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sábado, 30 de novembro de 2013

O prontificado estado de Idoneidade receptiva

Cosmo Meditação - Huberto Rohden

Sobre o prontificado estado de IDONEIDADE RECEPTIVA

Nunca homem algum curou outro homem.

Nunca remédio algum curou alguém.

Nunca nenhum canal forneceu água para outro canal.

Somente a Fonte do Uno pode fornecer água, SEM ou ATRAVÉS de canais do Verso. Vida e Saúde são atributos exclusivos do Cosmos, do Uno, do Infinito. Se há falta de vida ou saúde no homem, a falta não é do cosmos, mas do homem. O cosmos é imparcial, não falha jamais, não tem preferências nem favoritismos para com ninguém. O médico, o psiquiatra, o curador não podem remover o obstáculo creado pelo doente; mas pode servir de seta indicadora na encruzilhada; podem funcionar como CATALISADORES. Catalisador, na química, é uma substância cuja simples presença fa com que o fator catalisante se modifique a si mesmo. O catalisador é algo parecido com o GURU, o mestre espiritual, cuja simples presença dinâmica beneficia o discípulo. Aura, fluído, graça — palavras usadas por Paul Brunton, por Mouni Sadhu e por muitos outros, para designar a atuação misteriosa que um verdadeiro mestre irradia sobre certos discípulos quando devidamente sintonizados. Dissipam-se as dúvidas, amainam as tempestades, serenam as angústias, em face do poderoso catalisador. 

 Esta presença catalisante, porém, deve ser uma presença qualitativa, e não simples presença física do mestre. Deve ser uma presença cosmo-dinâmica, cristo-dinâmica, que se origina por uma cosmo-consciência de alta voltagem, do tipo "eu e o Pai somos um, o Pai está em mim, e eu estou no Pai". O catalisador não age pelo que DIZ, FAZ, PENSA ou QUER conscientemente, em ato, mas, sim, pelo que ele É extraconscientemente, em atitude. A sua atuação catalítica provém do seu íntimo SER, e não do seu externo FAZER. Esse intimo ser revela-se como AURA, FLUÍDO, VIBRAÇÃO, GRAÇA, vibrações não acessíveis aos sentidos nem ao intelecto do homem profano. Estas vibrações — "a graça do mestre" — atuam poderosamente sobre as pessoas que possuam a necessária IDONEIDADE RECEPTIVA. 

"Quando o discípulo está pronto, então o mestre aparece". 

Huberto Rohden - Cosmoterapia: a cura dos males humanos pela Consciência Cósmica

Qual a natureza exata dos males da vida humana?


Os males da vida humana são produto do EGO ILUSÓRIO, e só poderão ser abolidos pelo despertamento do EU VERDADEIRO. É perfeitamente inútil e totalmente impossível querer abolir os males ego-produzidos pelo próprio ego, por mais inteligente que ele seja. Nenhum ego pode libertar-nos dos males a que o ego se escravizou. Escravocrata não abole escravidão; escravocrata faz escravos, mas não liberta escravo. Enquanto o homem escravizado pelo ego ilusório não ultrapassar a dimensão dessa egoidade ilusória e escravizante, não haverá redenção dos males que a egoidade engendrou. Querer libertar o ego pelo ego, é funesto círculo vicioso, em que a humanidade vive há milhares de anos. Pode o ego modificar os sintomas dos males por ele creados, mas não os pode erradicar e abolir definitivamente, ENQUANTO NÃO ENTRAR NA NOVA DIMENSÃO DO EU REDENTOR (Consciência Integrativa Amorosa)...

A libertação desses males é possível unicamente pela transição da ILUSÃO para a VERDADE, porque só a consciência da verdade liberta o homem dos males que a inverdade creou nele. 

(...) Quando o homem se convence definitivamente de que o seu ego humano não é a Fonte, mas canal, que deve estar ligado conscientemente à Fonte, ao Infinito, ao Uno, ao Único, à Essência, então fluem para dentro dele, e através dele, as águas da Vida, da Saúde e Felicidade. 

A presença objetiva da Vida, Saúde e Felicidade é um fato permanente e universal; mas a consciência desta presença é um problema. Enquanto o homem não tiver a consciência nítida desta PRESENÇA cósmica não será liberto dos seus males. 

(...) O homem-ego ignora essa PRESENÇA — o homem-EU sabe dessa PRESENÇA cósmica, divina. Por isto, somente a verdade do EU pode redimir o homem da ilusão do ego. 

Auto-realização e cosmoterapia são manifestações da CONSCIÊNCIA DA PRESENÇA DE DEUS NO HOMEM. 

(...)Quando o homem atinge a plenitude de sua CONSCIÊNCIA ou CONSCIENTIZAÇÃO, nada mais sabe ele de um aquém ou de um além, porque a dimensão espacial do Finito se diluiu na indimensão do Infinito. O mesmo se dá com o CONCEITO ILUSÓRIO DE TEMPO, que se dilui na verdade do eterno, que é a ausência do tempo. Quando o homem-ego ultrapassa a sucessividade analítica da sua mente e entra, como homem-EU, na simultaneidade intuitiva da razão, então tudo isto se torna natural, evidente e compreensível.

(...) O homem irreal ou semi-real deve ser plenamente realizado, para que o seu ego doente seja SATURADO pelo seu EU sadio. No homem pleni-real não há males. Todos os males de que o homem sofre vêm da zona do seu ego mental, da sua PERSONA (termos latino para máscara). Somente o contato com a INDIVIDUALIDADE REAL pode curar a personalidade irreal; somente a verdade pode libertar o homem da inverdade, que gera os males.

(...) A última palavra de todas as terapias é a COSMOTERAPIA, que abrange todas as outras terapias. Cosmoterapia é a cura do homem pelas forças cósmicas em seu conjunto; porquanto o homem não é SOMA, PSIQUE, LOGOS, disjuntivamente; ele é tudo isto, conjuntivamente. Não há no homem compartimentos-estanque. Tudo o que acontece no SÔMA, se reflete na PSIQUE e no LÓGOS; e tudo o que ocorre no LÓGOS ou em outro setor humano ocorre também em todos os outros setores, porque o homem é uma estrita unidade orgânica e não uma diversidade mecânica; ele é univérsico, unidade em diversidade.

(*...) Na cosmoterapia consideramos o homem como um todo orgânico, uma síntese complementar, embora sob a direção de um fator dominante, o lógos, o EU PLENICONSCIENTE.

"Eu venci o mundo".

(...) O nosso ego é visceralmente dom-quixotesco, e esse dom-quixotismo se perpetua através de séculos e milênios. Os pseudosmales nos atormentam unicamente porque o nosso ego dom-quixotesco os considera como males reais. E, sendo que "o homem é aquilo que ele pensa no seu coração", como diz a Bíblia, ele é vítima de males porque assim pensa e crê em seu coração. "Eu sou livre de tudo o que sei — escreve Spinoza — mas sou escravo de tudo que ignoro". Enquanto o homem ignora A VERDADE SOBRE SI MESMO, é ele vítima e escravo desta ignorância. "Conhecereis a Verdade — disse o maior dos Mestres — e a Verdade vos libertará".

A cosmoterapia evoca o homem-Eu das profundezas do homem-ego, opera uma eclosão do Eu após sua longa incubação.

Huberto Rohden - Cosmoterapia: a cura dos males humanos pela Consciência Cósmica

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

Profundamente agradecido pelo privilégio da "santificação" pela fé", realizada com INESPERADA PLENITUDE, juntei-me, nos bosques, a alguns cristãos que havia conhecido, para juntos esperarmos, diante de Deus, pelo batismo no Espírito. O tempo de espera foi passado em PROFUNDO SILÊNCIO, quebrado apenas por alguns hinos e breves orações. Finalmente, "Veio do céu um ruído semelhante a um vento impetuoso que soprasse e encheu a casa onde estávamos reunidos. Essas são as mais inspiradas palavras que encontro para descrever a minha impressão. Entretanto, a natureza permaneceu imobilizada, sem que se mexesse uma única folha das árvores ou da relva. O Senhor revelou-se pelo Espírito às nossas almas e não aos nossos sentidos. Meu ser por inteiro parecia indescritivelmente cheio por Deus, em quem sempre acreditara. A percepção dos meus sentidos seria impotente para transmitir-me a CONSCIÊNCIA que agora possuía. Compreendi as visões extra-sensoriais de Isaías, Ezequiel e Paulo. Dentre todas as coisas criadas, nada era mais real para a minha alma do que o próprio Criador. A experiência foi terrível, embora não infundisse medo. Conservei total domínio dos meus sentidos e ainda assim percebi que eles haviam sido envolvidos pela sublime manifestação. Cada pergunta era respondida de forma o mais breve possível, a fim de que minha alma não se perdesse, nem por um instante, a PRESENÇA Celestial que a ENVOLVIA e SACIAVA. Não me recordo de haver confidenciado a ninguém essa experiência; porém, alguns dias depois, ao reencontrar minha esposa, ela caiu de lágrimas ao ver-me, antes mesmo de pronunciar uma só palavra, tal a MUDANÇA HAVIDA EM MEUS ASPECTO. Com a CONSCIÊNCIA DO DESPERTAR, as águas vivificantes manaram do meu espírito. Fui invadido por grande medo, mas ele era doce e, não, opressivo. Era a mesma sensação que me havia invadido na presença de Deus e essa impressão ACOMPANHOU-ME SEMPRE, mesmo quando dedicado às mais absorventes atividades. Para mim, a vida converteu-se em um salmo de louvor. 

É evidente que, passado certo tempo, houve um decréscimo nessa exaltação de sentimentos. Entretanto, em meu íntimo permaneci CONSCIENTE DE DEUS, tal como fora dito: Habitarei neles e com eles caminharei"; "Viremos a Ele e faremos nossa morada com Ele"... Não é fácil abordar essas coisas. Minhas palavras parecem pobres e o seu resultado é mais de encobrimento do que de revelação. Fosse a minha linguagem capaz, e a gloriosa realidade seria transmitida a outros corações!"

R.P.S - 1830-1898

Uma confraria para se explorar sem ser explorado

A última fronteira


Extrato do diálogo realizado em Brockwood com Dr. David Bohm e o Sr. Narayan 07/06/1980.

A Consciência Integrativa Amorosa em Baruch Spinoza

Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti. 

Baruch Spinoza

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O propósito dos nossos encontros

O doloroso processo de resgate da sanidade consciencial

liberdade não é libertinagem

Pra que serve o disfuncional modelo social?

Consciência sem pensamento – Parte 1


A questão é a seguinte: O que é essa experiência? Ou melhor, já que uma experiência só pode ser realmente conhecida por uma pessoa que por ela tenha passado, podemos perguntar: Qual é a natureza dessa experiência? E, tentando indicar uma resposta de algum tipo para essa pergunta, acho que isso é extremamente difícil, pela simples razão já mencionada, ou seja, porque é difícil ou mesmo impossível que uma pessoa preste um testemunho verdadeiro e confiável sobre uma experiência que ocorreu a outrem.

Se eu pudesse usar as palavras exatas do mestre, sem nenhuma influência derivada seja de mim mesmo, seja da interpretação de um amigo, as coisas poderiam ser diferentes. Mas eu não pretendo fazer isso. Ainda que eu pudesse fazê-lo, a forma científica do velho mundo, na qual seus pensamentos se manifestaram, provavelmente seria como um obstáculo e fonte de confusão, em lugar de ser uma ajuda para o leitor. Na ver­dade, no caso dos livros sagrados, onde encontramos grande quantidade de informação acessível e autorizada, os críticos do Ocidente, embora em sua maioria concordem em que aí jazem experiências reais, não che­gam a uma conclusão única sobre o significado dessas experiências.

Por essas razões, prefiro não tentar ou pretender dar o ensinamento exato, sem preconceitos, sobre os Gurus hindus e suas experiências, mas apenas indicar, com minhas próprias palavras, tanto quanto possível, e empregando minha forma de pensamento moderna, o que considerei ser a direção na qual devemos olhar para esse mundo de conhecimentos an­tigos, que influenciaram de forma notável e estupenda o Oriente, e que ainda hoje é a sua principal característica que o diferencia do mundo ocidental.

Em primeiro lugar, quero prevenir-me contra um erro extremamente fácil de se cometer. É fácil concluir, e muitas vezes assim ocorreu, em todos os casos em que se atribui a uma pessoa a possessão de uma faculdade fora do comum, que essa pessoa subiu de nossa esfera à região sobrenatural e possui, portanto, todas as faculdades próprias dessa região. Por exemplo, se ele ou ela são considerados possuidores da clarividência, supõe-se que conheçam ou devam conhecer todas as coisas. Caso uma pessoa tenha demonstrado o que parece ser um poder milagroso, em qualquer circunstância ou tempo, pergunta-se, até mesmo de forma depreciativa, por que ele ou ela não demonstraram tal poder em outras ocasiões e em outros casos.

Devemos precatar-nos contra todas essas generalizações banais. Se existe uma forma de consciência mais elevada, que pode ser obtida pelo homem, acima daquela atualmente por ele possuída, é provável, embora não certo, que ela se esteja desenvolvendo lentamente e com inúmeras pausas em seu caminho. No passado remoto do homem e dos animais, a consciência da sensação e a consciência do eu desenvolveram-se sucessivamente, cada uma delas dando origem a inúmeros ramos que se espalharam continuamente. Em algum momento da vasta experiência desse novo crescimento, uma nova forma de consciência deve ter parecido milagrosa, comparada à anterior. Imaginemos a maravilha que deve ter sido a revelação primeira do sentido da visão e como deveria ser inconcebível para aqueles que ainda não o possuíam, embora certamente os primeiros empregos dessa faculdade devam ter sido carregados de desilusão e erro. E pode ser que haja uma visão interior, que transcende a vista, tanto quanto a vista transcende o tato. É mais do que provável que nos ocultos nascimentos do tempo espreite uma consciência que não é aquela dos sentidos ou a do eu, ou que, pelo menos, inclui e ultrapassa totalmente a essas duas; uma consciência na qual o contraste entre o eu e o mundo exterior, a distinção entre sujeito e objeto desaparecerá. Aquela porção do mundo onde somos admitidos através dessa consciência (chame-o de sobrenatural ou como quer que queira), provavelmente é, pelo menos, tão vasta e complexa como a parte que já conhecemos e o progresso nessa região deve ser pelo menos tão lento, trabalhoso, fundado em tentativas várias, descontínuo e incerto, como na já conhecida. Não há um súbito ascender do corredor ao Olimpo e os caminhos que levam de um ao outro, quando os encontramos, são longos e se confundem em sua variedade.

Não devemos supor que aquelas pessoas que atingiram uma porção dessa região sejam semideuses ou infalíveis. Na realidade, em muitos casos, a extrema novidade e estranheza da experiência dão origem a sequências fantasmagóricas de especulação ilusória. A essas pessoas deveríamos considerá-las como os tipos mais elevados da humanidade, sendo aquelas que adquiriram algumas novas faculdades que já estão no ar, embora nem sempre assim ocorra, e há casos, que podem ser facilmente reconhecidos, nos quais pessoas decididamente deficientes ou de baixa natureza moral adquirem poderes que deveriam pertencer aos graus mais elevados da evolução, e que, em função disso, tornam-se extremamente perigosas.

Os mestres hindus insistem sobre tudo isso. Eles dizem — e eu acho que isso exprime a realidade da sua experiência — que nada existe de anormal ou milagroso sobre o assunto. Afirmam que a aquisição das faculdades é, em resumo, o resultado de uma longa evolução e treinamento e que há distintas leis que as dirigem e uma ordem que prevalece entre elas. Reconhecem a existência de pessoas com um poder demoníaco, que adquiriram certos poderes sem que a eles corresponda uma determinada evolução moral. Admitem que as fases mais elevadas de consciência são raras e que até hoje poucos foram os que as atingiram. Tendo estabelecido, pois, esses poucos princípios, penso que podemos prosseguir, dizendo que o que os Gnani procuram e obtêm é uma nova ordem de consciência, à qual podemos chamar pelo nome universal de Consciência Cósmica, em oposição à consciência corpórea especial e individual que nos é familiar. Não posso afirmar que na filosofia hindu seja usada a precisa correspondência a essa expressão "consciência universal". Entretanto, o Sat-chit-ánanda-Brahm, meta de todos os iogas, indica essa mesma ideia. "Sat" significa a realidade; "chit", o conhecimento, a percepção; "ánanda", a bênção; a unidade de todos é a manifestação do Brahma.

O Ocidente procura pela consciência individual, pela mente enriquecida, por percepções instantâneas e por memórias, pelas esperanças e medos individuais, ambição, amores, conquistas; pelo eu, o eu localizado em todas as suas fases e formas e sequer desconfia que exista uma consciência universal. O Oriente busca a consciência universal e nos casos em que essa busca é satisfeita, o eu individual e a vida transformam-se em um mero filme e são apenas sombras, veladas pela glória que lhes é revelada do outro lado.

A consciência individual assume a forma do Pensamento, que é fluido e móvel, em estado permanente de mudança, em luta constante com o sofrimento e os esforços. A outra Consciência não se manifesta sob a forma de pensamento. Ela toca, ouve, vê e é aquilo que percebe, sem movimento, sem mudanças, sem esforços, sem distinção entre sujeito e objeto, mas com uma Felicidade profunda e indescritível.

A consciência individual está estreitamente ligada ao corpo. De certa forma, os órgãos do corpo são os seus órgãos. Mas o corpo inteiro é como um só órgão da Consciência Cósmica. Para chegar a essa última, devemos ter o poder de nos conhecer como ente separado do corpo, entrar, de fato, em um estado de êxtase. Sem isso, a Consciência Cósmica não pode manifestar-se.

Diz-se que há quatro principais experiências na iniciação: (1) o encontro com um Guru; (2) a consciência da Graça, ou Arul, que pode ser interpretada como a consciência de uma mudança, até mesmo fisiológica, trabalhando dentro do indivíduo; (3) a visão de Shiva (Deus), com a qual o conhecimento do próprio eu, como distinto do corpo, está intimamente relacionado; (4) o encontro com o universo interior. Também se diz que "o sábio, quando seus pensamentos se tornam fixos, percebe dentro de si mesmo a consciência Absoluta, que é Sarva Sakshi, Juiz de todas as coisas".

Entre os eruditos, houve grandes disputas quanto ao significado da palavra Nirvana, para saber se ela indicava um estado de não consciência ou um estado de consciência profundo, total. É provável que ambas as opiniões tenham fortes justificativas, pois esse é um assunto que não admite definição em termos da linguagem comum. O que é importante ver e admitir é que sob esse e outros termos similares existe realmente um fato concreto e reconhecível, ou seja, um estado de consciência, que já foi experimentado inúmeras vezes e que, para os que por ele passaram, ainda que em leve grau, pareceu superior a toda uma vida de devoção. É claro que é fácil representar a coisa por uma simples palavra, uma teoria, uma especulação do hindu sonhador. Mas as pessoas não sacrificam suas vidas por palavras vazias, nem transformam o destino de continentes com uma simples regra filosófica abstrata. Não, a palavra representa uma realidade, algo básico e inerente à natureza humana. Não se trata, em realidade, de definir o fato, pois não podemos fazê-lo, mas de atingi-lo e passar pela experiência. Nesse ponto, é interessante observar que a moderna ciência ocidental, que até aqui se ocupou, sem grandes resultados, com teorias mecânicas sobre o universo, começa a aproximar-se dessa ideia de existência de outra forma de consciência. O extraordinário fenômeno do hipnotismo, que sem dúvida alguma até certo ponto se relaciona com o assunto que estamos discutindo, e que há séculos foi reconhecido no Oriente, está obrigando os cientistas ocidentais a aceitarem a existência da chamada segunda consciência do corpo. Os fenômenos realmente parecem inexplicáveis sem a aceitação de alguma espécie de segunda agência e a cada dia torna-se mais difícil não usar a palavra consciência para descrevê-la. Quero deixar claro que em nenhum instante estou admitindo que essa consciência secundária dos hipnotistas seja em todos os aspectos idêntica à Consciência Cósmica dos ocultistas orientais. Pode ser que sim, pode ser que não. As duas espécies de consciência podem cobrir o mesmo campo ou podem apenas prolongar-se até certa extensão. Eis uma questão que não ponho em discussão. O ponto sobre o qual desejo chamar a atenção é que a ciência ocidental está analisando a possibilidade da existência, no homem, de um outro tipo de consciência, além dessa que nos é familiar. A. Moll cita o caso de Barkworth, que "pode ordenar extensas séries de figuras, enquanto discute vivamente outros assuntos, sem permitir que sua atenção seja totalmente desviada pela discussão", e nos pergunta como Barkworth poderia fazer isso, sem a presença de uma segunda consciência, que se ocupe das figuras enquanto a primeira está envolvida com a argumentação. F. Myers é um leitor que permite que sua mente, por um minuto completo, abandone inteiramente o assunto do livro que lê e se imagine sentado ao lado de um amigo, conversando com ele. Subitamente, ele desperta e vê que continua à mesa, lendo com perfeita coerência. O que podemos dizer em um caso assim? Citamos, também, o caso de um pianista que interpreta uma peça de memória e verifica que seu recital está sendo de fato perturbado por consentir que sua mente (sua consciência primária) se desvie do que ele está fazendo. Algumas vezes já foi dito que a verdadeira perfeição da interpretação musical demonstra ser ela mecânica ou inconsciente, mas podemos considerar justa essa afirmação? Não seria uma simples contradição o falar em termos de leitura inconsciente ou ordenamento inconsciente de séries de figuras?

Muitas das ações e processos do corpo, como, por exemplo, o ato de tragar, são efetuados por diferentes consciências pessoais; pela mesma razão, muitas outras ações e processos passam quase que despercebidos e parece razoável supor que esses últimos eram exclusivamente mecânicos e prescindiam de qualquer operação mental. Mas, no Ocidente, as últimas descobertas sobre a hipnose demonstraram algo que já era bem co­nhecido pelos faquires hindus — que sob certas condições podemos tornar-nos conscientes das ações e processos interiores de nosso corpo. Além disso, podemos, também, ter consciência de acontecimentos que estão ocorrendo a distância de nosso corpo e sem empregar os meios de comunicação comuns.

Daí a ideia de uma outra consciência, em alguns aspectos de escala mais ampla que a consciência comum, possuindo seus próprios métodos de percepção. Essa ideia tem ganho espaço na mente ocidental.

Há outra ideia, que a ciência moderna nos vem apresentando e que nos chega através do mesmo conceito: a ideia da quarta dimensão. Mui­tas coisas tornam-se concebíveis, se aceitarmos que o mundo tem na realidade quatro dimensões de espaço, em lugar de apenas três. Torna-se possível conceber que objetos aparentemente separados, como, por exem­plo, diferentes pessoas, na realidade estão fisicamente unidos; que coisas aparentemente separadas por enormes distâncias de espaço, na realidade estão praticamente juntas; que uma pessoa ou qualquer outro objeto pode entrar e sair de um quarto fechado, sem encontrar obstáculos nas pa­redes, portas, janelas etc.; e caso essa quarta dimensão deva converter-se em fator de nossa consciência, é evidente que deveríamos ter meios de conhecimento que para os sentidos comuns pareceriam milagrosos. Muitos fatos sugerem que a consciência alcançada pelos gnanis hindus, em seu grau, e pelos sujeitos hipnotizados, no deles, pertence a essa quarta di­mensão.

A Consciência Cósmica estaria relacionada à consciência comum, assim como o sólido está relacionado à sua superfície. As fases da consciência pessoal são apenas fatos diferentes da outra consciência. E ex­periências que, no indivíduo, parecem distantes umas das outras, talvez na consciência universal estejam igualmente próximas. O próprio espaço, como o conhecemos, pode ser praticamente aniquilado pela consciência de um espaço maior, do qual ele não é senão a superfície. Assim, tam­bém, uma pessoa que viva em Londres pode de repente descobrir que sua porta dos fundos se abre simplesmente e sem cerimônias em Bombaim.

"A verdadeira qualidade da alma", disse o Guru, um dia, "é a do espaço, pelo qual de resto ela está em toda parte. Mas esse espaço (Akasa) dentro da alma está muito acima do espaço material. Ele inclui todos os sóis e estrelas, aparecendo como se fosse um átomo do primeiro", e aqui ele levantava seus dedos, como se detivesse um pouco de pó entre eles.(*1)

(*1) Cf. com Whltman: "Deslumbrante e tremendo, como o nascer do sol me ma­taria rapidamente, se eu não pudesse, agora e sempre, expulsar de mim o nascer do sol. Também nós nos levantamos deslumbrantes e tremendos como o sol".

"Pelo qual está em toda parte". "Indiferença", "Igualdade". Eis um dos mais importantes pontos do ensinamento do Guru. Pois (por razões familiares), embora mantendo muitos dos regulamentos de casta ele pró­prio, e embora ensinando isso à massa do povo, ou seja, que as regras de casta eram necessárias, nunca se cansava de afirmar que quando chegasse o tempo de o homem e a mulher se emanciparem, todas essas regras deveriam ser abandonadas, como se não tivessem importância: todas as distinções de castas, classes, todos os sentimentos de superio­ridade ou de bem-estar próprio, até mesmo de certo e errado, e deveria prevalecer o mais absoluto sentimento de igualdade para com todas as pessoas e determinação em sua manifestação. Foi certamente notável (embora eu soubesse que os livros sagrados o continham) encontrar esse princípio da Democracia Ocidental tão vividamente ativo e operando sob os inumeráveis costumes da vida social oriental. Mas, assim é e nada pode demonstrar melhor a relação existente entre Oriente e Ocidente.

Esse sentimento de igualdade, de liberdade dos regulamentos e confinamentos, de ausência de exclusividade, e da vida "que está em toda parte" pertence, evidentemente, mais à parte Cósmica ou universal do homem do que à sua parte individual. Para essa, esse sentimento é sempre um obstáculo e uma ofensa. É fácil demonstrar que os homens não são iguais, que não podem ser livres, e assinalar o absurdo de uma vida que seja indiferente a todas essas condições. Entretanto, para a consciência maior, estes são fatos básicos, que jazem na raiz de toda a vida comum da humanidade e alimentam o verdadeiro indivíduo que os nega.

Repetindo, pois, a nossa afirmação, de que usando tais termos, como Consciência Cósmica e Universal, não queremos dizer que no instante em que o homem abandona sua parte pessoal imediatamente surge o conhe­cimento universal e ilimitado, mas apenas que aparece uma ordem mais elevada de percepção, e admitindo a complexidade da região assim por nós denominada, e o caráter absolutamente microscópico de nosso conheci­mento sobre ela, podemos dizer, uma vez mais, também como generali­zação, que o Oriente tem buscado a consciência universal e que o ocidente investiga a consciência pessoal ou individual. Como sabemos bem, o Orien­te tem várias seitas e escolas filosóficas, com sutis discriminações de qualidades, essências, deuses, demônios etc., que não pretendo abordar e onde me sentiria bastante incompetente. Deixando tudo isso de lado, con­servarei apenas dois termos ocidentais e tentarei analisar a questão mais a fundo, chegando aos métodos utilizados pelos estudantes do Oriente para obter a Consciência Cósmica ou essa ordem mais elevada de consciência que lhe é característica.

Edward Carpenter – Do Pomo-de-Adão à Elefanta


terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Consciência Integrativa Amorosa em Plotinus (204 DC)

Você pergunta como podemos conhecer o Infinito. Eu respondo que não é pela razão. A tarefa da razão é distinguir e definir. Assim, o Infinito não pode fazer parte de seus objetivos. O Infinito só pode ser apreendido por uma faculdade superior à razão, que nos faz entrar num estado no qual você já não é o seu eu finito, estado no qual a essência divina lhe é comunicada. Esse é o êxtase (Consciência Cósmica). É a sua mente, liberta da consciência finita. O semelhante só pode aprender o semelhante. Assim, quando você deixa de ser finito, você se torna uno com o Infinito. Na redução de sua alma ao eu mais simples, sua essência divina, você realiza essa união — essa identidade.

Mas essa condição sublime não tem duração permanente. Só podemos desfrutar dessa elevação de vez em quando (misericordiosamente posta ao nosso alcance), elevação que se acha acima dos limites do nosso corpo e do mundo. Eu próprio, até agora, só a desfrutei por três vezes e Porfírio não foi contemplado nem uma só vez. Tudo aquilo que contribui para purificar e elevar a mente, ajuda-lo-á a atingi-la e facilitará a aproximação e a reincidência desses felizes intervalos. Há, pois, diferentes caminhos pelos quais podemos alcançar esse fim. O amor à beleza, que exalta o poeta; a devoção ao Único e o desejo de ciência, que constituem a ambição do filósofo; o amor e as orações de uma alma devotada e ardente que busca a perfeição moral da purificação. Esses são os grandes caminhos que conduzem ao que está acima do presente e do particular, quando nos vemos face a face com o Infinito, que brilha além das profundezas da alma. 

(...)

As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível. 

Aqui, chegamos a filosofia prática. Percorrendo o mesmo caminho que lhe serviu para a descida, a alma deve refazer os degraus que a levam de volta ao Deus supremo. Em primeiro lugar, deve retornar A SI MESMA. Isso se alcança pela prática da virtude, cujo fim é a semelhança com Deus e que conduz a Deus. Na ética de Plotinus, todos os antigos esquemas de virtude acham-se alterados e reorganizados em série graduadas. O estágio mais baixo é o das virtudes civis, seguido pela purificação e por último por todas as virtudes divinas. As virtudes civis simplesmente enfeitam a vida, SEM ELEVAR A ALMA. Essa tarefa pertence às virtudes purificadoras, pelas quais a alma se liberta da sensualidade, VOLTA A SI MESMA e então ao "NOUS". Por meio de práticas ascéticas o homem uma vez mais se converte em um ser espiritual, livre de todos os pecados. Entretanto, ainda há um escalão mais alto: não basta ser sem pecado; é preciso converter-se em "Deus". isto se alcança pela contemplação do Ser primevo, do Único ou, em outras palavras, por uma aproximação extasiada desse Único. O pensamento não pode chegar a isso, , pois atinge apenas o "nous" e é, em si mesmo, uma espécie de movimento. O pensamento é um estágio preliminar de aproximação de Deus. É apenas em estado de PERFEITA PASSIVIDADE E REPOUSO que a alma pode reconhecer e tocar o SER primevo. Assim, para atingir este fim mais alto a alma necessita passar por um CURRICULO ESPIRITUAL. Iniciando na contemplação das coisas corpóreas, em sua multiplicidade e harmonia, RETIRA-SE PARA DENTRO DE SI MESMA, NAS PROFUNDEZAS DE SEU PRÓPRIO SER, atingindo então o "nous", o mundo das ideias. Mas o MAIS ALTO, o Único, ainda não termina aí. Ainda há uma voz que diz: "Nós não nos fizemos a nós mesmos". O último estágio é alcançado quando, na mais alta tensão e concentração, no silêncio e esquecimento de todas as coisas, a alma acha-se apta a perder-se EM SI MESMA. Então, ela pode ver a Deus, a fonte da vida, o Ser, a origem de todo bem, a raiz da alma. Nesse momento, ela desfruta da benção mais indescritível; é como se fosse banhada pela divindade, mergulhada na luz da eternidade.  

Richard M. Bucke - Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana

Diálogo sobre a retomada da consciência integrativa amorosa

Despertar Para o Eterno - Nisargadatta Maharaj

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As imagens mentais como traves de tropeço

O estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard M. Bucke

— Breve relato do recuperado estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard Maurice Bucke

... Foi no começo da primavera, mo início do seu trigésimo sexto ano de vida. Ele e dois amigos haviam passado a noite lendo Wordsworth, Shelley, Keats, Browning e especialmente Whitman. Separaram-se à meia-noite e ele eprcorreu um longo caminho em trole. Isso ocorreu em uma cidade inglesa. Sua mente, profundamente influenciada pelas ideias, imagens e emoções despertadas pela leitura e conversas da noite, achava-se em estado de calma e paz. Ele desfrutava de UM MOMENTO QUE QUIETUDE, quase de ALEGRIA PASSIVA. De repente, sem aviso de nenhuma espécie, viu-se envolvido por uma nuvem avermelhada. No primeiro momento, pensou em um incêndio subitamente deflagrado na grande cidade. Logo em seguida, porém, percebeu que a luz estava dentro dele mesmo. Imediatamente apoderou-se dele um sentimento de exaltação, de imensa alegria, acompanhado ou logo seguido por uma iluminação intelectual quase impossível de ser descrita. Em seu cérebro explodiu uma momentânea fagulha do Esplendor Brâmico, que antes jamais lhe havia iluminado a vida. Sobre seu coração caiu uma gota da Felicidade Brâmica, deixando-lhe para sempre um sabor de paraíso. Entre outras coisas nas quais não chegava a acreditar, viu e soube que o Cosmo não é matéria morta, mas uma PRESENÇA VIVA; que a alma do homem é imortal; que o universo é tão bem construído e ordenado que sem nenhuma casualidade todas as coisas funcionam juntas para o bem de cada uma delas e do todo; que o fundamento do mundo é o que denominamos amor e que a felicidade de cada um é, a longo prazo, absolutamente certa. Ele declara que aprendeu mais durante os poucos minutos de permanência da Iluminação do que nos meses, nos anos de estudos anteriores e que aprendeu mais do que poderia aprender com qualquer professor ou qualquer escola. 

A iluminação, enquanto tal, não durou mais do que uns poucos instantes, mas seus efeitos demonstraram ser permanentes. Foi-lhe impossível esquecer o que havia visto e aprendido naquela ocasião. Tampouco pode ou quis duvidar da verdade do que então foi apresentado à sua mente. Foi uma experiência sem retorno.(...) O mais importante acontecimento daquela noite foi a sua real iniciação na nova e mais elevada ordem de ideias. Mas foi apenas uma iniciação. Ele viu a luz, mas não soube de onde ela vinha ou o que significava; era como se fosse igual ao primeiro indivíduo que viu a luz do sol.

Consciência Cósmica - Estudo da Evolução da Mente Humana

sábado, 23 de novembro de 2013

O importante estado de percepção

Estar consciente constitui um extraordinário estado da mente(...) Escutem o movimento de seus próprios pensamentos — não os controlem, não os moldem, não digam "isto está certo, isto está errado". Apenas movam-se com eles. Esta é a percepção na qual não existem preferência nem condenação, nem juízos, nem comparação ou interpretação — apenas simples observação. Isso torna suas mentes altamente sensíveis. Do momento em que dão nome, vocês regrediram, suas mentes voltam a estar maçantes: porque é isso o que vocês estão acostumados a fazer.

Neste estado de percepção existe atenção: não controle, não concentração. Há atenção.(...) Vocês estão atentos a seus próprios pensamentos e sentimentos e ao movimento que existe nessa atenção. Vocês estão atentos de uma forma abrangente, sem barreiras, não apenas conscientemente, mas também inconscientemente. O inconsciente é mais importante, de maneira que vocês têm que inquirir o inconsciente.
Não estou empregando a palavra inconsciente como uma palavra técnica ou como uma técnica. Não o estou usando no sentido em que os psicólogos o fazem, mas como aquilo de que vocês não estão conscientes. Porque a maioria de nós vive na superfície da mente: indo para o escritório, adquirindo conhecimento ou dominando uma técnica, brigando e assim por diante. Nunca prestamos atenção às profundezas de nosso ser, que resulta de nossa comunidade, dos resíduos raciais, de todo o passado — não somente no que diz respeito a vocês, como seres humanos, mas também ao homem, às ansiedades do homem. Quando vocês dormem, tudo isso se projeta como sonho e então entra em cena a interpretação desses sonhos. O sonho, para o homem que está alerta, acordado, vigilante, consciente, atento, o sonho, para o homem que escuta, transforma-se numa coisa absolutamente desnecessária.

Agora, essa atenção requer uma tremenda energia; não a energia que vocês adquiriram através da prática, do celibato e tudo o mais — essa energia é toda feita de ambição. Estou me referindo à energia do autoconhecimento. Pelo fato de vocês terem lançado os alicerces certos, deriva disso a energia necessária para estarem atentos, na qual não existe o senso de concentração.

Concentração é exclusão (...) se vocês se concentram, apenas resistem, excluem. Mas a mente que está atenta pode se concentrar e não excluir.

Assim, desta atenção surge um cérebro que está quieto. As próprias células cerebrais são quietas — não por terem sido forçadas a ficarem quietas, a serem disciplinadas, por terem sido obrigadas, por terem sido brutalmente condicionadas, mas porque toda essa atenção se concretizou naturalmente, espontaneamente, sem esforço, facilmente, as células cerebrais não se perverteram, não endureceram, não calejaram, não se brutalizaram. Espero que vocês estejam acompanhando tudo isso. A menos que as células cerebrais estejam extraordinariamente sensíveis, alertas, cheias de vida, não endurecidas, não machucadas, não sobrecarregadas, não especializadas num determinado setor do conhecimento, a mesmo que estejam extraordinariamente sensíveis, não podem estar quietas. Então, o cérebro precisa estar quieto e ao mesmo tempo sensível a cada reação, estar consciente de toda música, de todo ruído, dos pássaros, precisa estar apto a ouvir estas palavras, a admirar o pôr-do-sol — sem sofrer qualquer pressão, qualquer tensão, qualquer influência. O cérebro precisa estar muito quieto porque sem quietude — não induzida, não suscitada artificialmente — não pode haver clareza.

E a clareza só pode chegar quando há espaço. Vocês terão espaço no momento que o cérebro estiver absolutamente quieto e no entanto extraordinariamente sensível, não amortecido. E é por isso que o que vocês fazem o dia todo é tão importante. O cérebro é brutalizado pelas circunstâncias, pela sociedade, pelo trabalho, pela especialização, pelos seus trinta ou quarenta anos trancados em um escritório, se acabando brutalmente — tudo isso destrói a extraordinária sensibilidade do cérebro. E o cérebro precisa estar quieto. A partir daí, toda a mente, na qual o cérebro está incluído, é capaz de ficar absolutamente quieta. Esta mente quieta não está mais buscando, não está mais aguardando a experiência — não está experimentando nada mesmo.

(...) Depois a mente se torna absolutamente quieta, sem sofrer nenhum tipo de pressão, de compulsão. Essa quietude não é uma coisa produzida pelo pensamento, porque o pensamento cessou, toda a máquina do pensamento chegou ao fim. O pensamento precisa cessar, caso contrário gerará mais imagens, mais ideias, mais ilusões — mais, mais e mais. Portanto, vocês precisam compreender todo esse mecanismo do pensamento — não como deixar de pensar. Se entenderem todo o mecanismo do pensamento, que é a resposta da memória, associação e reconhecimento, denominação, comparação, julgamento — se vocês entendem isso, ele cessa naturalmente. Quando a mente está completamente quieta, nessa quietude existe um movimento bem diferente.

Esse movimento não é um movimento criado pelo pensamento, pela sociedade, pelo que vocês leram ou não leram. Esse movimento não pertence ao tempo, à experiência, porque esse movimento não tem experiência. Para uma mente quieta não existe experiência. Uma luz que está ardendo com muito brilho, que é forte, não precisa de mais nada, é uma luz para si mesma. Esse movimento não é um movimento voltado a nenhuma direção, porque direção implica tempo. Esse movimento não tem causa, porque qualquer coisa que tenha causa produz um efeito e esse efeito se transforma em causa e assim por diante — numa cadeia interminável de causas e efeitos. De forma que inexiste, mesmo, efeito, causa, motivo, senso de experimentação. Pelo fato da mente estar absolutamente quieta, naturalmente quieta, pelo fato de vocês terem lançado os alicerces, ela está diretamente relacionada com a vida, não divorciada da vida cotidiana.

Se a mente chegou a esse ponto, esse movimento é criação. Então não existe mais ansiedade de expressar, porque a mente que está em estado de criação pode expressar ou não. Esse estado mental que reina nesse completo silêncio se moverá, executará seu próprio movimento rumo ao desconhecido, rumo ao que é inominável.


Portanto, a meditação a que nos referimos não é a meditação que vocês fazem. A meditação de que falamos parte da eternidade para a eternidade porque vocês lançaram os alicerces não no tempo, mas na realidade.

Jiddu Krishnamurti — Madras, 29 de janeiro de 1964


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A profunda urgência em buscar

A vida é uma busca, uma busca constante, uma busca desesperada, uma busca sem esperança... uma busca por algo que não se sabe o que é. Há uma profunda urgência em buscar, mas não se sabe o que se está buscando. E há um certo estado de mente no qual seja o que for que você consiga, acaba não lhe dando nenhuma satisfação. A frustração parece ser o destino da humanidade, pois tudo o que se consegue torna-se insignificante no momento em que se consegue. Você começa de novo a buscar. A busca continua, consiga você alguma coisa ou não. Parece irrelevante o que você consegue e o que não consegue — de qualquer maneira a busca continua. O pobre está buscando, o rico está buscando, o doente está buscando, o são está buscando, o poderoso está buscando, o fraco está buscando, o estúpido está buscando, o sábio está buscando e ninguém sabe exatamente o que. 

A busca — o que é e porque existe — tem que ser entendida. Parece que há um hiato no ser humano, na mente humana; na própria estrutura da consciência humana parece haver um buraco, um buraco negro. Você vai jogando coisas dentro dele e elas vão desaparecendo. Nada parece enchê-lo, nada parece ajudar a preenchê-lo. É uma busca febril. Você busca neste mundo, busca no outro mundo; às vezes busca no dinheiro, no poder, no prestígio, e às vezes busca em Deus, na graça, no amor, na meditação, na prece, mas a busca continua. Parece que o homem está doente com a busca.

A busca não permite que você esteja aqui e agora porque ela sempre o leva para algum outro lugar. A busca é uma projeção, é um desejo; em algum outro lugar está o que se precisa; existe, em algum outro lugar, não aqui onde você está. Certamente existe, mas não está neste momento, não agora, mas em outro lugar qualquer. Existe no depois, lá, nunca aqui e agora. Isso vai importunando-o, vai empurrando-o, puxando-o, atirando-o, para uma loucura cada vez maior; deixa-o louco e jamais satisfeito.

Você já perguntou a si mesmo o que está procurando? Já fez disso um ponto de profunda meditação, saber o que está procurando? Não. Mesmo que em alguns vagos momentos, em momentos de sonhos, você tenha algum pressentimento do que está buscando, ele nunca é preciso, nunca é exato. Você ainda não o definiu. Se tentar definir, quanto mais definido se tornar, mais você sentirá que não há necessidade de buscá-lo. A busca só pode continuar num estado de incerteza, num estado de sonho; quando as coisas não estão claras, você simplesmente continua buscando, empurrado por alguma urgência interna, puxado por alguma necessidade interior. Uma coisa você sabe: precisa buscar. Esta é uma necessidade interior. Mas você não sabe o que está buscando.

E a menos que saiba o que está buscando, como poderá encontrar? É vago — você pensa que é dinheiro, poder prestígio, respeitabilidade. Mas então vê as pessoas respeitáveis, poderosas, também procurando. Vê as pessoas que são tremendamente ricas — elas também estão buscando. Até o fim de suas vidas, estão buscando. A riqueza então não vai adiantar, o poder não vai adiantar. A busca continua a despeito do que você tem. A busca tem que ser por alguma outra coisa. Esses nomes, esse rótulos — dinheiro, poder, prestígio — são para satisfazer a sua mente. Só são para ajudá-lo a sentir que está buscando por alguma coisa. Essa coisa ainda é indefinida, um sentimento muito vago. 

A busca só existe quando você está dormindo; só existe quando você não está atento; a busca só existe na sua desatenção. A desatenção cria a busca. Dentro não há luz. E por não haver luz e consciência dentro, é claro que você continua buscando do lado de fora — porque o lado de fora parece mais claro. Tudo o que está disponível a você abre-se do exterior; todos os cinco sentidos movem-se extrovertidamente. Você começa a buscar lá onde você vê, sente, toca — a luz dos sentidos incide no exterior. E o buscador está dentro. 

Esta dicotomia precisa ser entendida. O buscador está dentro, mas como a luz está fora, o buscador começa a mover-se de uma maneira ambiciosa, tentando encontrar alguma coisa fora que o satisfaça. Isso nunca irá acontecer pela própria natureza das coisas — porque a menos que você tenha buscado o buscador, toda a sua busca será insignificante. A menos que você venha a saber quem você é, tudo o que buscar será fútil, pois você não conhece aquele que busca. Sem conhecer o buscador, como poderá se mover na dimensão certa, na direção certa? É impossível. As primeiras coisas devem ser consideradas antes.

Portanto, estas duas coisas são muito importantes; primeiro, deixe absolutamente claro para si mesmo qual é o seu objeto. Não fique tateando na escuridão. Enfoque a sua atenção no objeto — o que você está realmente buscando. Porque às vezes você quer uma coisa e sai buscando alguma outra; assim, mesmo que seja bem-sucedido, não conseguirá ficar satisfeito. Você já viu as pessoas bem-sucedidas? Pode encontrar maiores fracassados em algum outro lugar? Um homem bem-sucedido é sempre atirado para si no final, e então sofre as torturas do inferno, porque desperdiçou toda a sua vida. Buscou e buscou, arriscou tudo o que tinha, obteve sucesso — e agora seu coração está vazio e sua alma insignificante, sem fragrância, sem bênção.

Portanto, a primeira coisa é saber exatamente o que você está buscando. Insisto nisso porque quanto mais você focar seus olhos no objeto de sua busca, mais ele começará a desaparecer. Quando seus olhos estão absolutamente fixos, subitamente não há nada para buscar; imediatamente seus olhos começam a voltar-se para você mesmo. Quando não há objeto de busca, quando todos os objetos desapareceram, há o vazio. E nesse vazio acontece a conversão, a volta. De repente, você começa a olhar para si mesmo. Não há nada a procurar e um novo desejo surge em conhecer o buscador. 

Se existe algo a ser buscado, você é um homem mundano; se não há nada a buscar, e a questão "Quem é este buscador?" tornou-se importante para você mesmo, então você é um homem religioso. É assim que defino o mundano e o religioso. Se você ainda está buscando alguma coisa — talvez na outra vida, na outra margem, no céu, no paraíso, não faz nenhuma diferença — você ainda é um homem mundano. Se toda a busca cessou subitamente você percebeu que agora só há uma coisa para conhecer — "Quem é este buscador em mim? O que é esta energia que quer buscar? Quem sou eu?" —, há então uma transformação. De repente, todos os valores mudam. Você começa a mover-se para dentro. 

Por vidas a fio você esteve do lado de fora, no sol quente, no mundo, e ao entrar esqueceu-se completamente de como entrar e reajustar seus olhos. A meditação nada mais é que um reajustamento da sua visão, um reajustamento da sua faculdade de ver, dos seu olhos. Aos poucos, a escuridão não é mais tão escura; uma luz sutil e difusa começa a ser sentida. Aos poucos, quando você tiver se ajustando à luz interior, verá que você é a própria fonte. O buscador é o buscado. Verá que o tesouro está dentro e o problema todo era que você o estava buscando do lado de fora. Estava buscando por ele em algum outro lugar fora e ele sempre esteve aí dentro de você, sempre esteve aí com você. Você estava buscando na direção errada, só isso. Tudo está disponível para você, assim como está disponível para qualquer um. Nada irá satisfazê-lo, porque nada pode ser conseguido no mundo exterior que se compare ao tesouro interior, à luz interior, à graça interior. 

Osho – A arte de morrer


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

No autoconhecimento dá se o recuperar da Consciência que somos

Recuperando o sopro que somos

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O amor se torna apego porque não existe nenhum amor


Perguntaram a Osho:
Você disse que o amor pode nos tornar livres. Mas comumente nós vemos que o amor se torna apego, e ao invés de nos libertar ele nos torna mais amarrados. Assim, diga-nos alguma coisa sobre apego e liberdade.


O amor se torna apego, porque não existe nenhum amor. Você estava apenas num jogo, enganando a si mesmo. O apego é a realidade; o amor era apenas um prelúdio. Assim, sempre que você se apaixona, mais cedo ou mais tarde, você descobre que você se tornou um instrumento - e, então, toda a miséria começa. Qual é o mecanismo? Por que isso acontece?


Há alguns dias, um homem veio a mim e ele estava se sentindo muito culpado. Ele disse: “Eu amei uma mulher, eu a amei muito. No dia em que ela morreu, eu estava chorando e pranteando, mas de repente eu me tornei consciente de uma certa liberdade dentro de mim, como se alguma carga tivesse me deixado. Eu senti um profundo alívio, como se tivesse me tornado livre”.

Naquele momento, ele se tornou consciente de uma segunda camada de seu sentimento. Externamente ele estava chorando e pranteando e dizendo: “Eu não posso viver sem ela. Agora será impossível, ou a vida será apenas como a morte. Mas bem fundo” - ele disse - “eu me tomei consciente de que estou me sentindo muito bem, que agora eu estou livre”.

Uma terceira camada começou a sentir culpa. Ela lhe dizia: “O que você está fazendo”? E um corpo morto estava deitado ali, bem à sua frente, ele me contou, e ele começou a sentir uma enorme culpa. Ele me disse: “Ajude-me. O que está acontecendo à minha mente? Eu a traí tão cedo”?

Nada aconteceu; ninguém foi traído. Quando o amor se torna apego, ele se torna uma carga, uma escravidão. Mas por que o amor se torna um apego? A primeira coisa a ser entendida é que se o amor se torna um apego, você estava apenas em uma ilusão de que aquilo era amor. Você estava apenas brincando consigo mesmo e pensando que aquilo era amor. Na verdade, você estava necessitado de apego. E se você for ainda mais fundo, descobrirá que você estava também necessitando de se tornar um escravo.

Há um medo sutil da liberdade e todo mundo quer ser um escravo. Todo mundo, naturalmente, fala sobre liberdade, mas ninguém tem a coragem de ser realmente livre, porque quando você é realmente livre, você está só. Se você tem coragem de estar só, somente então, você pode ser livre.

Mas ninguém é corajoso o suficiente para estar só. Você precisa de alguém. Por que você precisa de alguém? Você tem medo de sua própria solidão. Você se torna entediado consigo mesmo. E na verdade, quando você está sozinho, nada parece significativo. Com alguém, você fica ocupado e você cria significados artificiais à sua volta.

Você não pode viver para si mesmo; assim, você começa a viver para outra pessoa. E também é o mesmo caso com a outra pessoa: ele ou ela não pode viver sozinho; assim, ele está na busca para encontrar alguém. Duas pessoas que estão com medo de suas próprias solidões, reúnem-se e começam um jogo - um jogo de amor. Mas, bem no fundo, elas estão buscando apego, compromisso, escravidão.

Assim, mais cedo ou mais tarde, tudo o que você deseja acontece. Essa é uma das coisas mais lamentáveis no mundo. Tudo o que você deseja chega a acontecer. Você a terá mais cedo ou mais tarde e o prelúdio desaparecerá. Quando a sua função for cumprida, ele desaparecerá. Quando você se tornou uma esposa ou um marido, escravos um do outro, quando o casamento aconteceu, o amor desaparece, porque o amor era apenas uma ilusão na qual duas pessoas poderiam se tornar escravas uma da outra.

Diretamente você não pode pedir por escravidão; é muito humilhante. E diretamente você não pode dizer para alguém: “Torne-se meu escravo”. - ...ele irá se revoltar. Nem você pode dizer: “Quero me tornar um seu escravo”; assim, você diz: “Eu não posso viver sem você”. Mas o significado está presente; é o mesmo. E quando isso - o desejo real - é preenchido, o amor desaparece. Então, você sente servidão, escravidão e, então, você começa a lutar para se tornar livre.

Lembre-se disso. Este é um dos paradoxos da mente: tudo o que você conseguir, você irá se aborrecer com aquilo, e tudo o que você não conseguir, você ansiará profundamente. Quando você está sozinho, você ansiará por alguma escravidão, alguma servidão. Quando você está em uma servidão, você começará a desejar liberdade. Na verdade, somente escravos desejam liberdade, e pessoas livres tentam novamente ser escravas. A mente continua como um pêndulo, movendo-se de um extremo ao outro.

O amor não se torna apego. O apego era a necessidade; o amor era apenas uma isca. Você estava a procura de um peixe chamado apego; o amor era apenas uma isca para pegar o peixe. Quando o peixe é apanhado, a isca é jogada fora. Lembre-se disso e, sempre que você estiver fazendo alguma coisa, vá fundo dentro de si mesmo para encontrar a causa básica.

Se existir amor real, ele nunca se tornará apego. Qual é o mecanismo para o amor se tornar apego? No momento em que você diz para seu amante ou amada “eu só amo você”, você começou a possuir. E no momento em que você possui alguém, você o insultou profundamente, porque você o tornou uma coisa.

Quando eu o possuo, você não é uma pessoa então, mas apenas um item a mais dentre a minha mobília - uma coisa. Então, eu o uso e você é minha coisa, minha posse; assim, eu não permitirei que ninguém mais o use. Isso é uma barganha na qual eu sou possuído por você e você faz de mim uma coisa. Isso é uma barganha, que “agora” ninguém mais pode usá-lo. Ambos os parceiros se sentem atados e escravizados. Eu o tomo um escravo, então, você, em troca, faz de mim um escravo.

Então a luta começa. Eu quero ser uma pessoa livre e, ainda assim, eu quero que você seja possuído por mim; você quer manter a sua liberdade e, ainda assim, me possuir — esta é a luta. Se eu o possuo, eu serei possuído por você. Se eu não quero ser possuído por você, eu não deveria possuí-lo.

A posse não deveria entrar no meio. Nós devemos permanecer indivíduos e devemos nos mover como consciências independentes e livres. Nós podemos ficar juntos, nós podemos nos fundir um no outro, mas sem posse. Então, não há servidão e, então, não há apego.

O apego é uma das coisas mais feias. E quando eu digo “mais feia”, eu não quero dizer apenas religiosamente, eu quero dizer também esteticamente. Quando você está apegado, você perdeu a sua solidão, a sua solitude: você perdeu tudo. Apenas para se sentir bem - porque alguém precisa de você e alguém está com você - você perdeu tudo, perdeu a si mesmo.

Mas a armadilha é que você tenta ser independente e você torna o outro a posse - e o outro está fazendo a mesma coisa. Assim, não possua se você não quer ser possuído.

Jesus disse em algum lugar: “Não julgue para não ser julgado”. É a mesma coisa: “Não possua para não ser possuído”. Não faça de ninguém um escravo; do contrário você se tornará um escravo.

Os assim chamados mestres são sempre servos de seus próprios servos. Você não pode se tornar um mestre de alguém sem se tornar um servo - isso é impossível.

Você só pode ser um mestre quando ninguém é um servo para você. Isso parece paradoxal, porque quando eu digo que você só pode se tornar um mestre quando ninguém é um servo para você, você dirá: “Então o que é o mestrado? Como eu sou um mestre quando ninguém é um servo para mim”? Mas eu digo que somente então, você é um mestre. Então, ninguém é um servo para você e ninguém tentará torná-lo um servo.

Amar a liberdade, tentar ser livre, significa basicamente que você chegou a uma profunda compreensão de si mesmo. Agora, você sabe que você é suficiente para si mesmo. Você pode compartilhar com os outros, mas você não é dependente. Eu posso compartilhar a mim mesmo com alguém. Eu posso compartilhar o meu amor, eu posso compartilhar minha felicidade, eu posso compartilhar minha alegria, meu silêncio com alguém. Mas isso é um compartilhar, não uma dependência. Se não houver ninguém, eu estarei igualmente feliz, igualmente alegre. Se alguém está presente, isso também é bom e eu posso compartilhar.

Quando você perceber sua consciência interior, seu centro, somente então, o amor não se tornará um apego. Se você não conhecer seu centro interior, o amor se tornará um apego. Se você conhecer o seu centro interior, o amor se tornará uma devoção. Mas você deve primeiro estar presente para amar, e você não está.

Buda estava passando por um vilarejo. Um jovem veio até a ele e disse: “Ensine-me algo: como eu posso servir aos outros”?

Buda riu para ele e disse: “Primeiramente, seja. Esqueça os outros. Primeiramente, seja você mesmo e, então, todas as coisas se seguirão”.

Exatamente agora você não é. Quando você diz “quando eu amo alguém isso se torna um apego”, você está dizendo que você não é; assim, tudo o que você faz dá errado, porque o fazedor está ausente. O ponto interior de consciência não está presente; assim, tudo o que você faz, dá errado. Primeiro seja e, então, você pode compartilhar seu ser. E esse compartilhar será amor. Antes disso, tudo o que você fizer se tornará um apego.

E, por último: se você está lutando contra o apego, você tomou uma direção errada. Você pode lutar. Assim, muitos monges - reclusos, saniássins - estão fazendo isso. Eles sentem que estão apegados às suas casas, às suas propriedades, às suas esposas, aos seus filhos e eles se sentem engaiolados, aprisionados.

Eles fogem, deixam suas casas, deixam as suas esposas, deixam seus filhos e posses e eles se tornam mendigos e escapam para a floresta, para a solidão. Mas vá lá e observe-os. Eles se tornaram apegados aos seus novos arredores.

Eu estive visitando um amigo que estava em uma vida reclusa embaixo de uma árvore em uma floresta densa, mas havia outros ascetas também. Um dia, aconteceu de eu estar com esse recluso embaixo de sua árvore e um novo buscador ter vindo enquanto meu amigo estava ausente. Ele tinha ido ao rio tomar um banho. Embaixo de sua árvore o novo saniássin começou a meditar.

O homem voltou do rio e empurrou o novato da árvore, e disse: “Esta é minha árvore. Vá e encontre outra, em algum outro lugar. Ninguém pode se sentar sob a minha árvore”. E esse homem tinha deixado a sua casa, a sua esposa, os seus filhos. Agora a árvore se tornou uma posse - você não pode meditar embaixo da árvore dele.

Você não pode escapar tão facilmente do apego. Ele tomará novas formas, novos contornos. Você será enganado, mas ele estará presente. Assim, não lute com o apego, apenas tente entender por que ele existe. E, então, conheça a causa profunda: devido a você não ser, esse apego existe.

Dentro de você, o seu próprio ser está tão ausente, que você tenta se apegar a qualquer coisa a fim de se sentir a salvo. Você não está enraizado; assim, você tenta fazer de qualquer coisa às suas raízes. Quando você está enraizado em seu ser, quando você sabe quem você é, o que é esse ser que está dentro de você e o que é essa consciência que está em você, então, você não se apegará a ninguém.

Isso não significa que você não amará. Na verdade, somente então, você pode amar, porque então o compartilhar é possível - e sem nenhuma condição, sem nenhuma expectativa. Você simplesmente compartilha, porque você tem uma abundância, porque você tem tanto que está transbordando.


Esse transbordamento de si mesmo é amor. E quando esse transbordamento se torna uma enchente, quando, por seu próprio transbordamento, o universo inteiro é preenchido e seu amor toca as estrelas, em seu amor a terra se sente bem e em seu amor todo o universo é banhado; então, isso é devoção.



Osho, em "O Livro dos Segredos"

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Insight que ocasiona uma mutação nas células cerebrais

O insight não é uma questão de memória, de conhecimento e tempo, os quais são todos pensamento. Eu diria então que insight é a ausência total de todo o movimento do pensamento como tempo e lembrança. Há portanto percepção direta. É como se eu estivesse indo para o Norte nos últimos dez mil anos, e meu cérebro estivesse acostumado a ir para o Norte, e alguém chega e diz que isso não me levará a nenhum lugar, que eu devo ir para o Leste. Quando dou meia-volta e vou para o Leste as células cerebrais mudaram. Porque eu tive um insight de que o Norte não leva a lugar nenhum.

Vou explicar de outra maneira. O movimento total do pensamento, que é limitado, está agindo agora em toda a parte do mundo. É a ação mais importante, nós somos conduzidos pelo pensamento. Mas o pensamento não solucionará nenhum de nossos problemas, exceto os tecnológicos. Se eu vir isso, eu parei de ir para o Norte. Eu penso que com o término de uma certa direção, o término de um movimento que tem acontecido durante milhares de anos, há nesse momento um insight que ocasiona uma mudança, uma mutação, na célula cerebral.

 JIDDU KRISHNAMURTI -  Questioning Krishnamurti, p 165
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Eu Pensava que Sabia Alguma Coisa

A grande aventura do espírito humano

Das dificuldades iniciais com o novo paradigma

O Abandono das identificações emocionais.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sobre a adulteração causada pelos sistemas de crença

domingo, 17 de novembro de 2013

Abrindo mão dos valores desta sociedade desejante

A

Estamos juntos em coração

sábado, 16 de novembro de 2013

Descobrindo o misterioso ser no âmago do coração

A Verdade só pode ser realizada na calma e quietude. 

Se realmente nada existisse além desta branca tranquilidade, deste impasse mental , deste analítico beco sem saída e vazio total, não haveria nem poderia haver nenhuma resposta à vossa indagação. A mente inquieta jamais poderia ser aplacada. Vosso coração indagador estaria sempre insatisfeito; o vazio permanece sempre vazio. Mas os homens receberam uma resposta, a divina resposta do Super-eu. O que eles receberam, também vós podeis receber. 

Nesta etapa, quando a intuição vos manda renunciar a vosso intelecto e vos ordena colocar de lado vossos pensamentos; quando vos ensina que a acumulação de pensamentos constitui um véu que vos tapa a realidade espiritual — então surgirá ali uma grande luta, durante a qual uma parte de vosso corpo parecerá retalhada em pedaços. O intelecto, até aqui o guia venerado e de toda confiança, até aqui dominante em vossas práticas, se acha agora prestes a ficar deserto. Consequentemente, o intelecto declara guerra aberta contra o novo invasor e está determinado a não ceder seu lugar no trono sem uma severa luta. Nesta altura, é difícil verdes vosso caminho e constantemente oscilais entre a alvorescente intuição e o resistente intelecto, esforçando-vos por manter o terreno familiar e todavia permitir que se opere o inevitável crescimento. 

Esta experiência não pode ser evitada, e portanto deve ser aceita. O que se pode fazer, no entanto, é reconhecer a natureza real da luta e determinar-se a aliar-se ao poder superior, que enviou o seu embaixador silencioso. Deveis compreender que o caminho do humilde sacrifício intelectual e do reconhecimento mental é agora o caminho da sabedoria, e agir consequentemente. 

A primeira visita que vos fará o Super-eu, será de maneira humilde. Não sabeis como, nem porque, nem donde ele vem. Da primeira tênue intrusão dificilmente vos apercebereis, porém, gradualmente, ele se fará sentir. Será algo tão suave, tão delicado, que, a não ser que estejais livre de todos os preconceitos, vos inclinareis a reprimi-lo. Precisais estar totalmente vazio e oco, pronto para aceitar o que vier a vós. Esta santa influência pairará sobre vós, vos cobrirá e inundará. Isto significa que o vazio da matéria e da mente está sendo enchido. 

A meta final diante de vós é manter a mente numa condição inteiramente livre de pensamentos, sem cair em sono, nem perder a consciência, ou degenerar em mediunismo psíquico. Se o primordial pensamento do "eu" é assegurado, aquietado, sujeitado, ele é eliminado, pois subsiste por si; só existe em virtude da luz divina da consciência do Super-eu que o informa. Com a anulação deste simples pensamento, todos os inumeráveis pensamentos do ego pessoal que até aqui pulularam ao seu redor, são vistos como uma ilusão, considerando que o sentido de "EU SOU", o sentido do ser que o informa, não existe.

"Como se há de conhecê-lo?" Conhecê-lo é sê-lo. Tudo o mais do mundo se pode conhecer por outras vias, indiretamente mas esta é uma coisa que se deve conhecer tornando-se ela própria. 

Nesta etapa de um tal tornar-se, o próprio "eu" que parecia ser o centro de vossa existência, a última raiz de vossa natureza inteira, dissolve-se, dilui-se em seus próprios fundamentos. O ego pessoal desaparece, sua limitações são despedaçadas qual uma rocha pelo carvalho em crescimento, e é substituído por um sentido de existência que possui a eterna duração. Com essa mudança sentis um extraordinário sentido de alívio, como se todos os interesses da personalidade, suas alegrias e cuidados, suas esperanças e temores fossem apenas um fardo que até aqui havia sido carregado cegamente, , mas é agora alijado. É esta experiência estranha e superior que transmuta o homem em sua própria natureza mais profunda, na base de seu eu. Está também entre as mais elevadas experiências franqueadas à raça humana enquanto ela permanecer humana, pois além dela se estendem os caminhos que conduzem ao reino dos anjos e dos deuses. 

A verdadeira individualidade do homem é a mesma em todos: sagrada, divina, imortal. Nesse mundo elevado a que ela pertence, nada existe alto nem baixo, pois todos ali partilham da mesma sublimidade como gotas disseminadas no único oceano. 

Permanecer sem pensamentos é realmente uma conquista maravilhosa, e à medida que descobris suas possibilidades deveis prolongar esses momentos tão fugazes e tão preciosos, quando a mente, o "eu", retorna à sua fonte, ao seu divino elemento primordial. 

Para a meditação deste tipo psico-espiritual não há um período fixo ou formal. Deveis guiar-vos por vossos sentimentos. Quando o viveis intensamente, podeis levar uma meia hora completa. Mas haverá períodos em que estareis cansados de análises. Nessas ocasiões não é aconselhável prolongá-la além de alguns minutos. Por fim, quando estiverdes suficientemente estabelecidos no domínio do pensamento e na compreensão da análise, não precisareis nem mesmo empregá-la em vossa meditação. Podeis começar por afirmar brevemente, porém com a maior clareza de percepção, que não sois o corpo, não sois o intelecto, mas sois pura percepção.

Daí começais vossa meditação, pela qual conheceis o eu como realmente é, clarificado, limpo de emoções e pensamentos que realmente não lhe pertencem, e então descobris o ser misterioso no âmago de vosso coração

O homem não está encadeado ao eu finito, mas julga estar. Esta suposição se baseia numa ilusão. A ilusão de que os cinco sentidos são os agentes conscientes funcionando na vida do homem, e que, portanto, o mundo que constatam é um mundo sólido de máxima realidade. Os sentidos o enganam, e ele se engana a si próprio. Quando clamar por sua liberdade, ele a encontrará. Ele necessita alimentar esses pensamentos redentores, libertadores, ou jamais começará a descobrir-se, a buscar o seu eu real, ilimitado. 

Assim, em última análise, está claro que era a mente que se envolvia na matéria. É a mente que pode de novo libertar o homem. Não se faz isso correndo para os mosteiros ou montanhas e passando sua existência ali; faz-se USANDO A MENTE PARA INVESTIGAR SUAS PRÓPRIAS OPERAÇÕES.

Paul Brunton — A Realidade Interna

Onde há temor não pode haver inteligência

Quero agora falar a respeito do medo, que necessariamente cria compulsão e influência.

Nós dividimos a mente em pensamento, razão e intelecto; mas, para mim, a mente inteligência criadora de si mesma, porém anuviada pela memória; a mente que é inteligência, estando anuviada pela memória, confunde-se com esse "eu" consciência, que é o resultado do ambiente. Assim, a mente torna-se escravizada pelo ambiente que ela própria criou através de desejo, e, portanto, há temor continuamente. A mente criou o ambiente e, enquanto não compreendermos este ambiente, deve haver medo. Não damos todo o nosso entendimento ao ambiente e não estamos plenamente conscientes dele e, assim, a mente torna-se escrava desse ambiente e por causa disso há medo; e a compulsão é o instrumento desse medo. Logo, naturalmente, a falta de entendimento do ambiente é produzida por essa falta de inteligência, e, por essa forma, criado, necessitando de influência, seja externa ou interna.

E como é criada esta contínua compulsão, a qual se tornou o instrumento, o penetrante instrumento do temor? A memória anuvia a mente, e a mente anuviada, é o resultado da falta de entendimento do ambiente, que cria conflito, e a memória torna-se consciência de si própria. Esta mente, anuviada, limitada e confinada pela memória, busca a perpetuação  do resultado do ambiente, que é o "eu"; assim, na perpetuação do "eu", a mente busca o ajustamento, a alteração ou a modificação do ambiente, seu crescimento e expansão. Como sabeis, a mente está continuamente buscando o ajustamento ao ambiente; porém, este ajustamento não produz entendimento, nem podemos verificar o significado desse ambiente pela mera modificação do estado da mente ou pela tentativa de modificar ou expandir esse ambiente. Porque a mente busca, continuamente, sua proteção, ela, anuviada pela memória, tornou-se confusa, identificada com a própria consciência — essa consciência que deseja perpetuar-se; por conseguinte, ela se esforça por alterar ajustar, modificar o ambiente ou, por outras palavras, a mente procura tornar, como julga ser possível, o "eu" imortal, universal e cósmico.

Não é assim?

Portanto, a mente que busca a imortalidade, deseja realmente a continuação desse "eu"-consciência, a perpetuação do ambiente; isto é, enquanto a mente se apegar à ideia do "eu"-consciência, que é apenas a falta de compreensão do ambiente e, portanto, a causa do conflito, ela continuará a procurar nessa limitação sua própria perpetuação, que denominamos imortalidade, ou aquela consciência cósmica em que o particular ainda persiste. Enquanto a mente, que é inteligência, estiver enredada no cativeiro da memória, que é o "eu"-consciência, haverá a busca do falso pelo falso. Este "eu", como expliquei, é a falsa reação ao ambiente; há uma causa falsa e ela está sempre buscando uma falsa solução, um falso efeito, um falso resultado. Assim, quando a mente anuviada pela memória busca perpetuar-se como própria consciência, está procurando falsa imortalidade, falsa expansão cósmica ou o que quer que lhe queirais chamar.

Nesse processo de perpetuação do "eu", dessa memória que é conservadora de si própria, na perpetuação desse "eu", nasce o temor — não o temor superficial, porém o temor fundamental, de que tratarei logo em seguida. Eliminai esse temor, que tem como sua expressão exterior a nacionalidade, o crescimento, a expansão, o êxito — eliminai esse temor fundamental e, então, a ansiedade pela perpetuação desse "eu" e todos os temores cessam. Portanto, o medo existirá, enquanto houver o desejo da perpetuação dessa coisa que é falsa: este "eu" é falso, portanto, deveis ter uma falsa reação, a qual é o próprio medo. E onde houver medo, deve haver disciplina, compulsão, influência, domínio e a busca do poder que a mente glorifica como virtude e divino. Se realmente refletirdes sobre isto, verificareis que onde houver inteligência não pode haver caça ao poder.

Toda a vida está moldada pelo temor e pelo conflito e, portanto, pela compulsão, pela imposição de decretos e grilhões que uns julgam virtuosos e dignos e outros consideram venenosos e maus. Não é assim? São estas as restrições que estabelecestes em vossa busca de perpetuação, livre de medo; nessa busca criastes disciplinas, códigos e autoridades, a vossa vida está modelada, controlada e conformada pela compulsão de várias formas e graduações. Alguns denominam esta compulsão virtuosa, outros a consideram perniciosa.

Temos em primeiro lugar, a compulsão exterior, que é a repressão do ambiente sobre o indivíduo. A pessoa vulgar, que denominais não evoluída, não espiritual, é controlada pelo ambiente, o ambiente exterior, isto é, pela religião, códigos de conduta, padrões de moral, autoridade política e social; é uma escrava de tudo isto, porque isto tudo está radicado nas necessidades econômicas do indivíduo. Não é assim? Eliminai integralmente as necessidades econômicas de que o indivíduo depende e então os códigos de conduta, padrões de moral e valores políticos, econômicos e sociais desaparecem. Portanto, nestas restrições do ambiente externo, que criam conflito entre o indivíduo e o ambiente, no qual o indivíduo é oprimido, vergado, torcido, ele torna-se progressivamente sem inteligência. O indivíduos que está meramente condicionado, a todo instante, pelo ambiente exterior, amoldado por certas regras, leis, reações, editos e padrões de moral — quanto mais o oprimirdes, menos inteligente ele se torna. A inteligência, porém, é a compreensão do ambiente, percebendo seu significado sutil, liberto de compulsão.

Estas restrições impostas ao indivíduo, às quais ele chama ambiente externo, têm como seus expoentes os charlatões e exploradores na religião, na moralidade popular, e na vida política e econômica do homem. Explorador é o indivíduo que se utiliza de vós, consciente ou inconscientemente, e vós vos submeteis consciente ou inconscientemente, porque não compreendeis; tornai-vos econômica, social, política e religiosamente, o explorado, e ele se torna vosso explorador. Assim, por esta maneira, a vida torna-se uma escola, um molde, um molde de aço em que o indivíduo é batido para tomar forma, em que ele se torna apenas um autômato — o indivíduo torna-se mero dente de engrenagem em uma máquina, irrefletido e rigidamente limitado. A vida torna-se uma luta, uma batalha contínua, e assim ele estabeleceu essa falsa ideia de que a vida é uma série de lições a serem aprendidas, a serem adquiridas, de modo que ele possa, previamente, ser advertido para defrontar a vida amanhã, novamente, porém, com suas ideias preconcebidas. A vida torna-se meramente uma escola, não uma coisa a ser vivida, a ser gozada, a ser vivida com êxtase, plenamente, sem temor.

O ambiente externo domina o indivíduo, forçando-o a entrar numa estrutura de aço, de padrões, de moralidades, ideias religiosas, de editos de moral, e como o indivíduo é esmagado pelo exterior, busca escapar e foge para um mundo que ele chama interno. Naturalmente, quando a mente é torcida, conformada, pervertida pelo ambiente exterior e há um constante conflito exterior, luta, constantes falsos ajustamentos, a mente espera por tranquilidade, por felicidade, por um mundo diferente; assim o indivíduo edifica um céu romântico de fuga, onde procura compensação para as perdas e o sofrimento no mundo externo.

Por favor, como disse, estais aqui para descobrir, para criticar, não para vos opordes. Podeis opor-vos, depois que tiverdes refletido mui cuidadosamente sobre o que vos digo. Podeis erigir barreiras, se assim o desejardes, mas, primeiro, averiguai plenamente o que eu vos quero transmitir, e, para o fazerdes, necessitais de ser super-críticos, apercebidos, inteligentes.

Como vos disse, o indivíduo, esmagado pelas circunstâncias externas que criam sofrimento e esforçando-se para escapar a essas circunstâncias, cria um mundo interno, começa a desenvolver uma lei interna e cria suas próprias restrições individuais a que denomina disciplina ou cooperação com aquilo a que aprendeu a chamar se "eu" superior.

A maioria dessas pessoas — as pessoas pretensamente espirituais — rejeitaram a força externa do ambiente e a sua influência, porém, desenvolveram uma lei interna, um interno padrão, uma disciplina interna, a que chamam trazer o eu superior para o eu inferior; isto, por outras palavras, é mera substituição. Existe, assim, a própria disciplina. Há, depois, aquilo que denominam voz interna, cujo poder e controle é, sem dúvida, muito maior do que o ambiente externo. Qual é, porém, finalmente, a diferença entre um e outro?, entre o externo e o interno? Ambos controlam, pervertem a mente, que é a inteligência, pelo desejo de perpetuação de si mesma. E tendes também aquilo que chamais intuição, que é apenas a saturação, sem peias, de vossas próprias esperanças e desejos secretos. Assim, completastes o mundo interno, aquilo que chamais mundo interior, com tudo isto — disciplina de si próprio, voz interna e intuição. Tudo isto, se refletirdes, são formas sutis desse mesmo conflito, levadas para um mundo diferente em que não há entendimento, mas apenas uma padronização, um ajustamento a um ambiente mais sutil a que denominais mais espiritual.

Como sabeis, algumas pessoas buscaram e encontraram, no mundo exterior, distinções sociais e, igualmente, as pessoas denominadas espirituais, buscam apenas nesse mundo interno, e geralmente encontram, seus pares e superiores espirituais; e, assim, como há conflito entre os indivíduos no exterior, também é criado um conflito espiritual no mundo interno, entre os ideais, as expansões e suas próprias ansiedades. Vede, pois, o que foi criado.

No mundo externo não há expressão para a mente anuviada pela memória, para esse "eu"-consciência não há expressão, porque o ambiente é demais forte, poderoso e esmagador; nele, ou vos adaptais ao molde ou, se não o fizerdes, sereis esmagados. Assim, desenvolveis uma forma interna, ou mais sutil, de ambiente, em que tem lugar exatamente o mesmo processo. Este ambiente por vós criado é uma fuga do ambiente externo, e nele também tendes padrões, leis de moral, instituições, o eu superior, a voz interna, e a isso vos ajustais constantemente. Isto é um fato.

Em essência, estas restrições, denominadas internas e externas, nascem do desejo e, por isso, existe o medo; do medo surge a repressão, a compulsão, a influência, e o desejo de poder, que são apenas expressões exteriores do medo. Onde há temor não pode haver inteligência, e enquanto não compreendermos isto, deve haver essa divisão na vida em externa e interna e, portanto, as nossas ações têm de ser sempre influenciadas ou compelidas pelo externo, e, portanto pelo falso, ou pelo interno, que é igualmente falso, porque também no interno estais procurando apenas ajustar-vos a determinados padrões.

O medo é criado, quando o falso busca a perpetuação de si próprio no falso ambiente. E, assim, o que acontece à nossa ação, que é a nossa conduta diária, ao nosso pensamento e emoção, o que acontece a tudo isto?

A mente e o coração amoldam-se ao ambiente, ao ambiente externo, porém, quando verificam que não o podem, por tornar-se a compulsão forte demais, então voltam-se para um estado interno, em que a mente e o coração buscam perfeita tranquilidade e satisfação. Ou, então, saciaram-se completamente pelas conquistas sociais, econômicas, políticas e religiosas e depois voltam-se para o interno e ali também desejam ter sucesso, bom êxito, triunfo, e, para o atingir, devem sempre ter em vista uma culminância, um objetivo que se torna apenas um estado, ao qual a mente e o coração estão continuamente se ajustando.

Assim, neste ínterim, que é que acontece aos nossos sentimentos, às nossas emoções, aos nossos pensamentos, ao nosso amor, à nossa razão? Que sucede, quando estais meramente vos ajustando, quando simplesmente vos estais modificando, alterando? Que acontece a qualquer coisa, por exemplo a uma casa cujas paredes decorais, embora seus alicerces estejam deteriorados? De modo idêntico, nossos pensamentos e emoções estão meramente tomando forma, alterando-se, modificando-se segundo um padrão, seja ele externo ou interno; ou de acordo com uma compulsão externa ou uma direção interna. Assim, pois, as nossas ações estão sendo grandemente limitadas pela influência, em que todo o raciocínio se torna apenas a imitação de um modelo, um ajustamento a ama certa condição, e o amor torna-se apenas outra forma de temor. Toda a nossa vida — afinal a nossa vida são os nossos pensamentos, as nossas emoções, as nossas alegrias e dores — toda a nossa vida permanece incompleta, todo o nosso processo de pensar ou de expressão desta vida, é meramente um ajustamento, uma modificação, jamais um preenchimento, uma plenitude. E daí surge problema após problema, o ajuste ao ambiente que deve estar, constantemente, mudando, e a conformidade com padrões, que também devem variar. Assim, prosseguis nesta batalha a que chamais evolução, no crescimento do eu, na expansão dessa consciência que é apenas memória. Inventastes palavras para apaziguar vossa mente, porém, continuais nessa luta.

Ora, se ponderardes, realmente, sobre isto, se reconhecerdes tudo isto, e sem o desejo de alterar, sem o desejo de modificar, vos tornardes apercebidos deste ambiente exterior, destas circunstâncias, destas condições, e também do mundo interno em que existem as mesmas condições, os mesmos ambientes que apenas denominastes por nomes mais sutis e mais bonitos; se realmente vos aperceberdes de tudo isto, então começareis a compreender o verdadeiro significado do externo e do interno; então surgirá uma percepção imediata, a libertação da vida, a mente torna-se, depois, inteligência e pode funcionar com naturalidade e de modo criador, sem esta constante luta. Então, a mente — a inteligência — reconhece os obstáculos, e porque os compreende, ela penetra-os; não mais há ajustamento, não há modificação, há somente entendimento. Por esta razão, a inteligência não depende do externo ou do interno, e nesse apercebimento não há desejo, não há ansiedade, mas a percepção do que é verdadeiro. Para perceber o que é verdadeiro não pode haver desejo.

Sabeis que, quando há um desejo ardente, a vossa mente já está anuviada, pervertida, porque a mente identifica-se com uma coisa e rejeita outra — onde há desejo ardente, não há entendimento; porém, quando a mente não se identifica com o "eu", mas se torna apercebida tanto do externo como do interno, das divisões sutis, das várias emoções, das delicadas nuanças da mente, que se divide em memória e inteligência — então, nesse apercebimento, verificareis o pleno significado do ambiente que criamos através dos séculos, desse ambiente que denominamos externo e também  de interno, ambos os quais estão continuamente mudando, ajustando-se um ao outro.

Tudo o que vos preocupa agora é a modificação, a alteração, o ajustamento, e, portanto, deve haver medo. O medo tem seu instrumento na compulsão, e esta só existe, quando não há entendimento, quando a inteligência não está funcionando normalmente.


Jiddu Krishnamurti — O medo — 1946


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill