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quinta-feira, 19 de abril de 2018

A “explosiva” realização da atenção total

[...] Há o cérebro e há a mente. Notai, por favor, que estou empregando estas duas palavras muito cautelosamente. Há séculos que o cérebro se ocupa com sua própria conservação; ele é produto do tempo, resultado de todos os esforços “animalísticos” do homem. O cérebro humano é ainda como o animal que luta para a própria conservação, e ele é o justo centro do “eu”: minhas posses, minha casa, minha mulher, minha religião. Todos nós o conhecemos. Todos temos esse cérebro que busca a própria conservação; herdamo-lo do passado.

Agora, consoante os biologistas, a parte posterior do cérebro constitui o cérebro animal, e é muito ativa, enquanto que a parte anterior ainda está por desenvolver. Isso não significa que eu leio biologia, mas tenho amigos que o fazem e me disseram que a parte anterior do cérebro não está ainda totalmente desenvolvida, e que o cérebro humano deverá converter-se de “animalístico” em algo novo, maravilhoso. E meu desejo é salientar-vos que para se alcançar a totalidade da mente, que inclui o limitado cérebro, o tempo não é necessário. A mente integral é uma coisa que tem de ser compreendida; não se pode especular a seu respeito, porquanto não se trata de uma simples ideia religiosa, como a ideia de Deus, ou a ideia da alma, ou a ideia do céu. E podemos saltar daquele limitado estado da mente que é produto do passado e se desenvolveu através do tempo, diretamente para o atemporal, o completo, o total? É possível saltar do limitado para o ilimitado? Eis a questão. Eu digo que é possível — mas cumpre romper “explosivamente” com o passado. Precisa-se daquela extraordinária energia sobre a qual estive falando e que não é resultado de ajustamento, de resistência, de conflito. Deve a pessoa estar inteirada de seus próprios instintos animais, ciente do medo, da ambição, das buscas inspiradas pelo desejo; cumpre dar plena atenção a tudo isso. Descobre-se, assim, que o tempo como fator de evolução deixa de existir. Não estou dizendo que não há evolução — pois, de fato, há; mas vós tereis ultrapassado as fronteiras do tempo. O tempo já não será um meio de chegar a alguma parte, um meio de se alcançar gradualmente o Sublime, a mais elevada forma da criação. A o verificar-se essa “explosiva” realização da atenção total, o cérebro, sempre muito ativo no afã de adquirir, torna-se quieto; essa quietude lhe é necessária para superar o mecanismo do tempo.

Notai que a tranquilidade do cérebro faz parte da meditação. Não desejo discorrer agora sobre a meditação; fá-lo-emos dentro em pouco. Mas é preciso percebermos a importância de termos o cérebro tranquilo, pois isso significa ficar livre da estrutura psicológica da sociedade. A estrutura psicológica da sociedade é ainda animalística; ela torna o cérebro ambicioso, ávido, invejoso, ciumento, apegado, e, em tais condições, o cérebro não conhece o amor. Podeis estreitar nos braços um homem ou uma mulher, podeis casar-vos, segurar a mão de um amigo, fazer o que quer que seja, mas não haverá amor enquanto o cérebro ainda constituir uma parte do passado “animalístico”, que constitui a estrutura psicológica da sociedade. A compreensão dessa estrutura, em nós mesmos, faz também parte da meditação; e, se chegardes até aí, descobrireis que, com aquela compreensão, se apresenta uma imensidade, um impulso criador que nada tem em comum com o escrever livros, poesias, ou pintar quadros, nem com nenhum dos absurdos e exigências infantis de uma sociedade em que tanto valor se atribui à fama. É uma criação que se verifica no imensurável — a culminância da existência. Mas, tal só será realizável quando a estrutura “animalística”, a estrutura psicológica da sociedade tiver sido de todo rejeitada — significando isso que a mente, o cérebro, já não é ambiciosa, apegada, dependente, já não deseja preencher-se, já não deseja ser alguém, já não busca o poder, a posição, o prestígio.

Respondi à vossa pergunta, senhor?

OUVINTE: Destes-me algo sobre que pensar.

KRISHNAMURTI: Não penseis nisso, senhor. Pensar sobre uma coisa implica tempo. Dizeis “Não percebo isso agora, mas vou refletir a seu respeito e posteriormente o perceberei”. O pensamento não vos fará perceber nada; o tempo não vos dará compreensão. No momento em que dizeis que ides pensar acerca de uma coisa, criastes a estrutura do “por enquanto vou tentar” — e estais, então, completamente perdido. O importante é cada um escutar com todo o seu ser; e esta é realmente a nossa dificuldade. “Escutar com todo o ser” não é apenas ouvir as palavras do orador, mas também ver, imediatamente, por si mesmo, a verdade ou a falsidade do que se está dizendo; e esse escutar exige extraordinária energia. Não se trata, pois, de “tentar, por enquanto”. Ou a pessoa escuta com todo o seu ser, ou nada escuta. Se escutardes com todo o vosso ser, vereis que ocorrerá uma “explosão” interior, não amanhã ou no fim do dia, porém instantaneamente. Foi sobre isto que estive falando: esta “explosiva” transformação que deverá verificar-se no presente imediato.

Notai que, se apenas ficais pensando sobre isso, todas as vossas reações defensivas entram em cena e, assim, continuais a ajustar-vos ao padrão de vossa existência diária, a submeter-vos a esse padrão sempre que seja inconveniente rejeitá-lo. E isso é tudo o que o pensamento pode fazer: dar voltas e mais voltas, infinitamente. O pensamento, pois, não é o instrumento da percepção, não é a dinamite que destruirá o passado. Tendes de dar vosso coração ao escutar — é isso mesmo que quero dizer: tendes de dar vosso coração ao escutar, e não, simplesmente, ouvir palavras com o intelecto. Pode uma pessoa ser extraordinariamente sutil, capaz de falar com eloquência, de citar muitos livros, mas nada disso operará o milagre. O milagre está no “escutar totalmente”.

Krishnamurti, Saanen, 31 de julho de 1962,
O homem e seus desejos em conflito

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Existe algo além da medida das palavras e do pensamento?

O homem procura algo para além do transitório. provavelmente desde tempos imemoriais, tem perguntado a si próprio se há alguma coisa que seja sagrada, alguma coisa que não pertença a este mundo, que não seja arquitetada pelo pensamento, pelo intelecto. Tem sempre querido saber se haverá uma realidade, um estado intemporal não inventado, não projetado pelo pensamento, um estado da mente em que o tempo realmente não existe; se haverá algo "divino", "sagrado", "santo" — se podemos usar essas palavras — que não seja perecível. 

As religiões organizadas parecem ter dado a resposta. Dizem que existe uma Realidade, que há um Deus, que há algo que a mente não é capaz de medir. Começam então a organizar o que consideram ser o real, e o homem é desviado para o caminho errado. Talvez vocês se lembrem da história acerca do Diabo, que andava a passear com um amigo. Viram um homem à sua frente inclinar-se e apanhar alguma coisa do chão. Quando a apanhou e a olhou, tinha no rosto uma grande alegria. O amigo do Diabo perguntou a este o que é que o homem apanhara e o Diabo respondeu: "Foi a verdade." O amigo disse: "Isto é muito mau para você, não é?" E o Diabo respondeu: "De modo nenhum, vou ajudá-lo a organizá-la..."

O culto de uma imagem, criada pelas mãos ou pela mente, e os dogmas e rituais da religião organizada, com o eu sentido de beleza, são considerados muito veneráveis e sagrados. Assim o homem, na sua busca daquilo que está além de toda a medida, para além de todo o tempo, é iludido, logrado e aprisionado, porque está sempre na esperança de encontrar algo que não seja inteiramente deste mundo. Afinal, que é que as sociedades tradicionais, burocráticas, capitalistas ou comunistas, têm realmente para oferecer? Muito pouco além de alimentação, habitação e vestuário. Talvez se possam ter mais oportunidades para trabalhar ou se possa ganhar mais dinheiro, mas no aspecto mais profundo, quando se observa, essas sociedades têm muito pouco para dar; e a mente, se é de fato inteligente e acordada, recusa isto. Fisiologicamente, alimentação, habitação e vestuário são necessários, absolutamente essenciais. Mas quando isso se torna o mais importante, a vida perde então o seu maravilhoso sentido. 

Assim, valeria a pena, esta tarde, gastarmos algum tempo a descobrir por nós mesmos se há realmente algo sagrado, algo não construído pelo pensamento, pelas circunstâncias, que não seja resultado da propaganda.

Valeria a pena, se possível, aprofundar esta questão, porque, a não ser que se encontre algo que esteja para além da medida das palavras, do pensamento, de qualquer experiência, a vida de todos os dias torna-se extremamente superficial. Talvez seja por isso — mas também pode ser que não — que a geração presente recusa esta sociedade e procura algo para além da luta, da fealdade e da desumanidade quotidianas. 

Podemos então penetrar no problema: "Que é uma mente religiosa? Qual é o estado da mente capaz de ver o que é a verdade?"(...)

Krishnamurti em, O mundo somos nós

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A verdade não é coisa para ser lembrada, repetida

Pergunta: A indagação — que é a verdade — é muito antiga e ainda não é respondida definitivamente. Você fala da verdade, mas não vemos tentativas ou esforços por alcançá-la, como o vimos nas vidas de pessoas como Mahatma Ghandi e a doutora Besant. Sua agradável personalidade, seu sorrido que desarma, seu amor suave, é tudo o que vemos. Quer explicar porque há tanta diferença entre a sua vida e a vida de outros que se consagraram à procura da verdade? Existem duas verdades?

Krishnamurti: Deseja provas? E por que padrão será julgada a verdade? Há os que dizem que o esforço e a tentativa são necessários para se ter a verdade; mas a verdade é alcançável por meio do esforço, de tentativa, de um jogo de probabilidades? Há os que lutam e se esforçam na conquista da verdade, de modo espetacular, quer publicamente, quer na tranquilidade de uma caverna; acharão eles a verdade? É a verdade coisa que se possa descobrir por meio de esforço? Existe um caminho que leva à verdade: o seu caminho, o meu caminho, o caminho do que faz esforço e o caminho do que não o faz? Há duas verdades, ou tem a verdade vários aspectos?

Ora, o problema é seu, e não meu; e o seu problema é o seguinte: você diz "Certas pessoas — suas, ou várias, ou centenas — fizeram esforços, lutaram, procuraram a verdade, ao passo que você não faz esforço algum, leva uma vida agradável e despretensiosa". Quer, pois, comparar, isto é, tem um padrão, tem um retrato de seus guias, que lutaram por alcançar a verdade; e se chega um que não se ajusta ao seu molde, fica decepcionado e pergunta: "Que é a verdade?" Você fica decepcionado — esta é que é a coisa importante, senhor, e não saber se eu possuo a verdade, ou se outro qualquer a possui. O que importa é verificar se se pode descobrir a realidade sem esforço, sem ação da vontade e sem luta. Isso traz compreensão? A verdade, por certo, não é algo que está distante, a verdade se encontra nas pequenas coisas da vida de cada dia, em cada palavra, em cada sorriso, em cada relação, mas nós não sabemos vê-la; e o homem que tenta, que luta valorosamente, que se disciplina, que se domina — possuirá ele a verdade? A mente que é disciplinada, controlada, limitada, por meio de esforço — perceberá ela a verdade? Evidentemente não a perceberá. É só a mente silenciosa que há de perceber a verdade, e não a mente que se esforça por ver. Senhor, se fizer esforço para ouvir o que estou dizendo, ouvirá? Só quando está quieto, quando está realmente silencioso, você compreende. Se observar de perto, se ouvir tranquilamente, então ouvirá; mas se fica tenso, lutando por assimilar tudo o que se está dizendo, sua energia se dissipará na tensão, no esforço. Nessas condições, não encontrará a verdade por meio do esforço, não importa quem a diga, se os livros antigos, se os antigos santos ou os modernos. O esforço é a negação da compreensão; só a mente tranquila, a mente simples, a mente que está quieta, que não se impõe esforços extenuantes — só essa mente compreenderá a verdade, verá a verdade. A verdade não é algo distante, não há caminho que leve a ela, não há o vosso caminho, nem o meu caminho; não há caminho devocional, não há caminho de ciência nem caminho de ação, porque a verdade não tem caminho que a ela a conduza. No momento em que você tem um caminho para a verdade, você a divide, porque todo caminho é exclusivo e o que é exclusivo no começo há de acabar em exclusão. O homem que está seguindo um caminho nunca há de conhecer a verdade, porque está vivendo na exclusão; seus meios são exclusivos, e os meios são o fim, os meios não estão separados do fim. Se os meios são exclusivos, o fim também é exclusivo.

Assim, não há caminho que conduza à verdade, não existem duas verdades. A verdade não é do passado nem do presente, ela é atemporal; e o homem que cita a verdade do Buda, de Sankara, do Cristo, ou apenas repete o que eu estou dizendo, não encontrará a verdade, porque repetição não é verdade. A verdade é um "estado de ser" que surge quando a mente — que sempre procura dividir, ser exclusiva, que só é capaz de pensar em referência a resultados, realizações — deixa de existir. Só então haverá a verdade. A mente que está fazendo esforço, disciplinando-se, com o propósito de alcançar um fim, não pode conhecer a verdade, porque o fim é a projeção dela própria, e o cultivo dessa projeção, por mais nobre que seja, é uma forma de auto-adoração. O ser, nestas condições, está adorando a si mesmo, e por conseguinte não pode conhecer a verdade. A verdade só pode ser conhecida quando compreendemos todo o processo da mente, quando não existe luta alguma. A verdade é um fato, e o fato só pode ser compreendido depois de você afastar as várias coisas que foram colocadas entre a mente e o fato. O fato são as suas relações com a propriedade, com sua esposa, com os seres humanos, com a natureza, com ideias; e enquanto você não compreender o fato das relações, a sua busca de Deus só servirá para aumentar a confusão; porque ela é uma substituição, uma fuga e, por conseguinte, destituída de significação. Enquanto dominar a sua esposa ou ela lhe dominar, enquanto possuir e for possuído, você não pode conhecer o amor; enquanto estiver refreando, substituindo, enquanto for ambicioso, você não pode conhecer a verdade. Não é a negação da ambição que torna a mente calma, e a virtude não é a negação do vício. A virtude é um estado de liberdade, de ordem, que o vício não pode dar; e a compreensão do vício é o estabelecimento da verdade. O homem que constrói igrejas ou templos, em nome de Deus, com o dinheiro que juntou pela exploração, pela astúcia e a desonestidade, não conhecerá a verdade; pode ele ter falas suaves, , mas sua língua tem o sabor amargo da exploração, do sofrimento. Só conhecerá a verdade aquele que não está buscando a verdade, que não está lutando nem fazendo tentativas para alcançá-la. A mente, em si, é um resultado, e tudo o que ela produz é sempre um resultado; mas o homem que se contenta com o que é, esse conhecerá a verdade. Contentamento não significa estar satisfeito com o status quo, com a manutenção das coisas como estão — isto não é contentamento. É no perceber um fato verdadeiramente e no estar livre dele, que existe o contentamento, que é virtude. A verdade não é contínua, não tem morada, ela só pode ser vista momento por momento. O que foi verdade ontem, não é verdade hoje, o que é verdade hoje não será verdade amanhã. A verdade não tem continuidade. A mente é que deseja fazer contínua a "experiência" que ela chama "verdade", e essa mente não conhecerá a verdade. A verdade é sempre nova; é ver o mesmo sorriso e vê-lo como se fosse novo, ver a mesma pessoa, e vê-la de maneira nova, ver de maneira nova as palmeiras que se agitam, ir ao encontro da vida sempre de maneira nova. A verdade não pode ser conquistada por meio de livros, por meio de devoção ou de auto-sacrifício, mas ela é conhecida quando a mente é livre, quando tranquila; e essa liberdade, essa tranquilidade da mente só vem quando os fatos das suas relações são compreendidos. Sem compreender as suas relações, tudo o que ela faz só cria novos problemas. Mas quando a mente está livre de todas as suas projeções, há um estado de tranquilidade em que cessam os problemas, e só então surge na existência o atemporal, o eterno. A verdade não é, pois, uma coisa de conhecimento, uma coisa para ser lembrada, uma coisa para ser repetida, impressa e divulgada. A verdade é aquilo que é, não tem nome, sendo, portanto, inacessível à mente.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O "estado de ser" que é felicidade suprema

Existe um pensante, como entidade separada do pensamento? Ora, não há entidade separada; só há pensamento, e foi o pensamento que criou a entidade separada chamada pensante. O pensamento é reação da memória, tanto da consciente como da inconsciente, da oculta como da patente; a memória é experiência, e a experiência é reação a estímulo e, depois, o processo de dar nome, o qual empresta mais desenvolvimento à memória. A memória reage como pensamento, nas relações, e todo esse processo de pensamento, esse ciclo de memória, estímulo, reação, experiência e dar nome, que vai aumentar a memória, é o que chamamos consciência. É só isso o que sou, e é só isso o que sei. Vejo, pois, que a minha ente funciona dentro da esfera do conhecido; e poderá ela funcionar fora dessa esfera? Percebo agora o processo integral do meu pensar, o que me leva a fazer a pergunta: Poderá a mente transcender o pensamento, que é resultado do conhecido? Não pode, evidentemente; porque, quando o pensamento procura passar além, o que ele segue é sua própria "projeção". O pensamento não pode experimentar o conhecido, só pode experimentar o que ele próprio "projetou", que é o conhecido. O pensamento é a mente, que é resultado do tempo, resultado do passado;e eu desejo saber se a mente é capaz de passar além de si mesma. Não pode, é claro, porque o "além" é desconhecido, não pertence ao tempo. Assim, a mente precisa findar — o que significa que deve estar quieta, meditativa. Meditação não é o tornar-se alguma coisa, mas a compreensão do processo total das relações, que é autoconhecimento. É só quando a mente está tranquila, não tendo sido obrigada a ficar tranquila, que existe a possibilidade de experimentar o desconhecido.

Pode, pois, a mente, que é o resultado da experiência, que é memória — pode a mente experimentar o desconhecido? Compreendem o problema? Pode a mente, que é memória, produto do tempo, experimentar o atemporal? A função da mente é lembrar; e a verdade será objeto de experiência e lembrança?(...) A questão é: a mente é o resultado do tempo, o tempo é memória, e a memória diz: "experimentei" ou "não experimentei". Será a verdade, o desconhecido, o imensurável, objeto de experiência, ou seja, algo para ser lembrado? Se vos lembrais de uma coisa, essa coisa já é o conhecido, não é? Será possível experimentar uma coisa que não existe em relação com o tempo — o que significa experimentar, vendo a verdade, momento por momento? Se me lembro da verdade, essa coisa não é mais a verdade; porque a memória é coisa do tempo, da continuidade, e a verdade não é do tempo, a verdade não é continuidade. A verdade do Buda não é a verdade que hoje descubro. A verdade só se apresenta na mente de todo silenciosa. A verdade não é coisa que possa ser procurada, experimentada, conservada, e adorada. Só é possível "experimentar" o atemporal, quando a mente está liberta de todo condicionamento. Assim, o autoconhecimento é a compreensão do condicionamento.

O que importa é compreender o processo total da mente. Trataremos disso mais tarde; cumpre-nos, agora, perceber que a verdade não é uma coisa suscetível de ser lembrada. O que é lembrado é do tempo, é coisa do passado, e a verdade nunca é do passado, nem do futuro; a verdade só pode estar no presente, naquele estado em que não existe o tempo. O tempo é o processo da mente, a mente é pensamento, o pensamento é reação da memória. A memória é a experiência do estímulo e da reação, e porque a reação é inadequada; cria-se o problema das relações. Assim, a compreensão do processo total do "eu" reside na compreensão das relações, na vida cotidiana, e essa compreensão liberta a mente do tempo, e ela, por conseguinte, é capaz de experimentar a realidade de momento em momento, o que não constitui um processo de lembrança — não mais podemos chamar "experiência" a esse estado, que é inteiramente diverso. Esse "estado de ser" é felicidade suprema, não é algo que aprendemos em livros e repetimos como discos de gramofone. Nesse estado, um homem é feliz, não repete, para ele a vida não tem problemas. É só a mente que cria problemas.

Jiddu Krishnamurti — 12 de fevereiro de 1950 — O que estamos buscando?

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Na compreensão da dor encontra-se o fim da dor

Uma mente que pratica um sistema pode descobrir o que está além dela? Uma mente confinada na estrutura da própria disciplina é capaz de buscar? Não é preciso haver liberdade para descobrir?

(...) Todos nós buscamos uma saída para nossa infelicidade e provação; mas a procura acaba quando adotamos um método pelo qual desejamos dar fim à dor. Somente na compreensão da dor há um fim para ela, e não na prática de um método.

(...) É possível compreender quando, por meio da disciplina e de várias práticas, a mente está moldada pelo desejo? A mente não precisa ser livre para que a compreensão aconteça?

(...) A liberdade está no começo, não no fim... Quando a totalidade daquilo que leva inevitavelmente a infelicidade e confusão é percebida, não há qualquer sentido na disciplina contra ela. Se aquele que agora despende tanto tempo e energia na prática de uma disciplina, com todos os seus conflitos, dedicasse o mesmo pensamento e atenção à compreensão do total significado da dor, haveria o fim completo da dor. Mas estamos presos na tradição da resistência, da disciplina, e por isso não há qualquer compreensão dos mecanismos da dor.

(...) Podemos realmente escutar enquanto a mente se apega a conclusões baseadas em suposições e experiências? Certamente, só escutamos quando a mente não está traduzindo o que ouve em termos daquilo que conhece. O conhecimento impede o escutar. Talvez um indivíduo saiba muitas coisas; mas para escutar algo que pode ser totalmente diferente do que ele sabe é preciso deixar de lado todo conhecimento.

(...) O verdadeiro e o falso não se baseiam em opinião ou julgamento, independente de quão sábios e antigos. Perceber o verdadeiro no falso e o falso naquilo que se diz verdadeiro, e ver a verdade como verdade, exige uma mente que não está presa no próprio condicionamento. Como podemos perceber se uma afirmação é verdadeira ou falsa se a mente é preconceituosa, presa na própria estrutura das próprias conclusões e experiências, ou de outro? Para essa mente, o importante é perceber a própria limitação.

(...) Para compreender completamente o significado de um problema é preciso considerar toda a questão do esforço... O esforço por ser ou não ser algo é a continuação do “eu”. Esse esforço pode se identificar com o Atman, a alma, o Deus interior, e por aí vai, mas seu núcleo ainda é a ganância, a ambição, que é o “eu”, com todos os seus atributos conscientes e inconscientes.

(...) Enquanto houver um observador que está tentando mudar, ou ganhar ou colocar de lado aquilo que observa, haverá esforço; pois, afinal, o esforço é o conflito entre o que é e o que deveria ser, o ideal. Quando esse fato é compreendido, não apenas verbal ou intelectualmente, mas profundamente, então a mente adentrou o estado de ser em que todo esforço, como o conhecemos, não existe.

(...) Tal estado não pode ser buscado; ele chega sem convite. O desejo de alcança-lo compele a mente a acumular conhecimento e praticar disciplinas como meio de adquiri-lo — o que, mais uma vez, é um obstáculo à experiência de tal estado.

(...) Uma mente que é resultado do tempo, uma mente que leu, estudou, que meditou sobre o que lhe foi ensinado, e é em si mesma uma continuação do passado — como pode tal mente experimentar a realidade, o atemporal, o sempre novo? Como pode divisar o desconhecido? Certamente, saber, ter certeza, é o caminho da vaidade, da arrogância. Enquanto alguém sabe, não há morrer, há apenas a continuação; e o que tem continuidade jamais pode achar-se naquele estado de criação que é o atemporal. Quando o passado cessa de contaminar, a realidade é. Não há, então, qualquer necessidade de buscá-la.

Com uma parte de si, a mente sabe que não há permanência, nenhum canto no qual repousar; mas, com outra parte, está sempre se disciplinando, buscando aberta ou sutilmente estabelecer um refúgio de certeza, de permanência, uma relação além de toda contenda. Assim, há uma infinita contradição, um esforço por ser e também por não ser, e passamos nossos dias em conflito e dor, prisioneiros entre os muros de nossas próprias mentes. Os muros podem ser destruídos, mas o conhecimento e a técnica não são os instrumentos para essa liberdade.

Jiddu Krishnamurti


sexta-feira, 15 de março de 2013

Liberte-se do incessante conflito dos desejos contraditórios

Decerto, sem virtude, a mente é caótica, contraditória; e se não temos a mente tranquila, em boa ordem e livre de conflitos, é óbvio que não podemos ir muito longe. Mas a virtude não é um fim em si. O cultivo da virtude leva-nos numa direção, e o ser virtuoso, noutra direção. Em geral, temos muitos interesses no cultivo da virtude, porque, ainda que superficialmente, apenas, a virtude confere à mente certo equilíbrio, certa tranquilidade, livre do incessante conflito dos desejos contraditórios. (...) o mero cultivo da virtude não pode, em tempo algum, trazer a liberdade, e, sim, só levar-nos a uma tranquilidade respeitável — o espírito de ordem, de controle, que resulta quando moldamos a mente para acomodá-la a determinado padrão social, denominado "virtude".

Nosso problema, pois, é o de nos tornarmos bons, sem fazermos esforço para ser bons. Vejo uma vasta diferença entre as duas coisas. O "ser bom" é um estado em que não existe esforço algum; mas nós não nos achamos em tal estado. Somos invejosos, ambiciosos, maledicentes, cruéis, limitados, vulgares, prisioneiros de rotinas estúpidas, e nada disso é bom; e, se somos assim, como poderemos alcançar um estado mental "bom", sem fazermos nenhum esforço para sermos bons? Ora, por certo, o homem que se esforça para ser virtuoso, não é virtuoso, é? Quem se esforça para ser humilde não tem, evidentemente, a mínima compreensão do que é humildade. E, se não somos humildes, há possibilidade de termos o senso de humildade, sem o cultivo da humildade?

(...) É bem evidente a necessidade de virtude. Ela é como observar a sala bem arrumada; mas, ter a sala bem arrumada não é, em si, de máxima importância. O fazer da virtude um fim em si traz ao indivíduo certos benefícios sociais, faz com que seja considerado — aqui, na Índia, ou na Rússia — um "cidadão decente", porque vive de acordo com um certo padrão. Mas, não é muito importante reconhecermos que a mente deve estar em boa ordem, sem se exercer compulsão ou disciplina — e em seguida nos esquecermos disso, para que a mente não esteja a todas as horas a dominar-se e disciplinar-se, cultivando o conformismo?

(...) Que é que busca, cada um de nós, não teoricamente, abstratamente, mas na realidade? E há alguma diferença entre a busca do homem que aspira à satisfação por meio do saber, de Deus, e a daquele que deseja ser rico, realizar suas ambições, ou daquele que deseja buscar satisfação na bebida?Socialmente, há diferença? O homem que vai buscar satisfação na bebida é, sem dúvida, um ser anti-social, ao passo que o que busca a satisfação ingressando numa ordem religiosa, tornando-se eremita, etc., é socialmente útil; mas a diferença é só esta.

Mas, a coisa que buscamos — por mais interessada que seja a nossa busca, traz-nos a tranquilidade? E nós, de fato, estamos muito interessados, pois não? O eremita, o monge, o homem que busca o prazer, de diferentes maneiras, cada um deles está muito interessado. Mas esse interesse é realmente sério? Existe sério interesse, quando empreendemos uma busca com o fim de adquirir alguma coisa? Entendeis minha pergunta? Ou só pode haver um interesse sério quando não se está visando a um fim?  
(...) Se aqui estais a buscar satisfação ou um meio de compreender uma certa experiência passada, ou de cultivar um certo estado mental que pensais vos dará tranquilidade, paz, ou de experimentar algo que chamais "Realidade", "Deus", podeis estar com muito interesse; mas, não devemos duvidar desse interesse? É sério o nosso interesse ao buscarmos uma coisa porque achamos que ela nos dará prazer ou tranquilidade?

Se pudermos compreender o processo da busca, compreender porque buscamos e o que buscamos — e essa compreensão só é possível pelo autoconhecimento, pela percepção do movimento do nosso próprio pensar, nossas reações e nossos diferentes impulsos — talvez possamos, então, descobrir o que é "ser virtuoso" sem nos disciplinarmos para sermos virtuosos. Pois bem, tenho a impressão que, ainda que consigamos reprimir o conflito existente em nós, ainda que procuremos fugir dele, disciplinar e controlar a mente, moldá-la de acordo com diferentes padrões, o conflito permanecerá latente, e nossa mente nunca estará verdadeiramente tranquila. E ter uma mente tranquila, acho eu, é coisa essencial, porque nossa mente é o único instrumento de compreensão, de percepção, de comunicação, e enquanto não tivermos esse instrumento perfeitamente claro e capaz de percepção, capaz de se aplicar à busca sem ter um fim em vista, não poderá haver liberdade, tranquilidade, nem, por conseguinte, o descobrimento de coisas novas.

Assim, há possibilidade de vivermos neste mundo, — tão cheio de agitações, de ansiedades, de insegurança — sem esforço? Isso é um dos nossos problemas, não achais? Para mim, esta é uma questão muito importante, porque só é possível a ação criadora, quando a mente se acha num estado em que não existe esforço algum. Não estou empregando a palavra "criadora" no sentido acadêmico de aprender "literatura criadora", "atividade criadora", "pensamento criador", etc.; estou-a empregando num sentido muito diferente. Quando a mente se acha num estado em que o passado, com seu cultivo de virtude através da disciplina, desapareceu completamente, só então pode existir uma ação criadora atemporal, que se pode chamar Deus, a Verdade, ou como quiserdes. Como pode, pois, a mente chegar a esse estado de constante ação criadora?

Que acontece quando tendes um problema? Pensais nele, de princípio a fim. Ficais engolfado nele, vos tornais nervoso e agitado, por causa dele; e quanto mais o analisais, aprofundais, aparais, quanto mais preocupados ficais a seu respeito, tanto menos o compreendeis. Mas, no momento em que deixais de dar-lhe atenção, nesse momento o compreendeis, tudo se torna, de súbito, perfeitamente claro. Tal experiência já deve ter ocorrido à maioria de vós. A mente já não se acha num estado de confusão, conflito, estando por conseguinte, capacitada para receber ou perceber uma coisa totalmente nova. É possível a mente permanecer nesse estado, de modo que não fique mais repetindo as mesmas coisas e se torne capaz de experimentar "o novo", momento por momento? Depende isso, a meu ver, de compreendermos o problema do cultivo da virtude.

Cultivamos a virtude, disciplinando-nos, com o fim de ajustar-nos a determinado padrão de moralidade. Por que? Não só porque desejamos tornar-nos socialmente respeitáveis, mas também porque percebemos a necessidade de colocar em ordem, controlar a nossa mente, o nosso falar, o nosso pensar. Reconhecemos o quanto isso é importante, mas, no processo de cultivar a virtude, estamos construindo a estrutura da memória, essa memória, que é o "eu", o "ego". Tal é a base da nossa ação, principalmente dos que pensam ser religiosos, porque praticam constantemente uma certa disciplina, pertencem a certas seitas, certos grupos, chamados coletivamente religiosas. Sua recompensa poderá estar noutra parte, "no outro mundo", mas é sempre recompensa o que querem; no cultivo da virtude, que significa polir, disciplinar, controlar a mente, estão eles desenvolvendo e mantendo uma memória do "eu" e, por conseguinte, nunca há um momento em que estão livres do passado.

Se realmente já disciplinastes a vós mesmos, exercitando-vos para não serdes invejosos, irritadiços, etc., não sei se tendes notado como esse próprio experimentar, esse próprio disciplinar da mente cria uma série de lembranças, que são conhecimentos. Esse processo que consiste em dizermos: "Não devo fazer isto" — cria ou constrói o tempo; e a mente que está aprisionada no tempo, não pode, é claro, nunca, experimentar algo fora do tempo, "o desconhecido". Entretanto, devemos ter nossa mente "bem arrumada", livre de desejos contraditóriose isso não significa ajustamento, aceitação, obediência.

(...) Vossa mente é o resultado do "conhecido". Vossa mente é o conhecido, sendo moldada pelas memórias, pelas reações, pelas impressões do "conhecido"; e a mente mantida no terreno do conhecido jamais compreenderá ou experimentará o desconhecido, aquilo que não se acha na esfera do tempo. A mente só é criadora quando está livre do conhecido; e, então, ela pode servir-se do conhecido, isto é, da técnica.

Como sabeis, nosso tédio é tão grande que estamos constantemente a ler, a adquirir, a aprender, a frequentar igrejas e executar rituais, sem nunca conhecermos um momento inédito, original, não corrompido, completamente livre de todas as impressões; e esse momento é que é criador, atemporal, eterno, ou qualquer outra palavra que preferirdes. Sem essa ação criadora, a nossa vida se torna insossa e estúpida, e todas as nossas virtudes, nosso saber, nossas ocupações, nossos entretenimentos, nossas várias crenças e tradições, tudo muito pouco significa. A sociedade apenas cultiva "o conhecido", e nós somos o resultado dessa sociedade. Para encontrarmos o desconhecido, é essencial nos libertarmos da sociedade — o que não significa retirar-nos para um mosteiro e ficarmos rezando da manhã à noite, disciplinando-nos incansavelmente, ajustando-nos a certo dogma ou crença. Isto, por certo, não pode emancipar a mente do conhecido.

A mente é resultado do conhecido, resultado do passado, que é acumulação no tempo; e tem essa mente alguma possibilidade de ficar livre do conhecido, sem fazer esforço algum, para que possa descobrir algo original? Qualquer esforço que ela faça    para libertar-se, qualquer busca que empreenda, estará sempre na esfera do conhecido. Ora, por certo, Deus ou a Verdade deve ser algo que nunca foi pensado, algo inteiramente novo, nunca formulado, descoberto ou experimentado antes. E como pode a mente resultante do conhecido, experimentar, em algum tempo, essa coisa?

(...) Aí está a razão por que importa descobrir se uma pessoa pode ser boa, no sentido completo desta palavra, sem se esforçar para ser boa, sem lutar para libertar-se da inveja, da ambição, da crueldade, sem se disciplinar para deixar de ser maledicente, enfim, abstendo-se de todos os rigores a que nos submetemos quando desejamos ser bons. Pode haver bondade, sem fazer esforço para "ser bom"? Acho que só haverá, se cada um souber escutar, estar atento. Só há bondade quando há atenção completa. Percebei a verdade de que não pode haver bondade mediante luta, esforço. Percebei simplesmente esta verdade — mas só podereis percebê-la se estais dando atenção completa ao que se está dizendo. Esquecei todos os livros que lestes, tudo o que vos tem sido ensinado, e prestai atenção à asserção de que não pode haver virtude, enquanto há esforço para se ser virtuoso. Enquanto luto para não ser violento, tem de haver violência; enquanto luto para não ser invejoso, tem de haver inveja; enquanto luto para ser humilde, tem de haver orgulho. Se percebo esta verdade, não intelectualmente, ou verbalmente... se percebo com toda a simplicidade, diretamente, então, daí virá a bondade... Só quando completamente livre de esforço, pode a mente achar-se em paz, que é, na verdade, um estado extraordinário, mas que pode ser alcançado por qualquer um que a isso se aplique de coração e com toda atenção. A mente que não está lutando, tentando "vir a ser" alguma coisa, social ou espiritualmente, a mente que está reduzida a "nada" — só ela pode receber "o novo".

Krishnamurti - Realização sem esforço - ICK
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill