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quinta-feira, 19 de abril de 2018

A suprema sensibilidade da percepção sem pensamento

A suprema sensibilidade da percepção sem pensamento

[...] A mente vulgar, superficial, pode também tornar-se muito "séria"; mas, quando se torna "séria", torna-se também algo absurda. Não sei se já notastes como as pessoas de mente vazia se mostram, frequentemente, muito sérias. São muito loquazes, tomam ares importantes, e para essa mente tudo se torna um problema que cumpre estudar, analisar, penetrar; entretanto, continua a ser uma mente muito pouco profunda. E há, também, a mente muito lida, muito hábil no argumentar, no analisar, capaz de aduzir citações, extraídas de seu vasto reservatório de conhecimentos. Como muito bem sabeis, esse tipo de mente é solerte, incisivo, hábil, mas eu não a chamaria uma mente séria, como assim não o chamaria à mente superficial que quer mostrar-se séria. E há, ainda, a mente sentimental, emotiva, que facilmente se apaixona e se deixa levar a um sentimento de superficial qualidade, chamado "devoção"; mas essa mente, para mim, também não é séria.

Por mente séria entendo aquela que é profundamente religiosa. A mente religiosa pode ser intelectual, ser capaz de argumentar, de discutir, mas suas bases se acham num nível completamente diferente. A mente religiosa não pertence a nenhuma sociedade, grupo ou religião organizada, em particular. Os componentes de tais grupos não são sérios, em absoluto, ainda que se tornem monges e freiras, ainda que frequentem a igreja todos os dias ou três vezes ao dia, ou o que quer que façam. Não quero parecer dogmático ou intolerante, mas ireis perceber, ao prosseguirmos, quanto é necessário, urgente, termos uma mente que não esteja simplesmente a buscar; porque a mente que busca está sempre em conflito. Apreciarei toda esta matéria no decorrer destas dez palestras.

O importante é termos uma mente que tenta — ou, pensando melhor, prefiro não empregar a palavra "tentar", que é uma palavra burguesa, se assim me posso expressar, sem denotar condenação. Não dou à palavra “burguês” o sentido que lhe dão os comunistas. Quero apenas indicar que é uma mente vulgar, embotada, aquela que diz “tentarei”. Seriedade não é questão de tentar, é questão de ser.

Chamo séria à pessoa que está constantemente olhando, observando, atenta a si própria e a outros, observando seus próprios gestos, palavras, sua maneira de falar, sua maneira de andar; e que está também atenta às coisas que a cercam, às pressões, às tensões, à influência do ambiente, da "cultura" em que se criou, e à totalidade de seu próprio condicionamento. A mente da pessoa que está totalmente atenta, eu chamo mente séria. Só essa mente é capaz de exame refletido, de dedicar sua energia a descobrir algo além das coisas construídas pelo homem — algo que se possa chamar Deus, ou como quiserdes.

[...] Como disse, em geral pensamos ser sérios; mas, a meu ver, a qualidade que consideramos como seriedade deve ser radicalmente modificada, porque, no sentido em que estou empregando a palavra, nós não somos sérios. Muitos dentre vós me têm ouvido falar repetidas vezes — feliz ou infelizmente — nestes últimos quarenta anos e, se deveras fossem sérios, se teriam transformado completamente. E o mundo tem necessidade de tal transformação, de total mutação da mente. Mas essa mutação não pode ocorrer mediante uma certa prática deliberada, ou pelo aderir a um dado conjunto de sutis ideias teológicas ou práticas. A transformação a que me refiro não se produz por meio de ideia — sendo "ideia" uma conclusão "racionalizada", lógica, um sistema de palavras e pensamentos, convenientemente organizados. Por mais que possamos organizar o pensamento e atuar em conformidade com ele, por meio desse pensamento e desse atuar não é possível a mutação. Trata-se de coisa toda diferente, de uma qualidade completamente diversa; é a esse respeito que vou falar nesta série de reuniões.

Ora, uma das perguntas mais importantes que devemos fazer a nós mesmos é esta: até onde, até que profundidade pode a mente penetrar em si mesma? Esta é a qualidade de seriedade a que me refiro, porquanto implica que estamos atentos a toda a estrutura de nosso próprio ser psicológico, como seus impulsos e "compulsões", seu desejo de preenchimento e consequentes frustrações, suas angústias, tensões e ansiedades, suas lutas, e pesares, e inumeráveis problemas. A mente que está perpetuamente às voltas com problemas não é, de modo nenhum, uma mente séria; mas a mente que compreende cada problema que surge e imediatamente o dissolve, para que não seja "transportado" para o dia seguinte, essa é a mente séria.

Mas, por infelicidade, nós somos educados erroneamente. Nunca nos mostramos verdadeiramente sérios, a não ser quando se apresenta uma crise, uma exigência tremenda, ou quando recebemos um golpe terrível. Então, tentamos tornar-nos sérios, fazer alguma coisa — porém tarde demais. Crede-me, senhores, por favor: isto não é sarcasmo de minha parte; estou apenas apontando-vos fatos.

Em que está interessada a maioria de nós? Se temos dinheiro, voltamo-nos para as chamadas "coisas espirituais", ou buscamos entretenimento intelectual, ou discutimos sobre arte, ou damos para pintar, a fim de expressarmos nossa personalidade. Se não temos dinheiro, a maior parte de nosso tempo se consome, dia após dia, em ganhá-lo, e ficamos presos nessa rede de aflição, de interminável rotina e tédio. Em grande parte, somos preparados para funcionar mecanicamente, numa certa ocupação, entra ano e sai ano. Temos responsabilidades, mulher e filhos para sustentar e, vendo-nos completamente embaraçados nas redes deste mundo insano, tentamos tornar-nos sérios, tornar-nos religiosos; frequentamos a igreja, ingressamos nesta ou naquela organização — ou, talvez, ouvindo falar a respeito destas reuniões, e estando em férias, vimos ter aqui. Mas nada disso poderá realizar aquela extraordinária transformação da mente.

O mundo se acha num estado de crise, e observa-se desintegração, degeneração. Vemo-nos arrastados por essa onda de degeneração e parecemos totalmente incapazes de mover-nos para fora dela. Pois bem, para que estas palestras tenham algum valor, alguma significação, temos de averiguar o que é necessário fazer, para sairmos desta onda de degeneração. Em maioria, estamos envelhecendo; aqueles que, feliz ou infelizmente, me têm escutado nestes últimos trinta ou quarenta anos, estão evidentemente muito mais velhos do que estavam quando começaram a ouvir-me. Fisicamente, degeneraram e, mentalmente... bem, eles próprios sabem melhor do que eu se degeneraram. E durante estas palestras e subsequentes perguntas e respostas, iremos tratar de descobrir por nós mesmos, sem nenhuma sombra de dúvida, aquela extraordinária energia que surge espontânea e que, natural e inevitavelmente, nos impelirá para fora da onda de degenerescência. Isso não quer dizer que iremos rejuvenescer, fisicamente — esta é uma "daquelas" ideias absurdas, fantásticas, românticas. Eu me refiro a um estado mental interior que não degenera.

Vem a degeneração sempre que há conflito de alguma espécie, e é o conflito o que faz de vós isso que comumente se chama "um indivíduo". Pelo conflito, desenvolve-se o caráter e, como dentro da estrutura psicológica da atual sociedade sempre há conflito, temos de ter caráter. Vede: caráter significa resistência. Para abandonar o mundo e tornar-se monge, um homem necessita de caráter. Mas, não estamos falando a respeito de caráter, coisa relativamente fácil de adquirir. Estamos falando a respeito da mente que está completamente livre de conflito; pois só essa mente — a mente totalmente livre de toda espécie de conflito, consciente e inconsciente — nenhum problema tem. Se algum problema surge, ela é capaz de enfrentá-lo e de dissolvê-lo imediatamente. Essa mente é individual, no genuíno sentido da palavra; é única. E parece-me sobremodo importante que sejamos indivíduos assim; mas, não o somos.

Falando de individualidade, refiro-me à mente que está de todo só. Ainda que tenha passado por mil experiências, ainda que haja tido mil memórias, vivido mil anos, essa mente olhou a si própria, frente a frente, e já não é escrava da estrutura psicológica da sociedade. Ela está só — o que não significa estar isolada. Há enorme diferença entre esses dois estados. A mente que se isola torna-se neurótica. A mente isolada identificou-se com determinada ideia ou crença, isto é, com uma certa forma de conforto psicológico; e, quanto mais assim se isola, tanto mais espera ficar livre de conflito. Mas, o próprio mecanismo de isolamento é conflito, é resistência. Examinaremos tudo isso enquanto formos prosseguindo; agora, porém, estamos falando a respeito da mente que se individualizou, pelo percebimento de seu próprio "mecanismo", pela compreensão da estrutura, da psique própria, tanto consciente como inconsciente. É possível ultrapassar o inconsciente; mas este não é o momento oportuno para entrarmos em minúcias sobre a natureza do inconsciente e sobre a maneira de ultrapassá-lo. O que nesta manhã nos interessa é estabelecer as bases para nossa ulterior investigação.

Ora, só a mente que está completamente só pode achar a realidade. E existe uma realidade — não uma realidade teórica, não uma certa coisa inventada pelos cristãos ou pelos hinduístas ou experimentada por uns poucos santos, conforme o peculiar condicionamento de cada um, porém uma realidade, uma imensidade que só pode ser descoberta pela mente que percebeu seus próprios movimentos e compreendeu a si própria.

É maravilhoso uma pessoa descobrir por si mesma o que significa compreender uma coisa imediatamente, sem necessidade de palavreados; ver um fato como fato, completamente, sem argumentação. Desse ato de perceber pode-se passar à arguição, à discussão, ao exame das minúcias; mas é necessário ter, primeiramente, essa extraordinária intensidade de percebimentopercebimento sem pensamentoque produz a transformação. Isso poderá parecer um tanto absurdo, mas não o é, como vereis quando mais tarde o examinarmos.

Olhamos para as coisas, escutamo-las, tal como agora estamos fazendo. O que escutamos são apenas palavras, e estas produzem certas reações, conscientes ou inconscientes; e estas reações interpretam o que escutais. Vós já sabeis a respeito de que o orador está falando, pois o vindes escutando há trinta anos; ou, também, tendes lido muito, não só sobre o assunto de que está tratando o orador, senão também sobre outros mais. Nesse fundo em vós existente, as palavras provocam uma reação, e essa reação vos impede o escutar, vos impede o ver. Não sei se alguma vez já observastes, ao verdes subitamente algo muito belo — uma montanha majestosa, um rio de águas rápidas, ou um lindo sorriso de criança — não sei se já observastes de que maneira olhais isso, de que maneira o vedes. No primeiro momento da percepção, nenhum pensamento existe — trata-se de algo tão maravilhoso, que não há palavras que o expressem. Mas, um segundo após, entra em ação a verbalização, e começais a interpretar, a traduzir, a recorrer à memória. Essa ação impede o ver, impede o escutar.

Pois bem: Mesmo que já me tenhais ouvido muitas vezes, não podemos, no prosseguimento destas palestras, três vezes por semana, descobrir, por nós mesmos o que é esse ato de ver, esse ato de escutar? Se pudermos fazê-lo, tudo o mais virá por si, porque o próprio ato de ver produz transformação. Mas, para ver, para escutar, deve a mente estar completa e espontaneamente quieta — sem ter sido forçada, disciplinada para a quietude. Só a mente verdadeiramente quieta pode escutar, pode ver, e não aquela que tem uma infinidade de problemas. Ao perceber a mente que não pode ver, por causa de seus numerosos problemas, esse reconhecimento da própria incapacidade de ver dá origem ao ato de ver.

Tudo isso requer excepcional atenção. Quando sois capaz de atenção completa, não-dividida — não apenas atenção intelectual ou verbal — capaz de estar atento com a totalidade de vosso ser — corpo, mente, emoção — vos achais, então, num estado de suprema sensibilidade. Só então é a mente virtuosa.

Escutai isto, por favor: O homem que luta para alcançar a virtude não é virtuoso. O homem que luta para ser bom, generoso, não é bom nem generoso, porque a bondade, a generosidade, ou amor, só vem quando a mente se acha tão completamente atenta, que nenhum conflito tem.

Krishnamurti, Saanen, 7 de julho de 1963,
Experimente um novo caminho

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill