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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que é uma Mente Saudável?


J.Krishnamurti - A Natureza da Mente 4 - "O que é uma Mente Saudável"

Baraka - Full HD

terça-feira, 30 de outubro de 2012

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O demônio

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Como promover a essencial mudança radical em nós mesmos?

Dissemos outro dia que se faz necessária uma revolução radical, não só na estrutura da sociedade, mas também psicologicamente. Há uma necessidade de uma total mutação interior, de uma revolução no ser psicológico.


Vemos a sociedade mergulhada numa terrível desordem, baseada que está na avidez, na inveja, no poder, na posição, etc. E nós, entes humanos, componentes da sociedade vemo-nos também em desordem. Porque a vida do ente humano em geral — a rotina diária, o diário tormento de ganhar o sustento — terrível solidão e tédio, interminável repetição — pouco significa. Para dar significado e sentido à vida, inventaram os intelectuais, em todo o mundo, no Ocidente e no Oriente, filosofias e religiões; disseram: “Existe Deus; há um certo estado mental que devemos esforçar-nos para alcançar”. Também um grande número de filósofos têm dito coisas sem nenhuma relação com a vida. Tem-se tentado dar-lhe significado, porém, na realidade — não intelectual ou idealmente considerada — a vida, tal como é, tal como a conhecemos diariamente, é na verdade absolutamente sem significação. Sem significação, não só porque nós, entes humanos, nos achamos num estado de desordem, mas porque nossa vida é toda de repetição. Passamos anos inteiros num escritório — quarenta ou cinquenta — a executar incessantemente coisas desinteressantes e, é bem de ver, interiormente a desordem é cada vez maior. Exteriormente, tem-se tentado estabelecer a ordem mediante a legislação, mediante a ditadura sob várias formas, mediante o controle da mente e do comportamento humano — criando-se, no exterior, politicamente, economicamente, um simulacro de ordem, enquanto interiormente, nenhuma ordem existe. A ordem implica — não é verdade? — um estado inteiramente livre de conflito; um estado mental lúcido, livre de toda rotina; um estado mental não condicionado por inclinações ou tendências pessoais ou compelido por influências externas, ambientes. E essa ordem — assim me parece — deve nascer sem esforço algum de nossa parte; ela não pode ser produzida pela vontade, pelo empenho, no terreno dos conceitos e das ideias. Em nossa mente confusa, em nossa aflição, em nossa infinita solidão e conflito, tal esforço não pode, de modo nenhum, criar a ordem, porém, tão-só, aumentar a confusão.

Que fazer? Que deve fazer um ente humano, ao compreender que está confuso, incerto, vivendo uma vida de rotina, de imitação, de ajustamento a um padrão estabelecido pela sociedade de que faz parte, e percebendo a um só tempo a necessidade de ordem dentro de si mesmo? Se não há ordem interior, por maior que seja a ordem exterior, a desordem interior superará o simulacro de ordem externa. Isso me parece bastante claro. Assim, como estabelecer ordem nós mesmos?

Ordem significa um estado mental em que não há contradição e, portanto, nenhum conflito. Isso não implica estagnação ou declínio. A ordem que obedece a uma fórmula, a um ideal ou conceito é, simplesmente, desordem. Se um ente humano se ajusta a um padrão de pensamento — uma certa coisa ideal que ele deveria ser — nesse caso está meramente a imitar, a ajustar-se, a disciplinar-se, a forçar-se, a fim de adaptar-se a um molde. Assim fazendo (como na vida em sociedade vem sendo forçado a fazer há séculos e séculos, porquanto a sociedade trata sempre de controla-lo mediante diferentes sansões religiosas, leis, etc.), nesse caso, naturalmente, está sempre a produzir-se uma grande desordem. Essa me parece ser a razão básica da revolta que atualmente se observa em todo o mundo. As gerações mais novas estão tratando de lançar fora as ideias, os deuses, as normas de conduta da geração mais velha; tudo isso está sendo posto de lado; estão em revolta contra a sociedade, contra a ordem estabelecida. E, todavia, a ordem que estão buscando irá estabilizar-se, pouco a pouco, num padrão e, por conseguinte, criará a desordem neles próprios.

O problema, portanto, é este: Como promover a mudança radical? Essa é uma necessidade essencial e óbvia. Se existe um motivo para a mudança, nesse caso a pessoa está agrilhoada ou escravizada ao passado, uma vez que todos os motivos procedem do fundo de condicionamento de cada um.

Espero que, juntos, possamos examinar a fundo esta matéria. Se estais apenas a ouvir intelectual, emocional ou verbalmente, nesse caso não estamos trabalhando juntos; estais apenas a ouvir algumas séries de ideias e a concordar ou discordar — e isso tem muito pouco valor. Mas se, realmente, pudermos, todos juntos, penetrar este problema, destrinchá-lo de fato, vive-lo, nesse próprio ato de escutar poderá operar-se a revolução radical, psicológica.

Todos estamos de acordo (pelo menos intelectualmente) quanto a necessidade de uma mudança em toda a estrutura mental, no ser inteiro. Nesse sentido temos tentado vários meios: disciplina, ajustamento, obediência, seguir; ou temos aceito a vida tal qual é e tratado de vive-la a pleno; e, se temos certas capacidades, dinheiro, ao chegar a morte dizemos que vivemos uma boa vida e agora é chegado o fim dela. Podemos perceber que, para viver, necessita-se ordem — porque sem ordem não há paz — mas a ordem que se cria mediante a identificação do indivíduo com um conceito, uma ideia, uma fórmula, só produz isolamento. Embora a pessoa possa identificar-se com uma coisa tal o nacionalismo ou uma ideia de Deus, essa identificação causa separação e conflito. Por conseguinte, o identificar-nos com uma ideia, um conceito, não efetua nenhuma mudança radical.

Exteriormente, estão-se verificando enormes mudanças tecnológicas, porém, interiormente, continuo o mesmo que sou há séculos — em conflito, aflição, a batalhar comigo mesmo e com os outros; minha vida é um campo de batalha, todas as minhas relações baseiam-se em imagens formadas pelo pensamento. Sendo a vida um campo de batalha, desejo alterá-la, porque vejo que nenhuma possibilidade tenho de viver em paz, dentro de mim mesmo, ou com a sociedade, ou com meu semelhante, a menos que haja perfeita ordem, quer dizer, liberdade perfeita. A ordem só pode tornar-se existente quando há liberdade; e não é possível a liberdade pela escravização a uma ideia, ou a aceitação de uma certa teologia, ou o ajustamento a um certo padrão, imposto pela sociedade ou por mim próprio. Que devo fazer, então? Não sei se já refletistes a esse respeito; se o fizestes, deveis ter percebido que se trata realmente de um problema formidável. Que devo fazer, eu, um ente humano condicionado por milhões de anos, dotado de um cérebro que só funciona por padrões de autoconservação (autoconservação que leva cada vez mais ao isolamento e, portanto, a mais e mais conflito), que devo fazer? Percebendo todo este campo de batalha em que, como ente humano, estou vivendo, atormentado pelo medo, pelo sentimento de “culpa”, pelo desespero; apegado às memórias do passado; temendo morrer; vivendo numa semi-obscuridade, embora suficientemente engenhoso para inventar teorias de toda espécie; trabalhando, escrevendo livros, explicando, fazendo tudo o que em geral fazem os entes humanos — percebendo tudo isso, não como ideia, não como coisa existente fora de mim, porém, vendo realmente que essa é minha vida, que devo fazer? Como mudar toda estrutura psicológica de minha existência?

Se este é um problema que vos concerne tanto quanto concerne ao orador (não é propriamente um problema meu, mas estamos explorando juntos), que devemos fazer? É claro que não pode mais haver autoridade alguma, pois ninguém pode dizer-nos o que devemos fazer — nenhum sacerdote, nenhum teólogo, nenhum guru, nenhum livro, nenhum agente externo pode dizer-nos o que devemos fazer. Tudo isso já tentamos e não tem significação alguma, nem nunca a teve. Uma vez que não pode haver nenhuma autoridade, tenho de depender totalmente de mim mesmo. Entretanto, esse “eu mesmo” é uma entidade confusa. Quanto mais rejeito todo e qualquer agente externo que me prometa uma mudança dentro de mim mesmo — sanções, leis que me obrigam a fazer isto ou aquilo — quanto mais rejeito tudo isso, tanto mais cônscio me torno do enorme problema de “mim mesmo” — um ente confuso, incerto, ignorante. E, ao tornar-me cônscio disso, há mais medo, mais desespero e, como reação, uma reversão às condições anteriores, isto é, trato de ingressar em organizações políticas ou religiosas; se eu era católico, torno-me protestante; se era protestante, trato de seguir o Zen ou de adotar outra espécie de distração. E o problema fundamental fica sem solução.

Eis, pois a situação. Rejeitamos totalmente a autoridade externa — se a temos — percebendo que essa autoridade é uma das causas da desordem. Vemos que estivemos seguindo um certo “instrutor”, filósofo, salvador, e que o seguíamos por medo e não por amor. Se tivéssemos amor, não seguiríamos ninguém; o amor não obedece, o amor não conhece dever e responsabilidade. Uma pessoa segue, aceita, obedece, essencialmente porque tem medo — medo de não alcançar os seus fins, de errar o caminho, etc. — há dúzias de formas de medo. Interiormente, é dificílimo rejeitar a autoridade — a autoridade de outrem e também a autoridade de nossos próprios conceitos, de nossa passada experiência. Relativamente fácil é rejeitar a autoridade da sociedade; os monges o têm feito de várias maneiras e a moderna “geração mais nova” o está fazendo de diferente maneira. Mas, o livrar-nos da autoridade de nosso próprio condicionamento, de nossas experiências, da autoridade do passado é sobremodo importante, é essencial, porque é ela que gera a autoridade externa, e também o medo, dado o nosso desejo de certeza, segurança, proteção.

Assim, o libertar-nos do passado, que significa libertar-nos do medo, do medo psicológico, é, sem dúvida, o primeiro requisito da ordem. Podemos ficar totalmente livres do temor, tanto no nível consciente como no inconsciente?

Krishnamurti – 20 de abril de 1967 - A essência da Maturidade – Ed. ICK – pág. 20 à 24

Moralidade

Bodhidharma... transcende em muito os moralistas, os puritanos, as assim chamadas "boas pessoas", os "fazedores do bem".

Ele chegou à verdadeira raiz do problema. A menos que a consciência desperte em você, toda a sua moralidade é falsa, toda a sua cultura é apenas uma camada muito fina que pode ser destruída por qualquer um.

Mas, uma vez que a sua moralidade seja fruto da sua consciência, não de uma certa disciplina, então, é coisa inteiramente diferente.

Nessa condição, você responderá a cada situação a partir da sua consciência. E o que quer que você faça será bom.

A consciência não é capaz de fazer nada que seja ruim. Esta é a beleza suprema da consciência: qualquer coisa que surja dela é simplesmente bela, simplesmente correta, e isso sem nenhum esforço, sem nenhum treinamento.

Assim, em vez de podar folhas e galhos, corte a raiz. E para cortar a raiz, não existe caminho alternativo além de um único método: o método de manter-se alerta, de estar percebendo o que acontece, de estar consciente.

Osho, em "O Taro Zen, de Osho: O Jogo Transcendent do Zen"

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O que devo fazer neste mundo?

A compreensão de nós mesmos é o despertar e o fim do medo

Existe o medo. O medo nunca é uma realidade: ele vem sempre antes ou depois do presente ativo. Quando há medo no presente ativo, será isso medo? Ele está ali e não há como fugir dele, não há como escapar. Ali, no momento presente, há atenção total ao momento de perigo, físico ou psicológico. Quando existe uma atenção total não existe medo. Mas o próprio fato da desatenção gera o medo; o medo surge quando existe a evitação do fato, uma fuga; então, a fuga é, ela própria, o medo.

O medo em suas diversas formas — culpa, ansiedade, esperança, desespero — está presente em cada movimento do relacionamento; ele está presente em cada busca de segurança; ele está presente na ambição e no sucesso; está presente na vida e na morte; está presente nas coisas físicas e nos fatores psicológicos. Existe o medo em muitas formas diferentes e em todos os níveis da nossa consciência. A defesa, a resistência e a negação nascem do medo. Medo do escuro e medo da luz; medo de ir e medo de vir. O medo começa e termina com o desejo de segurança, de ter segurança interior e exterior, com o desejo de ter certeza, de ter permanência. A continuidade da permanência é procurada em todas as direções, na virtude, no relacionamento, na ação, na experiência, no conhecimento, nas coisas exteriores e nas interiores. Encontrar a segurança e tornar-se seguro é a última palavra. É essa demanda insistente que produz o medo.

Mas existe permanência, exterior ou interior? Talvez, em certa medida, existe a permanência exterior, mas mesmo essa é precária: há guerras, revoluções, progresso, acidentes e terremotos. É preciso que haja alimentos, roupas e abrigos; isso é essencial e necessário para todos. Embora sempre procurada, tanto às cegas como através da razão, será que existe a certeza interior, a continuidade interior, a permanência? Não existe. A fuga dessa realidade é medo. A incapacidade de enfrentar essa realidade produz todo tipo de esperança e desespero.

O próprio pensamento é a fonte do medo. Pensamento é tempo; o pensamento no amanhã é prazer ou dor; se for algo prazeroso, o pensamento irá persegui-lo, temendo que acabe; se for doloroso, a própria tentativa de evita-lo já é medo.  Tanto o prazer quanto a dor provocam medo. Tempo como pensamento e tempo como sentimento provocam medo. O único meio de acabar com o medo é a compreensão do pensamento, do mecanismo da memória e da experiência. O pensamento é todo o processo da consciência, tanto o visível como o oculto; o pensamento não é apenas a coisa em que se pensa, mas também a origem de si mesmo. O pensamento não é, meramente, crença, dogma, ideia e razão, mas o núcleo do qual isso tudo brota. Esse núcleo é a origem de todo o medo. Mas é da experiência do medo ou da percepção da causa do medo que o pensamento tenta escapar? A autoproteção física é algo útil, normal e saudável; mas qualquer outra forma de autoproteção interior é resistência e sempre reúne forças, se robustece, e isso é medo. Mas esse medo interior faz com que a segurança exterior se torne um problema de classe, de prestígio, de poder e o resultado disso é uma competição implacável.

Quando se enxerga todo o processo de pensamento, tempo e medo — e não como uma ideia, uma fórmula intelectual — há o fim definitivo e total do medo, consciente ou oculto. A compreensão de nós mesmos é o despertar e o fim do medo.  

E quando o medo cessa, o poder de criar ilusão, mitos e visões, com sua esperança e desespero, também cessa, e só então tem início um movimento de ir além da consciência, a qual é pensamento e sentimento. É o esvaziar de nossos recessos mais profundos e das vontades e desejos mais ocultos. Então, quando se atingiu o vazio total, quando não há absoluta e literalmente nada, nenhuma influência, palavra, valor ou fronteira, então, nesse silêncio total do espaço-tempo, existe o que é indizível.

Krishnamurti – Diário de Krishnamurti – Paris, 14 de setembro de 1961

Preste atenção na raiva e veja um milagre

O único problema com a tristeza, com o desespero, com a raiva, com a falta de esperança, com a ansiedade, com a angústia, com a infelicidade, é que você quer se livrar dessas emoções. Essa é a única barreira.

Você terá de conviver com elas. Não pode fugir, simplesmente. 

Elas são situações nas quais sua vida tem de se integrar e crescer. São desafios da vida. Aceite-as. Elas são bênçãos disfarçadas. Se você fugir delas, se quiser se livrar delas de algum jeito, você criará problema – pois, quando quer fugir delas, você não olha para elas diretamente.

Uma estrela da Broadway estava visitando alguns amigos quando, como de costume, a conversa começou a girar em torno da psiquiatria. "Devo dizer", disse a anfitriã, "que o meu analista é o melhor que existe! Você não pode imaginar o que ele fez por mim. Você tem de conhecê-lo".

"Mas eu não preciso de analista", disse a estrela. "Eu não poderia ser mais normal – não há nada de errado comigo". "Mas é simplesmente fabuloso", insistiu a amiga, "ele encontrará alguma coisa errada em você".

Existem pessoas que sempre encontrarão alguma coisa errada em você. O segredo da profissão delas é descobrir o que há de errado em você. Elas não podem aceitá-lo como você é; elas dão a você ideais, ideias, ideologias, e farão com que se sinta culpado, uma pessoa imprestável, sórdida. 

Elas farão com que você se sinta tão condenável, aos seus próprios olhos, que você esquecerá tudo sobre liberdade.

Na verdade, você passará a ter medo da liberdade, pois verá o quanto você era ruim, o quanto estava errado – e, se for livre, você acabará fazendo alguma coisa errada, então é melhor seguir alguém. O padre depende disso, o político também. Eles mostram a você o certo e o errado, ideias fixas, e então você passa a viver com culpa para sempre. 

Eu digo a você: não existe nada que seja certo e nada que seja errado. 

Se você está com raiva, o padre lhe dirá que isso não está certo, você não pode ficar com raiva. O que você faz, então? Você pode reprimir a raiva, sentar-se sobre ela, engoli-la, literalmente, mas ela continuará em você, no seu organismo. 

Engula a raiva e você terá úlceras no estômago; engula a raiva e, mais cedo ou mais tarde, você terá câncer. Engula a raiva e você criará um milhão de problemas, porque a raiva é venenosa. Mas o que você faz? Se está errado, você engole. 

Eu não digo que a raiva seja errada, eu digo que a raiva é energia – energia pura, uma bela energia. Quando ela irromper, preste atenção e veja um milagre acontecendo. Quando ela irromper, preste atenção e, se fizer isso, ficará surpreso; você terá uma surpresa – a maior da sua vida: descobrirá que, se prestar atenção nela, ela desaparece. 

A raiva é transformada. Ela vira energia pura; vira compaixão, vira perdão, vira amor. E você não precisa reprimi-la, por isso não terá de levar consigo esse veneno. E você não ficará com raiva, por isso não ofenderá ninguém.

Ambos são salvos: o outro, o objeto da sua raiva, e você mesmo. No passado, ou o objeto da raiva estaria sofrendo ou então você. 

O que eu estou dizendo é que não é preciso que ninguém sofra. Basta que você preste atenção, fique consciente. A raiva surgirá e será consumida pela consciência. A pessoa não pode ter raiva se está consciente, não pode ter ganância se está consciente e não pode ter inveja se está consciente. 

A consciência é a chave de ouro.

Osho

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A desumanidade do homem

Perguntaram a Osho:

Por que as pessoas tratam uns aos outros como o fazem? Tudo isso é condicionamento, ou há algo no homem que o torna disposto a se desviar? 

São ambas as coisas.

Primeiro, há alguma coisa no homem que o desencaminha. E segundo, existem pessoas cujos interesses é desencaminhar os seres humanos. Ambos juntos criam um ser humano falso, um impostor. Seu coração anseia por amor, mas sua mente condicionada o impede de amar.

 Esse é o problema. A criança nasce com um coração que anseia por amor, mas ela também nasce com um cérebro que pode ser condicionado.

A sociedade tem que condicioná-lo contra o coração, porque o coração será sempre rebelde contra a sociedade, ele irá sempre seguir seu próprio caminho. O coração não pode ser tido como um soldado. Ele pode se tornar um poeta, ele pode se tornar um cantor, pode se tornar um dançarino, mas não pode se tornar um soldado.

Ele pode sofrer pela sua individualidade, ele pode morrer pela sua individualidade e liberdade, mas ele não pode ser escravizado. Esse é o estado do coração. Mas a mente...

A criança vem com um cérebro vazio, apenas um mecanismo, o qual você pode arrumar da maneira que você quiser. Ele irá aprender a língua que você ensinar, ele aprenderá a religião que você ensinar, ele aprenderá a moralidade que você ensinar.

Ele é simplesmente um computador, você apenas o alimenta com informações. E toda sociedade cuida de tornar a mente cada vez mais forte para que se houver algum conflito entre a mente e o coração, a mente irá vencer. Mas cada vitória da mente sobre o coração é uma miséria. É uma vitória sobre sua natureza, sobre seu ser — sobre você — pelos outros. E eles cultivaram sua mente para servir ao propósito deles.

Portanto, a mente é vazia, seu cérebro; você pode colocar qualquer coisa nela. E com vinte e cinco anos de educação você pode torná-la tão forte que você pode esquecer seu coração; você irá permanecer sempre miserável.

A miséria é que seu coração só pode lhe dar alegria, só pode lhe dar felicidade, só pode lhe fazer dançar. A mente pode fazer aritmética, mas ela não pode cantar uma canção. Essas não são as habilidades da mente. Assim você está dividido entre sua natureza, que é seu coração, e a sociedade, que é sua cabeça. E certamente você nasce — todos nascem — com esses dois centros. Essa é a dificuldade.

E um centro está vazio. Numa sociedade melhor ele será utilizado de acordo com o coração, para servir ao coração. Então será uma grande vida, cheia de regozijos. Mas até agora temos vivido numa sociedade feia, com idéias podres. Eles usaram a mente. E essa vulnerabilidade existe — a mente pode ser usada. 

Agora os comunistas a estão usando de uma maneira; os fascistas a usaram na Alemanha de outra maneira; todas as outras religiões a estão usando de diferentes maneiras. Mas essa vulnerabilidade está em todos os indivíduos: que você tem uma mente que você trouxe vazia. De fato, isso é uma bênção da existência – mas, mal utilizada, explorada.

Ela lhe é dada vazia para que você possa fazê-la perfeitamente subserviente ao seu coração, aos seus anseios, ao seu potencial. Não há nada de errado nisso. Mas os interesses investidos por todo o mundo encontraram nisso uma bela oportunidade para eles — para usar a mente contra o coração. Assim você permanece miserável e eles podem lhe explorar por todos os meios que quiserem. 

Eis porque todo o mundo é miserável. 

Todo mundo quer ser amado, todos querem amar; mas a mente é uma barreira tal que nem lhe permite amar, nem lhe permite ser amado. Em ambos os casos a mente fica no caminho e começa a distorcer tudo. E mesmo se por acaso você encontrar uma pessoa que você sinta amor por ela e a pessoa sinta amor por você, suas mentes não irão concordar. Elas foram treinadas por sistemas diferentes, religiões diferentes, sociedades diferentes.

Ser feliz é um direito inato de todos, mas infelizmente a sociedade, as pessoas com as quais estamos vivendo, que nos trouxeram para este mundo, não pensaram nada a respeito disso. Elas estão somente reproduzindo seres humanos como animais — até mesmo pior que isso porque pelo menos os animais não são condicionados. 

Esse processo de condicionamento deve ser completamente mudado. A mente deve ser treinada para ser uma serva do coração. A lógica deve servir ao amor. E assim a vida pode se tornar um festival de luzes.

Osho

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O amor independe de cálculos e pensamentos


O amor não é da mente, mas, posto que temos cultivado a mente, usamos essa palavra amor para abarcar o campo que pertence a mente. Por certo, o amor não tem nada a ver com a mente, não é um produto desta; o amor é completamente independente de cálculos e pensamentos. Quando não há amor, então temos a estrutura do matrimônio como instituição que se tornou uma necessidade. Quando há amor, o sexo não é um problema; é a falta de amor o que converte o sexo num problema. Não o sabem? Quando amam profundamente de verdade a alguém — não com o amor da mente, senão com o do coração — compartilham com essa pessoa, ele ou ela, tudo o que tem, não só o corpo, senão tudo. Na dificuldade lhe pedem ajuda, e ela lhe ajuda. Não há divisão entre o homem e a mulher quando amamos alguém, porém, quando não conhecemos esse amor, há um problema sexual. Nós conhecemos tão só o amor do cérebro; esse amor foi produzido pelo pensamento, e um produto do pensamento segue sendo pensamento, não amor.

Krishnamurti – Obras Completas, Volume V, Poona, Índia, 19 de setembro de 1948 

Não sabemos o que é o amor


Não sabemos o que é o amor. Conhecemos o prazer; conhecemos a luxúria, o gozo que se deriva dela e a fugaz felicidade envolta pelo pensamento, pela dor. Não sabemos o que significa “amar”. O amor não é uma recordação. O amor não é uma palavra, não é a continuidade de uma coisa que nos tem dado prazer. Podemos estar relacionados, podemos dizer: “Amo minha esposa”, mas não amamos. Se você ama a sua esposa, não há ciúme, não há dominação, não há apego.

Não sabemos o que é o amor, porque não sabemos o que é a beleza, a beleza de um por de sol, o choro de um menino, o veloz movimento de um pássaro que cruza o céu, todas as requintadas cores de um crepúsculo. Não nos damos conta de nada, somos insensíveis a tudo isso; portanto, somos insensíveis a vida.

Krishnamurti – Obras Completas, Volume XIV, Bombai, 23 de fevereiro de 1964 

O amor não é um processo da mente


Se você observa, vê que o que põe a perder nossa relação é o pensar, pensar e pensar, o calcular, julgar, suspeitar, ajustar-nos; e o único que nos liberta disso é o amor, o qual não é um processo da mente. Você não pode pensar a respeito do amor. Pode pensar na pessoa a que ama, mas não pode pensar no amor.

Krishnamurti – Obras Completas, Volume V, Benares, Índia, 6 de fevereiro de 1949 

Que fácil é destruir aquilo que amamos!

Que fácil é destruir aquilo que amamos! Quão rapidamente se interpõe entre nós uma barreira, uma palavra, um gesto, um sorriso! A saúde, o humor e o desejo projetam uma sombra, e o que era brilhante, se torna opaco e opressivo. Desgastamo-nos pelo trato e pelo costume, e aquilo que resultava nítido e claro, se torna tedioso e confuso. A causa da fricção constante, a esperança e a frustração, o que era belo e sensível se converte em temível e expectante. A relação é complexa e difícil, e poucos saem dela ilesos. Embora gostaríamos que fosse estática, duradoura, contínua, a relação é um movimento, um processo que deve ser profunda e plenamente compreendido e não ajustado a um padrão interno ou externo. O ajuste, que é a estrutura social, perde seu peso e sua autoridade só quando há amor. O amor na relação é um processo purificador, posto que revela as modalidades do eu. Sem esta revelação, a relação muito pouco significa.

Mas, como lutamos contra esta revelação?  A luta adota muitas formas: dominação ou submissão, temor ou esperança, inveja ou aceitação, e assim sucessivamente. A dificuldade está em que não amamos; e se amamos a alguém, queremos que esse amor funcione de um modo particular, não lhe damos liberdade. Amamos com nossas mentes e não com nossos corações. A mente pode modificar-se, mas o amor não. A mente pode fazer-se invulnerável, porém, o amor não; a mente pode sempre isolar-se, ser exclusiva, tornar-se pessoal ou impessoal. O amor não pode ser comparado nem se lhe podem impor limitações. Nossa dificuldade radica nisso que chamamos amor e que na realidade pertence a mente. Preenchemos nossos corações com as coisas da mente e assim os mantemos sempre vazios e expectantes. É a mente que se apega, que inveja, retém e destrói. Nossa vida está dominada pelos centros físicos e pela mente. Nós não amamos e o ficamos ai, senão que ansiamos ser amados; damos com o fim de receber, o qual é a generosidade da mente e não do coração. A mente está buscando sempre certeza, segurança, e pode a mente assegurar o amor? Pode a mente, cuja essência mesma é do tempo, capturar o amor, o qual é a sua própria eternidade?

Mas, mesmo o amor do coração tem seus próprios truques; temos corrompido tanto o nosso coração que este se tornou vacilante e confuso. Isto é o que faz com que a vida seja tão penosa e aborrecida. Por um momento acreditamos que temos amor, e no momento seguinte o perdemos. Chega-nos uma força imponderável que não é da mente e cuja origem não podemos desentranhar. Esta força é outra vez destruída pela mente; porque nesta batalha a mente parece invariavelmente vencedora. Este conflito interno não pode ser resolvido nem pela mente astuta nem pelo vacilante coração. Não há meios, não há método algum para colocar fim a este conflito. Mesmo a busca de um meio é outro impulso da mente para ser a senhoria, para apartar o conflito a fim de estar em paz, de ter amor, de “chegar a ser” alguma coisa.

Nossa maior dificuldade está em perceber, de maneira ampla e profunda, que não há nenhum meio para amar se esse amor é um objetivo desejado pela mente. Quando compreendemos isto a fundo, de verdade, então, existe uma possibilidade de receber algo que não é deste mundo. Sem o contato desse algo, seja lá o que for que façamos, não pode haver uma felicidade duradoura na relação. Se você recebeu esta benção e eu não, é natural que ambos estejamos em conflito. Você pode não estar em conflito, porém, eu estarei; minha pena e minha dor farão com que me isole. A dor é tão exclusiva como o prazer, e até que não exista esse amor que nada pode fabricar, a relação seguirá sendo penosa. Se existe a benção desse amor, você não pode senão amar-me, seja lá o que for, porque então você não modela o amor conforme a minha conduta. Quaisquer que sejam os truques que a mente possa jogar, ambos estamos separados; ainda que possamos estar em contato um com o outro em alguns aspectos, a integração não pode sê-lo com você, se não que há de estar dentro de mim. Esta integração não é produzida em nenhum momento pela mente; surge só quando a mente está por completo silenciosa, quando tenha chego ao limite de suas próprias possibilidades. Só então não há dor na relação.

Krishnamurti – Comentários sobre o Viver — Primeira Série

O conhecido e o desconhecido


Pode aquilo que é incomensurável ser encontrado por mim e você? Pode aquilo que não é temporal ser buscado por aquilo que é formado pelo tempo? Pode uma disciplina diligentemente praticada nos levar até o desconhecido? Pode essa realidade ser captada pela rede de nossos desejos? O que podemos captar é a projeção do conhecido; mas o desconhecido não pode ser captado pelo conhecido. Aquilo que é nomeado não é o inominável, e ao nomear nós apenas despertamos as reações condicionadas. Essas reações, por mais nobres e agradáveis, não pertencem ao real. Nós reagimos a estímulos, mas a realidade não oferece estímulos: ela é.

A mente se move do conhecido para o desconhecido, e ela não pode alcançar o desconhecido. Nós não podemos pensar em algo que não conhecemos; é impossível. Aquilo sobre o que você pensa resulta do conhecido, do passado, quer seja esse passado remoto ou o segundo que acabou de passar. Esse passado é pensamento, moldado e condicionado por muitas influências, modificando-se segundo as circunstâncias e pressões, mas sempre permanecendo como um processo do tempo. O pensamento só consegue negar ou afirmar, ele não pode descobrir ou pesquisar o novo. O pensamento não pode chegar ao novo; mas quando o pensamento está silencioso, aí pode haver o novo — que é imediatamente transformado no velho, no experienciado, pelo pensamento. O pensamento está sempre moldando, modificando e colorindo segundo um padrão de experiência. A função do pensamento é se comunicar, mas não estar no estado de experienciar. Quando a experiência cessa, o pensamento assume o controle e a denomina dentro da categoria do conhecido. O pensamento não pode penetrar no desconhecido e, assim, nunca pode descobrir ou experienciar a realidade.

Disciplina, renúncia, desapego, rituais, a prática da virtude — tudo isso, independentemente do quão nobre seja, é um processo do pensamento; e o pensamento só pode trabalhar em direção a um fim, em direção a uma realização, que é sempre o conhecido. A realização é segurança, a certeza auto-protetora do conhecido. Buscar segurança naquilo que é sem nome é negá-lo. A segurança que pode ser encontrada está somente na projeção do passado, do conhecido.  Por esse motivo, a mente deve estar profunda e inteiramente silenciosa; mas esse silêncio não pode ser conseguido por meio do sacrifício, sublimação ou repressão. Esse silêncio vem quando a mente deixou de buscar, quando não está mais presa ao processo de se tornar. Esse silêncio não é cumulativo, não pode ser construído pela prática. Ele deve ser tão desconhecido para a mente quanto o eterno; pois se a mente experiência o silêncio, então existe o experienciador, que é o resultado de experiências passadas, que é conhecedor de um silêncio passado; e o que é experienciado pelo experienciador é simplesmente uma repetição projetada. A mente jamais pode experienciar o novo e, portanto, deve estar inteiramente silenciosa.

A mente só pode estar silenciosa quando não está experienciando, isto é, quando não está nomeando ou denominando, registrando ou armazenando na memória. Essa nomeação e esse registro são um processo constante dos diferentes níveis da consciência, não simplesmente da camada mais superficial da mente. Mas quando a mente superficial está silenciosa, a mente mais profunda pode oferecer suas sugestões. Só quando toda a consciência está silenciosa e tranqüila, livre de todo o anseio de tornar-se, o que é espontaneidade, o incomensurável toma forma. O desejo de manter essa liberdade dá continuidade à memória daquele que quer se tornar, o que é um obstáculo à realidade. A realidade não tem continuidade; é de momento a momento, sempre nova, sempre original. O que tem continuidade jamais pode ser criativo.

A camada mais superficial da mente é somente um instrumento de comunicação, não podendo medir aquilo que é incomensurável. A realidade não é para ser comentada; e quando o é, não é mais realidade.

Isso é meditação.

Krishnamurti 

Descarte a autoridade espiritual seja ela qual for

Diálogo entre Krishnamurti e Dr. Anderson


K: Você é um ser humano de segunda mão, é um ser humano de segunda mão, descuidado e mesquinho. E quer encontrar algo que seja original como Deus ou a realidade, já que nenhum sacerdote deste mundo pode manipulá-lo. E para isto, você tem uma mente original, uma mente livre, original não porque você tenha pintado ou tenha feito algo novo. Isso são besteiras. necessita uma mente livre, capaz de funcionar no campo do conhecimento e capaz de olhar, observar, de aprender. Bem, agora, como se ajuda ao outro? Ou será que não se pode ser livre? Entende? Olhe, nunca tenho pertencido a nada, a nenhuma igreja nem crença. Quem de verdade quer descobrir se existe o eterno, o inominável, algo mais além do pensamento, deve espontaneamente descartar tudo o que o pensamento tenha criado: os salvadores, os mestres, gurus, conhecimento... Há alguém disposto a empreender esta viagem? Ou ficamos sentados dizendo: "Conte-me tudo, amigo; lhe escuto"? Sim, é isso o que ocorre. Não descreverei nada disso. Não direi nada. Expressá-lo com palavras é destruí lo. É certo que você não pode ser livre? O que teme? A autoridade? Cometer um erro? Mas seu atual modo de vida é um erro total. Não tem sentido seguir vivendo assim. Compreende? Descarte a autoridade espiritual seja ela qual for. De que você tem medo? De equivocar-se espiritualmente? São eles que estão equivocados, não você. Você está aprendendo. São eles que estão distantes da retidão. 

A: É genial, assim. 

K: Por que os segue? Por que os aceita? São uns degenerados. Você pode se libertar de tudo isso e através da meditação, tema que já exploraremos, averiguar o que significa ser livre, apagar tudo o quanto lhe foi inculcado e ser inocente. A inocência é a qualidade de uma mente a que nada, jamais, pode a ferir. A partir dela, investigue. Empreendamos a viagem desde esse estado livre de tudo que tem criado o pensamento. O pensamento é tempo, é matéria, e se você vive no âmbito do pensamento, nunca haverá liberdade. Sem explicar isto, sem insistir nisso e mostrá-lo... você pode ler livros eternamente! Isto vem primeiro, depois leia o quanto queira.   

Áudio: Morrer para o ontem


Reunião feita pelo Paltalk na noite de 22/10/2012

Krishnamurti - O Sagrado

Este é um trecho da série Além Mito e Tradição (Para além do mito e da tradição, publicado em espanhol sob o título "O conhecimento em si" Gaia ed.), Especificamente o título é "O Sagrado" (o sagrado). Krishnamurti fala da vida sagrada e religiosa. Este diálogo é o fim dos 18 encontros que  Krishnamurti menteve com o Dr. Anderson.


K: Quando a mente está em completo silêncio, o que é o incomensurável? O que é o Eterno? Não em termos de Deus, já sabe todas estas coisas que o homem tem inventado, senão ser realmente isto. O silêncio, no sentido profundo da palavra, abre a porta, porque você reuniu toda sua energia, não se desperdiça nada, não há perda de energia em absoluto, portanto, nesse silêncio reúne-se a energia.

A: Exato.

K: Não uma energia estimulada, autoprojetada, etc., senhor; tudo isto é demasiado infantil. Devido que não há conflito, nem controle, nem alcançar algo ou não alcançá-lo, buscá-lo, perguntar, questionar, pedir, esperar, rogar, nada disso, por conseguinte, há uma tremenda, toda essa energia que se desperdiça, se encontra agora nesse silêncio. Esse silêncio se torna sagrado; é óbvio.

A: É assim.

K: Porém, não é a coisa sagrada inventada pelo pensamento.

A: Não, não é o sagrado em oposição ao profano.

K: Não.

A: Não, não.

K: Assim, só uma mente sagrada pode ver o mais supremo e sagrado, a essência de tudo aquilo que é sagrado, que é belo. Entende, senhor?

A: Sim.

K: Ali está. Deus não é algo inventado pelo ser humano, ou criado a partir de sua imagem, desejo ou fracasso. Senão que, quando a mente mesma se torna sagrada, então abre a porta a algo imensamente sagrado. Isso é religião. E isso afeta a vida cotidiana: a forma de falar, de tratar as pessoas, a conduta, o comportamento, tudo isso. Isso é a vida religiosa. Se isso não está, então existirão as outras misérias. Portanto, senhor, tudo isso nos leva a uma profunda seriedade interna, e essa seriedade, em si mesma, gera atenção, cuidado, responsabilidade e todo o falado. Não é que você tenha passado por tudo isso, senão que o vê, e essa mesma percepção em ação, é sabedoria.

A: Quero lhe expressar minha gratidão, desde o fundo do meu coração. Espero que me permita fazê-lo, porque durante o curso de todos os nossos diálogos tenho experimentado uma transformação.

K: Excelente. Se deve a sua disposição de escutar, ao interesse de escutar. A maioria não o fazem; não escutam. Dedicou tempo, o incômodo, e o cuidado de escutar.

A miséria nada é além de escolha

Você escolhe a experiência  do amor, a sensação de êxtase, mas por escolher você vai ser pego num processo natural. Você se apegará a esses sentimentos — e eles não são permanentes, são parte de uma roda que está se movendo.

Vamos pegar o dia e a noite como exemplos: se nós escolhemos o dia, o que podemos fazer para evitar a noite? A noite chegará. A noite não traz miséria, é a sua escolha do dia em detrimento da noite que está criando miséria. Cada escolha está fadada a terminar num estado miserável.

O estado de não-escolha é o estado de êxtase. E o estado de não-escolha é o fluir. Isso significa que o dia chega, a noite chega, o sucesso chega, o fracasso chega, os dias de glória chegam, os dias de condenação chegam — e, porque você não escolheu nada, aquilo que vier estará certo para você, estará sempre bem para você.

Aos poucos, lentamente, você verá uma distancia crescendo em você; a roda continuará se movendo, mas você não será pego nela. Não importa a você se é dia ou noite. Você está centrado em si mesmo; não está se agarrando a alguma outra coisa, não está criando seu centro em algum outro lugar.

Toda questão é se você é capaz de viver sem nenhuma escolha. Seja o que vier, desfrute-o. Quando ele se for, então outra coisa chega; desfrute-a. O dia é lindo, mas a noite é linda à sua própria maneira — por que não desfrutar ambos? E você pode desfrutar ambos somente se não estiver apegado a um deles.

Assim, somente uma pessoa em estado de não-escolha saboreia a vida em sua totalidade. Ela nunca é miserável. Seja lá o que acontecer, ela encontra uma maneira de desfrutar isso.

E essa é toda a arte da vida — encontrar uma maneira de  desfruta-la. Mas  a condição básica tem de ser lembrada: não-escolha. Você pode não escolher somente se estiver alerta, consciente, vigilante; do contrário, você vai cair na escolha.

A vida é certamente uma arte, a mais grandiosa das artes — e a fórmula mais curta é a consciência sem escolha, aplicável a todas as situações, a todos os problemas.

Osho

O que é essa estranha coisa chamada amor?

Dou-me conta de que o amor não pode existir quando há ciúmes; o amor não pode existir quando há apego. Bem, agora, é possível para mim estar livre do ciúmes e do apego? Dou-me conta de que não amo. Isso é um fato. Não vou enganar a mim mesmo: não vou fingir com minha mulher que a amo. Não sei o que é o amor. Porém, se sei que sou ciumento e também sei muito bem que estou terrivelmente apegado a ela e que no apego há temor, ciúmes, ansiedade há um sentido de dependência. Não gosto de depender, porém, dependo porque me sinto só; me pressionam por todos os lados, no serviço, na fabrica, e venho para minha casa e quero sentir-me cômodo e em companhia, desejo escapar de mim mesmo. Agora me pergunto: Como hei de me libertar deste apego? Tomo isso só como um exemplo.

Em primeiro lugar, quero safar-me do problema. Não sei como vão terminar as coisas com minha mulher. Quando estiver realmente desapegado dela, minha relação com ela pode se modificar. Ela poderia apegar-se a mim e eu poderia não estar apegado a ela nem a nenhuma outra mulher. Porém, vou investigar. Portanto, não escaparei do que imagino poderia ser a consequência de estar totalmente livre de apego. Não sei o que é o amor, porém, vejo muito claramente, definidamente, sem nenhuma dúvida, que o apego por minha mulher significa ciúmes, possessão, medo, ansiedade; e desejo libertar-me de tudo isso. De modo que começo a investigar; busco um método e caio preso num sistema. Certo guru disse: "Lhe ajudarei a desapegar-se, faça isto e isto, pratica isto e aquilo". Aceito o que ele disse porque vejo a importância de estar livre, e ele me promete que se faço o que aconselha serei recompensado. Porém, vejo que desse modo estou buscando uma recompensa. Vejo o tonto que sou: quero ser livre e me apego a uma recompensa.

Não desejo estar apegado e, não obstante, me encontro apegado a ideia de que alguém ou algum livro ou algum método me recompensará livrando-me do apego. Por conseguinte, a recompensa se converte em um apego. Assim que digo: "Olhe para o que tem feito; seja cuidadoso, não caia preso nessa armadilha". Seja que se trata de uma mulher, de um método ou de uma ideia, isso segue sendo apego. Agora estou muito alerta porque tenho aprendido algo, ou seja, no trocar o apego por alguma outra coisa, segue sendo apego.

Pergunto-me: "Que devo fazer para libertar-me do apego?" Qual é o motivo para querer estar livre do apego? Não é que anseio alcançar um estado onde não há apego nem temor nem nada disso? E subitamente me dou conta de que o motivo imprime uma direção e que essa direção ditará minha liberdade. Por que ter um motivo? O que é um motivo? O motivo é uma esperança ou um desejo de mudar algo. Vejo que estou apegado a um motivo. Não só minha esposa, não só minha ideia, não só o método, senão que também o motivo se converteu em meu apego! De modo que todo o tempo estou funcionando dentro do campo do apego: a esposa, o método e o motivo de mudar algo no futuro. Estou apegado a tudo isto. Vejo que é algo tremendamente complexo; não havia me dado conta de que estar livre do apego implica todas estas coisas. Agora o vejo tão claramente como vejo num mapa as estradas principais, as estradas secundárias e os povoados; o vejo com muita clareza. Então digo-me: "Está bem, é possível para mim estar livre  do grande apego que sinto por minha esposa e também estar livre da recompensa que penso que vou obter, assim como de meu motivo?" Estou apegado a tudo isto. Por que? É por que em mim mesmo sou insuficiente? É por que me sinto muito, muito só e por isso busco escapar da sensação de isolamento recorrendo a uma mulher, a uma ideia  um motivo, como se estivesse que aferrar-me a algo? Vejo que é assim, que me sinto só e que, mediante ao apego, escapo através de alguma coisa fugindo dessa sensação de extraordinário isolamento.

Estou, pois, interessado em compreender a razão do por que me sinto só, por que vejo que isso é o que faz com que me apegue. Essa solidão me tem obrigado a escapar, mediante o apego, para isto ou aquilo, e vejo que, enquanto prosseguir esse sentimento, a consequência será sempre esta. O que significa sentir-se só? Como ocorre? É algo instintivo, herdado, ou se origina em minha atividade diária? Se é um instinto, se é herdado, então forma parte de meu destino; não tenho culpa. Porém, como não aceito isto, o questiono e permaneço com a pergunta. Observo e não trato de encontrar uma resposta intelectual. Não trato de dizer para a solidão o que é e o que deveria fazer; observo para que ela me diga. Há um estado de atenta vigilância a fim de que a solidão se revela por si mesma. Não se revelará se fujo, se tenho medo, se a resisto. Portanto, a observo. A observo de modo que não interfira nenhum pensamento. A observação é muito mais importante que a intervenção do pensamento. E, graças a que toda minha energia se interessa na observação dessa solidão, o pensamento não intervém em absoluto. A mente é desafiada e tem que responder. Devido ao desafio está em crise. Numa crise você tem grande energia, e essa energia permanece sem ser interferida pelo pensamento. Este é um desafio a que devo responder.

Coloquei-me a dialogar comigo mesmo. Perguntei-me o que é essa coisa estranha chamada amor; todos falam dela, escrevem acerca dela; lhe fazem todos os poemas românticos, as pinturas, o sexo e todas as outras áreas que abarca. Pergunto: existe uma coisa como o amor? Vejo que não existe quando há ciúme, ódio, medo. De modo que já não me ocupo do amor; me interesso em "o que é", em meu medo, em meu apego. Por que estou apegado? Vejo que uma das razões — não digo que seja toda a razão — é que me sinto desesperadamente só, isolado. Quanto mais envelheço, mais isolado vou me sentindo. Por conseguinte, observo isso. Este é um desafio que me impulsiona a descobri e, devido a que é um desafio, toda a energia se concentra ai para responder. É algo simples. Se há uma catástrofe, um acidente ou o que for, isso é um desafio e tenho a energia para afrontá-lo. Não tenho que perguntar: "Como obtenho a energia?" Quando a casa se queima tenho a energia para entrar em ação, uma energia extraordinária. Não me sento e digo: "Bem, tenho que mudar esta energia" e fico esperando; então vai ter queimado toda a casa.

Assim, pois, tenho esta energia tremenda para responder a pergunta: Por que existe este sentimento de solidão? Rejeitei idéias, suposições e teorias acerca de que se trata de algo herdado, instintivo. Tudo isso não significa nada para mim. A solidão é "o que é". Por que existe esta solidão que todo ser humano, se é de algum modo consciente, experimenta seja de maneira superficial ou mais profunda? Por que se manifesta? É por que a mente faz algo que ocasiona esta solidão? Recusei teorias como o instinto e a herança, e me pergunto: É a mente, o cérebro mesmo que produz este sentimento de solidão, este isolamento total? É o movimento do pensar que faz isto, ele que cria em minha vida cotidiana este sentido de isolamento? No serviço me isolo porque quero chegar a ser o executivo máximo; portanto, o pensamento trabalha todo o tempo isolando-se em si mesmo. Vejo que o pensamento opera permanentemente para fazer-se superior, que a mente mesma induz este isolamento com sua atividade.
Assim, que o problema é: por que o pensamento faz isto? É sua natureza trabalhar para si mesmo? É a natureza do pensar criar este isolamento? É a educação o que o origina; esta me dá uma carreira, certa especialização e, por conseguinte, isolamento. O pensamento, sendo fragmentário, limitado, estando atado ao tempo, cria este isolamento. Nessa limitação tem encontrado segurança dizendo: "Tenho uma profissão especial em minha vida, sou um professor; estou perfeitamente seguro". Em consequência, me interessa saber por que o pensamento faz isto. Está em sua natureza mesma agir assim? Qualquer cosia que faça o pensamento tem que ser limitada.

Então, o problema é: Pode o pensamento dar-se conta de que qualquer coisa que faz é limitada, fragmentaria e, em consequência, isoladora, e que tudo o que fará será sempre assim? Este é um ponto muito importante: pode o pensamento mesmo dar-se conta de suas próprias limitações? Ou sou eu o que lhe diz que é limitado? Vejo que é indispensável que se compreenda isto, já que é a verdadeira essência da questão. Se o próprio pensamento se dá conta de que é limitado, então não há resistência nem conflito; diz: "Isso é o que sou". Porém, se eu lhe digo que é limitado, estou me separando da limitação. Então, luto para superar a limitação; por conseguinte, há conflito e violência, não amor.

Então, o pensamento mesmo se dá conta de que é limitado? Tenho que descobri-lo. Isto é um desafio que enfrento. Por causa de que enfrento um desafio, tenho uma grande energia. Expressando de outra forma: dá-se conta a consciência de que seu conteúdo é ela mesma? Ou ouvi outro dizer: "A consciência é seu conteúdo; o conteúdo compõe a consciência". Portanto, digo: "sim, é assim". Vejo a diferença entre um e o outro? O segundo, criado pelo pensamento, é imposto pelo "eu". Se imponho algo sobre o pensamento, há conflito. É como um governo tirânico impondo-se sobre alguém, porém, aqui, esse governo é de minha própria criação.

Pergunto-me, pois: o pensamento tem se dado conta de suas limitações? Ou pretende ser algo extraordinário, nobre, divino? Isto é um disparate, porque o pensamento se baseia na memória. Vejo que tem que haver clareza acerca deste ponto, ou seja, que não há uma influência externa que se imponha sobre o pensamento dizendo que é limitado. Então, devido a que não há imposição, não há conflito; o pensamento compreende, simplesmente, que é limitado, dá-se conta de que qualquer coisa que faça — render culto a Deus, etc. — é limitada, vulgar, insignificante, ainda quando haja criado por toda a Europa maravilhosas catedrais onde pode adorar.

Descobri, pois, nesta conversação comigo mesmo, que a solidão é criada pelo pensamento. Agora o pensamento deu-se conta, por si mesmo, de que é limitado e que, portanto, não pode resolver o problema da solidão. Como não pode resolver o problema da solidão, existe a solidão? O pensar tem criado este sentimento de solidão, este vazio interno, por causa de que é limitado, fragmentário, de que está dividido; e quando se dá conta disto, a solidão não existe e, portanto, estou livre do apego. Não fiz nada; observei o apego e o que implica: a ganância, o medo, a solidão, tudo isso, e seguindo-lhe a pista, observando-o, não analisando-o senão simplesmente olhando, olhando e olhando, descobri que o pensamento tem feito tudo isto. O pensamento, por ser fragmentário, tem criado este apego. Quando se dá conta, o apego termina. Não houve nenhum esforço, porque tão logo há esforço, o conflito regressa novamente.

No amor não há apego; se há apego não há amor. Eliminou-se o fator principal mediante a negação do que o amor não é, mediante a negação do apego. Sei o que isso significa em minha vida cotidiana: não me lembrar de nada do que o meu vizinho, minha esposa ou minha noiva fizeram para me machucar; não me apegar a nenhuma imagem que o pensamento tenha criado com respeito a minha esposa, como tenha me intimidado, como tem me brindado com consolo, como tenho tido prazer sexual com ela, todas as distintas coisas de que o movimento do pensar tem elaborado imagens; o apego a essas imagens tem desaparecido.

E existem outros fatores. Devo examiná-los todos, passo a passo, um por um? Ou tudo isso desvaneceu-se? Devo examinar cuidadosamente, investigar — como tenho investigado o apego — o temor, o prazer e o desejo de consolo? Vejo que não tenho que passar pela investigação completa de todos estes diversos fatores; o vejo de uma só olhada, o entendi.

Por conseguinte, ao negar o que não é o amor, o amor existe. Não tenho que perguntar o que é o amor. Não tenho que correr atrás dele. Se corro atrás dele, isso não é amor, é uma recompensa. Havendo, pois, negado nessa investigação tudo o que o amor não é, havendo terminado com isso lenta e cuidadosamente, sem distorção nem ilusão alguma, então o outro está aí.

Krishnamurti - Um diálogo consigo mesmo - Brockwood Park, Inglaterra, 30 de agosto de 1977 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Morrer para o ontem

Pensamos que o viver está sempre no presente e que o morrer é algo que nos aguarda num tempo distante. Mas nunca indagamos se essa batalha da vida diária é de fato viver. Queremos saber a verdade a respeito da reencarnação, desejamos provas da sobrevivência da alma, prestamos ouvidos às asserções dos clarividentes e às conclusões das pesquisas psíquicas, porém nunca perguntamos, nunca perguntamos como viver — viver com deleite, com encantamento, com a beleza, todos os dias. Aceitamos a vida tal qual é, com toda a sua agonia e desespero, com ela nos acostumamos, e pensamos na morte como uma coisa que devemos diligentemente evitar. Mas, a morte se assemelha extraordinariamente à vida, quando sabemos viver. Não podeis viver sem morrer. Isso não é um paradoxo intelectual. Para se viver completamente, totalmente, de modo que cada dia seja uma nova beleza, tem-se de morrer para todas as coisas de ontem, pois, de contrário, viveremos mecanicamente, e uma mente mecânica jamais saberá o que é o amor ou o que é a liberdade.

Em geral tememos a morte, porque não sabemos o que significa viver. Não sabemos viver, e por isso não sabemos morrer. Enquanto tivermos medo da vida, teremos medo da morte. O homem que não teme a vida não teme a insegurança, porque compreende que, interiormente, psicologicamente, não existe segurança nenhuma. Quando não há segurança, há um movimento infinito, e então a vida e a morte são uma só coisa. O homem que vive sem conflito, que vive com a beleza e o amor, não teme a morte, porque amar é morrer.

Se morreis para tudo o que conheceis, inclusive vossa família, vossa memória, tudo o que sentistes, a morte é então uma purificação, um processo de rejuvenescimento; traz então a morte a inocência, e só os inocentes são apaixonados, e não aqueles que crêem e que desejam descobrir o que acontece após a morte.

Para descobrirdes o que realmente acontece quando se morre, tendes de morrer. Isso não é pilhéria. Tendes de morrer, não fisicamente, mas psicologicamente, interiormente, morrer para as coisas que vos são caras e para as coisas que vos amarguram. Se morrestes para cada um dos vossos prazeres, tanto os insignificantes como os mais importantes, sem nenhuma compulsão ou discussão, então sabereis o que significa morrer. Morrer é ter uma mente completamente vazia de si mesma, vazia de seus diários anseios, prazeres e agonias. A morte é uma renovação, uma mutação, em que o pensamento não funciona, porque o pensamento é coisa velha. Quando há a morte, há uma coisa totalmente nova. Estar livre do conhecimento é morrer; e, então, estais vivendo!

Krishnamurti

O verdadeiro culto

Os adoradores são muitos, o mundo está cheio deles. Igrejas, mesquitas, templos, sinagogas estão sempre cheios deles, mas não os chamo de adoradores.

O culto deles é apenas ritual. Eles simplesmente seguem uma tradição, adoram símbolos. O coração dessas pessoas não está cheio de amor, elas não têm sede de Deus, estão apenas cumprindo um dever social.

Talvez estejam viciadas nisso – se não o fizerem, algo estará faltando...

Não estou interessado em rituais. Não ensino que você deva fazer uma oração específica, como papagaio, repetindo certas fórmulas em árabe, em hebraico, em sânscrito - em alguma língua morta, esquecida há muito tempo.

Não ensino palavreado. Simplesmente ensino você a amar a beleza da existência que o cerca. Esse é o verdadeiro culto, porque Deus se manifesta: ele está disponível de diversos modos – nas árvores, nas flores, nos pássaros, nas montanhas, no sol, na lua, nas pessoas, nos animais.

Sinta-o. Em vez de acreditar, sinta a beleza da existência, o esplendor do universo, o esplendor de uma noite estrelada.

Se um lindo pôr-do-sol não pode ajudar você a se ajoelhar, então nenhum templo, nenhuma igreja vai ajudá-lo. Se o distante chamado de um cuco não tem magia para você, então você está morto, a adoração não pode acontecer com você.

A adoração só pode ocorrer quando o coração pulsa, cheio de vida.




Amar é estar em comunicação com alguém

O casamento como costume, como cultivo do prazer habitual, é um fator de deterioração, porque no hábito não há amor.

Só para os muitos, muitos poucos que amam, a relação conjugal tem significação, e então é indestrutível, então não é mero hábito ou mera conveniência nem está baseada na necessidade biológica, sexual. Nesse amor que é incondicional foram fusionadas as identidades, e numa relação assim há uma cura possível, há esperança.

Porém, para a maioria de vocês, na relação conjugal não há fusão. Para unir entre si as identidades separadas, tanto o marido como a esposa tem que conhecer a si mesmos. Isso significa amar. Porém, não há amor, o qual é um fato óbvio. O amor é sempre puro, novo, não é mera gratificação nem mero hábito. O amor é incondicional. E não é assim como vocês tratam a suas esposas ou maridos, verdade? Cada qual vive em seu próprio isolamento, e ambos tem estabelecido seus hábitos de prazer sexual assegurado. O que ocorre ao homem que tem uma renda financeira assegurada? É óbvio que se deteriora. Não o tem notado? Observem ao home que tem uma renda assegurada e de pronto notarão com quanta rapidez sua mente se deteriora. Pode ter uma grande posição, pode haver adquirido uma reputação por sua inteligência, porém, a plenitude da alegria de viver lhe tem abandonado.

De igual modo, no matrimonio de vocês há uma permanente fonte de prazer, um hábito sem compreensão, sem amor, e estão forçados a viver nessas condições. Não estou lhes dizendo o que devem fazer, senão que primeiramente considerem o problema. Pensam que isto está correto? Não quer dizer que você deva se livrar de sua mulher e buscar alguma outra. Que significado tem esta relação? Certamente, amar é estar em comunicação com alguém, porém, você está em comunicação com sua esposa, exceto fisicamente? Salvo nesse aspecto físico, a conhece? E ela, conhece a você? Por acaso não estão ambos isolados, cada qual perseguindo seus próprios interesses, suas próprias ambições e necessidades, cada qual buscando no outro suas gratificações, sua segurança econômica ou psicológica? Uma relação semelhante não é relação em absoluto; é um processo mutuo de necessidades psicológicas, biológicas e econômicas em que ambos se fecham isolando-se um do outro, e o resultado óbvio é o conflito, a infelicidade, as repressões, o temor possessivo, o ciúme e demais.

Por conseguinte, o matrimonio como costume, como cultivo do prazer habitual, é um fator de deterioração, porque no hábito não há amor. O amor não é uma questão de hábito; é algo feliz, criativo, sempre novo. Em consequência, o hábito é o contrário do amor, porém, vocês são prisioneiros do hábito e, naturalmente, a relação habitual que tem com o outro é uma relação opaca, apagada. Voltemos, pois, à questão fundamental, ou seja, que a reforma da sociedade depende de vocês, não da legislação. A legislação só pode contribuir a fomentar o hábito o amoldamento. Portanto, cada um de vocês, como indivíduo responsável que vivem em relação, tem que fazer algo, tem que atuar, e só poderá atuar quando houver um despertar de sua mente e seu coração. Vejo que alguns inclinam a cabeça em sinal de acordo comigo, porém, o fato óbvio é que não querem assumir a responsabilidade da transformação, da mudança; não desejam afrontar o transtorno de descobrir o modo de viver retamente. Portanto, o problema continua; seguem adiante com suas brigas, e finalmente morrem. E quando morrem há alguém que chora, não pelo companheiro ou companheira que morreu, senão por sua própria solidão. Vocês continuam iguais, não mudam, e pensam que são seres humanos capazes de legislar, de ocupar altas posições, de falar acerca de Deus, de encontrar uma maneira de deter as guerras, etc. Nenhuma destas coisas significa nada, porque vocês não estão resolvendo nenhum dos problemas fundamentais.

Krishnamurti – Obras Completas – Volume V – Nova Délhi, Índia, 19 de dezembro de 1948 

Quando o processo da mente é compreendido, o amor se manifesta

Neste país, um marido é o chefe; ele é a lei, o amo, porque domina economicamente, e é ele quem diz quais são os deveres de sua esposa. Uma vez que a esposa não é o fator dominante e depende economicamente, o que ela diz não conta. Podemos abordar este problema deste ponto de vista do marido ou da esposa. Se abordamos o problema da esposa vemos que, por não ser ela livre economicamente, sua educação é limitada, ou suas capacidades de pensar podem ser inferiores; e a sociedade lhe há imposto regulamentos e modos de conduta determinado pelos homens. Em consequência, ela aceita os assim chamados direitos do marido; e como ele é o fator dominante ao ser economicamente livre e ter a capacidade de ganhar dinheiro, é ele quem dita a lei. Naturalmente, onde o casamento é um assunto de contrato, suas complicações não tem limite. Então, existe o dever, uma palavra burocrática que nada significa na relação.  

Quando você estabelece regulamentações e começa a indagar nos direitos e deveres do marido e da esposa, isso não termina nunca. Por certo, uma relação semelhante é um assunto terrível, não? Quando o marido exige os seus direitos e insiste em ter uma esposa submissa, qualquer coisa que isso possa significar, a relação que tem é, obviamente, tão só um contrato comercial. É muito importante compreender esta questão, porque deve haver seguramente uma maneira distinta de abordá-la. Enquanto a relação se baseia num contrato, em dinheiro, na possessão, na autoridade e na dominação, então, é inevitável que se converta num assunto de direitos e deveres. Podemos ver a extrema complexidade da relação, quando esta é o resultado de um contrato que determina o que está bem, o que está mal, o que é dever. Se sou a esposa e meu marido insiste em certas ações, como não sou independente, é natural que tenha que sucumbir a seus desejos, que é o mantenedor da renda. Vocês impõem às suas esposas certas regras, certos direitos e deveres; portanto, a relação se torna um mero assunto de contrato, com todas as complexidades que isso implica.

Bem, agora, não há uma maneira diferente de abordar este problema? Ou seja, quando há amor não existe o dever. Quando você ama a sua esposa, compartilha tudo com ela: sua propriedade, suas preocupações, sua ansiedade, sua alegria. Não a domina. Você não é o homem e ela a mulher para ser usada e posta de lado, uma espécie de máquina de engendrar filhos a fim de prolongar o apelido de marido. Quando há amor, a palavra dever desaparece. O homem cujo coração carece de amor, é ele que fala de direitos e deveres, e neste país os deveres e direitos tem tomado o lugar do amor. As regras tem se tornado muito mais importantes que o calor do afeto. Quando há amor, o problema é simples; quando não há amor, o problema se torna complexo. Quando um homem ama a sua mulher e a seus filhos, jamais pode pensar em termos de direitos e deveres. Senhores, examinem seus próprios corações e suas mentes. Sei que o tomam por engraçado; é um dos truques das pessoas irrefletidas rirem-se de algo e assim descarta-lo. A esposa não compartilha aqui a responsabilidade do marido, não compartilha a sua propriedade, não possui a metade de tudo o que ele possui, porque se considera que a mulher é menos que o homem, é algo para ser mantido e usado sexualmente, a conveniência do marido e quando o apetite deste assim o queira. Em consequência, vocês tem inventado as palavras direitos e dever; e quando a mulher se rebela, lhe lançam estas palavras. É uma sociedade estática, uma sociedade em deterioração a que fala em de dever e direitos. Se examinam de verdade seus corações e suas mentes, encontraram que carecem de amor.

Para que surja uma sociedade nova, uma nova cultura, é óbvio que não pode haver dominação, nem da parte do homem nem da parte da mulher. A dominação existe por causa da pobreza interna. Sendo psicologicamente pobres, necessitamos de dominar, renegar contra o servente, contra a esposa e o marido. Por certo, só o sentimento de afeto, do calor do amor, podem dar origem a um novo estado, a uma nova cultura. O cultivo do coração não é um processo da mente. A mente não pode cultivar o coração, porém, quando o processo da mente é compreendido, o amor se manifesta. O amor não é uma mera palavra. A palavra não é a coisa. A palavra amor não é amor. Quando usamos essa palavra e tratamos de cultivar o amor, isso é tão só um processo da mente. O amor não pode ser cultivado, porém, quando compreendemos que a palavra não é a coisa, então, a mente com suas leis e regulamentações, com seus direitos e deveres, deixa de interferir, e só assim existe a possibilidade de criar uma nova cultura, uma nova esperança e um novo mundo.

Krishnamurti – Obras completas – Volume V – Poona –Índia, 12 de setembro de 1948

Sem a qualidade do amor, tudo carece de sentido

Pergunta: Quase todos estamos casados ou comprometidos numa relação íntima que começou por todas as razões errôneas que você tem descrito tão corretamente. Pode um casamento ou uma relação assim se, converter-se alguma vez numa força realmente positiva? (risos)

Krishnamurti: Que pessoas tão miseráveis! Então, como abordamos esta pergunta? O que significa estar em relação com outra pessoa? Você pode estar relacionado fisicamente de uma maneira muito estreita, intima, porém, alguma vez estamos relacionados psicologicamente, por inteiro? Não romanticamente, sentimentalmente; refiro-me ao sentido profundo de estar relacionados. A palavra relação significa estar em contato, ter um sentido de totalidade com o outro, não como entes separados que se juntam e se sentem totais, senão que a relação mesma produz esta qualidade, esta sensação de que não estão separados. Esta é, em verdade, uma questão sumamente importante, porque nossas vidas estão, em sua maior parte, muito isoladas, muito separadas, muito cuidadosamente estruturadas a fim de que não sejamos perturbados psicologicamente. E uma relação assim deve originar, inevitavelmente, conflito, perturbação e toda conduta neurótica que temos. Por conseguinte, juntos deixemos claro o que entendemos por relação, não só o significado dessa palavra, o significado verbal, senão o significado que há atrás da palavra, atrás das pessoas que estão relacionadas.

O que significa estar relacionados? Alguma vez estamos relacionados no sentido profundo dessa palavra? Pode haver uma relação dessa classe, inalterada, serena como as profundidades do mar? Pode haver se cada um de nós persegue seu próprio caminho particular, seu desejo particular, sua ambição particular e demais? Pode haver uma relação assim com o outro se existem estas coisas? Vocês dizem: “Como pode não existir? Acaso não é necessário que cada um de nós se realize, que floresça junto com o outro?” O que significa isso quando existe esse sentido de separação? Se cada um de nós diz que estamos nos ajudando mutuamente a florescer, a crescer, a nos realizarmos, a ser felizes juntos, então, seguimos mantendo o espírito de isolamento. Bem, agora, por que a mente, o cérebro, a entidade humana, se aferra sempre à separação?

Por favor, esta é uma pergunta muito, muito séria. Por que os seres humanos tem mantido, em todo o curso da história, este sentido de isolamento, de separação, de divisão? Você é católico, eu sou protestante. Você pertence a esse grupo e eu pertenço aquele grupo. Eu coloco uma túnica roxa ou uma túnica amarela ou me cubro com uma grinalda; e mantemos isto enquanto falamos da relação, do amor e tudo o mais. Por quê? (Por favor, estamos cooperando, investigamos juntos). Por que fazemos isto? Isso é consciente, deliberado, ou é inconsciente, é nossa tradição, nossa educação? Toda a estrutura religiosa sustenta que estamos separados, que somos almas separadas, etc. É por que o pensamento em si é separativo? Compreende? Eu penso que estou separado de você. Penso que minha conduta deve estar separada da sua, porque do contrário, existe o temos de que nos tornemos automáticos, zumbis, que nos imitemos uns aos outros. É o pensamento a causa deste sentido de separação na vida? Por favor, investiguemos isso juntos. O pensamento tem separado o mundo em nacionalidades. Você é inglês, outro é alemão, eu sou francês, você é russo e assim sucessivamente. Esta divisão é criada pelo pensamento. E o pensamento supõem que nesta separação, nesta divisão há segurança; pertencendo a uma comunidade, pertencendo ao mesmo grupo, tendo fé num mesmo guru, acreditando nas mesmas roupas que você veste conforme os mandos do guru, você se sente seguro, ao menos tem a ilusão de que está seguro.

Assim nos perguntamos: O que nos separa é o prazer, o desejo agradável que é também o movimento do pensar? Correto? Ou seja, o pensamento é alguma vez completo, total? Porque o pensamento se baseia no conhecimento, que é a imensa experiência acumulada do homem, seja no mundo científico, tecnológico ou psicológico. Temos acumulado uma grande quantidade de conhecimentos, tanto externa como internamente. E o pensamento é o resultado desses conhecimentos, o pensamento como memória, conhecimento, experiência. Portanto, o conhecimento jamais pode ser completo acerca de nada: acerca de Deus, do nirvana, do céu, da ciência..., de nada. De modo que o conhecimento deve marchar sempre junto com a sombra da ignorância. Por favor, vejamos esta fato juntos. Por isso, quando o pensamento penetra dentro do campo da relação, deve criar uma divisão, porque o pensamento mesmo é limitado. De acordo?

Se isto está claro para todos nós — não estou dando explicações, vocês o estão descobrindo por si mesmos —, então, que lugar ocupa o conhecimento na relação? Por favor, esta questão é muito séria, não é só uma proposição casual, argumentativa. Esta é uma investigação acerca de que lugar ocupam o conhecimento, a experiência, as recordações acumuladas, na relação. Tenham a bondade de responder a isto vocês mesmos, não olhem para mim. Se você diz: “Conheço a minha esposa — ou outra forma de relação intima —, já colocou esta pessoa dentro da estrutura de seu conhecimento acerca dela. Por conseguinte, esse conhecimento se torna o processo divisor. Você tem vivido com sua esposa, sua noiva ou o que for, e tem acumulado informação. Tem recordado as penosas declarações que ela tenha feito ou que você as fez; existe todo esse desenvolvimento da memória que dá forma a uma imagem, a qual interfere na relação com a outra pessoa. Correto? Por favor, observem isto em si mesmos. E ela está fazendo exatamente a mesma coisa. Nos perguntamos, pois: Que lugar ocupa o conhecimento na relação? O conhecimento é amor? Posso conhecer a minha esposa: sua aparência, o modo como se comporta, certos hábitos que possui, etc. Isso é bastante óbvio. Porém, por que devo dizer “conheço”? Quando digo que a conheço já limitei minha relação. Não sei se o compreendem. Já criei um bloqueio, uma barreira entre nós dois. Significa isso que em minha relação com ela me torno irresponsável? Compreendem minha pergunta? Se digo: “Basicamente, não conheço você”, sou irresponsável? Ou me torno extraordinariamente sensitivo — se é que posso usar essa palavra; é uma palavra errônea —, sou vulnerável, não tenho sentido algum de divisão, não tenho barreiras?

Portanto, se possuo esta qualidade de mente, de cérebro, se sinto que a relação é um florescer, um movimento — não é algo estático, é uma coisa viva, você não pode coloca-la em uma cesta e dizer “é isso” e não mover-se daí —, então, posso começar a perguntar-me: O que é o casamento? De acordo? O não casamento; você pode viver com outra pessoa, sexualmente, podem viver como companheiros, de mãos dadas, conversar e ir a um Registro Civil ou passar por uma cerimônia católica ou protestante e ser amarrados ali; ou podem viver sem estarem casados. Em um caso, você toma um voto de responsabilidade; no outro, não. Num estou legalmente casado e a separação ou o divórcio se torna bem mais difícil; no outro é bastante simples, ambos dizemos adeus e partimos em direções diferentes. E isso é o que está ocorrendo cada vez mais no mundo. Não condenamos nem a um nem ao outro. Por favor, só estamos considerando todo este problema: a responsabilidade e o sentimento de tremenda carga que representam os filhos. E aí vocês estão atados legalmente. No outro caso não, podem ter filhos, porém a porta está aberta sempre. Bem, agora, em ambos os casos, toda relação entre duas pessoas é uma mera forma de atração, de respostas biológicas por ambas as partes, curiosidade, o sentimento de querer estar com outro, o qual pode ser o resultado do inconsciente medo da solidão, um hábito estabelecido pela tradição? Em ambos os casos, se converteu num hábito e em ambos os casos há medo da perda, há a possessão, mutua exploração sexual e todas as sequelas disso. Bem, agora, o que é importante em todos os casos? Por favor, estamos considerando isto juntos; não estou lhes dizendo o que é e o que não é importante. O que é importante, indispensável em ambos os casos? A responsabilidade é essencial, não é verdade? Sou responsável pelas pessoas com quem vivo. Sou responsável, não só com respeito a minha esposa, senão que sou responsável pelo que está ocorrendo no mundo. Sou responsável de ver que não se matem as pessoas. Sou responsável. Responsável de ver que não haja violência. Estão de acordo?

Limita-se, pois, minha responsabilidade a uma pessoa, a minha família, a meus filhos, como o tem sido estabelecido pela tradição? No Ocidente, a família está desaparecendo mais e mais, enquanto que no Oriente a família segue sendo o centro. Esta é tremendamente importante; pela família farão qualquer coisa, ainda que sejam primos longínquos se manterão unidos, se ajudarão uns aos outros usando toda classe de influências. Porém, aqui, pouco a pouco isso está desaparecendo por completo.

Vejam senhores, à medida que vocês o investigam, este problema torna-se extraordinariamente complexo e vital. Se tenho filhos, se os amo realmente e me sinto responsável, o sou durante toda a vida deles, e eles devem sentir-se responsáveis por mim durante toda a sua vida. Devo ver que sejam devidamente educados, que não se lhes ensinem a causa de uma guerra.

Assim, pois, esta questão implica tudo isto. Investigando-a profundamente, você vê que, a menos que tenha esta qualidade do amor, tudo carece por completo de significação. E, se estou tentando não ser egoísta, não estar isolado, ter este sentimento de profundo afeto no qual não há apego e nem posse nem perseguição do prazer, e minha esposa sente o contrário, então, temos um problema completamente diferente. Compreendem isto? Então, o problema é: Que farei? Simplesmente abandoná-la, fugir, divorciar-me? Posso ter que faze-lo se ela insiste. Não é uma pergunta que possa ser respondida mediante umas tantas declarações, senão que requer muitíssima investigação interna nisto por ambas as partes. E, se nessa investigação, se nessa exploração não há amor, então, não há uma ação inteligente. Onde há amor, este tem sua própria inteligência, sua própria responsabilidade.

Krishnamurti – Brockwood Park, Inglaterra, 2 de setembro de 1982

Áudio: Sobre a compreensão de nós mesmos

Como viver sem conflito, sem amoldamento ou adaptação?

Você tem que descobrir como viver com outra pessoa, 
sem nenhum sentido de luta nem de amoldamento.

Krishnamurti: Quando duas pessoas vivem juntas, há uma atividade sexual, biológica que as une, ou em suas vidas há amor, há interesse e solicitude de um pelo outro? Provavelmente, vocês conhecem esta resposta melhor do que eu.

Pergunta: É necessário se casar enamorado? O que é a relação física entre homem e mulher?

Krishnamurti: Não sei, vocês devem saber. Que pergunta tão estranha esta, não? É necessário se casar enamorado? O que vocês dizem? Se quem lhes fala pergunta a vocês, senhoras e senhores, se é necessário que ele se case, o que lhe contestariam? Qual seria a resposta de vocês? É provável que fosse: faça o que tenhas vontade de fazer, isso é coisa sua, por que nos molestarmos com isso?

Porém, como podem ver, a pergunta é muito mais complexa que isso. Todos necessitamos de companhia, queremos ter relações sexuais, há uma necessidade biológica. E também queremos ter alguém em quem poder confiar, em quem poder encontrar segurança, um sentido de consolo, de apoio. Devido a que muito pouco de nós podemos estar sós, sem depender de nada, dizemos: tenho que casar-me, ou ter uma amiga, o que for, porém, devo ter a alguém com quem me sentir bem. Nunca nos sentimos bem com nada porque vivemos submergidos em nossos próprios pensamentos, em nossos próprios problemas, em nossas próprias ambições e demais. Temos medo de estar só. Porque a vida é muito solitária, a vida é muito, muito complexa e dificultosa, e você necessita de alguém com quem possa falar. Ademais, quando você se casa tem uma relação sexual, filhos, etc. Nesta relação entre homem e mulher, se não há amor, ele a usa e ela o usa, ele a explora e ela o explora. Isso é um fato.

Assim, pois, o interlocutor pergunta o que é a relação física entre o homem e mulher. Não o sabem? É assunto de vocês, senhores. Porém, é muito complexo penetrar realmente em todo este intrincado problema de viver juntos, não só duas pessoas, senão viver junto com a humanidade, com nosso vizinho, com nosso chefe, com nosso funcionário (se temos funcionários), com nossos pais e filhos. Viver juntos com uma família nos dá certa segurança, certa proteção, e assim estendemos essa família a um grupo, a uma comunidade, a um estado, a uma nação. E desde aí, há uma nação que se opõem a outra nação; por isso há sempre divisão, conflitos e guerras.

Você tem que descobrir, pois, como pode viver com outro sem nenhum conflito, sem sentido algum de luta, adaptação ou amoldamento. Isso requer muitíssima inteligência, integridade. Porém, nos casamos só por causa de nossas exigências sexuais, biológicas, etc.

Krishnamurti – Bombaim, 9 de fevereiro de 1984 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill