Interrogante: Quando estou
escutando o que aqui se diz, sinto-me muito vivo e sensível; mas, quando me vou,
a sós ou quando me acho em casa, essa sensibilidade desaparece.
Krishnamurti: Se só tendes
sensibilidade enquanto aqui vos achais, nesse caso estais sendo influenciado, e
isso nenhum valor tem. O que estais ouvindo é, então, mera propaganda e, por
conseguinte, deveis evitá-lo, rejeitá-lo, destruí-lo, pois é assim que se criam
os Mestres, os instrutores, as autoridades. Mas se, ouvindo-me falar,
estivestes cônscio de vossas próprias reações, a cada minuto, acompanhando o
que estivemos dizendo durante mais de uma hora; se estivesses atento não só às
palavras do orador, mas também aos movimentos de vosso próprio pensamento e
sentimento, então, ao sairdes daqui, sozinho, conhecereis o estado de vossa
mente e nunca vos deixareis colher cegamente em suas redes.
Pergunta: Não achais que o desejo
de libertação é, em parte, a causa de nosso condicionamento?
Krishnamurti: Naturalmente senhor
o desejo de nos libertarmos do condicionamento só pode favorecer o
condicionamento. Mas se, em lugar de tentarmos reprimir o desejo,
compreendermos o seu inteiro "processo", então, nessa própria
compreensão, surge a liberdade, a libertação do condicionamento. A libertação
do condicionamento não é um resultado direto. Compreendeis? Se me aplico
deliberadamente a livrar-me de meu condicionamento, esse próprio desejo cria
seu peculiar condicionamento. Posso destruir uma forma de condicionamento, mas
fico enredado noutra. Já se houver compreensão do próprio desejo — inclusive,
também, o desejo de libertação — então, essa mesma compreensão destrói
completamente o condicionamento. A libertação do condicionamento é um resultado
acessório, e sem importância. O importante é compreender o que cria o
condicionamento.
Krishnmurti – 23 de julho de 1963