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sábado, 31 de janeiro de 2015

Anorexia emocional — o medo de intimidade


A mente adquirida e a linguagem do coração


Ninguém mais entende a linguagem do coração

Estamos obcecados pela mente — nossa educação e nossa civilização têm uma fixação pela mente porque ela foi responsável por todos os avanços tecnológicos, e para nós isso resume tudo. 

O que o coração pode nos dar? Com certeza, nada hightech, industrial ou capaz de gerar dinheiro. Mas pode nos proporcionar alegria, celebração e também uma enorme sensibilidade para a beleza, celebração e também uma enorme sensibilidade para a beleza, a música e a poesia. Além disso, é capaz de guiá-lo no mundo do amor e da oração, mas essas coisas não são commodities

Você não pode aumentar sua conta bancária usando apenas o coração nem lutar em grandes guerras, assim como não pode produzir bombas atômicas nem destruir as pessoas pelo coração. O coração sabe criar, enquanto a mente é destrutiva — infelizmente, nossa educação, ficou presa à mente. 

Nossas universidades, faculdades e escolas estão destruindo a humanidade. Pensam estar lhe prestando um grande serviço, mas apenas enganam a si mesmas. A menos que a raça humana atinja um equilíbrio e o coração e a mente amadureçam, continuaremos sofrendo. 

à medida que nos tornamos mais centrados na mente e, por outro lado, cada vez mais alheios ao coração, nosso sofrimento tende a aumentar. Somos responsáveis por criar um inferno na Terra e só pioramos essa situação. 

O paraíso pertence ao coração. Ainda assim, ninguém entende mais essa linguagem. O coração foi completamente esquecido. Somos capazes de compreender a lógica, não o amor. Compreendemos a matemática, não a música. Nós nos tornamos cada vez mais acostumados às coisas mundanas e ninguém parece ter a coragem de trilhar os percursos do desconhecido, os labirintos do amor e do coração. Entramos em sintonia com o mundo da prosa, e a poesia acabou se tonando insignificante. 

(...) Tudo o que há de criativo no homem está sendo reduzido à produção cada vez mais de "coisas". A criatividade está perdendo. seu apelo, e a produtividade se transforma no principal objetivo da vida. 

Em vez da criatividade, valorizamos a produtividade: discutimos como produzir mais, mas esquecemos que isso nos proporciona apenas coisas, não valores. As pessoas podem se tornar ricas externamente, mas empobrecidas interiormente. 

A produção se preocupa com a quantidade, enquanto a criação se preocupa com a qualidade. A produção não exige capacidade de criação, ela é medíocre: qualquer imbecil pode se dedicar a ela, basta aprender alguns truques básicos. 

(...) O homem perdeu seu lado poético, seu impulso criativo. Nós estamos demasiadamente interessados em produtos, em novidades eletrônicas, em produzir cada vez mais coisas. É fundamental trazer de volta o coração e o amor à natureza. Precisamos prestar mais atenção às rosas, às flores de lótus, às árvores, às rochas e aos rios. Precisamos recomeçar a dialogar com as estrelas.

OSHO


A extasiante voz do silêncio

Existe um som cheio de êxtase pulsando constantemente no interior de todos nós. Precisamos apenas aprender a ficar em silêncio para ouvi-lo. Como a mente é muito barulhenta, nem sempre ela é capaz de ouvir a pequena voz do coração, que é tranquila e calma. 

A menos que tudo esteja quieto, você nunca a ouvirá, mas essa é a voz que conecta você com a existência. Quando enfim conseguir ouvi-la, você poderá então concentrar-se e deslizar rumo a ela com facilidade. Sempre que você se conectar com esta voz, se sentirá rejuvenescido e com uma enorme força e vitalidade.

Ao entrar em sintonia com esse som interior, você se unirá ao divino. E conseguirá estabelecer a conexão em qualquer lugar, até mesmo no trabalho ou no shopping — nem todos os ruídos do mundo o impedirão de ouvi-lo. 

Sempre que puder, mesmo que seja apenas durante uma hora por dia, sente-se e ouça os sons ao seu redor. Sem nenhuma finalidade específica, sem tentar interpretá-los, apenas ouça. Aos poucos a mente vai deixando de prestar atenção no som e torna-se silenciosa. 

É nesse momento que um novo som passa a ser ouvido, um som que não vem de fora mas de dentro. Este é o sinal de que o caminho está aberto dentro de você. Aqueles que sabem percorrer o caminho vivem em um mundo totalmente diferente, em outra realidade.

OSHO

Faça as pazes com seu inimigo

Não tente parar a mente. Ela faz parte de você — será loucura tentar pará-la. É como uma árvore tentando impedir que suas folhas cresçam: as folhas fazem parte de sua natureza. 

A primeira coisa a fazer é não tentar interromper seus pensamentos. Em segundo lugar, é preciso divertir-se com a mente, apreciá-la e dar-lhe as boas-vindas. Ao fazer isso, você começará a se tornar mais alerta e mais perceptivo da existência e do funcionamento da mente. 

Mas essa consciência precisa se dar de forma natural. Quando você tenta ficar mais alerta, a mente o distrai e você acaba ficando irritado, pois tem a impressão de que se trata de uma mente desagradável, que está constantemente tagarelando, quando o que você quer é permanecer em silêncio. 

O risco é você começar a encarar a mente como um inimigo. Isso não é bom, pois significa que você está dividido. Se você e sua mente ficarem em lados opostos do ringue, conflitos e atritos começarão a surgir. Todo enfrentamento é de certa forma um suicídio, porque significa energia sendo desperdiçada. Como não temos tanta energia sobrando para que possamos esbanjá-la lutando contra nós mesmos, é mais inteligente que ela seja usada para alegria. 

Comece se divertindo com a maneira pela qual o pensamento é processado. Note as nuances dos pensamentos, as voltas que eles fazem e como uma coisa leva a outra. É realmente um milagre a ser apreciado. Um pensamento mínimo pode levá-lo ao extremo mais distante e, se você olhar atentamente, não perceberá conexão alguma. 

Divirta-se com esse processo aleatório. Deixe o jogo rolar e jogue-o sem hesitação — você se surpreenderá com a insuspeita beleza da ausência de ação e de pensamento. De repente, você perceberá que um cão está latindo, mas sua mente continua em silêncio. Nenhuma corrente de pensamentos se inicia. Pequenas pausas surgirão... mas elas não devem ser criadas por você. É importante que elas surjam espontaneamente e, quando surgirem, serão belas. Esses pequenos intervalos permitem que você observe o observador. Mais uma vez os pensamentos surgirão e você se sentirá bem. Vá com calma, sem pressa. A consciência chegará a você naturalmente. 

Observar, apreciar e acompanhar o ritmo dos pensamentos é tão belo como apreciar o mar revolto. Pena que as pessoas não desfrutem as ondas em sua própria consciência com o mesmo prazer que observam as ondas do mar. 

OSHO

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre o medo da intimidade

Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.

A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.

Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade porque, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem um amante, sem ninguém em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas. "

( Osho )

Aquele que vê nunca pode ser o visto

A mente nunca entende. Com a mente não há compreensão. O entendimento é um fenômeno totalmente diferente em você: ele acontece somente na não-mente. A mente finge entender e nada entende. Ela é uma grande enganadora. Você somente pode entender quando puder começar a perceber e a sentir; você somente pode entender quando se der conta de algo. A mente terá de ser colocada de lado. Este é o significado de ser um sannyasin: você coloca sua mente de lado e lentamente começa a se mover em direção a algo que de modo nenhuma é a mente. 

O que é a mente? O passado, o aprendizado, o conhecimento que foi entulhado em você. A mente é um computador. A sociedade, os pais, os políticos e os sacerdotes a usaram; eles colocaram mil e uma coisas em você — essa é a sua mente, mas não é você! Você é a testemunha. Você não é o pensamento, mas aquele que perceber o pensamento passar rapidamente. Observe... quando um pensamento surge em você, você é o pensamento? 

Você está sentido raiva, amor ou compaixão e pensamentos estão surgindo em você — pensamentos de raiva, amor ou compaixão, e há uma multidão deles passando, o tráfego de pensamentos. Você é esse tráfego? Então, quem é aquele que percebe? Então, quem está olhando para esse tráfego? O espectador não pode ser parte do tráfego, ele precisa ser transcendental ao tráfego. Você não pode ser a coisa que está vendo. Aquele que vê nunca pode ser o visto. O meditador nunca pode ser aquilo sobre o que se medita. Quando você começa a observar sua mente e seus pensamentos, surge em você uma consciência totalmente nova: você se torna uma testemunha, um espelho. Esse espelho compreende. A compreensão é parte desse espelho. 

A mente é uma simuladora, ela é hipócrita, enganadora, uma farsa. Sem compreender coisa alguma ela insiste em lhe dizer: "Eu compreendo. Olhe, sei isso, li aquilo, pensei a respeito."

Você sempre terá dificuldade para entender, se você não abandonar a mente. A mente precisa cessar para a compreensão existir.

OSHO 

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre seres intraterrenos e UFOs


A terra é oca? Existe uma civilização avançada lá? Há um sol no centro? Esses seres fazem jornadas periódicas através de túneis a lugares específicos e revelam os segredos? É daí que os UFOs vêm?

Will Schutz, a mente vive de ficções, ela é nutrida por ficções — comuns ou ocultas. A mente sempre anseia por belas histórias; ela vive através de mentiras. A mente teme a verdade, mas é uma grande amante das mentiras. Para satisfazer a mente, através dos tempos milhares de mentiras foram inventadas. Quando uma mentira fica muito velha e enferrujada, ela é abandonada e uma nova é inventada. Suas chamadas escrituras estão repletas destas mentiras. O ser humano é muito inventivo, mas todas as invenções deste tipo  o impedem de perceber a verdade e sua energia fica envolvida numa dimensão fútil

Você me pergunta: "A Terra é oca?"

Mesmo se ela for, não importa. Por que se preocupar com isso? Por que perder tempo com isso? Existem coisas muito mais importantes esperando para ser feitas. Ajuste suas prioridades. A melhor pergunta, a pergunta muito mais significativa, seria: O ser humano é oco? Sim, ele é oco. 

Você pergunta: "Existe uma civilização vivendo lá?"

Sim, digo que existe um ser avançado vivendo dentro de você. Você é oco, e no âmago mais íntimo de seu ser, Deus está vivendo. O mais elevado está vivendo em você; por que se preocupar com a Terra? Mesmo se pessoas estiverem vivendo lá, elas não podem ser muito diferentes das pessoas da superfície. Você já não está farto dessas pessoas? Talvez elas tenhas três olhos, quatro orelhas e seis mãos, mas que diferença faz isso? 

Você pergunta: "Há um sol no centro?"

O sol está no seu centro. É isso que estou chamando de Buda — a luz. 

Você pergunta: "Esses... fazem jornadas periódicas através de túneis a lugares específicos e revelam os segredos?"

Sim, muitas vezes, a partir de seu âmago mais profundo, mensagens vêm à sua consciência mais superficial. Muitas vezes segredos são revelados a você do centro da periferia. Mas, ao invés de procurar por isso, você se interessa em saber se a terra é oca? Se há um sol dentro? Se ela é habitada? Se há uma civilização avançada? E essas ficções mantém as pessoas ocupadas. Existem milhares de livros escritos sobre tais assuntos; e controvérsias reinam através dos séculos, e pessoas ficam brigando, argumentando, filosofando, especulando. E tudo isso é fútil

Tome cuidado com a tendência da mente de inventar mentiras, de sustentar mentiras; essa é a maneira de a mente se proteger contra a verdade. 

A verdade não precisa ser inventada; não se pode inventá-la e sim somente colocar-se disponível a ela. A verdade já está presente, já é o caso. Se você estiver em silêncio, se abandonou suas ficções, se abandonou todas as mentiras, se estiver despido, nesta nudez e silêncio a verdade será revelada. E a verdade liberta. 

Saia de todas estas histórias! E não estou dizendo que elas sejam verdadeiras ou não-verdadeiras; não estou dizendo nada sobre elas, não estou contra nem a favor. Estou simplesmente dizendo que elas são irrelevantes, que isso não importa. É infantilidade ficar interessado nessas coisas; elas são boas para crianças, que precisam de ficção e contos de fadas, mas não são para pessoas amadurecidas. 

A coisa mais importante para uma pessoa inteligente é saber quem ela é; tudo depende disso. Sem saber isso, todo conhecimento é palavreado, e você viveu, mas viveu em vão e perdeu a toda a oportunidade da vida. A vida é uma oportunidade para conhecer a si mesmo, é um desafio para conhecer a si mesmo, ela o provoca para conhecer a si mesmo. Mas criamos algumas outras curiosidades e nos tornamos tão envolvidos com elas que nos esquecemos da questão real. E existem milhares de questões que não são reais e você pode ficar perdido nesta multidão. 

E a questão real é a única questão: quem sou eu? Abandone todas as outras questões! Coloque sua total energia numa questão: quem sou eu? Deixe que esta questão se entranhe no âmago mais íntimo de seu ser — no oco de seu corpo, na consciência suprema dentro de você, no sol dentro de você. Devote tanto tempo quanto possível a essa única questão. O todo da religião depende dela; a religião nada mais é do que a resposta a esta única questão: quem sou eu? Ela não está preocupada com Deus, com céu e inferno, com vidas passadas e futuras, com a reencarnação e a teoria do carma. A religião real tem somente um único propósito e alvo: quem sou eu

E não dissipe sua energia em tais curiosidades. Mesmo que pessoas estejam lá, mesmo que você venha a saber que existam pessoas lá e que UFOs vêm do oco da terra, isso não o mudará e não o ajudará de maneira alguma.

Penetre no mistério que é você, penetre neste mistério. Deixe que isso se torne seu único trabalho na vida. Sabendo isso, tudo é sabido; sendo isso, você alcançou.

OSHO

Não sou um RG pra alimentar CNPJ

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Uma pessoa satisfeita é uma pessoa apática e estúpida

O descontentamento não é uma enfermidade ou uma doença; ele simplesmente mostra vida e sensibilidade. Somente os mortos não têm descontentamento. Uma pessoa realmente viva precisa viver seu descontentamento, sentir sede, ficar em chamas. Somente através deste fogo, desta sede, ela viverá uma vida intensa. 

As pessoas vivem no mínimo e jamais vêm a saber o que é o ótimo absoluto, e as coisas acontecem somente no ótimo absoluto. 

(...) De onde vem o sentido? Ele vem ao se viver intensamente; a intensidade e a intencionalidade trazem o sentido. Uma pessoa sabe o que é a vida somente quando ela vive como se a tocha estivesse queimando em ambas as pontas. Deus é revelado nesses raros momentos de intensidade, e nunca antes. O contentamento certamente acontece, mas somente nos momentos mais intensos de descontentamento. 

Sócrates está certo quando diz: "Preferiria ser um Sócrates descontente a ser um porco contente". Mas milhões de pessoas decidiram o contrário: elas decidiram viver como porcos satisfeitos. Elas insistem em evitar qualquer fenômeno intenso(...)

Lembre-se: sede, descontentamento e fome são qualidades saudáveis. Uma pessoa satisfeita é uma pessoa apática e estúpida. E, devido à satisfação ter sido praticada através dos tempos, suas igrejas estão cheias desses idiotas, seus monastérios estão repletos dessas pessoas apáticas e mortas. Elas são cadáveres ambulantes, de alguma forma se arrastando; elas perderam toda a seiva e estão congeladas, sem fluir. Suas vidas não são correntes, não são vibrações, músicas ou melodias. 

A sede é perfeitamente bela, pois somente através dela você saberá o que é contentamento, o que é a beleza de se sentir saciado.(...) Quando você estiver se queimando como fogo, somente então o contentamento acontecerá. E Deus é o contentamento supremo. Ele acontece para a pessoa religiosa que vive através do descontentamento. Uma pessoa religiosa é aquela que está sedenta. 

OSHO

Que as perguntas voltem a ser perigosas

A verdadeira religião não está preocupada com nada além desta vida. Ela investiga esta vida e encontra o além. a outra realidade não está em outro lugar, mas oculta nesta realidade. Esta realidade é a outra realidade! A diferença está na sua visão; se você tiver profundidade, verá que está realidade é outra realidade. Isto é aquilo! 

(...) Deus está presente em tudo, é a profundidade de tudo — deixe-nos dize-lo desta maneira(...) Deus significa profundidade. E se você sabe como viver profundamente... você só saberá como viver profundamente se conseguir constantemente se prosseguir constantemente morrendo para o passado e nascendo no futuro. Entre esses dois aspectos acontece a profundidade. De repente a porta se abre e você pode ver aquilo que é. Por um momento a mente não está mais funcionando e é abandonada. A nova mente ainda não nasceu e você pode ver a verdade como ela é. Logo a nova mente nascerá, e no momento em que ela nasce ela começa a envelhecer; novamente você terá de abandoná-la. Isso eu chamo meditação.

Meditação é uma maneira de encarar a crise real da vida, de encarar o próprio crescimento e as dores crescentes. 

A filosofia distrai, a teologia engana, a política somente o mantém ocupado com coisas estúpidas, a arte somente decora a cela e a ciência ainda não é corajosa o bastante para atacar o problema real, assim ela fica trabalhando sobre coisas, sobre o exterior. 

(...) Toda pessoa pode ter a satisfação de ser religiosa, toda pessoa pode viver Deus. Mas então você terá de renunciar muitas coisas, suas filosofias, suas religiões, suas estúpidas ocupações... E não estou dizendo que você deva renunciar ao mundo — sua esposa, seus filhos, seu trabalho — não. Este não é o problema. O problema real está em suas crenças; você terá de renunciar a suas crenças.(...) Renuncie apenas às atitudes que lhe foram ensinadas, às quais você foi condicionado. Se você renunciar aos seus condicionamentos, renunciará a sua ignorância e se tornará inocente, e a partir desta inocência surgirá o conhecimento. A pessoa se torna sábia, mas lembre-se de que quando você se torna sábio o mundo não o considerará sábio, mas sim um idiota!

(...)Lembre-se disto: ter olhos no mundo de cegos significa que você deverá estar pronto para algumas coisas. Eles rirão de você e não acreditarão que você tem olhos; ninguém jamais conheceu alguém que tivesse olhos. Eles acharão que você é um charlatão, uma fraude, que você tem alguma motivação por trás dessa declaração de que você obteve olhos; eles ficarão com raiva, furiosos, e poderão envenená-lo e matá-lo. Uma coisa é certa: eles não podem acreditar que você é sábio, pois ao pensar assim terão de aceitar a ideia de que eles não o são — e isso é muito difícil. É mais fácil crucificar um Jesus, assassinar Mansoor e envenenar Sócrates do que pensar que somos todos idiotas. 

A presença de um Jesus traz a crise: se ele estiver certo, então todos os outros estarão errados. E, se ele estiver errado, então todos poderão relaxar em seu confortável e aconchegante mundo e se esquecer de tudo sobre a crise. Jesus abre a porta e se torna o problema, lembre-se disso. 

Um Buda real, um Jesus real, não o supre com respostas. Ele simplesmente lhe traz o problema que você esqueceu. Ele cria novamente o problema e o deixa na sua frente; ele o força a ver o problema, e é tão persistente que o importuna. 

Pense em Sócrates andando nas ruas de Atenas — ele estava importunando a todos!(...) Ele fez perguntas que ninguém desejava ouvir, pois aquelas perguntas tiravam o próprio chão debaixo dos pés; aquelas perguntas eram perigosas. Uma vez que elas penetrassem na pessoa, então ela jamais seria capaz de dormir facilmente; elas iriam persegui-la. Uma vez que aquelas perguntas tivessem penetrado na consciência da pessoa, ela não poderia viver da mesma maneira que viveu até então. Aquelas perguntas se tornariam as sementes: elas começariam a crescer na pessoa e a mudá-la de maneiras sutis.(...) E como você pode  viver se não resolveu o problema real de sua vida? A vida somente começa quando você soluciona o problema real. 

E qual é o problema real? O problema real é como continuar a morrer para o passado e como continuar a nascer no futuro; como permanecer fresco, jovem, como gotas de orvalho; como não envelhecer. Esta é a maneira de como crescer — como não envelhecer e permanecer sempre jovem e fresco. O frescor não deveria ser perdido nem na vida nem na morte. Nenhuma poeira deveria ter permissão de se depositar em você.

OSHO

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Por que você está com tanto medo de lavagem cerebral?

Lavagem cerebral é bom.(...) Eu o limparei! Uma lavagem cerebral é uma coisa boa, você precisa dela! Você está carregando muito lixo em seu cérebro; você nunca pensou que precisa de uma boa lavagem? Sim, exatamente, é isso que estou fazendo aqui. 

Você foi condicionado pela sociedade e precisa ser descondicionado... Lavagem cerebral é isso.(...) Eu também estou usando lavagem cerebral — como Buda e Cristo usaram —,... A diferença é que eu simplesmente lavo o seu cérebro e o deixo ali. Eu não escrevo nada sobre ele, simplesmente deixo-o limpo, descondicionado. 

Na verdade, este é o seu receio: você não está com medo de ter seu cérebro lavado, mas de ser deixado limpo. Você gostaria de ser recondicionado imediatamente, assim você teria outro apoio, uma outra coisa a se apegar, uma outra filosofia para acreditar; simplesmente destruo todas as filosofias e o deixo só. Isso é liberdade! Mas isso é sempre amedrontador: então, você nada tem a que se apegar onde se encostar; assim, você é deixado num abismo. Chamo esse abismo de Deus — ele é um abismo sem fundo. Eu o deixo nesse estado de ignorância, mas ignorância é inocência. 

na realidade, você não está preocupado com o seu descondicionamento, com a sua lavagem cerebral. Você está preocupado com o fato de que se você permanecer na inocência, como você agirá, como você executará a sua vida, como você fará coisas? Você sempre dependeu do condicionamento, que lhe deu uma certa identidade... Você sabe quem você é, você sabe por onde olhar quando surgir a necessidade: ir à igreja, folhear a Bíblia ou consultar o sacerdote. Você sabe para onde ir quando houver algum problema. 

Eu o deixarei totalmente desamparado; você não saberá para onde ir. Eu tirarei de você a igreja, a Bíblia e o Alcorão e não os substituirei. 

Mas este é o trabalho real sempre feito pelos Budas: eles o deixam só. E se você for suficientemente corajoso para ficar só, neste estado de desamparo, pela primeira vez você começará a crescer. Neste estado de inocência, pela primeira vez surgirá a compreensão. Do contrário, quando você depende do conhecimento, não há necessidade de surgir a compreensão; o conhecimento faz o papel da compreensão. Quando todo o conhecimento for abandonado, você deverá encarar a vida sem qualquer conhecimento. Você terá de responder sem qualquer passado e não será capaz de entrar na memória; não haverá memória. Você terá de responder aqui e agora e agir, imediatamente. Desta ação nasce a compreensão. 

Corra o risco. 

É arriscado, mas corra o risco. Na verdade, o que você tem a perder? O que você tem em seu cérebro? Por que você está tão preocupado com o fato de seu cérebro ser lavado? Você não tem nada de valor nele, é tudo porcaria. E você sabe disso perfeitamente bem! Quem mais pode saber disso tão bem? Simplesmente sente-se em silêncio por meia hora, olhe para dentro e conhecerá seu cérebro, o que está acontecendo. Ele é um louco maníaco — mil e uma coisas acontecendo continuamente, barulhos, um turbilhão... O que tem de valor lá? 

Quando isso se for, seu coração se abrirá. Sem o embuste, o real tomará posse. A moeda falsa jogada fora, você procurará pela moeda real. E ela está aí, dentro de você. Esta sabedoria está contida em você, está iluminação está presente, esperando que você se farte da cabeça, de tal modo que possa olhar para ela. E, uma vez encontrada a sabedoria, então você saberá o que é valioso na vida. 

OSHO

Você não pode ser aquilo que você possui

Se você tentar compreender a vida do homem, você verá a persistência dessa simples pergunta. Sim, o homem que é louco por dinheiro também está tentando responder à pergunta 'Quem sou eu?'. Ele pensa que ao ter dinheiro ele saberá quem ele é, ele saberá que ele é rico. Ele terá uma certa identidade. O homem que está buscando o poder está basicamente tentando responder à pergunta 'Quem eu sou?'. Ao se tornar o Primeiro Ministro de um país ele saberá que ele é o Primeiro Ministro.

Mas essas respostas são superficiais e não irão satisfazê-lo realmente. Elas podem satisfazer apenas ao medíocre. Elas não podem satisfazer a uma pessoa verdadeiramente inteligente. Mesmo quando você tiver se tornado muito rico, a sua inteligência persistirá em perguntar 'Quem é você? Sim, você tem dinheiro, mas quem é você? Você não é o dinheiro. Você não pode ser aquilo que você possui. Quem é essa pessoa que possui? Sim, você se tornou o Primeiro Ministro de um país, mas aquilo é só uma função, aquilo não é o seu ser. Quem é você? Quem é essa pessoa que não era Primeiro Ministro e que agora é um Primeiro Ministro, e que amanhã talvez possa não ser mais? Essa função de Primeiro Ministro é só um episódio... na vida de quem?'

A pergunta persiste. Ela não pode ser respondida por esses empenhos e esforços superficiais. Mas basicamente o homem está tentando fazer isso. Ele se torna um marido, se torna uma mãe, um pai, isso e aquilo... mas o desejo básico é de alguma maneira ter uma identidade: 'eu sou a esposa, eu sou o marido, eu sou o pai, eu sou a mãe.' Mas você ainda não teve a pergunta respondida. Ser uma mãe ou um pai, é simplesmente acidental, é a superfície. O seu centro mais interior permanece intocado.

Essa não é a real identidade. Essa é uma identidade falsa. A criança morrerá, então quem é você? Você já não será mais mãe. O marido pode deixá-la, então quem é você? Você já não será mais uma esposa.

Essas identidades são muito frágeis e o homem vive constantemente enfrentando crises de identidade. Ele tenta arduamente se ajustar a alguma definição quanto a si mesmo, mas ela acaba escorregando de suas mãos.

Somente a pessoa religiosa formula realmente a pergunta, e a formula na direção certa.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sobre o silêncio

O silêncio é geralmente entendido como algo negativo e vazio, uma ausência de sons. Esse engano prevalece porque pouquíssimas pessoas já sentiram o silêncio.

Tudo o que as pessoas perceberam como silêncio é ausência de ruídos. Mas ele é algo diferente, é totalmente positivo. Faz parte da existência, não é vazio.

Transborda com uma música que nunca se ouviu antes, como uma fragrância pouco conhecida e uma luz que só pode ser vista pelo olhar interior.

O silêncio não é algo fictício: é uma realidade que já esta presente em todos nós — mas nunca olhamos para dentro.

O seu interior tem sabor, fragrância e luz própria. É total e eternamente silencioso. Nenhuma palavra pode chegar lá, mas você pode.

O centro do seu ser é um centro de um ciclone. Tudo o que acontece ao redor não o afeta. Ele é o silêncio eterno: dias e anos vêm e vão, eras passam. As vidas transcorrem, mas o silêncio eterno do seu ser permanece imutável: a mesma música sem som, a mesma fragrância divina, a mesma transcendência em relação a tudo que é mortal e momentâneo.

Ele não é o seu silêncio.

Você é ele. Não é algo que você possua, mas algo que possui você e nisso reside a grandeza dele. Nem mesmo você está ali, porque a ter mesmo tua presença já seria uma pertubação.

O silêncio é tão profundo que não há ninguém dentro dele. E esse silêncio lhe trás a verdade,o amor e milhares de outras bênçãos."

( Osho )

domingo, 25 de janeiro de 2015

Que vencedor, que nada...

Diante de uma sociedade que me obriga a coexistir com situações de extrema fragilidade e sofrimento, em que se aceita como "naturais" ou "inevitáveis" realidades como a fome, a miséria e a ignorância, se aponta como valores principais a propriedade, o consumo, a ostentação e se impõe a competição como forma de relacionamento vivencial entre as pessoas, só posso colocar minha vida em contraposição às correntes dominantes. Tanto em valores, quanto em comportamento e em objetivos de vida. É preciso revelar dentro de nós os valores induzidos pelos meios de comunicação de massa, pelo massacre publicitário, pela propaganda ideológica, psicológica, inconsciente, sub-liminar ou não. Pela pressão social daqueles que aderem aos valores artificiais e, na falta de convicção, precisam impor aos demais, compor grupos e discriminar os que não lhes apoiam valores que, por si, não se sustentam. Temos em nós estes condicionamentos, em maior ou menor grau. São valores-causas do desequilíbrio social - a cultura da competição, em que todos são adversários potenciais, e a do consumo, em que o objetivo principal da vida é consumir, possuir, desfrutar, alcançar o máximo da fartura material, entre a ostentação e o desperdício. São enormes e estratégicas mentiras. Não há competição onde há desigualdade de condições. Há covardia. A massa dos "derrotados" aumenta, os "vencedores" se empilham em pirâmides de poder e privilégios ascendentes. No topo, o pequeno grupo. Os donos das mega-empresas transnacionais, dos grandes bancos e corporações financeiras, interferindo e controlando as políticas públicas e a mídia para os favorecer e encher, mais ainda, de poder e privilégios, em prejuízo dos direitos básicos da população e das obrigações principais do Estado. Este é o sentido das minhas ações, do meu trabalho, da minha vida. Não tenho a ingenuidade de esperar ver o mundo conforme eu gostaria. Também não me é possível aderir a esses valores planejados e implantados como "a realidade", que fazem de irmãos, adversários e do objetivo da vida, o consumo excessivo, a posse, o conforto físico. Perdemos o contato direto com as necessidades abstratas, as principais do ser, o sentimento de integração, a sensação de utilidade ao coletivo, o equilíbrio emocional, as relações afetivas, a solidariedade, o senso de justiça, o desenvolvimento da consciência. Existe em mim a necessidade incontrolável de plantar idéias, valores, questões, sentimentos. Denunciar as mentiras em que tantos acreditam, os valores falsos, as necessidades artificiais, a mediocridade da vida e a mesquinharia dos objetivos oferecidos. Apregoar os valores do espírito, solidariedade, integração, consciência. Denunciar o egoísmo da mentalidade competitiva, a crueldade - ou indiferença - das minorias dominantes. Não espero colher os frutos das árvores que planto. E isso não diminui minha necessidade de seguir plantando, de trabalhar em direção contrária às correntes, aos valores vigentes, nocivos à grande maioria, embora - e por isso mesmo - a submetendo. A discriminação, a perseguição dos organismos repressivos da administração pública, o desprezo dos convencionais são, por outro lado, elogios a quem não se submete. Eu teria vergonha de aderir aos valores dessa sociedade perversa. De ostentar riqueza como falso símbolo de vitória. Não estou aqui pra competir. Privilégios me constrangem, desperdícios me dão repulsa e entristecem. Superioridade social é uma encenação ridícula, subalternidade humana é uma ilusão triste. Não compartilho dos valores vigentes. Não tenho como andar com as correntes. Sigo somente minha própria consciência. Minha "pobreza" é minha riqueza, minha "derrota" é minha vitória. Teria vergonha, neste mundo, de ser um "vencedor".

Eduardo Marinho 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

É preferível morrer do que se permitir ser escravo

Toda criança nasce extasiada; o êxtase é natural, e não algo que acontece apenas aos grandes sábios. O êxtase é algo que todos trazemos conosco ao mundo, todos vêm com ele. Ele é a essência mais profunda da vida, é parte do estar vivo. Vida é êxtase. Toda criança o traz ao mundo, mas então a sociedade salta sobre ela e começa a destruir a possibilidade do êxtase, a tornar a criança infeliz, a condicioná-la. 

A sociedade é neurótica e não pode permitir que pessoas extasiadas estejam aqui, pois são perigosas para ela. Tente entender o mecanismo; então as coisas serão mais fáceis.

Não se pode controlar uma pessoa extasiada, é impossível. Pode-se apenas controlar uma pessoa infeliz; uma pessoa extasiada fatalmente é livre. Êxtase é liberdade. Quando você está extasiado, não pode ser reduzido a um escravo, não pode ser destruído tão facilmente, não pode ser persuadido a viver em uma prisão. Você gostaria de dançar sob as estrelas, de caminhar com o vento e de conversar com o sol e com a lua. Você precisará do vasto, do infinito, do enorme, do grandioso. Você não poderá ser reduzido a viver em uma cela escura, não poderá ser transformado em um escravo. Você viverá sua própria vida e fará as suas coisas. 

Isso é muito difícil para a sociedade. Se houvesse muitas pessoas extasiadas, a sociedade sentiria que está se desintegrando, sua estrutura não mais se sustentaria. As pessoas extasiadas serão rebeldes. Lembre=se: não chamo uma pessoa extasiada de "revolucionária", mas de "rebelde". Um revolucionário é alguém que deseja mudar a sociedade, mas deseja substituí-la por outra sociedade. Um rebelde é alguém que deseja viver como um indivíduo e gostaria que não houvesse nenhuma estrutura  social rígida no mundo; ele é alguém que não deseja substituir esta sociedade por outra, pois todas as sociedades provaram ser iguais. O capitalista, o comunista, o fascista e o socialista, todos eles são primos irmãos; não faz muita diferença. Sociedade é sociedade. E todas as religiões provaram ser iguais, a hindu, a cristã, a muçulmana... Uma vez que a estrutura fique poderosa, não deseja que ninguém seja extasiado, pois o êxtase é contra a estrutura.

Escute e reflita sobre isto: o êxtase é contra a estrutura. Ele é rebelde, e não revolucionário. Um revolucionário deseja uma outra estrutura de seu próprio desejo, de sua própria utopia, mas igualmente uma estrutura. Ele deseja estar no poder, deseja ser o opressor e não o oprimido, o explorador e não o explorado, comandar e não ser comandado.

Um rebelde é aquele que nem deseja ser comandado nem deseja comandar; um rebelde é aquele que não deseja nenhuma comando no mundo; ele é anarquista, é aquele que confia na natureza e não nas estruturas feitas pelas pessoas; ele confia que se a natureza for deixada por conta própria tudo será belo. Ela é bela!

Um universo tão vasto segue em frente sem nenhum governo. Os pássaros, os outros animais, as árvores, tudo segue em frente sem nenhum governo. Por que o ser humano precisa de governo? Algo deve ter saído errado. Por que o ser humano é tão neurótico a ponto de não poder viver sem governantes?

(...) Dessa maneira, desde a infância não nos deram permissão de saborear a liberdade, pois, quando soubermos o que é liberdade, não concederemos, não nos comprometeremos, não estaremos dispostos a viver em nenhuma cela escura. Preferiremos morrer do que permitir que nos reduzam a escravos; nós seremos assertivos. (...)

O S H O 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Dos perigos da liberdade


(...) Estudante: O senhor disse que a liberdade é muito perigosa para o homem. Por quê?

K: Por que a liberdade é perigosa? Sabe o que é a sociedade?

E: É um grande grupo de pessoas que lhe dizem o que fazer e o que não fazer.

K: É um grande grupo de pessoas que lhe dizem o que fazer e o que não fazer. É também a cultura e são os costumes e hábitos de uma comunidade; é a estrutura social, moral, ética e religiosa na qual o homem vive — é a isso que geralmente se chama sociedade. Agora, se cada indivíduo nessa sociedade fizesse o que desejasse, ele seria um perigo para a sociedade. Se o senhor fizesse, aqui na escola, o que desejasse, o que aconteceria? Seria um perigo para o resto da escola; não seria? Por isso, as pessoas, de um modo geral, não querem que os outros sejam livres. Um homem realmente livre, não intelectualmente, mas interiormente livre da avidez, da ambição, da inveja e da crueldade, esse homem é tido como um perigo para as pessoas porque é completamente diferente do homem comum. Assim, ou a sociedade o venera, ou o mata ou é indiferente a ele.(...)

Krishnamurti em, Ensinar e Aprender, Capítulo 4

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Desilusão e cinismo ou transcendência?

(...) A regeneração do indivíduo não se acha no futuro, mas no agora e, se adiarem a regeneração para amanhã, estarão atraindo a confusão, estarão presos na onda das trevas. A regeneração é agora, e não amanhã, pois a compreensão só se dá no presente. Não compreendem agora porque não põem todo o seu coração e mente, toda sua atenção naquilo que desejam compreender. Se puserem o coração e a mente para compreender, compreenderão. Senhor, se der seu coração e mente para descobrir a causa da violência, se estiver plenamente consciente dela, será não-violento já. Infelizmente, entretanto, já condicionaram toda a mente com a morosidade religiosa e a ética social, que se tornaram incapazes de olhar a coisa diretamente — e aí está a dificuldade. 

Assim, a compreensão está sempre no presente; nunca no futuro. A compreensão é agora e, não, em dias que virão. E a liberdade, que não é isolamento, só pode surgir quando cada um de nós compreende sua responsabilidade em relação ao todo. O indivíduo é o produto do todo; não é um processo à parte; ele resulta do todo. No final das contas, o senhor é um produto de toda a humanidade. O senhor pode denominar-se como quiser, mas o senhor é o resultado de um processo total que é o homem. E, se o senhor, psicologicamente, não estiver livre, como pode ter liberdade exterior? O que significa liberdade exterior? Pode ter governos diferenças — mas, por deus, isso é liberdade? Podem ter um grande número de províncias porque cada um quer um emprego, mas isso é liberdade? Senhor, nós nos alimentamos de palavras vazias; lançamos sombras nas assembleias com palavras que nada significam; temos vivido de propaganda que é mentira. Não pensamos, seriamente e por nós mesmos, sobre tais problemas porque a maioria de nós deseja ser conduzida. Não queremos pensar e descobrir porque é muito penoso e decepcionante pensar. Ou pensamos e ficamos desiludidos e cínicos — ou pensamos e transcendemos. Quando transcendemos todo o processo do pensamento, então há liberdade. E nisso há alegria, criação, coisa que o homem correto, vivendo isolado, jamais entenderá. 
*
Nosso problema, portanto, é que nossos pensamentos vivem perambulando e, naturalmente, queremos pô-los em ordem. mas como promover essa ordem? Para compreender uma máquina que trabalha muito rapidamente, precisamos desacelerar seu movimento, não é? Se quisermos examinar um dínamo, é preciso diminuir seu movimento, mas não pará-lo; parado, ele se torna uma coisa morta e não podemos compreender uma coisa morta. Só podemos compreender uma coisa viva. Desse modo, a mente que exterminou os pensamentos por meio de exclusão e do isolamento não pode compreender o pensamento; só o compreenderá se desacelerar o seu processo. Quando veem um filme em câmera lenta, percebem o maravilhoso movimento dos músculos de um cavalo que salta. É bonito esse movimento lento dos músculos; mas quando o cavalo salta velozmente, tão grande é essa velocidade, que se perde a beleza. Da mesma forma, quando a mente se move devagar porque deseja compreender cada pensamento que surge, nesse caso ela está liberta do pensamento, livre do pensamento controlado e disciplinado. Pensamento é a resposta da memória; por conseguinte, o pensamento nunca pode ser criativo. Só quando se encontro o novo como novo, o original como original, só então há um estado criador. A mente é o gravador, o acumulador de memórias e, enquanto a memória for revivida pelos desafios, tem de continuar o processo do pensamento. Mas, se observarem, sondarem e compreenderem, total e completamente, cada pensamento, verão que a memória começa a murchar. Falamos da memória psicológica, e não da memória factual.

Krishnamurti em, Bombaim, 7 de março de 1948

Estão suprimindo todas as formas de liberdade

Há muito distúrbio e corrupção no mundo; as pessoas vivem extremamente perturbadas. É perigoso andar pelas ruas. Quando falamos em estar livres do medo, queremos a liberdade exterior — estar livres do caos, da anarquia, da ditadura. Mas nunca investigamos nem queremos saber se há uma liberdade interior, uma mente livre. Essa liberdade é real ou teórica? Consideramos o Estado como um obstáculo à liberdade. Os comunistas e outros povos totalitaristas afirmam que não existe essa tal de liberdade; o Estado, o governo, é a única autoridade. E estão suprimindo todas as formas de liberdade. Que espécie de liberdade, portanto, querem? A externa? Fora de nós? Ou a liberdade interior? Quando falamos de liberdade, trata-se da liberdade de escolha entre este e aquele governo, aqui e lá, entre liberdade exterior e interior? A psique interna sempre conquista o exterior. A psique, isto é, a estrutura interior do homem (seus pensamentos, suas emoções, ambições, ações, ganância) sempre conquista o exterior. Assim, onde buscar a liberdade? Podemos estar livres da nacionalidade que nos dá uma sensação de segurança? Pode haver liberdade em relação a todas as superstições, dogmas e religiões? Só poderá surgir uma nova civilização através da verdadeira religião, e não através da superstição e do dogma nem das religiões tradicionais. 

Krisnamurti em, O Caminho da Inteligência — Capítulo 3, Nova Déli, 5/11/1981

Criatividade não é um atributo da personalidade

Vazio é criatividade: não há separação entre ambas as coisas. Não é como se alguém primeiro tivesse de entrar em Vazio, e então evocar a condição de criatividade, mas é a submersão no Vazio que leva a pessoa, ipso facto, a se tornar uma com a criatividade. E se esta última é um estado de graça — uma dádiva do Céu, por assim dizer — e, portanto, para além da "Vontade", então isso é exatamente o que se poderia esperar. Também podemos dizê-lo da seguinte forma: as preocupações, os problemas psicológicos, os conflitos, em resumo, o "ruído" constante da mente, que a impedem de entrar no estado de Vazio, são o obstáculo — o único obstáculo — para o estado de criatividade.

Como o Vazio, a criatividade não é um atributo da personalidade, apesar de expressar-se através da personalidade. A criatividade transcende o ego e, na verdade, só chega a existir através da transcendência da individualidade. Ao contrário, podemos dizer que o ego é que obscurece a criatividade que não pertence a você nem a mim, nem a outra pessoa qualquer. Portanto, é bastante tolo e denota presunção alguém orgulhar-se da sua criatividade, ou de qualquer realização que venha daí. A criatividade pertence ao mundo integral da inteligência: na verdade, ela é a própria Inteligência, sempre que se possa manifestar — seja no homem, seja no animal, sobre a terra ou no mai longínquo ponto do espaço. 

Surpreendentemente, há certo número de pessoas, especialmente entre os chamados "racionalistas" e "livre-pensadores", que declaram não poder encontrar um traço de criatividade e inteligência, em todo o imenso mundo, fora do homem. A natureza, dizem eles, é completamente estéril, pois os acontecimentos são preparados inteiramente pelas leis da probabilidade, o que significa cego acaso. Penso que isso demonstra confusão de dois conceitos separados: por um lado, a maneira pela qual as coisas se perpetuam, a forma pela qual continuam a operar; por outro, a essência individual de cada uma das entidades observáveis na natureza, que é a sua "funcionalidade". O encaixe natural dessas "essências" e a funcionalidade das maiores entidades conglomeradas indicam, finalmente, que certas coisas e processos "fazem sentido". Tal como as peças de um gigantesco quebra-cabeças, vemos que elas se encaixam e indicam, portanto, que houve inteligência sendo envolvida, ou tendo-se envolvido, em algum ponto, ao longo da linha; a alternativa seria um mundo totalmente inanimado, de uma estrutura cem por cento ao acaso, ou o Caos. Por analogia, podemos tomar o caso do computador feito pelo homem. Também nesse caso, a unidade, quando funciona sem interferência humana, opera "automaticamente", isto é, pelas leis básicas da Física, portanto, ao fim e ao cabo, pelas leis de probabilidade. Contudo, não se pode negar que ele preenche uma função "significativa" — como que contra o processo do acaso — e, dessa forma, podemos dizer que foi tocado pela inteligência. 

Bem fora do argumento acima, as pessoas que não podem encontrar criatividade na Natureza parecem-me exemplificar aquelas que estão procurando alguma coisa distante do lugar onde se acham, quando essa coisa está junto delas. Como disse o Mestre Zen Hakuin: "Sem saber quanto a Verdade está próxima, as pessoas procuram-na longe... é uma pena!" Isso porque a criatividade que elas estão procurando e não podem encontrar é, antes de mais nada, a criatividade manifestada através da consciência, esta última compreendendo tanto o exterior como o interior, ou, respectivamente, o universo e a criatura, individualmente.

Seríamos poupados, de confusão, nesses assuntos, se estivéssemos cientes da forma pela qual são usados os termos "interior" e "exterior", com significado relativo ou absoluto. Se absoluto, eles não existem, mas seu uso se justifica quando o sentido relativista ou empírico é claramente entendido. Um bom exemplo deste último uso está na palavra "inspiração", que pode ser tida como resumo da criatividade. Inspiração significa, literalmente, retirar algo do exterior e, assim, implica uma fonte externa da verdade, isto é, "externa" para o ego. De onde, pensa o leitor, essa extraordinária energia vital poderia vir, a não ser do eu? O indivíduo "inspirado" representa um paradoxo, apenas para o dualista, não para o não-dualista, para o qual o "indivíduo" isolado do resto da existência representa uma completa miragem. Se, na verdade, não existe exterior nem interior, quando observamos o indivíduo "inspirado" estaremos observando a criatividade em ação. Esqueça o canal por onde veio essa criatividade, porque ele, de fato, não existe. 

Robert Powell, PHD.

A Felicidade que não conhece razão

Aquele que resolveu suas dúvidas, e cuja mente está absorvida no Eu, não mais precisa buscar por meios de liberação. Vendo, ouvindo, tocando, respirando, comendo, ele vive contente no mundo. (...) Compreendendo que o Eu está para além da ação, faço o que quer que precise ser feito, a qualquer tempo, e vivo contente. — Ashtavakra Gita
A verdadeira felicidade não tem uma razão, está para além de explicações, não depende de circunstâncias externas. Não é a satisfação de algum desejo ou obtenção de um objetivo. Essas são satisfações de curta vida, que podem ser transformadas pelos acontecimentos externos. Então, podemos perguntar: Como pode ser isso, de onde vem essa felicidade? Logicamente, algo parece errado, se a pessoa se apega a uma explicação convencional da personalidade humana. Se o homem nada mais é do que uma máquina fisiológica, com certas necessidades fisiológicas e psicológicas que devem ser satisfeitas para que ele se mantenha "feliz", então de onde vem a bem-aventurança, que não é baseada na satisfação de nenhuma dessas necessidades? 

A resposta só pode ser que temos julgado erroneamente nossos "eus" e que a natureza inata do eu é verdadeira felicidade (Infelicidade mostra, portanto, não tanto a ausência de felicidade como o fato de que perdemos nossa verdadeira identidade, e com isso perdemos nosso caminho na vida). Ora, isso deve ser assim, porque sem o eu o homem é um mero computador — um aparelho sensório com centro de processamento de dados e biofeedback. E um computador, por mais sofisticado que seja, permanece entidade mecânica que só pode reagir mecanicamente a estímulos externos ou internos. 

O homem tem, naturalmente, uma boa quantidade dessa feição-computador em si próprio, mas também é muito mais, e só por isso podemos falar dele como ser "espiritual". Por outro lado, fosse ele simples e exclusivamente programado (condicionado) como entidade, teria o senso estético, a capacidade de apreciar a música, de sentir a beleza da natureza, dos grandes trabalhos de arte ou de uma partida de xadrez jogada com perícia? A inteligência verdadeira seria possível, a capacidade de descobrir o "novo", que fica para além de qualquer programação ou condicionamento, e, acima de tudo, poderia ele sentir a bem-aventurança que vem quando o cérebro está absolutamente tranquilo? Na verdade, é o "ruído" contínuo do nosso cérebro-computador que obscurece a compreensão da nossa verdadeira identidade com tudo quanto dela vem.

Robert Powell

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quem é você? Ego ou Vazio?

Tentar pensar no Eu que está para além do alcance do pensamento é apenas criar outro pensamento. Abandonando tal pensamento, eu fico em paz. — Ashtavakra Gita
Quase todos nós, quando nos perguntam — "Quem é você", temos uma pequena dúvida quanto à nossa identidade. Pode haver alguns que não estejam tão seguros; não sabem realmente quem são, mas ocupam-se em descobrir uma identidade e, geralmente, não se passa muito tempo sem que também eles se liguem a algo que lhes parece ser psicologicamente satisfatório. 

O autor deste texto começou a vida sabendo integralmente quem era e para onde ia. Contudo, há alguns anos atrás descobriu que estava sendo vítima de um caso de identidade equivocada, que não era absolutamente o que pensava ser, e que aquilo que realmente era, sua verdadeira identidade, estava bem além do alcance de seu pensamento habitual. Consequentemente, ele teve de revisar toda sua maneira de pensar e, virtualmente, começar do princípio. 

Sinto que saber quem ou o que alguém é, faz-se absolutamente fundamental para o que quer que seja que esse alguém está fazendo. Sem tal conhecimento, nada tem, na verdade, muita significação, e a pessoa vive num mundo de total ilusão, como acontecia com este escritor.(...)

Assim, o problema que se nos apresenta é examinar, como se nunca tivéssemos dado ao caso um só pensamento (e provavelmente não demos), a ideia da identidade pessoal. Há, em primeiro lugar, a "impressão" de que somos alguma entidade, algum "eu" contido em algum "corpo", que todos possuem e sentem intuitivamente. Veremos, dentro de um momento, como essa impressão surgiu. Provavelmente, a maioria das pessoas, ao lhe perguntarem: "Quem é você?" respondem imediatamente lançando um nome, como se isso fosse o fim e não o princípio da indagação. Isso é como se alguém jamais tivesse visto um automóvel e, ao indagar o que era aquilo lhe dissessem: "Chevrolet." Assim, antes de mais nada, o nome, a verbalização, realmente bloqueia a indagação sobre a identidade de alguém.(...) 

Vamos, agora, continuar a indagação com um pouco mais de profundidade, passando para além de nomes e aparências. Há uma coisa que todos nós possuímos, e que é a consciência das coisas. Não se trata da minha consciência, ou da sua consciência, embora seja você, ou seja eu quem esteja aparentemente, no centro da questão. Assim como a luz possibilita às pessoas a identificação dos objetos, a consciência possibilita perceber, discriminar, compreender. Em si própria não possui identidade, mas qualquer identidade que a ela apareça associada ergue-se dentro dessa consciência. É a consciência que temos imediatamente depois de acordar de um sono profundo, quando não sabemos quem somos, o que somos e, na verdade, onde estamos.Não precisamos insistir nesse ponto. A capacidade básica de discernir, de aprender, existe em cada ser dotado de sentidos. Alguns usam mais essa capacidade do que outros, mas a luz da consciência está em todos os seres humanos e não dá, portanto, a menor indicação da identidade de alguém. Ainda assim, como já dissemos, cada um de nós traz em si essa "sensação" de personalidade. 

De certa forma, é um assunto complexo esse de como tal sensação de personalidade, com a consequente identidade equivocada, chegou a existir. Não é fácil, talvez nem seja sequer possível, realmente, descrever inteiramente como tal coisa aconteceu, de forma que só podemos sugerir o processo. cada um de nós deve "sentir" isso, compreender isso por si mesmo, e quando o conseguimos, descobrimos que a identidade equivocada desapareceu, miraculosamente. 

Através da consciência discernimos a Forma, as múltiplas imagens, de início apenas contornos vazios que posteriormente recebem conteúdo (isto é, significação funcional) pela "denominação". Assim, cada contorno, quando familiar, recebe uma etiqueta, e esse é o primeiro processo de "identificação" a que nos ligamos. Parte desse estágio inicial de identificação está em vermos constantemente presente o contorno de determinado "corpo", que acompanha todas as percepções. A não ser pelos períodos de sono, ele está sempre ali, assim como estão as várias sensações e impressões sensórias continuamente recebidas através daquele "corpo". 

A sensação de personalidade então chega através da identificação com a imagem sempre presente do corpo, dando origem ao pensamento do "eu" inicial. É importante notar que, conforme dissemos antes, a própria Consciência — que, se pensarmos nisso por um momento, não está associada a um determinado corpo — não demonstra ego-sensação, nem a sensação de ser parte de algum lugar ou de estar dentro de determinado período de tempo: ela está fora do espaço-tempo. Da mesma forma, o corpo físico, que em si mesmo é insensível, está naturalmente provado da sensação do ego. O estranho é que quando os dois, essa Consciência e o "corpo físico" se juntam, desse encontro emerge uma sensação de personalidade ou um falso "eu" chamado "ego". Apressamo-nos a acrescentar, todavia, que o precedente ainda descreve o mecanismo em imaginação dualística, já que, afinal, o "corpo físico" (como algo que podia existir fora da Consciência) não existe; é chamado assim, mas na verdade não passa de mera aparência, um contorno colocado naqueles termos pelo pensamento e pela linguagem. 

Assim, o ego que emerge de tal união de Consciência e corpo é uma entidade fantasma, é, realmente, uma construção do pensamento que permanece ativo e faz sentir sua presença apenas durante os períodos de vigília. (E, com essa identificação primordial, surge também a manifestação de todos os outros corpos e objetos — toda a aparência do mundo.) Essa construção do "eu" pelo pensamento, uma vez criada, nutre-se e mantém-se sempre pela associação com outras construções do pensamento, tais como o nome de família, senso de posse, e assim por diante. Ergue-se e baixa como o sol, no acordar e no dormir. No sono profundo não há sensação de identidade, contudo não podemos negar que existimos. 

Assim, percebemos por nós mesmos a natureza real do ego, e descobrimos, claramente, que se trata de um eu falso, que o ego deve ser igualado à mente, que é vista apenas como um complexo de lembranças, experiências e pensamentos baseados nessas experiências — sempre perdendo parte de seu conteúdo de memórias com o passar do tempo e sempre acrescentando-lhe algo, pois o processo de experiências continua. Dado que o pensamento, do qual a mente é construída, não pode ser tido como durável, e dado que essa carga de pensamentos, memórias, imagens, desejos, ansiedades, etc., não pode ser tida como possuindo qualquer estrutura definida e permanente, não podemos atribuir a a personalidade à mente. Assim, o ego, através do qual nós vivemos, é essencialmente vazio. Obteve uma porção de coisas, mas, essencialmente, em sua natureza original, é um Nada. 

Então, que somos? O eu real não é o corpo, não é o ego; deve ser, é evidente, o que restar, uma vez descartadas todas as coisas que não somos. O que permanecer, após serem descartados todos os aspectos ilusórios da nossa existência, é o eu real. Façamos isso e chegaremos, inevitavelmente, ao Vazio! Isso somos. Teremos de afastar sem piedade todas as coisas que são apenas elementos do pensamento, construções do pensamento, em justaposição mais ou menos temporária. Compreenderemos que algum padrão de pensamento sempre repetido,  tal como "eu sou o corpo", que é a identificação básica subjacente, não confere personalidade a esse corpo, forçosamente, nem esse corpo incute realidade nos padrões do pensamento. Compreenderemos que o ego teve início como padrão destacado de tais elementos do pensamento e, uma vez cristalizado, "desenvolveu-se" com vários acréscimos posteriores. Assim, posses materiais, educação, meio, atuam como verdadeiros "construtores do corpo" para aquele ego, formando uma "personalidade". Essa personalidade parece ter vida própria, sem saber de onde ela vem. Quando, em certos momentos, faz-se vagamente consciente do Vazio, não sente tal coisa como sendo ela própria, mas como ameaça — a ameaça de morte iminente. Assim, houve uma verdadeira inversão: o ego representa um estado de morte: mata o eu a cada momento de sua vida ativa. A liberação é o retorno ao Vazio. 

Os leitores que não estão apenas lendo este artigo, mas têm realizado alguma coisa, ativamente, à proporção que leem, compreenderão, agora, que não "conhecem" o eu, mas são o eu. "Conhecer" pressupõe objeto e sujeito e, sendo assim, não pode jamais aplicar-se ao nosso eu, que, como vimos, não é coisa de espaço e tempo. Portanto, o leitor não conhece o eu, que compreende todos os objetos e todos os sujeitos. É através do eu que o leitor percebe entidades de espaço e tempo, mas o eu, em si mesmo, só é compreendido, não conhecido. A palavra "conhecer" não se aplica, pois, em conexão com o eu. Entretanto, essa palavra tem sido habitualmente usada como tal porque, pelo menos no presente estágio de evolução da consciência, poucos compreendem tais sutilezas de distinção. Às vezes, essa compreensão do eu é chamada "Conhecimento", escrito com C maiúsculo, para diferenciá-lo daquilo que habitualmente se conhece por esse nome, mas tal uso tende a causar confusão em muitos leitores. Pela mesma razão não adotei a forma de escrever a palavra eu com maiúscula, porque considero que o intento é melhor alcançado usando a sua forma cotidiana de escrever. O uso de maiúsculas pode levar a alguns a pensar que aquilo a que nos estamos referindo é alguma coisa que está fora deles ou é apenas uma parte deles no chamado nível "espiritual" mais alto, quando, na verdade, ele é, simplesmente, sua única e integral identidade.

Dr. Robert Powell

O Vazio que Somos

Talvez o caminho mais fácil para a compreensão do Vazio seja olhar diretamente para a natureza essencialmente vazia das nossas atividades e motivações, a partir de um ponto de vista fundamental — em resumo, através de uma autoconfrontação duramente honesta.
Na minha opinião, uma das coisas mais difíceis de fazer — mais difícil do que dominar qualquer disciplina intelectual, por complexa que seja — é despojar nossa vida de toda superficialidade, e examinar, para viver com ela, a integral conscientização daquilo que restar. Poucos são os que se permitiram enfrentar essa realidade, porque despojar-se de todo, psicologicamente, acarreta penoso reconhecimento da natureza e motivações básicas das pessoas. Enfrentar isso, que é como ser virado pelo avesso, ou leva o homem ao desespero e, possivelmente, ao suicídio, ou o conduz diretamente para o esclarecimento, o que consideramos como nada mais nada menos do que viver simplesmente como um ser humano, sem qualquer simulação, sem qualquer importância auto-reconhecida, sem quaisquer impulsos psicológicos que se dirijam para além do aqui e do agora. 

Quem quer que um dia se tenha empenhado em tal autoconfrontação, saberá, imediatamente, de que estamos falando. Por outro lado, a pessoa que ainda não chegou a tal exercício pode considerar útil explorar, não a confrontação em si — que para ela seria, inevitavelmente, por ouvir dizer, uma experiência de segunda mão — mas o que a leva a hesitar diante dela. Esta última indagação, a esta altura, pode fazer-se a única possível, e chegaria, mesmo, a levar diretamente a uma experiência de encarar o caráter básico da pessoa, o reconhecimento da substância primitiva do seu próprio ser. 

É o fato de tudo isso ser extremamente penoso que leva o homem a desistir de fazer o reconhecimento honesto de sua situação total e prosseguir com o confronto. A angústia não está apenas em ver como somos falsos, banais, feios, depois que todas as máscaras de embelezamento que usamos são retiradas. Ela alcança muito mais profundamente, vai ao próprio âmago do nosso ser, quando compreendemos o "artificialismo" da vida que levamos — e, com essa palavra, não estamos apenas nos referindo a um amor excessivo pelas coisas fabricadas, perda de contato com as coisas da terra, ou com a nossa acomodação a uma forma de vida cada vez mais mecanizada e automatizada. Essas coisas, por si mesmas, estariam longe de ser tão más quanto as fazemos, se apresentadas dentro da estrutura de uma perspectiva psicológica fundamentalmente sadia. O que queremos dizer, porém, é quando alguém possui uma visão compreensiva do "mim" e, assim, apreende sua essência, algo se impõe com muita força. É que nosso ser, nosso próprio pensamento, é orientado como causa-efeito numa escala extraordinária. Isso cria um estado de expectativa que nega e sobrepõe-se, inevitavelmente, ao aqui-e-agora. 

Psicologicamente, estamos nisso o tempo todo. Realizamos coisas para que certos efeitos sejam criados, ou trabalhamos por segurança maior, por maior aprovação social, ou para diminuir nosso senso de solidão, ou seja lá para o que possa ser. Estamos muito presos ao conceito do "a fim de que", por isso sempre "vivemos para", e jamais "vivemos", apenas. Há alguma coisa que fazemos, que pensamos, que não seja orientada para uma finalidade? (Talvez somente nas raras ocasiões em que o fazemos por amor e não estejam em jogo aquisições ou recompensas.) Penso que esta é uma descrição justa da nossa ocupação essencial na vida. 

Chega, então, a dura descoberta de que, na realidade, não há, absolutamente, o "a fim de que", não há o "viver para", tais coisas não existindo na natureza — é apenas o  intelecto a extrair dos fenômenos que observa algum tipo de explanação teológico, que, entretanto, permanece como intervenção humana. Com isso vem a compreensão da completa inanidade das nossas ocupações. Não seria tão mal se apenas alguns, ou uns poucos dos nossos esforços se revelassem vãos. Seria uma situação com a qual conseguiríamos tratar, porque a percepção representaria apenas um outro desafio: deslocar nossas atividades para novas áreas de interesse que oferecessem, ao menos, uma porção módica de incentivo. Ser, porém, confrontados com o vazio de tudo que estamos fazendo, pensando, almejando, é mais do que aquilo que podemos suportar. Não deixa, absolutamente, possibilidade de fugir ao nada, porque mesmo as fugas perderam agora o seu atrativo e são vistas como tão inúteis quanto as coisas quanto as coisas das quais queremos nos afastar. Subitamente, parece inteiramente claro que estivemos perdendo nosso tempo, empenhados como estávamos em atividades sem significação; ainda assim, o que temos pela frente é menos claro. Se não vamos continuar com as mesmas coisas — e depois do que foi tão claramente visto, não poderemos, de fato, fazer isso — que diferença faz viver ou morrer? Qual é, afinal, o sentido de nossa existência? Ainda há nela algum escopo? Afinal, para nós, que sempre consideramos ser o "esforço", o "trabalhar para" alguma coisa, sinônimo de "viver", a autoconfrontação fornece rápida visão de completa derrota. Mergulhados como ficamos nessa coisa chamada, provisoriamente, o "nada", ficamos, no momento, dado o choque, paralisados quanto ao nosso funcionamento, de hábito orientado para um objetivo.

Antes usávamos, prudentemente, o termo "artificialidade" quando nos empenhávamos em descrever nossa forma de viver, e agora vamos ver porque o fizemos: a Realidade nada sabe de fins, objetivos, conceitos e esforços dos seres humanos. O conceito integral de sociedade, com sua luta pelo poder entre as nações, as classes, os indivíduos e hierarquia social levando às perenes tentativas para "subir", tanto social como materialmente, são apenas invenções humanas. Ou talvez fosse mais exato dizer que são o produto de um tipo caracteristicamente diabólico da mente humana. Quando considerada como uma espécie de jogo, no qual o jogador mais ágil ganha um troféu, tal manobra, dentro de regras societárias, pode não afetar a mente de forma duradoura. Quando tomada seriamente, entretanto, torna-se uma armadilha — desperdício de tempo e de energia. Podemos dizer, por exemplo, que o prazer obtido pelos homens em assegurar seu poder sobre seus semelhantes, em "ganhar a competição", e assim por diante, é totalmente irreal. Na verdade, não passa de um sacalão que a mente recebe através de sua própria perversão natural, baseada na suposição de que o homem é alguma coisa que não é. (E, é preciso notar, essa perversão se revela, ao mesmo tempo, uma faceta da estrutura social existente.) Assim, a experiência é, realmente, uma espécie de masturbação psicológica, infinitamente mais nociva, porém, do que a fisiológica.

Ou, para usar outra forma de exemplo: eu sou, psicologicamente, e de forma completa, dependente de outra pessoa, e, subitamente, essa pessoa morre ou se afasta de mim, e eu fico sem nada. Sinto-me abandonado, obliterado, compreendo, com um choque, que toda a minha existência fora completamente irreal, que me vinha embalando da maneira mais insidiosa, e que a realidade não dá provimento às minhas necessidades e dependência psicológicas particulares. Por que fiz isso — arrimar-me em outra pessoa ou identificar-me com ela? Porque, desde o princípio, havia algo em minha situação pessoal que era, ao mesmo tempo, doloroso e assustador de contemplar. Não sendo capaz de enfrentar essa situação, considerei que, incorporado a uma outra pessoa, menos responsável me fazia, menos vulnerável, menos introspectivo, mais seguro. Mas, como era previsível, "aquilo" me atingiu.

Deixe-me dar apenas mais um exemplo da nossa vida no irreal. A morte é real e nós a aceitamos sem demasiada noção enquanto acontece com os que estão fora do círculo próximo da nossa família e amigos. O pensamento da nossa própria morte, entretanto, é a perplexidade, e a maioria das pessoas sente-se incapaz de encarar esse fato inevitável com serenidade. parece-me que essa atitude, como fuga da realidade, pode ser comparada à do homem que descobre que sua noiva, ou sua namorada, já não é virgem. Ele não é o primeiro, e sofre por isso. Entretanto, diante do fato de que, inevitavelmente, há que haver um primeiro, isso importa? Mulheres que perdem sua virgindade de maneira considerada prematura, e tantos homens como mulheres morrendo — de maneira quase sempre considerada prematura — são os átomos da realidade, que aceitamos no universal, e diante dos quais recuamos, no particular.

Tratamos dessa questão com certo pormenor, para tornar claro que nossas vidas são de fato artificiais, baseadas em muitas suposições não escritas e não discutidas, de natureza social e cultural arbitrária, e que qualquer tipo de artificialismo, implicando separação da realidade, significa conflito, portanto sofrimento. Isso se dá porque cedo ou tarde a bolha de pensamento confortador, que nos isola da realidade, estoura. A absorção, em nível subliminar, de todos os padrões de pensamento do mundo, é "condicionante". E ver através dos padrões de condicionamento é, na verdade, "aprender". tal como estão as coisas, todos vivemos condicionados mas há, literalmente, um mundo de diferença entre alguém que está inconsciente desse fato e a pessoa que sabe estar condicionada e convive com ele à luz da sua conscientização.

Em resumo: pode ser dito que através das nossas atividades, através de hábitos de pensamento indelevelmente impressos — todos, afinal, resultantes do princípio prazer-dor como mola-mestra — estamos completamente desligados do que é real, e assim, da única coisa que pode ser considerada como valendo verdadeiramente a pena. E é esse fato, acima de tudo, o responsável pela nossa angústia.

Dr. Robert Powell

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Vazio: a chave da plenitude da vida

Embora levando exteriormente vidas de grande propósito e "negócios", a maioria das pessoas, hoje, teria de admitir, se forem totalmente honestas consigo mesmas, que estão vivendo uma existência em que a carência de sentido existe em diversos graus. Isso acontece porque a maior parte de seus esforços, embora tenham finalidade dentro de um estreito contexto, são essencialmente fragmentários e contraditórios, portanto não podem contribuir para um estilo de vida completo e saudável, como não podem levar a uma visão do mundo baseada na realidade. 

Longa sucessão de religiões orientais e de escritos filosóficos, vindos das mais antigas escrituras da Índia — os Vedas e os Upanishads — até o Zen, ensinam que há uma outra forma de funcionamento dos seres humanos, uma vida inteiramente livre de fragmentação, vida que também possui profundo sentido e grande beleza. E, nesses ensinamentos, o que é notável, existem, através da imensa variedade de expressão religiosa que representam, um discernimento e uma experiência elevadíssimos, que sempre permanecem os mesmos: a visão direta da natureza, do eu, e do mundo, visão que transforma e libera aquele que a obtém. Assim, com o advento dos Upanishaes, que foram chamados, com muita justiça, os ensinamentos mais revolucionários que vieram a ser oferecidos à humanidade, uma fagulha brilhou na consciência do homem, e a chama que dela nasceu tem sido conservada viva por um pequeno número de indivíduos, durante todos estes séculos. 

As intuições centrais desses ensinamentos, os únicos que dão verdadeira significação à vida, são a experiência e a compreensão integrais do que, em sânscrito, é designado pela palavra "Sunyata". Tal palavra é, quase sempre, embora inadequadamente, traduzida como "Vazio" — inadequadamente porque a palavra inglesa tem uma conotação pesadamente negativa, associado-se a futilidade, frustração e mesmo niilismo, quando Sunyata é, na verdade, uma experiência das mais positivas, soberanamente libertadora, que dá nova e melhorada amplitude de vida ao ser humano. Só ela é capaz de apagar o passado, com suas lembranças dolorosas, e só ela tem explicação para o problema do sofrimento. Esse Vazio infunde, pela primeira vez, sentido real a cada uma das atividades da pessoa, e assim, paradoxalmente, é a própria chave da plenitude da vida. 

Não sendo Sunyata um simples conceito, ou doutrina intelectual, já que se torna viva realidade depois que alcançada determinada profundidade de entendimento, não é possível, realmente, descrever a experiência com "qualquer" palavra (por isso é bom conservar a expressão equivalente de "Vazio"). Só é possível fazer sugestões sobre alguns dos aspectos das intuições revolucionárias, dos quais um dos mais importantes, no Vazio, é o de não haver, de forma alguma, autoridade, fórmula, princípio, que possam guiar uma pessoa na sua vida cotidiana, nem crença à qual se agarrar quando enfrenta uma frustração, conflito, ou sofrimento; não há filosofia ou doutrina na qual se possa encontrar refúgio sólido — pois tudo isso é visto como simples invenções da mente; a liberação, em relação ao sofrimento, só pode vir do interior da própria pessoa. Outro aspecto importante do Vazio está no fato de a pessoa acordar para o verdadeiro significado dos seus objetivos e motivações convencionais, e descobrir que eles têm muito pouco valor e significância. Em terceiro lugar, mas não o menos importante, a pessoa compreende que o "eu" é visto muito superficialmente, que seus atributos são baseados em aparências pouco profundas, em impressões, mas que, realmente, quando o desejamos destacar, definindo sua natureza ou identidade, ele se revela uma identidade das mais ilusórias. E quando chegamos a compreender o assunto ainda mais profundamente, vemos que não se trata, absolutamente, de uma "entidade"! Essa é, de fato, a apoteose da experiência em Vazio. 

Assim, o retorno à significação, que é sentido como aguda necessidade por muitas pessoas dadas à meditação, só é possível através da compreensão da "plenitude do Vazio", que é a nossa natureza autêntica. E tal compreensão só pode ter lugar depois que o ser humano abandonou, com facilidade, sem sofrimento, e com finalidade completa, as amarras que o prendem a uma sociedade condicionada e condicionante. 

Robert Powell (1918-2013)

domingo, 18 de janeiro de 2015

A mente adquirida é um poço sem fundo de por quês

Esse é todo o esforço da ciência: destruir o mistério da vida. E a maneira é encontrar respostas para todos os porquês. E a ciência acredita, naturalmente com arrogância e ignorância, que um dia ela será capaz de responder a todos os porquês. Isso não é possível. Mesmo se nós respondermos a todos os porquês, o último dos porquês permanecerá: por que a vida existe, afinal? Qual o significado da existência? Qual é o propósito de tudo isso? Essa pergunta é a última e ela não pode ser respondida.

Se alguém lhe der uma resposta, ela simplesmente irá criar um novo questionamento. E respostas já têm sido dadas... Algumas pessoas acreditam que Deus criou o mundo porque queria ajudar a humanidade. Agora, que tipo de resposta é essa? Ele criou a humanidade para ajudar a humanidade. Qual era a necessidade de criar? Alguns outros dizem que Deus criou o mundo porque ele estava se sentindo muito solitário. Se Deus estava se sentindo mal muito só, então não existe qualquer possibilidade de alguém se tornar um Buda.

E se Deus de repente começou a se sentir solitário, então o que ele estava fazendo antes de criar o mundo? Por toda a eternidade ele tem estado só... então de repente , num dia, numa manhã, ele ficou enlouquecido, ou o que? De repente ele começou a se sentir solitário depois do almoço. E qual era a necessidade de criar todo o mundo? Apenas uma mulher já teria sido o suficiente!

E agora, como ele está se sentindo hoje? Muito cheio de gente? Gente em demasia pelas ruas? Deve estar planejando destruir o mundo em breve. Sobre que tipo de Deus você está falando? O seu Deus é uma pessoa que pode se sentir solitário?

Todas essas são respostas tolas para perguntas tolas.

Então existem pessoas que dirão: isso é um jogo de Deus, a sua brincadeira. Ele não poderia ter ficado sentado em silêncio? Que espécie de jogo é esse? Adolf Hitler e Mussolini e Joseph Stalin e Mao-Tse-Tung, Gengis Khan, Tamurlaine, Nadir Shah... Brincadeira de Deus? Seis milhões de judeus assassinados por Adolf Hitler, e Deus está brincando com um jogo? Por que ele não vai jogar golfe? ou xadrês? Por que torturar pessoas?

Tanta miséria no mundo e esses tolos seguem dizendo que isso é brincadeira de Deus? Crianças que nascem paralíticas, cegas, surdas, mudas... Brincadeira de Deus? Que espécie de Deus é esse? Ou ele não é Deus, ou pelo menos ele não é divino. Ele deve ser muito mau.

Essas perguntas não ajudam. Elas criam mais perguntas.

Osho 

sábado, 17 de janeiro de 2015

Muitos buscam por consolo e não pela verdade

(...) Quando se sentem incompletos, sentem-se vazios, e desse sentimento de vazio surge o sofrimento; devido a essa incompletude vocês criam padrões, ideias, para sustentá-los no vosso vazio, e estabelecem esses padrões e ideais como sendo a vossa autoridade externa. Qual é a causa interior da autoridade externa que criam para si mesmos? Primeiro, sentem-se incompletos e sofrem por causa dessa incompletude. Enquanto não compreenderem a causa da autoridade, não passarão de uma máquina imitativa, e onde existe imitação não pode existir a preciosa realização da vida. Para compreender a causa da autoridade deverão acompanhar o processo mental e emocional que a cria. Em primeiro lugar sentem-se vazios e para se livrarem desse sentimento fazem um esforço; ao fazer esse esforço estão somente a criar opostos; criam uma dualidade que apenas aumenta a incompletude e o vazio. Vocês são responsáveis por autoridades externas tais como religião, política, moralidade, por autoridades tais como padrões económicos e sociais. Devido ao vosso vazio, à vossa incompletude, criaram estes padrões externos dos quais tentam agora libertar-se. Evolucionando, desenvolvendo, crescendo longe deles, querem criar uma lei interna para vocês próprios. À medida que vão compreendendo os padrões externos, querem libertar-se deles e desenvolver o vosso próprio padrão interno. Este padrão interno, a que vocês chamam de “realidade espiritual”, vocês identificam-no como uma lei cósmica, o que significa que não criaram senão outra divisão, outra dualidade.

Portanto, primeiro criam uma lei externa, e depois procuram libertar-se dela desenvolvendo uma lei interna que identificam com o universo, com o todo. É isso o que está a acontecer. Continuam conscientes do vosso egotismo que agora identificam como uma grande ilusão, chamando-lhe cósmica. Portanto, quando dizem, “Eu obedeço à minha lei interna”, não estão senão a utilizar uma expressão para encobrir o vosso desejo de se libertarem. Para mim, o homem que esteja ligado seja a uma lei externa seja a uma interna está enclausurado numa prisão; está dominado por uma ilusão. Por isso, um homem assim não pode compreender a ação espontânea, natural e saudável.

Ora bem, porque é que criam leis internas para vocês próprios? Não será porque a luta da vida diária é tão grande, tão inarmônica, que querem libertar-se dela e a criação de uma lei interna torna-se o vosso conforto? E tornam-se escravos dessa autoridade interna, desse padrão interno, porque rejeitaram somente a imagem exterior, e criaram no seu lugar uma imagem interior à qual se escravizaram.

Por este método não alcançarão o verdadeiro discernimento, e o discernimento é completamente diferente de escolha. A escolha tem que existir onde houver dualidade. Quando a mente está incompleta e está consciente dessa incompletude, tenta libertar-se dessa incompletude e em consequência cria o oposto a essa incompletude. Esse oposto pode ser um padrão tanto externo como interno, e uma vez estabelecido esse padrão, julga cada ação, cada experiência por esse padrão, e vive assim num estado contínuo de escolha. A escolha nasce somente da resistência. Se não houver discernimento, não há esforço.

Portanto para mim toda esta ideia de fazer um esforço em direção à verdade, em direção à realidade, esta ideia de efetuar um esforço continuado, é absolutamente falsa. Enquanto estiverem incompletos experimentarão sofrimento, e por isso estarão comprometidos com a escolha, o esforço, a luta incessante por aquilo a que chamam de “conhecimento espiritual”. Por isso eu digo que quando a mente fica aprisionada na autoridade não pode ter compreensão verdadeira, pensamento verdadeiro. E uma vez que as mentes da maioria das pessoas estão aprisionadas na autoridade – que não é mais que uma evasão à compreensão, ao discernimento – não poderão experimentar completamente a experiência da vida. Por esse motivo vivem uma vida dupla, uma vida de fingimento, de hipocrisia, uma vida na qual não existe nenhum momento de plenitude.

Krishnamurti em, A Arte de Escutar
Alpino, Itália - 1ª palestra 1 de julho, 1933
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill