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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sem autoconhecimento, não é possível ordem

Presentemente, nossa vida é bastante superficial, vazia, estúpida; e, quando uma mentalidade limitada tenta adivinhar o que é misterioso, incognoscível, o que ela cria é obviamente uma imagem de sua própria limitação. A questão, pois, é se a mente vulgar, a mente que está cheia de preocupações, de desespero, que luta ansiosamente para mudar, para tornar-se alguma coisa — se essa mente insignificante é capaz de transformar-se, de romper suas limitações, ampliar seus horizontes; pois, se disso não for capaz, é quase impossível haver sanidade. Sanidade é ordem, tanto exterior como interior; e é também muito importante a maneira de estabelecer essa ordem.

Interiormente, quase todos nos achamos em extrema desordem. Podeis ter muita cultura, conhecimentos muito bem coordenados, clareza objetiva; por fora, podemos mostrar muita firmeza, muita habilidade no argumentar, porém, interiormente, achamo-nos, quase todos, confusos e em conflito. Isso se pode observar na vida de muitos escritores talentosos. Porque têm talento e se acham em contradição consigo mesmos, sob forte pressão e tensão, produzem literaturas de todos os gêneros, mas basicamente, essa produção é obra de espíritos doentes. E, geralmente, ouso dizer, estamos confusos; não há claridade interior. Essa claridade não pode ser descoberta com a ajuda de outrem, nem por seguirmos alguma autoridade ou sistema de pensamento, antigo ou moderno. Tal claridade é ordem; e a ordem, em seu sentido fundamental, sutil, é virtude. A moralidade que a sociedade impõe não é absolutamente moralidade. A moralidade social é imoralidade, porque causa toda espécie de contradição, toda espécie de ambição e competição. A sociedade, por sua própria natureza — seja a do mundo comunista, seja a do mundo ocidental — produz, com efeito, um conformismo externo, social, a que se chama “moralidade”; mas, se a examinarmos profundamente, perceberemos que essa moralidade é imoral.

Estou falando sobre a virtude — a qual nenhuma relação tem, absolutamente, com a sociedade e sua pretensa moralidade. A virtude só pode tornar-se existente quando há, em nosso interior, ordem psicológica. Quando compreendemos a estrutura social — a estrutura psicológica da sociedade, da qual fazemos parte — nessa compreensão há ordem, e da ordem vem a virtude. Sem a virtude, não há para a mente possibilidade de clareza, sanidade; por conseguinte, a sanidade e a virtude andam juntas. Considero importantíssimo compreender isto, porque, para a maioria, a virtude se tornou muito cansativa, coisa ridícula e antiquada, sem significação, principalmente no mundo moderno.

(...) Assim como mantemos nosso quarto bem arrumado, limpo, agradável — e isso fazemos todos os dias — assim também há necessidade de ordem interna; mas, a ordem interna exige muito mais atenção, exige percebimento de tudo o que se passa na esfera íntima. A mente deve estar consciente de todos os seus pensamentos e sentimentos, de seus desejos e ânsias, patentes e secretos; dessa percepção resulta a ordem, que é virtude... A virtude não é algo contínuo, permanente. A virtude é a ordem que renasce a cada momento e, por conseguinte, nela existe liberdade, e não revolta... Revolta não é liberdade, a revolta fica dentro do padrão social; e a liberdade está fora desse padrão. O padrão ou molde da sociedade é psicológico: é inveja, avidez, ambição, os variados conflitos em que tomamos parte. Nós somos a sociedade que nós mesmos criamos; e se não estamos livres dela, não há nenhuma possibilidade de ordem. A virtude, pois, é de suma importância, porque traz a liberdade. E nós devemos ser livres; mas não é isso o que quer a maioria das pessoas. Poderão deseja liberdade política — liberdade para votar num certo político, ou liberdade nacional; mas isso não é liberdade, absolutamente.    

(...) A liberdade é coisa inteiramente diferente; e a maioria de nós não deseja a liberdade interior, no sentido profundo da palavra, porque isso significa que o indivíduo terá de ficar completamente , sem nenhum guia, nenhum sistema, sem seguir nenhuma autoridade. Para tanto, requer-se, dentro de nós, uma ordem extraordinária. Em geral, desejamos ter o amparo de alguém e, se não de uma pessoa, o amparo de uma ideia, de uma crença, de uma norma de conduta, de um padrão estabelecido pela sociedade, por certo líder ou pessoa considerada “espiritual”, ou por nós mesmos fixado.

Assim, em regra aceitamos a autoridade. E cumpre tornar bem claro, aqui, que a autoridade a que nos estamos referindo não é a autoridade da Lei do país. Referimo-nos à autoridade que seguimos por medo de nos vermos sós, medo de firmar-nos sobre nossas próprias pernas; de não contarmos com ninguém para termos uma norma de vida, de conduta, ou clareza interior. Porque essa espécie de autoridade gera o menosprezo, gera a inimizade e a divisão entre os homens. O homem que busca a verdade não reconhece autoridade nenhuma, em tempo algum, e esse estar livre da autoridade é para nós uma das coisas mais difíceis de compreender, não só no mundo Ocidental mas também no Oriente, porque pensamos que alguém pode colocar em ordem nossa vida — um salvador, um mestre, um instrutor espiritual, etc. — coisa inteiramente absurda. Só mediante a nossa própria clareza, nossa própria investigação, percebimento, atenção, começaremos a aprender todos os fatos relativos a nós mesmos; e desse aprender, dessa autocompreensão, vem a liberdade e a ordem e, por conseguinte, a virtude.

Assim, a percepção de que devemos estar inteiramente sós vem quando começamos a compreender-nos. O autoconhecimento é a base da sabedoria, e a sabedoria vem sempre só, pois não pode ser adquirida por meio de livros e de citações alheias. A sabedoria é algo que tem de ser descoberto por cada um, e não constitui um resultado do saber. O saber e a sabedoria não andam juntos. Surge a sabedoria na madureza do autoconhecimento. Sem autoconhecimento, não é possível ordem e, por conseguinte, não há virtude.

Jiddu Krishnamurti — O descobrimento do Amor

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill