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quarta-feira, 4 de abril de 2018

A compreensão do mecanismo do desejo


A compreensão do mecanismo do desejo

PERGUNTA: Todas as nossas tribulações parecem provir do desejo, mas podemos ficar livres do desejo? O desejo é inerente à nossa natureza ou é produto da mente?

KRISHNAMURTI: Que é “desejo”? E por que separamos o desejo da mente? E quem é a entidade que diz: “O desejo cria problemas e, por conseguinte, devo ser livre de desejo”? Entendeis? Temos de compreender o que é o desejo, e não, perguntar como livrar-nos do desejo, porque ele nos traz tribulações, ou se o desejo é produto da mente. Em primeiro lugar, precisamos saber o que é o desejo, para podermos examiná-lo com mais profundidade. Que é o desejo? Como nasce o desejo? Eu vou explicá-lo, e vós podereis ver, mas não vos limiteis a escutar as minhas palavras. “Experimentai” realmente a coisa sobre que estamos falando, e, desse modo, as palavras terão significação.

Como se origina o desejo? Pode-se dizer com segurança que ele nasce do perceber ou ver, do contacto, da sensação — depois, o desejo. Não é exato isso? Primeiro, vedes um automóvel, depois vem o contacto, a sensação, e, por fim, o desejo de possuir o carro, conduzi-lo. Tende a bondade de acompanhar lentamente, com paciência, o que estou dizendo. A seguir, ao procurardes adquirir o carro, que é a manifestação do desejo, há conflito. Nessas condições, na própria realização do desejo há conflito, há dor, sofrimento, alegria, e cada um deseja manter o prazer e livrar-se da dor. É isto o que de fato está acontecendo a cada um de nós. A entidade criada pelo desejo, a entidade que está identificada com o prazer, diz: “Preciso livrar-me daquilo que desagrada, que é doloroso”. Nunca dizemos: “Quero livrar-me da dor e do prazer". Queremos reter o prazer e livrar-nos da dor; mas é o desejo que cria as duas coisas, não é verdade? O desejo, que nasce da percepção-contato-sensação, está identificado com aquele “eu” que deseja apegar-se ao que é agradá­vel e afastar de si o que é doloroso. Mas tanto o doloroso como o agradável são igualmente produtos do desejo, que faz parte da mente, não se acha fora da mente; e enquanto existir uma entidade a dizer: “Quero conservar isto e livrar-me daquilo”, será inevitável o conflito. Visto que queremos livrar-nos de todos os desejos dolorosos e apegar-nos àqueles que primàriamente proporcionam prazer, vantagem, nunca consideramos na sua totalidade o problema do desejo. E quando dizemos: “Preciso livrar-me do desejo” — quem é essa entidade que está tentando livrar-se de alguma coisa? Essa entidade não é também filha do desejo? Estais compreendendo?

Como disse no início desta palestra, necessitamos de infinita paciência para compreender estas coisas. Para as perguntas fundamentais não há respostas absolutas, “sim” ou “não”. O importante é o formular a pergunta fundamental e não o achar-lhe a resposta; e se somos capazes de considerar a pergunta fundamental, sem buscarmos uma resposta, então, esta mesma observação da coisa fundamental cria a compreensão.

Nosso problema, por conseguinte, não é de como libertar-nos dos desejos dolorosos, ao mesmo tempo que nos apegamos aos agradáveis; o problema é de compreender, na sua totalidade, a natureza do desejo. Isto sugere a pergunta: Que é conflito? E quem é a entidade que está sempre a escolher entre o que é agradável e o que é doloroso? A entidade a que chamamos “eu”, “ego”, a mente que diz “Isto é prazer, isto é dor, prender-me-ei ao agradável e rejeitarei o doloroso” — essa entidade não é desejo? Mas, se formos capazes de olhar com atenção todo o campo do desejo, sem o propósito de conservar alguma coisa ou livrar-nos de alguma coisa, descobriremos, então, que o desejo tem um significado completamente diferente.

O desejo cria a contradição, e a mente que é vigilante, muito ou pouco, não gosta de viver em contradição, e por isso tenta livrar-se do desejo. Mas, se a mente puder compreender o desejo, sem tentar afastá-lo de si, sem dizer “Este é um desejo melhor, e aquele é um desejo pior; vou ficar com este e desfazer-me daquele” — se puder conhecer todo o campo do desejo, sem rejeitar, nem escolher, nem condenar, ver-se-á, então, que a mente é desejo, não está separada do desejo. Se compreenderdes realmente isto, a mente se tornará muito tranquila; os desejos surgirão, mas não terão mais “poder de choque”, já não terão muita significação, já não fincarão raízes na mente, nem criarão problemas. A mente reagirá, pois do contrário não estará viva, mas sua reação será superficial e não criará raízes. Eis porque é importante compreendamos, no seu todo, o mecanismo do desejo, mecanismo em que quase todos estamos aprisionados. Presos nesse processo, sentimos a contradição, a dor infinita que ele causa, e, portanto, lutamos contra o desejo, e essa luta cria dualidade. Mas, se, por outro lado, pudermos dar atenção ao desejo, sem julgamento, sem avaliação ou condenação, veremos que, então, ele não cria mais raízes na mente. A mente que faculta terreno propício aos problemas nunca encontrará o que é Real. A questão, por conseguinte, não é de como dissolver o desejo, mas, sim, de compreendê-lo, e só é possível compreendê-lo quando não o condenamos. Só a mente que não está ocupada pelo desejo, pode compreender o desejo.

Krishnamurti, 6 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill