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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Há, de fato, um estado de suprema felicidade?


Há, de fato, um estado 
de suprema felicidade?

Quando se observa o mundo e principalmente as condições reinantes neste país, deve tornar-se evidente a cada um de nós a necessidade de uma revolução fundamental. Empregando esta palavra, não me refiro à reforma superficial, à reforma de remendos, nem à revolução instigada por um certo padrão de pensamento, depois de devidamente calculados os riscos e possibilidades; refiro-me, sim, à revolução que só pode realizar-se no nível mais elevado, ao começarmos a compreender o significado de nossa mente. Se não se compreende essa questão fundamental, acho que qualquer reforma, em qualquer nível e por mais benéfica que seja, temporariamente, levará fatalmente a maiores sofrimentos, a um caos maior ainda.

Penso necessário compreender claramente este ponto, a fim de que se estabeleça um certo contato entre o orador e vós mesmos; pois à maioria de nós só interessa uma certa espécie de reforma social. Observa-se uma proporção colossal de pobreza, ignorância, medo, superstição, idolatria — a vã repetição de palavras, que se chama oração e, ao mesmo tempo, uma enorme acumulação de conhecimento científico, assim como o chamado conhecimento colhido nos livros sagrados. Não se precisa visitar muitos países, para se ver tudo isso; pode-se observá-lo, percorrendo as ruas, aqui, na Europa, ou na América. Os meios de satisfação das necessidades físicas podem ser abundantes na América, onde impera o materialismo e onde se pode comprar de tudo; mas, visitando-se este nosso país, encontra-se esta desumana miséria. E há também a luta de classes — não emprego a expressão "luta de classes" no sentido comunista, mas tão somente para constatar um fato, sem interpretá-lo de qualquer maneira que seja. Vê-se a divisão das religiões — cristãos, hinduístas, maometanos, budistas, e suas múltiplas subdivisões — todas a bradar, para converter, ou mostrar um "caminho" diferente, uma via diferente. A máquina tornou possíveis verdadeiros milagres na produção de utilidades, principalmente na América; finas, aqui na Índia tudo é limitado, escasso. Neste país, onde tanto se fala de Deus, onde tanto se reza e se celebram rituais, etc., somos tão materialistas como os ocidentais, com a só diferença de termos feito da pobreza virtude, um mal necessário e tolerável.

Em vista desse tão altamente complexo padrão de riqueza e pobreza, de governos soberanos, exércitos e os mais recentes instrumentos de destruição em massa, ficamos a perguntar-nos o que irá resultar deste caos, aonde ele nos levará. Qual a resposta? Acho que qualquer pessoa verdadeiramente séria, já terá feito a si mesma esta pergunta. Como iremos, como indivíduos e como grupos, ocupar-nos com este problema? Achando-nos confusos, voltamos, os mais de nós, a atenção para um dado padrão, religioso ou social, procuramos amparar-nos nalgum guia, para sairmos deste caos, ou encarecemos a necessidade de voltar às velhas tradições. Dizemos: "Retornemos ao que nos ensinaram os rishis e que se encontra no Upanishads, no Gita; necessitamos de mais orações, mais rituais, mais gurus, mais mestres". É isto que realmente está acontecendo, não?

Observa-se no mundo, simultaneamente, desenfreada tirania e relativa liberdade. Agora, considerando este caótico espetáculo — não filosoficamente, não como mero observador dos acontecimentos, mas como ente humano em que se acha desperto o sentimento de piedade, o germe da compaixão, como é o caso de todos vós, estou bem certo — considerando este espetáculo, como reagis? Qual a nossa responsabilidade perante a sociedade? Ou de tal maneira estamos presos na engrenagem da sociedade; no tradicional padrão implantado por determinada cultura, ocidental ou oriental, que estamos cegos? E se abris os olhos, interessam-vos apenas as reformas sociais, a ação política, o ajustamento econômico? A solução deste enorme e complexo problema só se encontra nesta direção, ou noutra direção completamente diferente? O problema é meramente econômico e social? Ou existe caos e a constante ameaça de guerra porque não estamos, em geral, verdadeiramente interessados nos problemas mais profundos da vida, no desenvolvimento total do homem? A culpa é de nosso sistema educativo? Superficialmente, somos educados para aprender certas técnicas, o que produz sua peculiar cultura, e parece que isso nos satisfaz.

Ora, observando-se este estado de coisas, do qual estou bem certo estais perfeitamente apercebidos, a menos que sejais insensíveis ou não queirais ver — qual é a vossa reação? Por favor, não respondais teoricamente, de acordo com o padrão comunista, capitalista, hinduísta, ou outro qualquer, pois tal padrão vos foi imposto e é portanto inverdadeiro, mas, ao invés, despojai a vossa mente de todas as suas reações imediatas, das chamadas reações "estudadas", e verificai qual é a vossa reação como indivíduo. De que maneira resolveríeis este problema?

 Se fazeis esta pergunta a um comunista, ele dará uma resposta muito positiva, e do mesmo modo procederá o católico, ou o hinduísta ortodoxo, ou o muçulmano; mas essas respostas, obviamente, são condicionadas. Eles foram educados para pensar dentro de certas rotinas, amplas ou estreitas, por uma sociedade ou cultura a que não interessa absolutamente o desenvolvimento total do espírito; e uma vez que respondem de acordo com seu pensar condicionado, suas respostas são inevitavelmente contraditórias e, portanto, não deixarão de criar, sempre, inimizade, o que também me parece bastante óbvio. Se sois hinduísta, cristão, ou o que quer que seja, vossa resposta tem de corresponder necessariamente ao vosso fundo condicionado, o meio cultural em que fostes educado. O problema está fora do terreno de todas as culturas ou civilizações, fora de todo e qualquer padrão e, todavia, procuramos a resposta em conformidade com determinado padrão, resultando, daí, confusão sempre crescente e sofrimentos maiores ainda. Nessas condições, a menos que ocorra uma libertação fundamental de todo condicionamento, uma ruptura completa das muralhas, é bem evidente que criaremos mais caos, por mais bem intencionados e por mais religiosos que sejamos.

A mim me parece que o problema se encontra num nível completamente diferente, e, com a compreensão dele, penso que seremos capazes de promover uma ação toda diferente da do padrão socialista, capitalista ou comunista. A meu ver, o problema consiste em compreender as atividades da mente; porque, a menos que sejamos capazes de observar e compreender, em nós mesmos, o mecanismo do pensamento, não há liberdade e, portanto, não se pode ir muito longe. Com a maioria de nós acontece que a mente não está livre, pois se acha, consciente ou inconscientemente, ligada a alguma forma de conhecimento, a inumeráveis crenças, experiências, dogmas e como pode ser capaz de descobrimento uma mente nessas condições, como pode ser capaz de achar algo novo?

Todo desafio requer, evidentemente, uma reação nova, porque o problema é hoje completamente diferente do que ontem foi. Qualquer problema é sempre novo, pois está a modificar-se continuamente. Todo desafio requer reação nova, e não pode haver reação nova, se a mente não é livre. A liberdade, pois, está no começo e não no fim. A revolução tem de começar, sem dúvida, não no nível cultural, social ou econômico, porém no mais elevado nível; e o descobrimento do mais elevado nível é que é o problema; descobrimento, e não aceitação do que dizem ser o mais elevado nível. Não sei se me estou explicando com clareza. Podemos ser informados sobre o que seja o nível mais alto, por um guru, por algum indivíduo arguto, e ficarmos a repetir o que lhe ouvimos dizer; mas esse processo não é descobrimento e, sim, meramente, aceitação da autoridade; e os mais de nós aceitamos autoridades porque somos indolentes. Tudo foi pensado para nós e nos limitamos a repeti-lo, tal qual um disco de gramofone.

Pois bem. Percebo a necessidade de descobrimento, porquanto se tornou bem óbvio que temos de criar uma cultura de espécie completamente diferente, uma cultura não baseada na autoridade, mas só no descobrimento individual daquilo que é verdadeiro; e esse descobrimento requer liberdade completa. Se a mente está presa, por mais longa que seja a corda, só poderá operar dentro de um determinado raio e, conseguinte, não está livre. O importante, pois, é descobrir o nível mais alto, onde deverá efetuar-se a revolução, e isso exige muita clareza de pensamento, exige uma mente em bom estado — não uma mente falsificada, repetitiva, porém uma mente capaz de pensar intensamente, de raciocinar as coisas até o fim, clara, lógica, sãmente. Precisamos de uma mente assim, porque só então é possível irmos mais longe.

Assim, pois, parece-me que a revolução só pode realizar-se no nível mais elevado, o qual cumpre descobrir; e esse nível só pode ser descoberto por meio do autoconhecimento e não de conhecimentos colhidos nos vossos velhos livros ou nos livros dos modernos analistas. Tendes de o descobrir nas relações — descobri-lo, e não meramente repetir o que lestes ou ouvistes dizer. Vereis então que vossa mente se tornará sobremaneira lúcida. Afinal, a mente é o único instrumento de que dispomos. Se ela se acha peada, se é vulgar, temerosa, como o é a mente de quase todos nós, nenhuma significação tem sua crença em Deus, suas devoções, sua busca da verdade. Só a mente que é capaz de percebimento claro e por essa razão está perfeitamente tranquila, só ela pode descobrir se existe ou não a Verdade, só ela é capaz de realizar a revolução no mais alto nível. Só a mente religiosa é verdadeiramente revolucionária; e a mente religiosa não é aquela que repete, que frequenta a igreja ou o templo, pratica puja todas as manhãs, que se deixa guiar por alguma espécie de guru ou adora um ídolo. Esta não é uma mente religiosa; é em verdade estúpida, limitada e, por conseguinte, nunca será capaz de corresponder livremente a um desafio.

Esse autoconhecimento não pode ser aprendido de outrem. Eu não posso dizer-vos o que ele é. Mas pode-se ver como a mente opera, não apenas a mente que está ativa todos os dias, porém a totalidade da mente - a mente consciente e a mente oculta. Todas as numerosas camadas da mente têm de ser percebidas, investigadas, mas não pela introspecção. A auto-análise não revela a totalidade da mente, porque há sempre a separação entre o analista e a coisa analisada. Mas se puderdes observar as operações de vossa mente, sem tendência para julgar, avaliar, sem condenação ou comparação — observar, simplesmente, como se observa uma estrela, desapaixonadamente, tranquilamente, sem ansiedade — vereis então que o autoconhecimento não depende do tempo, não é processo de penetração do inconsciente com o fim de remover todos os "motivos" ou de compreender os vários impulsos e compulsões. O que cria o tempo é a comparação, não resta dúvida; e porque nossa mente é resultado do tempo, só pode pensar em termos de mais — sendo isso o que chamamos progresso.

Sendo, pois, resultado do tempo, a mente só pode pensar em termos de expansão, realização; e pode a mente libertar-se do mais? Isso, com efeito, significa dissociar-se completamente da sociedade. A sociedade encarece o mais. Em última análise, nossa civilização está baseada na inveja, no espírito de aquisição, não é verdade? Nossa ânsia de aquisição não se restringe às coisas materiais, mas se estende também aos domínios da chamada espiritualidade, onde desejamos possuir mais virtude, estar mais perto do mestre, do guru. Toda a estrutura, pois, do nosso pensar se baseia no mais; e, uma vez compreendidas perfeitamente as exigências de mais, e todas as suas consequências, realiza-se então, infalivelmente, a completa dissociação da sociedade; e só o indivíduo que se dissociou de todo da sociedade, pode influir na sociedade. O homem que veste uma tanga ou o manto de sanyasi, aquele que se torna monge, não está dissociado da sociedade; faz ainda parte da sociedade, com a única diferença de que sua exigência de mais se encontra noutro nível. Está ainda condicionado por determinada cultura e, portanto, ainda dentro de suas limitações.

Penso ser este o problema real, e não como produzir mais, e distribuir as utilidades produzidas. Temos agora as máquinas e as técnicas que permitem produzir tudo o de que necessita o homem e em breve, provavelmente, teremos uma distribuição equitativa dos recursos para a satisfação das necessidades físicas, e a cessação da luta de classes; mas o problema básico continuará existente. O problema básico é que o homem não é criador, não descobriu por si mesmo a extraordinária fonte de criação, não inventada pela mente; e só quando se descobre essa fonte criadora, atemporal, é que se encontra a suprema felicidade.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Madrasta, 11 de janeiro de 1956
Da Solidão à Plenitude Humana

sábado, 4 de junho de 2016

Sobre a felicidade

A FELICIDADE NÃO VEM quando estais lutando para alcançá-la. Eis o grande segredo — embora isso seja muito fácil de dizer. Eu posso dizê-lo em poucas e simples palavras; mas, pelo simples fato de me escutardes e de repetirdes o que ouvis, não ides ser felizes. Coisa estranha, a felicidade: ela só vem quando a não buscais. Quando nenhum esforço estais fazendo para serdes feliz, então, inesperadamente, misteriosamente, surge a felicidade, nascida da pureza, da beleza do viver pleno. Mas isso exige muita compreensão, e não que ingresseis em alguma organização ou procureis tornar-vos alguém. A Verdade não é coisa conquistável. Surge quando vossa mente e vosso coração foram depurados de todo impulso de luta, e já não estais tentando tornar-vos alguém; ela está presente quando a mente está muito quieta, escutando, num plano atemporal, tudo o que se passa. Podeis escutar estas palavras, mas, para haver felicidade, deveis descobrir como libertar a mente de todo temor.

Enquanto tiverdes medo de alguém ou de alguma coisa, não pode haver felicidade. Não haverá felicidade enquanto temerdes vossos pais, vossos mestres, enquanto receardes não passar nos exames, não progredir, não poder aproximar-vos do Mestre, da Verdade, não merecer louvores, lisonjas. Mas se, realmente, nada temerdes, vereis então — ao despertardes uma bela manhã ou ao dardes um passeio a sós — acontecer de repente algo extraordinário: sem ser chamado, nem solicitado, nem procurado, aquilo a que se pode chamar Amor, Verdade, Felicidade, se manifesta subitamente.


Eis por que tanto importa que sejais educados corretamente enquanto estais jovens. O que atualmente chamamos educação não é de modo nenhum educação, porque ninguém vós fala dessas coisas. Vossos mestres preparam-vos para passardes nos exames, mas não vos falam sobre o viver. Os mais de nós conseguimos apenas subsistir, arrastar-nos de alguma maneira pela vida e, por isso, a vida se torna uma coisa terrível. O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade a par de abundante experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda a clareza, não tolhida pelo preconceito ou a superstição, pela esperança ou o medo. Tudo isso é a vida, e se não estais sendo educados para viver, vossa educação é completamente sem significação. Podeis aprender a ser muito asseados, a ter boas maneiras, e podeis passar em todos os vossos exames; mas, dar importância primária a essas coisas, enquanto toda a estrutura da sociedade está a esboroar-se, é o mesmo que estar a limpar e a polir as unhas, com a casa a arder. Vede, ninguém vos fala sobre nada disto, ninguém examina nada, junto convosco. Assim como passais dias sucessivos estudando certas matérias — Matemática, História, Geografia — deveríeis, também, passar uma boa parte de vosso tempo falando sobre estes assuntos profundos, pois isso dá riqueza à vida.

Krishnamurti em, A cultura e o problema humano

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Não fique perdido na floresta dos prazeres

O que é Felicidade? Depende de você, de seu estado de consciência ou de inconsciência, se você está adormecido ou desperto.(...)

A felicidade depende de onde você está em sua consciência. Se você estiver adormecido, então o prazer é a felicidade. Prazer significa sensação, tentar alcançar algo por meio do corpo. De todas as maneiras, as pessoas estão tentando alcançar a felicidade por meio do corpo. O corpo pode lhe dar apenas prazeres momentâneos, e cada prazer é equilibrado na mesma medida, no mesmo grau pelo desprazer, pelo sofrimento.

Cada prazer é seguido pelo seu oposto, pois o corpo existe no mundo da dualidade. Assim como o dia é seguido pela noite, a morte é seguida pela vida e a vida é seguida pela morte...

Trata-se de um circulo vicioso. Seu prazer é seguido pela dor, sua dor será seguida pelo prazer, mas você nunca ficará à vontade. Quando estiver em um estado ficará com medo de perdê-lo e esse medo o envenenará. Quando estiver perdido na dor, é claro, estará em sofrimento e fará todo esforço possível para sair dele, apenas para voltar a ele mais tarde.

Buda chama isso de roda do nascimento e da morte.

Seguimos nos movendo nessa roda e nos apegamos a ela...e a roda segue em frente. Às vezes aflora prazer, às vezes o sofrimento, mas somos esmagados entre essas duas rochas.

A pessoa adormecida não conhece mais nada além de algumas sensações do corpo: comida e sexo; esse é seu mundo. Ela segue se movendo entre esses dois... Estes dois são os terminais de seu corpo: comida e sexo. Se ela reprime o sexo, fica viciada em comida; se ela reprime a comida fica viciada em sexo. A energia segue movendo como um pêndulo. No máximo, tudo o que você chama de prazer é apenas um alívio de um estado tenso. (...)

O que chamamos de "felicidade" depende da pessoa. Para a pessoa adormecida, sensações prazerosas são a felicidade; ela vive de prazer em prazer. Ela está simplesmente correndo de uma sensação a outra, vivendo de pequenas excitações; sua vida é muito superficial, não tem profundidade, não tem qualidade. Ela vive no mundo da quantidade.

E há pessoas que estão no meio, que não estão adormecidas nem despertas. Às vezes você tem essa experiência quando levanta pela manhã e ainda não sabe se está acordado ou ainda está dormindo. Ouve os sons, mas ainda tem a impressão de tudo fazer parte do sonho; não é parte de sonho, mas você ainda está em um estado intermediário.

O mesmo acontece quando você começa a meditar. O não-meditador dorme e sonha; o meditador começa a se afastar do estado adormecido em direção ao estado desperto; ele está em um estado transitório. Então felicidade tem um significado totalmente diferente; ela se torna mais uma qualidade e menos uma quantidade, é mais psicológica e menos fisiológica.

O meditador desfruta mais a música, a poesia, desfruta criar alguma coisa, desfruta a natureza e sua beleza, o silêncio, desfruta o que nunca desfrutou antes, e isso é muito mais duradouro. Mesmo se a música cessar, algo se prolonga nele.

E a felicidade não é um alívio. A diferença entre o prazer e essa qualidade de felicidade é que essa última não é um alívio, mas um enriquecimento. Você fica mais repleto e começa a transbordar. Ao escutar uma boa música, algo se desencadeia em seu ser, uma harmonia surge em você; você se torna musical. Ou, ao dançar, subitamente você se esquece de seu corpo; ele fica leve, deixa de existir a força da gravidade sobre você; de repente você está em um espaço diferente: o ego não é mais tão sólido, o dançarino se dissolve e se funde na dança.

Isso é bem superior, bem mais profundo do que o prazer que você obtém da comida e do sexo; isso tem uma profundidade, mas também não é o final.

O final acontece somente quando você está completamente desperto, quando você é um Buda, quando todo o sono, o sonhar se foram, quando todo o seu ser estiver repleto de luz, quando não houver escuridão dentro de você. Toda escuridão desapareceu e, com essa escuridão, o ego se foi; todas as tensões desapareceram, toda angústia, toda ansiedade.

Você fica em um estado de total satisfação e vive no presente, sem mais nenhum passado e nenhum futuro. Você fica completamente no aqui-agora; este momento é tudo, o agora é o único tempo e o aqui é o único espaço. E então de repente, todo o céu repousa sobre você. Esse é o estado de plenitude, a felicidade verdadeira.

Procure o estado de plenitude, ele é seu direito inato.

Não fique perdido na floresta dos prazeres; eleve-se um pouco mais, alcance a felicidade e depois a plenitude.

O prazer é animal, a felicidade é humana, a plenitude é divina.
O prazer o prende, o acorrente; ele é uma escravidão. A felicidade lhe dá um pouco mais de corda, um pouco de liberdade, mas somente um pouco. A plenitude é a liberdade absoluta; você começa a se elevar, ela lhe dá asas. Você deixa de ser parte da terra grosseira e passa a ser parte do céu, você se torna luz, alegria.

O prazer depende dos outros; a felicidade não depende tanto dos outros, mas ainda assim está separada de você; a plenitude não dependente e também não está separado...ele é o seu próprio ser, a sua própria natureza.

Osho em Alegria a Felicidade que Vem de Dentro.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Felicidade que não conhece razão

Aquele que resolveu suas dúvidas, e cuja mente está absorvida no Eu, não mais precisa buscar por meios de liberação. Vendo, ouvindo, tocando, respirando, comendo, ele vive contente no mundo. (...) Compreendendo que o Eu está para além da ação, faço o que quer que precise ser feito, a qualquer tempo, e vivo contente. — Ashtavakra Gita
A verdadeira felicidade não tem uma razão, está para além de explicações, não depende de circunstâncias externas. Não é a satisfação de algum desejo ou obtenção de um objetivo. Essas são satisfações de curta vida, que podem ser transformadas pelos acontecimentos externos. Então, podemos perguntar: Como pode ser isso, de onde vem essa felicidade? Logicamente, algo parece errado, se a pessoa se apega a uma explicação convencional da personalidade humana. Se o homem nada mais é do que uma máquina fisiológica, com certas necessidades fisiológicas e psicológicas que devem ser satisfeitas para que ele se mantenha "feliz", então de onde vem a bem-aventurança, que não é baseada na satisfação de nenhuma dessas necessidades? 

A resposta só pode ser que temos julgado erroneamente nossos "eus" e que a natureza inata do eu é verdadeira felicidade (Infelicidade mostra, portanto, não tanto a ausência de felicidade como o fato de que perdemos nossa verdadeira identidade, e com isso perdemos nosso caminho na vida). Ora, isso deve ser assim, porque sem o eu o homem é um mero computador — um aparelho sensório com centro de processamento de dados e biofeedback. E um computador, por mais sofisticado que seja, permanece entidade mecânica que só pode reagir mecanicamente a estímulos externos ou internos. 

O homem tem, naturalmente, uma boa quantidade dessa feição-computador em si próprio, mas também é muito mais, e só por isso podemos falar dele como ser "espiritual". Por outro lado, fosse ele simples e exclusivamente programado (condicionado) como entidade, teria o senso estético, a capacidade de apreciar a música, de sentir a beleza da natureza, dos grandes trabalhos de arte ou de uma partida de xadrez jogada com perícia? A inteligência verdadeira seria possível, a capacidade de descobrir o "novo", que fica para além de qualquer programação ou condicionamento, e, acima de tudo, poderia ele sentir a bem-aventurança que vem quando o cérebro está absolutamente tranquilo? Na verdade, é o "ruído" contínuo do nosso cérebro-computador que obscurece a compreensão da nossa verdadeira identidade com tudo quanto dela vem.

Robert Powell

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento

Normalmente o que consideramos como alegria não é alegria; no máximo se trata de entretenimento, e é apenas uma maneira de evitar a si mesmo, de intoxicar a si mesmo, de mergulhar em algo para que você possa se esquecer de sua infelicidade, de sua preocupação, de sua angústia, de sua ansiedade. 

Todos os tipos de entretenimento são considerados como sendo alegria, mas eles não são! Tudo o que vem de fora não é alegria, não pode ser; tudo o que depende de algo não é alegria, não pode ser. A alegria surge de sua própria essência; ela é absolutamente independente de qualquer circunstância externa. E ela não é uma fuga de si mesmo, mas realmente encontrar a si mesmo. A alegria surge apenas quando você chega em casa. 

Assim, tudo o que é conhecido como alegria é apenas o contrário, o diametralmente oposto, e não alegria. Na verdade, por não ter alegria, você procura entretenimentos. 

(...) Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento. Quanto mais o mundo ficar sem alegria, mais precisaremos de televisão, de cinema, de cidades enfeitadas e mil e uma coisas. Precisamos cada vez mais de bebidas alcoólicas, cada vez mais de novos tipos de droga, apenas para evitar a infelicidade na qual estamos, apenas para não encarar a angústia na qual estamos, apenas para, de alguma maneira, nos esquecermos de tudo. Mas, ao esquecer, nada é alcançado. 

Alegria é entrar em seu próprio ser. No começo é difícil, árduo; no começo você terá de encarar a aflição. O caminho é enorme, porém, quanto mais você penetrar nele, maior será o pagamento, maior será a recompensa. 

Quando você aprender a encarar a infelicidade, começará a ser alegre, pois, nesse próprio encarar, a felicidade começa a desaparecer e você começa a ficar cada vez mais integrado. 

Um dia a infelicidade estará presente, e você a encarará — e, de repente, a quebra: você pode perceber a infelicidade separada de você e você separado dela. Você sempre esteve separado; ela era apenas uma ilusão, uma identificação que você teve. Agora você sabe que você não é isso; então há um acesso de alegria, uma explosão de alegria. 

O S H O 

domingo, 30 de novembro de 2014

A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento

Existem apenas dois tipos de pessoas: uma que está em busca da felicidade; é o tipo mundano. Pode ir para o mosteiro, mas o tipo não muda; lá, ele também pede pela felicidade, pelo prazer e gratificação. Agora, de maneira diferente — através da meditação, da prece, de Deus — está tentando ser feliz, cada vez mais feliz. Há, depois, o outro tipo de pessoa — e só existem dois tipos — a que está em busca da verdade. E isso é um paradoxo: aquele que busca a felicidade, nunca a encontra, pois ela não é possível a menos que você encontre a verdade. A felicidade é apenas uma sombra da verdade; em si mesma não é nada — é apenas uma harmonia. 

Quando você se sente uno com a verdade, tudo se agrega, tudo se harmoniza. Você sente um ritmo — e esse ritmo é felicidade. Não se pode buscá-la diretamente. 

A verdade tem de ser procurada. A felicidade é encontrada quando se encontra a verdade, mas a felicidade não é o objetivo. E se você buscar a felicidade diretamente, será cada vez mais infeliz. E sua felicidade será, no máximo, apenas um intoxicante para que você esqueça a infelicidade; é só o que vai acontecer. A felicidade é como uma droga — LSD, maconha, mescalina. 

Por que o Ocidente chegou às drogas? É um processo muito racional. Teve de chegar a elas porque, na sua busca de felicidade, mais cedo ou mais tarde chega-se ao LSD. O mesmo aconteceu antes na Índia. Nos Vedas, eles chegaram ao soma, ao LSD, porque estavam buscando a felicidade; não eram realmente buscadores da verdade. Buscavam a mais e mais gratificação — chegaram ao soma. Soma é a suprema droga. E Aldous Huxley, falando sobre a suprema droga, a ser encontrada em algum lugar no século vinte, chamou-a outra vez de 'soma'. 

Sempre que uma sociedade, um homem, uma civilização, buscam a felicidade, têm de chegar de alguma forma às drogas — porque a felicidade é a busca pelas drogas. A busca da felicidade é uma busca do auto-esquecimento; é isso o que a droga ajuda a fazer. Você esquece de si e assim não há mais miséria. Como pode haver miséria se você não está? Você está dormindo profundamente. 

A busca da verdade está exatamente na dimensão oposta: não é gratificação, não é prazer, não é felicidade, mas — Qual é a natureza da existência? O que é a verdade? Um homem que busca a felicidade nunca a encontrará — encontrará, no máximo, o esquecimento. Um homem que busca a verdade a encontrará, porque para buscá-la ele próprio terá de se tornar verdadeiro. Para buscar a verdade na existência, primeiro terá de buscar a verdade em seu próprio ser. Terá de se tornar cada vez mais atento em relação a si mesmo

Estes são os dois caminhos: o auto-esquecimento — o caminho do mundo; e a lembrança de si mesmo — o caminho de Deus. E o paradoxo é que aquele que busca a felicidade nunca a encontra; e aquele que busca a verdade e não se importa com a felicidade, encontra-a sempre. 

(...) O autoconhecimento tem que ser a única busca, tem que ser o único objetivo; porque se você conhecer todo o resto sem conhecer a si mesmo, isto não significará nada. Você pode chegar a conhecer tudo, exceto você mesmo, mas o que isso significa? Não pode ter nenhum significado — porque se o próprio conhecedor é ignorante, o que pode significar esse conhecimento, o que seu conhecimento pode lhe dar? Quando você mesmo permanece na escuridão, pode reunir milhões de luzes à sua volta mas elas não o preencherão de luz. Apesar delas você continuará na escuridão. Viverá e se moverá na escuridão. A ciência é esse tipo de conhecimento. Você conhece um milhão de coisas mas não conhece a si mesmo

Ciência é conhecimento de tudo menos de si mesmo, exceto do autoconhecimento; o próprio buscador permanece no escuro. Isso não adianta muito. A religião é basicamente auto-conhecimento. Você tem de estar iluminado por dentro, a escuridão deve desaparecer do seu interior, e então por onde quer que você ande, a sua luz interior incindirá sobre o caminho. Onde quer que você vá, faça o que fizer, tudo será iluminado pela sua luz interior. E esse movimento com luz lhe dá um ritmo, uma harmonia, que é a felicidade. Então você não tropeça, não esbarra, não tem mais conflitos. Você se move mais facilmente, seus passos são uma dança, e tudo é satisfação. Você não quer mais que alguma coisa extraordinária aconteça. Você é feliz. É simplesmente feliz no seu ser comum. 

E a menos que você se sinta feliz sendo comum, jamais será feliz. 

Você é feliz apenas por respirar, você é feliz por ser; é feliz apenas por comer, por dormir mais uma noite. Você é feliz. Agora a felicidade não deriva de nada — ela é você. Um homem que se conhece é feliz, não por qualquer razão, sua felicidade não tem causa. Não é uma coisa que lhe acontece, é toda sua maneira de ser. É simplesmente feliz. Para onde quer que se mova, leva consigo sua felicidade. Se você o atira no inferno, ele cria à sua volta um paraíso; com ele, um paraíso penetra no inferno. 

Como você é, ignorante de si mesmo, se pudesse ser jogado no paraíso, conseguiria criar um inferno, porque você carrega consigo o seu inferno. Vá onde for, isso não fará muita diferença, você terá à sua volta o seu próprio mundo. Esse mundo está dentro de você, é a sua escuridão. 

Essa escuridão interior precisa desaparecer — é isso o que significa autoconhecimento.

O S H O 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Quando foi a última vez que você foi feliz?

Se você tem carregado um certo peso de infelicidade, uma certa cruz de angústia e de infelicidade, acaba se acostumando; esse peso é quase parte de seu ser. E, então, qualquer coisa nova será mais incômoda, pois com o novo você terá que aprender novas maneiras de ser. E a felicidade? Você esqueceu a sua linguagem. Você nem se lembra mais o que significa a felicidade; não se lembra de tê-la experimentado alguma vez. Parece que é apenas um sonho, algo muito frágil e pouco sólido para ser apanhado; você não pode segurá-lo em suas mãos e vê-lo. 

O que você quer dizer por felicidade? Quando foi a última vez que você foi feliz? Você pode lembrar-se de algum momento em sua vida em que foi realmente feliz? Você ficará surpreso, mas toda a sua vida parece um deserto. Você tem esperado... mas não experimentou a felicidade. Essa vida desértica é o que você quer dizer quando afirma: "Eu sou." Esse é o seu ego: todo esse pus, esse estado cancerígeno, toda essa doença e neurose — é a isso que você chama de "eu sou". Esse é o seu ego. 

E se eu digo: "Abandone o ego", você diz: "Como posso deixar o ego? Por que devo me entregar? Por que deveria me entregar a alguém?" Esse "eu" não é nada mais do que o seu passado. Olhe profundamente para isso, analise um pouco, e você não encontrará nada além de misérias e mais misérias... feridas, insultos, irritações, pesadelos... Mas você luta por isso. Você não está pronto para abandoná-lo; está realmente apegado. 

Entrega significa simplesmente uma compreensão: chega desse "eu", vou abandoná-lo! No momento em que você abandona o "eu", abandona também toda a hipnose em que a sociedade o forçou a entrar. No momento em que deixa o ego, está abandonando o Estado, a religião, a Igreja, a sociedade, os pais, a escola, a universidade, a civilização, a cultura; joga fora todos os condicionamentos. E, de repente, você vê surgir uma onda de felicidade e bem-aventurança em você. Ela estava lá, esperando; é só remover o peso que a fonte voltará a fluir. 

Você nasceu feliz; toda criança nasce feliz e para ser feliz, e toda essa vida é uma grande festa. Mas existem pessoas que não permitem que você seja feliz. Você já observou que, sempre que está se sentindo um pouco feliz, ao mesmo tempo você sente uma pequena culpa, como se estivesse fazendo alguma coisa errada? Se você está infeliz, não há culpas; se está feliz, há culpa, pois você deve estar fazendo algo errado.(...) As pessoas se sentem ofendidas se você está feliz; então, você se sente culpado. Ninguém perdoa um homem feliz: "Como você ousa ser feliz?"

As pessoas só permitem que os loucos sejam felizes. Se alguém ri alto e dança nas ruas, as pessoas dizem que ele é louco. Se você está feliz, só é perdoado se permitir que o chamem de louco. Se podem rotulá-lo de louco, então não se preocupam; todos riem de você, pois sabem que você é louco. Do contrário, como pode ser feliz? 

As pessoas esqueceram a própria linguagem... mas você pode recuperá-la, pois é algo seu, natural. Não se trata de nada que possa ser aprendido; você só tem que desaprender o que a sociedade colocou em você. Você tem que recuperar sua infância; tem que renascer. Foi o que Jesus disse a Nicodemos: Você terá que renascer. Tem que morrer como você é, tem que renascer. Tem que se limpar da sociedade. 

Quando você joga fora a sociedade, Deus começa a cantar uma canção para você. Ele ainda canta nos passarinhos, pois eles não têm sociedade, não têm que ir às escolas, não têm que ser cultos nem condicionados. Ele ainda canta nas árvores, pois elas ainda não criaram padres e políticos. Ele ainda canta nas ondas do mar... Exceto no homem, Deus está feliz em toda parte. Algo deu errado no homem.

O S H O em, A Divina Melodia

Ideologias são ficções, não têm nada a ver com a verdade

O homem vive sobre uma grande hipnose, sob profundos condicionamentos: a sociedade condiciona você; o Estado, o padre, o político, a cultura, a religião, a Igreja, todos eles investem em seu sono profundo. Eles não querem que você acorde, pois, uma vez que a humanidade esteja acordada, não será mais possível haver políticos, padres, templos, Igrejas, religiões; tudo isso desaparecerá da face da terra. Toda essa exploração só é possível porque o homem vive no sono, porque ele é infeliz, e só uma humanidade infeliz pode ser explorada. 

É um círculo vicioso; só um homem infeliz pode ser explorado e, quando você o explora, ele se torna mais infeliz. Sendo mais infeliz, pode-se explorá-lo ainda mais, e assim por diante. 

Um homem feliz é um rebelde. A felicidade é uma tremenda rebelião. Nenhuma sociedade até hoje permitiu que alguém fosse feliz; é muito perigoso. Como mandar pessoas para a guerra, se elas forem felizes? Como se poderá ensinar-lhes coisas estúpidas, como nazismo, comunismo, fascismo, nacionalismo? Se as pessoas forem felizes elas rirão dessas tolices, de todas essas ideologias; não levarão nada disso a sério. Rirão só com a ideia de que alguém possa ser cristão, hindu ou muçulmano, e que possam lutar durante séculos e matarem-se uns aos outros.

(...) Você tem sido hipnotizado para permanecer na infelicidade, tem sido ensinado e condicionado para permanecer na infelicidade. E o truque é muito sutil. Por exemplo: primeiro, todos aprendem que a felicidade existe no futuro. Isso é um absurdo. A felicidade existe aqui-agora. Você não precisa alcançá-la; você já a traz com você, ela é parte do seu ser. Mas toda criança aprende, através de sugestões e mais sugestões, que, a menos que tenha uma casa grande, dois carros, muito dinheiro, fama, sucesso, e outras coisas mais, não será feliz. Como se a felicidade dependesse de alguns objetos ou de qualquer coisa! A felicidade não depende de nada e toda criança nasce feliz. 

As ambições criam a miséria e nunca o deixam feliz. Uma vez que você se torna ambicioso, as sementes da miséria são plantadas bem no fundo de você. Agora você nunca será feliz, pois o futuro, o amanhã nunca chega, e as suas esperanças estão todas no amanhã. 

Você pode ter uma casa grande, mas não será feliz, pois existirão sempre casa maiores que a sua, e isso criará infelicidade. Você pode ter uma bela mulher, mas existem milhares de mulheres mais bonitas no mundo, e isso não o deixará feliz. Você pode ter dinheiro, mas nem isso o fará feliz, pois sempre poderá ter mais. Esse é o truque: o "mais" foi implantado em você como um eletrodo. "Tenha mais, então será feliz." Como você pode ter mais? Qualquer coisa que você tenha sempre poderá imaginar mais. Se você tem dez mil reais, pode imaginar vinte; se tem vinte, pode imaginar quarenta. Como pode parar esse "mais"? Qualquer coisa que você tenha, sempre será menos que o "mais", e isso criará infelicidade. 

Você também foi sempre ensinado a comparar, e a comparação traz a infelicidade. Cada indivíduo é incomparável; ninguém mais é como você; como comparar? A comparação só é relvante quando há duas coisas semelhantes, como por exemplo, comparar um carro Ford com outro carro Ford; eles são iguais. Mas como comparar dois homens? Impossível. Cada um é tão individual que qualquer comparação trará infelicidade. 

No momento em que você compara, está criando um inferno à sua volta. Desde sua infância você foi ensinado: "Seja como fulano. Veja o filho do vizinho como é inteligente e você como é estúpido. Veja como a fulana é madura e você é tão imatura", e assim por diante. Essas comparações fazem você sentir-se infeliz. Você é você mesmo: não há ninguém como você, nunca houve e nunca haverá. Deus nunca se repete. 

Você é único. E quando digo "único", não é num sentido comparativo; você não é mais único que os outros e, sim, cada um é único. A unicidade é muito comum; todo mundo é único. Quando você começa a comparar, acaba ficando neurótico e, mais cedo ou mais tarde, irá parar num divã de psiquiatra. 

(...) A comparação cria tensão, ansiedade. Você foi ensinado a ser cristão, hindu, muçulmano; como pode a consciência ficar confinada a ideologias? As ideologias são produtos da mente; a consciência está muito além. Ideologias são ficções, não têm nada a ver com a verdade. A verdade é a sua consciência, mas você dá mais atenção á ideologias e se esquece da verdade. Você luta, discute, prova e desaprova. Ensinaram-lhe que alguém é indiano, que o outro é chinês, o outro japonês. Ou que você é comunista, ou fascista, isso ou aquilo; milhares de doenças foram implantadas em você... você quer ser feliz. Para isso, terá que abandonar todas essas ideias... Abandone tudo num só golpe de espada: esse golpe eu chamo de compreensão.

O S H O em, A Divina Melodia

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Se alguém é infeliz e deseja ser feliz, isso é ambição?

Pergunta: Se alguém é infeliz e deseja ser feliz, isso é ambição?

Krishnamurti: Quando você está sofrendo, deseja ficar livre do sofrimento. Isso não é ambição, é? Isso é o instinto natural de todas as pessoas. É instinto natural de todos nós o não ter medo, o não ter dor física ou emocional. Mas nossa vida é tal que estamos constantemente experimentando dor. Eu como algo que não me faz bem e tenho dor de barriga. Alguém me diz alguma coisa e senti-me ferido. Sou impedido de fazer alguma coisa que desejo fazer e sinto-me frustrado, angustiado. Sou infeliz porque meu pai, ou meu filho, está morto, e assim por diante. A vida está constantemente influindo sobre mim, quer eu goste quer não goste, e sempre estou sendo ferido, decepcionado, tendo reações dolorosas. Assim sendo, o que tenho de fazer é compreender todo esse processo. Mas, veja você, a maioria de nós foge disso.

Quando você sofre no íntimo, psicologicamente, o que é que faz? Busca alguém para consolá-lo; lê um livro ou liga o rádio ou vai fazer puja. Isso tudo são indicações de que se está fugindo do sofrimento. Se você foge de algo, obviamente não o compreende. Mas se olhar para seu sofrimento, se o observar de momento a momento, você começará a compreender o problema nele envolvido, e isto não é ambição. A ambição aparece quando você foge de seu sofrimento, ou quando se apega a ele, ou quando o combate, ou quando gradualmente constrói teorias e esperanças em torno dele. No momento em que foge do sofrimento, o alvo para o qual você corre torna-se muito importante, porque você se identifica com ele. Você se identifica com seus país, com sua posição, com seu Deus, e isto é uma forma de ambição.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A transformação e a suprema felicidade fora do tempo


A transformação não está no futuro, nunca pode dar-se no futuro, ela só pode dar-se agora, de momento em momento. Mas, o que entendemos por transformação? Ora, é muito simples: é ver o falso como falso, o verdadeiro como verdadeiro. É ver a verdade que está contida no falso, e ver o falso naquilo que se aceitou como verdade. Ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro, é transformação. Porque, no momento em que você vê claramente uma coisa como verdadeira, essa verdade liberta. Ao ver que uma coisa é falsa, essa coisa falsa se desvanece. Senhor, ao ver que as cerimônias são puras e vãs repetições, ao perceber a verdade que há nisso, e não o justificar, dá-se uma transformação — não é verdade? — porque você ficou livre de mais uma prisão. Ao ver que a distinção de classe é coisa falsa, que ela cria conflito, sofrimento, divisão entre as pessoas — ao perceber essa verdade, ela própria o liberta. A percepção da dessa mesma verdade é transformação, não é? E como estamos rodeados de coisas falsas, a percepção da falsidade, momento por momento, é transformação. A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento por momento. O que é acumulativo, o que se acumula, é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo — do passado, do presente e do futuro. O tempo, que é continuidade, nunca pode achar o que é eterno; a eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade está no momento presente. A eternidade está no agora. O agora não é reflexo do passado, através do presente, rumo ao futuro. 

A mente desejo de transformação futura, ou que visa à transformação como resultado final, nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento por momento, que precisa sempre ser descoberta de novo; e, naturalmente, não pode haver descobrimento mediante acumulação. Como é possível você descobrir o que é novo, com a carga do que é velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. Assim, pois, para descobrir-se o novo, o eterno, no presente, momento por momento, necessita-se de uma mente extraordinariamente alerta, uma mente que não visa a um resultado, uma mente não interessada em "vir a ser". A mente empenhada em "vir a ser" não conhecerá jamais a perfeita e suprema felicidade do contentamento que é pura satisfação, não o contentamento derivado da consecução de um resultado, mas o contentamento que se manifesta quando a mente percebe a verdade no "que é", e o falso no "que é". A percepção dessa verdade é de cada momento; e essa percepção é retardada pela "verbalização" do momento. 

Assim, pois, a transformação não é um resultado final. A transformação não é um resultado. Todo resultado implica resíduo, implica uma causa e um efeito. Onde há causalidade, há necessariamente efeito. O efeito é meramente o resultado do seu desejo de ser transformado. Quando você deseja ser transformado, você está pensando em "vir a ser", e aquilo que está no "vir a ser", nunca poderá conhecer o que é o ser. A verdade é o ser, momento por momento; e a felicidade que tem continuidade não é a felicidade. A felicidade é aquele estado que está fora do tempo. Esse estado atemporal só pode manifestar-se quando há extraordinária insatisfação — não a insatisfação que descobriu uma via de fuga, mas a insatisfação que não tem saída alguma, que não tem possibilidade de fuga, que já não busca preenchimento. Só então, em tal estado de suprema insatisfação, pode despontar a Realidade. Essa realidade não pode comprar-se, vender-se, repetir-se, e não pode ser colhida nos livros. Ela tem de ser achada momento por momento, no sorriso, na lágrima, sob a folha morta, nos pensamentos erradios, na plenitude do amor. Porque o amor não é diferente da verdade. O amor é aquele estado no qual o processo do pensamento, como tempo, desapareceu de todo. E onde está o amor, há transformação. Sem amor, nada significa a revolução, porque em tal caso a revolução é só destruição, decomposição, desgraça cada vez maior e cada vez mais geral. Onde há amor há revolução, porque o amor é transformação, momento por momento. 

Jiddu Krishnamurti, 20 de fevereiro de 1949 - O Que Te Fará Feliz?

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O que buscamos de fato: verdade, felicidade ou satisfação?

Presumivelmente, a maioria de vocês tem um instrutor de alguma espécie, não é verdade? Alguma espécie de "guru", lá no Himalaia, ou por aqui mesmo. Não é verdade isso? Alguma espécie de guia. Ora, por que precisam dele? Naturalmente, não necessitam dele para fins materiais, a não ser que lhes prometa um bom emprego para depois de amanhã. Assim sendo, presumo que o necessitam para fins psicológicos, não é mesmo? Pois bem, por que necessitam dele? Fundamentalmente, é claro que dele necessitam, porque dizem: "Estou confuso; não sei como viver neste mundo; as coisas são muito contraditórias. Há confusão, há sofrimento, há morte, decadência, degradação, desintegração, e preciso de alguém para me aconselhar no que fazer". Não é esta a razão pela qual necessitam de um guru, por que se dirigem a um guru?

Vocês dizem: "Confuso como estou, necessito de um instrutor para me ajudar a esclarecer a confusão, ou, melhor, para me ajudar a dissolver a confusão". Não é isso? A necessidade de vocês, portanto, é psicológica. Vocês não consideram o Primeiro Ministro como o guru de vocês, visto que ele se ocupa, meramente, da existência material da sociedade. Vocês apelam para ele a fim de que atenda às suas necessidades físicas; enquanto, aqui, vocês procuram um instrutor par atender às suas necessidades psicológicas. 

Mas, o que é que vocês entendem pela palavra "necessidade"? Preciso de um pouco de sol, preciso de alimento, de roupas, e de moradia; preciso, da mesma forma, de um instrutor? Para responder a essa pergunta, devo descobrir quem criou essa terrível confusão que me rodeia e que também está em mim. Se sou responsável pela confusão, sou eu, então, a única pessoa que poderá dissipar a confusão, o que significa que preciso compreender a confusão; mas vocês, em geral, procuram um instrutor para que ele os liberte da confusão, ou lhes mostre o caminho, ou lhes dê instruções sobre a maneira de proceder em face da confusão. Ou dizem: ""Este mundo é falso, e preciso achar a Verdade". E o guru, instrutor diz: "Eu achei a verdade" — e por isso vocês vão a ele para compartilhar aquela verdade. 

Pode a confusão ser dissipada por outra pessoa, por maior que seja tal pessoa? É bem certo que essa confusão existe nas nossas relações, e que, portanto, precisamos compreender as nossas relações recíprocas, as nossas relações com a sociedade, com a propriedade, as ideias, etc.; e pode alguém nos dar a compreensão dessas relações? Alguém pode nos apontar ou mostrar isso ou aquilo, mas é a mim que compete compreender as minhas relações, a minha posição. Senhor, isso lhe interessa? Encontro dificuldade, porque sinto que você não está interessado: está observando outra pessoa fazendo alguma coisa. Quando vocês fazem uma pergunta, não compreendem a importância de prestar atenção à resposta. Por conseguinte, estão fazendo pouco caso de seu guru e da confusão de vocês. Em verdade, pouco lhes importa o que diz o seu guru e só o procuram por hábito. Consequentemente, a vida não tem importância para vocês, ela não é energia, não é criação, não é algo que precisa ser compreendido. E, posso ler isso na fisionomia de vocês, não estão seriamente interessados nesta questão. Vocês escutam, ou para se justificarem na sua busca de gurus, ou para fortalecer a própria convicção de que os gurus são necessários. Mas, dessa maneira não encontraremos a verdade que esta questão encerra. Vocês só podem encontrar a verdade contida nesta questão, se esquadrinharem o seu coração para acharem a razão do por que necessitam de um guru. 

Há, pois, muitas coisas contidas nesta questão. Parece que julgam que a verdade é estática, e que, por isso, um guru pode levá-los aonde está. Assim como um homem pode indicar o caminho da estação, assim também julgam que um guru pode mostrar-lhes o caminho da Verdade. Significaria isso que a Verdade é estática; mas, será estática a Verdade? Bem gostariam que o fosse, porquanto tudo o que é estático satisfaz, pois, pelo menos, sabem o que é e podem conservá-lo em suas mãos. De sorte que o que buscam, em verdade, é só satisfação. Desejam segurança, desejam a garantia de um guru, desejam que ele lhes diga: "Você está indo muito bem, continue" — desejam que ele lhes dê conforto mental, que lhes anime, emocionalmente. Assim sendo, procuram, invariavelmente, um guru que de fato lhes satisfaça. Essa é a razão de haver tantos gurus e tantos discípulos; o que significa que realmente não buscam a verdade, mas somente satisfação; e o homem que lhes der o máximo de satisfação, esse homem chamaram de o guru de vocês. Tal satisfação, ou é neurológica, isto é, física, ou psicológica; e, na presença do guru, pensam sentir uma paz profunda, uma grande tranquilidade, uma impressão de ser compreendido. Por outras palavras, querem um pai ou uma mãe glorificados, para ajudar-lhes a vencer a dificuldade. Senhor, você já este sentado tranquilamente à sombra de uma árvore? Aí também se encontra uma paz profunda. Aí também nos sentimos compreendidos. Por outras palavras, na presença de uma pessoa muito tranquila, ficamos igualmente tranquilos; e atribuem essa tranquilidade ao instrutor e o rodeiam de grinaldas, enquanto tratam a pontapés o empregado de vocês. Assim, pois, quando dizem que necessitam de um guru, nisso estão implicadas todas essas coisas, não é verdade? E o guru que lhes garante a fuga, torna-se para vocês uma necessidade.

A confusão só existe nas relações entre indivíduos; mas, porque necessitamos de alguém para nos ajudar a compreender esta confusão? Dirão, agora, porventura: "O que você está fazendo? Não está agindo como nosso guru? — Certamente, não estou procedendo como guru de vocês, primeiro, porque não estou dando-lhes satisfação alguma, e, depois, porque não estou dizendo-lhes o que devem fazer, momento por momento, dia por dia. Estou apenas a apontar-lhes uma coisa; vocês a podem levar ou deixar ficar — e isso depende de vocês e não de mim. Nada peço de vocês: nem adoração, nem adulação, nem insultos, nem os seus deuses. Eu só digo: "isso é um fato; levem ou o deixem ficar". Mas a maioria de vocês o deixará ficar, pela razão muito clara de não encontrar nele satisfação. Mas o homem que é realente sincero, verdadeiramente ardoroso na sua intenção de descobrir, encontrará nutrição suficiente no que estamos dizendo, ou seja, que a confusão só existe nas relações de vocês. Tratemos, por conseguinte, de compreender essas relações. 

Jiddu Krishnamurti em, O Que Te Fará Feliz?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Buscar a felicidade, é acabar com a felicidade

Pergunta: O que é a felicidade, na vida?

Krishnamurti: Se você deseja algo agradável, pensa que será feliz se o fizer. Você pode desejar se casar com o mais rico dos homens ou a mais bela das moças, ou passar num certo exame, ou ser elogiado por alguém, e pensa que, alcançando o que deseja alcançar, será feliz. Mas, isso é felicidade? Não é coisa que depressa se esvai, como a flor que desabrocha de manhã e murcha à noite? Entretanto, assim é a nossa vida, e é só isso o que desejamos. Satisfazemos-nos com tantas coisas superficiais: possuir um carro ou ter um emprego seguro, sentir emoções passageiras a respeito de alguma futilidade, como o menino que é feliz soltando seu papagaio na ventania e, momentos depois, está em lágrimas. Assim é nossa vida, e com ela estamos satisfeitos. Nunca dizemos: “Aplicarei meu coração, minha energia, todo o meu ser, para descobrir o que é felicidade”. Não levamos isso a sério, não sentimos intensamente a esse respeito e, por isso, nos satisfazemos com insignificâncias.

Mas a felicidade não pode ser buscada; ela é um resultado, um produto secundário. Nenhuma significação tem em perseguir a felicidade. A felicidade vem sem ser chamada; e, no momento em que você se torna consciente de ser feliz, já não é feliz. Não sei se você já notou isso. Quando você sente subitamente muita alegria por causa de nada em particular, você está fruindo a liberdade de sorrir e ser feliz. Mas, se você se torna consciente disso, neste mesmo momento o perde, não é verdade? Tornar-se consciente de ser feliz, ou buscar a felicidade, é acabar com a felicidade. Só há felicidade quando o “eu” e suas exigências foram colocados de lado.

Ensinam-lhe muitas coisas de Matemática, você passa os dias estudando História, Geografia, Física, Biologia, etc. Mas você reserva algum tempo, você e seus mestres, para refletir sobre estas importantíssimas questões? Alguma vez você ficou sentado quieto, com o dorso ereto, imóvel, para conhecer a beleza do silêncio? Você deixa alguma vez sua mente “à solta” — não para se entreter com coisas insignificantes, mas para “viajar” livre e amplamente, profundamente — explorar, descobrir?

Você sabe o que está acontecendo no mundo? O que está acontecendo no mundo é uma projeção do que está acontecendo no interior de cada um de nós, pois, o que somos, o mundo é. Vivemos quase todos agitados, dominados pelo espírito de aquisição e posse, pelo ciúme, e condenando outras pessoas; a mesma coisa, exatamente, está ocorrendo no mundo, apenas de maneira mais dramática e mais cruel. Mas, nem você e nem seus mestres passam tempo algum refletindo sobre tudo isso; e só quando você passa algum tempo, cada dia, refletindo sobre estas questões, existe a possibilidade de realizar uma revolução total e de criar um novo mundo. E é necessário criar um novo mundo, um mundo que não represente uma continuação, em forma diferente, desta mesma sociedade corrompida. Mas você não pode criar um mundo novo, se sua mente não está em estado de alerta, vigilante, intensamente consciente. Por isso tanto importa, enquanto você é jovem, aplicar algum tempo para refletir sobre estas importantíssimas questões, e não apenas passar os dias estudando matérias, que a nada conduzem senão a um emprego e à morte. Considere, pois, seriamente estas coisas, pois, em virtude dessa consideração, nascerá um extraordinário sentimento de alegria, de felicidade.

Krishnamurti — A cultura e o problema humano  

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Descobrindo essa coisa estranha chamada Felicidade

O pensamento é uma coisa muito estranha, não? Sabem o que é o pensamento? O pensamento ou pensar é, para a maioria das pessoas, algo que foi coordenado pela mente, e cada um está pronto em se bater em defesa de seus próprios pensamentos. Mas, se realmente puderem escutar tudo — o marulhar da água à beira do rio, o canto dos pássaros, o choro de uma criança, os ralhos de sua mãe, as ameaças de um companheiro, as implicâncias de sua esposa ou marido — observaram que, então, ultrapassam as palavras, ultrapassam as meras explicações verbais que tanto atenazam o ser de vocês.

É muito importante ultrapassar a mera expressão verbal, porque, afinal de contas, o que é que todos nós desejamos? Jovens ou velhos, inexperientes ou amadurecidos, todos desejamos ser felizes, não é verdade? Como estudantes, desejamos ser felizes nas partidas que jogamos, nos estudos, na execução das pequenas coisas que gostamos de fazer. E, ao nos tornarmos mais velhos, buscamos a felicidade nas pessoas, no dinheiro, em sermos donos de uma bonita casa, de uma esposa ou marido compreensivo, de um bom emprego. Quando essas coisas deixam de nos satisfazer, passamos a outra coisa. Dizemos “Devo ser desapegado porque assim serei feliz”. Começamos, pois, a “praticar” o desapego. Abandonamos a família, as posses e nos retiramos do mundo. Ou ingressamos em alguma ordem religiosa e pensamos que seremos felizes se nos reunirmos para falar sobre fraternidade, se seguirmos um líder, um guru, um Mestre, um ideal, se acreditamos no que, essencialmente, é um meio de enganarmos a nós mesmos, uma ilusão, uma superstição.

Entendem o que estou dizendo?

Quando penteiam os cabelos, quando vestem roupas limpas e se adornam, tudo isso faz parte do desejo de vocês serem feliz, não? Quando passam nos exames e acrescentam algumas letras do alfabeto ao nome de vocês; quando obtém um emprego, adquirem uma casa e outros bens; quando se casam e tem filhos; quando ingressam numa sociedade religiosa, cujos guias alegam receber mensagens de Mestres invisíveis — atrás de tudo isso está aquela compulsão a encontrar a felicidade.

Mas, vejam, a felicidade não vem facilmente assim, pois a felicidade não se acha em nenhuma dessas coisas. Vocês podem experimentar prazer, encontrar uma nova satisfação, porém, mais cedo ou mais tarde, tudo se torna cansativo. Porque não há felicidade duradoura nas coisas que conhecemos. Ao beijo segue-se a lágrima, ao riso a aflição e a desolação. Tudo fenece e declina. Assim, enquanto estão jovens, devem começar a descobrir o que é essa coisa estranha chamada Felicidade. Esta é uma parte essencial da educação.

A felicidade não vem quando estão lutando para alcança-la. Eis o grande segredo — embora isso seja muito fácil de dizer. Eu posso dize-lo em poucas e simples palavras; mas, pelo simples fato de me escutarem e de repetirem o que ouvem, não serão felizes. A felicidade é uma coisa estranha: ela só vem quando não a buscam. Quando nenhum esforço estão fazendo para serem felizes, então, inesperadamente, misteriosamente, surge a felicidade, nascida da pureza, da beleza do viver pleno. Mas isso exige muita compreensão, e não que ingressem em alguma organização ou procurem se tonar alguém. A Verdade não é coisa conquistável. Surge quando a mente e coração de vocês foram depurados de todo impulso de luta, e já não estão tentando se tornar alguém; ela está presente quando a mente está muito quieta, escutando, num plano atemporal, tudo o que se passa. Vocês podem escutar estas palavras, mas, para haver felicidade, devem descobrir como libertar a mente de todo medo.

Enquanto tiverem medo de alguém ou de alguma coisa, não pode haver felicidade. Não haverá felicidade enquanto temerem seus pais, seus mestres, enquanto recearem não passar nos exames, não progredir, não poder se aproximar do Mestre, da Verdade, não merecer louvores, lisonjas. Mas se, realmente, nada temerem, verão então — acontecer de repente algo extraordinário: sem ser chamado, nem solicitado, nem procurado, aquilo a que se pode chamar Amor, Verdade, Felicidade, se manifesta subitamente.

Eis porque é tão importante que sejam educados corretamente enquanto estão jovens. O que atualmente chamamos de educação não é de modo nenhum educação, porque ninguém lhes fala dessas coisas. Seus mestres lhes preparam para passarem nos exames, mas não lhes falam sobre o viver. A maioria de nós consegue apenas subsistir, nos arrastar de alguma maneira pela vida e, por isso, a vida se torna uma coisa terrível. O viver realmente exige abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio, grande simplicidade a par de abundante experiência. Requer uma mente capaz de pensar com toda a clareza, não tolhida pelo preconceito ou a superstição, pela esperança ou pelo medo. Tudo isso é a vida, e se vocês não estão sendo educados para viver, a educação de vocês é completamente sem significação. Podem aprender a serem muito asseados, a terem boas maneiras, e podem passar em todos os seus exames; mas, dar importância primária a essas coisas, enquanto toda a estrutura da sociedade está a se desfazer, é o mesmo que estar a limpar e a polir as unhas, com a casa pegando fogo. Vejam, ninguém lhes fala sobre nada disto, ninguém examina nada, junto com vocês. Assim como vocês passam dias sucessivos estudando certas matérias — Matemática, História, Geografia — vocês deveriam, também, passar uma boa parte do tempo falando sobre estes assuntos profundos, pois isso dá riqueza à vida.  

Krishnamurti — A Cultura e o Problema Humano

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pode-se buscar a felicidade?

Interrogante: O que é felicidade? Sempre andei a buscá-la, mas, por alguma razão, jamais a encontrei. Vejo outras pessoas divertirem-se de muitas maneiras diferentes, e muitas das coisas que elas fazem me parecem por demais imaturas e pueris. Creio que essas pessoas são felizes, a seu modo, mas eu desejo outra espécie de felicidade. Em raros momentos têm-me vindo sugestões de que é possível alcançá-la, mas, por alguma razão, ela sempre me fugiu. Eu gostaria de saber o que posso fazer para me sentir real e completamente feliz.

Krishnamurti: Você acredita que a felicidade seja um fim em si? Ou ela vem como uma coisa secundária, quando estamos vivendo inteligentemente?

Interrogante: Eu creio que ela é um fim em si, porque, havendo felicidade, tudo fazemos harmonicamente, sem esforço, facilmente, sem atrito. Tenho certeza de que, com essa felicidade, tudo o que se faz é correto.

Krishnamurti: É exato isso — a felicidade um fim em si? A virtude não é um fim em si. Se o fosse, se tornaria uma coisa muito insignificante. Pode-se buscar a felicidade? Se você o fizer, encontrá, provavelmente, um simulacro dela, em distrações e abusos de toda espécie. Isso é prazer. Que relação há entre prazer e felicidade?

Interrogante: Nunca fiz a mim mesmo essa pergunta.

Krishnamurti: O prazer, que todos nós buscamos, é erronea­mente chamado “felicidade”, mas, pode-se buscar a felicidade, assim como se busca o prazer? Cumpre-nos, decerto, ver bem claramente se prazer é felicidade. Prazer é satisfação, desre­gramento, entretenimento, estímulo. Em geral pensamos que prazer é felicidade, e consideramos o máximo de prazer como sendo o máximo de felicidade. E, também, é a felicidade o oposto da infelicidade? Você deseja ser feliz porque é infeliz, porque está insatisfeito? Tem a felicidade alguma espécie de oposto? Tem o amor algum oposto? Sua pergunta acerca da felicidade provém de você ser infeliz?

Interrogante: Como todos os demais, sou infeliz e naturalmente não desejo sê-lo, e é isso que me impele a buscar a felicidade.

Krishnamurti: Logo, para você, felicidade é o oposto de infeli­cidade. Se você fôsse feliz, não estaría buscando a felicidade. O importante, pois, não é a felicidade, mas, sim, saber se a infelicidade pode terminar. Não é este o verdadeiro problema? Você per­gunta o que é felicidade porque é infeliz, e o pergunta sem ter averiguado se felicidade é o contrário de infelicidade.

Interrogante: Se assim você o expressa, aceito-o. O que me inte­ressa, portanto, é como livrar-me da aflição em que me vejo.

Krishnamurti: O que é mais importante, compreender a infelici­dade ou buscar a felicidade? Se você busca a felicidade, essa busca é uma fuga da infelicidade e, por conseguinte, esta existirá sem­pre talvez encoberta, oculta, mas sempre presente, a supurar dentro de você. Assim, qual é agora sua questão?

Interrogante: O que agora pergunto é: Porque sou infeliz? Você me apontou muito claramente o meu estado real, mas não me deu a resposta que desejo e, por isso, me vejo agora frente a frente com esta questão: Como posso libertar-me de minha aflição?
Krishnamurti: Pode algum agente exterior — Deus, um Mes­tre, uma droga, um salvador — ajudá-lo a libertar-se de sua aflição? Ou, pode-se adquirir a inteligência necessária para compreender a natureza da infelicidade e imediatamente resolver este problema?

Interrogante: Vim procurar-lhe porque pensava que você poderia ajudar-me; de modo que poderia ser chamado um “agente exterior”. Eu desejo ajuda, e não importa quem me dá.

Krishnamurti: Esta questão de receber ajuda ou dar ajuda en­volve muitas coisas. Se cegamente você aceita essa ajuda, você se verá aprisionado na armadilha desta ou daquela autoridade, que acarreta vários outros problemas, tais como a obediência e o medo. Assim, se logo de início você está desejando ajuda, não só não a obterá — porque, afinal de contas, ninguém pode aju­dar-lhe — mas, além disso, ficará com toda uma série de no­vos problemas; estará mais atolado ainda do que nunca.

Interrogante: Penso que compreendo o que você acaba de dizer, e aceito-o. Nunca refleti sobre isso a fundo e com clareza. De que maneira poderei desenvolver a inteligência necessária para resolver, imediatamente e por meus próprios meios, o problema da infelicidade? Se eu possuísse essa inteligência, então, de­certo, não estaria lhe pedindo ajuda. O que agora pergunto, portanto, é se tenho possibilidade de adquirir essa inteligência, a fim de resolver o problema da infelicidade e, por conseguinte, alcançar a felicidade.

Krishnamurti: Com isso você está dizendo que essa inteligência é separada de sua própria ação. A ação dessa inteligência é o ver e o compreender o próprio problema. Essas duas coisas (ver e compreender) não são separadas e sucessivas; não se trata de primeiramente adquirir a inteligência, para depois usá-la, como um utensílio, na solução do problema. É uma das “doenças” do pensar o dizer-se que primeiro se precisa adqui­rir a capacidade, para depois usá-la; primeiro a ideia, o prin­cípio, depois a aplicação dele. Isso, justamente, é ausência de inteligência e a origem de todos os problemas. É fragmentação. É dessa maneira que vivemos, e por isso falamos em felicida­de ou infelicidade, ódio e amor, etc. etc.

Interrogante: Isso talvez seja inerente à estrutura da linguagem.

Krishnamurti: Talvez seja, mas será melhor não fazermos tanto caso disso aqui, afastando-nos do ponto mais importante. Es­tamos dizendo que a inteligência e a ação dessa inteligência — que é ver o problema da infelicidade — são uma unidade indi­visível. Também, que ela não está separada da ação de pôr fim à infelicidade ou de adquirir a felicidade.

Interrogante: Como poderei adquirir essa inteligência?

Krishnamurti: Você compreendeu o que estivemos dizendo?

Interrogante: Sim, compreendi.

Krishnamurti: Ora, se compreendeu, deve estar vendo que esse ver é inteligência. A única coisa que se pode fazer é ver; não se pode desenvolver a inteligência, para ver. O ver não é cultivo da inteligência. Ver é mais importante que inteligência, ou felicidade, ou infelicidade. Só há ver ou não ver. O resto — felicidade, infelicidade e inteligência — são meras palavras.

Interrogante: O que é então esse ver?

Krishnamurti: Ver significa compreender que o pensamento cria os opostos. O que o pensamento cria não é real. Ver significa compreender a natureza do pensamento, da memória, do con­flito, das ideias; ver tudo isso como um processo total é com­preender. Isso é inteligência; ver totalmente é inteligência; ver fragmentariamente é falta de inteligência.

Interrogante: Estou um pouco confuso. Parece-me que com­preendo, porém um tanto vagamente; tenho de ir devagar. O que você está dizendo é isto: veja e escute totalmente. Você diz que essa atenção é inteligência e que deve ser imediata. Só se pode ver agora. Não sei se estou vendo agora, ou se tenho de ir para casa refletir sobre o que você disse, esperando que depois possa ver.

Krishnamurti: Nesse caso, nunca verá; pelo refletir sobre o que se disse, jamais o verá, porque o pensamento impede o ver. Nós dois já compreendemos o que significa ver. Esse ver não é uma essência, uma abstração ou ideia. Não se pode ver se não há nada para ver. Você tem agora o problema da in­felicidade. Veja-o completamente, inclusive o seu desejo de ser feliz, e veja como o pensamento cria o oposto. Veja a busca de felicidade, e a busca de ajuda para a obtenção da felicidade. Veja o desengano, a esperança, o temor. Tudo isso deve ser visto completamente, como um todo, e não separada­mente. Veja tudo agora, preste-lhe toda atenção.

Interrogante: Continuo confuso. Não sei se apreendi a essência do que você disse. Desejo fechar os olhos e penetrar em mim mesmo, para ver se compreendi realmente esta questão. Se a compreendi, nesse caso resolvi o meu problema.


Krishnamurti — A Luz que não se apaga

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sobre a busca da Real Felicidade


Pergunta: Existe felicidade real? Pode alguém descobri-la, ou nossa busca de felicidade é uma ilusão?

KRISHNAMURTI: Em meu sentir, se buscamos a felicidade, nossa vida se torna muito superficial. A felicidade, afinal de contas, é algo que vem a nós, um resul­tado adicional, um acréscimo; quando perseguimos a feli­cidade, ela se nos esquiva, não é verdade? Se uma pessoa se torna cônscia de ser feliz, já não é feliz. Quando sabe­mos que estamos contentes, nesse mesmo momento dei­xamos de estar contentes. Não sei se já o notastes. É como um homem estar cônscio de sua humildade; esse homem, por certo, não é humilde.

Penso, pois, que não se pode buscar a felicidade, as­sim como não se pode buscar a paz. Se se busca a paz, a mente se torna estagnada. Porque a paz é um estado vivo; e para se compreender o que é a paz requer-se mui­ta inteligência e muito trabalho — e não que se fique ina­tivo, meramente a desejar a paz. Identicamente, a felici­dade requer imensa compreensão, penetração e muito tra­balho — tanto e mais ainda do que para ganhar a vida. Mas, se estais meramente a buscar a felicidade, podeis também tomar um entorpecente, que é a mesma coisa.

Buscar a felicidade, parece-me, é perseguir uma ilusão. Essa busca envolve um processo muito complicado. Há a pessoa que busca, e a coisa que ela busca. Quando uma pessoa está a buscar algo que deseja, há sempre con­flito; e quando existe conflito, não há compreensão, po­rém, tão só, uma série de aflições e uma luta incessante para superá-las, a fim de se alcançar a felicidade. Esse é o conflito da dualidade, do pensador e seu pensamento. Só quando a mente desistiu de buscar a sua própria satisfa­ção, seu preenchimento próprio, e já não se esforça para alcançar a felicidade — sendo isso uma atividade egocên­trica — só então temos a completa cessação do conflito. Tal estado pode chamar-se felicidade; — mas isso é coi­sa secundária.

Importa, pois, penetrarmos esse problema do esforço e do conflito. Duvido que se possa compreender qualquer coisa mediante esforço. E se nenhum esforço fizermos, que acontecerá? Fomos criados, educados, para o esforço; e, se não nos esforçamos, pensamos que as coisas correrão mal, tememos estagnar, degenerar. Mas, se nos observar­mos um pouco, veremos que a compreensão surge nos mo­mentos em que a mente está muito tranquila e não nos períodos de luta. E nossa mente se acha num estado de luta perpétua quando deseja felicidade, segurança, ou bus­ca alguma forma de permanência.

Onde há conflito não pode deixar de haver tensão, sofrimento; mas, viver sem conflito é um problema imen­so. Não podemos afastar de nós esse problema, dizendo: — "Vou viver sem conflito" — isso é completamente sem significação. Tampouco nos servirá a meditação ou a prá­tica de exercícios místicos para não termos conflito — pois isso é muito pueril. Temos de compreender o proces­so psicológico desse movimento que chamamos conflito; e de modo nenhum o compreenderemos se existir o motivo para alcançarmos alguma coisa. Enquanto eu desejar ser algo — feliz, bom, virtuoso — enquanto desejar encontrar Deus ou o que quer que seja, tem de haver conflito e, com ele, sofrimento e dor.

É preciso compreendermos totalmente o processo do esforço para realizar, alcançar um fim, e não, dizermos simplesmente: — "Se não me esforço, degenerarei, per­derei meu emprego", o que constitui uma reação muito superficial. Para a profunda compreensão do problema psicológico, da natureza íntima do esforço, requer-se auto-percebimento em alto grau. Por isso é tão importante conhecermos a nós mesmos. No próprio processo do autoconhecimento, teremos, talvez, a nosso lado, a felicida­de — que tanto nos importa.

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill