Estamos
aqui com esse tema: "O que acontecerá se eu não me ajustar à
sociedade?"... Então, estou vendo vários confrades, naquelas dores
iniciais da desabituação com os condicionamentos sociais. Vocês sabem
qual é o "melô" do confrade que está tentando sair da sociedade? Quando
fica se lembrando da sociedade? Olha só:
"Não é fácil não pensar em você,
não é fácil, é estranho
não te contar meus planos,
não te encontrar...
na verdade eu preciso aprender...
não é fácil,
não é fácil!".
[...]
Acho que eu seria mais felizes
do que qualquer mortal"
...
Seu eu voltasse pra sociedade!... Olha o que o "cabeção" faz! Não é
fácil não pensar nas coisas da sociedade, não pensar nos prazeres, não
é? Não ter aquele monte de memória eufórica, aquelas "nuvens cor de
rosa"... Nessas horas em que batem essas angústias, em que batem essas
ideias, em que você começa a sentir pela primeira vez que você realmente
é solitário; porque antes era um agrupado de solitários, sem que
percebessem que eram solitários; porque tinha tanta droga, tanto
anestésico que a gente nem percebe, não é? Mas quando começa a bater
essas coisas e a gente vai ficando meio "down", a mente só lembra das
coisas eufórica, ela não traz para você, aquelas situações em que você
estava no meio da sociedade achando tudo "um saco!" Sabe? Em que você
estava querendo gritar para todo mundo: “Mas será que vocês não têm
outra coisa para falar? Vocês vão contar mesmas estórias, as mesmas
piadas? Vão olhar as mesmas fotos que já vimos antes? Vão ser as mesmas
músicas, as mesmas festas?"... Sabem? Vocês não tiveram isso? Aí a gente
tem que meter aquele sorriso amarelo, fazer um esforço violento e ficar
disfarçando, olhando no relógio, pra ver que horas que vai terminar o
encontro, que horas que dá pra sair, esperando alguém levantar para,
juntos, sair rapidinho; não ser o primeiro a quebrar o protocolo. Isso
quando você não é o anfitrião da casa, quando você convida todo o mundo
pra vir à sua casa, para quebrar sua solidão e aí, quando eles chegam,
você diz pra si mesmo: "O que é que eu fiz?... Ainda é meio-dia e o
pessoal só vai sair daqui lá paras às oito horas da noite!... Como
aguentarei isso?”... E dá-lhe cachaça! Não é mesmo?... Dá-lhe
cerveja!... Dá-lhe churrasco!... Dá-lhe sobremesa!... Põe alguma coisa
em cima da mesa, porque, de genuína intimidade, não rola nada, não é?
Então,
a mente adquirida, ela não se lembra de nada disso! Ela não se lembra
dessas roubadas! O pessoal não bebe porque gosta de beber, mas, para
aguentar! Tem que dar uma narcotizada; senão, não dá, não é? Então a
mente, ela não se lembra de nada disso quando está tentando sair da
sociedade... Só se lembra da memória eufórica! Ela não se lembra das
coisas que vinham depois de se entregar pra memória eufórica! Sabe?
Aquelas que ecoavam assim: “O que é que estou fazendo aqui? Quem que é
essa fulana aqui ao meu lado? Não sei nem seu nome! Espera aí!” Não é
nada disso, não é? Ou então aquelas coisas do tipo: você fica louco pra
comprar; sofre pra caramba! Quando você sai com o "carnezinho" na mão ou
quando chega a fatura em casa é que caí a ficha: "O que é que eu fiz?"
Não é mesmo? "O que é que eu fiz?"... O sistema aboliu as algemas de
ferro, mas incorporou, agora, as algemas com chip; as algemas agora são
todas com chip eletrônico... Um chipzinho com os protocolos e agora é
tudo por e-mail... Sua penas — as faturas — agora chegam à você por
e-mail. Só que a mente adquirida não percebe nada disso!
Mas é interessante o seguinte: esse paradigma aqui, vocês já ouviram aquele ditado...
"Este paradigma
em testa dura,
tanto o bate
que desestrutura"...
É
um paradigma que bate nessa testa dura, bate, bate, bate, até que
desestrutura, não é? E aí, conforme desestruturou, é como vaso de
porcelana, não é? Quebrou, não adianta querer colar! Não tem mais jeito!
Não dá, não é? Pode colar, mas qualquer esbarrãozinho que tiver, quebra
de novo! Não dá mais! Quebrou a liga! Tem vários filmes aí que vão
mostrando isso; a gente aqui nessa confraria, a gente fala e faz muito
uso dos filmes também. A partir do momento que você viu, não tem como
voltar! Assistiram "O Show de Truman"?... Na hora que se percebe o show,
esquece! Não tem mais como! Não tem! Não é?... Matrix, Revolver... É
como Einstein dizia: “Quando uma mente se abre pra uma ideia, nunca mais
volta ser do mesmo tamanho; não volta mais a ser a mesma!”... O filme
"A Origem"... Como é que começa o filme?... "Uma ideia! Nada é mais
perigoso do que uma ideia!”... Quando uma ideia... Não tem nada pior do
que uma ideia! Quando ela se instala... Agora, quando se trata da
Verdade, aí sim que o negócio fica difícil! Não é? A ideia — que é
condicionamento, que é pensamento psicológico —, pra tirar é bem
difícil; é muito difícil mesmo; pra arrancar essa ideia, não é "melzinho
na chupeta"! Agora, quando bate a Verdade, quando se vê a Verdade
mesmo, o negócio cai, cai e cai por completo; não fica nada mesmo! E não
tem como compactuar! Se você vê a Verdade, e tenta burla-la, ela te
mata, não é? Lá nos "grupos anônimos", principalmente
no A/A, eles costumam a falar mais ou menos assim: "Quem ouviu a
mensagem — quem ouviu mesmo —, quem escuto mesmo, visceralmente, que deixou entrar,
que
deixou a mensagem ir lá no fundo, esse pode até ir embora, pode não
voltar mais, no entanto, nunca mais voltará a beber sossegado!"... Nunca
mais! E isto também é verdade no que diz respeito a este paradigma!
Quando você percebeu mesmo; se ficar um tempinho exposto aqui, a esta
troca de figurinhas sem colar, não tem mais como!... É por isso que a
maioria vai embora! Porque assim: esse paradigma aqui, você vai lendo
sem perceber que ele vai batendo por baixo; ele vai minando por baixo,
sem você perceber!... Ele não vai fazendo estrago em cima não! Ele vai
minando todas as velhas bases adquiridas; daqui a pouco, quando menos se
espera, toda estrutura vem ao chão! Na hora que cai, todo mundo fica
desesperado... Porque essa mente adquirida é viciada em segurança; ela
quer estar segurando em alguma coisa. Então,
como estratégia defensiva, a mente adquirida começa a tentar minar, a
quebrar tudo. E têm vários confrades que não aguentam; — não aguentam
ser verdadeiros consigo mesmo — não é com o outro!... Não aguentam ser
verdadeiros consigo mesmo! Não aguenta reparar nas suas desconfortantes
zonas de conforto! Mas é isso: não é nada fácil mesmo; sabemos que não é
fácil, pois já passamos por isso na pele.
Essa
aqui é a trilha menos percorrida, sair desses condicionamentos sociais,
isso aí não é fácil! Tudo que está atrelado ao sistema, acaba por
dificultar, por criar resistência. Porque foram tantos anos, foram
tantas décadas, e se desidentificar não é fácil! Por isso que a gente
vem falando através dos áudios; subimos um, esta semana, que retrata a
importância do colapsar: enquanto não tem esse colapsar aí, fica muito
difícil de querer assumir mesmo a busca da verdade, não é? Só a verdade
mesmo! Só a verdade, apenas a verdade! A grande maioria não consegue
ficar; não ficam nessa sala aqui, não ficam com esse paradigma, porque
ele arrancando tudo, ele não dá nada! Vai arrancado tudo e o medo vem,
não é? O medo de abrir mão das zonas de conforto, profundamente
desconfortantes, profundamente estagnantes, faz com que muitos saiam
correndo! Faz com que se consiga uma meia-desculpa para sair correndo,
criando intrigas, falando mal do paradigma, falando mal de tudo...
Transformando esse grupo, essa confraria aqui em inimigos externos... A
mente adquirida precisa criar isso! É uma de suas nefastas habilidades,
com a qual se escuda pra não correr o risco de se deparar com sua irreal
realidade; é por isso que ela está sempre em busca de "inimigos
externos"; ela cria um inimigo externo pra depois criar uma
justificativa para, de algum modo, buscar por engajamento numa forma
qualquer de militância. Esse é um dos padrões dessa mente adquirida,
dessa mente social adquirida: a fuga de si mesmo através do engajamento
numa forma de militância. Então, têm um monte de militância: a
militância política, a militância vegana, a militância das sociedades
protetoras dos animais, a militância contra a Nova Ordem Mundial... Tudo
isso para estar ocupada e não ter tempo para perceber sua própria
desordem com a qual alimenta a milenar desordem social. Têm um monte de
forma de escapismo, socialmente aceito e incentivado; tudo muito
bacana... Mas apenas, bacaninha! Bacaninha porque nos distraí da “única
coisa necessária"... A única coisa necessária! Que é achar essa "cara
que eu tinha... Essa cara que eu tinha, antes de que se passarem esses
anos aí, e eu ficar deste tamanho!", como foi muito bem cantado na música de Arnaldo Antunes e do Nando Reis, a qual ouvimos hoje...
Encontrar
essa cara que tínhamos, antes desses condicionamentos sociais aí,
alterarem nosso "Sopro", alterarem nosso "Ritmo", criarem essa disritmia
do Ser que somos e que a tudo contamina, que a tudo adultera! É isso é
"a única coisa!" É "a única coisa"; não adianta! Sem encontrar isso, sem
retomar esse "Sopro", sem retomar esse ritmo natural, sem retomar esse
contato consciente com a "Consciência que somos", como que — em estado
dormente, inconsciente — é possível se fazer algo que realmente seja
benéfico, aí na sociedade? Diz pra mim! É
só conflito por onde você for! É bacaninha só nas primeiras páginas,
não é? Até ter a primeira riscadinha no ego... Aí, daqui a pouco, já se
arruma outro inimigo externo, lá mesmo no lugar da recente militância.
Por isso que os partidos políticos têm o nome de "Partido"... Se fosse
bom não era partido, era inteiro! Mas é tudo partido, porque a própria
base já é partida, não é? Está tudo aí pra gente ver, só que a gente
está com os olhos fechados, não é? É aquela cena do "Matrix", em que o
"Neo" está deitado na cama, e se vira para o "Morpheus" e diz: "Por que a
minha vista está doendo?" E Morpheus lhe responde com muita propriedade
de visão: "Porque você nunca as usou antes!"... Nunca os usou antes! Em
nossa arrogante rebeldia adolescente, pensávamos que estávamos vendo
alguma coisa! Então, não é fácil mesmo, abrir os olhos! Não é fácil se
deparar com todas as nossas relações e perceber o grande investimento
furado que fizemos durante anos... Não é fácil fazer reparações diretas
dos danos causados devido essa inconsequente e inconsciente
identificação ilusória com o pensamento psicológico social; com todas
suas exigências descabidas, tanto de si, como dos demais. Não é
fácil!... Só mesmo homem e mulher de "saco roxo"! Só quem realmente
"colapsou"; quem já não tem mais escolha. Quem ainda tem escolha, quem
ainda está se achando no direito de escolher a cor da boia, ainda
não está se afogando, não é mesmo? Ainda não colapsou! Então, terá que
ir lá pra fora, fazer mais um cursinho de pós-graduação de "pensamentose
crônica"; torcer para não arrumar uma neurose crônica, uma psicose, uma
esclerose, sei lá outra "Ose"! qualquer! Quem sabe, se der tempo,
consiga olhar para o que esses poetas estão falando; têm um monte de
poeta que tentam deixar aí pelo caminho menos percorrido, alguns de seus
toques!
Vá
pegar a única coisa necessária! Vá descobrir quem é você! Você não é
esse monte de falas aí do seu pai, da sua mãe, dos seus professores, dos
seus amigos, dos seus casos, não é? Das suas conquistas, das suas
derrotas... Nada disso, não é?
Não, você não é esse pacotinho todo aí! Não é nada disso!... Vai lá dar
uma olhada no que realmente é! Se der tempo, volta, não é? Não é pra
aqui! Volta pra isso que você é, volta pra essa realidade aí; volta pra
essa realidade! Caso contrário, será que nem cantava Elis Regina:
"Você pensa que é diferente,
mas no fundo, você é igual aos seus pais!"...
Vai acabar sendo mais um adulto, adulterado, adulterando a realidade dos que estão os olhos mais fechadinhos do que você!