A vida é um maravilhoso mistério — não o mistério de que falam certos livros ou certas pessoas, porém um mistério que cada um de nós tem de desvendar por si próprio. Eis porque é muito importante compreenderem o que é pequeno, limitado, mesquinho e passarem além.
Se não começam a compreender a vida desde jovens, crescerão, interiormente, muito feios; serão estúpidos e vazios, ainda que, exteriormente, tenham dinheiro, andem em carros de luxo e pareçam muito importantes. Por isso é tão relevante que saiam de seus quartos para verem a amplidão do firmamento. Mas, isso não podem fazer se não tiverem amor — não “amor físico” ou “amor divino”, porém amor, puro e simples: amar os pássaros, as árvores, as flores, seus mestres, seus pais e, além do país, toda a humanidade.
Não será uma verdadeira tragédia se não descobrirem, por si mesmos, o que é amar? Se não conhecerem o amor agora, nunca mais o conhecerão, porque, quando ficarem mais velhos, o que se chama “amor” será uma coisa muito feia — uma propriedade, uma espécie de mercadoria que se compra e vende. Mas, se começarem agora a ter amor no coração, se amarem a árvore que plantam, o cão vadio que afagam, então, quando crescerem, não permanecerão no pequeno aposento de estreita janela, mas sairão para amar a totalidade da vida.
O amor é realidade; não é emoção, efusão de lágrimas; não é um sentimento. O amor, em si, é sem sentimentalismo. Este é um ponto muito sério e importante: que devem amar enquanto estão jovens. Seus pais e mestres talvez desconheçam o amor, e foi por esta razão que criaram um mundo terrível, uma sociedade perpetuamente em guerra contra si mesma e com outras sociedades. Suas religiões, suas filosofias e ideologias são todas falsas, porque são sem amor. Elas só percebem uma parte; estão a olhar pela estreita janela, que poderá apresentar uma vista aprazível e extensa, mas que não é toda a amplidão da vida. Sem esse sentimento de intenso amor, não podem ter a percepção do todo; por conseguinte, serão sempre um ente digno de comiseração e, ao chegarem ao fim da vida, não terão senão cinzas, um amontoado de palavras vazias.
Krishnamurti — A Cultura e o problema humano