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terça-feira, 10 de abril de 2018

É possível quebrar as fúteis muralhas da mente?


É possível quebrar as fúteis muralhas da mente?

PERGUNTA: A observação implica cessação da memória?

KRISHNAMURTI: Pergunta esse senhor: Observação é o cessar da memória? Não sei se já fizestes alguma experiência pessoal ao verdes algo, ao observardes algo. Ao olhardes para alguém, olhais com todas as impressões que recebestes dessa pessoa e, por conseguinte, não a estais olhando realmente. Em maioria, com exceção dos estudantes aqui presentes, sois homens casados; olhais alguma vez vossa esposa? Vós olhais o retrato, a imagem, as impressões que tendes tido dela, mas nunca olhais para ela; e, talvez, se a olhardes livre de todas as impressões, insultos, brigas, lembranças que tendes acumulado, pensareis que algo terrível estará sucedendo; por conseguinte, mantendes àquela cortina entre vós e ela. O olhar verdadeiramente uma coisa, livre da memória — que é pensamento, que é reação acumulada, etc. — o olhar o fato, livre da palavra, liberta energia, porque o próprio fato produz energia — e não eu que estou olhando. Olhar o fato — não as explicações, as teorias, não a desnecessidade ou a necessidade dele — olhar a integral estrutura da sociedade — isso provocaria uma tremenda revolução no pensar. Mas nós não desejamos essa revolução, porque causa muita perturbação; talvez me faça abandonar minha profissão, adotar outra maneira de viver. Assim sendo, trato de proteger-me com a palavra e de nunca olhar o fato de frente. E, para a maioria de nós, filosofia e religião, e essa coisa imensa que se chama a Vida, são meras palavras. O libertar a mente da palavra é, com efeito, uma coisa extraordinária.

PERGUNTA: É possível à mente humana compreender a Verdade?

KRISHNAMURTI: A mente humana pode compreender a Verdade? Penso que não. Que é, no presente, a mente humana? Existe mente humana, ou se trata de mera reação instintiva do animal ainda existente em nós? Isto não é sarcasmo.

Antes de mais nada, para se compreender qualquer coisa na vida — não só a Verdade — para eu compreender minha mulher, meu semelhante, meu filho — é necessária uma certa quietude mental (não quietude disciplinada, porque então a mente não está quieta, porém morta), pois uma mente em conflito impede a observação de qualquer coisa, a observação de mim mesmo. Ora, eu me vejo em contínuo conflito, em perpétuo movimento — sempre e sempre a mover-me, a falar, a indagar, explicar; em tais condições, não há possibilidade de observação. É isso o que está fazendo a maioria de nós, quando nos vemos frente à frente com “o que é”.

Vê-se, pois, que só é possível a observação quando não há conflito. Para não ter conflito, uma pessoa pode tomar um calmante, um comprimido, a fim de se tornar tranquila; mas isso não lhe dará percebimento; fá-la-á dormir. Eis, provavelmente, o que quase todos queremos. Consequentemente, para observar, necessita-se de uma certa placidez mental; e, se então percebeis ou não o que é verdadeiro; isso depende da qualidade de vossa mente.

A verdade não é uma coisa estática. A Verdade não é uma coisa fixa, sem força. É algo que deve ser vivo, extraordinariamente sensível, ativo, dinâmico, vital. E como pode uma mente corrompida, insignificante, agitada, continuamente acicatada pela ambição, compreendê-la? Apenas poderá dizer que a Verdade existe, ficar repetindo essa frase e com ela hipnotizar-se.

A questão, por conseguinte, não é se a mente humana pode perceber já Verdade, porém, sim, se é possível quebrar as fúteis muralhas que o homem ergueu em torno de si e a que chama “a mente”. É este o problema real. Uma dessas muralhas — de que todos muito gostamos — é a autoridade.

PERGUNTA: O Amor e a Verdade não são uma só e a mesma coisa?

KRISHNAMURTI: O Amor e a Verdade são uma só e a mesma coisa? Como sabeis, devemos desconfiar de todas as semelhanças — mas existem semelhanças. Considere-se a palavra “amor”.

O general que se prepara para matar, que está planejando matanças, fala de seu amor à Pátria, seu amor à esposa e filhos, e até de seu amor a Deus. Os políticos fazem o mesmo: falam de “voz interior”, de Deus, de amor. Como se descobre o que é o amor, o que é a Verdade? Não se trata de saber se são semelhantes ou dessemelhantes, mas, sim, de saber o que é amar, o que isso significa. Já não nos sobra tempo para entrarmos a pleno nesta questão.

Para se descobrir o que é o amor, necessita-se de sensibilidade. Para a maioria de nós, amor é sexo, desejo. Por causa da tradição, por causa das sucessivas “ondas” de santos que têm percorrido este pobre e desafortunado país, o amor desapareceu. Pregam o amor divino, o amor humano; entretanto, são homens terrivelmente duros, totalmente insensíveis — eles, os santos que venerais. Nega-se a Beleza: Não olhes para uma árvore, não olhes para uma mulher; foge dela, trata-a como a um leproso, ou manda-lhe rapar a cabeça. De quantas tretas somos capazes, quando somos insensíveis!

Dessa forma, precisamos ser sensíveis, pois então saberemos o que é o amor. Para ser deveras sensível, impende romper com o passado, libertar-se de todos os heróis e santos. Digo-o seriamente. Se os seguis, estais imitando; e a mente imitadora não é sensível.

Pergunto-me a mim mesmo, esgotada esta hora de palestra e de respostas, que efeito terá ela produzido em vossa mente — não de maneira teórica ou ideológica, porém realmente. Tornastes-vos mais sensíveis? Aquela jovem diz que está com a mente sobremodo perturbada. Muito folgo com isso. Deixai-vos ficar perturbada para o resto da vida. A perturbação é apenas o começo. Mas que efeito real tem isso — estar perturbado? Só os jovens são suscetíveis de perturbar-se. Os velhos não se perturbam, pois já se acham por demais “comprometidos”; têm seu puja, seus santos, seus deuses, seus “caminhos da salvação”, seus métodos de salvar a sociedade, etc. Estão “comprometidos”, tão cheios de deveres e obrigações que não há mais lugar para o amor.

Assim, ao dizermos que estamos perturbados, que significa isso? Perturbados até que profundidade? Quando um rio é perturbado pelos ventos, aparecem-lhe rugas na superfície; mas no fundo do rio não há perturbação, porém a tranquilidade da morte. Provavelmente, o mesmo acontece conosco; nas camadas mais profundas não há perturbação nenhuma. Talvez os jovens possam ser perturbados — mas, depois, se casarão, farão exames, arranjarão emprego — e estarão estabilizados para o resto da vida. Não digo que não devais casar-vos e empregar-vos. Mas, quando o fazeis, vossa perturbação muda de objeto; vedes-vos perturbados por causa do emprego, desejais emprego melhor, ganhar mais dinheiro. Não estou tratando dessa espécie de perturbação, que é por demais elementar. Falo da mente que está de fato perturbada, perturbada e sem encontrar resposta. No momento em que achais uma resposta, pensais ter a solução do problema. A vida não é tão fácil assim.

Portanto, qual o efeito real desta hora de palestra? Uma ruga na superfície, ou profunda perturbação — coisa semelhante ao arrancar uma árvore pelas raízes. Já vistes uma árvore ser arrancada pelas raízes? Sabeis o que sucede? Tudo se desprende dela. A árvore morre para tudo a que estava ligada. Eu gostaria de saber até que profundeza uma palestra como esta pode lançar raízes. Não podeis responder; e eu não estou pedindo resposta.

O mundo necessita de entes humanos que não estejam mecanizados. O mundo necessita de homens que tenham verdadeiramente adquirido um novo intelecto, uma mente nova. Há milhares de entes mecanizados, mas, por certo, torna-se necessária uma mente nova para resolver os inumeráveis problemas existentes no mundo, problemas que se multiplicam e crescem continuamente. Nessas condições, se assim me posso expressar, averiguai se a casa está sendo demolida, ou se apenas a estais reformando.

Krishnamurti, Varanasi, 03 de janeiro de 1961, A mutação Interior

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill