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sábado, 21 de abril de 2018

O amor é o supremo estado de incerteza

O amor é o supremo estado de incerteza

Se me é permitido, desejo falar nesta manhã sobre um assunto que me parece muito importante. Não se trata de nenhuma ideia, conceito, ou fórmula para ser posta em prática, porque conceitos, fórmulas, ideias, impedem efetivamente a compreensão dos fatos tais como são. Por “compreender um fato” entendo observar uma atividade, um movimento de pensamento ou de sentimento, e perceber o seu significado no momento da ação. A percepção de um fato, tal como é, deve verificar-se no momento da própria ação; e, se não compreendermos profundamente os fatos, estaremos sempre sendo perseguidos pelo medo.

Penso que quase todos levamos essa enorme carga de medo, consciente ou inconsciente. E, nesta manhã, desejo examinar este problema convosco, para ver se podemos despertar uma compreensão total do medo e causar, assim, sua completa dissolução, de modo que, ao sairmos daqui, estejamos verdadeira e efetivamente livres do medo. Assim sendo, permiti-me sugerir-vos que escuteis tranquilamente, sem estardes argumentando interiormente comigo. Iremos argumentar, permutar palavras, verbalizar nossos pensamentos e sentimentos dentro em pouco. Mas, por ora, fiquemos escutando, em certo sentido, negativamente, isto é, com total neutralidade no ato de escutar. Escutai, apenas. Eu vos estou comunicando alguma coisa — vós nada me comunicais. Para compreenderdes o que desejo transmitir-vos, deveis escutar — e no próprio ato de escutar tereis a possibilidade de comungar com o orador.

Infelizmente, a maioria de nós é incapaz desse escutar negativo, silencioso, não só aqui, mas também em vossa existência de cada dia. Quando saímos a passeio, não ouvimos os pássaros, o ciciar das árvores, o murmúrio do rio; não escutamos as montanhas, nem os céus distantes. Para estardes em comunhão direta com a natureza e com outras pessoas, deveis escutar; e só podeis escutar quando estais negativamente silencioso — isto é, escutando sem esforço, sem atividade mental, sem verbalizar, argumentar, discutir.

Não sei se já alguma vez experimentastes escutar de maneira completa vossa esposa ou marido, vossos filhos, o carro que passa, o movimento dos próprios pensamentos e sentimentos. Nesse escutar nenhuma ação existe, nenhuma intenção, nenhuma interpretação; e esse ato de escutar produz uma grande revolução na raiz mesma da mente.

Mas, em geral, não estamos acostumados a escutar. Se escutamos algo contrário ao nosso pensar habitual, ou se é atacado um dos nossos ideais favoritos, ficamos terrivelmente agitados. Temos “interesses adquiridos” em certas ideias e ideais, assim como os temos em propriedades e em nossa própria existência e conhecimentos, e quando vemos ser impugnada qualquer dessas coisas, perdemos o equilíbrio, a serenidade, resistimos a tudo o que se diz.

Ora, se desejais realmente escutar, esta manhã, o que se está dizendo, escutar sem percebimento vigilante e sem escolha, cumpre seguir o orador, não verbalmente — isto é, sem análise discursiva — e, por conseguinte, vos moveis em harmonia com o significado transcendente da palavra. Isso não equivale a pôr-se a dormir, ou encontrar-se num estado beatífico de sentimentalidade, grato ao “eu”. Pelo contrário, o escutar exige plena atenção — que não é concentração. Estas duas coisas são totalmente diferentes. Se escutais atentamente, talvez possamos — vós e eu — alcançar aquelas grandes profundezas onde se encontra a criação. E isso, sem dúvida nenhuma, é essencial; porque a mente superficial, ansiosa, sempre ocupada com múltiplos problemas, não pode compreender o medo, uma das coisas fundamentais da vida. Se não compreendemos o medo, não haverá nenhum amor, não existirá criação — não o ato de criar, porém aquele estado de criação eterna, o qual não pode ser expresso em palavras, quadros, livros.

Assim, temos de estar livres do medo. O medo não é uma abstração, uma simples palavra — embora para a maioria de nós a palavra se tenha tornado mais importante do que o fato. Não sei se já pensastes em libertar-vos total e completamente do temor. Isso pode ser feito de maneira tão completa que não haverá mais “sombra” de medo, porque a mente estará sempre à dianteira do fato. Isto é, em vez de preocupar-se com o medo e tentar vencê-lo depois de manifestar-se, a mente está à sua dianteira, e por conseguinte livre dele.

Para compreender o medo, cumpre examinar a questão da comparação. Porque comparamos? Em matéria técnica, a comparação revela progresso, que é coisa relativa. Há cinquenta anos, não havia bomba atômica, não havia aviões supersônicos, mas agora temos essas coisas; e daqui a mais cinquenta anos teremos outras que atualmente não temos. Isso se chama progresso, o qual é sempre comparativo, relativo, e nossa mente está enredada nessa maneira de pensar. Não apenas “por fora”, por assim dizer, mas também “por dentro”, na estrutura psicológica de nosso ser, pensamos comparativamente. Dizemos “sou isto, fui aquilo e serei diferente no futuro”. A esse pensar comparativo chamamos progresso, evolução, e todo o nosso comportamento — moral, ético, religioso, nas relações profissionais e sociais — nele se baseia. Observamo-nos comparativamente em relação a uma sociedade que é o produto dessa mesma luta comparativa.

Ora, a comparação gera medo. Observai este fato em vós mesmo. Desejo ser melhor escritor, ou pessoa mais bela e inteligente. Desejo possuir mais saber do que outrem; desejo ter muito êxito, tornar-me pessoa importante, ter mais fama no mundo. O sucesso e a fama são, psicologicamente, a vera essência da comparação, com a qual estamos constantemente criando medo. E a comparação dá também nascimento ao conflito, à luta — que se considera coisa muito respeitável. No vosso sentir, deveis estar em competição, para poderdes subsistir neste mundo, e assim comparais e competis nos negócios, na família, nos chamados assuntos religiosos. Precisais de alcançar o céu, para vos sentardes ao lado de Jesus — ou quem quer que seja vosso particular Salvador. O espírito de comparação se reflete no vigário — que quer tornar-se arcebispo, cardeal e, por fim, papa. Esse mesmo espírito nós outros cultivamos diligentemente durante a nossa vida, lutando para nos tornarmos melhores ou para alcançarmos posição mais alta do que outro. Nossa estrutura social e moral nisso se baseia.

Há, pois, em nossa vida, esse constante estado de comparação, competição, e a perene luta para sermos alguém — ou para sermos ninguém, o que vem a dar no mesmo. Isso, suponho, é a raiz de todo o medo, porquanto produz inveja, ciúme, rancores. Onde está o rancor, aí evidentemente não está o amor, e gera-se medo e mais medo.

Como disse, ficai só escutando. Não pergunteis: Como posso deixar de comparar? Que devo fazer para consegui-lo? — Nada podeis fazer para acabar a comparação. Se fizésseis alguma coisa, o vosso motivo seria também oriundo da comparação. O que podeis fazer é apenas perceber que essa coisa complexa chamada nossa existência é uma luta “comparativa”, e que se tentais atuar contra ela, se tentais alterá-la, de novo vos vedes apoderado do espírito comparativo, “competitivo”. O importante é escutar sem nada desfigurar; e desfiguramos o que estamos escutando ao desejarmos fazer algo a seu respeito.

Estamos, pois, vendo as implicações e o significado dessa avaliação comparativa da vida, e a ilusão de pensar que a comparação produz compreensão — comparação das obras de dois pintores ou de dois escritores; comparação de si próprio com outro menos inteligente, menos eficiente, mais belo, etc., etc. E pode-se viver neste mundo, tanto exterior como interiormente, sem comparar? Percebem o estado da mente que está sempre comparando — reconhecê-lo como fato e “deixar-se ficar” com esse fato — isso exige muita atenção. Essa atenção produz sua disciplina própria, a qual é extremamente flexível; não tem padrão, não é compulsiva, não é ato de controlar, subjugar, negar, na esperança de melhor compreender a questão do medo.  

Essa atitude perante a vida, baseada na comparação, é um dos principais fatores de deterioração da mente, não achais? Deterioração da mente supõe embotamento, insensibilidade, declínio, e, portanto, completa falta de inteligência. O corpo se deteriora a pouco e pouco, porque vamos envelhecendo; mas a mente também se está deteriorando, e a causa desta deterioração é a comparação, o conflito, o esforço “competitivo”. A mente assemelha-se a um motor a funcionar com excesso de atrito: não pode funcionar adequadamente, e durante o seu funcionamento deteriora-se com rapidez.

Como vimos, a comparação, o conflito, a competição, não só danificam, mas também causam medo; e onde há medo, há obscuridade, e não existe afeição, compreensão, amor.

Pois bem, que é o medo? Alguma vez já vos vistes frente a frente com o medo, ou apenas com a ideia do medo? Há diferença entre as duas coisas, não? O fato real — o medo — e a ideia do medo são duas coisas totalmente diferentes. Em geral achamo-nos enredados na ideia do medo, numa opinião, num juízo, numa avaliação do medo, e nunca nos achamos em contato com o fato real — o temor em si. Isso precisa ser ampla e profundamente compreendido.

Tenho medo, por exemplo, de serpentes. Vi um dia uma serpente que me atemorizou, e essa experiência me permaneceu na mente como memória. Quando à noite saio a passeio, essa lembrança entra em função e já vou com medo de encontrar uma serpente; assim a ideia do medo se tornou mais vital, mais potente do que o próprio fato. Que significa isso? Que nunca estamos em contato com o medo, porém apenas com a ideia do medo. Observai esse fato em vós mesmo. E a idéia não pode ser afastada artificialmente. Podeis dizer: “Tentarei enfrentar o temor sem a ideia”; mas isso não é possível. Agora, se percebeis realmente que a memória e a “ideação” vos impedem de comungar com o fato — o fato do medo, do ciúme, o fato da morte — então se estabelecerá uma relação completamente diferente entre vós e a realidade.

Para a maioria de nós, a ideia é bem mais importante do que a ação. Nunca agimos completamente. Estamos sempre limitando a ação com a ideia, ajustando ou interpretando a ação de acordo com uma fórmula, um conceito e, por conseguinte, não há ação nenhuma — ou, antes, a ação é tão incompleta que cria problemas. Mas, uma vez compreendido esse fato extraordinário, a ação se torna coisa sumamente vital, porquanto já não se ajusta a uma ideia.

O medo não é uma abstração; está sempre em relação com alguma coisa. Tenho medo da morte, medo da opinião pública, medo de não me tornar benquisto, popular, medo de nada realizar, etc. A palavra “medo” não é o fato, é apenas um símbolo que o representa, e para a maioria de nós o símbolo, no sentido religioso ou em outro qualquer, é mais importante do que o próprio fato. Ora, pode a mente libertar-se da palavra, do símbolo, da ideia, e observar a realidade, a coisa existente, sem interpretação, sem dizer: “Preciso olhá-la” — sem ter nenhuma ideia sobre ela? Se encaramos o fato, a realidade, com uma opinião a seu respeito, estamos apenas a entreter-nos com ideias, não é verdade? Portanto, isto é algo que muito importa compreender: que, quando olho um fato através de uma ideia, não há comunhão nenhuma com o fato. Se quero estar em comunhão com o fato, então a ideia deve desaparecer completamente. Pois bem, prossigamos desse ponto, para ver aonde nos leva.

Há o fato de que temeis a morte, temeis o que alguém dirá, temeis dúzias de coisas. Ora, quando já não estais olhando esse fato através de uma ideia, de uma conclusão, de um conceito, através da memória, que acontece realmente? Em primeiro lugar, não há separação entre o observador e a coisa observada, o “eu” não está separado dessa coisa. A causa da separação foi eliminada e, por conseguinte, achais-vos em direta relação com o que chamais medo. O “eu” com suas opiniões, ideias, juízos, avaliações, conceitos, memórias — tudo isso está ausente, e só há aquela coisa.

O que estamos fazendo é difícil, não é um simples entretenimento matinal. Eu sinto que é possível uma pessoa sair deste pavilhão, nesta manhã, profunda e completamente livre do medo; e, então, essa pessoa é um verdadeiro ente humano.

Estais, pois, agora, frente a frente com o fato: a sensação ou apreensão que chamais “medo” e que foi produzida por uma ideia. Tendes medo da morte (estou tomando isso apenas para exemplo). Ordinariamente, considerais a morte uma simples ideia; não é um fato. O fato só se vos apresenta quando estais morrendo. Sabeis da morte de outras pessoas, e a compreensão de que também vós tendes de morrer se torna uma ideia geradora de medo. Olhais o fato através da ideia, a qual vos impede o contato direto com o fato. Há um intervalo entre o observador e a coisa observada. É nesse intervalo que surge o pensamento — sendo “pensamento” a ideação, a verbalização, a memória que oferece resistência ao fato. Mas quando esse intervalo não existe, isto é, quando ausente o pensamento, que é tempo, estais diante do fato; e então o fato atua sobre vós — vós não atuais sobre o fato.

Espero estejais compreendendo tudo. É isso demais para uma manhã de calor?

Eu sinto que o viver com medo, de qualquer espécie que ele seja, é — se posso empregar o termo — coisa má. Viver com medo é coisa má, porque gera ódio, desfigura o pensar e perverte toda a vossa vida. Portanto, é absolutamente necessário que o homem religioso seja completamente livre de medo, tanto exterior como interiormente. Não me refiro à reação espontânea do corpo físico, para proteger-se, que é natural. É normal, ao verdes uma serpente, saltardes para longe dela — o que é apenas um instinto físico autoprotetório, e seria anormal não terdes tal reação. Mas o desejo de se estar em segurança, interiormente, psicologicamente, em qualquer nível do próprio ser, gera medo. Podemos ver em toda a parte os efeitos do medo e compreender, assim, quanto é importante que a mente não seja, em tempo algum, um “terreno de cultura” do temor.

Se bem escutastes o que aqui se disse nesta manhã, tereis visto que o medo nunca se acha no presente, porém sempre no futuro; ele é provocado pelo pensamento, pelo pensar no que poderá acontecer amanhã ou daqui a um minuto. Assim, o medo, o pensamento e o tempo são companheiros; e, para se compreender e transcender o medo, é necessária a compreensão do pensamento e do tempo. Todo pensar comparativo deve cessar; toda ideia de esforço — que envolve competição, ambição, adoração do êxito, luta por tornar-se alguém — deve findar. E, uma vez compreendido todo esse processo, não há conflito nenhum, há? Por conseguinte, a mente já não se acha num estado de deterioração, porquanto é capaz de enfrentar o medo e não propicia o seu aparecimento. Ora, esse estado livre do medo é absolutamente necessário, para que se possa compreender o que é criação.

Em regra, a vida é para nós entediante rotina, e nela não encontramos nada novo. Toda coisa nova que ocorre, logo a transformamos em rotina. Alguém pinta um quadro, que passa a ser novidade, mas logo depois deixa de sê-lo. O prazer, a dor, o esforço — tudo se torna rotina, tédio, luta perene e pouco significativa. Estamos sempre a buscar algo novo — o novo em filmes, o novo em quadros. Queremos sentir e expressar coisas novas, diferentes, não traduzíveis de imediato em termos do “velho”. Esperamos encontrar um certo truque, ou técnica engenhosa mediante a qual possamos expressar-nos e sentir-nos satisfeitos; mas, também isso acaba-se tornando uma terrível importunação, uma coisa feia, que temos vontade de destruir. Achamo-nos, pois, num constante estado de reconhecimento. Toda coisa nova é imediatamente reconhecida e, assim, absorvida pelo “velho”. O mecanismo de reconhecimento é, para a maioria de nós, de excepcional importância, visto que o pensamento está sempre funcionando dentro do campo do conhecido.

No momento em que se reconhece uma coisa, ela deixa de ser nova. Compreendeis? Nossa educação, nossa experiência, nosso viver diário — tudo isso é mecanismo de reconhecimento, de constante repetição, e confere continuidade à nossa existência. Com a mente presa nesse mecanismo, perguntamos se existe algo novo; queremos averiguar se há ou não há Deus. Partindo do conhecido, pretendemos encontrar o desconhecido. É o conhecido que causa o medo ao desconhecido, e por isso dizemos: “Preciso encontrar o desconhecido, reconhecê-lo e trazê-lo para o conhecido”. Tal é nossa busca, na pintura, na música, em tudo — a busca do novo, para interpretá-lo sempre em termos do velho.

Ora, esse mecanismo de reconhecimento e interpretação, de ação e de preenchimento, não é criação. Não há possibilidade de expressar o desconhecido. O que se pode expressar é uma interpretação ou reconhecimento de algo que chamais “o desconhecido”. Cumpre, pois, descobrir por vós mesmo o que é criação, porque, do contrário, vossa vida é mera rotina, em que nenhuma mudança, nenhuma mutação ocorre, e com a qual vos aborreceis rapidamente. A criação é o próprio movimento criador — e não a interpretação desse movimento na tela, na música, em livros, ou numa relação.

Afinal de contas, a memória encerra milhões de anos de lembranças, de instintos, e o impulso para ultrapassar tudo isso faz parte ainda da mente. Desse fundo do “velho” procede o desejo de reconhecer o novo; mas o novo é algo totalmente diferente — ele é amor — e não pode ser compreendido pela mente que está aprisionada no mecanismo do velho e tentando reconhecer o novo.

Esta é uma das coisas mais difíceis de transmitir, de comunicar; mas desejo comunicá-la, se possível, porque a mente que não se acha nesse estado criador está sempre em mecanismo de deterioração. Esse estado é intemporal, eterno. Não é “comparativo”, não é utilitário, nenhum valor tem em termos de ação; ninguém pode servir-se dele para pintar quadros ou escrever maravilhosa poesia shakespeariana. Mas, sem ele, não há realmente amor. O amor que conhecemos é ciúme, geralmente cercado de ódio, ansiedade, desespero, aflição, conflito; e nada disso é amor. O amor é coisa eternamente nova, irreconhecível; ele nunca é o mesmo, e, por conseguinte, é o supremo estado de incerteza. E só no “estado de amor” pode a mente compreender essa coisa extraordinária chamada “criação” — que é Deus, ou outro nome que lhe quiserdes dar. Só a mente que compreendeu as limitações do conhecido e, consequentemente, dele ficou livre — pode achar-se naquele estado criativo em que não existe fator de deterioração.

Desejais fazer perguntas sobre o que estivemos dizendo nesta manhã?

PERGUNTA: O sentimento de termos uma vontade individual é a causa do medo?

KRISHNAMURTI: Talvez seja. Mas, que entendeis pela palavra “individual”? Vós sois “individual”? Tendes um corpo, um nome, uma conta no banco; mas, se interiormente estais acorrentado, tolhido, limitado, sois um indivíduo? Como todos os outros, estais condicionado, não? E dentro dessa limitada área de vosso condicionamento que chamais “o indivíduo” tudo acontece — vossas aflições, desesperos, vosso ciúme, vossos temores. Essa entidade estreita e fragmentária, com sua alma individual, sua vontade individual e demais futilidades — dela tendes muito orgulho. E com ela desejais descobrir Deus, a verdade, o amor. Isso não é possível. O que pois fazer é só estar consciente do fragmento que sois e de vossas lutas, e perceber que o fragmento não pode, jamais, tornar-se o todo. O que quer que faça, o raio nunca poderá tornar-se roda. Por conseguinte, cumpre investigar e compreender essa existência separada, estreita, limitada, esse suposto “indivíduo”. O mais importante nisso tudo não é vossa opinião ou minha opinião, mas descobrir o verdadeiro. E, para descobrir o verdadeiro, não deve a mente temer — ser tão despida de medo, que seja de todo “inocente”. Só dessa “inocência” vem a criação.

Krishnamurti, Saanen, 21 de julho de 1964,
A mente sem medo



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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

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K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill