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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por que a mente fez do sexo um problema?

(...)O sexo se torna um problema extraordinariamente difícil e complexo enquanto vocês não entendem a mente que pensa sobre o problema. O ato em si não pode ser um problema, mas o pensamento acerca do ato cria o problema. Vocês salvaguardam o ato; vocês levam uma vida de restrições ou favorecem o casamento. Não resta dúvida de que o problema só pode ser resolvido se vocês entenderem todo o processo e toda a estrutura do "eu" e do "meu" — minha mulher, meu marido, meu filho, minha propriedade, meu carro, minha realização, meu sucesso; e até vocês compreenderem e resolverem tudo isso, o sexo como problema vai permanecer. Enquanto vocês forem ambiciosos — politicamente, religiosamente, de qualquer maneira —, enquanto enfatizarem o eu, o pensador, o vivenciador, alimentando-o com a ambição, seja em seu nome pessoal, como indivíduo, ou e nome do país, do partido ou da ideia que denominam religião, enquanto houver essa atividade de expansão do eu, vocês terão um problema sexual.

Vocês com certeza estão se criando, se alimentando, se expandindo a si mesmos, de um lado, e, do outro, tentando se esquecer de si mesmos, perder o eu ao menos um instante. Como podem essas duas atitudes conviver uma com a outra? Logo, a vida de vocês é uma contradição: ênfase no "eu" e esquecimento do "eu". O sexo não é um problema; o problema é essa contradição na vida de vocês, contradição que não pode ser superada pela mente, visto ser a própria mente uma contradição. A contradição só pode ser compreendida quando vocês entenderem plenamente todo o processo de sua existência cotidiana. ir ao cinema, ler livros que estimulam o pensamento, revistas com fotos de pessoas seminuas, a maneira como vocês olham os outros, os olhares sub-reptícios que são lançados a vocês — todas essas coisas estão encorajando a mente, por caminhos insidiosos, a enfatizar o si-mesmo; e, ao mesmo tempo, vocês tentam ser amáveis, amorosos, ternos. Essas duas atitudes não podem conviver uma com a outra.

O homem ambicioso, em termos espirituais ou outros quaisquer, nunca pode viver sem problemas, porque os problemas só cessam quando o si-mesmo é esquecido, quando o "eu" inexiste; e esse estado de inexistência do eu não é um ato da vontade, não é uma mera reação. O sexo se torna uma reação e, quando a mente tenta resolver o problema, ela apenas o torna mais confuso, mais perturbador, mais doloroso. Por conseguinte, o ato não é o problema, mas a mente o é — a mente que diz que deve ser casta. A castidade não é da mente. A mente só pode suprimir suas próprias atividades, e a supressão não é castidade. O homem que cultiva a humildade com certeza não é humilde; ele pode dominar seu orgulho humildade, mas é um homem orgulhoso, sendo por esse motivo que procura tornar-se humilde. O orgulhoso nunca pode tornar-se humilde, a castidade não é uma coisa da mente — vocês não podem tornar-se castos. Vocês só conhecerão a castidade quando houver amor, e o amor não é da mente nem uma coisa da mente.

(...) Não podemos fazer o pensamento parar, mas o pensamento pára quando o pensador cessa, e o pensador só cessa quando há a compreensão de todo o processo. O medo vem à existência quando há divisão entre o pensador e seu pensamento; quando não há o pensador, só então não existe conflito no pensamento. O que está implícito não requer esforço para ser entendido. O pensador vem à existência mediante o pensamento; então, o pensador se põe a moldar, a controlar seus pensamentos ou a fazê-los parar. O pensador é uma entidade fictícia, é uma ilusão da mente. Quando há percepção do pensamento como fato, não é necessário pensar sobre o fato. Se há uma consciência simples, que não faz escolhas, então o que se acha implícito no fato começa a se revelar. Em consequência, termina o pensamento como fato. Nesse momento, vocês se darão conta de que os problemas que nos consomem o coração e a mente, os problemas da nossa estrutura social, podem ser resolvidos. Nesse caso, o sexo não é mais um problema, ele tem seu lugar apropriado, ele não é uma coisa impura nem uma coisa pura.

O sexo tem o seu lugar; contudo, quando a mente lhe concede o lugar predominante, ele se torna um problema. E a mente faz isso porque não pode viver sem alguma felicidade, e por isso o sexo se transforma num problema; mas quando a mente compreende todo o seu processo e cessa, isto é, quando o pensamento chega ao fim, há criação e é essa criação que nos faz felizes. Encontrarmo-nos nesse estado de criação é uma bem aventurança, pois trata-se de um esquecimento de si mesmo em que não há reação vinda do eu. Não se trata de uma resposta abstrata ao problema cotidiano do sexo — trata-se da única resposta. A mente nega o amor e, sem amor, não há castidade. É porque não existe amor que vocês tornam o sexo um problema.

Jiddu Krishnamurti — Bombaim 12 de março de 1950

domingo, 11 de agosto de 2013

Um olhar sobre o ego, o sexo e as relações

Você provou aquele estado em que não existe "ego", ainda que por alguns segundos, por um dia, ou como seja; e onde está o "ego" está o conflito, o sofrimento, a luta. Por isso, existe o constante desejo de repetição daquele estado livre do "ego". Mas, o problema central é o conflito, em diferentes níveis, e como renunciar ao "ego". Você procura a felicidade, esse estado de isenção do "ego" com todos os seus conflitos, o qual você encontra momentaneamente no ato sexual. Ou você se disciplina, luta, controla, ou mesmo, se destrói pelo refreamento; o que significa que está procurando se libertar do conflito, orque, com a cessação do conflito, há deleite. Se podemos ficar livres do conflito, temos a felicidade em todos os diferentes níveis da existência. 

O que é que faz vir o conflito? Como surge esse conflito, no seu trabalho, nas suas relações, no ensinar, em todas as coisas? Até mesmo quando você escreve um poema, até mesmo quando canta, pinta, existe conflito. Como se origina esse conflito? Ele origina-se do desejo de "vir a ser"? Você pinta, deseja expressar-se pela cor, deseja ser o melhor pintor do mundo. Estuda e se preocupa, e espera que o mundo aplauda a sua arte. Mas, sempre que há o desejo de "vir a ser" "o mais...", tem de haver conflito. É o impulso psicológico que exige "o mais..." O desejo de ser "o mais..." é psicológico; esse desejo existe quando a psique, a mente, está empenhada em "vir a ser", em procurar, em perseguir um determinado fim, um determinado resultado. Quando você deseja ser uma Mahatma, quando deseja ser um santo, quando deseja compreender, quando pratica a virtude, quando tem consciência de classe, como entidade "superior", quando se serve das suas faculdades para o seu próprio engrandecimento — tudo isso, evidentemente, é indício de uma mente interessada no "vir a ser". E, por conseguinte, tanto mais conflito há de existir. Uma mente que está à procura do "mais...", não está consciente do "que é", porquanto vive sempre no "mais" — no que lhe agradaria ser, e nunca no "que é". Enquanto você não dissolver todo o conteúdo daquele conflito, essa libertação do "ego", por meio do sexo (ou de outro fator), continuará a ser um problema medonho. 

Senhor, o "ego" não é uma entidade objetiva que se possa estudar ao microscópio, ou aprender nos livros, ou compreender por meio de citações de palavras de outros, por mais poderosas que sejam tais citações. Ele só pode ser compreendido na vida de relação. Afinal de contas, o conflito existe nas relações, seja nas relações com a propriedade, com uma ideia, com sua esposa, ou com o seu vizinho; e sem se resolver esse conflito fundamental, o apegar-nos a esta única forma de libertação, por meio do sexo, é obviamente um indício de desequilíbrio. É isso, exatamente, o que acontece conosco. Estamos desequilibrados, porque fizemos do sexo a nossa única via de fuga; e a sociedade, a chamada civilização moderna, ajuda-nos nesse sentido. Considere os anúncios, os cinemas, os gestos sugestivos, as posturas, as aparências. 

A maioria de vocês se casaram ainda muito jovens, quando ainda muito poderoso o impulso biológico. Tomaram uma esposa ou um marido, e com essa esposa ou marido vocês têm, de qualquer maneira, de passar o resto da vida. Suas relações são unicamente físicas, e tudo o mais tem de se lhe ajustar.E que acontece, então? Você é, porventura, intelectual, e sua esposa altamente sentimental. Onde está a comunhão com ela? Ou ela é muito prática e você é sonhador, vago, um tanto indiferente. Onde está o seu contato com ela? Você é "super-sexual", ela não; mas você se serve dela, porque tem seus direitos. Como pode haver comunhão entre você e ela, quando você se serve dela? Os casamentos, hoje em dia, estão baseados nessa ideia, nesse impulso; mas começam a surgir contradições e conflitos cada vez mais numerosos, na vida conjugal, e daí o divórcio. 

Esse problema, pois, requer um manejo inteligente, o que significa que temos de alterar toda a base de nossa educação, e isso requer compreensão, não só dos fatos da vida, mas da nossa existência de cada dia; requer, não apenas que se conheça e se compreenda o impulso biológico, o impulso sexual, mas também que se veja a maneira de atender a ele inteligentemente. Mas, na atualidade, não procedemos assim, não é verdade? É um assunto proibido, uma coisa secreta, de que só se fala entre quatro paredes. Na época em que o impulso é mais poderoso, e sem consideração de mais nada, juntamo-nos um ao outro para o resto da vida. Veja o que o indivíduo faz a si próprio e ao outro. 

Como pode o indivíduo intelectual harmonizar-se, comungar, com o sentimental, o pouco inteligente ou o ignorante? Que comunhão pode haver, então, além do sexo? A dificuldade de tudo isso consiste em que o preenchimento do impulso sexual, do impulso biológico, torna necessárias certas regras sociais; por isso, existem as leis relativas ao casamento. Vocês dispõem de todos os meios de possuir aquilo que lhes proporciona prazer, segurança, conforto; mas, o que dá prazer constante embota a mente. Assim como o sofrimento constante insensibiliza a mente, assim também o prazer constante murcha a mente e o coração. 

E como você pode ter amor? Positivamente, o amor não é coisa da mente. O amor não é o mero ato sexual, ou você acha que é? O amor é algo que a mente não pode, de forma nenhuma, conceber. O amor é algo que não se pode formular. E, sem amor, vocês contraem relações, sem amor vocês se casam. E depois, na vida conjugal, "vocês se ajustam um ao outro". Bela frase! Vocês se justam um ao outro, e isso, mais uma vez, é um processo intelectual, não? Ela casou-se com você, mas você é uma repulsiva massa de carnalidade, dominado por suas paixões. Ela é obrigada a conviver com você. Detesta a casa, o ambiente, o horrível de tudo isso, a sua brutalidade, mas diz: "sou casada e tenho de conformar-me com isso". Assim, como meio de autoproteção, ela cede e, com o tempo, começa a dizer "eu te amo". Veja que, quando, pelo desejo de segurança, nós nos conformamos com algo feio, esse feio começa a parecer-nos belo, visto que isso é uma forma de autoproteção; se assim não fosse, seríamos magoados, poderíamos ser totalmente destruídos. Vemos, pois, que p que era feio, horrendo, gradualmente se tornou belo. 

Tal ajustamento é, evidentemente, um processo mental. Todos os ajustamentos o são. Mas o amor, por certo, é incapaz de ajustamento. Vocês o sabem, Senhores, (não é verdade?) que, se amam alguém, não existe "ajustamento". O que há é completa fusão. É só quando não existe amor que começamos a ajustar-nos. E esse ajustamento se chama matrimônio. Daí resulta o fracasso do casamento, porque ele é a própria fonte de conflito, uma batalha entre duas pessoas. Esse problema é extraordinariamente complexo, como todos os problemas, mas esse o é mais, porque se trata de apetites e impulsos grandemente poderosos. 

Nessas condições, uma mente que está apenas a ajustar-se nunca pode ser casta. Uma mente que busca felicidade no sexo, nunca será casta. Embora haja, por momentos, nesse ato, a abdicação do "ego", o esquecimento próprio, o desejo mesmo dessa felicidade, que é produto da mente, faz a mente impura. A castidade só existe quando há amor; sem amor, não há castidade. E o amor não é coisa susceptível de cultivar-se. Só há amor quando há o completo esquecimento de si mesmo, pelo indivíduo, e para que tenha a ventura desse amor, precisa o indivíduo ficar livre, pela compreensão da vida de relação. Então, havendo o amor, tem o ato sexual significação inteiramente diferente. Esse ato não é, então, uma fuga, um hábito. O amor não é um ideal: o amor é um estado. Não pode haver amor onde há "vir a ser". Só onde está o amor está a castidade, a pureza; mas uma mente que "vem a ser" ou tenta "vir a ser" casta, não tem amor. 

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz?       

terça-feira, 30 de julho de 2013

Diálogo sobre amor, sexo, prazer e desejo

Interrogante: Vim, na verdade, com o fim de perguntar-lhe: Que é amor?

Krishnamurti: Antes de entrarmos na matéria, deve ficar-nos bem claro que a palavra não é a coisa, a descrição não é a coisa descrita, porque não há explicação, por mais extensa, por mais sutil e hábil que seja, que possa abrir o coração à imensidade do amor. Isso precisa ser compreendido, para não nos atermos às palavras; as palavras são úteis para a comunicação, mas, ao falarmos sobre uma coisa que é essencialmente “não verbal”, devemos estabelecer entre nós um estado de comunhão, de modo que ambos sintamos e percebamos a mesma coisa ao mesmo tempo, com plenitude da mente e do coração. De contrário, estaremos apenas brincando com palavras. Como considerarmos essa coisa realmente tão sutil que não pode ser alcançada pela mente? Temos de caminhar com certa cautela. Não devemos, primeiramente, ver o que ela não é?  — pois assim talvez tenhamos a possibilidade de ver o que ela é. Pela negação pode-se chegar ao positivo, mas, se tratamos meramente de perseguir o positivo, seremos levados a suposições e conclusões, que são fatores de divisão. Você está perguntando o que é o amor. Estamos dizendo que poderemos encontrá-lo quando soubermos o que ele não é Qualquer coisa produtiva de divisão, separação, não é amor, porque na divisão há conflito, luta e brutalidade.

Interrogante: O que você quer dizer com isto: divisão e separação causam luta?

Krishnamurti: O pensamento, por sua própria natureza, é divisório. É o pensamento que busca o prazer e o conserva. É o pensamento que cultiva o desejo.

Interrogante: Você pode dizer mais alguma coisa sobre o desejo?

Krishnamurti: vemos uma casa, temos a sensação de que é bela, e vem então o desejo de possuí-la e dela fruir prazer; então, nos esforçamos por adquiri-la. Tudo isso constitui o centro, e esse centro é a causa da divisão. Esse centro é o sentimento da existência de um “eu” é o sentimento de separação. Ele tem sido chamado “ego” e por outros nomes de toda espécie — “eu inferior”, em oposição à ideia de um “eu superior”. Mas, não há necessidade de complicações a esse respeito, pois se trata de uma coisa muito simples. Onde há o centro, que é o sentimento do “eu”, o qual, com suas atividades se isola a si próprio, há divisão e resistência. E tudo isso é processo do pensamento. Assim, quando você pergunta o que é o amor, deve saber que ele não faz parte desse centro. O amor não é prazer e dor, não é ódio, nem violência em qualquer forma.

Interrogante: Portanto, nesse amor a que você se refere não pode haver sexo, já que não pode haver desejo.

Krishnamurti: Por favor, não tire nenhuma conclusão. Nós estamos investigando, explorando. Qualquer conclusão ou suposição impede o aprofundar da investigação. Para responder a essa pergunta, temos também de considerar a energia do pensamento. O pensamento, como dissemos, sustenta o prazer, pensando naquilo que proporcionou prazer, cultivando a imagem, a representação dessa coisa. O pensamento engendra o prazer. O pensar no ato sexual gera luxúria, coisa muito diferente do ato sexual. O que interessa à maioria das pessoas é a paixão da luxúria. O desejar, antes e depois do ato sexual, é luxúria. Esse desejar é pensamento. Pensamento não é amor.

Interrogante: Pode haver ato sexual se não houver esse desejo nutrido pelo pensamento?

Krishnamurti: Isso você tem de descobrir por si mesmo. O sexo tem um papel importantíssimo em nossa vida, por ser, talvez, a única experiência profunda e direta que temos. Intelectual e emocionalmente, ajustamo-nos, imitamos, seguimos, obedecemos. Há dor e atrito em todas as nossas relações, exceto no ato sexual. Sendo esse ato tão diferente e tão belo, torna-se uma paizão e, por conseguinte, uma nova servidão. Essa servidão é a imperiosa necessidade que temos de sua continuação; mais uma vez, a ação do centro divisor. Vemo-nos de tal maneira cercados de restrições — intelectualmente, na família, na comunidade, pela moralidade social, pelas sanções religiosas — que só nos resta esta única relação em que há liberdade e intensidade. Daí o lhe darmos tão extraordinária importância. Mas, se houvesse liberdade em todos os sentidos, o sexo não seria aquela paixão nem o imenso problema que hoje é. Tornamos o sexo um problema porque não podemos saciar-nos dele, ou porque nos sentimos “culpados” se nos saciamos, ou porque, saciando-nos, infringimos as regras estabelecidas pela sociedade. É a sociedade velha que chama a sociedade nova de “desregrada”, porque na nova sociedade o sexo faz parte da vida. Libertando-se a mente da servidão da imitação, da autoridade, do ajustamento e das prescrições religiosas, o sexo terá o seu justo lugar e não será uma paixão insaciável. Daí se vê que a liberdade é essencial ao amor — não a liberdade da revolta, a liberdade de fazemos o que nos agrada ou de cedermos, aberta e secretamente, aos nossos desejos, porém, a liberdade que vem com a compreensão integral da estrutura e natureza do centro. A liberdade é então amor.

Interrogante: Essa liberdade não é desregramento?

Krishnamurti: Não. Desregramento é servidão. Amor não é ódio, nem ciúme, nem ambição, nem espírito de competição com o simultâneo medo ao fracasso. Não é “amor divino” nem “amor humano” — que também significa divisão. O amor não é de um ou da multidão. Havendo amor, ele é pessoal e impessoal, com e sem objeto. Ele é como o perfume de uma flor, que pode ser respirado por um só ou por todos. O que tem verdadeira importância é o perfume, e não a quem ele pertence.

Interrogante: Onde entra, nisso, o perdão?

Krishnamurti: Quando há amor, não pode haver perdão. O perdão só vem depois de termos acumulado rancor; perdoar é ressentimento. Onde não há ferida, não há necessidade de cura. É a desatenção que gera o ressentimento e o ódio e, ao nos tornarmos cônscios deles, perdoamos; o perdoar fomenta a divisão. Se você tem consciência de que está perdoando, está pecando; se está cônscio de que é tolerante, você é intolerante. Quando está cônscio de que se acha em silêncio, não há silêncio. Quando deliberadamente se propõe a amar, é violento. Enquanto houver um observador a dizer “eu sou” ou “eu não sou”, o amor não pode existir.

Interrogante: Que lugar cabe o medo, no amor?

Krishnamurti: Como você pode fazer tal pergunta? Onde existe um, o outro não existe. Quando existe amor, você pode fazer o que quiser.

Jiddu Krishnamurti — A luz que não se apaga

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O sexo implica muitas coisas, e não simplesmente o ato.

Pergunta: Dissestes que nossas necessidades essenciais são comida, roupa e morada, e que o sexo pertence ao mundo dos desejos psicológicos. Podeis dar mais explicações sobre isso?

Krishnamurti: estou certo que esta é uma pergunta cuja resposta todos aguardam com interesse! O que é o sexo? É o ato ou as imagens agradáveis, os pensamentos, as lembranças que o rodeiam? Ou é simplesmente um fato biológico? E existe lembrança, imagem, excitação, necessidade, quando existe amor — se posso empregar esta palavra sem a desvirtuar? Acho necessário compreender o fato físico, biológico. Esta é uma coisa. Todo o romantismo e excitação, o sentimento de nos termos dado inteiramente a outra pessoa, nossa identificação com ela nessa relação, o desejo de continuidade, de satisfação — tudo isso é outra coisa. Quando o que nos concerne é realmente o desejo, que papel tem o sexo e qual a sua importância? É ele uma necessidade psicológica, tanto quanto uma necessidade biológica? Requer-se um intelecto muito claro, muito penetrante, para diferenciar entre a necessidade física e a necessidade psicológica. O sexo implica muitas coisas, e não simplesmente o ato. O desejo de esquecimento de si mesmo noutra pessoa, a continuidade dessa relação, os filhos, o buscar a imortalidade através dos filhos, da esposa, do marido, da ideia de “nos darmos” a outrem, com todos os problemas do ciúme, do apego, do medo — a agonia inerente a tudo isso — é amor isso? Se não houver compreensão da necessidade, basicamente, completamente, no mais profundo de nosso ser, nos obscuros recessos de nossa consciência, então o sexo, o amor e o desejo causarão devastações em nossa vida!

Krishnamurti — 12 de setembro de 1961

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill