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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Retorne à sua verdadeira natureza

A verdadeira natureza é a sua natureza eterna. Você não pode tê-la e não tê-la, isso não é algo que vem e vai — é você. Como é que pode vir e ir? É o seu ser. É a sua própria base. Não pode existir às vezes, e não existir outras vezes; ela está sempre presente.

Este deve ser o critério de um buscador da verdade, da natureza, do tao: aquilo que temos chega a um ponto, em nosso ser, em que permanece para sempre; mesmo antes de você nascer já estava lá e, mesmo quando estiver morto, estará lá. Trata-se do centro. A circunferência muda, e o centro continua absolutamente eterno; ele está além do tempo. Nada pode afetá-lo, nada pode modificá-lo; nada realmente o toca; ele permanece além do alcance do mundo exterior. 

Vá e contemple o mar. Milhões de ondas se formam, mas no fundo, em suas profundezas, o mar permanece calmo e sereno, em meditação profunda; apenas na superfície existe tumulto, apenas na superfície, onde o mar se encontra com o mundo exterior, com os ventos. Caso contrário, em si mesmo, nem mesmo uma ondulação; nada muda. 

Acontece a mesma coisa com você. Apenas na superfície, onde você encontra outras pessoas, existe tumulto, ansiedade, raiva, apego, ganância, luxúria — apenas na superfície, onde os ventos vêm e tocam você. E, se permanecer na superfície, você não pode mudar este fenômeno mutante; ele continuará existindo. 

Muitas pessoas tentam mudá-lo aí, na circunferência. Elas lutam com ele, tentam não deixar uma onda surgir. e, por meio dessa luta, mais ondas se acumulam, porque quando o mar briga com o vento há mais turbulência; agora, não só o vento vai contribuir, o mar também vai — haverá um tremendo caos na superfície. 

Todos os moralistas tentam mudar o homem na periferia; o caráter é sua periferia. Você não traz nenhum caráter para o mundo, você vêm absolutamente sem caráter, uma folha em branco, e tudo o que vocês chamam de caráter é escrito pelos outros. Seus pais, a sociedade, professores, ensinamentos — todos são condicionamentos. Você vem como uma folha em branco, e tudo o que está escrito em você vem dos outros; portanto, a não ser que você se torne novamente uma folha em branco, você não vai saber o que é natureza, você não vai saber o que é brahman, você não vai saber o que é o tao. 

Então o problema não é como ter um caráter forte, o problema não é como alcançar a não raiva, como não ser perturbado — não, esse não é o problema. O problema é como mudar a sua consciência da periferia para o centro. De repente, você vê que sempre foi calmo e então pode olhar para a periferia de uma certa distância, e a distância é tão grande, infinita, que você pode só observar como se isso não estivesse acontecendo a você. Na verdade, isso nunca acontece com você. mesmo quando você está completamente perdido nele, ele nunca acontece com você: algo em você permanece intacto, algo em você permanece de fora, algo em você continua a ser uma testemunha. 

Todo o problema do buscador é saber como desviar a atenção da periferia para o centro; como se fundir com o que é imutável e não se identificar com o que é apenas uma fronteira. Na fronteira os outros são muito influentes, porque na fronteira a mudança é natural. A periferia vai continuar mudando — até mesmo a periferia de um buda muda. 

A diferença entre um buda e você não é uma diferença de caráter — lembre-se disso. Não é uma diferença de moralidade, não é uma diferença entre virtude ou não virtude. É uma diferença de onde está a sua base. 

Você faz da periferia a sua base, um Buda faz do centro a sua base. Ele pode olhar para a sua própria periferia de longe; quando você bater nele, ele pode ver isso como se você tivesse batido em outra pessoa, porque o centro está muito distante... como se ele fosse um observador nas colinas e algo estivesse acontecendo nos vales e ele pudesse ver isso de longe.

OSHO

domingo, 9 de março de 2014

A natureza interior do descontentamento


Jovem ou idoso, muitos de nós estamos descontentes apenas porque desejamos alguma coisa: mais conhecimento, um emprego melhor, um carro mais novo, um salário maior. Nosso descontentamento baseia-se no desejo "de ter mais". É somente porque desejamos algo mais que nos sentimos descontentes. Mas não estou falando sobre esse tipo de descontentamento. 

Pergunta: O descontentamento impede o pensamento claro. Como superar esse obstáculo?

Krishnamurti: Acho que você não me ouviu; provavelmente estava preocupado com sua pergunta, em como iria formulá-la. Isso é o que todos vocês estão fazendo, de maneiras diferentes. Cada um tem sua própria preocupação, e se o que eu disse não é o que gostariam de ouvir, deixam-no de lado, porque a mente de vocês está ocupada com seus problemas. Se quem fez a pergunta tivesse ouvido o que eu falei, se tivesse realmente sentido a natureza interior do descontentamento, da alegria, de ser criativo, acho que não teria feito essa pergunta.

O descontentamento impede o pensamento claro? E o que é o pensamento claro? É possível pensar com clareza se desejam conseguir alguma coisa com seu pensamento? Se sua mente está preocupada com um resultado, poderão pensar com clareza? Ou só conseguem pensar muito claramente quando não estão buscando um fim, um resultado, sem tentar ganhar algo?

E vocês conseguem pensar com clareza se se agarrarem a um preconceito, a uma crença particular — isto é, se pensarem como um hindu, um comunista ou um cristão? Certamente poderão pensar claramente apenas quando a mente não estiver acorrentada a uma ideologia — como um macaco preso a uma estaca; podem pensar muito claramente apenas quando não estão buscando resultado; podem pensar com clareza somente quando não têm preconceitos. O que tudo isso significa, na verdade, é que vocês podem pensar com clareza, simples e diretamente, quando a mente não estiver mais buscando qualquer forma de segurança; estando, portanto, livre do medo.

Então, de alguma maneira, o descontentamento impede o pensamento claro. Quando, por meio do descontentamento, vocês procuram um resultado, ou quando buscam minimizar o descontentamento, porque a mente detesta ficar perturbada e tenta a todo custo ficar calma, pacífica, então o pensamento claro não é possível. Mas, se estiverem descontentes com tudo — com seus preconceitos, suas crenças e seus medos — e não estiverem desejando um resultado, então esse mesmo descontentamento dará foco aos seus pensamentos ( não sobre um objeto em particular, ou qualquer direção específica), e todo o processo do pensamento se tornará bem simples, direto e claro.

Jovem ou idoso, muitos de nós estamos descontentes apenas porque desejamos alguma coisa: mais conhecimento, um emprego melhor, um carro mais novo, um salário maior. Nosso descontentamento baseia-se no desejo "de ter mais". É somente porque desejamos algo mais que nos sentimos descontentes. Mas não estou falando sobre esse tipo de descontentamento. É o desejo pelo "mais" que impede o pensamento claro. Se estamos descontentes não por desejarmos alguma coisa, mas por não saber o que desejamos; se estamos insatisfeitos com nosso emprego, com o dinheiro que temos, com a busca por status e poder, com a tradição, com o que temos e com o que deveríamos ter; se estamos insatisfeitos não com algo em particular, mas com tudo, então penso que esse nosso descontentamento trará clareza. Quando não aceitamos ou seguimos, mas questionamos, investigamos, aprofundamos, ocorre um insight do qual brota a criatividade, a satisfação.

Krishnamurti — Pense nisso

sábado, 30 de novembro de 2013

Qual a natureza exata dos males da vida humana?


Os males da vida humana são produto do EGO ILUSÓRIO, e só poderão ser abolidos pelo despertamento do EU VERDADEIRO. É perfeitamente inútil e totalmente impossível querer abolir os males ego-produzidos pelo próprio ego, por mais inteligente que ele seja. Nenhum ego pode libertar-nos dos males a que o ego se escravizou. Escravocrata não abole escravidão; escravocrata faz escravos, mas não liberta escravo. Enquanto o homem escravizado pelo ego ilusório não ultrapassar a dimensão dessa egoidade ilusória e escravizante, não haverá redenção dos males que a egoidade engendrou. Querer libertar o ego pelo ego, é funesto círculo vicioso, em que a humanidade vive há milhares de anos. Pode o ego modificar os sintomas dos males por ele creados, mas não os pode erradicar e abolir definitivamente, ENQUANTO NÃO ENTRAR NA NOVA DIMENSÃO DO EU REDENTOR (Consciência Integrativa Amorosa)...

A libertação desses males é possível unicamente pela transição da ILUSÃO para a VERDADE, porque só a consciência da verdade liberta o homem dos males que a inverdade creou nele. 

(...) Quando o homem se convence definitivamente de que o seu ego humano não é a Fonte, mas canal, que deve estar ligado conscientemente à Fonte, ao Infinito, ao Uno, ao Único, à Essência, então fluem para dentro dele, e através dele, as águas da Vida, da Saúde e Felicidade. 

A presença objetiva da Vida, Saúde e Felicidade é um fato permanente e universal; mas a consciência desta presença é um problema. Enquanto o homem não tiver a consciência nítida desta PRESENÇA cósmica não será liberto dos seus males. 

(...) O homem-ego ignora essa PRESENÇA — o homem-EU sabe dessa PRESENÇA cósmica, divina. Por isto, somente a verdade do EU pode redimir o homem da ilusão do ego. 

Auto-realização e cosmoterapia são manifestações da CONSCIÊNCIA DA PRESENÇA DE DEUS NO HOMEM. 

(...)Quando o homem atinge a plenitude de sua CONSCIÊNCIA ou CONSCIENTIZAÇÃO, nada mais sabe ele de um aquém ou de um além, porque a dimensão espacial do Finito se diluiu na indimensão do Infinito. O mesmo se dá com o CONCEITO ILUSÓRIO DE TEMPO, que se dilui na verdade do eterno, que é a ausência do tempo. Quando o homem-ego ultrapassa a sucessividade analítica da sua mente e entra, como homem-EU, na simultaneidade intuitiva da razão, então tudo isto se torna natural, evidente e compreensível.

(...) O homem irreal ou semi-real deve ser plenamente realizado, para que o seu ego doente seja SATURADO pelo seu EU sadio. No homem pleni-real não há males. Todos os males de que o homem sofre vêm da zona do seu ego mental, da sua PERSONA (termos latino para máscara). Somente o contato com a INDIVIDUALIDADE REAL pode curar a personalidade irreal; somente a verdade pode libertar o homem da inverdade, que gera os males.

(...) A última palavra de todas as terapias é a COSMOTERAPIA, que abrange todas as outras terapias. Cosmoterapia é a cura do homem pelas forças cósmicas em seu conjunto; porquanto o homem não é SOMA, PSIQUE, LOGOS, disjuntivamente; ele é tudo isto, conjuntivamente. Não há no homem compartimentos-estanque. Tudo o que acontece no SÔMA, se reflete na PSIQUE e no LÓGOS; e tudo o que ocorre no LÓGOS ou em outro setor humano ocorre também em todos os outros setores, porque o homem é uma estrita unidade orgânica e não uma diversidade mecânica; ele é univérsico, unidade em diversidade.

(*...) Na cosmoterapia consideramos o homem como um todo orgânico, uma síntese complementar, embora sob a direção de um fator dominante, o lógos, o EU PLENICONSCIENTE.

"Eu venci o mundo".

(...) O nosso ego é visceralmente dom-quixotesco, e esse dom-quixotismo se perpetua através de séculos e milênios. Os pseudosmales nos atormentam unicamente porque o nosso ego dom-quixotesco os considera como males reais. E, sendo que "o homem é aquilo que ele pensa no seu coração", como diz a Bíblia, ele é vítima de males porque assim pensa e crê em seu coração. "Eu sou livre de tudo o que sei — escreve Spinoza — mas sou escravo de tudo que ignoro". Enquanto o homem ignora A VERDADE SOBRE SI MESMO, é ele vítima e escravo desta ignorância. "Conhecereis a Verdade — disse o maior dos Mestres — e a Verdade vos libertará".

A cosmoterapia evoca o homem-Eu das profundezas do homem-ego, opera uma eclosão do Eu após sua longa incubação.

Huberto Rohden - Cosmoterapia: a cura dos males humanos pela Consciência Cósmica

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O correto relacionamento com a natureza

Questionador: Qual o significado do relacionamento correto com a natureza?

Krishnamurti: Não sei se vocês descobriram seu relacionamento com a natureza. Não há relacionamento “correto”, há apenas a compreensão desse relacionamento. O relacionamento correto implica a mera satisfação de uma fórmula, como acontece com o pensamento correto. O pensamento correto e o pensar corretamente são duas coisas distintas. O pensamento correto é simplesmente conformar-se com o que é certo, com o que é respeitável, ao passo que o pensar corretamente é movimento, é o produto da compreensão, a qual está constantemente passando por modificações, por mudanças. Analogamente, há uma diferença entre relacionamento correto e compreender o nosso relacionamento com a natureza. Qual é o relacionamento com a natureza (isto é, com os rios, as árvores, os pássaros que voam ligeiros, os peixes nas águas, os minerais sob a terra, as cachoeiras e os lagos rasos?) Qual é o relacionamento com eles? A maioria de nós não está consciente desse relacionamento. Nós nunca olhamos para uma árvore, ou, se o fazemos, é com a intenção de usar essa árvore, quer sentando-nos à sua sombra, quer cortando-a para usar como madeira. Em outras palavras, olhamos para as árvores com objetivos utilitários: nunca olhamos para uma árvore sem nos projetarmos, sem usá-la para a nossa própria conveniência. Tratamos a terra e os seus produtos da mesma maneira. Não há amor pela terra, há apenas o uso da terra. Se de fato amássemos a terra, economizaríamos os produtos que ela nos dá. Ou seja, se quiséssemos entender o nosso relacionamento com a terra, teríamos de ter muito cuidado com o modo de usarmos os seus produtos. A compreensão do nosso relacionamento com a natureza é tão difícil de compreender quanto o nosso relacionamento com os vizinhos, a esposa e os filhos. Mas não ligamos para isso. Nunca nos sentamos para olhar as estrelas, a lua ou as árvores. Estamos ocupados demais com as atividades sociais ou políticas. Obviamente, essas atividades são meios de fugas de nós mesmos; venerar a natureza também é um meio de fuga. Estamos sempre usando a natureza quer como fuga, quer para fins utilitários — nunca nos detemos de verdade e amamos a terra ou as coisas que ela nos dá. Não apreciamos os campos férteis, embora os usemos para nos alimentar e vestir. Não gostamos de cultivar a terra com nossas mãos. Temos vergonha de fazer trabalhos manuais. Afinal, esse trabalho só é feito pelas castas inferiores. Nós, as classes superiores, aparentemente somos demasiado importantes para usar as próprias mãos: portanto, perdemos o nosso relacionamento com a natureza.

Se tivéssemos entendido esse relacionamento, a sua real importância, não dividiríamos a propriedade em sua ou minha; embora tivéssemos um lote de terra e construíssemos uma casa, esta não seria “minha” nem “sua” no sentido de exclusividade — seria mais um modo de buscar abrigo. Pelo fato de não amarmos a terra e os seus produtos mas simplesmente os usarmos, somos insensíveis à beleza de uma queda d’água, perdemos o contato com a vida: não nos recostamos no tronco de uma árvore. Já que não amamos a natureza, não sabemos amar os seres humanos e os animais. Vão até as ruas e observem como os bois são maltratados, como a cauda dos bois perdem a forma. Vocês balançam a cabeça e dizem: “Mas como isso é triste”. Contudo, perdemos a ternura, a sensibilidade que reage às coisas belas, e é apenas na renovação dessa sensibilidade que podemos entender o que é um verdadeiro relacionamento. Essa sensibilidade não surge com o mero fato de pendurarmos alguns quadros na parede, nem de pintarmos uma árvore, nem de colocarmos flores no cabelo; a sensibilidade só morre quando se deixa de lado essa visão utilitária. Isso não significa que vocês não possam usar a terra; porém, vocês devem usá-la como ela deve ser usada. A terra existe para ser amada, protegida, não para ser dividida como se fosse sua ou minha. É tolice plantar uma árvore numa área cercada e dizer que é “minha”. Só quando estamos livres da exclusividade é que existe a possibilidade de sermos sensíveis, não só à natureza, mas também aos seres humanos e aos incessantes desafios da vida.

Jiddu Krishnamurti — Poona, 17 de outubro de 1948  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Por que há morte e sofrimento na natureza?

Questionador: Por que sempre há morte e sofrimento no equilíbrio da natureza?

Krishnamurti: Por que o homem matou cinquenta milhões de baleias? Cinquenta milhões — vocês entenderam? E ainda continuamos matando todo o tipo de espécies — os tigres, os chitas, os leopardos e os elefantes estão se extinguindo — eles são mortos pela sua carne, pelas suas presas; vocês conhecem o fato. Não será o homem um animal muito mais perigoso do que o resto dos animais? E vocês querem saber por que há morte e sofrimento na natureza. Vocês veem um tigre matar uma vaca ou um gamo. Esse é o modo natural da vida; no entanto, no momento em que interferimos nele, ele se transforma numa verdadeira crueldade. Vocês viram filhotes de baleia ser abatidos com uma pancada na cabeça? Quando houve um grande protesto contra esse fato, as uniões disseram que temos de viver desta maneira. Vocês sabem de tudo isso.

Sendo assim, quando começaremos a entender o mundo à nossa volta e o mundo dentro de nós? O mundo interior é tão enormemente complexo que preferimos atender primeiro o mundo da natureza... Se começássemos por nós mesmos, não matando, não ferindo, não sendo violentos, não sendo nacionalistas, mas sentindo amor pela humanidade como um todo, talvez tivéssemos um relacionamento apropriado entre nós e a natureza. Agora, estamos destruindo a terra, o ar, o mar, as criaturas do mar porque somos o maior perigo para o mundo, com nossas bombas atômicas — vocês sabem, todo esse tipo de coisas.

Questionador: O senhor diz que somos o mundo, contudo o mundo parece estar rumando para uma destruição em massa. Uma minoria de pessoas integradas poderá superar a maioria?

Krishnamurti: Vocês são a minoria? Não, eu não estou brincando. Somos a minoria? Ou há alguém entre nós que esteja totalmente livre de tudo isso? Ou há alguém entre nós que esteja totalmente livre de tudo isso? Ou estamos parcialmente contribuindo para o ódio dos outros? Psicologicamente. Vocês talvez não sejam capazes de impedir a Rússia ou a América do Norte, a Inglaterra ou o Japão de atacarem outro país, mas psicologicamente estamos livres de nossa herança comum, que é nosso nacionalismo tribal, glorificado? Estamos livres da violência? A violência existe onde existe um muro ao nosso redor. Por favor, procurem entender tudo isso. E construímos muros em volta de nós, muros de dez pés de altura e de quinze pés de espessura. E todos nós estamos cercados de muros. E disso surge a violência, o senso de imensa solidão. Assim a minoria e a maioria são vocês. Se um grupo de nós fundamentalmente tivesse se transformado psicologicamente, vocês nunca fariam essa pergunta, porque então seríamos algo totalmente diferente.

Questionador: Se há verdade e ordem supremas, por que elas permitem que a humanidade se comporte de modo tão chocante?

Krishnamurti: Se existe uma tal entidade suprema, ela deve ser muito estranha porque nos criou e então fazemos parte dela — está certo? E se fosse organizada, sadia, racional, piedosa, não seríamos como somos. Vocês podem aceitar o processo evolucionário do homem, ou acreditarem que o homem apareceu subitamente criado por deus. E deus, essa entidade suprema, é ordem, é bondade, é compaixão e todo o resto, todos os atributos que nós lhe dermos. Assim, vocês têm essas duas escolhas; que há uma entidade suprema que fez o homem de acordo com sua imagem, ou que existe um processo evolucionário do homem, que a vida criou a partir das pequenas moléculas, e assim por diante, até chegar no momento presente.

Se vocês aceitarem a ideia de deus, da pessoa suprema na qual existe a ordem total, vocês fazem parte dessa entidade, então essa pessoa deve ser extraordinariamente cruel, certo? — extraordinariamente intolerante para nos fazer comportar do modo como estamos fazendo, destruindo uns aos outros.

Ou há a outra ideia, a de que o homem criou o mundo como ele é; seres humanos fizeram este mundo, o mundo social, o mundo do relacionamento, o mundo tecnológico, o mundo da sociedade — nosso relacionamento uns com os outros. Nós — não deus, nem alguma entidade suprema —, nós fizemos o mundo. Somos responsáveis por este horror que temos perpetuado. E confiar num agente exterior determinado para transformar tudo isso? Esse jogo tem sido jogado por milênios, e vocês ainda são os mesmos! Talvez um pouco mudados, um pouco mais gentis, um pouco mais tolerantes — no entanto, a tolerância é algo terrível.

Jiddu krishnamurti — 4 de setembro de 1980


 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Beleza e observação da natureza.

Muitos de vocês vivem em cidades com multidões, barulho, e sujeira no ambiente. Provavelmente você não se tem deparado muitas vezes com a natureza. Mas existe este mar maravilhoso, e você não tem nenhuma relação com ele. Você olha para ele, talvez nade nele, mas o sentimento deste mar com a sua enorme vitalidade e energia, a beleza de uma onda quebrando na areia da praia – não há comunicação entre esse movimento maravilhoso do mar e você. E se você não tem nenhuma relação com isso como você pode ter uma relação com outro. Se você não percebe o mar, a qualidade da água, as ondas, a imensa vitalidade da maré indo e vindo, como você pode estar consciente da relação humana, ou ser sensível a ela? Por favor, é muito importante compreender isto, porque a beleza não está meramente na forma física, mas a beleza em essência é aquela qualidade da sensibilidade, a qualidade da observação da natureza.

Krishnamurti. On Nature and the Environment, pp 84-85
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill