Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sobre o desejo de libertação


Interrogante: Quando estou escutando o que aqui se diz, sinto-me muito vivo e sensível; mas, quando me vou, a sós ou quando me acho em casa, essa sensibilidade desaparece.

Krishnamurti: Se só tendes sensibilidade enquanto aqui vos achais, nesse caso estais sendo influenciado, e isso nenhum valor tem. O que estais ouvindo é, então, mera propaganda e, por conseguinte, deveis evitá-lo, rejeitá-lo, destruí-lo, pois é assim que se criam os Mestres, os instrutores, as autoridades. Mas se, ouvindo-me falar, estivestes cônscio de vossas próprias reações, a cada minuto, acompanhando o que estivemos dizendo durante mais de uma hora; se estivesses atento não só às palavras do orador, mas também aos movimentos de vosso próprio pensamento e sentimento, então, ao sairdes daqui, sozinho, conhecereis o estado de vossa mente e nunca vos deixareis colher cegamente em suas redes.

Pergunta: Não achais que o desejo de libertação é, em parte, a causa de nosso condicionamento?

Krishnamurti: Naturalmente senhor o desejo de nos libertarmos do condicionamento só pode favorecer o condicionamento. Mas se, em lugar de tentarmos reprimir o desejo, compreendermos o seu inteiro "processo", então, nessa própria compreensão, surge a liberdade, a libertação do condicionamento. A libertação do condicionamento não é um resultado direto. Compreendeis? Se me aplico deliberadamente a livrar-me de meu condicionamento, esse próprio desejo cria seu peculiar condicionamento. Posso destruir uma forma de condicionamento, mas fico enredado noutra. Já se houver compreensão do próprio desejo — inclusive, também, o desejo de libertação — então, essa mesma compreensão destrói completamente o condicionamento. A libertação do condicionamento é um resultado acessório, e sem importância. O importante é compreender o que cria o condicionamento.


Krishnmurti – 23 de julho de 1963

Homens que encaravam cabras

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sobre a prática do silêncio e solidão - parte 1


União Mistica

No processo de autoconhecimento, união é integração, quando todos os aspectos do ser convivem em harmonia, gerando um sentimento de plenitude.

Sentir-se pleno, exige que os conflitos existentes dentro de nós sejam plenamente harmonizados.

Por exemplo, se insistimos em negar nossas reais emoções, ou em racionalizar nossos sentimentos, um desequilíbrio começa a se instalar em nós.

Ele pode, a principio, não ser percebido, e se continuarmos a ignorá-lo, certamente se expandirá, atingindo nosso corpo físico na forma de alguma doença. 

Somente uma atenção permanente que nos permita perceber, a cada momento, as verdadeiras motivações por trás de nossos comportamentos, pode levar-nos a evitar as armadilhas do ego, aquela parte de nós que insiste em manter uma falsa imagem, mesmo quando algo não vai bem.

Mas é preciso estar preparado, pois às vezes pagamos um alto preço por nos mantermos fiéis à nossa voz interior. A princípio, pode parecer mais cômodo ignorar nossa consciência e agir contra ela para garantir a simpatia do mundo.

Entretanto, quando isto se torna um hábito, podemos nos perder de tal modo, que já não saberemos mais diferenciar o nosso real desejo, daquilo que nos foi imposto como sendo o melhor.

A união mística só acontece quando nossa divisão interior desaparece e integramos os opostos existentes em nós, o masculino e o feminino, de forma harmoniosa. Isto pressupõe agir com coragem e determinação, quando necessário, mas também se manter passivo, amoroso e receptivo ao que a vida quiser nos enviar.

Permanecer em silêncio, esperando germinar as sementes que plantamos, ao invés de tentar forçar seu crescimento com atitudes ansiosas e desesperadas, pode ser um sinal de que estamos gradualmente penetrando num novo patamar de crescimento interior. Aos poucos, a verdade de nosso ser passará a predominar, até que finalmente, um dia, substitua a falsa imagem que construímos como defesa contra o mundo.

"Causa da infelicidade
Felicidade ou infelicidade não são dependentes de circunstâncias externas. Não há nem felicidade nem infelicidade nas coisas externas; seu estado de alegria ou de tristeza depende de sua reação a essas coisas externas. Na verdade, as coisas não importam; o que importa é a sua visão das coisas; tudo depende de como olhamos as coisas. Assim, em suma, a importância é do indivíduo, e não do objeto: a importância está em você e não no objeto que você possui. Daí que podemos dizer que a felicidade ou a infelicidade reside dentro de nós... Nós somos a causa de nossa miséria, porque seja de que forma estejamos, nós mesmos criamos essa condição.

Por favor, tenha esta verdade em sua mente, porque você não pode transformar a sua vida sem ela: se você se sente infeliz, saiba que alguma coisa está errada em seu ponto de vista. Uma vida miserável é resultado de uma maneira errada de olhar para as coisas; e uma vida feliz é o resultado de uma abordagem correta em relação à vida. Por favor, sempre que você se sentir miserável, tente buscar pela causa da sua infelicidade dentro de você, não do lado de fora. E então, gradualmente, você descobrirá as causas da sua infelicidade, escondidas em suas próprias reações. Então, uma nova vida começa para você".
 
Osho, Lead Kindly Light.


sábado, 26 de abril de 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A liberdade está na percepção do falso


A contemplação é nossa origem espiritual

Heidegger descreve a obsessão com a superfície do pensar que nos distrai do pensamento profundo como a mais perigosa condição do nosso tempo. Heidegger chama esse pensamento superficial de pensamento calculador, não por depreciar sua capacidade de organizar o nosso mundo, e sim prevenindo-se do seu poder de absorver completamente a nossa energia e atenção. O pensamento calculador não é meramente um eufemismo para a abordagem da ciência empírica, caracterizando-se também qualquer processo de pensamento que vise dominar e manipular situações. Na superfície, os pensamentos religiosos e artístico também são calculadores. Contudo, nem mesmo o empobrecimento do pensamento quando confinado à sua própria superfície não consegue privar a consciência humana da sua natureza essencialmente contemplativa. Nas palavras de Heidegger:  Podemos ficar pobres de pensamento ou mesmo desprovidos de pensamento somente porque o homem, no âmago do seu ser, tem a capacidade de pensar... está destinado a pensar... é um ser pensante, ou seja, um ser que medita. 

Segundo Heidegger, o pensamento profundo, em vez de organizar a energia, contempla o significado que reina em tudo o que é. O modo contemplativo cura, acalma, fortalece. Ele abre a pessoa ao objeto primordial de toda contemplação, que Heidegger denomina Existência, cuja radiância, ou significado, reina em todos os lugares. O pensamento profundo não exclui o pensamento superficial, mas permite que o superficial se torne transparente até sua essência suprema ou Existência. 

Embora o pensamento contemplativo não esteja além do alcance de qualquer pessoa, é preciso prática, como também é preciso prática para o domínio do pensamento calculador. Heidegger adverte: O pensamento meditativo, à semelhança do pensamento calculador, não decorre sozinho. Ás vezes ele requer um esforço mais intenso. Ele exige mais prática. Ele precisa de um cuidado mais delicado do que qualquer outra habilidade genuína. Devemos desenvolver a arte de esperar, deixar fluir e confiar num processo espiritual natural e espontâneo. Heidegger afirma que o pensamento profundo deve ser capaz de aguardar o momento propício e esperar, como fazendeiro, para ver se a semente vai germinar e amadurecer.

Enfatizando a simplicidade, a naturalidade e a acessibilidade imediata do pensamento profundo, Heidegger prossegue: O pensamento meditativo não precisa de modo algum ser extravagante. É suficiente demorarmo-nos no que está próximo e meditarmos no que está mais perto... aqui e agora, aqui neste pequeno pedaço de torrão natal. O trecho mais próximo do torrão natal é a consciência primordial, tal como ela permeia nossa atividade cotidiana. Na atual era tecnológica, não podemos nos tornar um planeta de aldeões rurais, mas a simplicidade natural e a harmonia da aldeia está disponível, onde quer que nos encontremos, através do pensamento contemplativo. A contemplação é nossa origem espiritual. 

Quando separado do pensamento contemplativo, o pensamento calculador, com seu aparente aspecto prático, torna-se uma abstração. Ele desenvolve tecnologias que possuem poderes de manipulação e oferece uma sensação ilusória de tangibilidade, mas não consegue nutrir a humanidade. O pensamento calculador não pode jamais aliviar genuinamente os problemas humanos, a não ser que se una ao pensamento profundo. O pensamento confinado à sua própria superfície começa a viver apenas para organizar, manipular, dominar. Esse pensamento obscurece a nossa harmonia intrínseca. Contudo, o fato de podermos amiúde observar uma força tranquila naqueles que conseguiram dominar algum aspecto do pensamento calculador — músicos, mecânicos, oleiros, matemáticos — indica que não existem duas dimensões separadas de pensamento, o contemplativo e o calculador, e sim UM FLUXO ÚNICO DE CONSCIÊNCIA. A separação é um SINTOMA DE DESARMONIA ESPIRITUAL, ao qual os seres humanos sempre estiveram sujeitos, mas talvez o estejam mais intensamente nesta era secular tecnológica. A CURA dessa desarmonia entre o cálculo e a contemplação É O PROCESSO DE ILUMINAÇÃO, que revela que a essência de todo pensamento é a contemplação. Este processo não é apenas para alguns santos ou iogues, mas para todo o mundo. 

Lex Hixon - O Retorno à Origem

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A meditação destrói os muros da mediocridade, respeitabilidade e da imitação

Se me permitem, desejo considerar nesta tarde a questão da meditação, pois, no meu sentir, se não compreendermos o inteiro significado da meditação, não poderá surgir aquela mente religiosa acerca da qual lhes tenho falado. Como já acentuamos, a mente religiosa contém o espírito científico, mas a mente científica não contém o espírito religioso. A mente científica é parcial, interessada que está nas coisas superficiais; mas a mente religiosa interessa-se pela totalidade da vida. Se não se compreende e conhece o profundo significado da meditação, não há possibilidade nenhuma de se ter aquela qualidade de mente capaz de elevar-se acima e além do tempo. 

[...] A meditação, pois, não é uma busca de visões, imersão na oração... Meditação, pois, não é oração, não é o desejo de achar a Verdade. A mente vulgar que busca Deus encontrará o Deus de sua própria vulgaridade. Compreendem, senhores? Se tenho uma mente comum, limitada, estreita, superficial, cheia de ambição e avidez, de inveja e ciúme de outrem — e começo a pensar em Deus, meu Deus é igualmente vulgar, estúpido; e essa estupidez me satisfaz. 

Pois bem, estamos investigando o processo da meditação. Para investigar, vocês devem em primeiro lugar negar, devem proceder negativamente — isto é, devem estar conscientes de algo que nenhuma realidade tem, a não ser a realidade projetada do próprio desejo de vocês, da própria fantasia; devem repudiar o falso. Assim, pelo pensar negativo vamos descobrir alguma coisa positiva. Mas o pensar negativo é essencial, pois é a mais elevada forma de pensar — e não o pensar positivo. Pensar positivo é o processo de imitação, movimento de conhecido para conhecido. jamais descobriremos o desconhecido se nos movemos meramente do conhecido para o conhecido, que é o chamado processo positivo. Dessa maneira, jamais descobrirão por si mesmos o que é a meditação real. As coisas que nos têm sido oferecidas como meditação são por demais elementares, completamente desprovidas de base psicológica. Assim, se possuem suficiente interesse, se desejam realmente examinar até o fim a questão da meditação — e não apenas se entreterem com ela — devem meditar quando se dirigem ao escritório, quando constituem família, quando geram filhos. A meditação é necessária, porque destrói os muros da mediocridade, os muros da respeitabilidade e da imitação. Necessária é uma mente de todo livre exatamente no começo, e não no fim. 

[...] Meditação não é contemplação: contemplar é pensar numa ideia, concentrar-se numa coisa, geralmente um símbolo ou uma frase lida nos chamados "livros sagrados" — que em nada são sagrados, porém simples livros como outros quaisquer. Vocês selecionam uma frase e nela começam a refletir; e chamam isso de "contemplação". Não cuidam de investigar a entidade que contempla. Essa entidade é condicionada; essa entidade é medíocre, estreita, ciumenta. E essa é a entidade que investiga, que se concentra na contemplação de uma certa coisa! 

A meditação, pois, não é oração. Meditação não é contemplação. Meditação não é observância de um dado método ou sistema. O método ou sistema condiciona a mente. E, aquilo que o método ou sistema oferece, obterão; mas o que obterem será uma coisa morta. É como ter uma mente embotada e estúpida que se disciplinou por um sistema e se recusa a pensar mais; essa mente perdeu toda a flexibilidade, toda a sensibilidade; já não é nova. Assim, a meditação não é um sistema para ser praticado. Não é, por igual, um processo de disciplinar a mente. 

[...] Consequentemente, a meditação não é nenhuma dessas coisas, nem tampouco disciplina.[...] A mente que faz força para alcançar algo — com exceção de coisas mecânicas — alcançar aquilo que chama Deus, alcançar um alvo, um fim — é uma mente morta. Para a meditação necessita-se de uma mente sobremaneira flexível, altamente sensível. E ninguém pode ser sensível se está "comprometido", se está preso a um sistema inventando pelo homem sob a compulsão do medo. 

Nada disso, pois, é meditação.[...] A base correta da meditação é: não ser ambicioso, não ter inveja, não aceitar autoridade de espécie alguma. O lançamento da base é da mais alta importância, porquanto sem ela não podemos edificar. Não se pode construir uma casa sem alicerces; ela desaba. Ser sem ambição, sem autoridade, sem inveja, sem medo, sem ciúme, tem de ser uma coisa que deve ser vista imediatamente, e não cultivada como ideal; e é aí que está a dificuldade.[...] A inveja não é coisa que se possa adiar.[...] O homem que deseja meditar, que deseja investigar em profundidade a questão da meditação, não tem tempo para adiar a inveja. A inveja tem de cessar completamente, totalmente. Também a ambição tem de cessar por inteiro, porque o homem ambicioso não tem amor. Aqueles que, impelidos pela ambição, buscam posição, prestígio, poder, não têm amor, ainda que falem de paz e fraternidade. Poderão ter compaixão, piedade, capacidade organizadora para a ação social; mas, amor não têm. 

[...] Para meditarem, precisam lançar a base correta, não nos dias vindouros, porém imediatamente. Isso é dificílimo — é em verdade o ponto crucial da questão, pois nós queremos ser ambiciosos, queremos ser invejosos; e também falamos a respeito de Deus, da Verdade, etc. Nenhum valor têm os seus deuses e suas verdades, enquanto não houver a base correta. Quando já não estão presos na engrenagem da sociedade e de sua moralidade, quer dizer, quando a mente de vocês está livre da ambição, da avidez, da inveja, do poder e de todas as coisas que o homem busca porque isso a sociedade o estimulou desde a infância — então, há liberdade; não amanhã, não no fim da vida de vocês, porém exatamente no começo — agora! 

Esse é o início da meditação. Implica o conhecimento de si mesmo, e não o conhecimento do Ser Supremo. Não há Ser Supremo para a mente vulgar, a não ser aquilo que ela inventou e a que chama "Ser Supremo". Assim, quando a mente é livre — não amanhã, porém realmente, imediata e instantaneamente — da inveja, da avidez, da ambição da busca de fama e de poder, então, começa a meditação. Para essa mente cessou o buscar.[...] Assim, quando, mediante o autoconhecimento, vocês negam de todo a ambição, a avidez, a inveja, a autoridade, vocês se tornam a luz de si mesmos; a mente, estando então livre, não "comprometida", já não busca, porque nada tem que buscar; ela está tranquila. 

[...] O homem que deseja meditar deve compreender a si próprio. Se não conhecem a si mesmos, não podem ir longe. Por mais que tentem ir longe, nunca ultrapassaram suas próprias "projeções"; e a própria "projeção" de vocês está muito perto, e a parte alguma os leva. Meditação é aquele processo de lançar imediatamente a base e de fazer nascer — naturalmente, sem esforço algum — aquele estado de tranquilidade. Só então existe uma mente fora do tempo, fora da experiência e fora do conhecimento.

Jiddu Krishnamurti — A Mutação Interior  

A catarse

A liberdade não está nas manifestações de rua, nem nas revoltas populares. A verdadeira liberdade começa dentro da tua cabeça, quando optas por deixar cair todas  as "correntes" que te fazem acordar todos os dias cedo e viver numa luta constante por um salário.

Não! Não digas que isso é uma utopia. É simplesmente ver a vida como ela devia ser. Uma experiência fascinante! O que nós estamos a viver de momento não é vida, chama-se escravidão! Somos escravos dos bancos, do trabalho, dos políticos, das corporações, dos medos, dos preconceitos, da religião.

Tudo isso são "correntes" sutis que te acompanham desde o dia em que nascestes e foram passadas para ti, pelos teus pais, e os teus pais, pelos teus avós e assim sucessivamente, até que a prisão se torne algo tão "natural" como respirar!

Uma prisão que poucos conseguem ver, mas que te mantém numa "roda de hamster" que não leva a lugar nenhum. Batalhamos e batalhamos por coisas que não precisamos. Quando afinal o que precisamos é tão simples.

Precisamos de uma CATARSE global, de forma a deixarmos cair, não lutar, mas simplesmente deixar cair tudo o que nos prende. Permitir que cada um de nós se expresse da maneira que sabe e dê ao mundo o melhor que tem de si.

Obrigar alguém a ficar oito (ou mais) horas por dia, no caixa de um supermercado, só porque precisamos de comer e de ter um teto para dormir é de loucos!! Não faz qualquer sentido!

Será assim tão difícil de perceber que estamos doentes?! A sociedade está doente!! A cura está bem perto, esperando que agente se dê conta dela!? Amor!

Consciência

Por S.Q.

Pensando sobre o Ato de pensar


Ter uma mente silenciosa é uma das coisas mais difíceis deste mundo. Não se pode "consegui-la". Às vezes acontece espontaneamente, quando o pensamento é completamente entendido e todo o mecanismo é visto em operação. Nesse estado — e somente neste estado — podemos dar plena atenção a cada movimento da mente.

Mas "dar atenção " é sinônimo de "pensar a respeito de cada pensamento?" Certamente que se penso sobre meus pensamentos, contribuo para o caos. Como o pensar implica avaliação, justificação, comparação e assim por diante, o pensar simplesmente dá continuidade ao pensamento. Quando eu tenho um problema, que é que lhe dá continuidade, que é que me faz levá-lo comigo a toda a parte? É pensar no problema; isso lhe dá continuidade, não é mesmo? E não é exatamente o fato de andar com problemas em toda a parte, de alimentar conflitos, que impede a libertação criadora?

Assim, o que se requer é observar — meramente observar — sem verbalizar, sem classificar como bom ou mau, como isto ou aquilo — que são as nossas reações normais. Então ao aparecer mais pensamentos fugídios, não os consideremos distrações, como quando a mente procura concentrar-se, mas demos a esses novos pensamentos e imagens plena atenção. E não importa se um ou dois pensamentos nos escapam; o ponto principal que devemos entender é que a ação da própria observação pura, sem nenhuma forma de mentalização que a acompanhe, tira a continuidade do pensamento, e a mente se torna silenciosa sem nenhuma forma de coerção recebida de fora.

Através desta meditação, não somente cada pensamento individual será entendido em todas as suas implicações, mas o seu próprio conteúdo se torna sem importância — e é por causa de tudo isso que os pensamentos se dissolvem. Básico em tudo isso é o entendimento da natureza essencial e da finalidade de todo pensamento, quais são as suas raízes, quando e como ele se manifesta. Você já não notou como cada um de nós está envolvido no nevoeiro de ideias que cada um concebeu, nas crenças e opiniões que adquiriu, que constituem nossa "maneira de pensar", nosso próprio ser, e que impedem a clareza? E como esta ideação brota da preocupação que cada um tem consigo, e que no fundo de toda esta atividade do pensamento se encontram o medo e a premência de ser salvo? Enquanto caminharmos durante a vida com a cabeça nestas "nuvens de inconsciência" não pode haver nenhum conhecimento, nenhuma percepção do que seja realmente o mundo.

Ao relacionar cada pensamento com esta autopreocupação básica, nós o estaremos reduzindo a nada. Está é a essência da meditação — contra a introspecção ou contemplação, quando tecemos mais fantasias nos pensamentos, processo esse que não tem fim. A coisa essencial que temos que perceber é que nenhum pensamento (ou desejo) é superior a qualquer outro (uma suposição subjacente quando suprimos um pensamento ou desejo). O fato de não vermos isto nos emaranha no pensamento (ou desejo). O homem que erigiu um padrão absoluto de valores, e sobre esta base procura purificar ou enobrecer seu pensamento, jamais conhecerá a mente silenciosa, porque o tempo todo ela está jogando um pensamento contra o outro. E tudo isso acontecerá quando "começamos a pensar sobre o ato de pensar", o que é realmente uma expressão inadequada porque isto mais propriamente designa o fim do ato de pensar e o começo de uma visão destorcida. (Como também "a arte do pensamento objetivo" é um nome inadequado, porque não existe esta coisa que se chama pensamento "puro" ou "objetivo".)

Assim na meditação verdadeira há percepção instantânea do pensamento, pelo que ela é válida, sem simplesmente continuar pensando com ela e assim perder-se nela. (Isto é o que eu queria dizer quando escrevi "olhando para si mesmo, de fora", ou seja, sem as reações habituais da pessoa.) Não é, portanto, necessário, e realmente é um impedimento, "pensar acerca de cada pensamento", porque nesta consciência sem escolha há uma revelação instantânea das implicações de cada pensamento, sem fazer o menor esforço: como surge o pensamento, como se relaciona com outros pensamentos por associação, como é impelido pelo medo, identificação, etc. Isso é o que eu chamei em outra parte "considerar atentamente, examinar o pensamento até o seu finzinho".


Parece-me que a consciência gera a consciência, e a clareza produz a sua própria bênção na forma de mais claridade. A maior parte do tempo, nossas mentes são bastante estúpidas, especialmente quando preocupadas, e a maioria dos pensamentos fugídios e sutis nos escapam completamente. Entretanto, com o começo da consciência sem escolha todos esses pensamentos que se acham na soleira da perceptibilidade entram no campo de atenção, e assim o Inconsciente se nos revela. 

Robert Powell


Rasgando a carteirinha do clube do falso


terça-feira, 22 de abril de 2014

Algumas forças hostis no início do processo

O primeiro elemento hostil que você vai enfrentar surgirá se você falar sobre seus estudos e seu objetivo a pessoas indiferentes. Elas poderão tentar ridicularizá-lo de modo a abalar sua decisão e persistência... A maioria dos homens comuns, ou seja, não desenvolvidos, não gosta de ver alguém avançar e obter uma condição superior à sua. Infelizmente, esse tipo de ciúme feio e sem sentido floresce entre nós com muita frequência, e as forças hostis tiram plena vantagem de seu uso. [...] Ele não deve discutir com outros os seus empreendimentos espirituais íntimos, exceto com os que estejam engajados como ele numa busca semelhante ou que saibam mais sobre o Caminho do que ele. Os homens serão sempre hostis a qualquer coisa que não possam entender em outras pessoas, particularmente se for um "estudo misterioso", uma Ioga, etc. Eles tentarão depreciar aquilo que sentem estar além do seu alcance. O aspirante sábio levará isso em consideração e agirá de acordo. Não há outra escolha. Você não pode mudar o mundo, mas pode e deve mudar a si mesmo.

O próximo tipo de obstáculos pode vir de seu passado ainda não reparado. Quando nos engajamos num estudo como este, estamos na realidade desafiando nossos erros e débitos passados que ainda precisam ser retificados e pagos. 

Talvez seja interessante saber, mesmo de modo aproximado, que formas a oposição poderá tomar. Sua resistência poderá se manifestar de diversas maneiras. Naturalmente, é impossível mencioná-las todas por causa de sua imensa variedade. Mas, no geral, podem ser mencionadas as seguintes:

a) Condições familiares que, nos primeiros anos, impedem que tenha o recolhimento necessário para a meditação, e falta de meios para criar melhores condições. 

b) Saúde fraca, que não permite um maior esforço mental, inevitável nos esforços para praticar a meditação. 

c) Atividades profissionais excessivas, nas quais as influências do mundo exterior não concedem tempo suficiente para os exercícios ou para a meditação, e nas quais a pessoa fica tão cansada após um dia de trabalho que não pode realizar qualquer tarefa adicional. 

d) resistência direta do ambiente imediato, como parentes, amigos, etc. 

Tudo isso pode e deve ser superado. Boa vontade suficiente, firme determinação em fazer o que foi reconhecido como o único objetivo válido de sua vida e manipulação inteligente das circunstâncias. 

[...] Há outras forças que podem se opor a seus esforços no primeiro plano: trata-se das correntes astrais involutivas. Você pode ser assaltado por explosões de emoções e sentimentos que vêm à sua consciência e tentam ocupá-la para os seus próprios propósitos. Elas poderão literalmente tentá-lo de modo a atrair sua atenção, que é a força da vida para elas, assim como para os obstáculos seguintes, os de origem mental. 

Os pensamentos podem começar a atormentar seu cérebro, cada um aparentemente mais urgente e "importante"que o outro, não permitindo que você encontre o silêncio interior necessário para uma meditação bem feita.

[...] No início, alguns aspirantes ao Caminho sofrem ataques extremamente intensos por parte das correntes mencionadas acima, que lhe trazem emoções impuras de grande força e enormes quantidades de pensamentos inquietos num fluxo aparentemente sem fim. As únicas armas reais contras esses obstáculos são: 

1) Persistência e uma vontade forte para perseverar em seus esforços;
2) profundo entendimento da justiça e seus esforços;
3) procura da assistência das forças do "bem"

Mouni Sadhu

15 minutos de sanidade sobre o vácuo da insanidade familiar



Sobre o olhar crítico dos Senhores do Universo de mente adquirida


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Os tratantes da realidade que somos e a idiotice humana

Quando removemos a inverdade dentro de nós, as raízes ocultas da verdade que há em nós começam a dar seus primeiros brotos, da mesma forma que uma semente em germinação expulsa seu talo verde para o ar a fim de que se torne real e visível... Enquanto você não passar em todos os exames, ninguém lhe dará um diploma demonstrando que você realizou um certo trabalho interior que o qualifica para esse grau. É exatamente o que ocorre com a "colação de grau" espiritual. Não podemos receber, e não receberemos, nada de graça. Mas, por infelicidade, o grosso da humanidade acredita nesse contra-senso. É por isso que, em nossa época, há tantos TRATANTES OCULTISTAS que procuram explorar a IDIOTICE dos homens, prometendo-lhes que irão fazer o trabalho por eles (naturalmente, em troca de recompensa financeira adequada) e "iniciá-los" sem qualquer esforço essencial de sua parte. Eis porque aparecem tantos livros e "ensinamentos" INÚTEIS no momento, que por vezes até obtêm um certo "sucesso" de vendas. Mas alguns poucos livros sérios e verdadeiros, que NÃO MASCARAM a verdade da NECESSIDADE DE UM TRABALHO ÁRDUO para se obter a realização, são menos favorecidos neste século. Mas os sábios romanos sabiam disso, e foram eles que disseram: "As pessoas gostam de ser enganadas". Tantas pessoas preferem palavras enganosas, porém lisonjeiras, ao discurso tranquilo e despretensioso da Verdade.

Mouni Sadhu  

terça-feira, 15 de abril de 2014

O que é meditação?

A verdade não é uma coisa que se possa experimentar. A verdade não pode ser buscada e achada. Está fora do tempo. E o pensamento, que é tempo, nenhuma possibilidade tem de busca-la e "pega-la". Portanto, é necessário compreender profundamente essa questão do desejo de experiência. Vejam, por favor, quanto isso é importante. Qualquer forma de esforço, de desejo, de busca da verdade, de exigência de experiência, é o observador a querer algo transcendental e a esforçar-se por alcançá-lo; a mente de vocês, por conseguinte, não é lúcida, incorrompida, não-mecânica. Quando a mente está buscando por uma experiência, por mais maravilhosa que seja, isso significa que o "eu" a esta buscando — o "eu", que é o passado, com todas as suas frustrações, aflições, esperanças. 

Observem, por si mesmos, como o cérebro funciona. Ele é o depósito da memória, do passado. Essa memória está sempre reagindo, "gostando" e "não gostando", justificando, condenando, etc.; reagindo de acordo com seu condicionamento, de acordo com a cultura, a religião, a educação, nela armazenadas. Esse depósito, de onde surge o pensamento, guia a maior parte de nossa vida. Está dirigindo e moldando nossa vida, a cada minuto do dia, consciente ou inconscientemente; está gerando pensamento, gerando o "eu", que é a essência mesma do pensamento e das palavras. Pode o cérebro, com seu conteúdo — o "velho" — tornar-se completamente quieto — só despertando quando necessário operar, funcionar, falar, agir, porém, a maior parte do tempo, completamente estéril? 

Meditação é descobrir se o cérebro, com todas as suas experiências, pode tornar-se absolutamente quieto. Não forçado a isso, porque, no momento em que o forçamos, torna a surgir a dualidade, a entidade que diz "Eu gostaria de ter experiências maravilhosas e, portanto, tenho de obrigar o meu cérebro  a quietar-se". Nunca o conseguirá! Mas, se vocês começarem a investigar, a olhar, a observar, a "escutar" todos os movimentos do pensamento, seu condicionamento, seus alvos, seus temores e prazeres; observar como o cérebro funciona — vocês verão então que ele se tornará sobremodo quieto; essa quietação não é um estado de sono, pois o cérebro se acha então sumamente ativo e, portanto, em silêncio. Um dínamo grande, em perfeito estado de funcionamento, quase não faz barulho; só quando há atrito, há barulho. 

Cumpre-nos descobrir se nosso corpo é capaz de ficar sentado ou deitado, em completa quietação, sem nenhum movimento, sem estar sendo forçado. Podem o corpo e o cérebro — pois estão psicossomaticamente relacionados — tornar-se quietos? Há vários exercícios para colocar o corpo quieto, mas tais exercícios implicam coerção; o corpo quer erguer-se e andar, mas lhe impomos que fique quieto, e começa a batalha: querer sair à rua e querer ficar sentado e quieto. 

A palavra "ioga" significa "ajuntar". O próprio termo "ajuntar" é impróprio, porque implica dualidade. Provavelmente a ioga, como uma determinada série de exercícios e movimentos respiratórios, foi inventada na Índia há milhares de anos. Sua finalidade é manter as glândulas, os nervos e todo o organismo funcionando saudavelmente, sem remédios, e sobremodo sensível. O corpo precisa ser sensível, porque de outro modo não se pode ter um cérebro claro. É fácil ver este simples fato que precisamos ter um corpo perfeitamente são, sensível, alerta, e um cérebro a funcionar muito claramente, não emocionalmente, não pessoalmente; o cérebro é então capaz de colocar-se absolutamente quieto. Mas, como conseguir isso? Como pode o cérebro, que anda sempre tão ativo — não apenas durante o dia, mas também quando dormimos — ficar em completo repouso, inteiramente quieto? Decerto, nenhum método produzirá esse efeito, já que todo método implica repetição mecânica, que entorpece e embota o cérebro; e, nesse estado de embotamento, vocês pensam ter experiências maravilhosas!

Como pode o cérebro, que anda sempre a monologar ou a palrar, sempre julgando, avaliando, "gostando" e "não gostando", constantemente variando, quietar-se de todo?[...] Pode o cérebro imobilizar-se sem a ingerência de nenhum fator externo? Não descobrindo nenhuma maneira de aquietá-lo, certas pessoas esperam pela graça de Deus, rezam, têm fé, absorvem-se em Jesus, nisto ou naquilo. É bem evidente que essa absorção numa coisa externa só pode verificar-se numa mente embotada, entorpecida. O cérebro está em contínua atividade, do despertar ao adormecer — e mesmo então a atividade cerebral prossegue. Essa atividade, na forma de sonhos, é o mesmo movimento do dia, continuando durante o sono. O cérebro nunca tem um momento de repouso, nunca diz "Acabei". Leva para as horas de sono os problemas que acumulou durante o dia, e, ao despertarem, os mesmos problemas continuam, ininterruptamente: um círculo vicioso. O cérebro, para que possa aquietar-se, não deve ter sonhos. Quando o cérebro está quieto durante o sono, introduz-se na mente uma capacidade inteiramente nova. Como pode o cérebro, sempre tão intensa e ardorosamente ativo, imobilizar-se, natural e simplesmente, sem nenhum esforço ou coerção? Eu vou lhes mostrar. 

Como dissemos, durante o dia o cérebro está incessantemente ativo. Se ao despertarem e olharem pela janela, exclamam "Oh, que chuva!" ou "Que dia maravilhoso, mas quente demais" — já colocaram o cérebro em movimento! Assim, no momento de olharem pela janela, não digam para si mesmos uma só palavra. Isso não significa reprimir as palavras, porém, apenas, compreender que no momento em que dizem "Que linda manhã!" ou "Que tempo horrível!" — o cérebro se coloca em movimento. Mas se, olhando pela janela, observam as coisas sem pronunciarem uma única palavra (e isso não é reprimir a palavra), se ficam apenas observando, sem a imediata intromissão da atividade cerebral, vocês têm então a solução, a chave do problema (de colocar o cérebro quieto). Quando o velho cérebro não reage,, começa a despontar o novo cérebro. Podem observar as montanhas, os rios, os vales, as sombras, as árvores formosas, as maravilhosas nuvens, totalmente iluminadas, além das montanhas — sem pronunciar uma palavra, sem comparar. 

Mas isso se torna bem mais difícil quando se observa outra pessoa, porque, aí, já possuem imagens estabelecidas. Observai, ainda assim! Observando assim, com claro percebimento, verão que a ação assume uma extraordinária vitalidade: é a ação completa, que nunca é levada para o próximo minuto. Compreendem?

[...] Tomemos um problema: alguém me insulta, chama-me de "idiota". Instantaneamente, o velho cérebro reage, dizendo "Idiota é você!" Se, antes de o cérebro reagir, me torno perfeitamente cônscio do que foi dito — uma coisa desagradável — abro um intervalo, de modo que o cérebro não pode logo precipitar-se para a arena. Assim, se durante o dia observarem, em seus atos, o movimento do pensamento, perceberão que ele está criando problemas, e que problemas são coisas incompletas e, por conseguinte, têm de ser levados para diante. Mas, se observarem com o cérebro realmente quieto, verão que a ação é completa, instantânea; não se leva para diante o problema, não se leva para diante o insulto, o elogio: é coisa acabada. E, depois, durante o sono, o cérebro já não levará consigo as "velhas" atividades do dia, estará em completo repouso. E, estando o cérebro quieto durante o sono, verifica-se um rejuvenescimento de toda a sua estrutura — desponta a inocência. A mente "inocente" é capaz de ver o verdadeiro — não a complicada mentalidade do filósofo ou do sacerdote. 

A mente inocente abrange aquele todo em que está contido o corpo, o coração, o cérebro, e a mente propriamente dita. A mente inocente, jamais atingida pelo pensamento, pode ver o verdadeiro, o real. Isso é meditação. Para alcançar-se aquela maravilhosa beleza da verdade e seu êxtase, é necessária lançar a base adequada. Essa base é a compreensão do pensamento, que gera medo e nutre prazer; é a compreensão da ordem e, portanto, virtude. Fica-se, assim, livre de todo conflito, de toda agressividade, brutalidade e violência. Lançada essa base da liberdade, desponta uma sensibilidade que é a culminância da inteligência, e a vida do homem se torna, em todos os seus aspectos, inteiramente diferente.

Krishnamurti — A questão do impossível

Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências!

Que é a morte? Que significa isto — morrer? Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências! Deve significar que uma coisa chegou completamente a seu fim. O movimento que fora desencadeado — conflito, luta, confusão, desesperos e frustrações — cessou subitamente. A atividade do homem que quer tornar-se famoso, que é arrogante, violento, brutal — essa atividade é interrompida. Já notaram que tudo o que tem continuidade psicológica se torna mecânico, "repetitivo"? Só quando cessa a continuidade psicológica, surge alguma coisa totalmente nova; isso podem observar em si mesmos. Criação não é a continuidade do que É ou do que FOI, mas o findar dessa continuidade. 

Ora, pode-se morrer psicologicamente? Entendem essa pergunta? Podem morrer para o conhecido, morrer para o que FOI — não com o fim de se tronarem outra coisa — sendo esse morrer o fim do conhecido, a libertação do conhecido? Afinal de contas, a morte é isso. 

O organismo físico, naturalmente, morrerá; dele se abusou, foi submetido a maltratos e frustrações; comeu e bebeu coisas de toda espécie. Vocês sabem de que maneira vivem, e pelo mesmo caminho continuam até ele (o organismo físico) perecer. O corpo, por motivo de acidente, de velhice, de doença, da tensão da constante batalha emocional, no interior e no exterior, se deforma, torna-se feio, e morre. Nesse morrer há autocompaixão, e ela existe também quando outra pessoa morre. Quando morre alguém que pensamos amar, não há em nossa tristeza uma grande porção de medo? Porque nos vemos sós, abertos a nós mesmos, sem ninguém para nos amparar, nos dar conforto. Nossa tristeza é toda mesclada dessa autocompaixão e desse medo e, naturalmente, nessa incerteza, aceitamos qualquer espécie de crença. 

A Ásia inteira crê na reencarnação, no renascer em outra vida. Se indagamos o que é que vai renascer na próxima vida, nos deparamos com dificuldades. Que é que vai renascer? Sua pessoa? Que é você? — um monte de palavras, de opiniões, apegos as suas posses, aos seus móveis, seu condicionamento. Esse monte de coisas, que chamam de sua alma, vai renascer na próxima vida? Reencarnação implica que o que hoje são determina o que serão na próxima vida. Portanto, comportem-se bem! — não amanhã, mas hoje, porque pelo que hoje fazem irão pagar na próxima vida. Os que creem na reencarnação pouco se importam com o seu comportamento; trata-se de uma mera crença, sem nenhum valor. Reencarnem-se hoje, renovem-se hoje, e não na próxima vida! Mudem completamente ESTA VIDA, agora; mudem-na com uma grande paixão, façam a mente despojar-se de todas as coisas, de todos os condicionamentos, de todos os conhecimentos, de tudo o que pensar ser "correto"; esvaziem-na. Saberão então o que significa morrer; saberão então o que é o amor. Porque o amor não pertence ao passado, ao pensamento, à cultura; não é, tampouco, prazer. A mente que compreendeu o inteiro movimento do pensamento se torna sobremaneira quieta, absolutamente silenciosa. Esse silêncio é o começo do novo.

Krishnamurti — A questão do impossível

Enquanto identificados com a mente adquirida, somos medo


A compreensão de nós mesmos é o despertar e o fim do medo


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Invisível aos olhos da sociedade


Sobre o sarcófago da memória


O uso de substâncias e o processo de iniciação


Vivendo com uma respiração mais tranquila


O uso de máscaras tem seu início na família


Minha linguagem está no silêncio


O mestre é necessário?

O que é que as tradições espirituais da humanidade nos dizem a esse respeito? Algumas tradições espirituais da humanidade nos dizem que o mestre é necessário, e outras dizem que não.

Eis algumas citações:
  • Não sigas pelo caminho sozinho, porque poderias perder-te.
  • Não conseguimos nos ver com os nossos próprios olhos. 
  • Tens necessidade de outro para te conheceres a ti próprio. 
  • Se não escolheres um mestre, é Satanás quem o será (Arabi)
Alguns dirão usando outras palavras: o ego será teu mestre. Fiar-se no seu próprio juízo é fiar-se no seu ego. Nesse caso corremos no risco de cair numa auto-ilusão. Podemos, por exemplo, ler os textos sagrados segundo as nossas interpretações. Há, portanto, certas tradições onde se insiste sobre esta necessidade de termos alguém que nos acompanhe no caminho, mas outras dirão que um mestre é necessário. 

O grande místico do islã, Rumi, disse uma vez, referindo-se ao seu mestre: "É ele a verdade, a essência de toda a verdade, é ele o mistério de todas as religiões, a boca de todas as certezas". 

Encontramos algo semelhante na Índia, na devoção prestada ao guru, porque é através dele que a verdade nos é transmitida. 

Todavia, o mesmo Rumi, diz em outra ocasião: "Purifica-te dos atributos do eu, de modo que possas contemplar tua própria essência na sua pureza, e contempla no teu coração todas as ciências dos profetas, sem livros, professores, sem mestre"

O objetivo é despertar em nós a essência da vida. O objetivo do mestre exterior é nos despertar para essa presença.
Na epístola de São João está escrito: "Não precisais mais que vos ensinem, o Espírito Santo é quem vos ensinará todas as coisas"

O mestre está no nosso interior e é a ele que devemos escutar, não uma lei exterior. 

Uma vez, um dos alunos de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe: "Se o papa me disser para fazer determinada coisa e minha consciência me disser para fazer outra coisa, a quem devo obedecer?"

Santo Tomás de Aquino, doutor da Igreja Romana, responde: "Escuta a voz da consciência e procura esclarecê-la e iluminá-la". Isto pode surpreender, mas são palavras cheias de bom-senso e de psicologia, porque, se ele tivesse dito para ouvir e obedecer ao papa, isso faria com que seu aluno se tornasse um pouco hipócrita ou adoecesse, quem sabe até de esquizofrenia. Ou seja, quando fazemos aquilo que a autoridade nos diz e no nosso interior pensamos outra coisa, cria-se uma divisão dentro de nós que está na origem do mal-estar e da doença. Mas São Tomás de Aquino diz: 
Escuta a voz da tua consciência. Não mintas a ti próprio, mas procura esclarecer-te, e é possível que, ao esclareceres a tua consciência, descubras que aquilo que o papa dizia não era completamente idiota. Mas isso virá de ti mesmo.
Isto é interessante para o nosso discernimento, pois no lugar do papa poderíamos ter qualquer outra autoridade, a quem atribuíssemos a sabedoria ou a verdade. Poderia ser um livro, os nossos pais ou alguém que conhecemos. Mas, em um determinado momento, deixamos de estar de acordo e, nessa ocasião, é importante escutar a voz da consciência. 

Podemos sempre nos enganar, mas em algum momento nas nossas vidas já não podemos mentir a nós mesmos. É nessa ocasião que desperta em nós o mestre interior. Posso me enganar e até cometer erros até o fim da minha vida, mas não posso mais mentir a mim mesmo, isso faria com que eu adoecesse. Esse é o sinal que estamos, de fato, conectados com o nosso mestre interior. 

Quem é o meu mestre interior, quem tem autoridade sobre mim? 

É importante sabermos que não devemos dar a nossa liberdade a qualquer pessoa, devemos dá-la apenas a quem nos torne mais livres, mais verdadeiros. 

Por isso algumas tradições nos dizem: "Melhor é seguir a sua própria lei, mesmo que imperfeitamente, do que a lei de um outro, mesmo que executada de modo perfeito" — essas são palavras do Bhagavad Gita

Diz-se também que um caminho espiritual não deve servir senão uma vez e para uma só alma — ninguém passará por ali mais uma vez, nas mesmas condições. 

Não se trata de uma religião individual, mas de maneiras individuais de chegar ao Absoluto. 

Um verdadeiro mestre espiritual nunca impõe a ninguém o seu modo de estabelecer uma relação com o Absoluto. Ele ajuda-nos a descobrir a nossa própria maneira de entrarmos em relação com o Absoluto. 

[...]Na tradição tibetana, mas também em outras tradições, o mestre pode ser, numa primeira fase, um professor... É uma relação de um aluno para com um professor, de alguém que aprende com alguém que sabe mais do que ele e que lhe transmite os seus conhecimentos. É um primeiro nível de relação. 

No segundo nível de relação, o mestre não é apenas um professor, mas um amigo. Aquele a quem se chama o amigo espiritual, que nos acompanha no caminho e que não nos transmite apenas conhecimentos, mas nos transmite também o seu coração, a sua afetividade. 

O meu mestre não é apenas um sábio, ele é alguém com quem tenho uma relação de intimidade, que me conhece e que vai adaptar o seu ensinamento à situação a que me encontro. 

E posso ter a certeza de que aquilo que ele procura não é apenas agradar-me, mas o meu despertar, a minha libertação. 

É por isso que esta amizade pode, por vezes, ser muito exigente. O amor não é complacência. Aquilo que queremos transmitir não é uma felicidade ou um prazer qualquer, mas a libertação interior, é participar na bem-aventurança. 

O terceiro nível de relação é aquele em que o mestre é considerado não apenas com um professor, ou como um amigo que nos acompanha no caminho, mas como alguém que nos transmite uma iniciação. Ele é um elo de uma linhagem iniciática que faz com que entremos numa cadeia. Em todas as grandes tradições espirituais, o mestre é aquele que transmite uma iniciação, que nos inscreve numa linhagem. Isso faz com que a minha prática não seja apenas a "minha" prática, mas a prática de todos aqueles que me precederam, a energia e a bênção de todos que me precederam e praticaram esse caminho estão presentes. Nessas circunstâncias poderíamos dizer que o mestre não transmite ensinamentos pessoais, mas é a tradição que é transmitida por seu intermédio, para além da sua individualidade. A sua pessoa apaga-se diante da sua função. [...]

Jean-Yves Leloup — O Anjo Como Mestre Interior

sábado, 12 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O estado de Buda


Abalando as ilusões


quinta-feira, 10 de abril de 2014

A dificuldade de pensar juntos - Mais além do tempo



K: Um de nossos problemas que falaremos esta manhã é a dificuldade de pensar juntos, não sobre algo, senão a capacidade de pensar juntos. Pergunto-me, o que impede as pessoas de fazerem isto? É por suas opiniões, suas conclusões, seus conceitos, seus ideais, seus enormes preconceitos profundamente arraigados?

DB: Creio que é porque as pessoas se aderem a estas coisas; possuem uma opinião com a qual se identificam, elas não o sabem, mas se aderem a isso.

K: É isso o que impede as pessoas de pensarem juntas, cooperarem juntas?

DB: Bem, isso é claramente um fator importante, pode-se ver politicamente, digamos que o Leste e o Oeste...

K: Oh, politicamente, por suposto.

DB: Bem, se queremos ter paz teríamos as duas partes dispostas e discutir sem opiniões fixas.

K: Por suposto, por suposto. Mas isso é impossível com os políticos.

W: Pois não, não estou de acordo que seja impossível.

K: Quero dizer, tal como é na atualidade.

W: Sim, mas quero dizer, como você disse, não há nada como que isso seja impossível.

K: Não, nada é impossível, mas se querem faze-lo o podem fazer.

W: Sim, e creio que se queremos que o façam, podemos fazer com que o façam.

K: Sim, isso é correto. Se nós os cidadãos, de pé, queremos que o façam, o farão. Bem, agora, como os cidadãos a pé vão ajudar para que queiram isto?

W: Bem, creio que eles têm que superar seu sentimento de impotência. E creio que em última instância eles também têm que reconhecer sua própria responsabilidade, não só os políticos que estão sendo desajeitados, os demais estão sendo demasiadamente desajeitados.

K: Apresenta-se de novo o ser responsável em tudo o que faz, em cada pessoa. E não sentem dessa maneira, não se sentem responsáveis. Eles se convertem em líderes, líderes políticos, líderes religiosos, ou outra classe de líder e dependem deles.

W: E os culpam.

K: Exato. Assim que a coisa está toda do avesso, todo este assunto.

DB: Bem, parecem que não podemos começar dessa maneira, isso porque não serve de nada culpar as pessoas pelo que são. Porém, as pessoas não estão dispostas...

K: Portanto, você tem que começar por si mesmo.

DB: Porém, é possível que algumas pessoas o pudessem começar de todos os modos, independente do que fazem os demais.

K: Deixe os demais...

DB: Bem, não pode afetar aos demais no momento, mas uma vez sugerido, mais adiante, algumas pessoas possam fazê-lo, então, eventualmente, outros podem adentrar.

K: Sim, correto.

DB: O que não quer dizer que estão descuidando dos outros, mas...

K: ... Mantém a porta aberta.

DB: Sim, não é a ordem correta para começar com os demais.

K: Não, estou de acordo. Você tem que começar por si mesmo.

DB: Ou com quem seja.

W: Mas se você diz que somos nós mesmos em nossas relações, que o que eu sou em minha relação com outras pessoas e, portanto, há que se olhar, observar estas relações, nesse sentido se está começando com os demais. Você começa...

K: Com os demais e consigo mesmo, inter-relação constante.

W: Quando você diz que existem estes bloqueios e que as pessoas não podem...

K: Saltá-los...

W:... Entre uma pessoa e a outra, este não é sempre o caso. Não é relevante que às vezes entre duas pessoas que possuem uma estreita relação e uma relação de amor, há uma grande quantidade de estar na mesma longitude de onda, um tipo de relação empática imediata em que uma mente não está realmente separada da outra mente. Mas não é isto possivelmente relevante para este assunto da mudança de si mesmo, a transformação de nossa própria mente, que é através deste processo de inter-relação.

K: Inter-relação, correto... Senhor, seria suficiente se a metade de uma dezena de nós realmente entende-se este assunto? Como podemos afetar o mundo? Creio que podemos. Hitler afetou o mundo.

DB: Hitler era um só, claro. O fez tudo por si mesmo.

K: Claro. Um homem louco, que infectou a todo mundo.

DB: Bem, houve um programa recentemente na BBC sobre Thomas Paine, e demonstrou que na realidade tinha um efeito significativo no mundo inteiro. Tinha uma tremenda energia e paixão. Foi muito claro nesse programa que afetou a totalidade da história.

K: Sim, senhor. Então, surge uma pergunta: Por que é que não somos apaixonados? Por que é que somos tão mornos? Creio que estamos muito luxuriosos por poder, por isto, ou por aquilo, porém, parece que temos perdido, ou nunca tivemos essa paixão por fazer o correto, fazer o que é bom.

DB: Eu só ia dizer que creio que parte da razão desta falta de paixão, é só o fato de não compreender este ponto. Muita gente pode sentir que é muito importante fazer algo, mas dizem que a sociedade é tão grande...

K: Tão grande que está asfixiada.

DB: Assim que a questão, é que existe uma falta de clareza neste ponto, o que podemos fazer realmente, que fique realmente claro que é possível fazer algo.

K: Sim, senhor. Creio que é realmente possível.

DB: tem que ser tão evidente que você não renuncie quando haja problemas, quando se torne difícil.

W: Creio que a sociedade nos condiciona para que nos sintamos impotentes. Isso é parte da dificuldade.

K: Mas, por que estamos preocupados com a sociedade? Por que nos asfixiam, por que isso deveria reduzir ou destruir nossa paixão? E o que é a paixão? Como se tem isso — não como, não é um método, mas, quando se produz? Isso está melhor. Quando tem as rédeas soltas esta paixão?

W: Bem, nós sabemos quando há rédeas soltas, e é então quando todas estas forças primitivas se detêm. E suponho que o fundamental é que se os indivíduos na sociedade estão sendo dominados por suas imagens de si mesmos e então querem perpetuar o estado das coisas em que isto parece ser assim. E, portanto, exercerá uma influência condicionante através da sociedade para manter a todos neste estado de desamparo e engano.

K: A paixão pela responsabilidade, digamos isto, por exemplo, se você tem uma tremenda paixão, vem com o fim da dor? A paixão está relacionada com o fim do sofrimento? A palavra paixão, etimologicamente, está relacionada com o sofrimento?

W: Bem, isso é só uma pergunta, em certo sentido, da erudição, o qual eu não estou tanto, porém, você lhe dá um significado mais profundamente presumivelmente.

K: É claro... Veja, recém-chegado da Índia, havia ao redor de sete mil pessoas em Bombaim, uma seção transversal de toda a sociedade — os muito ricos, a classe media e alguns muito pobres. Falei com eles em inglês, claro, e se vê que realmente não entendem esta extraordinária complexidade da vida, a única coisa que querem são soluções para os problemas, aos problemas pessoais, problemas econômicos, problemas espirituais, querem soluções. E na busca de soluções não resolvem os problemas.

DB: Não, mas creio que é justamente o ponto, as pessoas em primeiro lugar, geralmente, não entendem isso, que as soluções não são pertinentes, e que, obviamente, ajuda a dissipar sua energia.

K: Sim, sim. Assim que o enfoque do problema é importante.

DB: Sim.

K: E o enfoque não é a solução do problema, senão como se observa o problema. O problema é diferente de você? Mas bem, você é o problema, o problema não está aí fora.

DB: Mas para comunicar isso é difícil porque você vê a uma pessoa que está desempregada, sente que seu problema está aí fora, se só tivesse um trabalho iria estar bem.

K: Sim.

DB: Bem, agora, você está dizendo algo muito mais profundo: em que sentido podemos dizer que o problema é você? Suponhamos que alguém comece, você quer falar com alguém, e ele está desempregado.  

K: Sim, senhor, escutava outro dia a dois desempregados, que estavam sendo entrevistados — estavam amargurados, enojados, furiosos, desde há três anos não tinham um emprego, e estavam furiosos com os líderes, os líderes conservadores, dirigentes sindicais, etc. Eles não se preocupam com nada mais do que o emprego, conseguir dinheiro, comida, refúgio, isso é a única coisa que os preocupa. Creio que o vasto mundo está preocupado com isso e nada mais.

DB: Bem, agora, suponhamos que você quer falar com este homem, como vai fazer para que se preocupe por algo mais?

K: “Não”, ele diz, “Primeiro o pão, pelo amor de Deus primeiro o pão. Mantenha todas suas coisas espirituais para mais adiante quando você tenha me dado pão”. Tenho falado com muita gente na Índia e outros lugares, é o mesmo problema, se o pão é o primeiro o outro é o primeiro. Se é o pão, então não existe uma solução, e estão amarrados nisso, todos eles estão amarrados nisso, o primeiro é o pão. E se tem sorte, o outro o pode ter. Mas a grande maioria das pessoas está preocupada com a urgência; como você vai demonstrar algo? Não pode. Portanto, só está reservado para os “benfeitores” que possuem tempo livre, os que têm certas oportunidades para estar sós, para olhar a si mesmos, falar disso? Isso parece terrivelmente injusto. Mas é um fato. Assim, pois, os da classe “sem ocupação”, ou as pessoas que têm tempo livre, vão entender sua relação? Ou vão utilizar esse tempo livre para se divertir, para se entreter?

DB: bem, acho que, isso não faz nenhuma diferença.

K: Nenhuma diferença, isso é o estou dizendo. Creio que a “desocupação” é uma coisa maravilhosa. Penso que se aprende muitíssimo mais quando se tem tempo livre.

DB: Talvez, voltando a questão do salário, como você vê, as pessoas que sofrem estão desempregadas, estão enfermas, maus governos, etc, bem, agora, você tem dito que a paixão está conectada com a dor, pelo qual poderia ser um enfoque.

K: Mas veja, seria incluso para as pessoas com tempo livre, para as pessoas muito bem educadas, que realmente estão frente aos problemas da vida e os problemas do mundo. Terão suficiente tempo livre para dar seu tempo, sua energia, e dizer, olhe, vamos compreender a relação de cada um e entrar no todo. Parece tão extraordinariamente difícil para a maioria das pessoas.

DB: Bem, sim o entendo. É por isso que estamos discutindo se algumas pessoas poderiam começar isto...

K: Sim, claro!

DB:... e que poderia afetar aos demais. Há pessoas que possuem tempo livre e que estão interessados, mas creio que não acabam vendo a verdadeira possibilidade disto. Há pessoas que poderiam estar prontas para fazer isto, mas não vem que tudo seja possível.

K: Sim, senhor, o sei.

DB: Agora, se puderem ver algo que na realidade é possível, mais deles poderiam vir.

K: Então, como ajudar — digamos, por exemplo, que me ajuda a ver que há uma possibilidade, há uma porta aberta para mim, para escapar de todo este horror — não escapar, o sinto — para compreender todo este assunto, como pode me ajudar? Falaram para mim, assinalando todas as misérias, toda a confusão, mediante as análises, mediante a busca de uma causa? Temos feito tudo isso.

DB: Isso não é suficiente. Agora se nos dizem que as pessoas com uma grande energia, como Hitler, o Thomas Paine, ou várias outras pessoas, tem tido seu efeito na história, algumas boas e outras más. E a pergunta é, se é possível que um grupo de nós...

K: Se é possível para...?

DB: Para um grupo de nós.

K: Oh, sim, claro, essa é a única maneira!

DB: Aprofundar realmente em todo este...

K: Desastre! Claro que é possível. É isso que estamos tratando de fazer. Em Brockwood, ou em outros lugares, é reunir a um grupo de pessoas que pensam igual — não igual —, que pensam, que têm uma boa compreensão da relação e entrar em tudo isto. Mas parece tão incrivelmente longo.
Senhor, poderia dizer, para ir a outro tema, você diria que somos os donos do tempo? Que fazemos nosso próprio tempo? Aparte do tempo físico, o tempo interno, a esperança interior, o interior de ser cada vez melhor, a ideia de converter-se em algo, tudo isso implica tempo. Se pudéssemos encurtar o tempo, ou seja, sou violento, e creio que posso superar essa violência mediante o tempo. E assim, inventámos o tempo. Enquanto que, se na realidade no tenho tempo, “o que é” se torna extraordinariamente importante e se pode transformar. Mas se permito o tempo, estou perdido. Não sei se estou comunicando algo.

W: Bem, o seguimento seguinte é relevante aqui, de que se você pega a alguém que tenha vivido toda a sua vida e não tenha podido desenvolver-se de todos os modos, e tem poucos dias de vida, e estes estão enquanto tanto morrendo, — eu quero dizer que se tenha visto a um anúncio recentemente que se estava morrendo, e, pela primeira vez em sua vida parecia ter um papel enquanto se estava morrendo, e nada podia aproveitar estar longe dele. Bem, agora, algumas pessoas diriam que isto é muito triste, porém, é só por um dia ou dois, mas seguramente o tempo não importa em absoluto.

K: Não.

W: É isto parte das coisas que você quer dizer que sempre estamos medindo as coisas, e dizer, é importante porque isto será maior que aquilo com o tempo, mas na realidade é a qualidade.

K: Pode a mente parar de medir? O qual significa que sou o passado, o presente e o futuro. Eu sou isso. E meu tempo é o amanhã — espero ser feliz amanhã. Assim que estou inventando meu próprio tempo. Assim que sou o dono de meu tempo. E se entendi isto profundamente, então gostaria de tratar com “o que é” e terminar com ele de imediato. Não sei se estou comunicando algo.

W: Sim, significa que você se daria conta do “que é” em vez de desejar ser dominado pelos pensamentos acerca do que foi, ou o que poderia ser no futuro.

K: Dou toda a minha energia a isso.

W: Sim, a “o que é”... (longa pausa)... Mas então, quer dizer que o sofrimento é uma questão da memória e do passado?

K: Sim, isso é correto.

W: E estas recordações do passado lhe impedem de experimentar diretamente “o que é”?

K: Sim. E também se reconheço que sou o passado, o presente e o futuro, eu sou tudo isso, e ocorra o que ocorrer tenho que lidar com o que ocorre de imediato, não adia-lo, nem encontrar alguma desculpa e tudo mais. Penso que é melhor que paremos. Não? Continuemos?

W: Sim, só acabamos de começar, certo!

K: Ah, só começamos! ”... (longa pausa)... E também estávamos falando em Ojai, com o Dr. Bohm, o homem, os seres humanos teriam tomado o curso equivocado?  

W: Ele sempre tem tomado o curso equivocado!

K: E, portanto não há saída? Isso é “desesperante”, pensar nesses termos é impossível.

DB: Bem, é o mesmo que dizíamos esta manhã sobre o conhecimento. É dizer, o conhecimento é tempo.

K: O conhecimento é tempo.

DB: Porque é o passado que chega até o presente fazendo o futuro. É o mesmo, não ter tempo e conhecimento, para colocar fim na atividade do conhecimento. O conhecimento não é um conhecimento meramente abstrato, senão que é muito ativo, porque faz o tempo.

K: O pensamento é tempo. Pode o pensamento deter-se?... (longa pausa)... Devido ao pensamento ter criado toda esta bagunça, o pensamento tem inventado as guerras, tudo é inventado pelo pensamento.

DB: Claro, também o pensamento inventou todo tipo de coisas boas.

K: Claro, claro!  

DB: Queremos dizer que o pensamento chega a seu fim, o qual não quer dizer que as características úteis do pensamento se detenham.

K: Não, não, não! O pensamento tem seu lugar.

DB: Mas o pensamento dominante chega a seu fim, sim?

K: Não, quero dizer que o pensamento como tempo chega a seu fim.

DB: De que tipo de pensamentos acaba sem tempo?

K: Vacuidade.

DB: Isso também é pensamento?

K: Não.

DB: Mas eu queria dizer suponhamos, que você tem que pensar ao fazer algo.

K: Aí você tem que pensar.

DB: Mas, então o tempo entra quando você tem que pensar.

K: Sim, claro. Tenho um trabalho como cirurgião, ou o que quer que seja, e tenho que pensar. Isso é correto e necessário pensar aí. Mas estou questionando todo este tema de que o pensamento domine minha vida.

DB: Sim, pensado sobre si mesmo.

K: O pensar em si mesmo, pensar no futuro, pensar no passado, pensar em minha família, — pensando, pensando, pensando. O pensamento é limitado, minhas ações são limitadas, e, portanto, mais catástrofe e mais miséria. Assim que pergunto a mim mesmo, se o pensamento pode chegar a seu fim psicologicamente, internamente, mas externamente tenho que pensar, assim que podemos deixar isso de lado. Então,  o pensamento pode chegar completamente a seu fim? O pensamento é conhecimento, o pensamento é tempo, o pensamento é limitado, divisor, e o pensamento tem criado as guerras, e as igrejas, e as coisas dentro das igrejas e templos e todo o resto da mesma. Você vê que o pensamento é muito,  muito limitado e destrutivo.

DB: Esse tipo de pensamento.

K: temos dito isso. Então, pode o pensamento chegar a seu fim internamente? Isso significa: pode o conteúdo da consciência, que é o resultado do pensamento, pode o conteúdo ser apagado? O medo, a ansiedade, a angústia, todas as crenças, tudo isso é minha consciência. E isso é tempo. E estou pedindo: pode o tempo, pensamento, chegar a seu fim? Mas o pensamento como conhecimento na ocupação, nas profissões, na habilidade, é necessário. Não temos que voltar a isso, repeti-lo uma e outra vez.

W: Mas poderia incorporar esta questão que surge no tema da relação, entre duas pessoas? Então de ser assim: se o pensamento chega a seu fim há algum tipo de apreensão direta entre as pessoas, mas o pensamento ter chegado a seu fim no sentido de que não está dominado pela ideia do que esta pessoa fez antes, ou o que poderia fazer no futuro, senão uma apreensão direta de “o que é” nesse instante?

K: Agora, senhor, espere um momento. Minha mente — nossa mente, não vou dizer minha mente — a mente de você está falando, falando sem parar, lendo, todo o tempo tremendamente ativa a respeito de coisas triviais e grandes coisas. Estou perguntando se o pensamento tem seu lugar, por que deveria estar pensando no que seja? Entende minha pergunta? Por que deveria estar pensando sobre meu futuro, meu passado, ou sobre mim mesmo, por quê? Por que esta acumulação de conhecimento psicológica? Essa é realmente minha pergunta. O conhecimento físico, o conhecimento para atuar com destreza em algum campo, ali é necessário. Mas, é necessário o conhecimento interno?

W: Bem, me parece que o pensamento é parte de uma relação criativa, mas é só um componente em todo o assunto.

K: Sim, mas, o pensamento é amor?

W: Não, não é.

K: Portanto...

W: Mas me pergunto um pouco se o pensamento não entra algo no amor? Refiro-me a que está unido até certo ponto.

K: Não. Pergunto-me se o amor é pensamento.    

W: Não, certamente, não.

K: Portanto, é possível amar a outro sem o pensamento? Amar a alguém significa que não há pensamento. E se produz uma relação totalmente diferente, uma ação diferente.

W: Creio que pode haver uma grande quantidade de pensamento numa relação amorosa, mas o pensamento não é o primordial.

K: Não, quando há amor o pensamento pode ser usado, mas não o contrário.

W: Não ao inverso, sim. Um tem uma primazia sobre o outro. Considerando que o problema, o problema básico é que tende a ser ao contrário, somos como os computadores que estão sendo dirigidos por nossos programas... (longa pausa)... Creio que o que eu estava tratando de fazer a um minuto era que se você disse que somos nossas relações, eu estava tratando de incorporar o que disse sobre: pode o pensamento chegar a seu fim, na relação, e pensar que tipo de relação existe sem pensamento? Creio que era isso o que eu estava tratando de clarear.

K: Só há que ver o que ocorre sem pensamento. Tenho uma relação com meu irmão, ou minha esposa, e essa relação não se baseia no pensamento senão no fundo, profundamente no amor. E nesse amor, nesse sentimento, esse sentimento estranho, por que deveria pensar em absoluto?... (longa pausa)... O amor é compreensivo? E quando o pensamento entra nele é divisor, destrói a qualidade, sua beleza.

W: Mas é o amor compreensivo, não é onipresente e não compreensivo? Porque sustento que o amor não pode expressar-se adequadamente sem pensamento.

K: Compreensivo no sentido de integro. Quer dizer, o amor não é o oposto ao ódio.

W: Não.

K: Assim que em si mesmo não tem nenhum sentimento de dualidade.

W: Suponho que o amor é muito mais uma qualidade da relação, e uma qualidade do ser, que impregna.

K: Sim. Quando o pensamento entra nisso então me recordo de todas as coisas que ela disse, ou que ele fez, os problemas, as ansiedades, tudo isso se lança... (longa pausa)... Essa é uma de nossas grandes dificuldades, realmente não temos compreendido o sentido deste amor que não é possessivo, apego, ciúmes, ódio e tudo isso.

W: Não é ao amor uma espécie de grande conscientização de unidade?

K: O amor não tem consciência, é amor. Não é que seja consciente do amor e de que todos somos um. É como um perfume, é um perfume, não se pode direcionar o perfume, o analisar o perfume, é um perfume maravilhoso. E no momento em que o analisa o dissipará.  

W: Sim, mas creio que — de acordo com o que você disse que é um perfume, então é algo assim como uma qualidade, porém esta qualidade está associada com este sentido de unidade, não é certo, que este é um tipo de aspecto?

K: Mas você está lhe dando um significado.

W: Falo a respeito! Não estou tratando de precisar. Mas quero dizer, pode haver amor sem nenhuma consciência desta unidade?

K: É muito mais que isso.

W: Está bem, é mais que isso. Porém, pode existir ao menos esse sentimento de unidade que está aí?

K: Espere, espere um momento. Eu sou católico. E amo, sou compassivo. Pode haver compaixão, amor, quando existe esta profunda convicção arraigada, ideia, prejuízo? O amor deve existir com a liberdade — não a liberdade de fazer o que gosto, isso é uma idiotice. A liberdade de escolha e tudo isso não tem nenhum valor no que estamos falando, mas tem que haver uma total liberdade para amar.

W: Sim, bem, o que ia dizer é o que poderia dizer é um disparate, a Igreja Católica poderia ter um bom monte de amor, porém, tem limites em certas situações.

K: É claro, sim, é claro!

W: Mas é como seu ponto, se pode ter um ovo que é em parte ruim! Mas este sentimento de unidade é parte de todo o assunto, não?

K: Se temos amor há unidade.

W: Sim, está bem. Inevitavelmente. Isso me satisfaz. Estou de acordo com você em que tendo um sentimento de unidade não se acende o amor.

K: Não, não... Veja todas as religiões e as pessoas que são altamente religiosas, sempre tem convertido o amor e a devoção para um objeto em particular, ou uma ideia em particular, um símbolo. O amor não tem nenhum obstáculo. Esse é o ponto, senhor. Pode existir o amor quando o eu está? Claro que não!

W: Mas se você diz que o eu é uma imagem fixa, então o amor não pode existir com qualquer imagem fixa, com algo fixo, porque não tem limites.

K: Isso é correto, senhor.

W: Mas eu acho que em relação ao diálogo e um movimento entre duas mentes sem sentido de limite...

K: Ah!

W: e necessariamente fora do tempo, porque o tempo seria colocar um limite, então algo novo pode surgir.

K: Mas, podem duas mentes alguma vez se encontrarem? É como duas linhas de trem paralelas que nunca se encontram. É nossa relação com os demais, como ser humano, esposa e esposo, etc., é sempre paralelo, cada um perseguindo sua própria linha, e nunca se encontrando realmente, no sentido de verdadeiro amor pelo outro — o amor, incluso sem objeto.

W: Sim, bem, na prática, claro, sempre há certo grau de preparação porque...

K: Sim, isso é tudo o que estou dizendo.

W: Quero dizer que se a relação pode estar num nível diferente, então não há mais linhas separadas no espaço.

K: Claro, claro! Mas para chegar a esse nível parece quase impossível. Estou apegado a minha esposa. Eu digo que a amo. E ela se apega a mim. E isso é amor? Eu possuo-a, ela me possui, e gosto de ser possuído, etc, e todas as complicações da relação. E eu digo a ela, ou ela me diz: “Te amo”. E isso parece nos satisfazer. E me pergunto se isso é amor em absoluto.

W: Bem, faz com que a pessoa sinta consolo durante um tempo.

K: E conforto é amor? ... (longa pausa)...

W: Refiro-me a que é limitado e quando um dos cônjuges morre, o outro é miserável.

K: A solidão, as lágrimas, o sofrimento. Na realidade, deveríamos falar disto. Eu conheci um homem que para ele, o dinheiro era Deus. E tinha um montão de dinheiro. E quando estava morrendo queria olhar todas as coisas que possuía. E as possessões era ele. Morria das possessões externas, nas as possessões externas era ele mesmo. Não sei se estou... e ele não estava temeroso deste estado de chegar a seu fim, mas sim de perder isso. Não sei se estou transmitindo isto. Perder aquilo, não perder ele mesmo e encontrar algo novo. A morte não... — não devemos começar com a morte neste momento. Já chegaremos.

W: Bem, eu poderia fazer-lhe uma pergunta a respeito da morte? Que se passa com um homem que está morrendo e quer ver a todos as pessoas que tenha conhecido, a todos os seus amigos antes que morra, é isso um apego a estas relações?

K: Sim, isso é apego. Ele vai morrer e a morte é bastante solitária, é o clube mais exclusivo, a ação mais exclusiva. E nesse estado quero reunir-me — minha esposa, filhos, netos, porque sei que vou perdê-los todos e vou morrer, terminar. É uma coisa terrível. Outro dia vi a um homem que estava morrendo. E, senhor, nunca havia visto tanto medo em minha vida, na realidade, absolutamente temeroso de qualquer coisa que lhe termine. E eu disse: —o conhecia — lhe disse, “De que você tem medo?” Ele disse: “Tenho medo da separação de minha família, do dinheiro que tenho tido, das coisas que tenho feito. E isto, disse, “é minha família, os quero muito”. E tenho medo de perde-los.

W: Mas suponho que o homem pode querer ver a todos seus amigos e sua família para dizer...

K: Adeus muchachos. Esse é um assunto diferente. Nos reuniremos no outro lado!

W: É possível.

K: Eu conhecia a outro homem, senhor, é muito interessante, disse a sua família, o próximo ano, em janeiro, vou morrer em tal e tal data. E nessa data convidou a todos os seus amigos e sua família, disse: “Estou morrendo hoje”, e fez o testamento: “Por favor, deixam-me”. Todos eles foram saindo da residência, e ele morreu!

W: Sim, bem, se as relações com todas estas outras pessoas eram para ele e ia morrer, e ele gostaria de vê-los pela última vez, e agora se havia terminado — “estou morrendo, me morro”. Isso não é um apego.

K: Não, claro que não. E as consequências do apego é doloroso, ansioso, há certa sensação de angústia, de perder.

W: Insegurança constante, medo.

K: A insegurança e tudo o mais que se segue. E a isso eu chamo amor. Eu amor a minha esposa. E sei profundamente no interior, de todo o tormento deste apego, porém não posso soltá-lo.

W: Mas você toda via se sente com pena de que sua esposa esteja triste quando morra.

K: Oh, sim, isso é parte do jogo, parte de todo o assunto. E pronto se coloca em cima dele e se casa com outra pessoa, e continua o jogo.

W: Sim. Você poderia estar preocupado e temeroso da dor de outras pessoas.

K: Sim, senhor.

W: É de se supor que a aceitação da própria morte poderia reduzir sua dor.

K: Não. Está o sofrimento preso ao medo? Eu tenho medo da morte, tenho medo de acabar com minha carreira, com todas as coisas que tenho acumulado tanto física como internamente, tudo isso chega a seu fim. E o medo inventa então a reencarnação e todo o assunto. Então, pode realmente ser livre do medo da morte? O que significa, posso viver com a morte? Não interpretem mal isto. Eu não estou cometendo suicídio, senão, vivendo com ela, encantado com o final das coisas — o final de meu apego. Minha esposa toleraria se eu dissesse: “Terminou meu apego por você”?... Haveria angústia. Assim que estou questionando este conteúdo da consciência colocado ali pelo pensamento, e o pensamento predomina nossa vida, e digo a mim mesmo, o pensamento tem seu lugar, e só em seu lugar e não em outro. Por que deveria haver pensamento em minha relação com meu amigo, ou com minha esposa, ou alguma menina, por que deveria pensar nisso? Quando alguém diz: “Estou pensando em você”, soa um tanto tonto.

W: Bem, frequentemente tem que pensar nos demais, por razões práticas, claro.

K: Isso é outra coisa. Mas, estou dizendo, onde o amor está, por que existe o pensamento? O pensamento na relação é destrutivo. Há apego, possessão, se aferram um com o outro por consolo, por salvação, segurança, e tudo isso não é amor.

W: Não, mas como você disse o amor pode fazer uso do pensamento, e é ao que você chama atenção na relação.

K: Isso é outra coisa, sim, sim. Olhe: eu estou preso a você, estou apegado a minha esposa, ou meu marido, ou o que seja, ou a um móvel. Eu amo a minha esposa nesse apego, e as consequências disso são incalculavelmente danosas. E posso amar minha esposa, sem apego? O maravilhoso que é, amar a alguém sem querer nada de você.

W: Essa é uma grande liberdade.

K: Sim, senhor, assim que o amor é liberdade.

W: Mas, o que lhe parece se dizemos que se há amor entre esposo e esposa, logo, se um morre, parece estar dando a entender que o outro não teria dor. Creio que talvez é correto.

K: Creio que sim. Assim é, senhor.

W: Poderia transcender a dor.

K: A dor é pensamento. A dor é uma emoção, a dor é um choque, a dor é um sentimento de perda; o sentimento de perder a alguém e de repente encontrar-se a si mesmo completamente desolado e solitário.

W: Sim. Você se refere a um estado de solidão que é contrário a natureza, por assim dizê-lo?

K: Então, se eu pudesse entender a natureza de finalizar, terminar com algo todo o tempo — terminar minha ambição, colocando fim ao que seja, terminar com a dor, acabar com o medo, colocar fim à complexidade do desejo e termina-lo, o qual é a morte.
W: Sim, mas creio que os cristãos costumavam falar a respeito de que é necessário morrer todos os dias.

K: Isso é correto.

W: A mesma ideia.

K: necessário morrer cada dia para tudo que psicologicamente tenha reunido.

W: E todo o mundo está de acordo em que a morte é liberdade.

K: isso é verdadeira liberdade.

W: Não há dificuldade em apreciar isto. Quer dizer que você quer transpor essa liberdade suprema em toda a vida?

K: Sim, senhor. Senão somos escravos. Escravos da escolha, escravos de tudo.

W: Não donos do tempo senão escravos do tempo.

K: Escravos do tempo, sim.

W: Tenho estado interessado neste tema em particular da morte, já que meu pai estava morrendo e o observamos.

K: Pobre homem.

W: Creio que é um homem afortunado. Tem sido toda uma educação.
K: Uma vez me convidaram para uma casa onde o pai estava morrendo, e a família me pediu para que fosse vê-lo. Senhor, era incrível. Aferrou-se a vida como se... Aferrou-se a vida, com tanta ansiedade, com tanto temor; e ele estava morrendo; morreu no dia seguinte, aferrando-se a tudo que tinha.

W: E suponho que sua morte era uma espécie de... Resume de toda sua vida.

K: Toda sua vida, sim.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill