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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Por que temos medo de largar o conhecido?

Por que temos medo de largar o conhecido?

PERGUNTA: Tenho medo da morte. Vivi uma vida de muita riqueza e plenitude, intelectual, artística e emocionalmente. Agora, que já vou aproximando do fim, toda essa satisfação acabou e nada mais me resta senão as crenças religiosas de minha meninice — purgatório, inferno etc. — que me enchem de pavor. Podeis renovar-me a confiança?

KRISHNAMURTI: Parece que a próxima pergunta se relaciona também com a morte; portanto, vou lê-la também.

PERGUNTA: Sou jovem, e até há poucas semanas gozava perfeita saúde. Um acidente causou-me uma lesão mortal, e os médicos só me dão poucos meses de vida. Porque haveria de acontecer-me isso, e como irei enfrentar a morte?

KRISHNAMURTI: Acho que em geral nós, jovens e velhos, temos medo da morte. O homem que deseja concluir a sua obra tem medo da morte, visto que aspira a chegar a um resultado. O homem que está fazendo uma carreira triunfante não deseja ser interceptado no meio dela e, portanto, teme a morte. O homem que viveu plenamente, com todas as riquezas deste mundo, também teme a morte. Assim sendo, que devemos fazer?

Vede, nós nunca fazemos perguntas fundamentais. O homem que viveu com riqueza, com plenitude, nunca fez tal pergunta. Aquela vida exuberante e plena foi muito superficial, porque, debaixo, muito profundas, jazem todas as tradições do cristianismo, do hinduísmo etc., ocultas, dormentes; e quando sua vida já não pode ser vivida com riqueza, com plenitude, os sedimentos do passado sobem à superfície e ele fica com medo do purgatório, ou inventa um céu que lhe seja satisfatório. Subsistem, pois, no inconsciente, os sedimentos de nossa cultura, de nossos temores raciais etc. E enquanto estamos ativos, com o espírito lúcido, cheios de saúde, acho necessário investigarmos as profundezas do nosso ser, a fim de descobrirmos e erradicarmos todos aqueles depósitos, aqueles sedimentos de tradição, de temor, de modo que, quando a morte se apresentar, sejamos capazes de enfrentá-la. E isso significa, realmente, que devemos ser capazes de fazer uma pergunta fundamental, agora, não nos deixando satisfazer com respostas superficiais. Há pessoas que creem na reencarnação; dizem que viverão uma vida futura, que há continuidade, que não há aniquilamento, e nessa crença se sentem felizes. Mas o problema não ficou resolvido, porque elas se estão satisfazendo, meramente, com palavras, com explicações. Ou, se sois muito intelectuais, dizeis: "A morte é inevitável, faz parte da existência. Já que nasci, tenho de morrer. Porque fazer disso um problema?" Também estes não resolveram o problema.

Os mais de nós temos medo, mas encobrimos o nosso medo com crenças, com explicações, com racionalização. E temos o homem que diz: "Sou jovem ainda, e porque hei de ser ceifado? Quero viver, conhecer as riquezas da vida. Porque haveria de acontecer-me isso, a mim?" Quando alguém diz: "Porque haveria de acontecer-me isso, a mim?", isto significa, evidentemente: "Não devia acontecer a mim, mas a vós". Interessa, pois, a todos nós este problema. Podemos investigá-lo? Estais dispostos a experimentar o que estou dizendo? Não meramente escutá-lo, mas experimentá-lo deveras, seguindo a descrição e aplicando-a a vós mesmos? A descrição é apenas a porta através da qual tendes de olhar. Se não olhais a descrição, a porta terá muito pouco valor. Nós vamos, pois, olhar para descobrirmos por nós mesmos a verdade relativa a este problema; mas não buscando explicações, substituindo a crença hinduísta na reencarnação pela crença cristã no céu etc.

O fato é que há a morte; o organismo finda. E o fato é que pode haver e pode não haver continuidade. Mas eu desejo saber agora, enquanto tenho saúde, vitalidade, energia, desejo saber o que é viver com plenitude; e desejo saber, também agora, o que significa morrer, sem esperar que um acidente ou uma doença me leve deste mundo. Desejo saber o que significa morrer, desejo entrar vivo na mansão da morte. Desejo, não teoricamente, mas realmente, experimentar essa coisa extraordinária que ela deve ser, penetrar no desconhecido, cortando todos os vínculos do conhecido. Não tornar a encontrar o "conhecido", não tornar a encontrar um amigo, lá, "do outro lado", isto é que me aterra. Tenho medo de largar tudo o que me é conhecido — a família, a virtude que cultivei, a propriedade, a posição, o poder, o pesar, a alegria, todas as coisas que acumulei e que constituem o "conhecido". Tenho medo de deixar tudo isso escapar, para sempre, das profundezas do meu ser, e de me ver em presença do desconhecido — a morte. Posso eu, que sou um resultado do conhecido, procurar sem me mudar para algo também conhecido, mas ingressando em algo que não conheço, algo nunca dantes experimentado? Têm-se escrito livros sobre a morte, várias, religiões têm doutrinado a respeito dela; mas isso são só descrições, são só coisas conhecidas. A morte, decerto, é o desconhecido, assim como a verdade é o desconhecido. E a mente que está pejada do conhecido nunca poderá entrar no reino do desconhecido. A questão, por conseguinte, é esta: se posso deitar fora todo o conhecido. Não posso fazê-lo pela vontade. Tende a bondade de prestar atenção a isto. Não posso lançar fora o conhecido, pela vontade, pela volição. Porque isso supõe um produtor da vontade, uma entidade que diz: "Isto é bom, e isto é mau", "Isto eu quero, e isto eu não quero". A mente está então atuando com base no conhecido, não é exato? Diz ela: "Preciso entrar naquele estado extraordinário que é a morte, o incognoscível, e portanto devo abandonar o conhecido". Essa pessoa se põe então a rebuscar nos vários recantos da sua mente, a fim de expulsar o conhecido. Esta ação permite a subsistência da entidade que deliberadamente expulsa o conhecido. Mas, já que essa própria entidade resulta do conhecido, nunca terá a possibilidade de experimentar aquele estado extraordinário, ou de nele ingressar. Não é claro isto? Isto é, que, se há "experimentador", esse experimentador é resultado do conhecido; e esse experimentador deseja compreender aquilo que se não conhece, o desconhecido. Quaisquer esforços que ele desenvolva nesse sentido, a sua "experiência" estará sempre dentro da esfera do conhecido.

O problema, pois, é: pode o experimentador deixar de existir completamente? Porque ele é o agente, o estímulo, a busca, a entidade que diz: "Isto é o conhecido e eu tenho de passar ao desconhecido". E, sem dúvida, toda ação, todo movimento da parte do observador, do experimentador, está sempre na esfera do conhecido. Nessas condições, pode a mente, que é resultado do conhecido, resultado do tempo, pode essa mente entrar no desconhecido? Não pode, por certo. Está visto, pois, que toda explicação, toda crença a respeito da morte, origina-se sempre do conhecido. Assim sendo, posso eu, pode a minha mente, desnudar-se, de todo, do conhecido? Não há resposta. Isso depende de vós. Vós tendes de descobrir, tendes de investigar, aprofundar o problema. As perguntas fundamentais não se respondem com "sim" ou "não". Tendes de levantar a questão fundamental, e esperar que ela se desdobre por si mesma. E ela não poderá desdobrar-se por si se estais meramente em busca de uma resposta, uma explicação. Esta é uma questão básica: posso eu, que sou o resultado do conhecido, penetrar no desconhecido, que é a morte? Se desejo fazê-lo, tenho de fazê-lo enquanto estou vivo, e não no último momento. No último instante, a mente já não é capaz de observar, de compreender; ela está enferma, cansada, exausta, e a consciência muito enfraquecida. Mas, enquanto estamos cheios de energia, plenamente conscientes, vigilantes, lúcidos, não podemos então investigar, descobrir? "Entrar em vida na mansão da morte", isto não é uma ideia mórbida; é a única solução. Enquanto estamos vivendo uma vida de riqueza, de plenitude — o que quer que isso signifique — ou uma vida desditosa, uma vida pobre, não temos a possibilidade de conhecer aquilo que é imensurável e que o experimentador só pode entrever em raras ocasiões?

Podemos, então, vós e eu, desvencilhar-nos do conhecido? Compreendeis a profundeza do problema? A mente se apega a toda experiência aprazível, e deseja evitar as não aprazíveis. Esta acumulação do que é aprazível é o conhecido; e a fuga ao não aprazível é igualmente o conhecido. Pode a mente morrer, momento por momento, para tudo o que experimentou, e nunca acumular? Porque, se há acumulação, temos, nesse caso, o experimentador, que só observa as coisas baseado nessa acumulação; essa acumulação é o próprio experimentador; este, por conseguinte, nunca poderá conhecer o que se acha além do conhecido. Acho da maior importância que cada um de nós compreenda isso profundamente, porque, então, nem o saber, nem a disciplina, a crença, o dogma, nem o seguir instrutores e gurus etc., tem mais significação alguma. Porque as disciplinas, os métodos, são o conhecido: coisas que se têm de praticar, e alvos que se têm de atingir. Podemos perceber isso, na sua totalidade, dar-lhe toda a nossa atenção? Não visando a alcançarmos o desconhecido, porque tal atenção é mera exclusão, uma forma de avidez. Podemos perceber que, enquanto há qualquer movimento da mente, esse movimento procede do tempo, do conhecido, e que tal movimento em direção ao desconhecido nunca penetrará esta esfera de liberdade? Se podemos perceber isso, então a mente, divisando a verdade relativa à questão, se torna de todo imóvel. Já não está buscando, indagando, esquadrinhando, pois compreende que toda busca, toda indagação, procede do conhecido. Só com a tranquilidade total da mente é que é possível vir à existência o desconhecido.

Krishnamurti, Terceira Conferência em Londres, 19 de junho de 1955


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Lave e limpe sua mente

Lave e limpe sua mente para obter a verdadeira visão original, pode você estar sem contaminação?

Desista de aprender e se torne livre de preocupações.

Cale seu conhecimento; feche a porta da sua inteligência.

Aprenda a como não precisar aprender, para evitar repetir o erro dos outros.

Aqueles que sabem a verdade não possuem conhecimento. Aqueles que possuem conhecimento não conhecem a verdade.

Lao Tzu

sábado, 29 de agosto de 2015

Por que nos orgulhamos tanto do nosso saber?

Pergunta: Por que você diz que o saber e a crença precisam ser suprimidos para que a verdade exista? 

Krishnaurti: Que é o saber e a crença de vocês? Se examinam o saber e a crença de vocês, que são eles? Só lembranças. Não é verdade? De que é que vocês têm conhecimento? Das lembranças de vocês, das experiências de outras pessoas, registradas num livro! Se pensam a respeito do saber de vocês, que é ele? Lembrança. Estão obtendo explicações, ministradas por outras pessoas, e possuem suas próprias experiências, baseadas em suas lembranças. Vocês se deparam com um incidente e o traduzem de acordo com a memória de vocês, a que chamam de experiência. O saber de vocês é um processo de reconhecimento. Sabemos o que são as crenças. Elas são criadas pela mente, no seu desejo de estar certa, de estar protegida, de estar em segurança. 

Assim, como pode a mente, tolhida que está pelo saber, essa mente, que é acumulação do passado, traduzindo o presente segundo sua própria conveniência, como pode essa mente, com sua carga de saber, compreender o que é verdadeiro? A verdade tem de ser algo que está além do tempo. Ela não pode ser projetada pela mente; não pode ser talhada pela minha experiência; tem de ser algo incognoscível, em face da minha experiência passada. Se eu a conheço, do passado, isso então é reconhecimento e portanto não é a verdade. Se ela é apenas uma crença, é então uma "projeção" dos meus próprios desejos. 

Por que nos orgulhamos tanto do nosso saber? Estamos aprisionados em nossas crenças, no "estado de conhecimento", no sentido em que é geralmente compreendido o conhecimento. Vocês temem o "ser nada". Eis porque fazem questão de tantos títulos; possuem a preocupação de adquirir nomes, ideias, reputação, de se exibirem. Com toda essa carga na mente, dizem: "estou procurando a verdade, desejo compreender a verdade". O que acontece se examinam atentamente todo processo da aquisição de saber e da formação da crença? Verificam, sem dúvida, que essas coisas são artifícios da mente — o acreditar, o saber; elas lhes conferem certo prestígio, certo poderes; os outros lhes respeitam como um homem extraordinário, muito lido e muito culto. E ficando mais velhos, se acham com o direito a mais respeito, porque, naturalmente, se tornaram mais sábios, pelo menos assim o pensam. O que fizeram foi apenas amadurecer na própria experiência de vocês. A crença destrói os entes humanos, divide os entes humanos. O homem que crê nunca pode amar; porque, para ele, a crença é mais significativa do que ser bondoso, cordial, solícito; a crença proporciona certa força, certa vitalidade, um falso sentimento de segurança. 

Assim, examinando bem as coisas, que encontram? Só palavras, só memória. A verdade é algo que deve achar-se além dos limites da imaginação, além do processo da mente. Ela tem de ser eternamente nova, uma coisa não suscetível de reconhecer-se, de descrever-se. Se citam Sankara, Buda, XYZ, já começaram a comparar — o que demonstra que, pela comparação, desistiram de pensar, de sentir, de experimentar. Esse é um dos sacrifícios da mente. O saber de vocês está destruindo a percepção imediata daquilo que é a verdade. 

Eis porque é importante compreender, no seu todo, o processo do saber e da crença, para o abandonarmos. Sejam simples, vejam essas coisas com simplicidade e não com uma mente ardilosa. Verão, assim, que a mente, que amontoou tanta experiência, tantas explicações, que está limitada por tantas crenças, começa a se renovar. Ela já não está à procura do novo, já não está reconhecendo, deixou de reconhecer; acha-se, por conseguinte, em estado de constante experimentar, não relacionado com o passado; há um movimento novo, que não é suscetível de repetir-se. 

Importa, por essa razão, que todo saber, toda crença sejam devidamente compreendidos. Não podem suprimir o saber; precisam compreendê-lo; não podem fechar a porta ao saber. Qual é, agora, a reação de vocês? Sairão daqui e continuarão a proceder da maneira habitual, porque possuem o medo de se afastar do velho padrão. 

Para achar a verdade, não há guru, não há exemplo, não há caminho; a virtude não conduzirá à verdade; a prática da virtude é a auto-perpetuação. O saber, evidentemente, só nos dá respeitabilidade. 

O homem "respeitável" e fechado dentro de sua própria importância, nunca encontrará a verdade. A mente precisa estar de todo vazia, não procurar, não "projetar". Só quando a mente está totalmente tranquila, apresenta-se a possibilidade daquilo que é imensurável.

Krishnamurti em, Quando o Pensamento Cessa

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A ilusão da busca de conhecimento externo

Somos incapazes de ver como o conhecimento correto de NÓS MESMOS pode ser necessário ao nosso modo de viver. Aspiramos a aprender como dobrar o mundo à nossa vontade ou então como a ele adaptarmo-nos de modo a podermos tirar o melhor proveito, por pior que seja. Não vemos como o conhecimento correto de NÓS MESMOS pode ser-nos útil neste mister... estamos completamente convencidos de que nos conhecemos perfeitamente bem. 

Acreditamos que o conhecimento é de grande valor, e procuramos conhecer a verdade sobre tudo que possivelmente vamos encontrar na vida. Somos tão fanáticos quanto a isso, que desejamos tornar compulsória a todos a aquisição do conhecimento. E todo esse conhecimento é concernente AO MUNDO — e não A NÓS MESMOS. Com o passar dos séculos, cada nação, ou grupo de nações, acumulou bastante conhecimento — história, geografia, astronomia, física, ética, teologia, biologia, sociologia, e até mesmo o que se conhece pelo nome imponente de filosofia ou metafísica. Se todo esse conhecimento externo, que vem se amontoando, desse felicidade, deveria ter havido um aumento constante da felicidade humana. Mas o caso é outro. 

Pode-se alegar que o aumento do conhecimento nos deu um maior domínio sobre as forças cegas da Natureza, e que isto é tudo para chegar-se ao bem. Mas não é bem assim. Esse domínio foi colocado por uma sorte funesta nas mãos de poucos, e quanto maior se tornar, mais profundo serão o desespero e a degradação em que as massas afundam. E a percepção de sua miséria se alívio não pode deixar de envenenar a taça da felicidade — ou de arremedo de felicidade — para aqueles entre a minoria afortunada que não sejam totalmente egoístas. O milênio, que os cientistas de uma era agora esquecida profetizaram, está mais longe do que nunca. Na verdade, a ciência trouxe o mundo a um estado em que a própria sobrevivência da raça humana está sendo seriamente ameaçada. É pura maldade — indigna daqueles que aspiram a uma genuína e imaculada felicidade — afirmar que todo este conhecimento tem sido para o bem. E isso deve levar-nos a suspeitar que não há conhecimento algum. Pelo menos, podemos supor que a felicidade não pode ser encontrada por intermédio DESSA ESPÉCIE DE CONHECIMENTO. O ensinamento dos sábios confirma tal suspeita. Ramana Maharshi chega mesmo a caracterizar todo esse conhecimento externo como IGNORÂNCIA. 

(...) Ramana Maharshi afirmou que a investigação do mundo exterior a nada nos poderá levar, exceto à ignorância. Disse ele que QUANDO PROCURAMOS CONHECER ALGUMA COISA QUE NÃO SEJA NÓS MESMOS, SEM PROCURARMOS CONHECER A VERDADE DE NÓS MESMOS, O CONHECIMENTO QUE OBTEMOS PROVAVELMENTE NÃO PODE SER EXATO.

(...) A razão dada por Ramana Maharshi é que quem desejar saber a Verdade seja do que for, deve PRIMEIRO CONHECER-SE A SI MESMO E COM PERFEIÇÃO. Quer dizer que aquele que não se conhece, parte de um erro inicial, o qual DETURPA todo o conhecimento resultante de sua investigação. Quem se conheceu a si mesmo, no entanto, está livre de tal erro, e somente ele é capaz de encontrara a Verdade do mundo ou das coisas do mundo. A qualidade daquele que pretende adquirir conhecimento é elemento indispensável ao conhecimento por ele adquirido. Será conhecimento correto somente se o pretendente estiver ADEQUADAMENTE HABILITADO para a pesquisa. 

(...)Mas não nos conhecemos? Pensamos que sim. O homem vulgar afirma com convicção que se conhece a si mesmo da forma adequada; e pode ser-lhe impossível chegar a entender que NÃO SE CONHECE, mesmo que o escute e um Sábio. É necessário termos a mente muito adiantada e grandemente PURIFICADA para percebermos e reconhecermos QUE NÃO NOS CONHECEMOS A NÓS MESMOS — que as ideias sobre nós mesmos, acalentadas durante tanto tempo, estão erradas. Os Sábios nos dizem que nossas ideias sobre nós mesmos são um misto de verdade e erro.

(...) Ramana Maharshi diagnostica a doença — escravidão aos desejos e temores — como devida à ignorância sobre o que é o nosso Eu real, e à consequente premissa falsa de que o corpo é o Eu. E isso se confirma pela observação de que desejo e medo surgem em virtude do corpo. 

MAHA YOGA

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Estamos fechados por todos os lados

Conhecer-se a si próprio é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto, a coisa mais simples. Mas não é assim — e por muitas razões. Tornou-se tão complicado, e investimos tanto na nossa própria ignorância que parece ser quase impossível voltar atrás, retornar para a fonte, ao encontro de nós próprios.

Toda a tua Vida, tal e qual, tal como é aprovada pela Sociedade, pelo Estado, pela Igreja, é baseada na auto-ignorância. A tua Vida sem te conheceres a ti próprio, porque a Sociedade não quer que te conheças a ti próprio. É perigoso para a Sociedade. Um Homem que se conheça a si próprio tende a ser rebelde.

O Conhecimento é a grande rebelião — auto-conhecimento digo, não conhecimento através das escrituras, não o conhecimento encontrado nas Universidades, mas sim o Conhecimento encontrado quando tu se encontras o teu próprio Ser, quando te encontras contigo próprio totalmente nu; quando te vês a ti próprio tal como Deus te vê, não como a Sociedade gostaria de te ver; quando vês o teu Ser natural no seu completo florescer selvagem e natural — não um fenômeno civilizado, condicionado, culto, polido.

A Sociedade está preocupada em fazer de ti um robô, não um revolucionário, porque é útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um Homem que tenha Consciência de si próprio. Como é que se pode dominar um Jesus? Como é que se pode dominar um Buda ou um Heraclitus? Ele não se irá vergar, ele não seguirá prescritos. Ele seguirá em frente guiado pelo seu próprio Ser. Ele será como o vento, como as nuvens; ele mover-se-á como os rios. Ele será selvagem — e é claro, Bonito, Natural, mas perigoso para a falsa Sociedade. Ele não se encaixará. A não ser que criemos uma Sociedade Natural no Mundo, um Budha ficará sempre desenquadrado, um Jesus está destinado a ser crucificado.

A Sociedade quer ser dominadora; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. Eles querem que tu permaneças sem ter consciência de ti próprio. Esta é a primeira dificuldade. E cada um tem de nascer dentro de uma Sociedade. Os Pais são parte da Sociedade, os Professores são parte da Sociedade, os Padres são parte da Sociedade.
valei

A Sociedade está em todo o sítio, em toda a tua volta. Parece que é realmente impossível — como é que se pode escapar? Como é que se encontra uma porta para voltarmos à Natureza? Estamos fechados por todos os lados.

O S H O 

domingo, 7 de dezembro de 2014

Espaço para receber

Para a maioria de nós, conhecimento ou aprendizagem tornou-se um vício, e pensamos que através do saber seríamos criativos. Uma mente que está repleta de fatos, de conhecimento - é ela capaz de receber algo novo, repentino, espontâneo? Se a sua mente está abarrotada com o conhecido, existe nela algum espaço para receber algo que venha do desconhecido?

Certamente, o conhecimento vem sempre do conhecido, e com o conhecido estamos tentando entender o desconhecido, entender alguma coisa que está além da medida.

Tome, por exemplo, uma coisa bem ordinária que acontece com a maioria de nós: aqueles que são religiosos - seja lá o quê, no momento, essa palavra possa significar - tentam imaginar o que é Deus, ou tentam pensar sobre o que é Deus. Eles leram inúmeros livros, leram sobre as experiências dos vários santos, dos Mestres, dos Mahatmas, e tudo o mais, e eles tentam imaginar , ou tentam sentir o que é a experiência de outra pessoa. Ou seja, com o conhecido, tenta-se abordar o desconhecido. Pode-se fazer isso? Pode-se pensar em algo que não é conhecível? Só se pode pensar em algo que você conhece. Mas existe essa perversão extraordinária acontecendo no mundo nos tempos atuais: pensamos que entenderemos se tivermos mais informação, mais livros, mais fatos, mais publicações.

Certamente, para se dar conta de algo que não é a projeção do conhecido, deve haver a eliminação, através do entendimento do processo do conhecido. Por que é que a mente sempre se agarra ao conhecido? Não é porque a mente está constantemente buscando certeza, segurança? A sua própria natureza é fixada no conhecido, no tempo; e como pode essa mente, cuja própria fundação está baseada no passado, no tempo, experimentar o que não é do tempo? Ela pode conceber, formular, imaginar o desconhecido, mas isso é absurdo total. O desconhecido pode aparecer somente quando o conhecido é entendido, dissolvido, colocado de lado. E isso é extremamente difícil, porque no momento que você tem uma experiência de qualquer coisa, a mente a traduz em termos do conhecido e a reduz ao passado.

Não sei se vocês notaram que cada experiência é imediatamente traduzida dentro do conhecido, é nomeada, tabulada, e registrada. Assim, o movimento do conhecido é conhecimento. E, obviamente, esse conhecimento, aprendizado, é um impedimento.

Suponha que você nunca tenha lido um livro - religioso ou de psicologia -, e que você teria que encontrar o sentido, o significado da vida. Como você começaria? Suponha que não houvesse Mestres, organizações religiosas, nem Buda, nem Cristo, e você tivesse que começar do início. Como você começaria? Primeiro, você teria que entender o seu próprio processo de pensar, não teria? - e não projetar você mesmo, os seus pensamentos, no futuro, e criar um Deus que lhe agrade; isso seria muito infantil. Assim, primeiro você teria que entender o processo do seu próprio pensar. Certamente, esse é o único jeito de descobrir qualquer coisa nova, não é?

Quando dizemos que a aprendizagem ou o conhecimento é um impedimento, é uma barreira, certamente não estamos incluindo o conhecimento técnico - como dirigir um carro, como operar uma máquina, ou a eficiência que esse conhecimento traz. Temos em mente uma coisa bem diferente: esse senso de felicidade criativa que nenhuma quantidade de conhecimento ou aprendizagem trará. E, ser criativo no sentido mais verdadeiro dessa palavra, é estar livre do passado a cada momento. Porque é o passado que está continuamente lançando sombra no presente. Simplesmente se apegar às informações, às experiências dos outros, àquilo que outra pessoa disse, ainda que importante, e tentar aproximar a sua ação àquilo - tudo isso é conhecimento, não é? Mas, para descobrir algo novo, você deve começar por você mesmo; você deve começar uma viagem completamente desnudado, especialmente de conhecimento. Porque é muito fácil, através de conhecimento e crença, ter experiência; mas aquelas experiências são meramente produtos da auto-projeção, e portanto totalmente falsas, não reais.

E se você vai descobrir por você mesmo o que é novo, não é bom carregar o peso do velho, especialmente o conhecimento - o conhecimento de outra pessoa, por maior que seja. Agora, você usa o conhecimento como um meio de auto-proteção, segurança, e você quer estar bem certo que você tem a mesma experiência de Buda, ou de Cristo, ou de X. Mas o homem que está se protegendo constantemente através do conhecimento, não é obviamente um verdadeiro buscador da verdade.

Para o descobrimento da verdade, não existe caminho. Você precisa entrar no mar sem mapas - o que não é deprimente, o que não é ser aventureiro. Certamente, quando você quer encontrar algo novo, quando você está experimentando com qualquer coisa, sua mente tem que estar muito quieta, não tem? Mas se a sua mente estiver abarrotada, preenchida com fatos, conhecimento, eles agem como um impedimento ao novo; e, para a maioria de nós, a dificuldade é que a mente se tornou tão importante, tão predominantemente significativa, que ela interfere constantemente com qualquer coisa que possa ser nova, com qualquer coisa que possa existir simultaneamente com o conhecido. Assim, o conhecimento e o aprendizado são impedimentos àqueles que buscam, que tentam entender aquilo que não é do tempo.

Krishnamurti, Ojai, Califórnia, 17 Julho de 1949

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O não-saber é o ponto mais alto na evolução humana

Não saber significa que alguém não é nem ignorante nem instruído. Ele não é instruído porque ele não está interessado em mera informação e ele não é ignorante porque ele não está ignorando — ele não está ignorando a questão mais essencial. Ele não está ignorando seu próprio ser, sua própria consciência.

Não saber tem uma beleza própria, uma pureza. É justamente como um espelho puro, um lago completamente silencioso refletindo as estrelas e as árvores na margem. O estado de não-saber é o ponto mais alto na evolução humana. 

O estado de não-saber é realmente o estado de saber, porque quando todo o conhecimento e toda ignorância desaparecem você pode refletir a existência como ela é. O conhecimento é adquirido depois do seu nascimento, mas o saber vem com você. E quanto mais conhecimento você adquire, mais e mais o saber começa a desaparecer porque ele vem coberto com conhecimento. Conhecimento é exatamente como poeira e sabedoria é como o um espelho.

O coração do saber é agora. Conhecimento é sempre do passado. Conhecimento significa memória. Conhecimento significa que você acumulou sua experiência. Sabedoria é do presente. E como você pode estar no presente se você está se apegando demais ao conhecimento? É impossível, você terá que parar de se apegar ao conhecimento. E conhecimento é adquirido, sabedoria é a sua natureza. Sabedoria é sempre agora — o centro do saber é agora. E o centro do agora? 

A palavra "agora" é bonita. O centro dela é a letra "o", que é também o símbolo para zero. O centro do agora é o zero, nada. Quando a mente não é mais, quando você é somente um nada, simplesmente um zero — Buda chama isto exatamente assim, shunya, o zero — então, tudo o que o rodeia, tudo que está dentro e fora, é conhecido, mas conhecido não como conhecimento, conhecido de uma maneira totalmente diferente. Assim como uma flor sabe como abrir, e o peixe sabe como nadar e a criança sabe como crescer no útero da mãe, e você sabe como respirar — mesmo quando adormecido, mesmo em coma, você continua respirando — e o coração sabe como bater. Essa é uma maneira totalmente diferente de saber, tão intrínseca, tão interna. Não é adquirida, é natural. 

O conhecimento é conseguido na troca pelo saber. E quando você tem conhecimento, o que acontece com a sabedoria? Você se esquece da sabedoria. Você tem conhecimento e você se esqueceu da sabedoria.  E a sabedoria é a porta para o divino; o conhecimento é uma barreira para o divino. O conhecimento tem utilidade no mundo. Sim, ele o tornará mais eficiente, habilidoso, um bom mecânico, isto e aquilo; você pode conseguir uma profissão melhor. Tudo isto está aí e eu não estou negando. E você pode usar o conhecimento desse jeito; mas não deixe o conhecimento se tornar uma barreira entre você e o divino. Quando o conhecimento não for necessário, coloque-o de lado e mergulhe num estado de não-saber — que é um estado de saber, real saber. O conhecimento é conseguido na troca pela sabedoria e a sabedoria é esquecida. Ela só tem que ser re-lembrada — você a esqueceu. 

A função do Mestre é ajudar você a re-lembrá-la. A mente tem que ser re-lembrada, pois a sabedoria não é nada a não ser re-conhecimento, re-cordação, re-lembrança. Quando você se depara com alguma verdade, quando você vê um Mestre, e você vê a verdade em seu ser, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece. Nem mesmo um único momento é perdido. Você não pensa sobre isto, se é verdade ou não — para pensar precisa-se de tempo. Quando você ouve a verdade, quando você sente a presença da verdade, quando você chega a uma comunhão com a verdade, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece, sem nenhum argumento. Não que você aceite, não que você acredite: você reconhece. E isso não poderia ser reconhecido se já não fosse de alguma maneira conhecido, em algum lugar, profundamente dentro de você.

(...) A sociedade lhe ensina conhecimento. Tantas escolas, colégios, universidades... todos com o objetivo de criar conhecimento, mais conhecimento, implantar conhecimento nas pessoas. E a função do Mestre é justamente o oposto: o que a sociedade fez a você o Mestre tem de desfazer. Sua função é basicamente anti-social, e nada pode ser feito a respeito disso. O Mestre está destinado a ser anti-social.

Jesus, Pitágoras, Buda, Lao Tzu, todos eles são anti-sociais, mas no momento em que eles reconhecem a beleza de não-saber, a vastidão de não saber,  a ignorância de não saber, no momento em que o sabor do não saber acontece a eles, eles querem compartilhar isto com os outros, eles querem dividir isto com os outros. E esse próprio processo é anti-natural.

(...) A sociedade, de fato, torna você desenraizado da sua natureza. Ela leva você para fora de seu centro. Ela o torna neurótico.

OSHO 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Onde há acumulação de conhecimentos tem de haver imitação

Ora, evidentemente, não estamos livres quando estamos seguindo a outro. É preciso estar-se livre do instrutor religioso, e isso significa que cada um tem de ser uma luz para si mesmo e não depender da luz de nenhum outro. E pode-se realmente "experimentar" esse aliviar, esse libertar da mente do líder, do instrutor, do guru? Podemos experimentar realmente esse estado agora, que estamos falando sobre ele, de modo que a mente não dependa de nenhuma autoridade, não dependa de ninguém, para orientá-la e guiá-la? 

Todas as suas chamadas doutrinas religiosas criam um ideal, que você segue; e este ideal se torna uma nova espécie de instrutor. E, por certo, esta total libertação da ideia do guia, do instrutor, do seguir, sob qualquer forma que seja, esta libertação é essencial. Porque o seguir um instrutor implica acumulação de conhecimentos, e a libertação só é possível pela completa renúncia ao conhecimento. Afinal, são só conhecimentos o que estamos verdadeiramente buscando, na nossa vida de cada dia, não é verdade? Precisamos de conhecimentos para executar trabalhos, conhecimentos para agir, conhecimentos para nos guiarem ao alvo, ao sucesso, à realização de algo. E esse próprio conhecimento se torna o fator de nosso cativeiro. Mas pode a mente liberta-se do conhecimento?

(...) O seguir implica sempre acumulação de conhecimentos, não é verdade? E onde há acumulação de conhecimentos tem de haver imitação. Afinal, quando lhe é feita uma pergunta sobre uma questão que conhece bem, sua resposta é imediata. Se lhe perguntam onde mora, qual a sua profissão, seu nome, etc., a memória responde instantaneamente, porque são coisas com que você familiarizado. Mas se lhe é feita uma pergunta mais complexa, há então hesitação —  isso implica que a mente está dando uma busca nos arquivos da memória, para achar a resposta correta. E se lhe perguntam uma cosia sobre a qual praticamente nada sabe, você recorre a um livro ou busca mais profundamente naquela parte da consciência que é a memória. Deve Haver memória, porque do contrário, você não poderia voltar para sua casa, executar seu trabalho, construir uma ponte, etc. Aprendemos uma multidão de coisas necessárias e esses conhecimentos naturalmente não devem ser esquecidos. Mas eu me refiro a conhecimentos de ordem completamente diferente: os conhecimentos que a psique acumula, com o fim de proteger-se no futuro e realizar qualquer coisa que deseje realizar, psicologicamente, espiritualmente. É esse conhecimento que nos faz egocêntricos, porque a mente se serve dele como meio de dar continuidade a si mesma, como meio de expansão do "eu", É a esse conhecimento que cumpre renunciar totalmente. Esta é a verdadeira renúncia — e não o abandonar uns poucos bens, uma casa, um pedaço de terra, e cingir uma tanga. Temos, pois, esse conhecimento acumulado, sobre o qual a psique se forma e se mantém. E pode a mente, que é resultado do passado, renunciar a esse conhecimento? Decerto, enquanto a mente não se descartar desse conhecimento, nunca encontrará o que é novo, jamais conhecerá o instante atemporal, que é o "estado criador". Veja, o que necessitamos neste momento não é mais físicos, mais cientistas, engenheiros, políticos, burocratas, porém indivíduos que conheceram esse "estado criador", porque esses indivíduos é que são as pessoas verdadeiramente religiosas — o que significa que não pertencem a nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhuma classificação. Eis porque é muito importante compreender todo esse processo de acumulação de conhecimentos, que subentende identificação e senso de avaliação. Pode a mente estar livre, para observar sem avaliação nem julgamento? Não resta dúvida de que suas avaliações, suas comparações, suas condenações baseiam-se todas no conhecimento, e essa mente é incapaz de compreender o que é verdadeiro. 

Se você observar o processo de seu próprio pensar, verá que a mente só tem interesse em acumular mais e mais conhecimentos, e por essa razão nunca há um momento de liberdade, para explorar. E acho muito importante compreender, isto é, "experimentar", real e instantaneamente, esse estado de liberdade do passado, sem continuidade, — e não apenas asseverar que a mente pode ou que a mente não pode ser livre. 

(...) A mente, em verdade, é resultado do passado, de muitos dias pretéritos, o que é um fato bem óbvio. Ela é o resíduo do conhecido — sendo o conhecido a coisa experimentada, a palavra, o símbolo, o nome, o inteiro processo de reconhecimento. Essa mente, de certo é incapaz de descobrir ou "experimentar" o desconhecido. Ela poderá especular, mas sua especulação estará baseada no conhecido, nas coisas que leu. Só poderá a mente experimentar "aquele estado", quando o conhecimento — e por este termo entendo a memória de muitas experiências, — o inteiro processo de reconhecimento, que é "eu", "meu" — houver terminado. 

Pois bem. Se você puder, escutar não apenas o que está sendo dito, mas também afastar de si tudo o que conhece — as conclusões, as avaliações, as determinações, os ideais — verá então surgir um estado sem continuidade, como memória, mas que é, instantaneamente, a totalidade do Ser. Esse momento é que é o Sublime, o Supremo, e ele precisa ser experimentado. Mas só se pode experimenta-lo, quando a mente está completamente tranquila, compreendendo a totalidade de sua própria estrutura. É pelo autoconhecimento que vem a quietude da mente, e não por meio da disciplina, por meio da compulsão. E nessa tranquilidade total, você encontrará um momento em que não está relacionado com o passado, um instante em que se verifica a criação. E esse estado é essencial, porque liberta a mente do "coletivo" e dá existência à individualidade. 

O "coletivo" é a mente condicionada pela sociedade, por influências inúmeras, pelos valores e crenças a que se apega a multidão e de que uns poucos se livram, mas só para lhe acrescentarem mais uma crença. Em vista de tudo isso, é possível para a mente, sem esforço algum, renunciar ao passado? Enquanto não o fizer, continuará a haver a observância da tradição, de ontem ou de há milhares de anos. E a mente que segue a tradição é imitativa, dependente de um instrutor, com o que mantém a desigualdade, não apenas no nível físico, mas também no nível psicológico. Para essa mente, a "criação" é apenas uma palavra sem sentido. Para se reproduzir um estado diferente, uma cultura diferente, uma diferente maneira de vida, é de todo necessária a libertação do indivíduo, a libertação dessa força criadora interior que produzirá sua sociedade própria, seu valores próprios.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Por que nossas vidas são em geral superficiais e vazias?

Penso que a maioria de nós acha a vida muito sem graça. Para ganharmos o sustento, precisamos exercer uma certa profissão, e esta se torna muito monótona; começa-se uma rotina, que temos de seguir, ano por ano, até morrer. Ricos ou pobres, e ainda que sejamos muito eruditos ou dotados de espírito filosófico, nossas vidas são em geral superficiais e vazias. Há evidentemente uma insuficiência em nós mesmos, e aos nos tornarmos cônscios desse vazio procuramos preenchê-lo com conhecimentos, com alguma espécie de atividade social, ou nos refugiamos em divertimentos de todo tipo, ou nos apegamos a alguma crença religiosa. Ainda que tenhamos uma certa capacidade e sejamos muito eficientes, nossas vidas são, ainda assim, sem graça e, para nos livrarmos dessa falta de graça, dessa cansativa monotonia da vida, buscamos uma certa forma de enriquecimento religioso, tentamos conquistar aquele "estado de ser" extra-mundano que não é uma rotina e que, por enquanto, pode ser chamado "o outro estado". Em nossa busca desse outro estado, encontramos muitos sistemas diferentes, diferentes caminhos que se supõem conduzirem a ele; e, assim, pelo disciplinamento de nós mesmos, pela prática de determinado sistema de meditação, pela observância de certo ritual ou a repetição de certas frases, esperamos alcançar aquele estado. Sendo a nossa vida um círculo interminável de dores e prazeres, de variadas experiências sem muita significação ou mera repetição, sem sentido algum, de uma mesma experiência — o viver constitui para a maioria de nós uma monótona rotina. Por esta razão, o problema de nosso enriquecimento interior, da conquista do "outro estado" — chame-o Deus, a Verdade, bem-aventurança ou como o quiser — se torna muito urgente, não é verdade? Você pode estar bem de vida, bem casado, ter filhos, pode pensar de forma inteligente e equilibradamente, entretanto, sem aquele, sem aquele estado, a vida se torna horrivelmente vazia. 

O que se deve , pois, fazer? Como conquistar aquele estado? Ou é completamente impossível conquistá-lo? A nossa mente, como está hoje constituída, é sem dúvida muito insignificante, limitada, condicionada; e embora uma mente limitada possa especular a respeito do "outro estado", suas conjecturas serão sempre limitadas. Ela poderá formular um estado ideal, conceber e descrever aquele outro estado, mas suas concepções permanecem dentro de suas estreitas limitações, , e penso que aí é que se encontra o fio da meada: no perceber que a mente não pode, em circunstância alguma, experimentar, viver aquele outro estado, se se limita a formulá-lo ou a especular a seu respeito. Não há dúvida de que esta é uma descoberta extraordinária: o perceber que, sendo a mente limitada, pequena, estreita, superficial, todo movimento que faça para alcançar aquele estado extraordinário, constitui um empecilho. O descobrimento deste fato, não especulativamente porém realmente, é o começo de uma nova maneira de considerar o problema. 

Nossas mentes, em verdade, são produto do tempo, de muitos milhares de dias passados, resultado da experiência baseada no "conhecido"; e, em tais condições, a mente é uma continuação do "conhecido". A mente de cada um de nós é o resultado da cultura, educação, e por mais extenso que seja o seu saber ou preparo técnico, ela é sempre produto do tempo; por conseguinte, é limitada, condicionada. Com esta mente, queremos descobrir o incognoscível; e compreender que essa mente nunca poderá descobrir o incognoscível, constitui uma experiência extraordinária. Descobrir que a mente de um indivíduo, por mais sagaz, por mais sutil, , por mais ilustrada que seja, não pode de modo nenhum compreender aquele outro estado — esse descobrimento traz consigo uma certa compreensão "factual" e acho que este é o começo de uma perspectiva da vida que poderá abrir a porta que conduz àquele outro estado

Expressando o problema de maneira diferente: a mente está sempre e sempre ativa, "tagarelando", planejando, e é capaz de extraordinárias sutilezas e invenções. E de que maneira pode esta mente tornar-se quieta? Vê-se que toda a atividade da mente, todo movimento que faça, em qualquer direção, é reação do passado. Como aquietar a mente? Se a aquietamos por meio de disciplina, sua quietude é um estado em que não há investigação, busca, não é exato? Em tais condições, ela não está aberta para o "desconhecido", "o outro estado". 

Não sei se alguma vez você já pensou neste problema, ou se nele tem pensado unicamente pela maneira tradicional, ou seja, tendo um ideal e dirigindo-se para ele segundo uma certa fórmula ou a prática de determinada disciplina. Disciplina implica, invariavelmente, repressão e conflito da dualidade — e isso está na esfera da mente — e por esse caminho prosseguimos, esperando captar o outro estado. Mas nunca indagamos inteligente e com sanidade se nossa mente é capaz de captá-lo. Foi nos sugerido que a mente deve estar tranquila, mas a tranquilidade foi sempre cultivada por meio de disciplina. Isto é, temos o ideal de uma mente tranquila, e buscamos realizar este ideal por meio de controle, luta, esforço. 

Ora bem, se você considera atentamente esse processo, em sua inteireza, verá que está no terreno do conhecido. Cônscia da monotonia de sua existência, cansada de suas repetidas experiências, a mente se empenha em conquistar aquele "outro estado". mas quando se percebe que a mente é o "conhecido" e que todo o movimento que faz não leva ao outro estado, que é "o desconhecido", o nosso problema se resume então, não em como conquistar o desconhecido, mas em descobrir se a mente pode libertar-se do "conhecido". Penso que este problema deve ser considerado por todo aquele que deseje descobrir se existe alguma possibilidade de "realizar o outro estado", o desconhecido. Assim sendo, como pode a mente, que é resultado do passado, do conhecido, libertar-se do conhecimento?

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

domingo, 14 de setembro de 2014

Somos uma repetição de opiniões, juízos e conclusões

Krishnamurti: Vejamos antes de tudo se a nossa mente está entregue a uma dada experiência, uma dada conclusão ou crença, que está nos tornando obstinados, inflexíveis, no sentido profundo. Só quero compeçar daí, porque, como pode haver investigação, quando a mente é incapaz de ceder? Lemos o Gita, a Bíblia, o Upanishads, tal ou tal livro, o qual deu uma tendência à nossa mente, uma certa conclusão a que ela ficou amarrada. Uma mente em tais condições é capaz de investigar? Não é isso que acontece com a maioria de nós? e não deve a nossa mente ficar livre de todos os compromissos decorrentes de sermos hinduístas, teosofistas, católicos, ou o que mais seja, antes de podermos investigar? E porque não estamos livres dessas coisas? Quando temos compromissos e queremos investigar, não pode haver verdadeira investigação, mas tão somente uma repetição de opiniões, juízos e conclusões. Assim, nesta nossa palestra desta tarde, poderemos largar todas as nossas conclusões?

Certamente, até os maiores cientistas têm abandonado todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se você sério, esse abandono do conhecimento, da crença, da experiência, tem de efetuar-se realmente. A maioria de nós somos um tanto "sérios", quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum é seriedade. Isso não tem valor nenhum. O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar. 

Interrogante: Podemos dizer que abandonamos as nossas conclusões; entretanto, elas tornam a surgir. 

Krishnamurti: Sabemos que nossas mentes estão ancoradas numa conclusão? Está a mente cônscia de que se acha dominada por determinada crença? Deixe-me, senhor, expressá-lo de maneira muito simples. Morre meu filho e me sinto desolado — e eis que se me apresenta a crença da reencarnação. Esta crença encerra muitas esperanças e promessas e, portanto, a minha mente a ela se apega. Ora, essa mente é agora capaz de investigar o problema da morte, em vez de investigar, apenas, a questão da vida além-túmulo? Pode minha mente abandonar essa conclusão? E não deve abandoná-la, se quer descobrir o que é verdadeiro — abandoná-la, mas não sob compulsão de qualquer espécie, nem esperança de recompensa, mas porque a própria investigação exige o seu abandono? Se não a abandono, não sou "sério"

Senhores e senhoras, não se deixem desalentar pelas minhas perguntas, que parecem tão óbvias. Se minha mente está atada à estaca da crença, da experiência ou do conhecimento, ela não pode ir muito longe; e a investigação implica que se esteja livre da estaca, não acham? Se realmente estou buscando, então esse estado tem de se acabar — preciso romper as amarras, cortar a corda. Não existe, então, nenhuma questão de como cortar a corda. Quando há a percepção de que a investigação só é possível quando estamos livres de nossa obstinação, do apego a uma outra crença, então esse próprio percebimento liberta-nos a mente. 

Ora, porque não sucede isso a cada um de nós?

Interpelante: É porque nos sentimos mais seguros com a corda. 

Krishnamurti: Exatamente, não é? Vocês se sentem mais seguros quando a mente de vocês está condicionada, e eis porque não há aventurar, ousar — e toda a nossa estrutura social está construída dessa maneira. Conheço todas essas respostas. Mas porque não abandonam a crença de vocês? Se não o fazem, não são sérios. Se estão realmente investigando, não dizem: "Estou investigando, numa determinada direção e devo ser tolerante a respeito de qualquer direção diferente da que estou seguindo" — pois, quando estão realmente investigando, essa maneira de pensar desaparece completamente. Não existe então a divisão de "seu caminho" e "meu caminho", acaba-se o místico e o oculto, são afastadas definitivamente todas as estúpidas explicações do homem que quer explorar outros homens. 

(...) Estou dizendo que não pode haver investigação quando a mente tem algum apego. Quase todos nós dizemos que estamos buscando, e buscar significa realmente investigar; e eu estou perguntando: "vocês podem investigar, enquanto suas mentes estão apegadas a alguma conclusão?" Obviamente, quando lhes é feita esta pergunta, respondem: "Não, naturalmente". 

(...) Eu estou perguntando: sua mente está agrilhoada? Sua mente é obstinada, está apegada a alguma experiência, a alguma forma de conhecimento ou crença? Se está, neste caso, é incapaz de investigação. Você dirá, porventura: "Estou buscando" — mas é bem evidente que não está buscando, senhor. Como pode a mente ter liberdade de movimentos,  se está presa? Dizemos que estamos buscando, mas, na realidade, não há busca. Buscar implica estar livre de apego a qualquer fórmula, qualquer experiência, qualquer espécie de conhecimento, porque só então a mente é capaz de mover-se amplamente. Isto é um fato, não? Se desejo ir a Banaras, não posso estar amarrado, preso num quarto; preciso sair do quarto e dirigir-me para lá. De maneira semelhante, sua mente agora está presa e você diz que está buscando; mas eu digo que não pode buscar nem investigar, com a mente presa — e isso é um fato que todos reconhecem. Porque então não se liberta a mente? Se ela não o fizer, como poderemos, você e eu, investigar juntos? Esta é a nossa dificuldade, não acham, senhores?

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Conhecimento: a trave de tropeço para a visão intuitiva

(...)David Bohm: Mas chega então o momento em que o conhecimento não parece mais ser conhecimento.

Krishnamurti: Os políticos e as pessoas que estão no poder não escutariam isso. Nem tampouco os supostos indivíduos religiosos. Apenas as pessoas que estão descontentes, que sentem que perderam tudo, escutarão. Mas nem sempre elas escutam, de modo que isso é realmente um ponto crucial. O que faremos a respeito disso? Digamos, por exemplo, que eu tenha abandonado o catolicismo, o protestantismo, e tudo isso. Além disso, eu tenho uma profissão e sei que é necessário que eu tenha conhecimento nessa área. Percebo, porém, como é importante que eu não seja capturado no processo do conhecimento psicológico, e contudo não consigo abandoná-lo. Ele está sempre se esquivando; estou brincando de pregar peças com ele. É como um jogo de esconde-esconde. Está bem! Dissemos que essa é a parede que tenho de derrubar. Não, eu não — essa é a parede que tem que ser derrubada. E dissemos que ela pode ser derrubada por meio do amor e da inteligência. Não estamos pedindo uma coisa extremamente difícil?

DB: É difícil.

K: Eu estou deste lado da parede, e você está me pedindo para ter esse amor e essa inteligência que a destruirão. Mas eu não sei o que é esse amor, o que é essa inteligência, porque estou preso aqui, neste outro lado da parede. Eu percebo logicamente, de forma sensata, que o que você diz é preciso, verdadeiro, lógico, e vejo sua importância, mas a parede é tão resistente, tão dominante e poderosa que não consigo atravessá-la. Dissemos outro dia que a parede poderia ser derrubada por meio da visão intuitiva — se a visão intuitiva não for transformada numa ideia.

DB: Sim.

K: Quando a visão intuitiva é discutida, há o perigo de fazermos uma abstração dela; isso significa que nos afastamos do fato, e que a abstração se torna extremamente importante. O que quer dizer, mais uma vez, conhecimento.

DB: Sim, a atividade do conhecimento.

K: Assim, estamos novamente de volta!

DB: Penso que a dificuldade geral é que o conhecimento não está simplesmente sentado ali, como uma forma de informação, mas é extremamente ativo, reunindo e modelando todos os momentos em função do conhecimento passado. Desse modo, mesmo quando levantamos essa questão, o conhecimento fica o tempo todo à espera, e depois age. Toda a nossa tradição supõe que o conhecimento não é ativo e sim passivo. Mas na verdade ele é ativo, embora as pessoas geralmente não pensem dessa maneira. Elas acham que ele está apenas sentado ali.

K: Ele está esperando.

DB: Esperando para agir. E não importa o que tentemos fazer a respeito, o conhecimento já estará agindo. No momento em que percebermos que esse é o problema, ele já terá agido.

K: Sim. Mas será que eu o percebo como um problema, ou como uma ideia que devo executar? Percebe a diferença?

DB: O conhecimento, automaticamente, transforma tudo numa ideia, que devemos executar. Essa é a maneira global como ele é construído.

K: A maneira global como temos vivido.

DB: O conhecimento não pode fazer nada além disso.

A Eliminação do Tempo Psicológico

O que interromperá nosso vicio na formação de padrões?

KRISHNAMURTI: Gostaria de conversar com você, e talvez também com Narayan sobre o que está ocorrendo com o cérebro humano. Temos uma civilização que é altamente refinada mas, ainda assim, ao mesmo tempo bárbara, onde o egoísmo se veste com todos os tipos de roupagens espirituais. Bem no fundo, contudo, há um egoísmo aterrorizante. O cérebro do homem vem evoluindo por milênios e milênios; no entanto, atinge esse ponto divisório e destrutivo que todos conhecemos. Pergunto-me então se o cérebro humano — não um cérebro específico, mas o cérebro humano — está se deteriorando. Será que está realmente num declínio lento e constante? Ou será que é possível a alguém, durante a vida, realizar no cérebro uma total renovação frente a tudo isso; uma renovação que seja prístina, original e impoluta? Estive pensando sobre isso, e gostaria de discutir o assunto.

Penso que o cérebro humano não é um cérebro particular; não pertence a mim, nem a ninguém. Foi o próprio cérebro humano que evoluiu em milhões de anos e, nessa evolução, acumulou uma quantidade extraordinária de experiências, conhecimentos, e todas as crueldades, vulgaridades e brutalidades do egoísmo. Existe alguma possibilidade de que ele se descarte disso tudo e se transforme em outra coisa? Porque, aparentemente, o cérebro funciona através de padrões. Seja ele um padrão religioso, científico, comercial ou familiar, está sempre operando, funcionando em pequenos círculos estreitos. Esses círculos chocam-se uns com os outros, e não parece haver um fim para isso. O que, então, interromperá essa formação de padrões, de modo que não se volte a cair em padrões novos, e que, em vez disso, todo o sistema de padrões, seja ele agradável ou desagradável, seja demolido? Afinal de contas, o cérebro sofreu muitos choques, desafios, e pressões, e se ele não for capaz de se renovar ou de rejuvenescer, há muito pouca esperança. Você entende?

DAVID BOHM: Veja bem, pode ocorrer uma dificuldade. Se você está pensando na estrutura cerebral, não podemos penetrar, fisicamente, nessa estrutura.

K: Fisicamente não podemos. Sei disso, nós já discutimos o assunto. Então, o que o cérebro deve fazer? Os especialistas podem observá-lo, podem examinar o cérebro de um cadáver, mas isso não resolve o problema. Certo?

DB: Não.

K: Então o que deve um ser humano fazer, se ele sabe que não pode se transformar a partir de fora? O cientista, o especialista em cérebros e o neurologista explicam muitas coisas, mas suas explicações e investigações não solucionarão o problema.

DB: Bem, não há qualquer evidência de que possam fazê-lo.

K: Nenhuma evidência.

DB: Algumas pessoas que fazem bio-feedback acham que podem influenciar o cérebro, ligando um instrumento aos potenciais elétricos no crânio, o que lhes permite visualizá-los; pode-se também alterar o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, e outras coisas. Essas pessoas criaram a esperança de que algo podia ser feito.

K: Porém, não estão tendo sucesso.

DB: Não estão indo muito longe.

K: E não podemos esperar por esses cientistas e bio-feedbackers — desculpe! — para resolver o problema. O que faremos então?

DB: A próxima pergunta é se o cérebro pode ter consciência de sua própria estrutura.

K: Pode o cérebro ter consciência de seu próprio movimento? E pode ele, além de estar consciente de seu próprio movimento, ter energia suficiente para romper todos os padrões e afastar-se deles?

DB: Você tem de perguntar até que ponto o cérebro é livre para romper os padrões.

K: O que você quer dizer com isso?

DB: Bem, veja, se você começa afirmando que o cérebro está preso a um padrão, ele também poderia não estar.

K: Mas aparentemente está.

DB: Até onde podemos perceber. Ele pode não estar livre para escapar. Pode não ter o poder.

K: É isso o que eu disse: energia insuficiente, poder insuficiente.

DB: Sim, ele pode não ser capaz de empreender a ação necessária para sair.

K: Desse modo, ele se tornou seu próprio prisioneiro. E então? 

DB: Então, é o fim.

K: É isso o fim?

DB: Se isso for verdade, então isso é o fim. Se o cérebro não puder escapar, talvez as pessoas escolham alguma outra maneira de resolver o problema.

(...)

K: Quero discutir isso. O cérebro está constantemente ocupado com vários problemas, com a permanência, com o apego, e assim por diante. Ele está constantemente num estado de preocupação. Isso pode ser o fator central; e se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso? Se não estiver ocupado, poderá manter a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que interessa em primeiro lugar é que se o cérebro não estiver ocupado, alguém poderá pensar que ele ficará indolente.

K: Ficar preguiçoso e tudo o mais! Não quero dizer isso.

DB: Se você quer dizer não ocupado, mas ainda assim ativo... 

K: Naturalmente. É isso o que eu quero dizer.

DB: Temos então de penetrar no que é a natureza da atividade.

K: Sim. Esse cérebro está muito ocupado com conflitos, esforços, apegos, temores e prazeres. E essa ocupação dá ao cérebro sua própria energia. Se ele não estiver ocupado, tornar-se-á preguiçoso, drogado, e perderá por assim dizer, sua elasticidade? Ou poderia esse estado desocupado fornecer ao cérebro a energia necessária para romper os padrões?

DB: O que o faz dizer que isso poderia acontecer? Estivemos discutindo, em outro dia, que quando mantemos o cérebro ocupado com a atividade intelectual e o pensamento, ele não se deteriora nem encolhe.

K: Desde que esteja pensando, movendo-se, vivendo.

DB: Pensando de maneira racional; nesse caso, ele permanece forte.

K: Sim. Também é aí que eu quero chegar. Ou seja, que enquanto ele estiver funcionando, movendo-se, pensando de modo racional...

DB: ... ele permanecerá forte. Se ele começar o movimento irracional, ele colapsará. E também, se ficar preso numa rotina, ele começará a morrer.

K: Exatamente. Isso ocorrerá se o cérebro ficar preso a qualquer rotina - à rotina da meditação, ou à rotina dos padres.

DB: Ou ao dia-a-dia da vida do fazendeiro ...

K: ... do fazendeiro, etc., ele gradualmente se tornará entorpecido.

DB: Não apenas isso, mas ele também parece encolher.

K: Encolher fisicamente.

DB: Será que algumas células morrem?

K: Encolher fisicamente; e o oposto disso é a eterna ocupação com tarefas — por alguém que executa um trabalho de rotina... pensando, pensando, pensando! E acreditamos que isso também evita o encolhimento.

DB: Certamente a experiência parece comprovar isso, a partir de medições realizadas.

K: Sim, isso de fato ocorre. Exatamente.

DB: O cérebro começa a encolher numa certa idade. Isso é o que eles descobriram, assim como os músculos começam a perder sua flexibilidade quando o corpo não é usado...

K: Então, façamos bastante exercício!

DB: Bem, eles dizem para exercitarmos tanto o corpo como o cérebro. 

K: Sim. Se ele ficar preso a qualquer padrão, qualquer rotina, qualquer diretriz, ele encolherá.

DB: Vamos estudar o que o faz encolher.

K: Isso é razoavelmente simples. É a repetição.

DB: A repetição é mecânica, e de fato não usa toda a capacidade do cérebro.

K: Já se observou que as pessoas que passaram anos e anos meditando são as mais apáticas sobre a Terra. Isso, através de ampla evidência, também se aplica aos juristas e aos professores.

N: Sugeriu-se que o pensamento racional adia a senilidade. Mas o próprio pensamento racional pode, às vezes, se tornar um padrão.

DB: Talvez. O pensamento racional exercido numa área estreita poderá se tomar também uma parte do padrão.

K: Claro, claro.

DB: Mas há alguma outra maneira?

K: Podemos abordar isso.

DB: Vamos, porém, esclarecer primeiro as coisas a respeito do corpo. Veja, se alguém exercita bastante o corpo, este permanece forte, mas isso pode se tomar mecânico.

K: Sim.

DB: E conseqüentemente teria um efeito negativo.

N: E a respeito dos diversos instrumentos religiosos tradicionais — ioga, tantra, kundalini, etc.?

K: Sei. Oh, eles devem causar o encolhimento! Por causa do que está acontecendo. Tome o ioga, como exemplo. Ele não era vulgarizado, se é que posso usar essa palavra. Mantinha-se estritamente entre poucas pessoas que não estavam preocupadas com kundalini e todo o resto, estavam, isto sim, interessadas em levar uma vida moral, ética, supostamente espiritual. Veja, quero chegar à raiz disso.

DB: Penso que há algo relacionado com isso. Parece que antes o homem estava organizado em comunidades, vivia perto da natureza, e não era possível viver numa rotina.

K: Não, não era.

DB: Mas isso era completamente inseguro.

K: Estamos dizendo, então, que o próprio cérebro se torna extraordinariamente vigoroso — não ficando preso a um padrão — se ele viver num estado de incerteza? Sem se tornar neurótico!

DB: Penso que fica mais claro quando você diz sem se tornar neurótico— a certeza se transforma então numa forma de neurose. Mas preferiria que o cérebro vivesse sem ter certeza, sem exigi-la, sem reclamar um determinado conhecimento.

K: Estamos dizendo então que o conhecimento também debilita o cérebro?

DB: Sim, quando é repetitivo e se torna mecânico.

K: Mas e o conhecimento em si?

DB: Bem, temos que tomar muito cuidado com isso. Penso que o conhecimento tem uma tendência a se tornar mecânico, quer dizer, ele se torna estável, mas nós podemos estar sempre aprendendo, entende?

K: Mas aprendendo a partir de um centro, aprendendo através de um processo acumulativo!

DB: Aprendendo com algo fixo. Veja, aprendemos alguma coisa como sendo permanente, e então aprendemos a partir daí. Se nós estivéssemos aprendendo sem manter qualquer coisa permanentemente estável...

K: Aprendendo e não acrescentando. Podemos fazer isso?

DB: Sim, acho que numa certa medida temos que nos desfazer do nosso conhecimento. Veja, o conhecimento poderá ser válido até certo ponto, e então deixa de ser válido. Passa a atrapalhar. Poderíamos dizer que a nossa civilização está desmoronando por causa de excesso de conhecimento.

K: Naturalmente.
(...)

Trecho de Diálogo entre J. Krishnamurti e David Bohm, extraído do livro:
A Eliminação do Tempo Psicológico


domingo, 9 de março de 2014

A natureza interior do descontentamento


Jovem ou idoso, muitos de nós estamos descontentes apenas porque desejamos alguma coisa: mais conhecimento, um emprego melhor, um carro mais novo, um salário maior. Nosso descontentamento baseia-se no desejo "de ter mais". É somente porque desejamos algo mais que nos sentimos descontentes. Mas não estou falando sobre esse tipo de descontentamento. 

Pergunta: O descontentamento impede o pensamento claro. Como superar esse obstáculo?

Krishnamurti: Acho que você não me ouviu; provavelmente estava preocupado com sua pergunta, em como iria formulá-la. Isso é o que todos vocês estão fazendo, de maneiras diferentes. Cada um tem sua própria preocupação, e se o que eu disse não é o que gostariam de ouvir, deixam-no de lado, porque a mente de vocês está ocupada com seus problemas. Se quem fez a pergunta tivesse ouvido o que eu falei, se tivesse realmente sentido a natureza interior do descontentamento, da alegria, de ser criativo, acho que não teria feito essa pergunta.

O descontentamento impede o pensamento claro? E o que é o pensamento claro? É possível pensar com clareza se desejam conseguir alguma coisa com seu pensamento? Se sua mente está preocupada com um resultado, poderão pensar com clareza? Ou só conseguem pensar muito claramente quando não estão buscando um fim, um resultado, sem tentar ganhar algo?

E vocês conseguem pensar com clareza se se agarrarem a um preconceito, a uma crença particular — isto é, se pensarem como um hindu, um comunista ou um cristão? Certamente poderão pensar claramente apenas quando a mente não estiver acorrentada a uma ideologia — como um macaco preso a uma estaca; podem pensar muito claramente apenas quando não estão buscando resultado; podem pensar com clareza somente quando não têm preconceitos. O que tudo isso significa, na verdade, é que vocês podem pensar com clareza, simples e diretamente, quando a mente não estiver mais buscando qualquer forma de segurança; estando, portanto, livre do medo.

Então, de alguma maneira, o descontentamento impede o pensamento claro. Quando, por meio do descontentamento, vocês procuram um resultado, ou quando buscam minimizar o descontentamento, porque a mente detesta ficar perturbada e tenta a todo custo ficar calma, pacífica, então o pensamento claro não é possível. Mas, se estiverem descontentes com tudo — com seus preconceitos, suas crenças e seus medos — e não estiverem desejando um resultado, então esse mesmo descontentamento dará foco aos seus pensamentos ( não sobre um objeto em particular, ou qualquer direção específica), e todo o processo do pensamento se tornará bem simples, direto e claro.

Jovem ou idoso, muitos de nós estamos descontentes apenas porque desejamos alguma coisa: mais conhecimento, um emprego melhor, um carro mais novo, um salário maior. Nosso descontentamento baseia-se no desejo "de ter mais". É somente porque desejamos algo mais que nos sentimos descontentes. Mas não estou falando sobre esse tipo de descontentamento. É o desejo pelo "mais" que impede o pensamento claro. Se estamos descontentes não por desejarmos alguma coisa, mas por não saber o que desejamos; se estamos insatisfeitos com nosso emprego, com o dinheiro que temos, com a busca por status e poder, com a tradição, com o que temos e com o que deveríamos ter; se estamos insatisfeitos não com algo em particular, mas com tudo, então penso que esse nosso descontentamento trará clareza. Quando não aceitamos ou seguimos, mas questionamos, investigamos, aprofundamos, ocorre um insight do qual brota a criatividade, a satisfação.

Krishnamurti — Pense nisso

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O entrave

Quando tivermos passado além dos conhecimentos, então teremos o Conhecimento; a Razão foi o auxílio, a Razão é o entrave.

Quando tivermos passado além do querer, então teremos o Poder; o Esforço foi o auxílio, o Esforço é o entrave. 

Quando tivermos passado além dos prazeres, então teremos a felicidade; o Desejo foi o auxílio, o Desejo é o entrave. 

Quando tivermos passado além da individualização, então seremos as Pessoas reais; o Ego foi o auxílio, o Ego é o entrave. 

Quando tivermos passado além da humanidade, então seremos o Homem; o Animal foi o auxílio, o Animal é o entrave. 

Transforma tua razão em uma intuição ordenada; que tudo em ti seja luz. Este é teu alvo. 

Transforma teu esforço em um conhecimento igual e soberano da força da alma; que tudo em ti seja força consciente. Este é teu alvo. 

Transforma teu prazer em um êxtase igual e sem objetivo; que tudo em ti seja felicidade. Este é teu alvo. 

Transforma o indivíduo dividido na personalidade universal; que tudo em ti seja divino. Este é teu alvo. 

Transforma o animal no Pastor dos rebanhos; que tudo em ti seja Krishna. Este é teu alvo. 

- Sri Aurobindo -

(Texto extraído do livro "Sabedoria de Sri Aurobindo", Editora Shakti) 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu Pensava que Sabia Alguma Coisa

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sem autoconhecimento, não é possível ordem

Presentemente, nossa vida é bastante superficial, vazia, estúpida; e, quando uma mentalidade limitada tenta adivinhar o que é misterioso, incognoscível, o que ela cria é obviamente uma imagem de sua própria limitação. A questão, pois, é se a mente vulgar, a mente que está cheia de preocupações, de desespero, que luta ansiosamente para mudar, para tornar-se alguma coisa — se essa mente insignificante é capaz de transformar-se, de romper suas limitações, ampliar seus horizontes; pois, se disso não for capaz, é quase impossível haver sanidade. Sanidade é ordem, tanto exterior como interior; e é também muito importante a maneira de estabelecer essa ordem.

Interiormente, quase todos nos achamos em extrema desordem. Podeis ter muita cultura, conhecimentos muito bem coordenados, clareza objetiva; por fora, podemos mostrar muita firmeza, muita habilidade no argumentar, porém, interiormente, achamo-nos, quase todos, confusos e em conflito. Isso se pode observar na vida de muitos escritores talentosos. Porque têm talento e se acham em contradição consigo mesmos, sob forte pressão e tensão, produzem literaturas de todos os gêneros, mas basicamente, essa produção é obra de espíritos doentes. E, geralmente, ouso dizer, estamos confusos; não há claridade interior. Essa claridade não pode ser descoberta com a ajuda de outrem, nem por seguirmos alguma autoridade ou sistema de pensamento, antigo ou moderno. Tal claridade é ordem; e a ordem, em seu sentido fundamental, sutil, é virtude. A moralidade que a sociedade impõe não é absolutamente moralidade. A moralidade social é imoralidade, porque causa toda espécie de contradição, toda espécie de ambição e competição. A sociedade, por sua própria natureza — seja a do mundo comunista, seja a do mundo ocidental — produz, com efeito, um conformismo externo, social, a que se chama “moralidade”; mas, se a examinarmos profundamente, perceberemos que essa moralidade é imoral.

Estou falando sobre a virtude — a qual nenhuma relação tem, absolutamente, com a sociedade e sua pretensa moralidade. A virtude só pode tornar-se existente quando há, em nosso interior, ordem psicológica. Quando compreendemos a estrutura social — a estrutura psicológica da sociedade, da qual fazemos parte — nessa compreensão há ordem, e da ordem vem a virtude. Sem a virtude, não há para a mente possibilidade de clareza, sanidade; por conseguinte, a sanidade e a virtude andam juntas. Considero importantíssimo compreender isto, porque, para a maioria, a virtude se tornou muito cansativa, coisa ridícula e antiquada, sem significação, principalmente no mundo moderno.

(...) Assim como mantemos nosso quarto bem arrumado, limpo, agradável — e isso fazemos todos os dias — assim também há necessidade de ordem interna; mas, a ordem interna exige muito mais atenção, exige percebimento de tudo o que se passa na esfera íntima. A mente deve estar consciente de todos os seus pensamentos e sentimentos, de seus desejos e ânsias, patentes e secretos; dessa percepção resulta a ordem, que é virtude... A virtude não é algo contínuo, permanente. A virtude é a ordem que renasce a cada momento e, por conseguinte, nela existe liberdade, e não revolta... Revolta não é liberdade, a revolta fica dentro do padrão social; e a liberdade está fora desse padrão. O padrão ou molde da sociedade é psicológico: é inveja, avidez, ambição, os variados conflitos em que tomamos parte. Nós somos a sociedade que nós mesmos criamos; e se não estamos livres dela, não há nenhuma possibilidade de ordem. A virtude, pois, é de suma importância, porque traz a liberdade. E nós devemos ser livres; mas não é isso o que quer a maioria das pessoas. Poderão deseja liberdade política — liberdade para votar num certo político, ou liberdade nacional; mas isso não é liberdade, absolutamente.    

(...) A liberdade é coisa inteiramente diferente; e a maioria de nós não deseja a liberdade interior, no sentido profundo da palavra, porque isso significa que o indivíduo terá de ficar completamente , sem nenhum guia, nenhum sistema, sem seguir nenhuma autoridade. Para tanto, requer-se, dentro de nós, uma ordem extraordinária. Em geral, desejamos ter o amparo de alguém e, se não de uma pessoa, o amparo de uma ideia, de uma crença, de uma norma de conduta, de um padrão estabelecido pela sociedade, por certo líder ou pessoa considerada “espiritual”, ou por nós mesmos fixado.

Assim, em regra aceitamos a autoridade. E cumpre tornar bem claro, aqui, que a autoridade a que nos estamos referindo não é a autoridade da Lei do país. Referimo-nos à autoridade que seguimos por medo de nos vermos sós, medo de firmar-nos sobre nossas próprias pernas; de não contarmos com ninguém para termos uma norma de vida, de conduta, ou clareza interior. Porque essa espécie de autoridade gera o menosprezo, gera a inimizade e a divisão entre os homens. O homem que busca a verdade não reconhece autoridade nenhuma, em tempo algum, e esse estar livre da autoridade é para nós uma das coisas mais difíceis de compreender, não só no mundo Ocidental mas também no Oriente, porque pensamos que alguém pode colocar em ordem nossa vida — um salvador, um mestre, um instrutor espiritual, etc. — coisa inteiramente absurda. Só mediante a nossa própria clareza, nossa própria investigação, percebimento, atenção, começaremos a aprender todos os fatos relativos a nós mesmos; e desse aprender, dessa autocompreensão, vem a liberdade e a ordem e, por conseguinte, a virtude.

Assim, a percepção de que devemos estar inteiramente sós vem quando começamos a compreender-nos. O autoconhecimento é a base da sabedoria, e a sabedoria vem sempre só, pois não pode ser adquirida por meio de livros e de citações alheias. A sabedoria é algo que tem de ser descoberto por cada um, e não constitui um resultado do saber. O saber e a sabedoria não andam juntos. Surge a sabedoria na madureza do autoconhecimento. Sem autoconhecimento, não é possível ordem e, por conseguinte, não há virtude.

Jiddu Krishnamurti — O descobrimento do Amor

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill