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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Por que temos medo de largar o conhecido?

Por que temos medo de largar o conhecido?

PERGUNTA: Tenho medo da morte. Vivi uma vida de muita riqueza e plenitude, intelectual, artística e emocionalmente. Agora, que já vou aproximando do fim, toda essa satisfação acabou e nada mais me resta senão as crenças religiosas de minha meninice — purgatório, inferno etc. — que me enchem de pavor. Podeis renovar-me a confiança?

KRISHNAMURTI: Parece que a próxima pergunta se relaciona também com a morte; portanto, vou lê-la também.

PERGUNTA: Sou jovem, e até há poucas semanas gozava perfeita saúde. Um acidente causou-me uma lesão mortal, e os médicos só me dão poucos meses de vida. Porque haveria de acontecer-me isso, e como irei enfrentar a morte?

KRISHNAMURTI: Acho que em geral nós, jovens e velhos, temos medo da morte. O homem que deseja concluir a sua obra tem medo da morte, visto que aspira a chegar a um resultado. O homem que está fazendo uma carreira triunfante não deseja ser interceptado no meio dela e, portanto, teme a morte. O homem que viveu plenamente, com todas as riquezas deste mundo, também teme a morte. Assim sendo, que devemos fazer?

Vede, nós nunca fazemos perguntas fundamentais. O homem que viveu com riqueza, com plenitude, nunca fez tal pergunta. Aquela vida exuberante e plena foi muito superficial, porque, debaixo, muito profundas, jazem todas as tradições do cristianismo, do hinduísmo etc., ocultas, dormentes; e quando sua vida já não pode ser vivida com riqueza, com plenitude, os sedimentos do passado sobem à superfície e ele fica com medo do purgatório, ou inventa um céu que lhe seja satisfatório. Subsistem, pois, no inconsciente, os sedimentos de nossa cultura, de nossos temores raciais etc. E enquanto estamos ativos, com o espírito lúcido, cheios de saúde, acho necessário investigarmos as profundezas do nosso ser, a fim de descobrirmos e erradicarmos todos aqueles depósitos, aqueles sedimentos de tradição, de temor, de modo que, quando a morte se apresentar, sejamos capazes de enfrentá-la. E isso significa, realmente, que devemos ser capazes de fazer uma pergunta fundamental, agora, não nos deixando satisfazer com respostas superficiais. Há pessoas que creem na reencarnação; dizem que viverão uma vida futura, que há continuidade, que não há aniquilamento, e nessa crença se sentem felizes. Mas o problema não ficou resolvido, porque elas se estão satisfazendo, meramente, com palavras, com explicações. Ou, se sois muito intelectuais, dizeis: "A morte é inevitável, faz parte da existência. Já que nasci, tenho de morrer. Porque fazer disso um problema?" Também estes não resolveram o problema.

Os mais de nós temos medo, mas encobrimos o nosso medo com crenças, com explicações, com racionalização. E temos o homem que diz: "Sou jovem ainda, e porque hei de ser ceifado? Quero viver, conhecer as riquezas da vida. Porque haveria de acontecer-me isso, a mim?" Quando alguém diz: "Porque haveria de acontecer-me isso, a mim?", isto significa, evidentemente: "Não devia acontecer a mim, mas a vós". Interessa, pois, a todos nós este problema. Podemos investigá-lo? Estais dispostos a experimentar o que estou dizendo? Não meramente escutá-lo, mas experimentá-lo deveras, seguindo a descrição e aplicando-a a vós mesmos? A descrição é apenas a porta através da qual tendes de olhar. Se não olhais a descrição, a porta terá muito pouco valor. Nós vamos, pois, olhar para descobrirmos por nós mesmos a verdade relativa a este problema; mas não buscando explicações, substituindo a crença hinduísta na reencarnação pela crença cristã no céu etc.

O fato é que há a morte; o organismo finda. E o fato é que pode haver e pode não haver continuidade. Mas eu desejo saber agora, enquanto tenho saúde, vitalidade, energia, desejo saber o que é viver com plenitude; e desejo saber, também agora, o que significa morrer, sem esperar que um acidente ou uma doença me leve deste mundo. Desejo saber o que significa morrer, desejo entrar vivo na mansão da morte. Desejo, não teoricamente, mas realmente, experimentar essa coisa extraordinária que ela deve ser, penetrar no desconhecido, cortando todos os vínculos do conhecido. Não tornar a encontrar o "conhecido", não tornar a encontrar um amigo, lá, "do outro lado", isto é que me aterra. Tenho medo de largar tudo o que me é conhecido — a família, a virtude que cultivei, a propriedade, a posição, o poder, o pesar, a alegria, todas as coisas que acumulei e que constituem o "conhecido". Tenho medo de deixar tudo isso escapar, para sempre, das profundezas do meu ser, e de me ver em presença do desconhecido — a morte. Posso eu, que sou um resultado do conhecido, procurar sem me mudar para algo também conhecido, mas ingressando em algo que não conheço, algo nunca dantes experimentado? Têm-se escrito livros sobre a morte, várias, religiões têm doutrinado a respeito dela; mas isso são só descrições, são só coisas conhecidas. A morte, decerto, é o desconhecido, assim como a verdade é o desconhecido. E a mente que está pejada do conhecido nunca poderá entrar no reino do desconhecido. A questão, por conseguinte, é esta: se posso deitar fora todo o conhecido. Não posso fazê-lo pela vontade. Tende a bondade de prestar atenção a isto. Não posso lançar fora o conhecido, pela vontade, pela volição. Porque isso supõe um produtor da vontade, uma entidade que diz: "Isto é bom, e isto é mau", "Isto eu quero, e isto eu não quero". A mente está então atuando com base no conhecido, não é exato? Diz ela: "Preciso entrar naquele estado extraordinário que é a morte, o incognoscível, e portanto devo abandonar o conhecido". Essa pessoa se põe então a rebuscar nos vários recantos da sua mente, a fim de expulsar o conhecido. Esta ação permite a subsistência da entidade que deliberadamente expulsa o conhecido. Mas, já que essa própria entidade resulta do conhecido, nunca terá a possibilidade de experimentar aquele estado extraordinário, ou de nele ingressar. Não é claro isto? Isto é, que, se há "experimentador", esse experimentador é resultado do conhecido; e esse experimentador deseja compreender aquilo que se não conhece, o desconhecido. Quaisquer esforços que ele desenvolva nesse sentido, a sua "experiência" estará sempre dentro da esfera do conhecido.

O problema, pois, é: pode o experimentador deixar de existir completamente? Porque ele é o agente, o estímulo, a busca, a entidade que diz: "Isto é o conhecido e eu tenho de passar ao desconhecido". E, sem dúvida, toda ação, todo movimento da parte do observador, do experimentador, está sempre na esfera do conhecido. Nessas condições, pode a mente, que é resultado do conhecido, resultado do tempo, pode essa mente entrar no desconhecido? Não pode, por certo. Está visto, pois, que toda explicação, toda crença a respeito da morte, origina-se sempre do conhecido. Assim sendo, posso eu, pode a minha mente, desnudar-se, de todo, do conhecido? Não há resposta. Isso depende de vós. Vós tendes de descobrir, tendes de investigar, aprofundar o problema. As perguntas fundamentais não se respondem com "sim" ou "não". Tendes de levantar a questão fundamental, e esperar que ela se desdobre por si mesma. E ela não poderá desdobrar-se por si se estais meramente em busca de uma resposta, uma explicação. Esta é uma questão básica: posso eu, que sou o resultado do conhecido, penetrar no desconhecido, que é a morte? Se desejo fazê-lo, tenho de fazê-lo enquanto estou vivo, e não no último momento. No último instante, a mente já não é capaz de observar, de compreender; ela está enferma, cansada, exausta, e a consciência muito enfraquecida. Mas, enquanto estamos cheios de energia, plenamente conscientes, vigilantes, lúcidos, não podemos então investigar, descobrir? "Entrar em vida na mansão da morte", isto não é uma ideia mórbida; é a única solução. Enquanto estamos vivendo uma vida de riqueza, de plenitude — o que quer que isso signifique — ou uma vida desditosa, uma vida pobre, não temos a possibilidade de conhecer aquilo que é imensurável e que o experimentador só pode entrever em raras ocasiões?

Podemos, então, vós e eu, desvencilhar-nos do conhecido? Compreendeis a profundeza do problema? A mente se apega a toda experiência aprazível, e deseja evitar as não aprazíveis. Esta acumulação do que é aprazível é o conhecido; e a fuga ao não aprazível é igualmente o conhecido. Pode a mente morrer, momento por momento, para tudo o que experimentou, e nunca acumular? Porque, se há acumulação, temos, nesse caso, o experimentador, que só observa as coisas baseado nessa acumulação; essa acumulação é o próprio experimentador; este, por conseguinte, nunca poderá conhecer o que se acha além do conhecido. Acho da maior importância que cada um de nós compreenda isso profundamente, porque, então, nem o saber, nem a disciplina, a crença, o dogma, nem o seguir instrutores e gurus etc., tem mais significação alguma. Porque as disciplinas, os métodos, são o conhecido: coisas que se têm de praticar, e alvos que se têm de atingir. Podemos perceber isso, na sua totalidade, dar-lhe toda a nossa atenção? Não visando a alcançarmos o desconhecido, porque tal atenção é mera exclusão, uma forma de avidez. Podemos perceber que, enquanto há qualquer movimento da mente, esse movimento procede do tempo, do conhecido, e que tal movimento em direção ao desconhecido nunca penetrará esta esfera de liberdade? Se podemos perceber isso, então a mente, divisando a verdade relativa à questão, se torna de todo imóvel. Já não está buscando, indagando, esquadrinhando, pois compreende que toda busca, toda indagação, procede do conhecido. Só com a tranquilidade total da mente é que é possível vir à existência o desconhecido.

Krishnamurti, Terceira Conferência em Londres, 19 de junho de 1955


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill