Amamos, de fato, aos nossos filhos?
PERGUNTA: Sou capaz, agora, de aceitar os problemas que me dizem respeito. Mas como posso deixar de sofrer por meus filhos, quando são atingidos pelos mesmos problemas?
KRISHNAMURTI: Porque dependemos de nossos filhos? E, além disso, amamos os nossos filhos? Se há amor, como pode haver dependência, como pode haver sofrimento? Nossa ideia de amor é que devemos sofrer por outros. É amor, sofrer? Ou o fato é que eu dependo de meus filhos, que busco através deles a imortalidade, o preenchimento, etc.? Por isso, desejo que meus filhos sejam algo; e, se não o são, sofro. Bem pode ser que o problema não sejam os filhos, absolutamente, mas eu próprio. E repetimos: talvez não saibamos o que é amar. Se amássemos os nossos filhos impediríamos todas as guerras futuras, é claro. Não condicionaríamos os nossos filhos. Eles não seriam nem ingleses, nem hindus, nem brâmanes, nem não brâmanes; seriam crianças. Mas, como não amamos, dependemos dos nossos filhos; através deles esperamos preencher a nós mesmos. E, assim, quando nosso filho, por meio de quem queremos preencher-nos, faz algo que não é aquilo que queremos, sentimos pesar, e há conflito. Fazer simplesmente uma pergunta e esperar a resposta tem pouca significação. Mas se pudermos observar por nós mesmos o "mecanismo" desse apego, o "mecanismo" dessa busca de preenchimento por meio de outro, o que é dependência e deve, inevitavelmente, criar sofrimentos, se pudermos percebê-lo por nós mesmos, como um fato, poderá surgir uma coisa diferente, quiçá amor. E tal relação produzirá então uma sociedade diferente, um mundo muito diferente.
Krishnamurti, Quinta Conferência em Londres, 25 de junho de 1955