Não precisamos procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que está muito longe de nós. Ela é a verdade da mente, a verdade das suas atividades, momento a momento. Se estamos cônscios dessa verdade, (…) tal percebimento liberta a consciência ou a energia que é inteligência, amor. Enquanto a mente se servir da consciência como atividade do “eu”, o tempo tem de existir, com todas as suas tribulações, (…) conflitos, (…) malefícios e (…) ilusões (…); só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa de existir, pode haver o amor.(1)
Para descobrir a verdade, não há caminho algum. Tendes de entrar no mar desconhecido - o que não é desanimador nem empresa aventurosa. Quando desejais achar algo de novo, quando estais investigando (…), vossa mente tem de estar muito tranqüila (…). Se a mente está repleta de fatos, de saber, eles atuam como empecilhos ao que é novo. A dificuldade está em que, para a maioria de nós, o saber se tornou tão importante, de significação tão preeminente, que está sempre intervindo em tudo o que é novo, (…). Assim, o saber e a cultura são empecilhos, para aqueles que desejam investigar, (…) compreender o que é atemporal.(2)
Nessas condições, para compreendermos aquilo que representa o mais alto, o supremo, o real, precisamos começar muito de baixo, muito perto de nós; isto é, precisamos averiguar o valor das coisas, das relações e das idéias com que nos ocupamos cada dia.(3)
(…) Para chegar longe, precisamos começar com o que está perto. Isso não requer nenhuma renúncia extraordinária, mas um estado de elevada sensibilidade; (…) e só nesse estado de sensibilidade pode-se receber a verdade - a qual não é para os insensíveis, os indolentes, os desatentos.(4)
Mas o homem que começa com o que está perto, que está cônscio dos seus gestos, sua fala, sua maneira de comer, de falar, sua conduta - para este há a sensibilidade de penetrar muito extensamente, muito amplamente nas causas do conflito.(5)
Não podeis subir muito se não começais por baixo: não quereis ser simples, não quereis ser humildes. (…) Assim, um homem que realmente desejasse achar, conhecer a verdade, (…) estar aberto para a verdade, teria de começar muito perto de si, deveria avivar a própria sensibilidade, mediante vigilância, tornando sua mente apurada, clara e simples. Uma mente assim não anda em busca dos seus próprios desejos. (…). Só assim é possível a paz; porque essa mente descobre o imensurável.(6)
A verdade não pode ser acumulada. O que se acumula é sempre destruído, (…). A verdade nunca fenece, porque só pode ser encontrada de momento a momento, em cada pensamento, cada relação, cada palavra, cada gesto, num sorriso, numa lágrima. E se vós e eu pudermos achá-la, e vivê-la - o próprio viver é o descobrimento dela - não seremos então propagandistas, mas entes humanos criadores.
(7)
(…) Mas a Realidade é algo que se conhece? E se a conhecemos, isso é o Real? Por certo, a Realidade é algo que se manifesta momento a momento, e que só se pode encontrar no silêncio da mente. Não há caminho para a verdade (…), porque a Realidade é o incognoscível, o inominável, o impensável.(8)
(…) O que podeis pensar a respeito da verdade é produto de vosso fundo mental, vossa tradição, vosso saber. Mas a verdade nada tem em comum com o saber, (…) a memória, (…) a experiência. Se a mente pode criar um Deus - como de fato cria - isso por certo não é Deus.(9)
A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da mente. (…) E ela só pode vir quando a mente está vazia, quando a mente desiste de criar. Ela virá, então, sem a chamardes. Virá veloz como o vento, sem ser pressentida. A verdade vem no escuro e não quando estamos à sua espreita, desejando-a. Ela surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o coração estar cheio e a mente, vazia.(10)
(…) A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando nos preparamos para recebê-la. (…) Assim, pois, uma mente que está presa na rede de palavras, não pode compreender a verdade.(11)
(…) A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento a momento. O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo (…). O que tem duração não é eterno. A eternidade está no agora.(12)
A mente desejosa de transformação futura (…) nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento a momento; que precisa ser descoberta de novo; (…). Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. (13)
(…) Não vos choqueis, não vos sintais desapontados - a verdade nem sempre é aprazível. A verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem.(14)
A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e esquecida - “esquecida”, no sentido de que não a levamos conosco como lembrança da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a qualquer instante (…) a Verdade reaparecerá.(15)
(…) Só existe a verdade quando estais livres da dor, da ansiedade, da agressividade que ora vos enchem a mente e o coração. Ao perceberdes tudo isso e alcançardes aquela bênção chamada amor, conhecereis então a verdade do que se está dizendo.(16)
Ora, a verdade tem um lugar permanente? A verdade ocupa um ponto fixo? A verdade tem morada, ou é uma coisa dinâmica, viva, e portanto sem pouso certo? A verdade está em movimento constante; mas se dizeis que ela é um ponto fixo, tereis então de achar um guru que vos leve a esse ponto, e o guru se tornará necessário para vos apontar o caminho.(17)
(…) Por outras palavras, quando procurais o guru não estais em busca a verdade, buscais segurança num nível diferente, (…). Mas é a verdade permanência? Não sabeis, (…). Mas não ousais declarar que não sabeis, porque o reconhecer que não sabemos é uma experiência verdadeiramente devastadora.(18)
Mas, sem dúvida, tendes de sofrer uma devastação antes de descobrirdes a verdade; precisais achar-vos naquele estado de incerteza, de total frustração, sem possibilidade de fuga; tendes de ser posto frente a frente com o vácuo, o vazio, sem nenhuma passagem por onde fugir. Só então achareis o que é verdade. Mas especular sobre a verdade, pensar na verdade, é negar a verdade.(19)
Vossos pensamentos e especulações a respeito da verdade não têm validade. Toda idéia é produto do pensamento, e o pensamento é memória (…) Assim, para o homem que busca a verdade, o guru é inteiramente desnecessário. A verdade não está longe, a verdade está muito perto, naquilo que pensais e sentis, em vossas relações com vossa família, vosso vizinho, com a propriedade e as idéias.(20)
Procurar a verdade em alguma esfera abstrata é pura ideação, e a maioria de nós procura a verdade por essa maneira, como um meio de fugir à vida. A vida nos esmaga, é sobremodo exigente e dolorosa, (…). Conseqüentemente, procuramos um guru para nos ajudar a fugir; (…) a ele nos apegamos.(21)
(…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho - só para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho, para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru, é porque não sois aventuroso, estais apenas à procura (…) de segurança.(22)
(…) Essa realidade é um ser eterno no presente, e não no futuro; ela está no agora imediato, não no futuro remoto. Para compreender esse agora, essa eternidade, a mente deve estar livre do tempo, o pensamento deve cessar. Todavia, tudo que estais fazendo atualmente só serve para cultivar o pensamento, condicionar a mente, e por isso nunca há para vós o novo.(23)
Enquanto existe o processo de pensamento, não pode existir a verdade (…). Não podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento a parar. Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o pensamento; só então a verdade libertará o pensamento de seu próprio processo.(24)
Nasce a verdade quando a mente está de todo tranqüila, numa tranqüilidade não artificial, não “feita”; surge essa tranqüilidade só quando há compreensão; e essa compreensão não é difícil, mas exige toda a vossa atenção. É negada a atenção quando viveis apenas no cérebro, e não com todo o vosso ser.(25)
A realidade não é algo abstrato ou teórico, (…) a realidade está na compreensão da vida de relação, no estarmos cônscios, a todos os momentos, do nosso falar, da nossa conduta, da maneira como tratamos as pessoas, (…) como consideramos os outros; porque a conduta correta significa virtude, e aí se encontra a realidade.(26)
A verdade, portanto, não é para as pessoas respeitáveis, nem para os que desejam a expansão, o preenchimento do seu próprio “eu”. A verdade não é para os que buscam segurança e permanência; porque a permanência que buscam é meramente o oposto da impermanência. Presos que estão na rede do tempo, buscam aquilo que é permanente; (…) Por conseguinte, o homem que deseja descobrir a realidade tem de sustar a busca - o que não significa que deva contentar-se com o que é.(27)
Pelo contrário, um homem que está todo empenhado no descobrimento da verdade deve ser, interiormente, um revolucionário completo. Não pode pertencer a nenhuma classe, nação, grupo ou ideologia, (…); (…) a verdade não pode ser encontrada nas coisas feitas pela mão ou pela mente.(28)
A verdade vem a todo aquele que está livre do tempo, que não se está servindo do tempo como meio de auto-expansão. O tempo significa memória, (…). Enquanto existe o “ego”, o eu”, o “meu”, em qualquer nível (…), ele está sempre dentro da esfera do pensamento. Onde está o pensamento está o oposto, porque o pensamento cria o oposto; e enquanto existe o oposto não pode existir a verdade.(29)
Não há caminho para a Verdade. A Verdade tem de ser descoberta, mas nenhuma fórmula existe para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Tendes de lançar-vos ao mar desconhecido, e este mar desconhecido sois vós mesmos. Tendes de pôr-vos a caminho, para o descobrimento de vós mesmos, mas não de acordo com algum plano ou padrão, (…). O descobrimento traz alegria - não a alegria que é lembrada, que é comparada, mas a alegria que é sempre nova. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se encontra o Imensurável.(30)
Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e esta é a primeira ilusão a que estais presos. Nisso há imitação, deformação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um deva delinear um caminho para si próprio.(31)
A verdade se encontra no mar - do qual não existe mapa - do autoconhecimento. (…) Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da verdade. Os que se aprofundaram no autoconhecimento são flexíveis. Sabemos que uma das causas da resistência é a especialização; e outra causa é a imitação.(32)
É só quando o pensamento está libertado dos valores materiais criados pela mão ou pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade. Tendes de navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A realidade não pode ser comunicada a outro; porquanto, o que se comunica é o que já se sabe, e o que é sabido não é o Real.(33)
Sinto que ninguém pode guiar outrem à verdade, porque a verdade é infinita; é uma terra sem caminhos, e ninguém pode dizer-vos como encontrá-la. Ninguém pode ensinar-vos a ser artista; alguém poderá apenas dar-vos os pincéis e a tela e mostrar-vos as cores a usar. (…) Só quando estais absolutamente desnudo, livre de todas as técnicas, livre de todos os instrutores, é que descobris.(34)
(…) Precisais buscar a verdade por vós mesmos, como indivíduos, visto que ela mora em vós, não no exterior. Quando o indivíduo se houver compreendido a si mesmo, viverá num ambiente de perfeita harmonia e não contribuirá para a desordem do mundo.(35)
Pergunta: Vós alcançastes a Realidade. Podeis dizer-nos o que é Deus?
Krishnamurti: Senhores, como sabeis que alcancei a Realidade? Para o saberdes seria necessário que tivésseis também alcançado a Realidade. (…) E que importância tem compreender a Realidade alcançada por outro homem, (…) conhecer esse homem?(36)
Ora bem, quereis que eu vos diga o que é a Realidade. Mas pode o indescritível ser expresso em palavras? Pode-se medir o imensurável? Pode-se aprisionar o vento numa mão fechada? (…) No momento em que traduzis o incognoscível no que conheceis, não é mais o incognoscível o que traduzistes.(37)
(…) Conseqüentemente, em vez de procurardes aquele homem que alcançou a Realidade, ou perguntardes o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção à percepção do “que é”? Encontrareis, então, o desconhecido, ou, antes, o desconhecido virá ao vosso encontro.(38)
(…) Não pode a realidade manifestar-se àquele que quer “vir a ser”, àquele que luta; ela só pode manifestar-se àquele em que há o “ser” (…) que compreende o “que é”. Assim como a solução de um problema está contida no próprio problema, assim também a realidade está contida no “que é”, e se formos capazes de compreender o “que é”, compreenderemos a Verdade.(39)
(…) Assim, pois, não está longe de nós a Realidade, mas nós a distanciamos, (…). A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede o tempo. (…) Essa libertação só é possível mediante meditação correta, que significa ação completa.
(40)
Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos Adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação. O homem que foi posto num determinado caminho, não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno, o atemporal... Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como nos será possível abandonar aquilo que estamos apegados há cinqüenta ou sessenta anos?... Mas, vós vos entregastes a uma organização, da qual sois presidente, secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de ação, está preso a sistemas, e não encontrará a Verdade. Através da parte nunca se encontra o todo. Através de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, e só pode ver com clareza o céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos, de todas as tradições, e nesse homem há esperanças.(41)
A todo aquele que deseja descobrir a verdade, o real, o eterno, cumpre que abandone todos os livros, sistemas, "gurus", pois aquilo que deseja achar só se achará quando compreender a si próprio.(42)
Uma mente torturada, frustrada, moldada pelo que a rodeia, que se conforma à moral social estabelecida é, em si própria, confusa; e uma mente confusa não pode descobrir o que é a Verdade. Para a mente descobrir esse estranho mistério -- se tal coisa existe - - ela precisa de construir as bases de uma conduta moral, o que não tem nada a ver com a moralidade social, uma conduta sem medos e, portanto, livre. Só então -- depois de lançada esta base profunda -- a mente poderá prosseguir no sentido de descobrir o que é meditação, essa qualidade de silêncio, de observação, no qual o "observador" não existe. Se esta base de conduta correcta não está presente na existência de cada um, na sua acção, então a meditação tem muito pouco significado.(43)
Aqueles que desejam entender, que estão procurando descobrir o que é eterno, sem começo e sem fim, caminharão juntos com maior intensidade, e constituirão um perigo para tudo o que não é essencial, para as ilusões, para as sombras. E eles se congregarão, tornar-se-ão a chama, pois compreendem. Este é o conjunto de pessoas que devemos criar, e este é o meu propósito. Por causa dessa verdadeira amizade... haverá uma cooperação de verdade da parte de cada um. E não haverá autoridade.(44)
Se você não tem luz, não pode ajudar outra pessoa a tê-la. Você pode explicar muito claramente ou defini-la em palavras bem escolhidas, mas isso não terá a paixão da verdade.(45)
A Verdade não pode ser ensinada; tendes de descobri-la por vós mesmos; mas não tereis possibilidade de descobri-la se começardes com o pressuposto de que a Verdade existe ou não existe, de que Deus existe ou não existe. Só poderemos descobrir se existe ou não a Verdade, se começarmos a aprender, se passarmos a investigar, a indagar; e não há investigação quando se começa com uma conclusão, um pressuposto.
Se observades vossa própria mente, vereis quanto é difícil estar-se livre de conclusões. Afinal, o que sabeis é uma série de conclusões, constituída daquilo que vos foi ensinado, do que aprendestes dos livros ou do que achastes em vossas próprias reações - e sobre tal base começais a pensar, a levantar o edifício do pensamento! Mas, sem dúvida, a mente que deseja descobrir o que é Verdade ou Deus, deve começar sem nenhum pressuposto, nenhuma conclusão, quer dizer, livre para investigar. E se observades vossa própria mente, vereis que não é livre. Está cheia de conclusões, pejada de conhecimentos, provindo de muitos milhares de dias passados; ela pensa segundo o Gita, segundo a Bíblia ou o Alcorão, ou um certo instrutor, e começa com o pressuposto de que o que dizem é a Verdade. Mas, se ela já sabe o que é a Verdade, é claro que não tem necessidade de procurar a Verdade.(46)
Algumas pessoas vão à Índia, mas não sei por que fazem isso: a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é uma fantasia. A verdade está onde você está. Não em algum país estrangeiro, mas onde você está. A verdade é o que você está fazendo, como está se comportando. Está aí, não nas cabeças raspadas e naquelas bobagens que os homens têm feito.(47)
É a Verdade que liberta; não o meio, ou o sistema.(48)
A verdade não está longe de nós. Ela se acha à nossa frente,e só temos de saber olhá-la. A mente cheia de preconceitos, conclusões, crenças, não tem nenhuma possibilidade de vê-la; e um dos nossos piores preconceitos é o processo analítico. Percebendo isso, o abandonareis. E, uma vez abandonado, ele não tornará a enredar-vos; nunca mais pensareis com propósitos de ascenção, de repressão, de resistência, porque tudo isso está implicado na análise.(49)
Para descobrir o que é verdadeiro, ou qual a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa a reincarnação ou qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções. Se estas consistem em procurar segurança, o conforto, então, é bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de abrir a porta às perturbações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.(50)
Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade. Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão; porque a submissão é mais fácil do que a vigilância. A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia a pensar acarretam a aceitação e a submissão, a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo assim também acontece com o grupo, com a nação.(51)
Só a Verdade pode libertar-nos. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém, quando não existe a autoridade de espécie alguma - seja a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros, do guru, da nossa própria experiência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência não pode ajudar-nos a descobrir o que é a Verdade.(52)
Os que desejam deveras descobrir a Verdade relativa aos seus problemas, devem, naturalmente, por à margem tudo quanto é autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar, para nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" - aquele que mora na Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaya, ou "ali na esquina". Todos precisamos de alguém para ajudar-nos. Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos, assim, a nós mesmos, o descobrimento da Verdade.(53)
Só pode manifestar-se a Realidade quando a mente percebe o seu próprio processo, percebe o quanto está condicionada, e quanto está livre do seu próprio processo de reconhecimento. Só então há possibilidade de a mente ficar tão tranquila que seja capaz de receber aquilo que é a Verdade. A Verdade é atemporal. Não depende do tempo. Por conseqüência, não pode ser aprendida e guardada para uso, ou lembrada e seu nome repetido. Por conseguinte, a Verdade é criadora. É ela sempre nova, e a mente nunca pode compreendê-la.(54)
Deus pode ser conhecido? Deus pode ser achado? Deus é uma coisa que anda perdida e que temos que achar? Pode-se reconhecer aquela Realidade, aquele Deus? Se podeis reconhecê-la, então já tendes conhecimento dela; e se já tendes conhecimento dela, não é coisa nova. Se sois capaz de conhecer Deus, a Verdade, essa experiência gerada pelo passado, e por conseguinte já não é a verdade e, sim, meramente, uma "projeção" da memória. A mente é produto do passado, do conhecimento, da experiência, do tempo; a mente pode criar Deus; ela pode dizer: "sei que isto é Deus", "sei que tive a experiência de Deus", "sei que há Deus, a voz de Deus me fala". Mas isso é só memória, - a antiga reação do vosso condicionamento. A mente pode inventar Deus e pode experimentar Deus. A mente que é resultado do conhecido pode "projetar-se" e criar toda a sorte de imagens e visões; tudo isso, porém, se acha na esfera do conhecido. Deus não pode ser conhecido. Ele é totalmente desconhecido. Não pode ser experimentado. Se o experimentardes, já não é Deus, a Verdade. Só quando não há "experimentador" e não há "experiência", só então pode a Realidade aparecer. É só quando a mente se acha no "estado desconhecido" que pode surgir o desconhecido. Só depois de se apagar toda experiência, todo conhecimento, está a mente verdadeiramente tranqüila, silenciosa, e nessa tranqüilidade, que é imensurável, nessa tranqüilidade, nasce Aquilo que não tem nome.(55)
Pra mim há Deus, uma vivente, eterna realidade. Mas esta realidade não pode ser descrita; cada um precisa realizá-la por si. Quem quer que procure imaginar o que é Deus, o que é a verdade, apenas está procurando uma fuga, um abrigo da rotina diária do conflito.(56)
Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção a realidade, é uma idéia falsa. Não se pôde progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não têm ela futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim a realização desta verdade é a finalidade do homem.(57)
Tendes que ser "impiedosos" com vós mesmos e viver no "verdadeiro estado de investigação". A menos que vos investigueis profundamente, em vosso interior, não tendes a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Ninguém vos pode levar a esse descobrimento - ninguém! - e, por conseqüência, nenhum sistema. A verdade não é uma coisa estática, que fica à vossa espera, enquanto seguis um sistema uniforme, enquanto praticais dia a dia um certo método, enquanto aprimorais a vossa mente e o vosso coração para alcançar aquele estado a que chamais "a verdade". A Verdade não espera por vós!(58)
Não procureis um caminho, um método. Não há métodos nem caminho para a verdade. Não procureis um caminho, mas tornai-vos apercebidos do obstáculo. O apercebimento não é apenas intelectual; é simultâneamente mental e emocional; é a plenitude da ação. Então, nessa chama de apercebimento, todos esses obstáculos se desmoronam porque os penetrastes. Então podereis perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização do eterno.(59)
A Verdade não pertence a nenhuma religião, nenhum sistema; nem pode ser encontrada em livro algum. Não podemos aprendê-lo de outro, nem a ele ser levados por outro. Temos de compreendê-la, completamente, entregar-nos a ela. Assim, para chegarmos à Verdade devemos ser livres, desembaraçados e num estado em que a mente compreendeu a si própria e, por conseguinte, se libertou de todas as ilusões.(60)
(1) A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 127
(2) A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 153
(3) Novo Acesso à Vida, pág. 14
(4) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 28-29
(5) Que Estamos Buscando?, pág. 29
(6) Que Estamos Buscando?, pág. 29
(7) Poder e Realização, pág. 42
(8) Poder e Realização, pág. 93
(9) Poder e Realização, pág. 93-94
(10) O que te fará Feliz?, pág. 79
(11) O que te fará Feliz?, pág. 108
(12) O que te fará Feliz? pág. 129
(13) O que te fará Feliz?, pág. 129
(14) Que o Entendimento seja Lei, pág. 4
(15) Experimente um Novo Caminho, pág. 107
(16) A Outra Margem do Caminho, pág. 13
(17) A Arte da Libertação, pág. 121
(18) A Arte da Libertação, pág. 123
(19) A Arte da Libertação, p. 123
(20) A Arte da Libertação, pág. 123
(21) A Arte da Libertação, pág. 123
(22) A Arte da Libertação, pág. 123-124
(23) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 124
(24) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 124
(25) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(26) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 150-151
(27) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 214
(28) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(29) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(30) Comentários sobre o Viver, pág. 95
(31) Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111-112
(32) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 221
(33) O Caminho da Vida, pág. 10
(34) Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 42
(35) Coletânea de Palestras, 1930-1934, pág. 22
(36) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 114
(37) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 116
(38) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(39) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(40) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(41) Uma Nova Maneira de Viver
(42) Uma Nova Maneira de Viver
(43) Krishnamurti
(44) O Futuro é Agora
(45) A Arte de Aprender
(46) O Homem Livre
(47) Nossa Luz Interior
(48) Comentários Sobre o Viver
(49) O Novo Ente Humano
(50) Novo acesso à Vida
(51) O Egoísmo e o problema da paz
(52) Autoconhecimento - base da sabedoria
(53) Autoconhecimento - base da Sabedoria
(54) Autoconhecimento - base da sabedoria
(55) As Ilusões da Mente
(56) Palestras e Respostas a Perguntas por Krishnamurti
(57) Senhor do Dia de Amanhã
(58) Uma Nova Maneira de Agir
(59) Itália e Noruega
(60) O despertar da sensibilidade