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segunda-feira, 14 de abril de 2014

O mestre é necessário?

O que é que as tradições espirituais da humanidade nos dizem a esse respeito? Algumas tradições espirituais da humanidade nos dizem que o mestre é necessário, e outras dizem que não.

Eis algumas citações:
  • Não sigas pelo caminho sozinho, porque poderias perder-te.
  • Não conseguimos nos ver com os nossos próprios olhos. 
  • Tens necessidade de outro para te conheceres a ti próprio. 
  • Se não escolheres um mestre, é Satanás quem o será (Arabi)
Alguns dirão usando outras palavras: o ego será teu mestre. Fiar-se no seu próprio juízo é fiar-se no seu ego. Nesse caso corremos no risco de cair numa auto-ilusão. Podemos, por exemplo, ler os textos sagrados segundo as nossas interpretações. Há, portanto, certas tradições onde se insiste sobre esta necessidade de termos alguém que nos acompanhe no caminho, mas outras dirão que um mestre é necessário. 

O grande místico do islã, Rumi, disse uma vez, referindo-se ao seu mestre: "É ele a verdade, a essência de toda a verdade, é ele o mistério de todas as religiões, a boca de todas as certezas". 

Encontramos algo semelhante na Índia, na devoção prestada ao guru, porque é através dele que a verdade nos é transmitida. 

Todavia, o mesmo Rumi, diz em outra ocasião: "Purifica-te dos atributos do eu, de modo que possas contemplar tua própria essência na sua pureza, e contempla no teu coração todas as ciências dos profetas, sem livros, professores, sem mestre"

O objetivo é despertar em nós a essência da vida. O objetivo do mestre exterior é nos despertar para essa presença.
Na epístola de São João está escrito: "Não precisais mais que vos ensinem, o Espírito Santo é quem vos ensinará todas as coisas"

O mestre está no nosso interior e é a ele que devemos escutar, não uma lei exterior. 

Uma vez, um dos alunos de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe: "Se o papa me disser para fazer determinada coisa e minha consciência me disser para fazer outra coisa, a quem devo obedecer?"

Santo Tomás de Aquino, doutor da Igreja Romana, responde: "Escuta a voz da consciência e procura esclarecê-la e iluminá-la". Isto pode surpreender, mas são palavras cheias de bom-senso e de psicologia, porque, se ele tivesse dito para ouvir e obedecer ao papa, isso faria com que seu aluno se tornasse um pouco hipócrita ou adoecesse, quem sabe até de esquizofrenia. Ou seja, quando fazemos aquilo que a autoridade nos diz e no nosso interior pensamos outra coisa, cria-se uma divisão dentro de nós que está na origem do mal-estar e da doença. Mas São Tomás de Aquino diz: 
Escuta a voz da tua consciência. Não mintas a ti próprio, mas procura esclarecer-te, e é possível que, ao esclareceres a tua consciência, descubras que aquilo que o papa dizia não era completamente idiota. Mas isso virá de ti mesmo.
Isto é interessante para o nosso discernimento, pois no lugar do papa poderíamos ter qualquer outra autoridade, a quem atribuíssemos a sabedoria ou a verdade. Poderia ser um livro, os nossos pais ou alguém que conhecemos. Mas, em um determinado momento, deixamos de estar de acordo e, nessa ocasião, é importante escutar a voz da consciência. 

Podemos sempre nos enganar, mas em algum momento nas nossas vidas já não podemos mentir a nós mesmos. É nessa ocasião que desperta em nós o mestre interior. Posso me enganar e até cometer erros até o fim da minha vida, mas não posso mais mentir a mim mesmo, isso faria com que eu adoecesse. Esse é o sinal que estamos, de fato, conectados com o nosso mestre interior. 

Quem é o meu mestre interior, quem tem autoridade sobre mim? 

É importante sabermos que não devemos dar a nossa liberdade a qualquer pessoa, devemos dá-la apenas a quem nos torne mais livres, mais verdadeiros. 

Por isso algumas tradições nos dizem: "Melhor é seguir a sua própria lei, mesmo que imperfeitamente, do que a lei de um outro, mesmo que executada de modo perfeito" — essas são palavras do Bhagavad Gita

Diz-se também que um caminho espiritual não deve servir senão uma vez e para uma só alma — ninguém passará por ali mais uma vez, nas mesmas condições. 

Não se trata de uma religião individual, mas de maneiras individuais de chegar ao Absoluto. 

Um verdadeiro mestre espiritual nunca impõe a ninguém o seu modo de estabelecer uma relação com o Absoluto. Ele ajuda-nos a descobrir a nossa própria maneira de entrarmos em relação com o Absoluto. 

[...]Na tradição tibetana, mas também em outras tradições, o mestre pode ser, numa primeira fase, um professor... É uma relação de um aluno para com um professor, de alguém que aprende com alguém que sabe mais do que ele e que lhe transmite os seus conhecimentos. É um primeiro nível de relação. 

No segundo nível de relação, o mestre não é apenas um professor, mas um amigo. Aquele a quem se chama o amigo espiritual, que nos acompanha no caminho e que não nos transmite apenas conhecimentos, mas nos transmite também o seu coração, a sua afetividade. 

O meu mestre não é apenas um sábio, ele é alguém com quem tenho uma relação de intimidade, que me conhece e que vai adaptar o seu ensinamento à situação a que me encontro. 

E posso ter a certeza de que aquilo que ele procura não é apenas agradar-me, mas o meu despertar, a minha libertação. 

É por isso que esta amizade pode, por vezes, ser muito exigente. O amor não é complacência. Aquilo que queremos transmitir não é uma felicidade ou um prazer qualquer, mas a libertação interior, é participar na bem-aventurança. 

O terceiro nível de relação é aquele em que o mestre é considerado não apenas com um professor, ou como um amigo que nos acompanha no caminho, mas como alguém que nos transmite uma iniciação. Ele é um elo de uma linhagem iniciática que faz com que entremos numa cadeia. Em todas as grandes tradições espirituais, o mestre é aquele que transmite uma iniciação, que nos inscreve numa linhagem. Isso faz com que a minha prática não seja apenas a "minha" prática, mas a prática de todos aqueles que me precederam, a energia e a bênção de todos que me precederam e praticaram esse caminho estão presentes. Nessas circunstâncias poderíamos dizer que o mestre não transmite ensinamentos pessoais, mas é a tradição que é transmitida por seu intermédio, para além da sua individualidade. A sua pessoa apaga-se diante da sua função. [...]

Jean-Yves Leloup — O Anjo Como Mestre Interior

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill