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sexta-feira, 13 de abril de 2018

A questão da percepção do que somos


A questão da percepção do que somos

[...] Estamos tratando de ver-nos como somos, conhecer a nós mesmos, se possível, totalmente. Estamos tratando de compreender essa entidade sobremodo complexa que é cada um de nós, com todas as suas sutis variações, conflitos, ânsias, compulsões.

Disse eu que, para nos compreendermos completamente, torna-se necessário um certo percebimento, o percebimento individual de como somos; e não podemos ter essa percepção, se condenamos ou justificamos o que vemos em nós. Ora, isso é bastante simples. Se condeno a mim próprio, não há compreensão. Não percebo o significado daquilo que vejo; condeno-o, apenas. Se condeno uma pessoa ou a comparo com outra, não a compreendo.

Assim, para compreendermos a nós mesmos — por nobres ou ignóbeis, sensíveis ou insensíveis que sejamos — requer-se percebimento. Esse percebimento implica que não deve haver justificação, nem condenação, nem comparação. Justificação, condenação e comparação estão dentro da esfera do tempo; são ditadas pelo nosso condicionamento. Olhamos as coisas como ingleses, hindus, cristãos ou comunistas. Nossa observação e nosso pensar estão condicionados pelas influências culturais e educativas de nosso ambiente, e se não estamos apercebidos desse condicionamento, não podemos ver o que é, não podemos ver o fato. Isto, em si, é bastante simples, não achais? Não é algo que estais tentando aprender de mim. Para verdes e compreenderdes a entidade sobremodo complexa que sois, deveis olhar-vos sem esse fundo de condenação, justificação e comparação. E quando vos olhardes desse modo sabereis ver-vos de maneira total.

Considero importante compreender esta questão do percebimento, e não torná-la algo misterioso. Não há mistério nenhum no percebimento. Ele é infinitamente praticável e aplicável à existência diária. Se uma pessoa percebe que está comparando, julgando, avaliando, se está inteirada de seus gostos, versões, contradições, sem condenar ou procurar livrar-se delas, — se percebe tudo isso, se está crente do fato, que acontece? Que acontece se não ignoro que sou mentiroso — se percebo o fato sem condená-lo, sem dizer quanto isso é terrível, maléfico, desvirtuoso, etc.? Se sabeis que realmente mentis, que acontece?

Vede, por favor, que não estais aprendendo nada de mim. Eu não quero ser vosso instrutor, não quero ser seguidor. Isso é prejudicial, um obstáculo, destrói toda a vossa capacidade de vós mesmo o descobrirdes. Mas, se observardes, vereis que, quando estais simplesmente apercebido do fato, vós o examinais sem terdes nenhuma opinião a seu respeito. Olhais para ele como coisa nova, e não com todas as lembranças e associações ligadas ao fato.

Espero estar-me explicando com clareza.

A dificuldade é que nunca encarais a realidade diretamente, olhais apenas para os “valores” e opiniões a ela associadas, e isso vos impede de ver o fato.

Ora, que acontece quando vejo que estou mentindo, que sou ambicioso, ou invejoso, ou ávido? Quando olho para o fato, sem nenhuma opinião, nenhuma lembrança a ele relativa, já não há então nenhum obstáculo a percebê-lo. Posso olhá-lo, sem desvio nem desfiguração; e, então, esse próprio fato gera a energia de que preciso para tratar dele. Posso descobrir porque minto, e o que a esse respeito devo fazer. Compreendeis? Se não tenho nenhuma opinião, juízo ou avaliação concernente ao fato, então ele próprio gera a energia necessária para enfrentá-lo.

Tudo isso faz parte da percepção, faz parte do tempo. Por favor, não especuleis a respeito do atemporal. Para descobrirdes o que existe além do tempo, não deveis “fabricar” uma porção de palavras, e tampouco podeis aprendê-lo de minha boca. Tendes de trabalhar aplicadamente, para chegardes a esse descobrimento.

Perceber significa estar consciente de vossas reações ao vos defrontardes com um fato. Significa observar todas as vossas reações aos “desafios” — não algum desafio “supremo”, mas os desafios de cada dia, os pequenos desafios ocorrentes quando viajais num ônibus, quando falais com o patrão, etc. Deveis dar-vos conta, não apenas de vossas reações conscientes, educadas, “modernas”, mas também dos motivos, compulsões e ânsias inconscientes; porque tanto o consciente como o inconsciente estão dentro do campo do condicionamento e, por conseguinte, do tempo. O inconsciente é o passado, a herança racial acumulada, e é preciso que se perceba tudo isso.

Ora, para se poder estar ciente, sem escolha, desse processo total do inconsciente e do consciente, necessita-se de um estado mental negativo; e acho que agora já deve estar bastante claro o que eu entendo por “ estado mental negativo” . O estado positivo é aquele em que a mente condena, julga, avalia, aprova, nega, concorda ou discorda, e ele resulta de vosso particular condicionamento. Mas o processo negativo não é o oposto do positivo.

Se desejais compreender o que está dizendo este orador, deveis escutar negativamente, não? “Escutar negativamente” significa não aceitar nem rejeitar o que se diz, nem compará-lo com o que está escrito na Bíblia, ou com o que diz o vosso analista. Escuta-se, simplesmente. Nesse “escutar negativo” percebeis vossas próprias reações sem julgá-las; por conseguinte, começais a compreender-vos, e não simplesmente o que o orador está dizendo. O que o orador diz é apenas um espelho em que vos mirais.

Ora, esse percebimento implica atenção, não achais? E, no estado de atenção, não há esforço de concentração. No momento em que dizeis: “Preciso concentrar-me”, criastes o conflito, porque concentração envolve contradição. Desejais concentrar-vos em alguma coisa, vosso pensamento foge, procurais fazê-lo voltar, e ficais continuamente empenhado nessa batalha. E, enquanto se desenrola a batalha, não estais escutando. Se aprofundardes isso, acho que descobrireis que os dizeres do orador exprimem a verdade. Não é uma coisa aplicável a vós mesmo só porque ouviste alguém dizer algo sobre ela.

A compreensão, pois, é um estado de atenção sem escolha. E, sem esse percebimento, essa atenção, nenhum significado tem o falar acerca do que está além, o atemporal, etc. Isso é pura especulação. É o mesmo que ficar sentado ao pé do monte a perguntar o que há do outro lado dele. Para descobrirdes o que há, tereis de galgar o monte. Mas ninguém deseja galgar o monte, pelo menos poucos o desejam. Em geral nos satisfazemos com explicações, conceitos, ideias, símbolos. Procuramos compreender apenas verbalmente o que é atenção, o que é percebimento. Mas essa compreensão de si mesmo é tarefa verdadeiramente penosa. Não estou empregando a palavra “penosa” no sentido de conflito ou esforço para alcançar algo. É preciso estar verdadeiramente interessado em tudo isso. Se não estais interessado, muito bem, não precisais tocar nisso. Mas, se estais interessado, vereis quanto é difícil compreender a si próprio totalmente. Todos os problemas humanos originam-se desse centro extraordinariamente complexo e vivo que é o “eu”, e o homem que deseja descobrir os sutis movimentos desse “eu”, tem de estar negativamente apercebidos, observando sem escolher. Todo esforço para ver, toda espécie de compulsão, desfigura o que se vê, e, por conseguinte, nada vemos.

Krishnamurti, Londres, 17 de junho de 1962,
O homem e seus desejos em conflito



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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill