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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pode-se buscar a felicidade?

Interrogante: O que é felicidade? Sempre andei a buscá-la, mas, por alguma razão, jamais a encontrei. Vejo outras pessoas divertirem-se de muitas maneiras diferentes, e muitas das coisas que elas fazem me parecem por demais imaturas e pueris. Creio que essas pessoas são felizes, a seu modo, mas eu desejo outra espécie de felicidade. Em raros momentos têm-me vindo sugestões de que é possível alcançá-la, mas, por alguma razão, ela sempre me fugiu. Eu gostaria de saber o que posso fazer para me sentir real e completamente feliz.

Krishnamurti: Você acredita que a felicidade seja um fim em si? Ou ela vem como uma coisa secundária, quando estamos vivendo inteligentemente?

Interrogante: Eu creio que ela é um fim em si, porque, havendo felicidade, tudo fazemos harmonicamente, sem esforço, facilmente, sem atrito. Tenho certeza de que, com essa felicidade, tudo o que se faz é correto.

Krishnamurti: É exato isso — a felicidade um fim em si? A virtude não é um fim em si. Se o fosse, se tornaria uma coisa muito insignificante. Pode-se buscar a felicidade? Se você o fizer, encontrá, provavelmente, um simulacro dela, em distrações e abusos de toda espécie. Isso é prazer. Que relação há entre prazer e felicidade?

Interrogante: Nunca fiz a mim mesmo essa pergunta.

Krishnamurti: O prazer, que todos nós buscamos, é erronea­mente chamado “felicidade”, mas, pode-se buscar a felicidade, assim como se busca o prazer? Cumpre-nos, decerto, ver bem claramente se prazer é felicidade. Prazer é satisfação, desre­gramento, entretenimento, estímulo. Em geral pensamos que prazer é felicidade, e consideramos o máximo de prazer como sendo o máximo de felicidade. E, também, é a felicidade o oposto da infelicidade? Você deseja ser feliz porque é infeliz, porque está insatisfeito? Tem a felicidade alguma espécie de oposto? Tem o amor algum oposto? Sua pergunta acerca da felicidade provém de você ser infeliz?

Interrogante: Como todos os demais, sou infeliz e naturalmente não desejo sê-lo, e é isso que me impele a buscar a felicidade.

Krishnamurti: Logo, para você, felicidade é o oposto de infeli­cidade. Se você fôsse feliz, não estaría buscando a felicidade. O importante, pois, não é a felicidade, mas, sim, saber se a infelicidade pode terminar. Não é este o verdadeiro problema? Você per­gunta o que é felicidade porque é infeliz, e o pergunta sem ter averiguado se felicidade é o contrário de infelicidade.

Interrogante: Se assim você o expressa, aceito-o. O que me inte­ressa, portanto, é como livrar-me da aflição em que me vejo.

Krishnamurti: O que é mais importante, compreender a infelici­dade ou buscar a felicidade? Se você busca a felicidade, essa busca é uma fuga da infelicidade e, por conseguinte, esta existirá sem­pre talvez encoberta, oculta, mas sempre presente, a supurar dentro de você. Assim, qual é agora sua questão?

Interrogante: O que agora pergunto é: Porque sou infeliz? Você me apontou muito claramente o meu estado real, mas não me deu a resposta que desejo e, por isso, me vejo agora frente a frente com esta questão: Como posso libertar-me de minha aflição?
Krishnamurti: Pode algum agente exterior — Deus, um Mes­tre, uma droga, um salvador — ajudá-lo a libertar-se de sua aflição? Ou, pode-se adquirir a inteligência necessária para compreender a natureza da infelicidade e imediatamente resolver este problema?

Interrogante: Vim procurar-lhe porque pensava que você poderia ajudar-me; de modo que poderia ser chamado um “agente exterior”. Eu desejo ajuda, e não importa quem me dá.

Krishnamurti: Esta questão de receber ajuda ou dar ajuda en­volve muitas coisas. Se cegamente você aceita essa ajuda, você se verá aprisionado na armadilha desta ou daquela autoridade, que acarreta vários outros problemas, tais como a obediência e o medo. Assim, se logo de início você está desejando ajuda, não só não a obterá — porque, afinal de contas, ninguém pode aju­dar-lhe — mas, além disso, ficará com toda uma série de no­vos problemas; estará mais atolado ainda do que nunca.

Interrogante: Penso que compreendo o que você acaba de dizer, e aceito-o. Nunca refleti sobre isso a fundo e com clareza. De que maneira poderei desenvolver a inteligência necessária para resolver, imediatamente e por meus próprios meios, o problema da infelicidade? Se eu possuísse essa inteligência, então, de­certo, não estaria lhe pedindo ajuda. O que agora pergunto, portanto, é se tenho possibilidade de adquirir essa inteligência, a fim de resolver o problema da infelicidade e, por conseguinte, alcançar a felicidade.

Krishnamurti: Com isso você está dizendo que essa inteligência é separada de sua própria ação. A ação dessa inteligência é o ver e o compreender o próprio problema. Essas duas coisas (ver e compreender) não são separadas e sucessivas; não se trata de primeiramente adquirir a inteligência, para depois usá-la, como um utensílio, na solução do problema. É uma das “doenças” do pensar o dizer-se que primeiro se precisa adqui­rir a capacidade, para depois usá-la; primeiro a ideia, o prin­cípio, depois a aplicação dele. Isso, justamente, é ausência de inteligência e a origem de todos os problemas. É fragmentação. É dessa maneira que vivemos, e por isso falamos em felicida­de ou infelicidade, ódio e amor, etc. etc.

Interrogante: Isso talvez seja inerente à estrutura da linguagem.

Krishnamurti: Talvez seja, mas será melhor não fazermos tanto caso disso aqui, afastando-nos do ponto mais importante. Es­tamos dizendo que a inteligência e a ação dessa inteligência — que é ver o problema da infelicidade — são uma unidade indi­visível. Também, que ela não está separada da ação de pôr fim à infelicidade ou de adquirir a felicidade.

Interrogante: Como poderei adquirir essa inteligência?

Krishnamurti: Você compreendeu o que estivemos dizendo?

Interrogante: Sim, compreendi.

Krishnamurti: Ora, se compreendeu, deve estar vendo que esse ver é inteligência. A única coisa que se pode fazer é ver; não se pode desenvolver a inteligência, para ver. O ver não é cultivo da inteligência. Ver é mais importante que inteligência, ou felicidade, ou infelicidade. Só há ver ou não ver. O resto — felicidade, infelicidade e inteligência — são meras palavras.

Interrogante: O que é então esse ver?

Krishnamurti: Ver significa compreender que o pensamento cria os opostos. O que o pensamento cria não é real. Ver significa compreender a natureza do pensamento, da memória, do con­flito, das ideias; ver tudo isso como um processo total é com­preender. Isso é inteligência; ver totalmente é inteligência; ver fragmentariamente é falta de inteligência.

Interrogante: Estou um pouco confuso. Parece-me que com­preendo, porém um tanto vagamente; tenho de ir devagar. O que você está dizendo é isto: veja e escute totalmente. Você diz que essa atenção é inteligência e que deve ser imediata. Só se pode ver agora. Não sei se estou vendo agora, ou se tenho de ir para casa refletir sobre o que você disse, esperando que depois possa ver.

Krishnamurti: Nesse caso, nunca verá; pelo refletir sobre o que se disse, jamais o verá, porque o pensamento impede o ver. Nós dois já compreendemos o que significa ver. Esse ver não é uma essência, uma abstração ou ideia. Não se pode ver se não há nada para ver. Você tem agora o problema da in­felicidade. Veja-o completamente, inclusive o seu desejo de ser feliz, e veja como o pensamento cria o oposto. Veja a busca de felicidade, e a busca de ajuda para a obtenção da felicidade. Veja o desengano, a esperança, o temor. Tudo isso deve ser visto completamente, como um todo, e não separada­mente. Veja tudo agora, preste-lhe toda atenção.

Interrogante: Continuo confuso. Não sei se apreendi a essência do que você disse. Desejo fechar os olhos e penetrar em mim mesmo, para ver se compreendi realmente esta questão. Se a compreendi, nesse caso resolvi o meu problema.


Krishnamurti — A Luz que não se apaga
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill