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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Há, de fato, um estado de tranquilidade atemporal?

Há, de fato, um estado de tranquilidade atemporal?

PERGUNTA: Quando se alcança o estado em que a mente se tornou tranquila, e não se tem nenhum problema imediato, que nasce dessa tranquilidade?

KRISHNAMURTI: Aí está uma pergunta extraordinária, não achais? Tendes por certo que atingistes essa mente tranquila, e desejais saber o que acontece depois disso. Mas ter uma mente tranquila é uma das coisas mais difíceis. Teoricamente, é facílima; mas, na realidade, esse é um dos estados mais extraordinários, indescritíveis. O que acontece, vós o descobrireis quando chegardes lá. Mas esse "chegar lá" é o problema, e não o que acontece depois. Não se pode "chegar" a esse estado. Ele não é um "processo", não é uma coisa que se irá alcançar mediante certa prática. Não é uma coisa adquirível com tempo, com saber, com disciplinas, mas que só se realiza pela compreensão do "mecanismo" total de nosso próprio pensar, e não pelo tentarmos alcançar um resultado. Então, será possível que se torne existente aquela tranquilidade. O que depois acontece é indescritível, não tem palavra que o defina, não tem "significação". Deveis saber que toda experiência — sempre que há experimentador — deixa uma lembrança, uma cicatriz. E a essa lembrança a mente fica apegada, e deseja mais, e cria assim o tempo.

Mas o estado de tranquilidade é atemporal e, portanto, não há experimentador para experimentar aquela tranquilidade.

Vede, por favor, que isto — se desejais compreendê-lo — é realmente muito importante. Enquanto existir um "experimentador" que diz "Tenho de experimentar a tranquilidade", e conhece a experiência, não se trata então de tranquilidade e, sim, de um truque da mente. Quando digo que experimentei a tranquilidade, isso foi simplesmente uma fuga à confusão, ao conflito, e nada mais. A tranquilidade a que nos referimos é coisa completamente diversa. Eis porque tanto importa compreender o pensador, o experimentador, o "eu" que reclama um estado a que chama "tranquilidade". Posso ter um momento de tranquilidade, mas, quando o tenho, a mente se apega a ele e fica vivendo naquela tranquilidade pela memória. Mas isso não é tranquilidade, porém, sim, mera reação. Estamos falando de uma coisa muito diferente: de um estado em que não há "experimentador", e por conseguinte aquele silêncio, aquela tranquilidade não é uma experiência. Se há uma entidade que se recorda daquele estado, há então experimentador, e, portanto, tal experiência não é aquele estado. Isso, na realidade, significa morrer para cada experiência, nunca havendo um momento em que se guardem e acumulem experiências. Afinal de contas, é essa acumulação que produz conflito, que produz o desejo de mais. A mente que acumula, que é ávida, não pode morrer para todas as coisas que acumulou. Só a mente que morreu para tudo o que acumulou, mesmo para a experiência mais sublime, só essa mente pode conhecer aquele silêncio.

Mas aquele estado não pode ser criado pela disciplina, porque disciplina implica continuidade do experimentador, o fortalecimento de certa intenção de alcançar dado objetivo, o que dá ao experimentador continuidade. Se percebermos essa coisa com muita simplicidade, muita clareza, encontraremos aquele silêncio mental a que me estou referindo. O que posteriormente acontece não pode ser contado, não pode ser descrito, porque não tem "significação", a não ser em livros e em filosofia.

OUVINTE: Se não tivermos experimentado essa tranquilidade completa, como podemos saber que ela existe?

KRISHNAMURTI: Porque precisamos saber que ela existe? Ela pode não existir, absolutamente, pode ser ilusão, fantasia minha. Mas pode-se ver que, enquanto há conflito, a vida é uma calamidade. Compreendendo o conflito, saberei o que significa "a outra coisa". Ela pode ser uma ilusão, uma invenção, um truque da mente; mas, se compreendo todo o significado do conflito, tenho a possibilidade de encontrar algo totalmente diferente. Minha mente está muito ocupada com o seu conflito, interior e exterior. O conflito surge inevitavelmente quando há um experimentador que guarda, que acumula, e por conseguinte sempre está pensando em termos de tempo, de mais e de menos. Compreendendo isso, estando apercebido disso, pode apresentar-se um estado que podemos chamar "silêncio", ou qualquer nome que preferirdes. Mas o problema não é a busca do silêncio, da tranquilidade, porém, sim, a compreensão do conflito, a compreensão de mim mesmo em conflito.

Será que respondi à pergunta, que é: como sei que há silêncio? Como o reconheço? Compreendeis? Enquanto há processo de reconhecimento, não há silêncio. Em última análise, o processo de reconhecimento é o processo da mente condicionada. Mas na compreensão de todo o conteúdo da mente condicionada, a mente se torna quieta, não há um observador que reconhece achar-se num estado a que ele chama "silêncio". O reconhecimento da experiência cessou.

OUVINTE: Desejo perguntar-vos se reconheceis o ensino do Buda de que a compreensão correta ajudará a resolver os problemas interiores do homem, e que a paz interior do espírito depende inteiramente da autodisciplina. Concordais com os ensinamentos de Buda?

KRISHNAMURTI: Quando estamos investigando a verdade a respeito de qualquer coisa, toda autoridade tem de ser posta à margem, positivamente! Se alguém almeja descobrir a verdade, não deve haver Buda nem Cristo. E isso significa, com efeito, que a mente deve ser capaz de estar completamente só, e não dependente. Buda pode estar enganado, Cristo pode estar enganado, e qualquer de nós pode também estar enganado. Temos, por certo, de chegar ao estado em que não se aceita autoridade de espécie alguma. Esta é a primeira coisa: desmantelar a estrutura da autoridade. No desmantelar da imensa estrutura da tradição, esse mesmo processo produz uma compreensão. Mas o mero aceitar de uma coisa, porque está dita num livro sagrado, tem muito pouca significação.

Ora, para descobrir o que se acha além do tempo, o mecanismo do tempo tem de cessar, não achais? O mecanismo de busca tem de terminar. Porque, se estou buscando, então estou dependendo — não só de outrem, mas também de minha própria experiência, pois, se aprendi alguma coisa, procuro fazer uso dela para guiar-me. Para achar o verdadeiro, não deve haver busca de espécie alguma, e tal estado é a real tranquilidade da mente. É muito difícil a uma pessoa que foi criada numa determinada cultura, numa dada crença, com certos símbolos de tremenda autoridade, lançar fora tudo isso e pensar de maneira simples, por si mesma, e descobrir. Ela não poderá pensar de maneira simples se não conhecer a si mesma, se não tiver autoconhecimento. E ninguém pode dar-nos o conhecimento de nós mesmos — nenhum instrutor, nenhum livro, nenhuma filosofia, nenhuma disciplina. O "eu" está num movimento constante; enquanto ele vive, precisa ser compreendido. E só pelo autoconhecimento, só pela compreensão do mecanismo de meu próprio pensar, observado no espelho de cada reação, posso descobrir que, enquanto há qualquer movimento do "eu", da mente, em direção a um objetivo — Deus, a verdade a paz — essa mente não é uma mente quieta, pois está querendo realizar, apanhar, alcançar certo estado. Se há qualquer espécie de autoridade, de compulsão, de imitação, a mente não pode compreender. E para saber que a mente está imitando, que está sendo embargada pela tradição, para se estar apercebido de que ela está perseguindo suas próprias experiências, suas próprias projeções, para tanto requer-se muita penetração, muito percebimento e autoconhecimento.

Só então, com todo o conteúdo da mente, toda a consciência, posto a descoberto e compreendido, haverá a possibilidade de um estado a que se pode chamar "tranquilidade", um estado sem experimentador e sem reconhecimento.

Krishnamurti, Quinta Conferência em Londres, 25 de junho de 1955


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill