sua libido heroica. Quando ele saiu da cama e começou a se vestir ele percebeu que a garota exausta na cama não tinha notado o seu vigor sexual divino. Para explicar, ele inclinou-se na direção dela e sussurrou, "Querida, eu acho que você deveria saber - eu sou Thor." De olhos arregalados, a garota exclamou, "'Dor'? Seu grande filho da puta, eu não consigo nem me levantar!"
A comunicação ordinária, a comunicação essencialmente mundana, mesmo no mercado, é difícil. E um Buda quer lhe comunicar algo que ele encontrou em um estado de não-mente, que ele encontrou quando todos os pensamentos desapareceram, que ele descobriu quando mesmo ele não era mais - quando o ego evaporou, quando existe um profundo silêncio, paz absoluta, e o céu está sem nuvens. Agora, como trazer essa experiência infinita para palavras? Nenhuma palavra é suficientemente adequada - daí a má interpretação.
Sim, Madira, é absolutamente inevitável que um Buda seja sempre mal-interpretado. Apenas aquelas poucas pessoas podem entender um Buda, que são discípulos e devotos. Ser um discípulo significa ser aquele que colocou de lado todos os julgamentos antecipados, que colocou de lado todos os pensamentos, e que está pronto a ouvir - não a sua própria mente e suas interpretações mentais, mas as palavras do Buda; aquele que não está num estado de argumentar com o Buda, que não está interpretando internamente o que o Buda está dizendo que ouve um Buda como você ouve música clássica, que ouve um Buda como você ouve o som da água corrente, que ouve o Buda como você ouve o vento passando pelos pinheiros ou o pássaro chamando à distância. Este é o estado de um discípulo. Ou se você se elevar um pouco mais alto e se tornar um devoto... Um devoto é aquele que não apenas deixou sua mente cair mas que trouxe seu coração à tona, que ouve a partir do coração, não a partir da lógica, mas do amor. O discípulo está a caminho de se tornar um devoto. O discípulo está no início de se tornar um devoto, e o devoto é o preenchimento de ser um discípulo. Apenas essas poucas pessoas entendem um Buda. E ao entender um Buda elas são transformadas, transportadas para um outro mundo - o mundo da liberação, nirvana, luz, amor, benção.
O amor é o alimento da alma. Assim como a comida é para o corpo, o amor é para a alma. Sem comida o corpo enfraquece, sem amor a alma enfraquece. E nenhum estado, nenhuma igreja e nenhum interesse investido jamais quiseram que as pessoas tivessem almas fortes porque uma pessoa com energia espiritual está fadada a ser rebelde.
O amor lhe faz rebelde, revolucionário. O amor lhe dá asas para voar alto. O amor lhe dá insight nas coisas, assim ninguém pode lhe enganar, lhe explorar, lhe oprimir. E os padres e os políticos só sobrevivem com o seu sangue – eles só sobrevivem na exploração. Eles são parasitas, todos os sacerdotes e todos os políticos.
Para lhe tornar espiritualmente fraco eles descobriram um método seguro, cem por cento garantido, e esse é ensinar a você a não amar a si mesmo – porque se um homem não pode amar a si mesmo ele também não pode amar mais ninguém. O ensinamento é muito ardiloso. Eles dizem: Ame os outros – porque eles sabem que se você não puder amar a si mesmo você não pode amar de maneira nenhuma. Mas eles continuam dizendo: Ame os outros, ame a humanidade, ame a Deus, ame a natureza, ame sua esposa, seu marido, seus filhos e seus pais, mas não ame a si mesmo, porque, segundo eles, amar a si mesmo é egoísta.
Eles condenam o amor-próprio mais do que qualquer outra coisa – e eles fizeram seu ensinamento parecer muito lógico. Eles dizem: Se você amar a si mesmo você se tornará um egoísta, se você amar a si mesmo você se tornará um narcisista. Isso não é verdade. Um homem que ama a si mesmo descobre que não existe nenhum ego nele. É amando os outros sem amar a si próprio, é tentando amar os outros que o ego surge.
O amor nada sabe de dever. Dever é um fardo, uma formalidade. Amor é uma alegria, um compartilhar; o amor é informal. O amante nunca sente que ele fez o bastante; o amante sempre acha que mais é possível. O amante nunca sente, ‘Eu favoreci o outro’. Pelo contrário, ele sente, ’Devido a que meu amor foi recebido, estou agradecido. O outro me favoreceu por receber meu presente, não o rejeitando’. O homem do dever pensa, ‘Sou mais elevado, espiritual, extraordinário. Vejam como eu sirvo as pessoas’!
Um homem que ama a si mesmo respeita a si mesmo e um homem que ama e respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe, ‘Assim como eu sou, os outros também são. Assim como gosto do amor, respeito, dignidade, os outros também gostam’. Ele se torna cônscio de que não somos diferentes, no que diz respeito ao essencial, nós somos um. Estamos debaixo da mesma lei: Es dhammo sanantano.
O homem que ama a si mesmo desfruta tanto do amor, se torna tão contente, que o amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. Tem que alcançar! Se você vive o amor, você começa a compartilhá-lo. Você não pode continuar a amar a si mesmo para sempre porque uma coisa ficará absolutamente clara para você: que se amando uma pessoa, você mesmo, é um êxtase tão tremendo e tão belo, tanto mais êxtase está esperando por você se você começar a compartilhar seu amor com muitas pessoas!
Lentamente as ondulações começam a se expandir cada vez mais longe."
Você está sempre perguntando como conseguir livrar-se do sofrimento. Perguntando assim, parece que o sofrimento o está segurando e você quer livrar-se dele. Se o sofrimento estivesse lhe segurando, então não seria possível você se livrar dele, porque a posse não estaria em suas mãos, mas nas mãos do sofrimento. Você seria impotente. E se depois de tantas vidas você ainda não conseguiu tornar-se livre, então como conseguir tornar-se livre agora?
Eu digo a você que o sofrimento não o está segurando; você é que está segurando o sofrimento. E se você puder fazer uns experimentos, aceitando o que eu estou dizendo, você irá compreender por si mesmo. E não apenas você compreenderá isso, mas você irá experienciar uma entrega; você saberá como o sofrimento pode ser abandonado. E quando tornar-se bom na arte de abandonar o sofrimento, você irá perceber o que estava arrastando consigo. E ninguém, a não ser você, era responsável por isso. Por qualquer coisa que você tenha experienciado como sofrimento, nenhuma outra pessoa pode ser responsabilizada. Esse era o seu desejo: você queria sofrer. Tudo o que nós desejarmos será permitido. E tudo o que você é, é o fruto dos seus desejos. Nem Deus é responsável, nem a sorte; ninguém tem motivo algum para lhe causar problemas.
A verdade é que a existência está sempre querendo fazer você ficar alegre. Toda essa existência quer que a sua vida se torne um festival... porque quando você está infeliz, você também sai atirando infelicidade por toda a sua volta. Quando você está infeliz, o mau cheiro de suas feridas alcança toda a existência. E quando você está infeliz, a existência também sente dor. Todo esse mundo sente dor quando você está infeliz e sente alegria quando você está alegre. A existência não deseja que você deva ser infeliz. Isso seria suicídio para a própria existência. Mas você está infeliz e para se tornar infeliz você teve que fazer toda sorte de arranjos. E enquanto isso não for destruído, você não será capaz de abrir os seus olhos para a felicidade. "
Estou aqui para seduzi-lo a um amor pela vida; para ajudá-lo a tornar-se um pouco mais poético; para ajudá-lo a morrer para o mundano e para o ordinário, de modo que o extraordinário exploda em sua vida.
Eu não sou um lógico, sou um existencialista.
Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência. Eu não sou um messias e não sou um missionário. E não estou aqui para estabelecer uma igreja ou para dar uma doutrina para o mundo, uma nova religião, não.
Meu esforço é totalmente diferente: uma nova consciência, não uma nova religião, uma nova consciência, não uma nova doutrina. Chega de doutrinas e chega de religiões!
O homem necessita de uma nova consciência.
E a única maneira de trazer uma nova consciência é continuar martelando por todos os lados para que lenta, lentamente nacos de sua mente se desprendam. A estátua de um Buda está oculta em você. Nesse momento você é uma rocha. Se eu continuar martelando, cortando fora pedaços de você, lenta, lentamente o buda surgirá.
Editada de 1998 a 2003 pela Editora Três, a Planeta Meditação era uma revista mensal de cem páginas que tratava de temas eternos e atuais ligados à espiritualidade humana, em que a jornalista Mirna Grzich entrevistou grandes representantes dos caminhos espirituais, escritores, músicos e pesquisadores.
Normalmente o que consideramos como alegria não é alegria; no máximo se trata de entretenimento, e é apenas uma maneira de evitar a si mesmo, de intoxicar a si mesmo, de mergulhar em algo para que você possa se esquecer de sua infelicidade, de sua preocupação, de sua angústia, de sua ansiedade.
Todos os tipos de entretenimento são considerados como sendo alegria, mas eles não são! Tudo o que vem de fora não é alegria, não pode ser; tudo o que depende de algo não é alegria, não pode ser. A alegria surge de sua própria essência; ela é absolutamente independente de qualquer circunstância externa. E ela não é uma fuga de si mesmo, mas realmente encontrar a si mesmo. A alegria surge apenas quando você chega em casa.
Assim, tudo o que é conhecido como alegria é apenas o contrário, o diametralmente oposto, e não alegria. Na verdade, por não ter alegria, você procura entretenimentos.
(...) Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento. Quanto mais o mundo ficar sem alegria, mais precisaremos de televisão, de cinema, de cidades enfeitadas e mil e uma coisas. Precisamos cada vez mais de bebidas alcoólicas, cada vez mais de novos tipos de droga, apenas para evitar a infelicidade na qual estamos, apenas para não encarar a angústia na qual estamos, apenas para, de alguma maneira, nos esquecermos de tudo. Mas, ao esquecer, nada é alcançado.
Alegria é entrar em seu próprio ser. No começo é difícil, árduo; no começo você terá de encarar a aflição. O caminho é enorme, porém, quanto mais você penetrar nele, maior será o pagamento, maior será a recompensa.
Quando você aprender a encarar a infelicidade, começará a ser alegre, pois, nesse próprio encarar, a felicidade começa a desaparecer e você começa a ficar cada vez mais integrado.
Um dia a infelicidade estará presente, e você a encarará — e, de repente, a quebra: você pode perceber a infelicidade separada de você e você separado dela. Você sempre esteve separado; ela era apenas uma ilusão, uma identificação que você teve. Agora você sabe que você não é isso; então há um acesso de alegria, uma explosão de alegria.
Não é possível parar o pensamento — não que ele não pare, só não é possível fazê-lo parar. Ele pára espontaneamente. É preciso entender essa diferença; do contrário você vai ficar maluco tentando perseguir a sua mente.
A não-mente não surge quando você pára de pensar. Quando não existe mais o pensar, existe a não-mente. O próprio esforço para parar de pensar criará mais ansiedade, criará mais conflito, fará com que você fique dividido. Você viverá em constante tumulto interior. E isso não ajudará em nada.
E, mesmo que você consiga forçá-lo a parar por alguns instantes, isso não será nenhuma conquista — pois esses instantes ficarão quase mortos, não estarão vivos. Você pode até sentir certa tranquilidade... mas não silêncio. Pois a tranquilidade forçada não é silêncio. Lá no fundo, nas profundezas do inconsciente, a mente reprimida continua em atividade.
Portanto, não existe um meio de parar a mente. Mas a mente pára — isso é certo. Ela pára por livre e espontânea vontade.
Então, o que fazer? — a pergunta é relevante. Observe. Não tente pará-la. Não é preciso fazer nada contra a mente. Para começar, quem iria fazer isso? Seria a mente brigando com ela mesma; você dividiria sua mente em duas: uma parte estaria tentando ser a chefe, a manda-chuva, estaria tentando matar a outra parte de si — o que é um absurdo. É um jogo idiota, pode levá-lo à loucura. Não tente deter a mente ou o pensamento. — só observe, de vazão a ele. Deixe a mente em total liberdade. Deixe-a vagar no ritmo que quiser; não tente de forma nenhuma controlá-la. Seja só uma testemunha.
Ela é tão bela! A mente é um dos mecanismos mais belos que existem. A ciência ainda não foi capaz de criar nada como ela. A mente continua sendo uma obra-prima, tão complicada, com um poder tão grande, com tantas potencialidades! Observe-a! Aprecie-a!
E não a vigie como se ela fosse um inimigo, pois, se você olhar para a mente como um inimigo, não conseguirá observá-la. Você já será preconceituoso, já estará contra ela. Já terá decidido que existe algo de errado com a mente — já terá chegado a uma conclusão. E sempre que você olha para uma pessoa como se ela fosse sua inimiga, você não olha profundamente, nunca olha dentro dos olhos; você a evita.
Observar a mente significa olhar para ela com um amor profundo, com profundo respeito e reverência — ela é uma dádiva de Deus para você. Não existe nada de errado com a mente em si. Não há nada de errado com o ato de pensar. Trata-se de um lindo processo, assim como é todo processo.(...) Olhe a mente com profunda reverência. Não brigue com ela; ame-a.
Observe as sutis nuances da mente, os volteios repentinos, os belos volteios. Os saltos e trancos, que ela dá, os jogos que continua fazendo; os sonhos que ela navega — a imaginação, a memória, as mil projeções que ela cria — observe! Ficando ali, afastado, um pouco distante, sem se envolver, paulatinamente você começa a sentir... Quanto mais atento você fica, mais profunda fica sua consciência; começa a haver lacunas, intervalos. Um pensamento vai, não vem outro, e surge uma brecha. Uma nuvem passa, outra está a caminho e surge um intervalo.
Nesses intervalos, pela primeira vez você terá lampejos da não-mente. Você sentirá o gosto da não-mente (...) Nesses pequenos intervalos de repente o céu fica limpo e o sol brilha. De repente o mundo se enche de mistério, porque todas as barreiras vão abaixo; a tela nos seus olhos deixa de existir. Você vê com clareza, de modo penetrante. Toda existência fica transparente.
No início, haverá apenas uns raros momentos, espaçados. Mas eles lhe proporcionarão vislumbres do que seja o samadhi. Pequenas porções de silêncio elas virão depois irão embora, mas você saberá que está no caminho certo. Então você começa a observar novamente. Quando um pensamento cruza a sua mente, você observa; quando um intervalo, você o observa. As nuvens são bonitas; o brilho do sol também é tão belo. Agora você não faz escolhas. Agora você não tem uma mente fixa. Você não diz, "Gostaria que só houvesse intervalos". Isso é estupidez, pois, se se ficar apegado ao desejo de que só haja intervalos, você novamente terá decidido ficar contra o pensamento. E aí os intervalos desaparecerão. Eles só acontecem quando você está muito distante, afastado. Eles acontecem, não podem ser provocados. Eles acontecem, você não pode forçá-los a acontecer. São eventos espontâneos.
Continue a observar. Deixe que os pensamentos venham e vão embora — para onde quiserem ir. Nada está errado! Não tente manipular nem dirigir nada. Deixe que os pensamentos sigam seu curso livremente. E, então, começarão a surgir intervalos cada vez maiores. Você será abençoado com pequenos satoris. Haverá ocasiões em que, por alguns minutos, não haverá pensamentos; não haverá trânsito nenhum — só um silêncio total, imperturbável.
Quando começarem a surgir brechas maiores, começará a surgir uma nova lucidez. Você não terá somente lucidez para enxergar o mundo, você será capaz de enxergar seu mundo interior. Com os primeiros intervalos você enxergará o mundo — as árvores ficarão mais verdes do que parecem agora, você se verá cercado por uma música infinita, a música das esferas. Você subitamente estará na presença da santidade — inefável, misteriosa. Tocando você, embora você não consiga apreendê-la. Ao seu alcance e mesmo assim fora dele. Com os intervalos maiores, o mesmo acontecerá interiormente. Deus não estará apenas lá fora, de repente você ficará surpreso — ele está aqui dentro também. Ele não está apenas na coisa observada, ele está também no observador — dentro e fora. Pouco a pouco...
Mas tampouco se apegue a isso. O apego é o alimento que faz com que a mente continue funcionando. O testemunho imparcial é o meio de detê-la sem fazer nenhum esforço. E, quando você começar a apreciar esses momentos de bem-aventurança, sua capacidade de conservá-los por períodos mais longos virá à tona. Finalmente, um dia você acaba se tornando senhor de si. A partir desse dia, quando quiser pensar, pensará; se o pensamento for necessário, você o usará. Se não for, você o deixará em repouso. Não que a mente tenha deixado de existir — ela existe, mas você tem a opção de usá-la ou não. Agora a decisão é sua, assim como a de usar as pernas; se quiser correr, você as usa; se não quiser, simplesmente fica onde está. As pernas estarão ali, à sua disposição. Da mesma forma, a mente estará ali também.
A mente é apenas um processo. Na verdade, ela nem existe — só os pensamentos existem, pensamentos passando tão rapidamente que você pensa e sente que existe alguma coisa contínua ali. Um pensamento vem, outro vai, chega mais um e assim sucessivamente... a lacuna é tão pequena que você não consegue perceber o intervalo entre um pensamento e outro. Assim, dois pensamentos se agrupam, formam uma continuidade e por causa dela você acha que a mente existe.
(...) Os pensamentos existem — a mente não existe; ela é só aparência. E, quando você olha a mente mais de perto, ela desaparece. Ficam os pensamentos, mas, quando a "mente" desaparece e só restam os pensamentos individuais, muitas coisas se dissolvem imediatamente. Logo de início você percebe que os pensamentos são como nuvens — eles vêm e vão, e você é o céu. Quando não existe mente, surge imediatamente a percepção de que você deixou de se envolver com seus pensamentos — os pensamentos estão ali, passando por você como nuvens passando no céu, ou o vento passando entre as árvores. Os pensamentos estão passando por você e podem continuar passando, porque você é um IMENSO VAZIO. Não há nenhum obstáculo, nenhum impedimento. Não há muros para barrá-los; você não é um fenômeno fortificado. Seu céu é uma imensidão infinita para onde passam os pensamentos. E, depois que você começa a sentir que os pensamentos vêm e vão, e que você é um mero observador, uma testemunha, o domínio da mente é conquistado.
A mente não pode ser controlada, no sentido comum do termo. Em primeiro lugar, porque ela não existe, como você poderia controlá-la? Em segundo lugar, quem iria controlar a mente? Porque não existe ninguém por trás da mente — e, quando eu digo que não existe ninguém, quero dizer que não há ninguém por trás dela, só um vazio. Quem a controlará? Se alguém está controlando a mente, então se trata apenas de uma parte, um fragmento da mente, controlando outro fragmento dela. É isso o que o ego é.
A mente não pode ser controlada dessa forma. Ela não existe e não há ninguém para controlá-la. O vazio interior pode ver, mas não controlar. Ele pode olhar, mas não controlar — mas o próprio olhar é que é o controle, o próprio fenômeno da observação, do testemunho, torna-se o domínio, pois a mente desaparece.
(...) A mente nada mais é do que a falta da sua presença. Quando você se senta em silêncio, quando olha bem dentro da mente, ela simplesmente desaparece. Os pensamentos continuarão, eles existem, mas a mente não estará mais ali.
Porém, quando a mente desaparece, você nota queos pensamentos não são seus. É claro que eles surgem, e às vezes ficam um tempinho em você, mas depois vão embora. Você talvez seja uma área de descanso, mas não é a origem dos pensamentos. Você já reparou que nem um único pensamento parte de você? Não brota de você nem um único pensamento; eles sempre vêm de fora. Não pertencem a você — sem casa, sem raízes, eles rondam por aí. Às vezes, eles descansam em você, isso é tudo; como uma nuvem que paira sobre uma montanha. Depois eles se vão por conta própria; você não precisa fazer nada. Se você simplesmente observar, você assume o controle.
A palavra controle não é muito boa, pois as palavras nunca são muito boas. As palavras pertencem à mente, ao mundo dos pensamentos. Elas nunca são muito perspicazes, pois lhe falta profundidade. A palavra controle não é boa porque não existe ninguém para controlar, nem ninguém para ser controlado. Mas, de uma certa forma, ela ajuda a entender uma certa coisa que acontece: Quando você olha bem fundo dentro da mente, ela é controlada — de repente você passa a ser quem manda. Os pensamentos não vão embora, mas eles deixam de dominar você. Eles não podem fazer nada com você, simplesmente vêm e vão embora; você continua intacto como uma flor de lótus em meio a um aguaceiro. Gotas de chuva caem nas pétalas, mas acabam escorrendo sem afetá-las. O lótus continua intacto(...) Seja como o lótus, só isso. Permaneça intacto e você estará no controle. Continue intacto e você será o senhor de si mesmo.
(...) Centrar-se na consciência é dominar a mente. Por isso, não tente "controlar a mente" — a linguagem pode enganar você. Ninguém pode controlar, e esses que tentam controlar ficarão loucos; eles simplesmente ficarão neuróticos, pois tentar controlar a mente nada mais é que uma parte da mente tentando controlar outra.
(...) Só os fracos se preocupam com os pensamentos. Só os fracos se preocupam com a mente. As pessoas mais fortes simplesmente absorvem o todo e se enriquecem com ele. Os mais fortes simplesmente não rejeitam nada.
Se você está confuso, então deverá continuar com as meditações. A confusão é a doença e a meditação é o remédio. Ambas palavras, meditação e medicina, vêm da mesma raiz. Se você está confuso deve continuar a meditar. Quando você perceber o principal sem nenhuma confusão, então não haverá necessidade. Mas a meditação o preparará, o forçará a perceber que não há necessidade de fazer coisa alguma, e somente a meditação pode fazer isso.
Apenas me escute... Eu lhe disse que ser natural é ser iluminado. Agora você pensa: "Isso é fantástico! Posso me sentar em silêncio e não fazer nada."Mas você pode realmente se sentar em silêncio e não fazer nada? Se você realmente pudesse se sentar em silêncio e não fazer nada, então essa questão não surgiria. Você teria sentado e sabido e teria se curvado diante de mim e me agradecido. Não haveria questão alguma; você teria vindo a mim dançando, não com uma questão e com uma mente confusa.
Se você puder se sentar em silêncio sem nada fazer, o que mais é necessário? É isso o que Buda estava fazendo sob a Árvore Bodhi — sentado em silêncio, sem nada fazer... e então aconteceu. É como aconteceu comigo! É assim que sempre acontece!
Entretanto não fazer não é tão fácil. Devido a você ter ficado tão acostumado a fazer uma coisa ou outra, mesmo sentar-se será um fazer para você. Você terá de se forçar numa postura de ioga e se sentará com tensão, quieto, sob controle, se segurando, tentando sentar em silêncio e não fazer nada... e fervendo por dentro para fazer mil e uma coisas, e milhares de pensamentos bradarão à volta e o distrairão.
Você pode simplesmente se sentar e não fazer coisa alguma? Isso é o supremo; nirvana é isso, samadhi é isso.
Pode acontecer; também pode acontecer apenas ao me escutar, mas então grande inteligência é necessária. Então você percebeu o principal, que ser natural é tudo. Onde está a confusão? Você percebeu ou não. Se você percebeu, toda a confusão desapareceu... e você se sentará, andará, comerá e falará silenciosamente. Você se tornará um não-agente, se tornará um ser natural.
Contudo, se você não percebeu, então precisará de mais algumas coisas malucas; você precisará passar por elas. Essas meditações o forçarão a perceber o principal. Ou você percebe apenas ao escutar e se sentar ao meu lado, ou você terá de perceber o caminho difícil.
(...) Assim, se você se sente confuso, então continue meditando. A meditação não é para a iluminação; ela é para pessoas confusas. A meditação não o leva à iluminação; ela simplesmente o deixa farto de sua confusão. Perceba o essencial: meditação não é um caminho para a iluminação, mas apenas um caminho para se livrar da confusão. E quando não houver confusão a iluminação vem espontaneamente.
O trabalho da meditação é negativo. Ela tira coisas de você e não lhe dá coisa alguma; ela simplesmente fica tirando coisas de você. A raiva, a cobiça e o desejo desaparecem e você começa a perder tudo o que tinha. Você fica a cada dia mais pobre.
É isso o que Jesus quer dizer quando fala: "Bem-aventurados são os pobres de espírito".
A raiva, a cobiça e a ambição não estão presentes. Lentamente, pedaços de seu ser são cortados de você. E de repente, num dia, nada está presente — ou somente nada está presente. Nesse exato momento, a luz penetra. Todas aquelas coisas — cobiça, raiva, paixão, ânsia, ódio, ambição, ego — estavam atrapalhando o caminho, não permitindo que a luz penetrasse em você. Elas estavam funcionando como uma rocha entre você e Deus. Tudo isso foi removido... de repente, Deus entra em você e você entra em Deus.
Se você me compreende, não há necessidade de nenhuma meditação. Porém, se não me compreende... para me compreender a meditação será necessária. Então prossiga fazendo-a.
(...) Meditações são catárticas. Elas jogam fora todo o lixo contido dentro de você. Elas simplesmente o limpam, abrem as portas, os olhos — o sol está presente. Uma vez que você esteja disponível, ele começa a penetrá-lo.
Então você nunca dirá: "Tornei-me natural." Você dirá: "Eu era natural. O problema não era como me tornar natural, mas como não continuar a me tornar não-natural."
É exatamente isso que vocês precisam: um tremendo chute na bunda. Vocês são Budas! Vocês simplesmente se esqueceram e somente precisam de uma lembrança, não de evolução! Não é que você precisa se tornar um Buda; você é um Buda profundamente adormecido. Alguém precisa chutá-lo, gritar para você, golpeá-lo, e este é o propósito de um Mestre.
(...) Você precisa de alguém que possa possuí-lo inesperadamente, que possa despedaçar suas ideias — que possa despedaçá-lo e tirar a própria terra que há sob seus pés. Somente pessoas muito corajosas se interessam por um Mestre. É perigoso estar com um Mestre; nunca se sabe o que ele vai fazer ou dizer, ele próprio não sabe! As coisas estão acontecendo e ele está em sintonia com o todo; então, tudo que acontece, acontece.
(...) Os caminho de um sábio são estranhos, ilógicos e paradoxais.
(...) Você tem uma mente, uma certa mente, e quando vai a um Mestre olha a partir dela. Caso se ajuste, você fica feliz; você começa a se apegar. Porém isso não vai ajudar, porque, caso se ajuste, fortalecerá a mesma mente que você já possuía. Se por acaso você se deparar com um Mestre real, nada vai se ajustar. Ele vai estilhaçar todas as suas ideias a respeito de como um Mestre deveria ser; ele vai sabotá-lo, vai tirar todas as suas expectativas. Ele existe para frustrá-lo e desapontá-lo de todas as maneiras possíveis, pois esse é o único modo que o trabalho real pode começar. E se você ainda puder ficar ao lado dele então... então você irá ser acordado.
Dormir á fácil e barato; acordar é árduo. Você terá de renunciar seus sonhos, muito conforto, muita conveniência e muitas ideias que você sempre acreditou serem valiosas.(...) Eu realmente quero fazer algo aqui; não quero lhe dar mais brinquedos — quero destruir todos eles. Vai ser um trabalho árduo, vai ser doloroso, mas se você puder se mover comigo apenas um passo — peço somente um passo — seus sonhos e seu sono irão embora para sempre... e começará a vida real. A vida real está com o todo e a irreal está sozinha.
(...) O sono não precisa de correção. O despertar não é uma correção do sono — ele significa simplesmente abandonar o sono e penetrar num novo tipo de realidade, tendo um tipo de relacionamento com a existência totalmente diferente.(...) Despertar é necessário, não correção. (...) No sono profundo e inconsciente, como você pode se corrigir? No máximo, você pode ter sonhos um pouco melhores; talvez não em branco e preto, mas em cores, psicodélicas; contudo você só pode ter sonhos melhores no sono. Você não pode ter realidade no sono.
(...) O primeiro e único passo é saber quem é você, é ficar consciente. (...) Nenhuma correção é necessária, apenas consciência. Torne-se alerta. Nenhum caráter é necessário, pois todos os caracteres são falsos e limitações se você não estiver consciente. E todos os caracteres nada mais são do que correntes — eles não trazem liberdade. Toda moralidade é hipocrisia, se você não estiver consciente ou cônscio.
Portanto, para mim, religião significa somente uma coisa: ser mais consciente, viver mais conscientemente.
A mente medíocre está interessada no exterior. O exterior é intrigante, maravilhoso, digno de ser explorado. Assim, o exploramos para o dinheiro, para o prestígio e outras coisas, e então um dia, quando estivermos saturados com as chamadas coisas mundanas e começarmos a procurar novamente por um Mestre, por Buda, por Cristo... ainda no exterior! Começamos a procurar pelo caminho, mas ainda fora. E o Buda e o caminho não são encontrados do lado de fora.
Procurar na parte externa é se afastar mais e mais do caminho, pois o caminho está dentro de nós, o Buda está no interior.
(...) Se você puder descobrir somente uma coisa dentre todos os tipos de frustrações — que não há nada a ser encontrado no exterior, absolutamente nada — e ao perceber e se dar conta disso você se voltar para dentro, então sua própria mente é toda a coisa, então dentro de você está tudo: E, buscando, você entrará em sua própria mente.
Logo, à medida que você for mais fundo em sua própria mente, você penetrará da mente para a não-mente. A camada superficial é da mente, mas o conteúdo interior é da não-mente. A camada superficial é do ego, o conteúdo interior é a ausência de ego. Se você entrar, primeiro você deparará com a mente, com os pensamentos, desejos, fantasias, imaginações, memórias, sonhos e todas essas coisas. Porém, se você continuar a penetrar, logo chegará a espaços silenciosos, sem pensamento. Logo você começará a chegar mais e mais perto do âmago do seu ser, o qual é atemporal e está em lugar nenhum, o qual não tem tempo nem espaço.
Quando você alcançar um ponto em que não se pode perceber nenhum tempo ou espaço, você chegou. Contudo esta chegada é voltar à sua própria natureza. Você não chegou a algo novo, mas àquilo que já foi dado e sempre foi seu.
(...) E quando você atingir este ponto poderá entender que não há necessidade de fazer coisa alguma — tudo está acontecendo —, que nunca houve necessidade de fazer coisa alguma, que tudo já estava acontecendo. Você estava desnecessariamente preocupado e carregava todos aqueles pesos, porque você era ignorante. Quanto ao mais, as coisas estavam acontecendo.
O mundo está girando muito suave, bela e perfeitamente; todavia, porque pensamos que estamos separados dele, surge o problema: "Como levar nossas vidas?" Se você sabe que é parte dele, não há necessidade de se preocupar. Este cosmo, um cosmo tão infinito, funcionando tão perfeitamente bem — você não pode permanecer nele sem nenhuma preocupação? Porém a separação está presente.
Você tomou uma coisa como certa: que você está separado. Ao penetrar fundo no interior, essa separação desaparece.
Este é o significado quando digo: "Surge o estado de ausência de ego". Ego significa separação, significa: "Estou separado do todo". Ego significa que a parte está reivindicando ser o todo por conta própria: "Tenho meu próprio centro e tenho de sobreviver, lutar e batalhar por mim mesmo. Se eu não lutar por mim mesmo, quem irá lutar? Se eu não tentar sobreviver, serei assassinado".
A insegurança surge devido ao ego. Quando o ego se vai, existe simplesmente segurança. Na verdade, não existe insegurança ou segurança; todas as dualidades desaparecem. Viver nisso é viver nirvana, é viver iluminação.
(...) Olhe para dentro! Você já olhou para fora o bastante, já procurou fora o bastante. (...) é hora, é a hora certa de olhar para dentro. Você se tornou muito artificial, muito antinatural.
Deixe-me apresentá-lo a você mesmo... torne-se novamente familiarizado com quem você é. E um único vislumbre transforma, e transforma para sempre.
E de novo eu gostaria de repetir: esta transformação não é algo especial — ela é muito normal, pois é apenas a sua natureza. Bata e a porta lhe será aberta, peça e lhe será dado, procure e encontrará...
Osho: Meu Deus! Não há nenhum Deus, como posso considerar a mim mesmo um Deus? Deus é a maior mentira inventada pelo homem.
Entrevistador: Porque?
Osho: Porque o ser humano se sente desamparado, com muito medo da morte, muito sobrecarregado com os problemas da vida. Porque ele foi criado por um pai, por uma mãe, e aqueles foram dias maravilhosos; nenhuma responsabilidade, nenhuma preocupação, alguém estava tomando conta dele. Essa infância psicológica é projetada em todas as religiões: Deus se torna o pai. E existem algumas religiões nas quais Deus se torna a mãe. Isso é uma simples projeção psicológica de uma criança, Não tem nenhuma base na realidade. E sempre que você está com medo, sempre que está com problemas, você começa a procurar por ajuda. A ajuda nunca chega.
Mesmo Jesus na cruz esperava que a ajuda chegasse, e finalmente ficou desapontado e exclamou: "Pai, você me abandonou? Uma grande dúvida deve ter surgido nele, uma grande questão. Nada está acontecendo, e ele acreditava por todos esses anos que Deus viria salvá-lo, seu único filho amado. Ninguém apareceu. Jesus Cristo deve ter morrido completamente desiludido.
Eu não tenho nenhuma ilusão, eu não posso ser desiludido.
Noventa e nove por cento de sua religião nada mais é do que uma estratégia para mantê-lo de algum modo são.
Buda é um tipo de pessoa totalmente diferente. Ele é o arqui-inimigo da indústria de entretenimento; ele é alguém que deseja dizer a verdade, e deseja expô-la como ela é. Ele despedaça todas as ideologias tolas, ele simplesmente o choca desde as raízes. E, se você ficar disponível a ele, ele pode se tornar uma porta — uma porta de volta ao lar; uma porta, uma soleira, que pode tornar você capaz de retroceder à natureza.
Em todas as culturas e civilizações complicadas existem mentirosos profissionais e contadores profissionais da verdade, mas eles não são muito diferentes; eles são a mesma pessoa. Os mentirosos profissionais são chamados de advogados e os contadores profissionais a verdade são chamados de sacerdotes; eles simplesmente repetem as escrituras.
Buda não é nem mentiroso nem contador profissional da verdade. Ele simplesmente deixa seu coração disponível a você; ele deseja compartilhar. Portanto, todo sacerdócio indiano ficou contra ele. Ele foi expulso de seu próprio país, seus templos foram queimados e suas estátuas, destruídas. Muitas escrituras budistas estão disponíveis agora somente em traduções chinesas ou tibetanas, pois seus originais foram perdidos; eles devem ter sido queimados.
Milhares de budistas foram assassinados neste país não-violento. Eles foram queimados vivos. Buda chocou profundamente os contadores profissionais da verdade; ele estava resolvido a destruir todo o negócio deles. Ele simplesmente o tornou um segredo aberto.
Pergunta: Suas contradições, suas mentiras, e sua insistência em que nós não temos que acreditar em você, fez minha mente inoperante. Tudo o que posso dizer, certamente, é: "Eu não sei." Eu costumava ser bastante orgulhosa da minha mente, mas agora isto simplesmente parece estúpido.
Osho: Minhas contradições estão destinadas a fazer exatamente o que está acontecendo com você. Eu não quero a sua mente sendo convencida por mim. Eu quero me relacionar com o seu coração, porque esta é a única comunhão verdadeira. Mente à mente é sempre superficial.
Eu posso ser consistente, mas, então, estarei convencendo a sua mente e esta é a última coisa que quero fazer. Eu não sou um missionário e eu não tenho nenhuma mensagem para vocês. Só tenho experiência e o caminho que transmite a experiência para vocês, não é por meio de palavras, teorias, filosofias. O argumento não é a resposta.
Portanto, primeiro, eu tenho que desmantelar sua mente, e a melhor maneira de desmantelar sua mente é contradizer-me tanto quanto eu puder. Ou você escapará, sentindo medo de que você possa ir à loucura ou, se você tiver coragem, você permanecerá aqui e irá realmente à loucura!
Quando a mente se torna inoperável é o momento quando o coração começa a funcionar. Você está em um bom espaço. Se a mente está dizendo: "Eu não sei", a mente está fechando a loja. E aqui, quando a mente fecha a loja, imediatamente as portas do seu coração começam a se abrir. São dois lados da mesma moeda: e é por isso que quando você me escuta me contradizendo, você tem que dar uma boa gargalhada. Esta é a resposta certa à minhas contradições.
Sim, isto ainda não é um estado de não-mente. Isto ainda é a mente que está dizendo: "Eu não sei." Quando a mente se for completamente, em um estado de não-mente, não haverá ninguém para dizer: "Eu não sei." Isto é o último saber. Isto é saber: "Eu não sei." - ao menos este tanto você sabe. Esta e a última barreira. Isto também se solta: então, não existe nenhum questão de saber ou não saber. Pela primeira vez você sente, e sentir é o caminho do experienciar.
Quando você está na sua cabeça você está milhões de milhas distante de mim. Quando você está no seu coração você está no meu coração também, porque corações não conhecem separação. O coração é um. Ele bate em muitas pessoas e todo meu trabalho existe para que ele bata no mesmo ritmo em todos vocês. Então vocês se tornam uma orquestra. Há ainda muito mais do que o coração em você, mas sem coração você não pode alcançar seu tesouro mais interno: o Ser.
Portanto, estas são as três palavras: pensar, sentir, ser. Partindo do pensar, ninguém tem sido capaz de alcançar o Ser. Ninguém pode pular o sentir: o sentir é a ponte. O primeiro passo é ir do pensar ao sentir, e o segundo passo é, do sentir ao Ser. E em dois passos, toda a jornada está completa. Então lembre-se: o sentir será tremendamente lindo, mas não pare aí. Isto é só uma parada na viagem: você pode descansar aí por um pouco, desfrutar do mundo do coração, mas lembre-se que há um passo a mais.
Por meio de contradições eu destruo sua ligação com a mente e o pensar. Através do silêncio eu destruo o mundo do seu sentimento. E, quando ambas estas camadas se forem, você é como a Existência queria que você fosse... na sua pureza, na sua individualidade. Você voltou para casa.
Portanto não se preocupe, a jornada começou. Não pare até que você volte para casa: onde não existe nenhum pensar, nenhum sentir, mas apenas um sentir a Existência. Nesta experiência, eu serei capaz de transmitir a você aquilo que é intransmissível por qualquer outro modo.
Então, eu não sou o mestre e você não é o discípulo. Na mente: eu sou o professor, você é a estudante. No sentir: eu sou o mestre, você é a discípula. No Ser, eu não sou, você não é: a Existência é.
Um homem está sentado num cinema, e a esposa fica continuamente lembrando a ele como o herói está demonstrando profundamente seu amor pela sua esposa. Finalmente, o marido diz: "Pare com toda essa bobagem! Você não sabe quanto ele está sendo pago por isso? E além do mais, isso é só representação; não é uma realidade. Eu vou certamente dizer que ele é um bom ator." A esposa disse: "Talvez você não esteja ciente que na vida real eles também são marido e mulher." Ele disse: "Meu Deus! Se isso for verdade, então ele é o maior ator que eu já vi; do contrário, mesmo no palco, mostrar tanto amor para com sua própria esposa está simplesmente além da capacidade humana. Ele é quase um gênio no que se refere a representação."
As pessoas acham que amor é somente para atores. Tem sido notado pelos psicanalistas que as pessoas ficam sentadas diante da TV por horas. Um Americano assiste TV seis horas por dia em média, essa é a média. Deve haver alguns maníacos assistindo por nove, dez, doze horas.
Pouco a pouco, assistindo filmes, assistindo Televisão, assistindo um jogo de futebol, assistindo uma competição, as pessoas simplesmente se tornaram observadores; eles não amam. Algum ator ama - eles simplesmente observam. Eles não jogam, algum profissional joga - eles observam. Eles não fazem nada; eles estão grudados em suas cadeiras e ficam apenas observando tudo. Mas observar e fazer são totalmente diferentes. Eles se sentem completamente satisfeitos por ver um belo filme de amor. Eles ficam completamente satisfeitos ao ver um grande torneio de boxe. E eles mesmos são apenas espectadores.
Isso é algo de uma grande calamidade que reduziu milhões de pessoas a espectadores. E as pessoas que estão sendo observadas são atores. Eles não estão realmente amando, estão sendo pagos para isso. Eles são peritos em enganar as pessoas, fingindo que o que eles estão fazendo é real. Suas lágrimas são falsas, seus sorrisos são falsos, seu amor é falso, sua raiva é falsa.
Que espécie de mundo nós criamos? Os que praticam estão todos representando pois são pagos para isso, e o restante do mundo dos não-fazedores ficam simplesmente observando.
Vocês estão aqui para viver. Estão aqui para dançar. Vocês estão aqui para experienciar a vida. Outros estão fazendo isso por você. Em seu nome as pessoas estão amando, estão jogando, as pessoas estão fazendo todo tipo de coisas. E o que sobra para vocês? apenas olhar. A morte não será capaz de tirar muito de você - somente sua televisão, porque você não tem nada mais.
Esse é o falso ego que criou um padrão e estilo de vida falsos. Abandone tudo que seja falso. Seja autêntico e verdadeiro; esse é o primeiro passo. E uma vez você é autêntico e verdadeiro, você verá quão bonito isso é. E isto irá criar o desejo para ir além, na busca da derradeira verdade, a declaração final e a última experiência, além da qual nada mais existe.
Pergunta: Um dos problemas básicos da ciência é a linguagem. A ciência está crescendo porque nós temos uma definição clara sobre o que estamos falando. Um dos problemas básicos para os cientistas, quando eles estão tentando compreender o que significa a jornada interior, é definir claramente, por exemplo, o que significa consciência. Eu lhe dou, como... A maioria dos cientistas não fazem qualquer diferença entre consciência (estar desperto), consciência (estar ciente) ou mente consciente. Eles estão usando este termo de uma mesma maneira. Assim, eu gostaria de lhe pedir, se for possível, que tenha uma compreensão a respeito desses termos.
Osho: Sim, não há dificuldade alguma. As palavras podem ser definidas claramente. A dificuldade não é por causa das palavras, a dificuldade básica está vindo de um outro lugar. É que o cientista, no fundo, não acredita que exista alguma coisa no interior. Ele pode dizer assim, ou pode não dizer assim, mas toda a sua formação, toda a sua educação faz com que ele confie somente nos objetos - os quais ele pode dissecar, os quais ele pode observar, ele pode analisar, ele pode compor, criar, desfazer a criação, descobrir seus básicos componentes. Toda a sua mente é orientada para o objeto e a subjetividade não é um objeto. Assim, se ele quiser colocar a subjetividade diante dele sobre uma mesa isso não será possível. Isso não é da natureza da subjetividade. Assim, o cientista segue descobrindo tudo no mundo, exceto a si próprio. Uma grande barreira existe, e a barreira é que nada existe no interior.
Quando você corta uma pedra em pedaços, o que você encontra? - mais pedras. Você continua cortando em pedaços menores, pedaços menores. Você chega às moléculas, você chega aos átomos, você chega aos elétrons, mas, ainda assim, você não chega a coisa alguma mais interna. Eles todos são objetos.
Ele também gostaria que a vida fosse descoberta dessa mesma maneira, e porque ele não consegue descobrir a vida dessa mesma maneira, ele começa a negá-la. E a consciência é ainda um problema mais difícil. Por ele não conseguir tocá-la, dissecá-la, descobrir seus componentes, ele simplesmente a rejeita - ela não existe.
Assim, este é o seu preconceito. Por causa desse preconceito ele fica confuso. E esse preconceito pode desaparecer muito facilmente, se ele, hipoteticamente aceitar - eu não estou dizendo que ele tem que acreditar, apenas aceitar hipoteticamente - que se existem coisas do lado de fora, então é muito científico que devem existir coisas que estão no interior porque na existência tudo está polarizado pelo seu oposto. O externo somente pode existir se existir um interno. O inconsciente somente pode existir se existir consciência. Isso é uma dialética simples da vida - e ele conhece isso - na existência, em todo lugar, ele encontrará a mesma dialética. Tudo está em oposição ao seu oposto. E ambos são, de alguma maneira estranha, complementares um ao outro - se opondo e ainda assim complementares um ao outro. Negar o interior é uma atitude muito não-científica. Assim, primeiro tem que se aceitar hipoteticamente que o interior existe.
Em segundo lugar, tem que se entender, que a metodologia que funciona para o exterior não pode funcionar para o interior. Simplesmente porque o interior é a dimensão oposta ao exterior o mesmo método não será aplicável. Você terá que encontrar uma nova metodologia para o interior. E isto é o que eu chamo meditação isto é a nova metodologia para o interior.
O S H O - Trecho de uma entrevista à edição italiana de 'Science 85 Monthly'
Conhecer-se a si próprio é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto, a coisa mais simples. Mas não é assim — e por muitas razões. Tornou-se tão complicado, e investimos tanto na nossa própria ignorância que parece ser quase impossível voltar atrás, retornar para a fonte, ao encontro de nós próprios.
Toda a tua Vida, tal e qual, tal como é aprovada pela Sociedade, pelo Estado, pela Igreja, é baseada na auto-ignorância. A tua Vida sem te conheceres a ti próprio, porque a Sociedade não quer que te conheças a ti próprio. É perigoso para a Sociedade. Um Homem que se conheça a si próprio tende a ser rebelde.
O Conhecimento é a grande rebelião — auto-conhecimento digo, não conhecimento através das escrituras, não o conhecimento encontrado nas Universidades, mas sim o Conhecimento encontrado quando tu se encontras o teu próprio Ser, quando te encontras contigo próprio totalmente nu; quando te vês a ti próprio tal como Deus te vê, não como a Sociedade gostaria de te ver; quando vês o teu Ser natural no seu completo florescer selvagem e natural — não um fenômeno civilizado, condicionado, culto, polido.
A Sociedade está preocupada em fazer de ti um robô, não um revolucionário, porque é útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um Homem que tenha Consciência de si próprio. Como é que se pode dominar um Jesus? Como é que se pode dominar um Buda ou um Heraclitus? Ele não se irá vergar, ele não seguirá prescritos. Ele seguirá em frente guiado pelo seu próprio Ser. Ele será como o vento, como as nuvens; ele mover-se-á como os rios. Ele será selvagem — e é claro, Bonito, Natural, mas perigoso para a falsa Sociedade. Ele não se encaixará. A não ser que criemos uma Sociedade Natural no Mundo, um Budha ficará sempre desenquadrado, um Jesus está destinado a ser crucificado.
A Sociedade quer ser dominadora; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. Eles querem que tu permaneças sem ter consciência de ti próprio. Esta é a primeira dificuldade. E cada um tem de nascer dentro de uma Sociedade. Os Pais são parte da Sociedade, os Professores são parte da Sociedade, os Padres são parte da Sociedade.
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A Sociedade está em todo o sítio, em toda a tua volta. Parece que é realmente impossível — como é que se pode escapar? Como é que se encontra uma porta para voltarmos à Natureza? Estamos fechados por todos os lados.
Toda a programação de nossa mente está errada. Nós fomos programados para sermos ambiciosos. E é aí que entra a política. Ela tem poluído a sua vida normal e não apenas o mundo habitual dos políticos.
Mesmo uma pequena criança já sabe sorrir para a mãe e para o pai com um sorriso falso, sem qualquer autenticidade. Ela sabe que sempre que sorri, ela é recompensada. Ela aprendeu a primeira regra para ser um político. Ela ainda está no berço e você já lhe ensinou política.
Nos relacionamentos humanos existe política em todo lugar.
O homem incapacitou a mulher. Isso é política.
Metade da humanidade é constituída por mulheres. O homem não tem direito algum de incapacitá-la, mas por séculos ele a tem incapacitado completamente. Ele não permitiu que ela tivesse acesso à educação. Ele não lhe permitiu sequer que ouvisse as escrituras sagradas. Em muitas religiões eles não permitiram que elas entrassem nos templos. Ou, se permitiram, elas tinham uma seção separada, elas não podiam ficar ao lado dos homens como iguais, mesmo perante Deus. (...)
O homem tem tentado de todas as maneiras cortar a liberdade da mulher.
Isto é política; isto não é amor.
Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade. Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade?
Você a coloca numa gaiola como um papagaio. Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não entende que o está matando.Você tirou todo o céu do papagaio e deu-lhe apenas uma gaiola. A gaiola pode ser feita de ouro, mas ela nada significa ao ser comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de uma árvore a outra, cantando suas canções – não aquela que você forçou-o aprender a cantar, mas aquela que lhe é natural, que lhe é autêntica.
A mulher continua fazendo as coisas que o homem quer. Pouco a pouco, ela vai esquecendo que ela também é um ser humano.
Na China, por milhares de anos, o marido podia matar a esposa. Somente em 1951 uma nova lei surgiu proibindo isto. Até 1951 o marido estava autorizado, caso ele quisesse, matar sua esposa, era uma questão que dizia respeito a ele. Ela era a sua mulher, uma posse. O sistema de leis não tinha interesse algum em interferir nas suas posses. E, além disto, na China pensava-se que a mulher não tinha alma; somente o homem tinha.
É por isto que na história da China você não encontra uma única mulher com a importância de um Lao Tzu, Chuang Tzu, Lieh Tzu, Confúcio, Mencius. Se você não tem alma, você é apenas uma coisa, não consegue competir com o homem.
Metade da humanidade, em todos os países, em toda civilização, foi destruída pela política de família. Você pode não chamar isto de política, mas é política. Sempre que existe um desejo de ter poder sobre outras pessoas, isto é política. O poder é sempre político, mesmo quando se trata de pequenas crianças. Os pais pensam que as amam, mas apenas em suas mentes, porque o que eles querem são crianças obedientes. E o que significa obediência? Significa que todo o poder fica nas mãos dos pais.
Se a obediência é uma grande qualidade, por que os pais não devem ser obedientes para com os filhos? Se essa é uma questão religiosa, por que os pais não devem obedecer aos filhos? Mas isto nada tem a ver com religião. Tudo isto é política escondida atrás de belas palavras.
O homem precisa ser exposto em todos os pontos em que a política entra, e ela entra em todo lugar, em todos os relacionamentos. Ela contaminou toda a vida do homem e continua contaminando.
Em suas escolas vocês ensinam as crianças a serem os primeiros da sala. Por que? Você já pensou na psicologia disto? A pessoa que chega primeiro começa a se tornar um egoísta: ela é a primeira. E a pessoa que chega por último começa a se sentir inferior. Qual a necessidade de se fazer isto? Os exames deveriam simplesmente ser abolidos.
Não há necessidade alguma de exames. Os professores podem simplesmente dar notas todos os dias da mesma maneira como eles controlam a freqüência. Eles podem dar notas todos os dias a todas as crianças e no final aquele que demonstrar maior aproveitamento passa mais cedo para uma classe mais elevada.
Aquele que for um pouco mais preguiçoso, passará um pouco depois. Mas sem qualquer exame e sem a classificação de ‘primeira classe, segunda classe, terceira classe’. Isto se torna um estigma.
Se uma pessoa em todo o seu currículo escolar, no nível básico, médio e universidade, tiver sido sempre classificada como terceira classe, terá um reduzido senso de auto-respeito. O seu auto-respeito terá sido morto. Ela sabe que não tem valor. Todo mundo poderá exercer poder sobre ela.
Essa expressão ‘terceira classe’ tornou-se tão feia na Índia que se você perguntar a alguém, ‘com que classificação você passou?’ e se ele tiver passado como terceira classe, ele responderá, ‘classe Mahatma Gandhi’ porque Gandhi nunca obteve outra classificação. Ele sempre passou classificado como terceira classe e daí, por toda a sua vida ele viajava de trem de terceira classe. Assim, na Índia, ninguém fala que passou em terceira classe, mas na ‘classe Mahatma Ghandi’. É uma maneira de ocultar aquela classificação, de tapear a si mesmo.
É criada em você a ambição de que tem que ser alguém no mundo. Você tem que provar que não é uma pessoa comum, você é extraordinário. Mas, para que? A que propósito isto serve? Isto serve a um único propósito: se você se torna poderoso, os outros se tornam subservientes a você. Você é uma pessoa extraordinária. Eles são os pobres companheiros, eles são da classe Mahatma Ghandi. Eles, no máximo, conseguem ser balconistas e nada mais. Eles não têm coragem. Toda a humanidade foi castrada de maneiras diferentes, e esta castração é política."
"Quando você compreende, quando chega a saber, então traz toda a beleza do passado de volta e dá a esse passado o renascimento, renova-o, de forma que todos os que o conheceram possam estar de novo sobre a terra e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA) "O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO) A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill