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sexta-feira, 20 de abril de 2018

O desejo de libertação produz condicionamento

O desejo de libertação produz condicionamento

[...] PERGUNTA: Como pode ser mantida a atenção decorrente do percebimento?

KRISHNAMURTI: Senhor, peço vênia para dizer, mui respeitosamente, que acho que fizestes uma pergunta algo incorreta. Porque desejar manter a atenção? Que existe atrás desta palavra — "manter"? Desejo manter um certo estado de relação com minha mulher, meu marido, um amigo. Desejo conservá-lo vivo, em um certo nível, num certo grau de "afinação", de modo que possamos sempre amar-nos e corresponder-nos completamente. Ou desejo conservar um certo sentimento. E como o conservarei? Dizendo "Quero mantê-lo vivo" — isto é, mediante a volição, a vontade. E que acontece quando mantendes alguma coisa pela ação da vontade? Essa coisa se torna quebradiça e é destruída. Pode-se manter o amor pela volição, pela vontade? Ora, deve haver uma maneira diferente de atender a esta questão.

Digamos que percebo, num rápido instante, o que significa "estar lúcido". Percebo-o a pleno, e não apenas verbalmente. Surpreendi-me num momento de lucidez sem escolha, e compreendi o que isso significa verdadeiramente. Por um segundo, estou lúcido, e percebo a extraordinária liberdade, a beleza e alegria existentes nesse estado. Digo então de mim para comigo: "Preciso manter isso"; e, no momento em que desejo manter esse estado, ele se torna memória. O que estou mantendo não é o fato, porém a memória do fato e, por conseguinte, uma coisa morta. Vede isto, por favor!

Lembro-me de meu irmão, meu filho, minha mulher, meu marido, que morreu, e estou vivendo nessa memória, conservando-a, com todos os seus deleites, desesperos, ânsias — sabeis de tudo por que passamos. Mas não tratei de descobrir o que significa morrer uma pessoa; não estou ciente do significado da morte. É preciso, pois, estar-se apercebido do significado do fato, e não, simplesmente, viver numa memória. Compreendeis, senhor? "Não viver numa memória" significa: nunca dizer, a respeito de uma experiência ligada a certa relação: "Quero conservar isto, quero que isto continue". Então, a morte de alguém não tem importância. Isto não é insensibilidade ou indiferença. Estai atento ao presente, a cada minuto — e vereis.

Transmiti-vos alguma coisa?

A verdade não tem continuidade, porque está além do tempo; e o que tem continuidade não é a Verdade. A Verdade é para ser percebida instantaneamente, e esquecida — "esquecida", no sentido de que não a levemos conosco como lembrança da Verdade que foi percebida. E porque vossa mente está livre da memória, a qualquer instante — no próximo minuto, no dia seguinte ou um pouco mais tarde — a Verdade reaparecerá.

Como não tem continuidade, a Verdade só pode ser vista quando a mente toda inteira está livre desse mecanismo, de manter, de rememorar, de reconhecer. Isso exige extraordinária atenção, já que é muito fácil dizer-se: "Ontem eu vi isso, e quero viver com isso". Se ficardes "vivendo com isso", estareis vivendo com uma memória, coisa morta e sem significação, que vos impedirá de ver a Verdade, sempre nova e fresca. Para ver a Verdade, ou a beleza daquela montanha, vossa mente deve estar sobremodo sensível, não ter sido embotada pela memória de coisas passadas; e isso exige — como sabereis se vos observardes — penetrante atenção. Por conseguinte, não deveis permitir que vosso corpo se torne embotado, indolente. Deveis ter um corpo altamente alertado, sensível; porque as condições do corpo influem no cérebro, e o cérebro influi em vosso pensamento. Psicossomaticamente, é necessário estar-se plenamente lúcido.

A memória é mecânica, e tem naturalmente seu lugar próprio. Sem a memória, não saberíeis onde morais, não saberíeis ler e escrever, etc. Mas, com a maioria de nós acontece que a memória — que é o passado — interfere na observação. Quando tiverdes compreendido este fato, tereis espaço para observar; e nesse espaço, por uma fração de segundo, por dez minutos, por uma hora — o período não importa — há percebimento. Mas, se converterdes esse percebimento em memória, nunca mais tornareis a ver.

Em geral, vivemos de memórias: memórias dos ditosos tempos da juventude, lembranças relativas ao sexo, lembranças de nossas alegrias e desesperos, etc. Vivemos no passado e, por isso, nossa mente é insensível; e nosso preparo técnico, portanto, contribui para nos tornarmos autômatos. Estou falando de coisa muito diferente: tornar a mente sobremodo ativa e sensível, pelo percebimento de tudo o que fazeis e deixais de fazer.

INTERROGANTE: Quando estou escutando o que aqui se diz, sinto-me muito vivo e sensível; mas, quando me vou, a sós, ou quando me acho em casa, essa sensibilidade desaparece.

KRISHNAMURTI: Se só tendes sensibilidade enquanto aqui vos achais, nesse caso estais sendo influenciado, e isso nenhum valor tem. O que estais ouvindo é, então, mera propaganda e, por conseguinte, deveis evitá-lo, rejeitá-lo, destruí-lo, pois é assim que se criam os Mestres, os instrutores, as autoridades. Mas se, ouvindo-me falar, estivestes apercebido de vossas próprias reações, a cada minuto, acompanhando o que estivemos dizendo durante mais de uma hora; se estivestes atento não só às palavras do orador, mas também aos movimentos de vosso próprio pensamento e sentimento, então, ao sairdes daqui, sozinho, conhecereis o estado de vossa mente e nunca vos deixareis colher cegamente em suas redes.

PERGUNTA: Não achais que o desejo de libertação é, em parte, a causa de nosso condicionamento?

KRISHNAMURTI: Naturalmente, senhor; o desejo de nos libertarmos de condicionamento só pode favorecer o condicionamento. Mas se, em lugar de tentarmos reprimir o desejo, compreendermos o seu inteiro "mecanismo", então, nessa própria compreensão, surge a liberdade, a libertação do condicionamento. A libertação do condicionamento não é um resultado direto. Compreendeis? Se me aplico deliberadamente a livrar-me de meu condicionamento, esse próprio desejo cria seu peculiar condicionamento. Posso destruir uma forma de condicionamento, mas fico enredado noutra. Já se houver compreensão do próprio desejo — inclusive, também, o desejo de libertação — então, essa mesma compreensão destrói completamente o condicionamento. A libertação do condicionamento é um resultado acessório, e sem importância. O importante é compreender o que cria o condicionamento.

Krishnamurti, Saanen, 24 de julho de 1963,
Experimente um novo caminho

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill