Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

Mostrando postagens com marcador busca. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador busca. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de abril de 2018

Somos engenhosos macacos de terno

Somos engenhosos macacos de terno

Parece-me de certa importância descobrir — cada um por si — o que está buscando. A palavra “buscar” tem extraordinária significação, não achais? Independente do significado lexicográfico, o ato de buscar implica que a pessoa se está movendo da periferia para o centro. E esse buscar, esse pesquisar, depende do temperamento de cada um, das pressões e tensões ambientes, das calamidades e angústias da vida, das numerosas tribulações de nossa existência. Todos esses fatores nos forçam a buscar. Se não houvesse pressão, desafio, calamidade, aflição, quantos dentre nós estariam buscando alguma coisa?

A palavra “buscar” subentende: “andar em volta, à procura, na esperança de achar algo” — não é? Esta manhã procurei no dicionário a palavra “searching” (buscar). Deriva de uma palavra latina, cujo sentido é “procurar, indagar, perguntar, inquirir, sondar”. E que buscamos nós? Poderemos sabê-lo? Ou trata-se de algo vago, fugidio, constantemente variável, conforme as circunstâncias, o temperamento, as idiossincrasias de cada um?

Falamos frequentemente de “buscar”, “procurar”. Que implicam estes termos? Implicam que uma pessoa se move, gradualmente, de fora para o centro, conforme suas próprias idiossincrasias, gostos, e conforme as pressões do ambiente. É coisa semelhante a percorrer lojas, uma a uma, a provar diferentes ternos até encontrar um que assente bem e agrade, e aceitá-lo, então.

Quando dizeis que estais buscando, o que realmente quereis dizer é que estais “provando” diferentes ideias, conceitos, fórmulas, passando de uma religião para outra, de um instrutor para outro, até afinal encontrardes algo que vos agrade, algo que se ajuste bem ao vosso particular temperamento, a vossas idiossincrasias. Se não vos agrada o que existe no Ocidente, voltais-vos para o Oriente, com sua velha e complexa filosofia, e onde se encontra um vasto “sortimento” de instrutores e gurus; e lá ficais atolado numa pequena “poça” de pensamento, imaginando que ali está a realidade eterna. Ou, se assim não faz, torna-se o indivíduo um católico mais fervoroso, ou adere aos existencialistas — meu Deus, quantas coisas desse gênero há por este mundo! Para mim, não há Oriente nem Ocidente; a mente humana não é oriental, nem ocidental. Não importa a origem, todas as teologias são infantilidades, como o são todas as filosofias. São invenções do homem, que, vendo-se fechado numa prisão que ele próprio construiu, crê em alguma coisa e em torno dessa crença cria uma teologia, ou “projeta” maravilhosa filosofia; e quanto mais engenhoso o filósofo ou teólogo, tanto mais “aceitável” se torna para o público, para o leitor, para o seguidor.

Pois bem; é também isto que estamos fazendo aqui? Vindes para cá e ficais duas ou três semanas ouvindo o orador. Se não vos satisfaz o que ele diz, nem corresponde ao vosso desejo, recorreis a outro instrutor, ou adotais outra filosofia, da qual extraís mais satisfação. Assim, salvo se permaneceis confinado num pequeno remanso de pensamento, continuais em movimento até um outro ano em que, talvez, voltais aqui; e, então, recomeçais tudo de novo.

Penso, pois, que é preciso compreender esse extraordinário fenômeno — ocorra ele no Ocidente ou no Oriente — que é o andar de uma coisa para outra, incessantemente buscando, perguntando, indagando, sondando. Isto é, acho que devemos perceber claramente, em nós mesmos, o que é que estamos buscando e por quê; e se há necessidade de alguma busca. Toda busca, por certo, implica movimento da periferia para o centro, das circunstâncias para a causa, das fronteiras até à origem mesma da existência. Isto é, movemo-nos de fora para dentro, esperando achar alguma coisa real, profunda, vital, sobremodo significativa. No decurso desse movimento, esforçamo-nos para praticar diferentes métodos, sistemas, torturamo-nos com disciplinas de todo gênero, de modo que, no fim da vida, estamos alquebrados, a mente quase paralisada.

Parece-me ser isso o que acontece com a maioria de nós. Movemo-nos da periferia para o centro, pois desejamos descobrir como sermos felizes, o que é a Verdade, se há Deus, algo de eterno; e, por conseguinte, vivemos lutando, ajustando-nos, imitando, seguindo, embrutecendo nossa mente e coração com disciplinas, até nada mais restar em nós de original, de verdadeiro, de real. Eis a nossa vida; e quanto maior a pressão, a dor, a brutalidade do viver, na periferia, tanto mais desejamos mover-nos em direção ao centro.

Ora, existe alguma maneira de atingir o centro imediatamente — sem essa luta infinita para alcançá-lo, e, daí, desse centro “florescer”? Entendeis minha pergunta? Há milhões de anos vimos lutando para passar do exterior para o interior, a fim de descobrirmos a realidade — e acabamos de ver o que esse mecanismo implica. Assim, digo de mim para mim, que tudo isso é absurdo. Porque torturar-me? Porque copiar, imitar, seguir? Existe alguma possibilidade de descobrirmos esse centro, de existirmos nele próprio e, de lá, “florescermos” — em vez de andarmos em sentido contrário? Porque, para mim, pelo menos, o “andar em sentido contrário” nada significa; e porque nenhuma significação tem, rejeito-o completamente. Não quero torturar-me, nem seguir ninguém. Recuso-me a ler um só livro de filosofia, ou aguçar a minha mente com argumentos sutis; ela já se tornou bastante aguçada pela ambição, pela ansiedade, pelo desespero, por todas as brutalidades da vida. E não desejo praticar mais um método, mais um sistema, ou seguir mais um guru, um mestre, um salvador — nada disso quero fazer.

Notai que estou pensando em voz alta, não apenas para mim próprio, mas para tornar claras certas coisas, de modo que vós e eu possamos estar em comunhão, em relação ao real, e não estejamos incessantemente a lutar, por meio de reação, para mover-nos de fora para dentro. Estou expressando em palavras o que talvez experimentais em raros momentos em que vos sentis fartos de tudo — de vossas igrejas, de vossos políticos, de vossos bancos, da insignificância de vossas relações no lar, da monotonia do escritório, de tantas coisas estúpidas desta vida que constituem um insulto à dignidade humana. Tendo passado vinte ou mais anos da vida frequentando diariamente o escritório, ou cozinhando e gerando filhos, um atrás do outro — havendo experimentado os prazeres e também os enfados, o prosaísmo, o desespero, inerentes a tudo isso, deveis às vezes ter perguntado a vós mesmo se não existe alguma possibilidade de atingir, subitamente, a fonte original, a verdadeira essência das coisas; e, daí, viver, funcionar, florescer, de modo que nunca necessitais ler um livro, estudar filosofia alguma, adorar qualquer imagem ou salvador, porque, para qualquer lado que olheis, encontrais aquele centro de onde parte toda a ação, todo o amor, tudo.

O fato bem óbvio é que — com a nossa avidez, nosso ciúme, nossa ânsia de posse, nosso medo, nosso sentimentalismo, nossos efêmeros prazeres, nossa satisfação pessoal — somos animais, animais altamente evoluídos. Se observamos um animal, vemos que ele tem conflitos como nós. Os macacos antropóides são ciumentos e têm seus desentendimentos conjugais. Como nós, eles se juntam em grupos — primeiro a família, depois a tribo, etc.; e, há pouco, alguém disse que esses macacos fariam tão boa figura na assembleia das Nações Unidas como qualquer ente humano! É evidente que nosso caráter, nossa devoção, nossa coragem, nosso medo, nossas guerras, nossa pretensa paz, nossas lutas, tudo procede desse fundo animal. Não precisais discutir comigo a este respeito. Os biologistas, os antropólogos o dizem — se desejais autoridades.

Ora, é possível um homem libertar-se desse fundo animal, não no fim, lenta e gradualmente, porém cortando-o de um só golpe, eliminando-o definitivamente, para que tenha então uma moral, uma ética, uma percepção da beleza totalmente distinta, separada do fundo animal? Por certo, para vivermos juntos no mundo, necessitamos de uma moralidade de conduta social; mas, atualmente, nossa moral, nossos conceitos de conduta — que constituem as fórmulas de nossa existência diária — são ainda procedentes do “animal”, — e não queremos admitir isso. Apraz-nos pensar — porque somos um pouco mais capazes, mais eficientes e inventivos do que os macacos — que por isso somos mais humanos; mas os macacos também se servem de instrumentos para apanhar coisas, têm inventividade e, portanto, é pequena a diferença entre eles e nós.

Existe, pois, essa extraordinária atividade dos animais e a atividade igualmente extraordinária da mente humana que deseja segurança, tanto no mundo físico como também interiormente — sendo isso ainda um resultado do instinto animal. E há, ao mesmo tempo, o desejo de descobrir alguma coisa verdadeira, original, um estado não contaminado, são. Ora, é possível atingir-se esse estado subitamente, sem ser necessário cultivá-lo, procurá-lo? Pois a beleza não pode ser cultivada, e muito menos o amor. Esse estado surge instantaneamente, assim como se nos depara, de repente, um panorama nunca visto. Repentinamente o vemos à nossa frente cheio de riqueza, de plenitude e de vida — e nós fazemos parte dele; e daí vivemos, atuamos, somos. Sem despender esforço, sem disciplina, controle, coação, procedentes do exterior, sem imitação, etc., atingimos subitamente a fonte da vida, as nascentes de toda a existência; e, bebendo dessa fonte, a mente viveu e vive eternamente. Isso é possível?

Compreendeis minha pergunta? Isto não é sentimentalismo nem misticismo — não é coisa para excitar-vos as emoções ou inspirar-vos, e tampouco para ser sentida intuitivamente. Nada disso. Enquanto conservamos o “fundo animal” — nossas invejas, ciúmes, desesperos — isso não é possível; as duas coisas são incompatíveis. Extinguir totalmente, de um só golpe, o fundo animal e recomeçar de maneira nova — é isso possível?

Vou mostrar-vos quanto é importante e necessário tornarmos isso possível. Se admitis o tempo — ontem, hoje e amanhã — estais, então, inevitavelmente, aprisionado no mecanismo degenerativo, porque estareis sempre contando com o amanhã, e haverá sempre um ontem a condicionar-vos o presente. Portanto, a mente, resultado de uma existência milenar, deve esquecer o tempo. Entendeis? Ela tem de desembaraçar-se completamente do tempo. Se assim não faz, permanece envolvida na rede do tempo, na luta para alcançar, “vir a ser”, “chegar”; deixa envolver-se nessa luta que só leva ao sofrimento, à aflição, ao declínio. Que fazer, então?

Desejo descobrir agora mesmo, e não depois, o que é verdadeiro. Quero estar lá! Não tenho paciência para esperar. Não preciso do tempo, nem da ideia de alcançar uma certa coisa no fim de minha vida ou ao cabo de dez mil vidas. Isso, para mim, é completamente infantil, sem maturidade. É pura invenção de minha mente, em sua indolência, confusão, desespero. Quero estar tão desperto que, ao abrir os olhos, a mente, o coração, a verdade lá esteja; e, daí, quero funcionar, atuar, viver, fruir as belezas da Terra.

Vou agora falar sobre algo que de modo nenhum pode ser copiado, imitado. Vou investigar, e espero me acompanheis nesta investigação. Mas, se apenas me seguirdes, vos perdereis no caminho.

Por maiores que sejam as diferenças de temperamento, todo movimento da margem para o centro é movimento positivo. É uma busca deliberada, uma reação que foge da margem para o centro, um movimento resultante do desejo de achar e que, por conseguinte, supõe disciplina, imitação, seguimento, obediência, prática de um sistema. Tudo isso constitui um mecanismo positivo — pelo menos é o que se costuma chamar “positivo”.

Atentai no que vou dizer, sem argumentardes mentalmente comigo e, à medida que formos progredindo, vereis o quanto é isto verdadeiro. Não estou tentando mesmerizar-vos ou impingir-vos alguma coisa, nem tampouco fazendo propaganda de espécie alguma — tudo isso é insensato.

Estamos, pois, conscientes desse mecanismo positivo, e percebemos o seu inteiro significado. Vemo-lo imediatamente, e não de maneira descuidada, desatenta, com a ideia: “Refletirei nisto amanhã”. Não há pensamento relativo ao amanhã, não há ideia de tempo intermediário. Percebemo-lo prontamente e, portanto, cessa de todo o movimento positivo. Nada se fez; não houve nenhum ato de volição, nenhuma causa, nenhuma busca deliberada e chegada a um resultado. Compreendemos a infantilidade desse movimento positivo, com seus sacerdotes — sentimos sua total futilidade. Os sacerdotes, as igrejas, as teologias — tudo se desvanece, pois vemos que esse movimento positivo da periferia para o centro nunca alcançará o centro. É o movimento exterior a querer tornar-se interior, e que, por conseguinte, permanecerá exterior. Percebemos este fato distintamente, com extraordinária clareza; e começamos, desse modo, a compreender a beleza do movimento negativo — o movimento mental negativo, que não é o oposto de positivo, porém se torna existente quando compreendemos o significado do movimento positivo. Nossa mente, pois, já não está presa ao movimento positivo e se acha, assim, num estado de negação. Isto é, percebendo — não fragmentariamente, porém completamente — o significado do movimento positivo, ela já não está em movimento, já não está agindo; consequentemente, encontra-se num estado que se pode denominar “negativo”. Entendeis? Vou expressá-lo de outra maneira.

Pessoalmente, nunca li livro nenhum sobre esta matéria. Não desejo fazê-lo, porquanto não me interessa, já que em mim mesmo vejo toda a humanidade — não no sentido místico metafórico ou simbólico, porém realmente. Eu sou vós e o mundo. Em mim está todo o tesouro do mundo, e para descobri-lo só tenho de compreender e transcender a mim mesmo. Se não me compreendo, não tenho razão de ser, não tenho nenhuma substância; sou apenas uma entidade confusa e, quanto mais busco, quanto mais estudo e sigo determinado instrutor, tanto mais me confundo.

Dependo de instrutores, de meu temperamento, de meus desejos e, por conseguinte, aumenta-se-me a confusão.

Vejo, pois, quanto é importante compreender a mim próprio, totalmente, sem esforço — isto é, sem fazer desta compreensão um problema. Para me compreender, minha mente não deve fazer nenhum movimento positivo para corrigir, ou para não corrigir o que vê. Como já acentuei, tanto a mente consciente como a inconsciente são triviais, e preciso compreender essa trivialidade; preciso compreendê-la imediatamente, de modo que o inconsciente não se ponha a fazer “manobras”, a “projetar” visões, imagens, desejos secretos, quando não lhe estou prestando atenção — o que, por sua vez, se torna um problema.

Está tudo claro?

Vejo que para compreender-me necessito de uma mente livre de influência, de motivo, uma mente imóvel, com total ausência de ação positiva. E quando, com essa clareza mental, olho a mim mesmo, basta esse olhar para dissolver a trivialidade, que sou eu.

Não estou inventando nenhuma filosofia. E, pelo amor de Deus, não interpreteis isso como alguma extravagância oriental. Não se trata de nenhuma idiossincrasia deste orador, que por acaso nasceu numa terra onde o sol é abrasador e torna a pele morena. Por causa desse calor e da indolência que ocasiona, e dada a geral pobreza, lá existem homens que se voltam para dentro e, como resultado disso, escrevem filosofias, inventam religiões, deuses, etc. Deixemo-los com suas coisas. Não é disso que estou falando; falo de uma coisa que não é oriental nem ocidental, pessoal nem impessoal — mas que é verdadeira: um estado em que nos vemos repetidamente, no qual já não somos impelidos pelo desejo de satisfação, já não necessitamos de experiências, nem as buscamos.

A esse estado ninguém pode conduzir-nos; nós é que temos de alcançá-lo, e para tanto requer-se energia. Por energia entendo a aplicação de toda a nossa atenção, sem intervir qualquer distração.

Na realidade, a distração não existe; o que chamamos “distração” nada mais é que falta de atenção. Não? Folgo de ver alguém em desacordo.

Existe mesmo tal coisa — distração? Quando estou passeando tranquilamente, eu olho as coisas que me cercam e nada do que observo é distração. Só há distração quando quero focalizar a atenção num só pensamento, com exclusão de tudo o mais. Então, minha mente vagueia para um lado e para outro, para diferentes tópicos; e, se quaisquer desses tópicos me interessam e desviam do caminho que estou seguindo, se me afastam do centro, que é meu “eu”, chamo-os distrações. Mas, se não existe esse centro, esse “eu”, se não estou percorrendo um caminho determinado, não há distração.

É muito importante compreender isso. Se com a maior clareza o compreenderdes, vereis que todo esforço de concentração, com o conflito que acarreta, desaparecerá completamente; e não haverá então distração nenhuma. No olhar o céu, no ver um lindo rosto de criança, no ouvir o ímpeto da corrente e o estridor de um avião, no observar as pessoas, os políticos, os sacerdotes, no auscultar a própria mente e coração; no estar consciente de vossas exigências e desesperos, em nada disso — do olhardes o céu ao olhardes a vós mesmo — há distração, porque cada um desses elementos faz parte de um todo. Esse todo só pode ser percebido quando há atenção completa, e nega-se a atenção total ao admitir-se a noção de distração. Oh, vede isso, por favor!

Havendo plena atenção, não considerais coisa alguma como distração. Vosso sexo, vosso ciúme, vossa ansiedade, vosso medo, vosso amor, vossa paixão — nada que olhais é distração. Tudo está na chama da atenção e, por conseguinte, nada é fragmentário. O político, o sacerdote, o ritual — tudo faz parte do todo. É no movimento positivo da mente que existe a distração, a fragmentação; mas, quando a mente nenhum movimento tem e, por conseguinte, é negativa — se posso usar esta palavra — a vida não se fragmenta. Então a nuvem no céu, a poeira da estrada, a flor à beira do caminho e os sussurros de vossos pensamentos, tudo faz parte do todo. Mas, só se pode compreender essa totalidade quando cessa o movimento positivo da mente.

Assim, pode uma pessoa ver, por si própria, que para se alcançar esse centro, essa fonte de todas as coisas, que é o Supremo, o movimento mental deve cessar — mas não torturando a mente com disciplinas, ou fazendo uma pergunta tão difícil ou fantástica — à maneira de certas seitas — que a mente emudeça com o choque. Isso é inteiramente infantil. De começo, cumpre perceber a verdade relativa a cada movimento do pensamento e sentimento; e isso só é possível quando a mente é inteiramente “negativa”, toda silêncio, quietude. Podemos fazê-lo imediatamente. É como sair de uma rota: a rota da ação positiva que o homem vem percorrendo habitualmente há milhares e milhares de anos. Podeis sair dessa rota nem nenhuma expectativa, sem nada exigir ou buscar. Mas, isso só podeis fazer ao perceberdes, em sua inteireza, o movimento do homem — não apenas o movimento de um certo homem em particular; isto é, ao perceberdes em vós mesmo o movimento do todo. Ao verdes isso, inteiramente, e de relance, — eis o que apenas tendes de fazer, — então, já estais caminhando em liberdade; e dessa liberdade vem uma ação que não paralisa a mente.

Krishnamurti, Saanen, 23 de julho de 1964,
A mente sem medo


sexta-feira, 6 de abril de 2018

Compreendendo o mecanismo do buscar


Compreendendo o mecanismo do buscar

DESEJARIA, se me é permitido, discutir convosco o problema da busca e o que significa ser "sério". Que queremos significar, quando dizemos que estamos buscando? As pessoas ditas religiosas estão supostamente em busca da verdade, de Deus. Que significa esta palavra? Não queremos a definição do dicionário, mas qual a natureza interior do buscar, o mecanismo psicológico respectivo? Acho que seria importante aprofundarmos bem esta questão; e deixai-me, mais uma vez, lembrar a todos os presentes que devem, através da descrição ou explicação verbal, "experimentar" realmente o que se está discutindo, porque do contrário a discussão muito pouco significará. Se apenas considerais estas palestras como uma coisa para ser registrada, como uma nova série de ideias, para ser acrescentada à vossa antiga série de ideias, elas nenhum valor terão.

Vejamos, pois, se nos é possível examinar juntos este problema real da busca, o que significa buscar. Pela busca, é possível achar algo novo? Porque buscamos, e que é que buscamos? Qual o motivo, o mecanismo psicológico que nos impele a buscar? Desse mecanismo ou motivo depende o que achamos. Porque procuramos a verdade, a felicidade, a paz, ou algo existente além de todas as criações mentais? Qual o impulso, o estímulo que nos impele a buscar? Sem a compreensão desse estímulo, a mera busca será muito pouco significativa, porque a coisa que estamos realmente buscando pode ser alguma espécie de satisfação sem nenhuma relação com a realidade. Mas, se pudermos descobrir todo o mecanismo desse mecanismo de busca, então é bem possível cheguemos a um ponto onde não há mais busca — e talvez seja esse o estado necessário para o aparecimento de algo novo.

Enquanto a mente está a buscar, é inevitável a luta, o esforço, baseados invariavelmente na ação da vontade; e a vontade, por mais requintada, é produto do desejo. A vontade pode ser o produto de muitos desejos integrados, ou de um único desejo, e essa vontade se expressa por meio da ação, não é certo? Quando dizeis que estais em busca da Verdade, atrás de todas as meditações e devoções e disciplinas impostas por essa busca está certamente a ação da vontade, do desejo; e quando buscamos o preenchimento do desejo, quando tentamos alcançar um estado mental tranquilo, encontrar Deus, a Verdade, ou aquele extraordinário estado de criação, começa a "seriedade".

Pode uma pessoa buscar, mas se lhe falta "seriedade", sua busca será dispersa, esporádica, desconexa. A "seriedade" acompanha sempre a busca, e é bem evidente que vos achais aqui porque sois "sérios". Numa tarde de domingo é muito agradável dar um passeio de barco, entretanto preferistes o incômodo de vir aqui, para escutar — e isso, talvez, porque sois "sérios". Descontentes com as ideias tradicionais e o habitual ponto de vista, estais a buscar, e esperais, escutando, achar algo novo. Se vos achásseis completamente satisfeitos com o que tendes, não estaríeis aqui. Por conseguinte, vossa presença nestas conferências indica que estais insatisfeitos; estais buscando alguma coisa, e vossa busca se baseia evidentemente no desejo de vos satisfazerdes, num nível mais profundo. A satisfação que estais a buscar é mais nobre, mais requintada, mas a vossa busca é ainda uma busca de satisfação. Isto é, desejamos achar a integração total do nosso ser, porque temos lido, ou ouvido, ou imaginado que esse é o único estado em que é possível a felicidade livre de perturbações, a paz eterna. Assim, tornamo-nos muito sérios, lemos, saímos à procura de filósofos, analistas, psicólogos, iogues, na esperança de encontrarmos esse estado integrado; mas o impulso, o motivo é ainda o desejo de realizar, de achar alguma espécie de satisfação, um estado mental que nunca seja perturbado.

Ora bem, se desejamos realmente investigar esta questão, a nossa investigação tem de basear-se, por certo, no pensamento negativo, que é a forma suprema do pensar. Não podemos investigar, quando nossa mente está presa a alguma diretiva ou fórmula positiva. Se aceitamos ou supomos alguma coisa, nesse caso nossa investigação é inútil. Só se pode investigar, buscar, quando há pensamento negativo, quando não seguimos nenhuma linha positiva de pensamento. Em geral, estamos convencidos de ser necessário o pensamento positivo, para que se possa descobrir o Verdadeiro. Por pensamento positivo entendo a aceitação da experiência de outros, ou nossas próprias experiências, sem compreendermos a mente condicionada que pensa. Propriamente falando, todo o nosso pensar está atualmente baseado no nosso "fundo" — a tradição, a experiência, o saber que temos acumulado. Acho que isso é bastante claro. O saber dá uma direção positiva ao nosso pensar e, seguindo essa direção positiva, esperamos encontrar a Verdade, Deus, ou o que quiserdes; mas o que realmente encontramos está baseado na experiência e no mecanismo de reconhecimento. Por certo, aquilo que é novo não pode ser reconhecido. O reconhecimento só ocorre através da memória; da experiência acumulada a que denominamos saber. Se reconhecemos uma coisa, essa coisa não é nova, e enquanto a nossa busca se basear no reconhecimento, tudo o que achamos é coisa já experimentada, procedendo portanto do "fundo", da memória. Reconheço-vos, porque já me encontrei convosco antes. Uma coisa totalmente nova não pode ser reconhecida. Deus, a Verdade, ou o que quer que seja que resulte da integração total de toda a nossa consciência, não é reconhecível, deve ser algo totalmente novo; e a própria busca desse estado implica um processo de reconhecimento, não achais?

Acho que o que estou dizendo não é tão difícil como parece. De fato, é muito simples. Quase todos desejamos achar alguma coisa — chamemo-la, por ora, Deus ou a Verdade — o que quer que isso signifique. Como podemos saber o que é a Verdade ou Deus? Sabemo-lo, ou porque temos lido a seu respeito, ou porque o experimentamos; e, quando essa experiência se apresenta, somos capazes de reconhecê-la como a Verdade, ou Deus. Esse reconhecimento só pode provir de nosso "fundo" de reconhecimento prévio, e portanto a coisa que foi reconhecida não é nova; consequentemente, não pode ser a Verdade, Deus. A coisa é o que pensamos que ela seja.

Assim, pois, estou a perguntar a mim próprio e espero estejais perguntando a vós mesmos, que coisa é essa que chamamos "busca". Já expliquei o que implica esse problema do buscar. Quando andamos de guru para guru, quando praticamos variadas disciplinas, quando sacrificamos, meditamos ou exercitamos a mente de alguma maneira, o impulso existente atrás de todo esse esforço, é o estímulo a encontrarmos alguma coisa, e o que se encontra tem de ser reconhecível, senão não poderia ser encontrado. Nessas condições, o que a mente acha só pode ser produto de seu próprio fundo, seu próprio condicionamento; e uma vez compreendido esse fato pela mente, a busca pode não ter tal significação, pode ter então um significado totalmente diferente. A mente pode então cessar de buscar, de todo — o que não significa que está aceitando o seu condicionamento, suas tribulações e misérias. Afinal de contas, foi a própria mente que criou essas misérias e quando a mente começa a compreender o seu próprio processo, é então possível realizar-se o outro estado, o que quer que ele seja, sem aquele esforço perene para "encontrar".

Agora, senhores, vamos discutir a questão. Ela representa um problema para vós, ou eu vos estou impondo este problema? Deveis ter observado quantos milhões de pessoas andam buscando, cada um seguindo determinado guru ou praticando determinado sistema de meditação; ou, ainda, andando de instrutor para instrutor, ingressando numa Sociedade, saindo dela e passando para outra, buscando incessantemente, buscando, buscando, buscando, o que naturalmente pode, afinal, tornar-se um jogo. Assim, pois, talvez já perguntastes a vós mesmos o que significa tudo isso. Ledes o Upanishads, ou o Gita, ou escutais uma palestra em que se dão certas explicações, em que se descrevem certos estados, e todos vos dizem: "Fazei isso, abandonai aquilo, e descobrireis o Eterno". Todos, num certo grau, estamos a buscar, intensamente ou de maneira moderada, e julgo importante averiguar o que significa essa busca. Podemos perguntar a nós mesmos, com toda a simplicidade e diretamente, se estamos a buscar, e, se estamos buscando, qual o móvel dessa busca?

INTERPELANTE: É a insatisfação.

KRISHNAMURTI: Estais bem certo de que isso é uma experiência vossa, e não de outra pessoa? Se for vossa própria experiência, então vossa busca está baseada no impulso dado pela insatisfação e, assim, o que fazeis, senhor?

INTERPELANTE: Andamos de guru em guru, até encontrarmos a satisfação. Mas, mesmo quando isso acontece, não sabemos o que irá acontecer no futuro. A insatisfação é nossa força propulsora, o estado em que passamos a nossa vida.

KRISHNAMURTI: E à medida que ides envelhecendo, vos ides tornando cada vez mais sério nessa busca; mas nunca investigastes se existe realmente uma coisa tal, como seja a satisfação.

INTERPELANTE: O homem está sempre sedento e deseja desalterar-se.

KRISHNAMURTI: Senhor, se continuásseis sedento depois de beber, não procuraríeis saber se é possível satisfazer a sede? E se a satisfação é apenas momentânea, porque então atribuir tanta importância aos gurus, aos sacrifícios, disciplinas, sandhanas, e tudo o mais? Porque vos fragmentais em seitas, criando conflito com vosso próximo e com a sociedade, só por causa de um efêmero conforto? Porque vos entregais ao hinduísmo, ao cristianismo, se isso só vos dá um alívio temporário? Podeis dizer: "Sei que tudo isso só dá alívio temporário, e não lhe atribuo muita importância". Mas, é verdade que, ao irdes ao vosso guru, lhe dizeis que só estais buscando um alívio temporário? Não deveis investigar a este respeito? E pode haver investigação quando o coração é obstinado? A obstinação do coração impede a investigação, não é verdade?

Comecemos daí. Se for obstinado em minha maneira de pensar — o que significa "ser positivo" — se minha mente está entregue a alguma forma de conclusão, opinião ou julgamento, estou realmente em condições de investigar? Dizeis que não. Todos concordamos, mas não está a nossa mente dominada por uma certa conclusão, uma certa experiência? A investigação, nessas condições, não só é tendenciosa mas também impossível.

Senhores, podemos conversar um pouquinho precisamente a respeito disso, devassando a nossa mente, rebuscando-lhe as profundezas, despertando, assim o autoconhecimento. Podemos averiguar se estamos dominados por alguma fórmula, conclusão ou experiência, a que nossa mente está apegada?

INTERPELANTE: Há sempre a esperança de acharmos a satisfação final.

KRISHNAMURTI: Vejamos, antes de tudo o mais, se nossa mente está entregue a uma dada experiência, uma dada conclusão ou crença, que nos está tornando obstinados, inflexíveis, no sentido profundo. Só quero começar daí, porque, como pode haver investigação, quando a mente é incapaz de ceder? Lemos o Gaita, a Bíblia, o Upanishads, tal ou tal livro, o qual deu uma certa tendência à nossa mente, uma certa conclusão a que ela ficou amarrada. Uma mente em tais condições é capaz de investigar? Não é isso que acontece com a maioria de nós, e não deve nossa mente ficar livre de todos os compromissos decorrentes de sermos hinduístas, teosofistas, católicos, ou o que mais seja, antes de podermos investigar? E porque não estamos livres dessas coisas? Quando temos compromissos e queremos investigar, não pode haver verdadeira investigação, mas tão somente uma repetição de opiniões, juízos, conclusões. Assim, nesta nossa palestra desta tarde, podemos largar todas essas conclusões?

Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se vós sois sérios, esse abandono do conhecimento, da crença, da experiência tem de efetuar-se realmente. Os mais de nós somos um tanto "sérios", quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum é seriedade. Não tem valor nenhum. O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar.

INTERPELANTE: Podemos dizer que abandonamos as nossas conclusões; entretanto, elas tornam a surgir.

KRISHNAMURTI: Sabemos que nossas mentes estão ancoradas numa conclusão? Está a mente apercebida de que se acha dominada por determinada crença? Deixai-me, senhor, expressá-lo de maneira muito simples. Morre meu filho e me sinto desolado — e eis que se me apresenta a crença na reencarnação. Esta crença encerra muitas esperanças e promessas e, portanto, a minha mente a ela se apega. Ora, essa mente é agora capaz de investigar o problema da morte, em vez de investigar, apenas, a questão da vida no além-túmulo? Pode minha mente abandonar essa conclusão? E não deve abandoná-la, se quer descobrir o que é verdadeiro — abandoná-la, mas não sob compulsão de qualquer espécie, nem esperança de recompensa, mas porque a própria investigação exige o seu abandono? Se não a abandono, não sou "sério".

Senhores e senhoras, não vos deixeis desalentar pelas minhas perguntas, que parecem tão óbvias. Se minha mente está atada à estaca da crença, da experiência ou do conhecimento, ela não pode ir muito longe; e a investigação implica que se esteja livre da estaca, não achais? Se realmente estou a buscar, então esse estado em que me acho, amarrado a uma estaca, esse estado tem de acabar-se — preciso romper as amarras, cortar a corda. Não existe, então, nenhuma questão de como cortar a corda. Quando há a percepção de que a investigação só é possível quando estamos livres de nossa obstinação, de nosso apego a uma crença, então esse próprio percebimento liberta-nos a mente.

Ora, porque não sucede isso a cada um de nós?

INTERPELANTE: É porque nos sentimos mais seguros com a corda.

KRISHNAMURTI: Exatamente, pois não? Sentis-vos mais seguros quando vossa mente está condicionada, e eis porque não há aventurar, ousar — e toda a nossa estrutura social está construída dessa maneira. Conheço todas essas respostas. Mas porque não abandonais a vossa crença? Se não o fazeis, não sois sério. Se estais realmente investigando, não dizeis: "Estou investigando, numa determinada direção e devo ser tolerante a respeito de qualquer direção diferente da que estou seguindo" — pois, quando estais realmente investigando, essa maneira de pensar desaparece completamente. Não existe então a divisão de "vosso caminho" e "meu caminho", acaba-se o místico e o oculto, são afastadas definitivamente todas as estúpidas explicações do homem que quer explorar outros homens.

INTERPELANTE: E a própria busca é afastada definitivamente? Busca de quê?

KRISHNAMURTI: Não é este o nosso problema, no momento. Estou dizendo que não pode haver investigação quando a mente tem algum apego. Quase todos dizemos que estamos buscando, e buscar significa realmente investigar; e eu estou perguntando: "podeis investigar, enquanto a vossa mente está apegada a alguma conclusão?" Obviamente, quando se vos faz tal pergunta, respondeis: "Não, naturalmente".

INTERPELANTE: Podeis imaginar o dia em que não haverá mais templos nem igrejas? E enquanto existirem igrejas e templos, podem as pessoas conservar a mente livre de peias?

KRISHNAMURTI: "As pessoas" são sempre vós e eu. Estamos falando a respeito de nós mesmos, e não "das pessoas".

INTERPELANTE: Mas podemos conservar nossa mente livre, enquanto houver igrejas?

KRISHNAMURTI: Porque não, senhor? Permitis-me dizer uma coisa? Esquecei "as pessoas", as igrejas, e os templos. Eu estou perguntando: vossa mente está agrilhoada? Vossa mente é obstinada, está apegada a alguma experiência, a alguma forma de conhecimento ou crença? Se está, neste caso é incapaz de investigação. Direis, porventura: "Estou buscando" — mas é bem evidente que não estais buscando, senhor. Como pode a mente ter liberdade de movimentos, se está presa? Dizemos que estamos a buscar, mas, na realidade, não há busca. Buscar implica estar livre de apego a qualquer fórmula, qualquer experiência, qualquer espécie de conhecimento, porque só então a mente é capaz de mover-se amplamente. É isto um fato, não? Se desejo ir a Banaras, não posso estar amarrado, preso num quarto; preciso sair do quarto e dirigir-me para lá. De maneira semelhante, vossa mente está agora presa e dizeis que estais a buscar; mas eu digo que não podeis buscar nem investigar, com a mente presa — e isso é um fato que todos reconheceis. Porque então não se liberta a mente? Se ela não o fizer, como poderemos, vós e eu, investigar juntos? E esta é a nossa dificuldade, não achais, senhores?

INTERPELANTE: Enquanto existirem igrejas e templos, será difícil nos libertarmos.

KRISHNAMURTI: Senhor, quem foi que criou as igrejas e os templos? Homens iguais a vós e a mim.

INTERPELANTE: Eles eram diferentes de mim, diferentes de nós.

KRISHNAMURTI: Vós e eu podemos não ter criado um templo externo, mas temos nossos templos interiores.

INTERPELANTE: Esta é uma concepção alta demais. É possível a qualquer ente humano buscar o "eu" interior?

KRISHNAMURTI: Parece que não nos estamos entendendo bem, infelizmente. Não se trata de buscar o "eu" interior. Estou dizendo que não há busca nenhuma, quando há apego a qualquer fórmula, qualquer experiência, qualquer espécie de conhecimento. Isto é tão óbvio! Se pensais de acordo com o catolicismo, o protestantismo, o budismo ou o hinduísmo, vossa mente, é claro, é incapaz de investigação. Ao perceberdes tal fato, porque é tão difícil à mente abandonar o seu apego e começar a investigar? Estais aqui a escutar, tentando descobrir, tentando investigar, e eu vos digo que não podeis investigar se existe qualquer espécie de apego, isto é, se a mente se acha escravizada a qualquer conclusão, qualquer fórmula, qualquer espécie de conhecimento ou experiência. Concordais que isso é perfeitamente verdadeiro e no entanto não dizeis: "Vou abandonar todo apego" — e isso indica, realmente, que não sois sérios, não é verdade? Podeis dizer que sois sérios, mas eu vos digo que esta palavra não tem valor nem significação enquanto a mente se acha atada. Podeis erguer-vos às quatro horas da madrugada, para meditar; podeis controlar vossas palavras, vossos gestos, executar todos os preceitos disciplinares, pensando serdes muito sério — mas eu digo que tudo isso são meras práticas superficiais. A mente séria é aquela que, apercebida de sua escravidão, dela se liberta e começa a investigar.

INTERPELANTE: Qual o meio de quebrar o apego a uma conclusão?

KRISHNAMURTI: Senhor, existe algum meio? Se existe, ficais apegado ao meio (risos). Vejo-vos rir, e esta é uma maneira de nos livrarmos de uma questão; mas isso não foi um simples dito espirituoso. Senhores, a liberdade não está implícita na investigação? Eis porque a liberdade está no começo, e não no fim. Quando dizeis: "Preciso submeter-me a todas estas disciplinas, a fim de me tornar livre", isso é o mesmo que dizer: "Conhecerei o estado de sobriedade, depois de me embebedar". Certo, a investigação só é possível em liberdade. A liberdade, portanto, deve estar no começo, e enquanto ela não existir, embora o que fizerdes possa ser, social e convencionalmente, uma coisa satisfatória, essa coisa é destituída de significação. Terá um certo valor para as pessoas que desejam sentir-se em segurança, mas não tem o valor do descobrimento. Ainda que tais pessoas se levantem muito cedo para submeter-se a todos os rigores da disciplina, eu digo que essas pessoas não são sérias. A seriedade está no percebimento de que a mente está amarrada a uma experiência, uma crença, e no libertar-se dessa experiência ou crença coisa que não desejais fazer. Não importa, pois, investigar isso? Do contrário, vireis aqui diariamente, todos os anos, e ficareis apenas escutando palavras, que terão muito pouca significação.

INTERPELANTE: Dizeis que a liberdade precede à investigação, mas desejamos investigar o que é liberdade.

KRISHNAMURTI: Senhor, como se pode investigar com a mente presa? Isto é um simples enunciado de razão comum, senso comum. Se vosso guru diz: "este é o caminho", e ficais preso a isso, como podeis olhar mais longe? Procurais o guru com o fim de investigar — e vos deixais prender pelas suas palavras, hipnotizar pela sua personalidade, e acabais emaranhado nas coisas que ele preconiza. Vosso impulso primitivo é de investigar, mas esse impulso está baseado no desejo de achardes uma esperança ou satisfação, ou seja o que for. Por isso, digo que, para investigar há necessidade, em primeiro lugar, de liberdade. Estou mudando a direção do vosso processo de pensar, que é evidentemente falso, ainda que os livros sagrados digam o contrário.

INTERPELANTE: Que virá após a investigação?

KRISHNAMURTI: Aí está uma pergunta puramente intelectual, se me permitis dizê-lo. Não estais vendo? Desejais saber o que acontecerá "depois", e isso é de ordem teórica. A mente se apraz em fabricar palavras, especular. Eu respondo: vós o descobrireis. — É o mesmo que um prisioneiro perguntar: "Como há de ser, depois que eu sair da prisão?" Para sabê-lo, ele terá de deixar a prisão.

INTERPELANTE: Os que estamos sentados aqui, neste salão, somos aderentes de vários cultos, credos e crenças, e estamos escutando o que estais dizendo, muito embora não o estejamos compreendendo realmente. O que dizeis é novo para a maioria de nós, nunca o ouvimos antes, e conquanto sejam sons agradáveis aos nossos ouvidos, somos incapazes de compreendê-lo. Que é que faz as pessoas ficarem sentadas e quietas durante uma hora inteira, a escutar com toda a seriedade coisas que estão fora de seu alcance? Isso, em si, não é uma forma de investigação, significando que a mente não se acha de fato presa a uma conclusão? Se a mente estivesse presa a uma conclusão, não haveria esse desejo de encontrar um modo de vida diferente, e estas pessoas não viriam aqui ou, pura e simplesmente, tapariam os ouvidos. No entanto, elas vêm e ficam a escutar-vos com muito interesse. Não indica isso uma certa liberdade, para investigar?

KRISHNAMURTI: Que é que vos está fazendo escutar, senhores? Que vos faz ouvir a alguém que diz coisas completamente contrárias a tudo o que credes e a tudo o que vos é caro? É sua personalidade, sua fama, a propaganda espalhafatosa, o barulho que se faz ao redor dele? É isso que vos faz escutar? Se é, então o vosso escutar tem muito pouca significação. Que é, pois, que vos está fazendo escutar? Talvez seja o fato de vos verdes em presença de algo que acontece ser verdadeiro, e apesar de vos achardes presos, não podeis deixar de escutá-lo; todavia, retornareis ao vosso estado condicionado. É isso que vos está fazendo escutar? Ou estais escutando realmente? Entendeis? Estais escutando realmente, ou acontece que já vos habituastes a ficar sentados e quietos, quando alguém fala, porque gostais de ser prelecionados?

Estas não são perguntas vãs. Eu estou realmente procurando averiguar por que razão, quando se diz uma coisa verdadeira, não há reação imediata. Esta é a verdadeira pergunta que estou fazendo. Dizeis, ou eu digo, que não pode haver investigação sem liberdade, o que, evidentemente, é verdadeiro; é um fato, não importa quem seja a pessoa que o enuncia. Ora, por que razão esse fato não produz uma reação imediata, incisiva? Ou tem esse fato uma certa ação misteriosa, peculiar, que não pode exteriorizar-se imediatamente? Alguém expressou o fato de que, para a investigação, é necessária a liberdade, não se pode estar amarrado — e vós escutastes esse fato. Ainda que o tenhais escutado parcialmente, apenas, o fato lançou raízes na vossa mente, porque tem uma certa vitalidade; a semente brotará, não dentro de um certo período, mas brotará, e talvez por isso seja importante prestar ouvidos aos fatos, não importa se voluntariamente, conscientemente, ou se apenas distraidamente. Mas tal é, justamente, o caráter da propaganda. Repete-se constantemente: "Compre tal sabonete"... e acabais comprando. É isto que está acontecendo aqui? Se ouvis repetir constantemente um certo fato e dentro de certo tempo começais a proceder de acordo com o fato, esse procedimento é completamente diferente da ação própria do fato.

Senhores, são horas de parar. Não vos pedirei refletir sobre estas coisas, porque apenas refletir sobre elas é sem significação; mas se desejais realmente investigar a fundo este problema do buscar e o que significa "ser sério", neste caso a mente terá de descobrir a maneira de investigar, e descobrir o que é investigação. Qualquer suposição, qualquer conclusão, qualquer apego ao conhecimento ou à experiência, é um empecilho à investigação. Enquanto a mente está presa a uma certa conclusão, toda investigação representa uma luta ingente, um processo de esforço, atrito, ruptura. Mas se a mente percebe que só pode haver investigação quando há liberdade, tem então a investigação um significado todo diferente. Se se percebe isso claramente, nunca mais se será escravo de nenhum guru, nenhuma fórmula, nenhuma crença. Então vós e eu podemos combinar as nossas investigações e, como resultado disso, cooperar, agir, viver. Mas enquanto a nossa mente estiver presa, terá de haver "vosso caminho" e "meu caminho", "vossa opinião" e "minha opinião", "vossa senda" e "minha senda", e todas as demais divisões e subdivisões que se põem entre um homem e outro homem.

Krishnamurti, Segunda Conferência em Benares, 18 de dezembro de 1955
Da Solidão à Plenitude Humana


domingo, 6 de setembro de 2015

Quem decide quem será um buscador?

"Senhor Krishna falou: “Dentre milhares de pessoas raramente há uma que busca a Mim, e dentre essas que estão buscando, raramente uma Me conhece em princípio”.

Agora, quem decide quem será um buscador? De fato, a própria busca é a vontade de Deus, a graça de Deus. Você pensa que você é o buscador buscando Deus, mas a busca não foi escolha sua. Você pode dizer que você tem sorte ou é afortunado pela Fonte, ou por Deus, por ter sido decidido que a busca iria começar neste organismo corpo-mente. Então a busca não começou porque você decidiu num certo momento, “a partir de amanhã buscarei a verdade”.

Na verdade a busca aconteceu a despeito de você. A busca começa com a pessoa pensando, “estou buscando Deus, ou a iluminação, ou a paz”. A busca começa com a pessoa pensando que ela está fazendo a busca e a busca só pode terminar quando houver a realização de que nunca houve um buscador. A busca é a graça de Deus, e a Realização é a graça de Deus, ou a vontade da Fonte.

A busca começa com o individuo pensando que ele é o buscador e não pode acabar até que haja uma firme realização de que nunca houve um buscador. Realmente, nunca houve um pensador, o pensar estava acontecendo; nunca houve um fazedor, as ações estavam acontecendo; nunca houve um experimentador, experimentação estava acontecendo. O pensar, o fazer, o experimentar são parte do funcionamento da manifestação que pode apenas acontecer através de um organismo corpo-mente.

Por que a busca por Deus aconteceu neste organismo corpo-mente, enquanto que no outro a busca é por dinheiro? Ele busca apenas dinheiro e pensa que você está louco procurando por algo no ar e que você seria muito mais feliz se buscasse dinheiro, fama ou poder.

Agora, por que a busca por dinheiro está acontecendo através de um organismo corpo-mente, e por que a busca por Deus ou pela Verdade está acontecendo através do outro? Isso é o que chamo de vontade de Deus ou intenção da Fonte.

O ponto todo é que toda pergunta é feita pelo ego. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego quer atingir a iluminação. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego é o buscador. Portanto a busca está acontecendo através de um ego particular, e o ego (através do qual a busca está acontecendo) não escolheu fazer isso. Se ele soubesse a miséria que a busca é, ele teria escolhido não buscar. Então a busca é algo que está acontecendo e você não escolheu buscar. Isso é a base do que estou falando.

Esse “um dentre milhares” que o senhor Krishna está falando sobre, não escolheu ser um buscador – a busca aconteceu.

A Fonte iniciou a busca e ao fazer isso iniciou o curso da destruição do ego – que é o que o Ramana Maharshi disse: “Sua cabeça já está na boca do tigre. Não tem escapatória”. Significando que a Fonte iniciou o processo de destruir o ego e é apenas a fonte que pode fazer isso.

Então o ponto fundamental é que a Fonte criou o ego e a Fonte está no processo de destruir o ego num organismo corpo-mente particular. Portanto o ego não tem nada a ver com isso. O ego está no processo de ser destruído.

Essa é a aceitação principal. Portanto se o ego está no processo de ser destruído, então como o ego pode buscar sua própria destruição? E é isso o que está acontecendo, não é?"

Ramesh Balsekar em, Counsciousness Speaks

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Existe algo além da medida das palavras e do pensamento?

O homem procura algo para além do transitório. provavelmente desde tempos imemoriais, tem perguntado a si próprio se há alguma coisa que seja sagrada, alguma coisa que não pertença a este mundo, que não seja arquitetada pelo pensamento, pelo intelecto. Tem sempre querido saber se haverá uma realidade, um estado intemporal não inventado, não projetado pelo pensamento, um estado da mente em que o tempo realmente não existe; se haverá algo "divino", "sagrado", "santo" — se podemos usar essas palavras — que não seja perecível. 

As religiões organizadas parecem ter dado a resposta. Dizem que existe uma Realidade, que há um Deus, que há algo que a mente não é capaz de medir. Começam então a organizar o que consideram ser o real, e o homem é desviado para o caminho errado. Talvez vocês se lembrem da história acerca do Diabo, que andava a passear com um amigo. Viram um homem à sua frente inclinar-se e apanhar alguma coisa do chão. Quando a apanhou e a olhou, tinha no rosto uma grande alegria. O amigo do Diabo perguntou a este o que é que o homem apanhara e o Diabo respondeu: "Foi a verdade." O amigo disse: "Isto é muito mau para você, não é?" E o Diabo respondeu: "De modo nenhum, vou ajudá-lo a organizá-la..."

O culto de uma imagem, criada pelas mãos ou pela mente, e os dogmas e rituais da religião organizada, com o eu sentido de beleza, são considerados muito veneráveis e sagrados. Assim o homem, na sua busca daquilo que está além de toda a medida, para além de todo o tempo, é iludido, logrado e aprisionado, porque está sempre na esperança de encontrar algo que não seja inteiramente deste mundo. Afinal, que é que as sociedades tradicionais, burocráticas, capitalistas ou comunistas, têm realmente para oferecer? Muito pouco além de alimentação, habitação e vestuário. Talvez se possam ter mais oportunidades para trabalhar ou se possa ganhar mais dinheiro, mas no aspecto mais profundo, quando se observa, essas sociedades têm muito pouco para dar; e a mente, se é de fato inteligente e acordada, recusa isto. Fisiologicamente, alimentação, habitação e vestuário são necessários, absolutamente essenciais. Mas quando isso se torna o mais importante, a vida perde então o seu maravilhoso sentido. 

Assim, valeria a pena, esta tarde, gastarmos algum tempo a descobrir por nós mesmos se há realmente algo sagrado, algo não construído pelo pensamento, pelas circunstâncias, que não seja resultado da propaganda.

Valeria a pena, se possível, aprofundar esta questão, porque, a não ser que se encontre algo que esteja para além da medida das palavras, do pensamento, de qualquer experiência, a vida de todos os dias torna-se extremamente superficial. Talvez seja por isso — mas também pode ser que não — que a geração presente recusa esta sociedade e procura algo para além da luta, da fealdade e da desumanidade quotidianas. 

Podemos então penetrar no problema: "Que é uma mente religiosa? Qual é o estado da mente capaz de ver o que é a verdade?"(...)

Krishnamurti em, O mundo somos nós

sábado, 13 de dezembro de 2014

Do surgimento de um estado de ausência de ego

A mente medíocre está interessada no exterior. O exterior é intrigante, maravilhoso, digno de ser explorado. Assim, o exploramos para o dinheiro, para o prestígio e outras coisas, e então um dia, quando estivermos saturados com as chamadas coisas mundanas e começarmos a procurar novamente por um Mestre, por Buda, por Cristo... ainda no exterior! Começamos a procurar pelo caminho, mas ainda fora. E o Buda e o caminho não são encontrados do lado de fora.

Procurar na parte externa é se afastar mais e mais do caminho, pois o caminho está dentro de nós, o Buda está no interior. 

(...) Se você puder descobrir somente uma coisa dentre todos os tipos de frustrações — que não há nada a ser encontrado no exterior, absolutamente nada — e ao perceber e se dar conta disso você se voltar para dentro, então sua própria mente é toda a coisa, então dentro de você está tudo: E, buscando, você entrará em sua própria mente.

Logo, à medida que você for mais fundo em sua própria mente, você penetrará da mente para a não-mente. A camada superficial é da mente, mas o conteúdo interior é da não-mente. A camada superficial é do ego, o conteúdo interior é a ausência de ego. Se você entrar, primeiro você deparará com a mente, com os pensamentos, desejos, fantasias, imaginações, memórias, sonhos e todas essas coisas. Porém, se você continuar a penetrar, logo chegará a espaços silenciosos, sem pensamento. Logo você começará a chegar mais e mais perto do âmago do seu ser, o qual é atemporal e está em lugar nenhum, o qual não tem tempo nem espaço. 

Quando você alcançar um ponto em que não se pode perceber nenhum tempo ou espaço, você chegou. Contudo esta chegada é voltar à sua própria natureza. Você não chegou a algo novo, mas àquilo que já foi dado e sempre foi seu. 

(...) E quando você atingir este ponto poderá entender que não há necessidade de fazer coisa alguma — tudo está acontecendo —, que nunca houve necessidade de fazer coisa alguma, que tudo já estava acontecendo. Você estava desnecessariamente preocupado e carregava todos aqueles pesos, porque você era ignorante. Quanto ao mais, as coisas estavam acontecendo. 

O mundo está girando muito suave, bela e perfeitamente; todavia, porque pensamos que estamos separados dele, surge o problema: "Como levar nossas vidas?" Se você sabe que é parte dele, não há necessidade de se preocupar. Este cosmo, um cosmo tão infinito, funcionando tão perfeitamente bem — você não pode permanecer nele sem nenhuma preocupação?  Porém a separação está presente.

Você tomou uma coisa como certa: que você está separado. Ao penetrar fundo no interior, essa separação desaparece. 

Este é o significado quando digo: "Surge o estado de ausência de ego". Ego significa separação, significa: "Estou separado do todo". Ego significa que a parte está reivindicando ser o todo por conta própria: "Tenho meu próprio centro e tenho de sobreviver, lutar e batalhar por mim mesmo. Se eu não lutar por mim mesmo, quem irá lutar? Se eu não tentar sobreviver, serei assassinado". 

A insegurança surge devido ao ego. Quando o ego se vai, existe simplesmente segurança. Na verdade, não existe insegurança ou segurança; todas as dualidades desaparecem. Viver nisso é viver nirvana, é viver iluminação.

(...) Olhe para dentro! Você já olhou para fora o bastante, já procurou fora o bastante. (...) é hora, é a hora certa de olhar para dentro.  Você se tornou muito artificial, muito antinatural.

Deixe-me apresentá-lo a você mesmo... torne-se novamente familiarizado com quem você é. E um único vislumbre transforma, e transforma para sempre.

E de novo eu gostaria de repetir: esta transformação não é algo especial — ela é muito normal, pois é apenas a sua natureza. Bata e a porta lhe será aberta, peça e lhe será dado, procure e encontrará...

O S H O 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O que devemos fazer em momentos de conflito?

Teórica ou verbalmente, pode-se convir em que é muito importante que o indivíduo se desprenda do coletivo, mas parece-me que não se dispensa atenção suficiente a este problema; porque, só quando ocorre a criadora libertação do indivíduo existe a possibilidade de descobrir e viver uma vida totalmente diferente da que atualmente vivemos. Na atualidade, nossa vida, nosso, pensar é coletivo; fazemos parte do coletivo; e se se deseja criar uma sociedade de ordem diferente com valores diferentes, acho que é necessário o indivíduo começar a compreender todas as impressões coletivas que a mente acumulou através dos séculos. E, como disse, só quando existe liberdade exatamente no começo, pode o indivíduo libertar-se. Não se pode negar que quase todos nós somos resultado do ambiente; nossos pensamentos, atividades, crenças, nossos vários interesses, tudo está condicionado pelas numerosas influências existentes ao redor de nós; e para descobrir o que é a verdade, o indivíduo tem de libertar a mente desse conglomerado de influências, tarefa essa extremamente árdua e difícil. Não me parece que estamos dando atenção suficiente a este assunto. Mas é só quando a mente se liberta dessas muitas influências, que se torna incorrupta, e só então existe a possibilidade de descobrir algo inteiramente novo — algo que não foi premeditado, que não é uma autoprojeção, nem resultado de qualquer meio cultural, sociedade ou religião. 

Propaganda é cultivo de preconceitos; e todos nós somos dominados por preconceitos, porque fomos educados para aceitar ou rejeitar, porém nunca para investigar o problema da influência. Dizemos estar em busca da verdade; mas o que é que a maioria de nós está buscando? Se você ficar um pouco vigilante, a auto-observação revelará que está buscando um certo resultado; você deseja uma certa satisfação, uma estabilidade ou permanência interior, que você chama de diferentes nomes, conforme o ambiente em que foi criado. E você não está buscando sucesso? Você deseja sucesso, não só neste mundo mas também no outro. Quer-me parecer que esse desejo de sucesso, de chegar a alguma parte, de tornar-se algo, é resultado de educação errônea. E pode a mente libertar-se totalmente desse desejo? 

Não me parece que costumamos fazer esta pergunta a nós mesmos, porquanto o que nos interessa é, tão-só, seguir um método, um sistema ou um ideal, que esperamos produzirá um resultado, nos  conduzirá à certeza, ao sucesso, à final e permanente felicidade, bem-aventurança, ou seja o que for. Nossa mente, por conseguinte, está sempre empenhada no esforço para alcançar algo; e enquanto a mente estiver visando um alvo, um fim, um resultado que lhe dê satisfação completa, será inevitável a criação da autoridade e a obediência a ela. Não é exato isso? Enquanto penso que a bem-aventurança, a felicidade, Deus, a Verdade, ou o que quiser, é um fim que se deve alcançar, haverá o desejo de alcançá-lo; portanto, preciso de um guru, uma autoridade que me ajude a conseguir o que ambiciono. Por conseguinte, me torno um seguidor, dependente de outra pessoa; e enquanto houver dependência, não se pode pensar na possibilidade de o indivíduo desligar-se do coletivo e encontrar por si mesmo a Verdade, ou descobrir qual é a coisa correta que cumpre fazer. 

Assim, se observar, verá que estamos sempre procurando alguém que nos indique o que devemos fazer. Vendo-nos confusos, dirigimo-nos a outro, em busca de conselho. O resultado é que estamos sempre a seguir e, portanto, psicologicamente, instaurando a autoridade, a qual, invariavelmente, cega-nos o pensar, impedindo-nos a tão essencial ação criadora

Exteriormente, nesta sociedade de competição, aquisição, temos de ser ambiciosos, cruéis, para não sermos expulsos ou exterminados. Interiormente, isto é, psicologicamente, somos também ambiciosos; aí também está o desejo de atingirmos uma certa culminância e, assim, vivemos a perseguir um objetico, de nós mesmos "projetado" ou criado por outro. Percebido esse fato, o que se deve fazer? Como descobrir a ação correta? 

Positivamente, este problema concerne a todos nós. Vemos que há confusão dentro de nós e ao redor de nós; os velhos valores e crença e dogmas, os guias que temos seguido, não mais nos satisfazem, perderam toda a sua força; e se percebemos esse caos em que nos encontramos, o que devemos fazer?Como descobrir qual é a ação correta? Para penetrarmos este problema, temos de perguntar a nós mesmos o que entendemos por "busca", não acha? Todos dizemos que estamos buscando — pelo menos o dizem os que sentem verdadeiro interesse e empenho; mas antes de prosseguirmos em nossa busca, por certo devemos descobrir o que entendemos por essa palavra e o que é que cada um de nós está buscando. 

Senhor, pode-se encontrar alguma coisa nova mediante a busca? Ou só se pode achar, nessa busca, o que já se conheceu antes e que foi "projetado" no futuro? Acho muito importante essa questão. O que é que estamos buscando? E pode a mente que está buscando, encontrar alguma coisa que transcende o tempo, que transcende suas próprias projeções? Isto é, digo que estou buscando a verdade, Deus, a felicidade; mas para achar isso, preciso ser capaz de reconhece-lo, não é verdade? E para ser capaz de reconhece-lo, preciso te-lo experimentado antes. A experiência anterior é indispensável ao reconhecimento e, portanto, se sou capaz de reconhecer uma coisa, ela já existia em minha mente e, por conseguinte, não pode ser a Verdade; é apenas uma "projeção", uma coisa saída de mim mesmo. Todavia, é isso o que está fazendo a maioria de nós. Quando buscamos, estamos a demandar uma coisa já experimentada pela mente e que ela quer de novo agarrar; por conseguinte, o que verdadeiramente nos interessa é a permanência de uma experiência que nos deu prazer, que nos deleitou. Enquanto a mente estiver buscando, é bem evidente que não poderá descobrir o que é a Verdade. Só quando já não está buscando — e isso não significa tornar-se embotada, distraída — e compreende o total "processo" da busca, é só então que se encontra a possibilidade de descobrir algo que não foi "projetado", avaliado pela mente. 

Por exemplo, você lê no Gita ou no Upanishads a descrição de uma certa coisa que é permanente, de uma perene bem-aventurança, ou o que quer que seja; e porque esta nossa vida é transitória, porque o seu pensar, as suas atividades, as suas relações se acham num estado de confusão, transtornando-lhe, tornado-lhe infeliz, você começa a aspirar àquele outro estado, a cujo respeito você leu. É isso o que está buscando. Na busca desse estado, você está cultivando a aceitação da autoridade, colocando-se na dependência de alguém que promete levar-lhe àquilo que você ambiciona. Por conseguinte, você se torna um seguidor; e enquanto um homem está seguindo, é parte integrante do coletivo, da massa. Você já reconheceu, já fixou na mente uma imagem daquele outro estado e agora o está buscando, apoiado num guru, na meditação, na prática de várias disciplinas, etc. O que você está realmente buscando é uma coisa que você já conhece, ou que lhe ensinaram, um estado a cujo respeito você leu alguma coisa ou que vagamente experimentou; a sua busca, pois, visa à continuação de uma experiência aprazível, ou ao descobrimento de um estado deleitável que, esperançosamente, você supõem existir. Não é exato isso? Eu lhe digo que esta busca nunca lhe revelará o desconhecido; ela, portanto, tem de cessar. 

(...) Nossa vida, como vivemos atualmente, é contraditória, superficial, vazia, e nos vemos muito confusos. Andamos de guru para outro, de um livro para outro; ao redor de nós se movimentam os especialistas disso que chamamos espiritualidade, cada um deles oferecendo um método especial de meditação, de disciplina; e nos vemos obrigados a escolher o que é "correto" fazer. Mas, onde há escolha, há sempre confusão; e eu acho que, antes de começarmos a escolher, buscar, é absolutamente necessário que descubramos por nós mesmos o que é liberdade. Porque só a mente livre é capaz de investigar, e não a mente que está aprisionada na tradição, que está condicionada, influenciada; nem aquela que busca um resultado; nem aquela que está toda entregue à atividade, no presente, em relação com o futuro "projetado". 

(...) Cumpre-nos, pois, investigar quais são as pressões, os "motivos" que estão nos impelindo a agir desta ou daquela maneira; porque, a menos que compreendamos tais influências e delas nos libertemos, a nossa ação levará, invariavelmente, à confusão e a sofrimentos ainda piores. Eis porque razão é tão importante possuir autoconhecimento, que consiste em compreender o fundo, o condicionamento da mente, e dele libertar-se a todos os momentos. Você deve saber que, quando estamos interessados apenas na ação imediata, somos por ela arrastados, sem termos investigado o problema do condicionamento, de como a mente foi moldada para ser hinduísta, cristão, etc. E, a menos que a mente se liberte a cada momento de seu condicionamento, toda ação que empreender há de ser desintegradora e produtora de mais caos. O que interessa, portanto, não é escolhermos tal ou qual norma de ação, mas, sim, compreendermos como a mente está condicionada. Porque, do libertar da mente de seu condicionamento resulta uma ação sã, racional, inteligente. 

O importante, por conseguinte, é descobrirmos, por nós mesmos, o que cada um de nós está buscando e se o que buscamos tem valia ou se representa apenas uma fuga. É de toda necessidade possuir o autoconhecimento — conhecer a si mesmo, não como Atman, etc., porém, saber, cada um, o que ele próprio é, de dia em dia; e isso significa observar o seu próprio modo de pensar, as influências que lhe servem de base ao pensar, e estar cônscio dos movimentos conscientes e inconscientes da mente. Então, a mente é capaz de tornar-se muito tranquila; e só nessa tranquilidade é possível acontecer algo real

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Não pode haver investigação sem liberdade

O que é que está lhe fazendo escutar, senhor? O que lhe faz ouvir a alguém que diz coisas completamente contrárias a tudo que você acredita e a tudo o que lhe é claro? É sua personalidade, sua fama, a propaganda espalhafatosa, o barulho que se faz ao redor dele? É isso que lhe faz escutar? Se é, então a sua escuta tem pouquíssima significação. O que é, pois, que está lhe fazendo escutar? Talvez seja o fato de você se ver em presença de algo que acontece ser verdadeiro, e apesar de você se achar preso, não pode deixar de escutá-lo; todavia, você retornará ao seu estado condicionado. É isso o que está lhe fazendo escutar? Ou você está realmente escutando? Entende? Você está escutando realmente, ou acontece que você já se acostumou a ficar sentado e quieto, quando alguém fala, porque gosta de ser prelecionado? 

Estas não são perguntas vãs. Eu estou realmente procurando averiguar por que razão, quando se diz uma coisa verdadeira, não há reação imediata. Esta é a verdadeira pergunta que estou fazendo. Você diz, ou eu digo, que não pode haver investigação sem liberdade, oque, evidentemente, é verdadeiro; é um fato, não importa quem seja a pessoa que o enuncia. Ora, por que razão esse fato não produz uma reação imediata, incisiva? Ou têm esse fato uma certa ação misteriosa, peculiar, que não pode exteriorizar-se imediatamente? Alguém expressou o fato de que, para a investigação, é necessária a liberdade, não se pode estar amarrado — e você escutou esse fato. Ainda que o tenha escutado parcialmente, apenas, o fato lançou raízes na sua mente, porque tem uma certa vitalidade; a semente brotará, não dentro de um certo período, mas brotará, e talvez por isso seja importante prestar ouvidos aos fatos, não importa se voluntariamente, conscientemente, ou apenas distraidamente. Mas tal é, justamente, o caráter da propaganda. Repete-se constantemente: "Compre tal sabonete"... e você acaba comprando. É isto o que está acontecendo aqui? Se você ouve repetir constantemente um certo fato e dentro de certo tempo começa a proceder de acordo com o fato, esse procedimento é completamente diferente da ação própria do fato. 

Senhor, é hora de parar. Não lhe pedirei para refletir sobre estas coisas, porque apenas refletir sobre elas é sem significação; mas se deseja realmente investigar a fundo este problema do buscar e o que significa "ser sério", neste caso a mente terá de descobrir a maneira de investigar, e descobrir o que é investigação. Qualquer suposição, qualquer conclusão, qualquer apego ao conhecimento ou à experiência, é um empecilho à investigação. Enquanto a mente está presa a uma certa conclusão, toda investigação representa uma luta desmedida, um processo de esforço, atrito, ruptura. Mas se a mente percebe que só pode haver investigação quando há liberdade, tem então a investigação um significado de todo diferente. Se se percebe isso claramente, nunca mais se será escravo de nenhum guru, nenhuma fórmula, nenhuma crença. Então você e eu podemos combinar as nossas investigações e, como resultado disso, cooperar, agir, viver. Mas enquanto a nossa mente estiver presa, terá de haver "seu caminho" e "meu caminho", "sua opinião" e "minha opinião", "sua senda" e "minha senda", e todas as demais divisões e subdivisões que se põem entre um homem e outro homem. 

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

domingo, 14 de setembro de 2014

Somos uma repetição de opiniões, juízos e conclusões

Krishnamurti: Vejamos antes de tudo se a nossa mente está entregue a uma dada experiência, uma dada conclusão ou crença, que está nos tornando obstinados, inflexíveis, no sentido profundo. Só quero compeçar daí, porque, como pode haver investigação, quando a mente é incapaz de ceder? Lemos o Gita, a Bíblia, o Upanishads, tal ou tal livro, o qual deu uma tendência à nossa mente, uma certa conclusão a que ela ficou amarrada. Uma mente em tais condições é capaz de investigar? Não é isso que acontece com a maioria de nós? e não deve a nossa mente ficar livre de todos os compromissos decorrentes de sermos hinduístas, teosofistas, católicos, ou o que mais seja, antes de podermos investigar? E porque não estamos livres dessas coisas? Quando temos compromissos e queremos investigar, não pode haver verdadeira investigação, mas tão somente uma repetição de opiniões, juízos e conclusões. Assim, nesta nossa palestra desta tarde, poderemos largar todas as nossas conclusões?

Certamente, até os maiores cientistas têm abandonado todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se você sério, esse abandono do conhecimento, da crença, da experiência, tem de efetuar-se realmente. A maioria de nós somos um tanto "sérios", quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum é seriedade. Isso não tem valor nenhum. O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar. 

Interrogante: Podemos dizer que abandonamos as nossas conclusões; entretanto, elas tornam a surgir. 

Krishnamurti: Sabemos que nossas mentes estão ancoradas numa conclusão? Está a mente cônscia de que se acha dominada por determinada crença? Deixe-me, senhor, expressá-lo de maneira muito simples. Morre meu filho e me sinto desolado — e eis que se me apresenta a crença da reencarnação. Esta crença encerra muitas esperanças e promessas e, portanto, a minha mente a ela se apega. Ora, essa mente é agora capaz de investigar o problema da morte, em vez de investigar, apenas, a questão da vida além-túmulo? Pode minha mente abandonar essa conclusão? E não deve abandoná-la, se quer descobrir o que é verdadeiro — abandoná-la, mas não sob compulsão de qualquer espécie, nem esperança de recompensa, mas porque a própria investigação exige o seu abandono? Se não a abandono, não sou "sério"

Senhores e senhoras, não se deixem desalentar pelas minhas perguntas, que parecem tão óbvias. Se minha mente está atada à estaca da crença, da experiência ou do conhecimento, ela não pode ir muito longe; e a investigação implica que se esteja livre da estaca, não acham? Se realmente estou buscando, então esse estado tem de se acabar — preciso romper as amarras, cortar a corda. Não existe, então, nenhuma questão de como cortar a corda. Quando há a percepção de que a investigação só é possível quando estamos livres de nossa obstinação, do apego a uma outra crença, então esse próprio percebimento liberta-nos a mente. 

Ora, porque não sucede isso a cada um de nós?

Interpelante: É porque nos sentimos mais seguros com a corda. 

Krishnamurti: Exatamente, não é? Vocês se sentem mais seguros quando a mente de vocês está condicionada, e eis porque não há aventurar, ousar — e toda a nossa estrutura social está construída dessa maneira. Conheço todas essas respostas. Mas porque não abandonam a crença de vocês? Se não o fazem, não são sérios. Se estão realmente investigando, não dizem: "Estou investigando, numa determinada direção e devo ser tolerante a respeito de qualquer direção diferente da que estou seguindo" — pois, quando estão realmente investigando, essa maneira de pensar desaparece completamente. Não existe então a divisão de "seu caminho" e "meu caminho", acaba-se o místico e o oculto, são afastadas definitivamente todas as estúpidas explicações do homem que quer explorar outros homens. 

(...) Estou dizendo que não pode haver investigação quando a mente tem algum apego. Quase todos nós dizemos que estamos buscando, e buscar significa realmente investigar; e eu estou perguntando: "vocês podem investigar, enquanto suas mentes estão apegadas a alguma conclusão?" Obviamente, quando lhes é feita esta pergunta, respondem: "Não, naturalmente". 

(...) Eu estou perguntando: sua mente está agrilhoada? Sua mente é obstinada, está apegada a alguma experiência, a alguma forma de conhecimento ou crença? Se está, neste caso, é incapaz de investigação. Você dirá, porventura: "Estou buscando" — mas é bem evidente que não está buscando, senhor. Como pode a mente ter liberdade de movimentos,  se está presa? Dizemos que estamos buscando, mas, na realidade, não há busca. Buscar implica estar livre de apego a qualquer fórmula, qualquer experiência, qualquer espécie de conhecimento, porque só então a mente é capaz de mover-se amplamente. Isto é um fato, não? Se desejo ir a Banaras, não posso estar amarrado, preso num quarto; preciso sair do quarto e dirigir-me para lá. De maneira semelhante, sua mente agora está presa e você diz que está buscando; mas eu digo que não pode buscar nem investigar, com a mente presa — e isso é um fato que todos reconhecem. Porque então não se liberta a mente? Se ela não o fizer, como poderemos, você e eu, investigar juntos? Esta é a nossa dificuldade, não acham, senhores?

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill