Só o choque da crise nos força ao silêncio
[...] Senhor, quando dispensais toda a vossa atenção ao que se está dizendo, não estais apenas escutando palavras e os respectivos significados, mas também, além das palavras, o seu significado essencial; e o próprio ato de dispensardes vossa atenção total é um ato em que se transforma a natureza de vossa ação. Por conseguinte, depois de sairdes daqui, haverá uma ação total e não mera ação intelectual em contradição com vosso inconsciente.
Direis, agora: "Como irei escutar com atenção total? Não sei escutar dessa maneira e, em verdade, não escuto realmente coisa alguma; assim sendo, peço-vos um método, uma maneira, um sistema que me ajude a pensar com todo o meu ser". Ora, que aconteceria, se eu vos desse um tal sistema? Vosso esforço para escutar criaria uma contradição com o vosso hábito de não escutar, e, por conseguinte, de novo estaríeis na mesma situação de antes.
Senhor, quando tendes subitamente um grande pesar, que fazeis? Nesse momento, vos achais num estado de choque total, não é verdade? A crise vos forçou ao silêncio; vede-vos, realmente, desafiado por algo que não compreendeis, e momentaneamente ficais paralisado, emudecido. Nesse estado de choque — se não tentais encontrar uma saída dele, ou afastá-lo com explicações — estais olhando, observando, escutando com atenção total. Ora, podeis escutar de igual maneira a vós mesmo? Todo o vosso ser se encontra num estado de constante fluidez, está sempre ativo, e jamais quieto: desejando isto, não desejando aquilo, contradizendo-se, preenchendo-se, em incessante agitação. E podeis escutar essa agitação sem vos tornardes neurótico? É muito fácil um indivíduo tornar-se neurótico, ligeiramente desequilibrado. É o que acontece com a maioria das pessoas. Mas, se fordes capaz de escutar a vós mesmo, sem fugir, nem procurar modificar o que escutais — escutar simplesmente o "silencioso barulho" existente dentro em vós — esse ato de escutar produz uma transformação vital na própria natureza da ação, e não há, então, na ação, nenhuma contradição.
Krishnamurti, Saanen, 16 de julho de 1963,
Experimente um novo caminho