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quarta-feira, 4 de abril de 2018

O estado que não é produto da mente


O estado que não é produto da mente

Seria muito útil e importante, parece-me, considerarmos a questão de qual é a verdadeira religião; e talvez, investigando esta questão um pouco profundamente, tenhamos a possibilidade de descobrir, de experimentar diretamente, por nós mesmos, aquele estado que não é produto da mente e que deve ser algo desconhecido e totalmente novo, nunca dantes experimentado. Para descobrir-se, porém, e experimentar aquele estado, acho que teremos, em primeiro lugar, de compreender o “mecanismo” do intelecto, da mente. A mente se constitui não apenas do consciente, mas também das muitas camadas daquilo a que chamamos “o inconsciente”; é um “mecanismo” total, embora, por conveniência, a dividamos em “consciente” e “inconsciente”, com as diferentes gradações de consciência existentes entre os dois. Para compreendermos as várias atividades da mente, devemos, por certo, não apenas investigar no nível superficial ou verbal, mas também penetrar profundamente no “mecanismo” do próprio pensamento.

O que desejo fazer nesta manhã, se for possível — e não sei se é — é produzir aquele estado que não é concebível, que não é imaginável, que não pode ser sistematizado nem conjecturado; e isso, por certo, não requer nenhuma condição de auto-hipnose nem de mera auto-sugestão, mas, sim, o gradual desdobrar-se — enquanto falo — do mecanismo da vossa própria mente. Podemos descobrir juntos e experimentar diretamente aquele estado a que aspiram todas as religiões — despidas do seu eclesiasticismo, dos seus dogmas, dos seus ritos e inumeráveis contrassensos? Não vou guiar-vos para o descobrirdes, pois o descobrimento tem de ser espontâneo. Deveis descobri-lo por vós mesmos. Tentarei tão somente descrever como esse estado aparece; mas, se apenas seguirdes a descrição verbal, então, é claro, não compreendereis esse estado, que só pode surgir quando a mente já não está “projetando” nem resistindo.

Como eu ia dizendo, temos em primeiro lugar de compreender o intelecto, o mecanismo da consciência, não apenas a superficial, senão também as suas camadas mais profundas; e, para o fazermos, precisamos, evidentemente, começar pelas reações e “respostas” verbais. Além do seu significado exterior, palavras como “deus”, “comunista”, “capitalista”, “avidez”, “progresso”, “morte”, têm uma grande significação para a maioria de nós, não é verdade? Têm elas uma significação assim neurológica como psicológica. As palavras são símbolos; e se as não empregamos, temos símbolos sob outras formas, como a cruz e os símbolos religiosos da Índia. E é possível abster-nos de reagir, de levantar barreiras, em reação aos símbolos? Pode a mente, naquele nível superficial, pôr de parte o mecanismo imaginativo, especulativo, verbal, com todas as suas reações? É muito difícil fazê-lo, pois, no momento, a mente só pensa dentro do âmbito das palavras, dos símbolos, das imagens.

E não devemos investigar o mecanismo do desejo? Sem dúvida, pois o desejo é parte da mente, do intelecto, da inteligência de que nos servimos no viver cotidiano. O desejo é o autêntico mecanismo da mente, da mente que acumula, retém, que possui inúmeros impulsos, busca sensações, exige mais, que evita a dor e anseia pelo prazer. A mente está sempre em procura de um abrigo seguro, onde possa habitar sem ser perturbada, não é exato? Procura viver permanentemente em segurança, numa ideia, numa crença, numa experiência, numa relação. Tudo isso é o mecanismo da mente, do que chamamos “intelecto”, “inteligência individual”; isso, que faz parte da consciência, manifesta ou oculta, é tudo o que sabemos.

Pois bem. Conhecendo o mecanismo integral de si mesma, pode a mente transcendê-lo? Pode ela estar serena, a fim de descobrir o que é verdadeiro, o que é real, o que é Deus? É isso o que desejo considerar nesta manhã. Pode a mente estar apercebidas das suas numerosas camadas, das reações verbais, dos apetites puramente físicos, das necessidades e impulsos biológicos, do cunho da tradição e do ambiente, das lembranças claras e ocultas — pode a mente estar apercebidas de tudo isso, sem interferir de maneira alguma? O pensamento é sempre condicionado enquanto é a expressão verbal da memória; e enquanto a mente não estiver de todo livre dessa extraordinária acumulação do passado, o desconhecido, evidentemente, é inalcançável. Enquanto não desaparecer o mecanismo de reconhecimento, não pode existir o novo.

Tende paciência, senhores; consideremos esta questão um pouco mais longamente. Afinal de contas, o que chamamos experiência é um mecanismo de reconhecimento, não é verdade? Quando vedes um certo animal, sabeis que é um cão, porque tendes conhecimento anterior da espécie e lhe destes um nome. Quando vos encontrais com um amigo, o reconheceis, porque tivestes experiência anterior dessa amizade. Quando há uma experiência psicológica, essa experiência foi conhecida anteriormente e lhe destes um nome. A mente pode reconhecer apenas o que já foi experimentado; não pode reconhecer uma coisa nova, pois o que é novo não é reconhecível. Assim, a Verdade, Deus, ou como o chamardes, tem de ser totalmente novo, não pode ser reconhecido. Se for reconhecido, então já foi experimentado antes, e o que já foi experimentado está compreendido na esfera do tempo. Procurai perceber isso claramente, e compreendereis algo. Não é difícil. As palavras que estou empregando podem ser difíceis; porém, o sentido, o significado do que digo é muito simples.

A função da mente é cognitiva, não é verdade? A mente reconhece, pensa; e seu pensar, seu reconhecer, seu experimentar procede todo do “fundo” (background) da memória. Afinal, se sou hinduísta meu condicionamento limita o meu pensar; penso em Deus, na moral, em conformidade com a tradição e tudo o que li nas escrituras hinduístas. E os que são cristãos ou budistas, ou o que quiserdes, e que têm inclinações religiosas estão igualmente condicionados por tudo o que lhes foi ensinado.

Pois bem. O que estamos tentando — não só agora, mas sempre — é descobrir se a mente pode libertar-se do seu condicionamento e experimentar o que nunca foi experimentado anteriormente. Sem dúvida, esse é o experimentar da Realidade e a religião verdadeira, não achais? A religião nada tem em comum com crenças, com símbolos, ritos, promessas, com esperanças e temores, em torno dos quais são construídos os credos e as igrejas. Tão pouco é questão de moralidade. O indivíduo de princípios morais pode nunca vir a conhecer a Realidade — o que não significa que para conhecer a Realidade deva ser imoral. A moralidade resultante de esforço consciente limita a mente. A virtude só é necessária porque dá liberdade; o homem, porém, que se esforça para tornar-se virtuoso, jamais é livre.

Nessas condições, conhecendo todo o conteúdo da mente, suas recusas, suas resistências, suas atividades disciplinares, seus vários esforços visando à segurança, coisas essas que têm o efeito de condicionar-lhe e limitar o pensar — pode a mente, como “mecanismo integrado”, estar totalmente livre para descobrir o que é eterno? Porque, sem esse descobrimento, sem o experimentar dessa realidade, todos os nossos problemas, com suas respectivas soluções, conduzem tão somente a novos sofrimentos e desastres. Isso é óbvio, e pode-se observar na vida de cada dia. Individualmente, politicamente, internacionalmente, em toda e qualquer atividade, estamos sempre a criar maiores malefícios, o que será sempre inevitável, enquanto não tivermos experimentado aquele estado de religião, aquele estado que só é possível experimentar-se quando a mente se acha de todo livre.

Agora, tendo ouvido isto, podeis, ainda que por um segundo, conhecer aquela liberdade? Não podeis conhecê-la apenas por eu a estar sugerindo, pois, nesse caso, ela seria unicamente uma ideia, uma opinião, sem muito significado. Entretanto, se tendes acompanhado todas estas palestras muito seriamente, estais começando a conhecer o mecanismo do vosso próprio pensar, sua direção, seus intentos, seus móveis; e, em vista desse conhecimento, chegareis, por força, ao estado em que a mente já não está a procurar, a escolher, lutando para realizar seus fins. Depois de perceber todo o seu próprio mecanismo, a mente se torna tranquila num grau extraordinário, sem nenhuma tendência, sem nenhuma volição, sem nenhuma ação voluntária. A vontade é ainda desejo, não é verdade? O homem ambicioso, no sentido mundano, sente um forte desejo de realizar algo, de ser bem-sucedido, tornar-se famoso, e exerce a vontade para resguardar a própria importância. De modo idêntico, exercemos a vontade para desenvolver a virtude, para alcançar um estado dito espiritual. A coisa de que estou falando, porém, é de todo diferente, inteiramente livre de qualquer desejo, de qualquer ação, de qualquer compulsão para ser isso ou aquilo.

Ao examinardes o que digo, estais exercendo a razão, não é verdade? A razão, todavia, conduz-nos apenas até um certo ponto, e não mais além. Devemos obviamente exercer a razão, a capacidade de pensar nas coisas de princípio a fim, sem pararmos a meio caminho. Mas, quando a razão alcançou os seus limites e não pode ir mais longe, então a mente já não é o instrumento da razão, da astúcia, do cálculo, do ataque e da defesa, desde que o próprio centro de onde procedem todos os nossos pensamentos e todos os nossos conflitos deixou de existir.

Pois bem. Agora que tendes ouvido estas palestras, começais, por certo, a conhecer a vós mesmos momento por momento, durante o dia, nas vossas diversas atividades; a mente está começando a conhecer-se a si mesma, com todas as suas tortuosidades, resistências, crenças, suas exigências, buscas, ambições, seus temores e ânsia de preenchimento. Uma vez apercebida de tudo isso, não é possível à mente, ainda que por um segundo, ficar totalmente tranquila, conhecer um silêncio em que existe liberdade? E quando há essa liberdade silenciosa, então não é a mente, ela própria, o eterno?

Para conhecer o desconhecido, deve a mente ser, ela própria, o desconhecido. A mente tem sido até agora o resultado do conhecido. Que sois vós senão uma acumulação de coisas conhecidas: vossas tribulações, vossas vaidades, vossas ambições, dores, realizações e frustrações? Tudo isso é conhecido, o conhecido do tempo e do espaço; e enquanto a mente estiver funcionando dentro da esfera do tempo, do conhecido, jamais poderá ser o desconhecido: continuará, tão somente, a experimentar o que é conhecido.

Senhores, isto não é algo complicado ou misterioso: descrevo fatos evidentes da nossa existência cotidiana. Com a carga do conhecido, procura a mente descobrir o desconhecido. Como pode consegui-lo? Todos falamos de Deus; em todas as religiões, em todas as igrejas e templos esta palavra é empregada; sempre, porém, à imagem do conhecido. São pouquíssimos os que abandonam todas as igrejas, todos os templos e livros, e passam além, para descobrir.

No momento, a mente é o resultado do tempo, do conhecido, e quando a mente, em tais condições, se põe a caminho para descobrir, só pode descobrir o que já experimentou. Para descobrir o desconhecido, precisa libertar-se de todo do conhecido, do passado, não por meio de uma análise lenta, não por uma investigação gradual do passado, interpretando cada sonho, cada reação, mas pelo perceber, completamente, instantaneamente, enquanto estais aqui sentados, a verdade do que estou dizendo. Enquanto a mente for resultado do tempo, do conhecido, nunca encontrará o desconhecido, que é Deus, Realidade, ou como quiserdes chamá-lo. O percebimento da verdade a esse respeito, liberta a mente do passado. Não traduzais logo a expressão “libertar-se do passado” como significando “esquecer-se do caminho de casa”. Isto é amnésia. Não o reduzais a uma maneira de entender tão infantil. Entretanto, a mente está libertada no momento em que percebe a verdade de que não pode encontrar o Real, essa inefável presença do desconhecido, quando está cheia do “conhecido”. O conhecimento, a experiência é o “eu”, o “eu” que acumulou e juntou; por consequência, todo conhecimento tem de ser sustado, toda experiência posta de parte. E quando há o silêncio da liberdade, não é então a mente, ela própria, o eterno? Ela está então experimentando algo inteiramente novo, que é o Real; mas, para o experimentar, a mente deve sê-lo. Por favor, não afirmeis ser a mente a Realidade. Não o é. A mente só pode experimentar a Realidade, quando está totalmente livre do tempo; e esse “mecanismo de descobrimento” é religião. Porque religião não é o que credes. Nenhuma relação tem com o fato de serdes cristão ou budista, muçulmano ou hinduísta; essas coisas não têm significação alguma, sendo, antes, um obstáculo; e a mente desejosa de descobrir, deve despojar-se completamente delas todas. Para ser nova, a mente deve estar sozinha; para que possa realizar-se a eterna criação, deve a mente achar-se no estado de recebê-la. Mas, enquanto estiver às voltas com suas tribulações e lutas, enquanto estiver carregada de conhecimentos, embaraçada pelos obstáculos psicológicos, nunca estará a mente livre para receber, para compreender, descobrir.

Nessas condições, uma pessoa verdadeiramente religiosa não é aquela coberta por uma crosta de crenças, dogmas, rituais. A pessoa religiosa não tem crenças; vive de momento a momento, sem jamais acumular experiência alguma; por consequência, só ela é um ente verdadeiramente revolucionário. A verdade não é uma continuidade no tempo; é para ser descoberta a cada momento que passa. A mente que acumula, que retém, que entesoura experiência, não pode viver momento por momento, descobrindo o novo.

Os que sentem verdadeiro interesse, os que não são meros diletantes, que não estão apenas a brincar com estas coisas, têm uma importância extraordinária na vida, porquanto eles se tornarão uma luz para si próprios e, por conseguinte, para outros também. Falar de Deus, sem se experimentar, sem se ter uma mente de todo livre, e, portanto, aberta para o desconhecido, é coisa de mui pouca valia; é o mesmo que pessoas adultas se entreterem com brinquedos; e quando nos entretemos com brinquedos e chamamos a isso religião, estamos criando mais confusão, causando mais sofrimento. E só ao compreendermos todo o mecanismo do pensar e dele nos libertarmos, pode a mente estar tranquila; só então se manifesta o Eterno.

Krishnamurti em, Percepção Criadora,
5 de julho de 1953
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Alcançando o verdadeiro estado religioso

Conhecendo todo o conteúdo da mente — suas negações, suas resistências, suas atividades disciplinares, seus vários esforços por segurança, tudo o que condiciona e limita seu pensar — pode a mente, como um processo integrado, estar totalmente livre para descobrir o que é eterno? Porque, sem esse descobrimento, sem essa experiência dessa realidade, todos os nossos problemas com suas soluções só conduzirão a mais desastres e misérias. Isso é óbvio, vocês podem constatá-lo na vida cotidiana. Individualmente, politicamente, internacionalmente, em cada atividade, estamos criando mais e mais problemas, que são inevitáveis enquanto não tenhamos alcançado esse estado religioso que só é atingível quando a mente se encontra totalmente livre.

Após ouvirem isto, vocês podem, mesmo que por um só momento, conhecer essa liberdade? Não podem, pelo simples fato de que eu a estou sugerindo, o que então seria apenas uma ideia, uma opinião sem qualquer sentido. Mas se vocês me acompanharam seriamente, estão começando a se conscientizar do processo de seus próprios pensamentos, de suas tendências, de seus propósitos, de seus motivos e, estando conscientes, estão sujeitos a chegar a um estado no qual a mente não estará mais buscando, escolhendo, lutando por alcançar. Tendo percebido seu próprio processo total, a mente se torna extraordinariamente quieta, sem qualquer tendência, sem qualquer volição, sem qualquer ato de vontade. Vontade é ainda desejo, não é? O homem que é ambicioso, na acepção mundana, tem um forte desejo de vencer, de ser bem-sucedido, de ficar famoso e exercita a vontade para sua própria auto-importância. Da mesma forma, nós exercitamos a vontade para desenvolver a virtude, para alcançar o assim chamado estado espiritual. Mas eu estou falando de uma coisa completamente diferente, destituída totalmente de qualquer desejo, de qualquer ação voltada a uma fuga, de qualquer compulsão a ser isto ou aquilo.

Ao analisar o que estou dizendo, vocês estão exercitando a razão, não estão? Mas a razão só pode levar até aí e não além. Precisamos, obviamente, exercitar a razão, a capacidade de refletir completamente a respeito das coisas e não parar pela metade. Mas quando a razão tiver atingido os seus limites e não puder ir além, então a mente deixará de ser um instrumento da razão, da astúcia, de cálculo, de ataque e defesa porque o próprio centro de onde emana todos os nossos pensamentos, todos os nossos conflitos, terá chegado ao fim.

Desse modo, agora que vocês escutaram o que eu disse, sem dúvida estão começando a estar conscientes de si mesmos, a cada momento, durante o dia, em suas várias atividades. A mente está começando a conhecer a si mesma, com todos os seus desvios, suas resistências, suas crenças, suas buscas, suas ambições, seus temores, suas ânsias de realização. Estando consciente de tudo isso, não é possível á mente, mesmo que por um só instante, estar absolutamente quieta, conhecer um silêncio no qual existe liberdade? E quando existe essa liberdade do silêncio, não é a mente, em si, eterna?

Para experimentar o não-conhecido, a própria mente precisa ser o não-conhecido. A mente, até agora, é o resultado do conhecido. Que é você senão o acúmulo do conhecido, de todos os seus problemas, de suas vaidades, de suas ambições, de suas dores, de suas realizações e de suas frustrações? Tudo isso é o conhecido, o conhecido no tempo e no espaço, e enquanto a mente estiver trabalhando dentro do âmbito do tempo, do conhecido nunca poderá ser o não conhecido, só poderá continuar experimentando aquilo que conheceu. Por favor, isso não é algo complicado ou misterioso. Estou descrevendo fatos óbvios de nossa existência diária. Sob o peso do conhecido, a mente anseia descobrir o não-conhecido. Como pode ela? Todos falamos de Deus — em toda religião, em todos os templos e igrejas essa palavra é usada para, mas sempre dentro da imagem do conhecido. Somente poucos, os muito poucos que abandonam todas as igrejas, templos e livros, vão além e descobrem.

No momento, a mente é o resultado do tempo, do conhecido, e quando essa mente se decide a descobrir, só pode descobrir o que já experimentou, o que é o conhecido. Para descobrir o desconhecido, a mente tem que libertar-se completamente do conhecido, do passado, não através de uma análise lenta, não exumando pouco a pouco o passado, interpretando cada sonho, estudando cada reação, mas vendo a verdade de tudo isso completamente, instantaneamente, enquanto vocês estão aí sentados. Enquanto a mente for resultado do tempo, do conhecido, nunca poderá descobrir o não-conhecido, que é Deus, realidade, ou o nome que vocês lhe deem. Ver a verdade disso liberta a mente do passado. Não traduzam imediatamente libertação do passado por não saberem o caminho de casa. Isso é amnésia. Não reduzam as coisas a um pensamento infantil. Mas a mente se torna livre a partir do momento que reconhece a verdade de que ela não pode descobrir o real — esse extraordinário estado do não-conhecido — quando está arcada sobre o peso do conhecido. Conhecimento, experiência são o “eu”, o ego, a personalidade que acumulou, que reuniu; portanto, todo conhecimento precisa ser sustado, toda experiência posta de lado. E quando existe o silêncio da liberdade, não é a própria mente o eterno? Está ela, então, experimentando algo totalmente novo, que é o real; mas para experimentar o real, a mente precisa ser o real. Por favor não digam que a mente é a realidade. Não é. A mente só pode experimentar a realidade quando estiver totalmente livre do tempo.

Todo esse processo de descoberta é religião. Certamente que religião não é aquilo que vocês acreditam ser. Não tem nada a ver com o fato de vocês serem cristãos ou budistas, maometanos ou hindus. Essas coisas não têm importância; elas constituem um obstáculo e a mente que vai descobrir precisa estar completamente despida de tudo isso. Para ser nova, a mente precisa estar sozinha. Para que a eterna criação se concretize, a própria mente precisa estar nesse estado para recebe-la. Mas, enquanto ela estiver cheia de trabalhos e de lutas, enquanto estiver sobrecarregada de conhecimentos e complicada por meio de bloqueios psicológicos, a mente nunca estará livre para receber, entender, descobrir.

A pessoa verdadeiramente religiosa não é a que está mergulhada em crenças, dogmas, rituais. Ela não tem crenças; está vivendo de momento a momento, nunca acumulando nenhuma experiência e, portanto, é ele o único ser revolucionário. A verdade não é uma continuidade do tempo; ela precisa ser descoberta de novo, a cada momento. A mente que reúne, que amealha, que valoriza qualquer experiência não tem condições de viver cada momento descobrindo o que é novo.

Aqueles que estão realmente interessados, que não são amadores, que não estão apenas se divertindo com tudo isso, têm uma extraordinária importância na vida porque se tornarão uma luz para si mesmos e, talvez, para os outros. Falar de Deus sem experimentação, sem possuir a mente totalmente livre e, através disso, aberta para o não-conhecido, tem muito pouco valor. É como pessoas adultas que se divertem com brinquedos; e quando estamos nos divertindo com brinquedos; e quando estamos nos divertindo com brinquedos, chamando isso de “religião”, geramos maior confusão, mais miséria.

Somente quando entendemos nosso processo de pensar, quando não estamos mais perturbados em nossos próprios pensamentos é que é possível à mente estar quieta. E só então o eterno se concretiza.


Jiddu Krishnamurti — Ojai, 5 de julho de 1953

domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre o surgimento daquilo que é eterno

Pergunta: Há um impulso em todos nós, para ver Deus, a Realidade, a Verdade. A busca da beleza não é a mesma coisa que a busca da Realidade?

Krishnamurti: Senhores, compreendam que não se pode procurar a Deus. Não se pode procurar a verdade. Porque, quando procuramos, o que achamos não é a verdade. Nossa busca é o desejo de achar o que desejamos. Como podemos procurar uma coisa que desconhecemos? Vocês procuram uma coisa a cujo respeito leram e a que chamam verdade; ou procuram algo a respeito de que possuem um sentimento interior. Precisam, por conseguinte, compreender o motivo da busca de vocês, que é muito mais importante do que a busca da verdade.

Por que procuram, e o que procuram? Vocês não têm vontade de procurar, se são felizes, se há alegria em seus corações. Nós procuramos, porque estamos vazios. Vemo-nos frustrados, somos infelizes, violentos, cheios de antagonismo; é por isso que cremos, e desejamos, por isso, fugir a esse estado, procurando algo maior. Observem a si mesmos e verificarão o que estou lhes dizendo  não se limitando, apenas, a escutarem as minhas palavras. A fim de escaparem de seus atuais conflitos psicológicos, seus sofrimentos, antagonismos, vocês dizem “Estou procurando a verdade”. Não encontrarão a verdade, porque a verdade não vem quando estão a fugir da realidade, daquilo que é. Precisamos compreendê-lo. Para compreendê-lo, não devem sair em busca da solução fora dele. Não podem, pois, procurar a verdade. Ela tem de vir a vocês. Não podem invocar a Deus, e não podem ir a Ele. A adoração, a devoção de vocês é completamente sem valor, porque desejam alguma coisa, estendem a mão para receber uma esmola. Estão, portanto, à procura de quem preencha o vazio de vocês. E sentem mais interesse pela palavra do que pela cosia. Mas se vocês se contentam com aquele extraordinário estado de solidão, sem desvios nem distrações, só então surge na existência aquilo que é eterno. A maior parte de nós está de tal maneira condicionados, de tal maneira fomos educados, que desejamos fugir; e a coisa para a qual fugimos chamamos Beleza. Buscamos a beleza por intermédio de uma coisa qualquer  da dança, dos ritos, da oração, da disciplina, de várias espécies de fórmulas, da pintura, da sensação. Não é exato? Assim, enquanto estivermos à procura da beleza por meio de alguma coisa, nunca conheceremos a beleza, porque a coisa por cujo intermédio a procuramos, se torna sumamente importante. Não a beleza, mas sim o objeto por meio do qual a procuramos, assume toda a importância, e ficamos apegados a ele. Não se acha a beleza por meio de coisa alguma; isso seria apenas uma sensação, que costuma ser explorada pelos astutos. A beleza vem com a regeneração interior, com a completa e radical transformação da mente, o que requer excepcional estado de sensibilidade.

A feiura só é um mal quando não temos sensibilidade. Se são sensíveis ao belo, rejeitando o que é feio, não são sensíveis ao belo. O que mais importa não é o feio, nem o belo, mas sim que haja sensibilidade para ver, para reagir tanto ao que chamamos o feio como o belo.

Mas se só tomam conhecimento do belo e repelem o feio, é a mesma cosia que empurrar um braço; toda a existência de vocês fica desequilibrada. Vocês não fechem a porta ao mal, negando-o, chamando-o de feio, combatendo-o, opondo-se violentamente a ele? Só se interessam pelo belo. Só a ele desejam. Nesse processo perde-se a sensibilidade.

O homem que é sensível tanto ao feio como para o belo, passa além, distancia-se das coisas por meio das quais busca a verdade. Mas não somos sensíveis nem para o belo nem para o feio; vivemos fechados com nossos pensamentos, nossos preconceitos, nossas ambições, nossa ganância e inveja. Como pode ser sensível a mente que é ambiciosa, espiritualmente, ou noutro sentido? Só pode haver sensibilidade quando se compreende todo o processo do desejo; porque o desejo é um processo egocêntrico, e no egocentrismo não é possível descortinar o horizonte. A mente é então sacrificada pelo seu próprio vir-a-ser. A mente só é capaz de apreciar a beleza, através de alguma coisa. Essa mente não é bela. Essa mente não é boa, é uma mente feia, uma mente que está fechada e que busca proteção para si. Nunca essa mente descobrirá a verdade. Só quando a mente deixa de fechar-se com seus ideais, seus interesses e ambições, só então é bela.

Jiddu Krishnamurti   - 27 de janeiro de 1952 – Quando o pensamento cessa


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A verdade floresce quando a mente está de todo tranqüila

Não precisamos procurar a verdade. A verdade não é uma coisa que está muito longe de nós. Ela é a verdade da mente, a verdade das suas atividades, momento a momento. Se estamos cônscios dessa verdade, (…) tal percebimento liberta a consciência ou a energia que é inteligência, amor. Enquanto a mente se servir da consciência como atividade do “eu”, o tempo tem de existir, com todas as suas tribulações, (…) conflitos, (…) malefícios e (…) ilusões (…); só quando a mente, compreendendo esse processo total, cessa de existir, pode haver o amor.(1) 

Para descobrir a verdade, não há caminho algum. Tendes de entrar no mar desconhecido - o que não é desanimador nem empresa aventurosa. Quando desejais achar algo de novo, quando estais investigando (…), vossa mente tem de estar muito tranqüila (…). Se a mente está repleta de fatos, de saber, eles atuam como empecilhos ao que é novo. A dificuldade está em que, para a maioria de nós, o saber se tornou tão importante, de significação tão preeminente, que está sempre intervindo em tudo o que é novo, (…). Assim, o saber e a cultura são empecilhos, para aqueles que desejam investigar, (…) compreender o que é atemporal.(2)

Nessas condições, para compreendermos aquilo que representa o mais alto, o supremo, o real, precisamos começar muito de baixo, muito perto de nós; isto é, precisamos averiguar o valor das coisas, das relações e das idéias com que nos ocupamos cada dia.(3)

(…) Para chegar longe, precisamos começar com o que está perto. Isso não requer nenhuma renúncia extraordinária, mas um estado de elevada sensibilidade; (…) e só nesse estado de sensibilidade pode-se receber a verdade - a qual não é para os insensíveis, os indolentes, os desatentos.(4)

Mas o homem que começa com o que está perto, que está cônscio dos seus gestos, sua fala, sua maneira de comer, de falar, sua conduta - para este há a sensibilidade de penetrar muito extensamente, muito amplamente nas causas do conflito.(5)

Não podeis subir muito se não começais por baixo: não quereis ser simples, não quereis ser humildes. (…) Assim, um homem que realmente desejasse achar, conhecer a verdade, (…) estar aberto para a verdade, teria de começar muito perto de si, deveria avivar a própria sensibilidade, mediante vigilância, tornando sua mente apurada, clara e simples. Uma mente assim não anda em busca dos seus próprios desejos. (…). Só assim é possível a paz; porque essa mente descobre o imensurável.(6)

A verdade não pode ser acumulada. O que se acumula é sempre destruído, (…). A verdade nunca fenece, porque só pode ser encontrada de momento a momento, em cada pensamento, cada relação, cada palavra, cada gesto, num sorriso, numa lágrima. E se vós e eu pudermos achá-la, e vivê-la - o próprio viver é o descobrimento dela - não seremos então propagandistas, mas entes humanos criadores.(7)

(…) Mas a Realidade é algo que se conhece? E se a conhecemos, isso é o Real? Por certo, a Realidade é algo que se manifesta momento a momento, e que só se pode encontrar no silêncio da mente. Não há caminho para a verdade (…), porque a Realidade é o incognoscível, o inominável, o impensável.(8)

(…) O que podeis pensar a respeito da verdade é produto de vosso fundo mental, vossa tradição, vosso saber. Mas a verdade nada tem em comum com o saber, (…) a memória, (…) a experiência. Se a mente pode criar um Deus - como de fato cria - isso por certo não é Deus.(9)
A verdade só pode vir a vós quando vossa mente e coração são simples e claros, e existe amor no vosso coração, e não se vosso coração está cheio das coisas da mente. (…) E ela só pode vir quando a mente está vazia, quando a mente desiste de criar. Ela virá, então, sem a chamardes. Virá veloz como o vento, sem ser pressentida. A verdade vem no escuro e não quando estamos à sua espreita, desejando-a. Ela surge súbita como a luz do sol, pura como a noite, mas, para a receber, deve o coração estar cheio e a mente, vazia.(10)

(…) A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando nos preparamos para recebê-la. (…) Assim, pois, uma mente que está presa na rede de palavras, não pode compreender a verdade.(11)

(…) A verdade não é acumulativa. Ela está presente momento a momento. O que é acumulativo (…) é a memória, e pela memória nunca se pode achar a verdade; porque a memória é produto do tempo (…). O que tem duração não é eterno. A eternidade está no agora.(12)

A mente desejosa de transformação futura (…) nunca poderá achar a verdade. Porque a verdade é uma coisa que deve vir momento a momento; que precisa ser descoberta de novo; (…). Como é possível descobrirdes o que é novo, com a carga do velho? É só pelo desaparecimento dessa carga que se descobre o novo. (13)


(…) Não vos choqueis, não vos sintais desapontados - a verdade nem sempre é aprazível. A verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem.(14)

A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e esquecida - “esquecida”, no sentido de que não a levamos conosco como lembrança da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a qualquer instante (…) a Verdade reaparecerá.(15)

(…) Só existe a verdade quando estais livres da dor, da ansiedade, da agressividade que ora vos enchem a mente e o coração. Ao perceberdes tudo isso e alcançardes aquela bênção chamada amor, conhecereis então a verdade do que se está dizendo.(16)

Ora, a verdade tem um lugar permanente? A verdade ocupa um ponto fixo? A verdade tem morada, ou é uma coisa dinâmica, viva, e portanto sem pouso certo? A verdade está em movimento constante; mas se dizeis que ela é um ponto fixo, tereis então de achar um guru que vos leve a esse ponto, e o guru se tornará necessário para vos apontar o caminho.(17)

(…) Por outras palavras, quando procurais o guru não estais em busca a verdade, buscais segurança num nível diferente, (…). Mas é a verdade permanência? Não sabeis, (…). Mas não ousais declarar que não sabeis, porque o reconhecer que não sabemos é uma experiência verdadeiramente devastadora.(18)

Mas, sem dúvida, tendes de sofrer uma devastação antes de descobrirdes a verdade; precisais achar-vos naquele estado de incerteza, de total frustração, sem possibilidade de fuga; tendes de ser posto frente a frente com o vácuo, o vazio, sem nenhuma passagem por onde fugir. Só então achareis o que é verdade. Mas especular sobre a verdade, pensar na verdade, é negar a verdade.(19)

Vossos pensamentos e especulações a respeito da verdade não têm validade. Toda idéia é produto do pensamento, e o pensamento é memória (…) Assim, para o homem que busca a verdade, o guru é inteiramente desnecessário. A verdade não está longe, a verdade está muito perto, naquilo que pensais e sentis, em vossas relações com vossa família, vosso vizinho, com a propriedade e as idéias.(20)

Procurar a verdade em alguma esfera abstrata é pura ideação, e a maioria de nós procura a verdade por essa maneira, como um meio de fugir à vida. A vida nos esmaga, é sobremodo exigente e dolorosa, (…). Conseqüentemente, procuramos um guru para nos ajudar a fugir; (…) a ele nos apegamos.(21)

(…) A verdade é uma coisa viva, e para uma coisa viva não há nenhum caminho - só para as coisas mortas pode haver um caminho. Porque a verdade não tem caminho, para a descobrirdes tendes de ser aventuroso, estar pronto para o perigo; e pensais que um guru vos ajudará a ser aventuroso, a viver no perigo? Se procurais um guru, é porque não sois aventuroso, estais apenas à procura (…) de segurança.(22)

(…) Essa realidade é um ser eterno no presente, e não no futuro; ela está no agora imediato, não no futuro remoto. Para compreender esse agora, essa eternidade, a mente deve estar livre do tempo, o pensamento deve cessar. Todavia, tudo que estais fazendo atualmente só serve para cultivar o pensamento, condicionar a mente, e por isso nunca há para vós o novo.(23)

Enquanto existe o processo de pensamento, não pode existir a verdade (…). Não podeis criar tranqüilidade à força, (…) tornar a mente serena, (…) forçar o pensamento a parar. Cumpre-nos compreender o processo do pensamento e transcender o pensamento; só então a verdade libertará o pensamento de seu próprio processo.(24)

Nasce a verdade quando a mente está de todo tranqüila, numa tranqüilidade não artificial, não “feita”; surge essa tranqüilidade só quando há compreensão; e essa compreensão não é difícil, mas exige toda a vossa atenção. É negada a atenção quando viveis apenas no cérebro, e não com todo o vosso ser.(25)

A realidade não é algo abstrato ou teórico, (…) a realidade está na compreensão da vida de relação, no estarmos cônscios, a todos os momentos, do nosso falar, da nossa conduta, da maneira como tratamos as pessoas, (…) como consideramos os outros; porque a conduta correta significa virtude, e aí se encontra a realidade.(26)

A verdade, portanto, não é para as pessoas respeitáveis, nem para os que desejam a expansão, o preenchimento do seu próprio “eu”. A verdade não é para os que buscam segurança e permanência; porque a permanência que buscam é meramente o oposto da impermanência. Presos que estão na rede do tempo, buscam aquilo que é permanente; (…) Por conseguinte, o homem que deseja descobrir a realidade tem de sustar a busca - o que não significa que deva contentar-se com o que é.(27)

Pelo contrário, um homem que está todo empenhado no descobrimento da verdade deve ser, interiormente, um revolucionário completo. Não pode pertencer a nenhuma classe, nação, grupo ou ideologia, (…); (…) a verdade não pode ser encontrada nas coisas feitas pela mão ou pela mente.(28) 

A verdade vem a todo aquele que está livre do tempo, que não se está servindo do tempo como meio de auto-expansão. O tempo significa memória, (…). Enquanto existe o “ego”, o eu”, o “meu”, em qualquer nível (…), ele está sempre dentro da esfera do pensamento. Onde está o pensamento está o oposto, porque o pensamento cria o oposto; e enquanto existe o oposto não pode existir a verdade.(29)

Não há caminho para a Verdade. A Verdade tem de ser descoberta, mas nenhuma fórmula existe para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Tendes de lançar-vos ao mar desconhecido, e este mar desconhecido sois vós mesmos. Tendes de pôr-vos a caminho, para o descobrimento de vós mesmos, mas não de acordo com algum plano ou padrão, (…). O descobrimento traz alegria - não a alegria que é lembrada, que é comparada, mas a alegria que é sempre nova. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se encontra o Imensurável.(30)

Mas a verdade é uma realidade que não pode ser compreendida seguindo-se um caminho. A verdade não é um condicionamento, uma modelagem da mente e do coração, mas um preenchimento constante, (…) na ação. O inquirirdes sobre a verdade implica que acreditais em um caminho para a verdade, e esta é a primeira ilusão a que estais presos. Nisso há imitação, deformação. (…) Digo que cada um deve descobrir por si próprio o que é a verdade, mas isso não significa que cada um deva delinear um caminho para si próprio.(31)

A verdade se encontra no mar - do qual não existe mapa - do autoconhecimento. (…) Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da verdade. Os que se aprofundaram no autoconhecimento são flexíveis. Sabemos que uma das causas da resistência é a especialização; e outra causa é a imitação.(32)

É só quando o pensamento está libertado dos valores materiais criados pela mão ou pela mente, que nos é dada a visão da verdade. Não há senda conducente à Verdade. Tendes de navegar por mares sem roteiros para a encontrardes. A realidade não pode ser comunicada a outro; porquanto, o que se comunica é o que já se sabe, e o que é sabido não é o Real.(33)

Sinto que ninguém pode guiar outrem à verdade, porque a verdade é infinita; é uma terra sem caminhos, e ninguém pode dizer-vos como encontrá-la. Ninguém pode ensinar-vos a ser artista; alguém poderá apenas dar-vos os pincéis e a tela e mostrar-vos as cores a usar. (…) Só quando estais absolutamente desnudo, livre de todas as técnicas, livre de todos os instrutores, é que descobris.(34)

(…) Precisais buscar a verdade por vós mesmos, como indivíduos, visto que ela mora em vós, não no exterior. Quando o indivíduo se houver compreendido a si mesmo, viverá num ambiente de perfeita harmonia e não contribuirá para a desordem do mundo.(35)
Pergunta: Vós alcançastes a Realidade. Podeis dizer-nos o que é Deus?

Krishnamurti: Senhores, como sabeis que alcancei a Realidade? Para o saberdes seria necessário que tivésseis também alcançado a Realidade. (…) E que importância tem compreender a Realidade alcançada por outro homem, (…) conhecer esse homem?(36)

Ora bem, quereis que eu vos diga o que é a Realidade. Mas pode o indescritível ser expresso em palavras? Pode-se medir o imensurável? Pode-se aprisionar o vento numa mão fechada? (…) No momento em que traduzis o incognoscível no que conheceis, não é mais o incognoscível o que traduzistes.(37)

(…) Conseqüentemente, em vez de procurardes aquele homem que alcançou a Realidade, ou perguntardes o que é Deus, por que não aplicais toda a vossa atenção à percepção do “que é”? Encontrareis, então, o desconhecido, ou, antes, o desconhecido virá ao vosso encontro.(38)
(…) Não pode a realidade manifestar-se àquele que quer “vir a ser”, àquele que luta; ela só pode manifestar-se àquele em que há o “ser” (…) que compreende o “que é”. Assim como a solução de um problema está contida no próprio problema, assim também a realidade está contida no “que é”, e se formos capazes de compreender o “que é”, compreenderemos a Verdade.(39)

(…) Assim, pois, não está longe de nós a Realidade, mas nós a distanciamos, (…). A Realidade está presente aqui, neste momento, (…) ao nosso alcance. O eterno, o atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede o tempo. (…) Essa libertação só é possível mediante meditação correta, que significa ação completa.(40)

Só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a madureza não segue caminho algum, seja o caminho dos Adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação. O homem que foi posto num determinado caminho, não está amadurecido e não encontrará, jamais, o Eterno, o atemporal... Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como nos será possível abandonar aquilo que estamos apegados há cinqüenta ou sessenta anos?... Mas, vós vos entregastes a uma organização, da qual sois presidente, secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de ação, está preso a sistemas, e não encontrará a Verdade. Através da parte nunca se encontra o todo. Através de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, e só pode ver com clareza o céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos, de todas as tradições, e nesse homem há esperanças.(41)

A todo aquele que deseja descobrir a verdade, o real, o eterno, cumpre que abandone todos os livros, sistemas, "gurus", pois aquilo que deseja achar só se achará quando compreender a si próprio.(42)
 
Uma mente torturada, frustrada, moldada pelo que a rodeia, que se conforma à moral social estabelecida é, em si própria, confusa; e uma mente confusa não pode descobrir o que é a Verdade. Para a mente descobrir esse estranho mistério -- se tal coisa existe - - ela precisa de construir as bases de uma conduta moral, o que não tem nada a ver com a moralidade social, uma conduta sem medos e, portanto, livre. Só então -- depois de lançada esta base profunda -- a mente poderá prosseguir no sentido de descobrir o que é meditação, essa qualidade de silêncio, de observação, no qual o "observador" não existe. Se esta base de conduta correcta não está presente na existência de cada um, na sua acção, então a meditação tem muito pouco significado.(43)

Aqueles que desejam entender, que estão procurando descobrir o que é eterno, sem começo e sem fim, caminharão juntos com maior intensidade, e constituirão um perigo para tudo o que não é essencial, para as ilusões, para as sombras. E eles se congregarão, tornar-se-ão a chama, pois compreendem. Este é o conjunto de pessoas que devemos criar, e este é o meu propósito. Por causa dessa verdadeira amizade... haverá uma cooperação de verdade da parte de cada um. E não haverá autoridade.(44)

Se você não tem luz, não pode ajudar outra pessoa a tê-la. Você pode explicar muito claramente ou defini-la em palavras bem escolhidas, mas isso não terá a paixão da verdade.(45)

A Verdade não pode ser ensinada; tendes de descobri-la por vós mesmos; mas não tereis possibilidade de descobri-la se começardes com o pressuposto de que a Verdade existe ou não existe, de que Deus existe ou não existe. Só poderemos descobrir se existe ou não a Verdade, se começarmos a aprender, se passarmos a investigar, a indagar; e não há investigação quando se começa com uma conclusão, um pressuposto.

Se observades vossa própria mente, vereis quanto é difícil estar-se livre de conclusões. Afinal, o que sabeis é uma série de conclusões, constituída daquilo que vos foi ensinado, do que aprendestes dos livros ou do que achastes em vossas próprias reações - e sobre tal base começais a pensar, a levantar o edifício do pensamento! Mas, sem dúvida, a mente que deseja descobrir o que é Verdade ou Deus, deve começar sem nenhum pressuposto, nenhuma conclusão, quer dizer, livre para investigar. E se observades vossa própria mente, vereis que não é livre. Está cheia de conclusões, pejada de conhecimentos, provindo de muitos milhares de dias passados; ela pensa segundo o Gita, segundo a Bíblia ou o Alcorão, ou um certo instrutor, e começa com o pressuposto de que o que dizem é a Verdade. Mas, se ela já sabe o que é a Verdade, é claro que não tem necessidade de procurar a Verdade.(46)

Algumas pessoas vão à Índia, mas não sei por que fazem isso: a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é uma fantasia. A verdade está onde você está. Não em algum país estrangeiro, mas onde você está. A verdade é o que você está fazendo, como está se comportando. Está aí, não nas cabeças raspadas e naquelas bobagens que os homens têm feito.(47)

É a Verdade que liberta; não o meio, ou o sistema.(48)

A verdade não está longe de nós. Ela se acha à nossa frente,e só temos de saber olhá-la. A mente cheia de preconceitos, conclusões, crenças, não tem nenhuma possibilidade de vê-la; e um dos nossos piores preconceitos é o processo analítico. Percebendo isso, o abandonareis. E, uma vez abandonado, ele não tornará a enredar-vos; nunca mais pensareis com propósitos de ascenção, de repressão, de resistência, porque tudo isso está implicado na análise.(49)

Para descobrir o que é verdadeiro, ou qual a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa a reincarnação ou qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções. Se estas consistem em procurar segurança, o conforto, então, é bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de abrir a porta às perturbações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.(50)

Ansiamos a segurança e esse anseio é um obstáculo à nossa libertação pelo conhecimento da Verdade. Cada um de nós deseja submeter-se a algum padrão; porque a submissão é mais fácil do que a vigilância. A submissão a padrões representa a base de nossa existência social, pois temos medo de estar sós. O temor e a renúncia a pensar acarretam a aceitação e a submissão, a aceitação de autoridade. Tal como acontece com o indivíduo assim também acontece com o grupo, com a nação.(51)

Só a Verdade pode libertar-nos. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém, quando não existe a autoridade de espécie alguma - seja a autoridade da tradição, seja a autoridade dos livros, do guru, da nossa própria experiência. Nossa experiência é resultado de nosso condicionamento, e tal experiência não pode ajudar-nos a descobrir o que é a Verdade.(52)

Os que desejam deveras descobrir a Verdade relativa aos seus problemas, devem, naturalmente, por à margem tudo quanto é autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar, para nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" - aquele que mora na Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaya, ou "ali na esquina". Todos precisamos de alguém para ajudar-nos. Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos, assim, a nós mesmos, o descobrimento da Verdade.(53)

Só pode manifestar-se a Realidade quando a mente percebe o seu próprio processo, percebe o quanto está condicionada, e quanto está livre do seu próprio processo de reconhecimento. Só então há possibilidade de a mente ficar tão tranquila que seja capaz de receber aquilo que é a Verdade. A Verdade é atemporal. Não depende do tempo. Por conseqüência, não pode ser aprendida e guardada para uso, ou lembrada e seu nome repetido. Por conseguinte, a Verdade é criadora. É ela sempre nova, e a mente nunca pode compreendê-la.(54)

Deus pode ser conhecido? Deus pode ser achado? Deus é uma coisa que anda perdida e que temos que achar? Pode-se reconhecer aquela Realidade, aquele Deus? Se podeis reconhecê-la, então já tendes conhecimento dela; e se já tendes conhecimento dela, não é coisa nova. Se sois capaz de conhecer Deus, a Verdade, essa experiência gerada pelo passado, e por conseguinte já não é a verdade e, sim, meramente, uma "projeção" da memória. A mente é produto do passado, do conhecimento, da experiência, do tempo; a mente pode criar Deus; ela pode dizer: "sei que isto é Deus", "sei que tive a experiência de Deus", "sei que há Deus, a voz de Deus me fala". Mas isso é só memória, - a antiga reação do vosso condicionamento. A mente pode inventar Deus e pode experimentar Deus. A mente que é resultado do conhecido pode "projetar-se" e criar toda a sorte de imagens e visões; tudo isso, porém, se acha na esfera do conhecido. Deus não pode ser conhecido. Ele é totalmente desconhecido. Não pode ser experimentado. Se o experimentardes, já não é Deus, a Verdade. Só quando não há "experimentador" e não há "experiência", só então pode a Realidade aparecer. É só quando a mente se acha no "estado desconhecido" que pode surgir o desconhecido. Só depois de se apagar toda experiência, todo conhecimento, está a mente verdadeiramente tranqüila, silenciosa, e nessa tranqüilidade, que é imensurável, nessa tranqüilidade, nasce Aquilo que não tem nome.(55)

Pra mim há Deus, uma vivente, eterna realidade. Mas esta realidade não pode ser descrita; cada um precisa realizá-la por si. Quem quer que procure imaginar o que é Deus, o que é a verdade, apenas está procurando uma fuga, um abrigo da rotina diária do conflito.(56)

Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a idéia de que necessitais progredir em direção a realidade, é uma idéia falsa. Não se pôde progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não têm ela futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranqüilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim a realização desta verdade é a finalidade do homem.(57) 

Tendes que ser "impiedosos" com vós mesmos e viver no "verdadeiro estado de investigação". A menos que vos investigueis profundamente, em vosso interior, não tendes a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Ninguém vos pode levar a esse descobrimento - ninguém! - e, por conseqüência, nenhum sistema. A verdade não é uma coisa estática, que fica à vossa espera, enquanto seguis um sistema uniforme, enquanto praticais dia a dia um certo método, enquanto aprimorais a vossa mente e o vosso coração para alcançar aquele estado a que chamais "a verdade". A Verdade não espera por vós!(58)

Não procureis um caminho, um método. Não há métodos nem caminho para a verdade. Não procureis um caminho, mas tornai-vos apercebidos do obstáculo. O apercebimento não é apenas intelectual; é simultâneamente mental e emocional; é a plenitude da ação. Então, nessa chama de apercebimento, todos esses obstáculos se desmoronam porque os penetrastes. Então podereis perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A vossa ação será assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização do eterno.(59)

A Verdade não pertence a nenhuma religião, nenhum sistema; nem pode ser encontrada em livro algum. Não podemos aprendê-lo de outro, nem a ele ser levados por outro. Temos de compreendê-la, completamente, entregar-nos a ela. Assim, para chegarmos à Verdade devemos ser livres, desembaraçados e num estado em que a mente compreendeu a si própria e, por conseguinte, se libertou de todas as ilusões.(60) 

(1) A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 127
(2) A Primeira e Última Liberdade, 1ª ed., pág. 153
(3) Novo Acesso à Vida, pág. 14
(4) Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 28-29
(5) Que Estamos Buscando?, pág. 29
(6) Que Estamos Buscando?, pág. 29
(7) Poder e Realização, pág. 42
(8) Poder e Realização, pág. 93
(9) Poder e Realização, pág. 93-94
(10) O que te fará Feliz?, pág. 79
(11) O que te fará Feliz?, pág. 108
(12) O que te fará Feliz? pág. 129
(13) O que te fará Feliz?, pág. 129
(14) Que o Entendimento seja Lei, pág. 4
(15) Experimente um Novo Caminho, pág. 107
(16) A Outra Margem do Caminho, pág. 13
(17) A Arte da Libertação, pág. 121
(18) A Arte da Libertação, pág. 123
(19) A Arte da Libertação, p. 123
(20) A Arte da Libertação, pág. 123
(21) A Arte da Libertação, pág. 123
(22) A Arte da Libertação, pág. 123-124
(23) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 124
(24) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 124
(25) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(26) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 150-151
(27) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 214
(28) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(29) Por que não te Satisfaz a Vida, pág. 125
(30) Comentários sobre o Viver, pág. 95
(31) Palestras em Adyar, Índia, 1933-1934, pág. 111-112
(32) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 221
(33) O Caminho da Vida, pág. 10
(34) Palestras na Itália e Noruega, 1933, pág. 42
(35) Coletânea de Palestras, 1930-1934, pág. 22
(36) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 114
(37) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 116
(38) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(39) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(40) Uma Nova Maneira de Viver, pág. 117
(41) Uma Nova Maneira de Viver
(42) Uma Nova Maneira de Viver
(43) Krishnamurti
(44) O Futuro é Agora
(45) A Arte de Aprender
(46) O Homem Livre
(47) Nossa Luz Interior
(48) Comentários Sobre o Viver
(49) O Novo Ente Humano
(50) Novo acesso à Vida
(51) O Egoísmo e o problema da paz
(52) Autoconhecimento - base da sabedoria
(53) Autoconhecimento - base da Sabedoria
(54) Autoconhecimento - base da sabedoria
(55) As Ilusões da Mente
(56) Palestras e Respostas a Perguntas por Krishnamurti
(57) Senhor do Dia de Amanhã
(58) Uma Nova Maneira de Agir
(59) Itália e Noruega
(60) O despertar da sensibilidade

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill