A sociedade torna o cérebro insensível
[...]PERGUNTA: O cérebro é coisa morta; e como pode tornar-se vivo?
KRISHNAMURTI: O cérebro é coisa morta? Ora, ele só está morto quando paralisado, quando os nervos já nenhuma sensibilidade têm. Mas, com a maioria de nós acontece que o cérebro se torna embotado, por efeito do conflito, da dor, do sofrimento, das inúmeras defesas e sanções de que vivemos cercados. Ele se torna embotado por causa do medo, dos preceitos e tabus da sociedade. Se vos especializastes numa única direção, como médico, cientista, engenheiro, o que quer que seja, uma parte de vosso cérebro pode ser muito brilhante, mas o resto, obviamente, se embota. Sabendo tudo isso, observando tudo isso, e sondando o mecanismo total do pensar, vereis que o cérebro não é inerte; portanto, temos de quebrar-lhe a inércia, e não, simplesmente, aceitá-la.
INTERROGANTE: Formulei mal a pergunta. O que eu queria perguntar era isto: Como pode uma coisa mecânica como o cérebro se tornar parte dessa totalidade chamada "a mente"?
KRISHNAMURTI: Senhor, quando dizemos que o cérebro é mecânico, dizemo-lo a sério? Penso que não. Se um homem perde o emprego, ou se sua mulher se passa para outro homem, ele não diz "meu cérebro é mecânico". Torna-se presa da ansiedade, do ciúme. Estais vendo, pois, como são equívocas as palavras? Dizeis que o cérebro é mecânico, e não pensais mais nisso. Não investigais, para ver se ele é realmente mecânico. Se o cérebro fosse coisa mecânica, como um computador, não teria problemas. Uma máquina não tem problemas; mas o homem que maneja a máquina tem problemas. Estais vendo quanto é fácil cairmos na armadilha de uma palavra e nela ficarmos aprisionados?
Como vimos há dias, biológica e psicologicamente, o cérebro é um instrumento que se pode tornar altamente penetrante, extremamente sensível. Mas a sociedade — e com esta palavra me refiro às nossas relações no emprego, na família, à total estrutura psicológica da sociedade — não irá torná-lo sensível. Pelo contrário, só quando, pela observação e a compreensão do mecanismo do pensamento, se compreende por inteiro essa estrutura psicológica da sociedade, de que fazemos parte — é só então que o cérebro se torna penetrante, vivo, ágil, alertado
Krishnamurti, Saanen, 14 de julho de 1963,
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