Quando algum desejo vier, considere-o. Então, de repente, abandone-o.
(...) Quando algum desejo vier, considere-o. Então, de repente, abandone-o. Você sente um desejo — um desejo por sexo, um desejo por amor, um desejo por comida, qualquer coisa. Você sente um desejo: considere-o. Quando o sutra diz “considere-o”, significa não pensar a favor dele nem contra ele, apenas considere o desejo, o que ele é.
Um desejo sexual vem à mente. Você diz: “Isso é ruim”. Isso não é consideração. Ensinaram-lhe que isso é ruim; assim, você não está considerando esse desejo, você está consultando as escrituras, você está consultando o passado — os professores passados, os rishis — os sábios. Você não está considerando o próprio desejo, você está considerando alguma outra coisa. Você está considerando muitas coisas - seu condicionamento, sua criação, sua educação, sua cultura, sua civilização, sua religião - mas não o desejo.
Esse simples desejo surgiu. Não traga, à mente, o passado, a educação, o condicionamento; não traga os valores. Apenas considere esse desejo — o que ele é. Se a sua mente pudesse ser lavada completamente de tudo aquilo que lhe foi dado pela sociedade, de tudo que seus pais lhe deram — a educação, a cultura — se sua mente inteira pudesse ser lavada, o desejo por sexo surgiria. Ele surgiria, porque esse desejo não lhe foi dado pela sociedade. Esse desejo está construído internamente, biologicamente — ele está em você.
Por exemplo, se uma criança nasce e nenhuma língua lhe é ensinada, a criança não aprenderá nenhuma língua. Ela permanecerá sem linguagem. A língua é um fenômeno social; ela tem que ser ensinada. Mas... quando o momento certo chega, a criança sente o desejo sexual. Isso não é um fenômeno social, ele está construído internamente, biologicamente. O desejo virá no momento certo de maturação. Ele não é social, ele é biológico - mais profundo. Ele é construído dentro de suas células.
Devido a você ter nascido do sexo, todas as células de seu corpo são células sexuais; você se compõe de células sexuais. A menos que sua biologia possa ser lavada completamente, o desejo estará presente. Ele virá - ele já está presente.
Quando uma criança nasce, o desejo já existe, porque a criança é um subproduto de um encontro sexual. Ela vem através do sexo; todo o seu corpo é construído com células sexuais. O desejo já está ali, somente um certo tempo é necessário antes de que seu corpo se torne maduro o suficiente para sentir esse desejo, para desempenhar esse desejo. O desejo estará presente quer você tenha aprendido que o sexo é bom ou ruim, quer você tenha aprendido que o sexo é inferno ou paraíso, quer você tenha aprendido desse ou daquele jeito, a favor ou contra - porque ambos são ensinamentos.
As antigas tradições, as antigas religiões, o cristianismo principalmente, continuam pregando contra o sexo. Os novos cultos dos hippies e yippies e outros começaram o movimento oposto. Eles dizem que o sexo é bom, o sexo é extasiante, o sexo é a única coisa verdadeira no mundo. Ambos são ensinamentos. Não considere seu desejo de acordo com algum ensinamento. Simplesmente considere o desejo em sua pureza, como ele é — um fato. Não o interprete.
“Consideração”, aqui, significa não interpretar, mas simplesmente olhar para o fato como ele é. O desejo está presente: olhe para ele diretamente, imediatamente. Não traga seus pensamentos ou ideias, porque nenhum pensamento é seu e nenhuma ideia é sua. Todas as coisas foram dadas a você, toda ideia é uma coisa tomada emprestada. Nenhum pensamento é original — nenhum pensamento pode ser original. Não traga o pensamento, simplesmente olhe para o desejo, para o que ele é, como se você não soubesse nada sobre ele. Encare-o! Defronte-se com ele! É isso o que significa “considere-o”.
Quando algum desejo vier, considere-o. Apenas olhe para o fato — para aquilo que ele é. Infelizmente, isso é uma das coisa mais difíceis de se fazer. Comparado a isso, chegar à lua não é tão difícil, ou chegar ao pico do Evereste não é tão difícil. Trata-se de algo altamente complicado — chegar à lua é altamente complicado, infinitamente complicado, um fenômeno muito complexo. Mas comparado a viver com um fato da mente interna, isso não é nada, porque a mente está muito sutilmente envolvida em tudo o que você faz. Ela está sempre presente.
Olhe para a palavra... se eu digo “sexo”, no momento em que eu digo isso, você já decidiu a favor ou contra. No momento em que eu digo "sexo”, você já interpretou: “Isso não é bom. Isso é mau”. Ou: “Isso é bom”. Você interpretou inclusive a palavra.
Muitas pessoas vieram a mim quando o livro Do Sexo à Supraconsciência foi publicado. Elas vieram e disseram: “Por favor mude o título”. A simples palavra ‘sexo’ deixou-os perturbados — eles não tinham lido o livro. E aqueles que já leram o livro também dizem para mudar o título.
Por quê? A própria palavra lhe dá uma certa interpretação. A mente é tão interpretativa que se eu digo “suco de limão”, você começa a salivar. Você interpretou as palavras. Nas palavras ‘suco’, ‘de’, ‘limão’ não há nada semelhante ao limão, mas você começa a salivar. Se eu esperar uns momentos, você ficará incomodado, porque você terá de engolir. A mente interpretou; ela entrou. Mesmo com a palavra você não pode permanecer à parte, sem interpretar. Será difícil, quando o desejo surgir, permanecer à parte, permanecer apenas um observador desapaixonado, calmo e quieto, olhando para o fato, não o interpretando.
Eu digo: “Esse homem é muçulmano”. No momento em que eu digo “esse homem é muçulmano”, o hindu pensa “esse homem é ruim”. Se eu digo: “Esse homem é judeu”, o cristão decide que “esse homem não é bom”. A simples palavra ‘judeu’ e a mente cristã entra com a interpretação - a ideia tradicional, convencional, irrompe; “este” judeu não é considerado, a velha interpretação terá que ser imposta sobre “este” judeu.
Cada judeu é um judeu diferente. Cada hindu é um indivíduo diferente, único. Você não pode interpretá-lo, porque você conhece outros hindus. Você pode ter chegado à conclusão de que todos os hindus que você conheceu são ruins, mas “este” hindu não faz parte de sua experiência. Você está interpretando “este” hindu de acordo com suas experiências passadas. Não interprete; interpretação não é consideração. Consideração significa considerar este fato — absolutamente “este” fato. Permaneça com “este” fato.
Os rishis disseram que o sexo é ruim. Pode ter sido ruim para eles; você não sabe. Você tem o desejo, um desejo fresco com você. Considere-o, olhe para ele, fique atento a ele. Então, de repente, abandone-o.
Há duas partes nessa técnica. Primeira: permaneça com o fato - consciente, atento ao que está acontecendo. Quando você sente um desejo sexual, o que está acontecendo em você? Veja como você se torna exaltado. Como o seu corpo começa a tremer, como você sente uma loucura repentina arrastando-se internamente, como você se sente como se estivesse possuído por uma outra coisa. Sinta-o, considere-o. Não faça nenhum julgamento, simplesmente mova-se com o fato - o fato do desejo sexual. Não diga que ele é mau!
Se você o disser, acabou a consideração, você fechou a porta. Agora, sua face não está na direção do desejo — suas costas estão. Você se moveu para longe dele. Você perdeu um momento no qual poderia ter entrado profundamente na camada biológica do ser. Você está apegado à camada social, que é a mais superficial.
O sexo é mais profundo do que suas shastras - escrituras — porque ele é biológico. Se todas as shastras pudessem ser destruídas - e elas podem ser destruídas, muitas vezes o foram - sua interpretação estará perdida. Mas o sexo permanecerá; ele é mais profundo.
Não introduza coisas superficiais. Simplesmente considere o fato e mova-se para dentro, e sinta o que lhe está acontecendo. O que aconteceu para um certo rishi, para Maomé e Mahavira, é irrelevante. O que está acontecendo para você, neste exato momento? Neste momento vivo, o que lhe está acontecendo?
Considere-o, observe-o. E, então, a segunda parte... e essa é realmente bela. Shiva diz: Então, de repente, abandone-o.
De repente - lembre-se. Não diga: “Isso é ruim; assim,vou abandoná-lo. Eu não vou adiante com essa ideia, com esse desejo. Isso é ruim, isso é pecado; assim, eu vou parar com isso, vou reprimir”. Então, acontecerá a repressão, mas não um estado de mente meditativo. E a repressão está, na verdade, criando, através de suas próprias mãos, um ser e uma mente iludidos.
A repressão é psicológica. Você está perturbando todo o mecanismo e reprimindo as energias que irão explodir a qualquer hora. A energia está presente, você simplesmente a reprimiu. Ela não se moveu para fora, ela não se moveu para dentro, você simplesmente a reprimiu. Ela simplesmente se moveu para os lados. Ela vai esperar e se tornará pervertida, e a energia pervertida é o problema básico do homem.
As doenças psicológicas são subprodutos da energia pervertida. Então, ela tomará tais formatos, tais formas, que não são nem mesmo imagináveis e, nessas formas, ela tentará novamente ser expressa. E quando ela é expressa em uma forma pervertida, ela o conduz para uma angústia muito, muito profunda, porque não há satisfação em nenhuma forma pervertida. E você não pode permanecer pervertido, você tem de expressar. A repressão cria a perversão. Esse sutra não está relacionado com a repressão. Esse sutra não está dizendo para controlar, esse sutra não está dizendo para reprimir. O sutra diz: Então, de repente, abandone-o.
O que fazer? O desejo está presente; você considerou. Se você o considerou, não será difícil; a segunda parte será fácil. Se você não o considerou, olhe para a sua mente. Sua mente estará pensando: “Isso é bom. Se nós pudermos abandonar o desejo sexual de repente, isso é belo”. Você gostaria de fazê- lo, mas do que você gosta não é a questão. Seu gostar pode não ser “o seu” gostar, mas apenas o da sociedade. Seu gostar pode não ser de sua própria consideração, mas apenas da tradição. Primeiramente, considere; não crie nenhum “gostar” ou “não-gostar”. Apenas considere e, então, a segunda parte se torna fácil — você pode abandonar o desejo.
Como você pode abandoná-lo? Quando você considera uma coisa totalmente, isso é muito fácil; é tão fácil quanto soltar este papel de minha mão. Abandone-o... O que irá acontecer? Um desejo está presente. Você não o reprimiu e ele está se movendo para fora, ele está vindo para cima; ele agitou todo o seu ser. Na verdade, quando você considera um desejo sem interpretação, todo seu ser se tornará um desejo.
Quando o sexo estiver presente e se você não for contra ele ou a favor dele, se você não tiver nenhuma ideia quanto a ele, então, simplesmente por olhar o desejo, todo o seu ser será envolvido nele. Um simples desejo sexual se tornará uma chama. Todo o seu ser estará concentrado na chama, como se você tivesse se tornado totalmente sexual. Ele não estará somente no centro sexual, ele se espalhará por todo o seu corpo. Cada fibra de seu corpo estará vibrando. A paixão terá se tornado uma chama. Agora, abandone-o. Não lute com ele, simplesmente diga: “Eu o abandono”.
O que acontecerá? No momento em que você pode simplesmente dizer “eu abandono”, uma separação acontece. Seu corpo - seu corpo apaixonado, seu corpo preenchido com desejo sexual - e você se tornam dois. De repente, em um momento, eles são dois polos separados. O corpo está contorcido de paixão e sexo e o centro está silencioso, observando. Nenhuma luta existe, apenas uma separação - lembre-se disso. Na luta, você não está separado. Quando você está lutando, você é um com o objeto. Quando você o abandonou, você está separado. Agora você pode olhar para ele como se outra pessoa estivesse presente, não você.
Um de meus amigos esteve comigo por muitos anos. Ele era um fumante inveterado e tentou e tentou, como todo fumante, não fumar. Um dia, de repente pela manhã, ele decidia: “Agora eu não vou fumar mais”; e à noite ele estava fumando de novo. E ele se sentia culpado e se justificava e, então, por uns dias, ele não podia juntar coragem novamente para decidir não fumar. Então, ele esquecia o que tinha acontecido. Então, um dia novamente, ele dizia: “Agora, eu não vou fumar mais”; e eu apenas ria, porque isso já tinha acontecido tantas vezes...! Então, ele mesmo se tornou farto de toda a coisa - com esse fumar e, então, decidir não fumar, e esse constante círculo vicioso.
Ele se perguntava o que fazer. Ele me perguntou o que fazer; assim eu lhe disse: “Não vá contra o fumar - essa é a primeira coisa a se fazer. Fume e esteja com isso. Por sete dias, não fique contra o fumar; faça isso”.
Ele disse: “O que você está me dizendo? Eu fui contra e, mesmo assim, eu não pude deixá-lo, e você está dizendo para eu não ficar contra. Então, não há nenhuma possibilidade de deixá-lo”.
Assim, eu lhe disse: “Você tentou a atitude hostil e foi um fracasso. Agora, tente a outra - a atitude amistosa. Não fique contra durante sete dias”.
Imediatamente ele disse: “Então, eu serei capaz de abandoná-lo?”
Aí eu lhe disse: “Então, novamente... você continua inimigo dele! Não pense em abandoná-lo de forma alguma. Como pode alguém pensar em abandonar um amigo? Durante sete dias, simplesmente esqueça-se disso. Fique com ele, coopere com ele, fume tão profundamente quanto possível, tão amorosamente quanto possível. Quando você estiver fumando, simplesmente esqueça tudo, torne-se o fumar. Fique totalmente à vontade com ele, em profunda comunhão com ele. Durante sete dias, fume tanto quanto você queira e esqueça-se dessa história de abandoná-lo”.
Esses sete dias tornaram-se uma consideração. Ele pôde olhar para o fato de fumar. Ele não estava contra; assim, agora, ele podia encará-lo. Quando você é contra alguma coisa, ou contra alguém, você não pode encarar. O próprio fato de ser contra se torna uma barreira. Você não pode considerar... Como você pode considerar um inimigo? Você não pode olhar para ele, você não pode olhar em seus olhos; é difícil encará-lo. Você pode olhar profundamente somente nos olhos de alguém que você ame; então, você penetra profundamente. Do contrário, os olhos nunca podem se encontrar.
Assim, ele olhou o fato profundamente. Durante sete dias, ele o considerou. Ele não foi contra; assim, a energia estava presente, a mente estava presente e aquilo se tornou uma meditação. Ele teve que cooperar com aquilo. Ele teve que se tornar o fumante. Depois de sete dias, ele se esqueceu de me contar. Eu estava esperando que ele dissesse: “Agora, os sete dias se acabaram; e agora, como eu posso abandonar”? Ele se esqueceu completamente dos sete dias. Três semanas se passaram e, então, eu lhe perguntei: “Você se esqueceu completamente”?
Ele disse: “A experiência tem sido tão bela. Eu não quero pensar em mais nada agora. Isso é belo e, pela primeira vez, eu não estou lutando com o fato. Eu estou apenas sentindo o que está acontecendo comigo”.
Então eu lhe disse: “Sempre que você sentir o impulso para fumar, simplesmente abandone-o”. Ele não me perguntou como abandoná-lo, ele simplesmente considerou a coisa toda e a coisa toda se tornou tão infantil e não havia nenhuma luta. Assim, eu disse: “Quando você sentir novamente o impulso de fumar, considere-o: olhe para ele e abandone-o. Pegue o cigarro em sua mão, pare por um momento, então, abandone o cigarro. Deixe-o cair e enquanto o cigarro cai, deixe o impulso interno cair também”.
Ele não me perguntou como fazê-lo, porque a consideração torna a pessoa capaz — você pode fazê-lo. E se você não pode fazê-lo, lembre-se: você não considerou o fato. Então, você estava contra ele, todo o tempo pensando em como abandoná-lo. Então, você não pode abandoná-lo. Quando de repente o impulso está presente e você o abandona, toda a energia dá um salto para dentro.
A técnica é a mesma, somente a dimensão difere: Quando algum desejo vier, considere-o. Então, de repente, abandone-o.
Osho, em "O Livro dos Segredos"