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quarta-feira, 11 de abril de 2018

É possível morrer para o conhecido?


É possível morrer para o conhecido?

[...] Há a morte — um fato inegável. Vós a vedes todos os dias. Em toda casa ela entra. Todo ser humano a conhece. Ela é um fim — absoluto, definitivo, irrevogável. Podeis tecer uma porção de teorias em torno dela — dizer que há continuidade, que há o “além”, que há uma vida futura, etc. etc. Mas o fato é um fato. Se compreendeis o fato, descobrireis o que há além. Mas, se não compreendeis o fato, se não enfrentais o fato, não podeis passar além. O fato é que há a morte; e contra esse fato não há argumentos. Não podeis argumentar com a morte. Não podeis dizer-lhe “vem amanhã”. Que é, pois, morrer? Há, decerto, um morrer fisiológico, em que o corpo se acaba. A morte virá, inevitavelmente, para o corpo, porque o corpo é uma máquina, um organismo que se gasta pelo mau uso que dele se faz pelo conflito, por pressões, lutas, pela alimentação inadequada, etc.; assim, todo esse processo chega a seu fim. Podemo-lo admitir muito fácil e prontamente. Mas isso é tudo?

Em vivi, lutei, adquiri experiência, tornei-me muito poderoso — para que? Se eu morrer, tudo isso desaparecerá ou terá continuidade? Como descobri-lo? Compreendeis, senhores? Não me estais escutando, para receberdes novas ideias. Não vos estou fornecendo argumentos, não estou refutando o que credes e oferecendo, como substituto, minha crença particular. Nesta matéria, não tenho crença alguma; só tenho fatos. Desejo saber o que é a morte, e não poderei sabê-lo se não sei morrer. Fisicamente, vosso corpo tem continuidade — como sabeis — até chegardes ao fim, até a máquina morrer.

Ora, é possível morrer psicologicamente? Sabeis o que significa morrer, findar? Entendeis minha pergunta? Faço-a com clareza? Vede, senhores, há a morte, algo que não conheceis. E aquilo que desconheceis, temeis. Pelo menos pensais que temeis aquilo que desconheceis. Não é verdade? Como podeis ter medo de uma coisa que desconheceis? Tendes medo é de perder algo que já conheceis. Esta a causa real do medo; o medo não é ao desconhecido. Temeis perder algo que acumulastes. Temeis perder o conhecido, e não o desconhecido.

Ora, pode-se morrer para o desconhecido? Podeis morrer para a lembrança de ontem, para todas as vossas realizações, para todas às coisas que tendes acumulado? Podeis morrer livre e facilmente, e ditosamente, para as coisas que vos são caras? Podeis amar vossa família — mas eu tenho minhas dúvidas a esse respeito; se amásseis verdadeiramente vossa família, a atual sociedade não seria tão corrupta. Podeis morrer para vosso prazer, para vossas vaidades, ambições, para vossa avidez — imediatamente? Pois é isso que irá acontecer ao morrerdes. Morrer para ontem, morrer para cada minuto, morrer para todas as coisas acumuladas — isso é morte. Quer dizer, podeis viver sempre num estado de “não saber” e, por conseguinte, sempre jovem, novo, “inocente”? A morte é uma coisa extraordinária. A morte é o desconhecido. Não podeis chegar-vos a ela com o conhecido; não podeis chegar-vos a ela com todas as vossas cargas. A morte vos despojará de tudo — de vossa família, vossos filhos, vosso caráter, vossas ambições. Porque, então, vós mesmo não vos despojais de tudo isso agora? Quando o fizerdes, sabereis o que significa a morte. E eu vos garanto que, quando o souberdes, conhecereis uma grande beleza. Sabereis então o que é o amor, porque a morte, o amor e a beleza, andam sempre juntos. Essa coisa que chamamos amor não é o amor; é mera memória. O que amais é o vosso interesse pessoal. Vossa família é a continuidade de vós mesmo; vossa família é vossa pertença. E, bem o sabeis, quando morreis, acabou-se a família; nada mais existe.

Assim, é possível morrer para tudo o que conheceis? Isto não significa aniquilamento; não significa negação; não significa “nada ser”. Há uma imensidade, uma vastidão, algo que ultrapassa todas as palavras, quando sabeis negar todas as bases, negar tudo o que tendes conhecido. Morrer assim, para tudo o que conheceis, a cada momento, significa nunca recolher, nunca acumular e, por conseguinte, jamais ter o conflito da separação.

A morte é o estado em que a mente perdeu o reconhecimento de si própria e das fronteiras do tempo. Onde há continuidade de pensamento — que é o que em geral desejamos, que é tudo o que sabemos — nasce sofrimento, ansiedade, sentimento de culpa e todas as agitações da vida; o pensamento tem sua peculiar continuidade, mas o pensamento está limitado pelo tempo. Quando o pensamento morre para si próprio, quando o mecanismo da memória, como pensamento, termina — falo do pensamento psicológico e não do pensamento mecânico do conhecimento — vereis então que a coisa que temeis não existe. Cessa inteiramente o medo. Estais então vivendo completamente, integralmente, totalmente, momento por momento; e isso é criação.

Para nós, a beleza é uma coisa construída pela mente. Para nós, beleza é a mulher ou o homem, é assistência social, é um edifício, um quadro, uma peça de cerâmica, ou uma ideia. Mas há uma beleza que transcende o pensamento e o sentimento, que não é construída pela mente. E essa beleza é o amor. Sem esse amor, a vida se torna inteiramente vazia — como o é a vida da maioria das pessoas; embora tenham famílias, embora tenham virtudes, embora tenham empregos, sua vida é vulgar, superficial, vazia.

Mas, quando tiverdes morrido para tudo, psicologicamente, quando tiverdes alcançado esse ponto, vereis que do morrer surge um viver — um viver que não tem significação, comparado com o presente viver. Esse viver é o estado de criação, e essa criação não conhece o tempo. É o imenso, o imensurável, o incognoscível. E só a mente que morreu para si própria e para todas as coisas conhecidas conhecerá o Incognoscível.

Krishnamurti, Nova Déli, 11 de fevereiro de 1962, A mutação Interior

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill