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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Existe algo além do tempo, algo imensurável?


Existe algo além do tempo, algo imensurável?

[...] Existe algo além do tempo, algo imensurável, atemporal; mas, para o encontrardes, para o descobrirdes, deveis lançar a base adequada; e para lançardes essa base, cumpre despedaçar a sociedade. Por “sociedade” não entendo a estrutura externa; não se trata de dinamitar edifícios, de tirar as roupas e vestir um manto de sannyasi, de tornar-se eremita; isso não fará ruir a sociedade. Quando falo de sociedade, refiro-me à estrutura psicológica, à estrutura interna de nossa mente, de nosso cérebro, aos processos psicológicos de nosso pensar; estes têm de ser completamente destruídos, para que se possa descobrir, criar uma mente nova. Vós necessitais de uma mente nova, porque, se observardes o que se está passando no mundo, vereis cada vez mais claramente que a liberdade está sendo negada pelos políticos, pelo progresso, pelas religiões organizadas, pelos processos mecânicos, técnicos. Mais e mais os computadores estão substituindo o homem, e está certo que assim seja. A virtude está sendo “produzida” com preparados químicos: tomando determinado preparado químico, podeis ficar livre da cólera, da irritabilidade, da vaidade; podeis quietar vossa mente, tomando um calmante, e podeis tornar-vos muito pacífico. Como vedes, vossa virtude está sendo regulada quimicamente; já não precisais submeter-vos à tirania da disciplina para vos tornardes virtuoso. Tudo isso está ocorrendo no mundo. E, assim, temos de criar um novo mundo, não no sentido químico, nem industrial ou político, porém espiritualmente — se posso usar esta palavra já tão gasta, tão desvalorizada pelos políticos, pelos religiosos. Não podeis ser espiritual se pertenceis a alguma religião, a alguma nacionalidade. Se vos denominais hinduísta, parse, muçulmano ou cristão, nunca sereis espiritual. Só sereis espiritual ao destruirdes a estrutura social de vosso ser — isto é, o mundo em que viveis, mundo de ambição, de avidez, de inveja, de sede de poder. Para a maioria de nós, esse mundo é a realidade, e nada mais o é; é a ele que todos nós aspiramos; do mais alto político à mais insignificante pessoa do povo, do maior dos santos ao devoto vulgar — é a ele que todos aspiram. Se não o quebrardes, não importa o que façais, nunca tereis amor, nunca atingireis a felicidade, e estareis sempre em conflito e aflição.

Assim, como disse, vamos investigar a estrutura da sociedade. Essa estrutura é produzida pelo pensamento; a estrutura da sociedade nasceu no cérebro que atualmente possuímos — o cérebro de que agora nos servimos para adquirir, competir, tornar-nos poderosos, ganhar dinheiro honesta ou desonestamente. O cérebro é o resultado da sociedade em que vivemos, do meio cultural em que crescemos, dos preconceitos, dogmas, crenças, tradições da religião; tudo isso é o cérebro — resultado do passado. Examinai a vós mesmos, por favor, não vos limiteis a ouvir o que se está dizendo.

Há duas maneiras de escutar. Uma delas é: ouvir meramente as palavras e seguir o seu significado — e isso é escutar, ouvir comparativamente, quer dizer, comparar, condenar, traduzir, interpretar o que se está dizendo. É o que faz a maioria das pessoas; é assim que escutamos. Quando se diz uma coisa, vosso cérebro imediatamente a traduz— por efeito de reação — em vossa própria terminologia, vossas próprias experiências; e, ou aceitais o que agrada, ou rejeitais o que desagrada. Estais apenas “reagindo”, não estais escutando. E há a outra maneira de escutar. Esta requer imensa atenção, porque nesse escutar não há tradução, não há interpretação, nem condenação, nem comparação; estais escutando, simplesmente, com todo o vosso ser. A mente capaz de escutar tão atentamente compreende de imediato; está livre do tempo e do cérebro, que é o resultado da estrutura social em que fomos criados. Enquanto esse cérebro não se tiver tornado de todo quieto — mas ao mesmo tempo intensamente atento, ativo —, enquanto isso não ocorrer, cada pensamento, cada experiência será por ele traduzida de acordo com seu condicionamento e, por conseguinte, cada pensamento, cada sentimento se tornará um obstáculo à investigação total.

Vede, senhores, a maioria das pessoas aqui presentes é parse, hinduísta ou cristã. Desde a infância vos dizem que sois hinduísta; essa lembrança se conserva por associação nas células cerebrais; e cada experiência, cada pensamento é traduzido segundo esse condicionamento; e esse condicionamento impede a vossa compreensão total da vida. A vida não é a vida de um hinduísta, ou de um cristão; a vida é algo muito mais vasto, muito mais significativo, que a mente condicionada de modo nenhum pode compreender. A vida é ir para o emprego; a vida é sofrimento; a vida é prazer; a vida é extraordinário senso da beleza; a vida é amor; a vida é pesar, ansiedade, sentimento de culpa — tudo isso. E se não a compreendeis, nada descobrireis. Não há “saída” do sofrimento. E, para compreender a totalidade da vida, o cérebro deve estar completamente quieto — o cérebro que está condicionado pelo meio cultural em que fostes criado, por cada pensamento, que é reação de vossa memória, por cada experiência, que é “resposta” a desafio, “resposta” do passado, nele concentrado. Se não compreendermos todo esse processo, o cérebro nunca ficará quieto. E para que possa nascer uma mente nova, é absolutamente necessário que o cérebro compreenda a si próprio, esteja apercebido de suas próprias reações, seu próprio embotamento, estupidez, condicionamento. O cérebro deve estar apercebido de si próprio e, por conseguinte, deve “interrogar” a si próprio, sem buscar resposta, porque toda resposta será projetada do seu próprio passado. Por conseguinte, quando “interrogais” interessado numa resposta, a resposta estará ainda dentro dos limites da mente condicionada, do cérebro condicionado. Assim, ao “interrogardes” — o que significa que estais apercebido de vós mesmo, de vossas atividades, de vossas maneiras de pensar, de sentir, de vossa maneira de falar, de andar, etc.— não busqueis resposta, porém apenas, olhai, observai. E vereis que, como resultado dessa observação, o cérebro começará a perder o seu estado condicionado. E quando isso acontecer, estareis fora da sociedade.

Assim, o mais importante de tudo é vos investigardes — e não o que o Sankara, Buda ou vosso guru vos disse; investigar a vós mesmo, investigar os movimentos de vossa mente, de vosso cérebro, os movimentos de vosso pensamento.

E mutação difere de mudança. Por favor, escutai, prestai atenção! Mudança implica tempo, gradualidade, mudança implica continuidade do que foi; mas, mutação implica uma quebra completa e a verificação de algo novo. Mudança implica tempo, esforço, continuidade, modificação que requer tempo. Na mutação, não existe o tempo; ela é imediata. O que nos interessa é a mutação, e não a mudança. O que nos interessa é a completa e imediata cessação da ambição, e essa quebra imediata da ambição é mutação — que ocorre imediatamente, que não admite o tempo.

Continuaremos a examinar esta questão. Mas, por ora, procurai aprender o significado disto: até agora vivemos através de séculos de tempo, mudando gradualmente, gradualmente moldando nossa mente, nosso coração, nossos pensamentos, nossos sentimentos; nesse processo temos vivido, em constante sofrimento, constante conflito; nunca houve uma dia, nunca houve um momento de completa libertação do sofrimento; o sofrimento sempre existiu, escondido, reprimido. E a coisa sobre que agora estamos falando é uma terminação completa e, portanto, uma total mutação; e essa mutação é a revolução religiosa. Explicaremos isso, um pouco, nesta tarde.

O importante é compreender a capacidade de ver, a capacidade de escutar. Há duas maneiras de ver — só duas. Ou vedes com o conhecimento, com o pensamento; ou vedes diretamente, sem conhecimento, sem pensamento. Quando vedes com o conhecimento, com o pensamento, o que realmente sucede é que não estais vendo, porém interpretando, dando opiniões, impedindo a vós mesmo de ver. Mas, quando vedes sem pensamento, sem conhecimento — o que não significa que, quando vedes, vossa mente está “em branco”; a o contrário, vedes completamente — esse ver é o fim do tempo e, por isso, há mutação imediata. Por exemplo, se sois ambicioso, dizeis que gradualmente mudareis — esse é o hábito que a sociedade sempre aprovou; a sociedade inventou todos os meios e modos possíveis, de vos livrardes a pouco e pouco de vossa ambição; no entanto, no fim de vossa vida sois ainda ambicioso, estais ainda em conflito — e isso é completamente infantil, sem madureza. Madureza é enfrentar o fato e dar-lhe fim imediato. E podeis pôr fim ao fato prontamente quando o observais sem pensamento, sem conhecimento.

O conhecimento é a acumulação do passado, da qual brota o pensamento. Por conseguinte, o pensamento não constitui o meio de promover a mutação; ele impede a mutação. Por favor, tendes de examinar isto muito atentamente, e não apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Considerarei isso durante estas palestras; mas procurai desde já apreender o seu significado, o seu perfume. Porque, para mim, só há mutação, e não mudança. Ou sois ou não sois; não se trata de, quando sois ambicioso, cuidardes de tornar-vos menos ambiciosos; isso é proceder como os políticos que falam da extinção da política e do poder, e continuam na política. São falas insinceras. O que nos interessa é a terminação imediata, para que possa nascer uma mente nova.

E vós necessitais de uma mente nova, porque um novo mundo precisa ser criado — não pelos políticos, não pelos indivíduos religiosos, não pelos técnicos, porém por vós e por mim, que somos simples pessoas comuns; porque somos nós que temos de mudar completamente, somos nós que temos de operar uma mutação em nossa mente e nosso coração. Isso pode ser feito imediatamente, desde que possais ver o fato e “permanecer com o fato” — sem procurar pretextos, dogmas, ideais, fugas; “permanecer com o fato” totalmente, completamente. Percebereis, então, que o ver completo põe fim ao conflito. O conflito tem de terminar. É só quando a mente está por inteiro quieta, e não num estado de conflito, é só então que ela pode penetrar fundo nas esferas que estão além do tempo, do pensamento, do sentimento.

Krishnamurti, Nova Déli, 21 de fevereiro de 1962, A mutação Interior

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Há, de fato, um estado de tranquilidade atemporal?

Há, de fato, um estado de tranquilidade atemporal?

PERGUNTA: Quando se alcança o estado em que a mente se tornou tranquila, e não se tem nenhum problema imediato, que nasce dessa tranquilidade?

KRISHNAMURTI: Aí está uma pergunta extraordinária, não achais? Tendes por certo que atingistes essa mente tranquila, e desejais saber o que acontece depois disso. Mas ter uma mente tranquila é uma das coisas mais difíceis. Teoricamente, é facílima; mas, na realidade, esse é um dos estados mais extraordinários, indescritíveis. O que acontece, vós o descobrireis quando chegardes lá. Mas esse "chegar lá" é o problema, e não o que acontece depois. Não se pode "chegar" a esse estado. Ele não é um "processo", não é uma coisa que se irá alcançar mediante certa prática. Não é uma coisa adquirível com tempo, com saber, com disciplinas, mas que só se realiza pela compreensão do "mecanismo" total de nosso próprio pensar, e não pelo tentarmos alcançar um resultado. Então, será possível que se torne existente aquela tranquilidade. O que depois acontece é indescritível, não tem palavra que o defina, não tem "significação". Deveis saber que toda experiência — sempre que há experimentador — deixa uma lembrança, uma cicatriz. E a essa lembrança a mente fica apegada, e deseja mais, e cria assim o tempo.

Mas o estado de tranquilidade é atemporal e, portanto, não há experimentador para experimentar aquela tranquilidade.

Vede, por favor, que isto — se desejais compreendê-lo — é realmente muito importante. Enquanto existir um "experimentador" que diz "Tenho de experimentar a tranquilidade", e conhece a experiência, não se trata então de tranquilidade e, sim, de um truque da mente. Quando digo que experimentei a tranquilidade, isso foi simplesmente uma fuga à confusão, ao conflito, e nada mais. A tranquilidade a que nos referimos é coisa completamente diversa. Eis porque tanto importa compreender o pensador, o experimentador, o "eu" que reclama um estado a que chama "tranquilidade". Posso ter um momento de tranquilidade, mas, quando o tenho, a mente se apega a ele e fica vivendo naquela tranquilidade pela memória. Mas isso não é tranquilidade, porém, sim, mera reação. Estamos falando de uma coisa muito diferente: de um estado em que não há "experimentador", e por conseguinte aquele silêncio, aquela tranquilidade não é uma experiência. Se há uma entidade que se recorda daquele estado, há então experimentador, e, portanto, tal experiência não é aquele estado. Isso, na realidade, significa morrer para cada experiência, nunca havendo um momento em que se guardem e acumulem experiências. Afinal de contas, é essa acumulação que produz conflito, que produz o desejo de mais. A mente que acumula, que é ávida, não pode morrer para todas as coisas que acumulou. Só a mente que morreu para tudo o que acumulou, mesmo para a experiência mais sublime, só essa mente pode conhecer aquele silêncio.

Mas aquele estado não pode ser criado pela disciplina, porque disciplina implica continuidade do experimentador, o fortalecimento de certa intenção de alcançar dado objetivo, o que dá ao experimentador continuidade. Se percebermos essa coisa com muita simplicidade, muita clareza, encontraremos aquele silêncio mental a que me estou referindo. O que posteriormente acontece não pode ser contado, não pode ser descrito, porque não tem "significação", a não ser em livros e em filosofia.

OUVINTE: Se não tivermos experimentado essa tranquilidade completa, como podemos saber que ela existe?

KRISHNAMURTI: Porque precisamos saber que ela existe? Ela pode não existir, absolutamente, pode ser ilusão, fantasia minha. Mas pode-se ver que, enquanto há conflito, a vida é uma calamidade. Compreendendo o conflito, saberei o que significa "a outra coisa". Ela pode ser uma ilusão, uma invenção, um truque da mente; mas, se compreendo todo o significado do conflito, tenho a possibilidade de encontrar algo totalmente diferente. Minha mente está muito ocupada com o seu conflito, interior e exterior. O conflito surge inevitavelmente quando há um experimentador que guarda, que acumula, e por conseguinte sempre está pensando em termos de tempo, de mais e de menos. Compreendendo isso, estando apercebido disso, pode apresentar-se um estado que podemos chamar "silêncio", ou qualquer nome que preferirdes. Mas o problema não é a busca do silêncio, da tranquilidade, porém, sim, a compreensão do conflito, a compreensão de mim mesmo em conflito.

Será que respondi à pergunta, que é: como sei que há silêncio? Como o reconheço? Compreendeis? Enquanto há processo de reconhecimento, não há silêncio. Em última análise, o processo de reconhecimento é o processo da mente condicionada. Mas na compreensão de todo o conteúdo da mente condicionada, a mente se torna quieta, não há um observador que reconhece achar-se num estado a que ele chama "silêncio". O reconhecimento da experiência cessou.

OUVINTE: Desejo perguntar-vos se reconheceis o ensino do Buda de que a compreensão correta ajudará a resolver os problemas interiores do homem, e que a paz interior do espírito depende inteiramente da autodisciplina. Concordais com os ensinamentos de Buda?

KRISHNAMURTI: Quando estamos investigando a verdade a respeito de qualquer coisa, toda autoridade tem de ser posta à margem, positivamente! Se alguém almeja descobrir a verdade, não deve haver Buda nem Cristo. E isso significa, com efeito, que a mente deve ser capaz de estar completamente só, e não dependente. Buda pode estar enganado, Cristo pode estar enganado, e qualquer de nós pode também estar enganado. Temos, por certo, de chegar ao estado em que não se aceita autoridade de espécie alguma. Esta é a primeira coisa: desmantelar a estrutura da autoridade. No desmantelar da imensa estrutura da tradição, esse mesmo processo produz uma compreensão. Mas o mero aceitar de uma coisa, porque está dita num livro sagrado, tem muito pouca significação.

Ora, para descobrir o que se acha além do tempo, o mecanismo do tempo tem de cessar, não achais? O mecanismo de busca tem de terminar. Porque, se estou buscando, então estou dependendo — não só de outrem, mas também de minha própria experiência, pois, se aprendi alguma coisa, procuro fazer uso dela para guiar-me. Para achar o verdadeiro, não deve haver busca de espécie alguma, e tal estado é a real tranquilidade da mente. É muito difícil a uma pessoa que foi criada numa determinada cultura, numa dada crença, com certos símbolos de tremenda autoridade, lançar fora tudo isso e pensar de maneira simples, por si mesma, e descobrir. Ela não poderá pensar de maneira simples se não conhecer a si mesma, se não tiver autoconhecimento. E ninguém pode dar-nos o conhecimento de nós mesmos — nenhum instrutor, nenhum livro, nenhuma filosofia, nenhuma disciplina. O "eu" está num movimento constante; enquanto ele vive, precisa ser compreendido. E só pelo autoconhecimento, só pela compreensão do mecanismo de meu próprio pensar, observado no espelho de cada reação, posso descobrir que, enquanto há qualquer movimento do "eu", da mente, em direção a um objetivo — Deus, a verdade a paz — essa mente não é uma mente quieta, pois está querendo realizar, apanhar, alcançar certo estado. Se há qualquer espécie de autoridade, de compulsão, de imitação, a mente não pode compreender. E para saber que a mente está imitando, que está sendo embargada pela tradição, para se estar apercebido de que ela está perseguindo suas próprias experiências, suas próprias projeções, para tanto requer-se muita penetração, muito percebimento e autoconhecimento.

Só então, com todo o conteúdo da mente, toda a consciência, posto a descoberto e compreendido, haverá a possibilidade de um estado a que se pode chamar "tranquilidade", um estado sem experimentador e sem reconhecimento.

Krishnamurti, Quinta Conferência em Londres, 25 de junho de 1955


quarta-feira, 4 de abril de 2018

Pode a mente morrer para si mesma?


Pode a mente morrer para si mesma?

PERGUNTA: Que significação tem a morte física na vida do indivíduo? Não é ela a grande libertadora de todas as nossas misérias?

KRISHNAMURTI: A morte resolve-nos todos os problemas? E porque é que tantos de nós tememos a morte? Quanto mais velhos ficamos, tanto mais ansiosos nos tornamos. Por quê? E a morte, a terminação do estado físico, dissolve os nossos complexos pensamentos? O pensamento não tem continuidade? Ele pode não continuar em mim; o pensamento, porém, é contínuo; e o pensamento, que é contínuo, nunca pode encontrar alívio das suas misérias. Assim, pois, temendo a morte, nutrimos teorias, esperanças de continuidade; dizemos que deve haver reencarnação, que devo renascer para ter uma oportunidade maior na próxima vida. Não me acabo. E qual é o valor de todas as minhas acumulações, dos conhecimentos e experiências que acumulei, se não puder preencher-me na próxima vida, ou ressuscitar no futuro, ou encontrar um lugar no céu? Estamos sempre com medo do desconhecido, do amanhã, e por isso nos pomos a procurar meios e modos de evitar aquele findar. Ou, ainda, Raciocinamos logicamente, dizendo que tudo se acaba e renasce: morro, decomponho-me fisicamente, para que possa renascer sob outra forma, ou animar outra entidade. Por meio da razão e da lógica, transcendem os o temor da morte, e ficamos satisfeitos. Ou, também, satisfazemo-nos com a crença numa vida futura, em algo posterior à morte, a que a mente possa apegar-se. A mente, pois, está perenemente em busca de sua pró­pria continuidade; mas o que é contínuo é o “conhecido”, e o conhecido jamais pode encontrar o incognoscível. Este é que é o nosso problema, não achais? Em plena vida, estamos morrendo, pois somos resultado do conhecido. Nunca, por um momento, rejeitamos todas as coisas que conhecemos e nos despojamos completamente do passado; nunca deixamos a mente ser vazia totalmente, consciente e inconscientemente nua, despojada interiormente de todas as suas experiências, de todas as suas crenças, de todo o seu saber, para que o desconhecido possa ter existência.

Afinal de contas, que é que sabemos? Na realidade, que sabeis vós? Sabeis o caminho de vossa casa; tendes certos conhecimentos, certas noções políticas ou econômicas; sabeis desempenhar-vos de um cargo; sabeis a importância do vosso seguro, a marca do vosso carro; e tendes um pouquinho de conhecimento de vossos próprios desejos e apetites, das experiências e reações que são produto do vosso condicionamento. Afora isso, que mais sabeis? Conheceis a luta perene para ser alguma coisa: se sois presunçoso, orgulhoso, lutais para ser humilde, etc. Eis tudo o que sabemos. Vivemos dentro dessa esfera do “conhecido”, o conhecido de prazer e de dor. E com uma tal mente procuramos convencer a nós mesmos de que não há morte, inventando teorias, a crença na reencarnação, na ressurreição, enfim todas as inumeráveis ilusões criadas pela mente, para fugir de sua própria característica cognitiva. Assim, se bem estejamos vivos, estamos morrendo dentro do campo do conhecido.

Sem dúvida, se desejais descobrir o que é imortal, o que se acha além da mente, então a mente, que é o conhecido, tem de acabar-se; deve morrer para si mesma. Tendes lido a respeito de todas essas coisas, ou me tendes ouvido frequentemente; e, entretanto, a mente continua sempre a buscar uma resposta, a perguntar o que existe além da morte. Todas as sociedades estúpidas prosperam à custa do vosso apetite de saber o que existe além ; e quando vo-lo dizem, sentis-vos satisfeito, pelo menos temporariamente. Porém, o problema real, o temor ao desconhecido, persiste, como uma úlcera.

Nessas condições, compreendendo que a mente apenas funciona dentro do campo do conhecido, não podemos permanecer completa e passivamente apercebidos do conhecido, sem fazermos nenhum movimento positivo para dentro do desconhecido? Isso significa: estar aberto à morte, ao desconhecido, ao Real. Significa que prosseguimos com o conhecido pela melhor maneira que podemos e conhecemos perfeitamente as suas limitações; e, conhecendo-as, não há “projeção” no futuro, no amanhã. Não há mais medo ao desconhecido; a morte já não é uma coisa temível; o que não significa termos agora uma nova teoria, uma nova explicação e que devemos instituir novos grupos para discutir sobre o que existe além, pois isso é infantil. Mas, quando reconhecemos as limitações da mente, do conhecido; quando percebemos que somos limitados, e estamos apercebidos disso totalmente, isto é, tanto conscientemente como nas camadas mais profundas da nossa consciência, — há uma completa cessação da atividade da mente; a mente, como pensamento, como “eu sei”, deixa de existir. Há então a possibilidade de manifestar-se o desconhecido. Mas não podeis chamar o desconhecido; não podeis chamar Deus, a Verdade, ou que nome lhe deis. O que se conhece é purgatório, é inferno; o desconhecido é o céu. Mas o incognoscível nenhuma relação tem com o conhecido; só se manifesta quando a mente está de todo tranquila. A mente como pensamento deve deixar de existir, deve morrer, e só então pode surgir a Realidade Eterna.

Krishnamurti, em Percepção Criadora
12 de julho de 1953

O estado que não é produto da mente


O estado que não é produto da mente

Seria muito útil e importante, parece-me, considerarmos a questão de qual é a verdadeira religião; e talvez, investigando esta questão um pouco profundamente, tenhamos a possibilidade de descobrir, de experimentar diretamente, por nós mesmos, aquele estado que não é produto da mente e que deve ser algo desconhecido e totalmente novo, nunca dantes experimentado. Para descobrir-se, porém, e experimentar aquele estado, acho que teremos, em primeiro lugar, de compreender o “mecanismo” do intelecto, da mente. A mente se constitui não apenas do consciente, mas também das muitas camadas daquilo a que chamamos “o inconsciente”; é um “mecanismo” total, embora, por conveniência, a dividamos em “consciente” e “inconsciente”, com as diferentes gradações de consciência existentes entre os dois. Para compreendermos as várias atividades da mente, devemos, por certo, não apenas investigar no nível superficial ou verbal, mas também penetrar profundamente no “mecanismo” do próprio pensamento.

O que desejo fazer nesta manhã, se for possível — e não sei se é — é produzir aquele estado que não é concebível, que não é imaginável, que não pode ser sistematizado nem conjecturado; e isso, por certo, não requer nenhuma condição de auto-hipnose nem de mera auto-sugestão, mas, sim, o gradual desdobrar-se — enquanto falo — do mecanismo da vossa própria mente. Podemos descobrir juntos e experimentar diretamente aquele estado a que aspiram todas as religiões — despidas do seu eclesiasticismo, dos seus dogmas, dos seus ritos e inumeráveis contrassensos? Não vou guiar-vos para o descobrirdes, pois o descobrimento tem de ser espontâneo. Deveis descobri-lo por vós mesmos. Tentarei tão somente descrever como esse estado aparece; mas, se apenas seguirdes a descrição verbal, então, é claro, não compreendereis esse estado, que só pode surgir quando a mente já não está “projetando” nem resistindo.

Como eu ia dizendo, temos em primeiro lugar de compreender o intelecto, o mecanismo da consciência, não apenas a superficial, senão também as suas camadas mais profundas; e, para o fazermos, precisamos, evidentemente, começar pelas reações e “respostas” verbais. Além do seu significado exterior, palavras como “deus”, “comunista”, “capitalista”, “avidez”, “progresso”, “morte”, têm uma grande significação para a maioria de nós, não é verdade? Têm elas uma significação assim neurológica como psicológica. As palavras são símbolos; e se as não empregamos, temos símbolos sob outras formas, como a cruz e os símbolos religiosos da Índia. E é possível abster-nos de reagir, de levantar barreiras, em reação aos símbolos? Pode a mente, naquele nível superficial, pôr de parte o mecanismo imaginativo, especulativo, verbal, com todas as suas reações? É muito difícil fazê-lo, pois, no momento, a mente só pensa dentro do âmbito das palavras, dos símbolos, das imagens.

E não devemos investigar o mecanismo do desejo? Sem dúvida, pois o desejo é parte da mente, do intelecto, da inteligência de que nos servimos no viver cotidiano. O desejo é o autêntico mecanismo da mente, da mente que acumula, retém, que possui inúmeros impulsos, busca sensações, exige mais, que evita a dor e anseia pelo prazer. A mente está sempre em procura de um abrigo seguro, onde possa habitar sem ser perturbada, não é exato? Procura viver permanentemente em segurança, numa ideia, numa crença, numa experiência, numa relação. Tudo isso é o mecanismo da mente, do que chamamos “intelecto”, “inteligência individual”; isso, que faz parte da consciência, manifesta ou oculta, é tudo o que sabemos.

Pois bem. Conhecendo o mecanismo integral de si mesma, pode a mente transcendê-lo? Pode ela estar serena, a fim de descobrir o que é verdadeiro, o que é real, o que é Deus? É isso o que desejo considerar nesta manhã. Pode a mente estar apercebidas das suas numerosas camadas, das reações verbais, dos apetites puramente físicos, das necessidades e impulsos biológicos, do cunho da tradição e do ambiente, das lembranças claras e ocultas — pode a mente estar apercebidas de tudo isso, sem interferir de maneira alguma? O pensamento é sempre condicionado enquanto é a expressão verbal da memória; e enquanto a mente não estiver de todo livre dessa extraordinária acumulação do passado, o desconhecido, evidentemente, é inalcançável. Enquanto não desaparecer o mecanismo de reconhecimento, não pode existir o novo.

Tende paciência, senhores; consideremos esta questão um pouco mais longamente. Afinal de contas, o que chamamos experiência é um mecanismo de reconhecimento, não é verdade? Quando vedes um certo animal, sabeis que é um cão, porque tendes conhecimento anterior da espécie e lhe destes um nome. Quando vos encontrais com um amigo, o reconheceis, porque tivestes experiência anterior dessa amizade. Quando há uma experiência psicológica, essa experiência foi conhecida anteriormente e lhe destes um nome. A mente pode reconhecer apenas o que já foi experimentado; não pode reconhecer uma coisa nova, pois o que é novo não é reconhecível. Assim, a Verdade, Deus, ou como o chamardes, tem de ser totalmente novo, não pode ser reconhecido. Se for reconhecido, então já foi experimentado antes, e o que já foi experimentado está compreendido na esfera do tempo. Procurai perceber isso claramente, e compreendereis algo. Não é difícil. As palavras que estou empregando podem ser difíceis; porém, o sentido, o significado do que digo é muito simples.

A função da mente é cognitiva, não é verdade? A mente reconhece, pensa; e seu pensar, seu reconhecer, seu experimentar procede todo do “fundo” (background) da memória. Afinal, se sou hinduísta meu condicionamento limita o meu pensar; penso em Deus, na moral, em conformidade com a tradição e tudo o que li nas escrituras hinduístas. E os que são cristãos ou budistas, ou o que quiserdes, e que têm inclinações religiosas estão igualmente condicionados por tudo o que lhes foi ensinado.

Pois bem. O que estamos tentando — não só agora, mas sempre — é descobrir se a mente pode libertar-se do seu condicionamento e experimentar o que nunca foi experimentado anteriormente. Sem dúvida, esse é o experimentar da Realidade e a religião verdadeira, não achais? A religião nada tem em comum com crenças, com símbolos, ritos, promessas, com esperanças e temores, em torno dos quais são construídos os credos e as igrejas. Tão pouco é questão de moralidade. O indivíduo de princípios morais pode nunca vir a conhecer a Realidade — o que não significa que para conhecer a Realidade deva ser imoral. A moralidade resultante de esforço consciente limita a mente. A virtude só é necessária porque dá liberdade; o homem, porém, que se esforça para tornar-se virtuoso, jamais é livre.

Nessas condições, conhecendo todo o conteúdo da mente, suas recusas, suas resistências, suas atividades disciplinares, seus vários esforços visando à segurança, coisas essas que têm o efeito de condicionar-lhe e limitar o pensar — pode a mente, como “mecanismo integrado”, estar totalmente livre para descobrir o que é eterno? Porque, sem esse descobrimento, sem o experimentar dessa realidade, todos os nossos problemas, com suas respectivas soluções, conduzem tão somente a novos sofrimentos e desastres. Isso é óbvio, e pode-se observar na vida de cada dia. Individualmente, politicamente, internacionalmente, em toda e qualquer atividade, estamos sempre a criar maiores malefícios, o que será sempre inevitável, enquanto não tivermos experimentado aquele estado de religião, aquele estado que só é possível experimentar-se quando a mente se acha de todo livre.

Agora, tendo ouvido isto, podeis, ainda que por um segundo, conhecer aquela liberdade? Não podeis conhecê-la apenas por eu a estar sugerindo, pois, nesse caso, ela seria unicamente uma ideia, uma opinião, sem muito significado. Entretanto, se tendes acompanhado todas estas palestras muito seriamente, estais começando a conhecer o mecanismo do vosso próprio pensar, sua direção, seus intentos, seus móveis; e, em vista desse conhecimento, chegareis, por força, ao estado em que a mente já não está a procurar, a escolher, lutando para realizar seus fins. Depois de perceber todo o seu próprio mecanismo, a mente se torna tranquila num grau extraordinário, sem nenhuma tendência, sem nenhuma volição, sem nenhuma ação voluntária. A vontade é ainda desejo, não é verdade? O homem ambicioso, no sentido mundano, sente um forte desejo de realizar algo, de ser bem-sucedido, tornar-se famoso, e exerce a vontade para resguardar a própria importância. De modo idêntico, exercemos a vontade para desenvolver a virtude, para alcançar um estado dito espiritual. A coisa de que estou falando, porém, é de todo diferente, inteiramente livre de qualquer desejo, de qualquer ação, de qualquer compulsão para ser isso ou aquilo.

Ao examinardes o que digo, estais exercendo a razão, não é verdade? A razão, todavia, conduz-nos apenas até um certo ponto, e não mais além. Devemos obviamente exercer a razão, a capacidade de pensar nas coisas de princípio a fim, sem pararmos a meio caminho. Mas, quando a razão alcançou os seus limites e não pode ir mais longe, então a mente já não é o instrumento da razão, da astúcia, do cálculo, do ataque e da defesa, desde que o próprio centro de onde procedem todos os nossos pensamentos e todos os nossos conflitos deixou de existir.

Pois bem. Agora que tendes ouvido estas palestras, começais, por certo, a conhecer a vós mesmos momento por momento, durante o dia, nas vossas diversas atividades; a mente está começando a conhecer-se a si mesma, com todas as suas tortuosidades, resistências, crenças, suas exigências, buscas, ambições, seus temores e ânsia de preenchimento. Uma vez apercebida de tudo isso, não é possível à mente, ainda que por um segundo, ficar totalmente tranquila, conhecer um silêncio em que existe liberdade? E quando há essa liberdade silenciosa, então não é a mente, ela própria, o eterno?

Para conhecer o desconhecido, deve a mente ser, ela própria, o desconhecido. A mente tem sido até agora o resultado do conhecido. Que sois vós senão uma acumulação de coisas conhecidas: vossas tribulações, vossas vaidades, vossas ambições, dores, realizações e frustrações? Tudo isso é conhecido, o conhecido do tempo e do espaço; e enquanto a mente estiver funcionando dentro da esfera do tempo, do conhecido, jamais poderá ser o desconhecido: continuará, tão somente, a experimentar o que é conhecido.

Senhores, isto não é algo complicado ou misterioso: descrevo fatos evidentes da nossa existência cotidiana. Com a carga do conhecido, procura a mente descobrir o desconhecido. Como pode consegui-lo? Todos falamos de Deus; em todas as religiões, em todas as igrejas e templos esta palavra é empregada; sempre, porém, à imagem do conhecido. São pouquíssimos os que abandonam todas as igrejas, todos os templos e livros, e passam além, para descobrir.

No momento, a mente é o resultado do tempo, do conhecido, e quando a mente, em tais condições, se põe a caminho para descobrir, só pode descobrir o que já experimentou. Para descobrir o desconhecido, precisa libertar-se de todo do conhecido, do passado, não por meio de uma análise lenta, não por uma investigação gradual do passado, interpretando cada sonho, cada reação, mas pelo perceber, completamente, instantaneamente, enquanto estais aqui sentados, a verdade do que estou dizendo. Enquanto a mente for resultado do tempo, do conhecido, nunca encontrará o desconhecido, que é Deus, Realidade, ou como quiserdes chamá-lo. O percebimento da verdade a esse respeito, liberta a mente do passado. Não traduzais logo a expressão “libertar-se do passado” como significando “esquecer-se do caminho de casa”. Isto é amnésia. Não o reduzais a uma maneira de entender tão infantil. Entretanto, a mente está libertada no momento em que percebe a verdade de que não pode encontrar o Real, essa inefável presença do desconhecido, quando está cheia do “conhecido”. O conhecimento, a experiência é o “eu”, o “eu” que acumulou e juntou; por consequência, todo conhecimento tem de ser sustado, toda experiência posta de parte. E quando há o silêncio da liberdade, não é então a mente, ela própria, o eterno? Ela está então experimentando algo inteiramente novo, que é o Real; mas, para o experimentar, a mente deve sê-lo. Por favor, não afirmeis ser a mente a Realidade. Não o é. A mente só pode experimentar a Realidade, quando está totalmente livre do tempo; e esse “mecanismo de descobrimento” é religião. Porque religião não é o que credes. Nenhuma relação tem com o fato de serdes cristão ou budista, muçulmano ou hinduísta; essas coisas não têm significação alguma, sendo, antes, um obstáculo; e a mente desejosa de descobrir, deve despojar-se completamente delas todas. Para ser nova, a mente deve estar sozinha; para que possa realizar-se a eterna criação, deve a mente achar-se no estado de recebê-la. Mas, enquanto estiver às voltas com suas tribulações e lutas, enquanto estiver carregada de conhecimentos, embaraçada pelos obstáculos psicológicos, nunca estará a mente livre para receber, para compreender, descobrir.

Nessas condições, uma pessoa verdadeiramente religiosa não é aquela coberta por uma crosta de crenças, dogmas, rituais. A pessoa religiosa não tem crenças; vive de momento a momento, sem jamais acumular experiência alguma; por consequência, só ela é um ente verdadeiramente revolucionário. A verdade não é uma continuidade no tempo; é para ser descoberta a cada momento que passa. A mente que acumula, que retém, que entesoura experiência, não pode viver momento por momento, descobrindo o novo.

Os que sentem verdadeiro interesse, os que não são meros diletantes, que não estão apenas a brincar com estas coisas, têm uma importância extraordinária na vida, porquanto eles se tornarão uma luz para si próprios e, por conseguinte, para outros também. Falar de Deus, sem se experimentar, sem se ter uma mente de todo livre, e, portanto, aberta para o desconhecido, é coisa de mui pouca valia; é o mesmo que pessoas adultas se entreterem com brinquedos; e quando nos entretemos com brinquedos e chamamos a isso religião, estamos criando mais confusão, causando mais sofrimento. E só ao compreendermos todo o mecanismo do pensar e dele nos libertarmos, pode a mente estar tranquila; só então se manifesta o Eterno.

Krishnamurti em, Percepção Criadora,
5 de julho de 1953
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill