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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Onde há acumulação de conhecimentos tem de haver imitação

Ora, evidentemente, não estamos livres quando estamos seguindo a outro. É preciso estar-se livre do instrutor religioso, e isso significa que cada um tem de ser uma luz para si mesmo e não depender da luz de nenhum outro. E pode-se realmente "experimentar" esse aliviar, esse libertar da mente do líder, do instrutor, do guru? Podemos experimentar realmente esse estado agora, que estamos falando sobre ele, de modo que a mente não dependa de nenhuma autoridade, não dependa de ninguém, para orientá-la e guiá-la? 

Todas as suas chamadas doutrinas religiosas criam um ideal, que você segue; e este ideal se torna uma nova espécie de instrutor. E, por certo, esta total libertação da ideia do guia, do instrutor, do seguir, sob qualquer forma que seja, esta libertação é essencial. Porque o seguir um instrutor implica acumulação de conhecimentos, e a libertação só é possível pela completa renúncia ao conhecimento. Afinal, são só conhecimentos o que estamos verdadeiramente buscando, na nossa vida de cada dia, não é verdade? Precisamos de conhecimentos para executar trabalhos, conhecimentos para agir, conhecimentos para nos guiarem ao alvo, ao sucesso, à realização de algo. E esse próprio conhecimento se torna o fator de nosso cativeiro. Mas pode a mente liberta-se do conhecimento?

(...) O seguir implica sempre acumulação de conhecimentos, não é verdade? E onde há acumulação de conhecimentos tem de haver imitação. Afinal, quando lhe é feita uma pergunta sobre uma questão que conhece bem, sua resposta é imediata. Se lhe perguntam onde mora, qual a sua profissão, seu nome, etc., a memória responde instantaneamente, porque são coisas com que você familiarizado. Mas se lhe é feita uma pergunta mais complexa, há então hesitação —  isso implica que a mente está dando uma busca nos arquivos da memória, para achar a resposta correta. E se lhe perguntam uma cosia sobre a qual praticamente nada sabe, você recorre a um livro ou busca mais profundamente naquela parte da consciência que é a memória. Deve Haver memória, porque do contrário, você não poderia voltar para sua casa, executar seu trabalho, construir uma ponte, etc. Aprendemos uma multidão de coisas necessárias e esses conhecimentos naturalmente não devem ser esquecidos. Mas eu me refiro a conhecimentos de ordem completamente diferente: os conhecimentos que a psique acumula, com o fim de proteger-se no futuro e realizar qualquer coisa que deseje realizar, psicologicamente, espiritualmente. É esse conhecimento que nos faz egocêntricos, porque a mente se serve dele como meio de dar continuidade a si mesma, como meio de expansão do "eu", É a esse conhecimento que cumpre renunciar totalmente. Esta é a verdadeira renúncia — e não o abandonar uns poucos bens, uma casa, um pedaço de terra, e cingir uma tanga. Temos, pois, esse conhecimento acumulado, sobre o qual a psique se forma e se mantém. E pode a mente, que é resultado do passado, renunciar a esse conhecimento? Decerto, enquanto a mente não se descartar desse conhecimento, nunca encontrará o que é novo, jamais conhecerá o instante atemporal, que é o "estado criador". Veja, o que necessitamos neste momento não é mais físicos, mais cientistas, engenheiros, políticos, burocratas, porém indivíduos que conheceram esse "estado criador", porque esses indivíduos é que são as pessoas verdadeiramente religiosas — o que significa que não pertencem a nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhuma classificação. Eis porque é muito importante compreender todo esse processo de acumulação de conhecimentos, que subentende identificação e senso de avaliação. Pode a mente estar livre, para observar sem avaliação nem julgamento? Não resta dúvida de que suas avaliações, suas comparações, suas condenações baseiam-se todas no conhecimento, e essa mente é incapaz de compreender o que é verdadeiro. 

Se você observar o processo de seu próprio pensar, verá que a mente só tem interesse em acumular mais e mais conhecimentos, e por essa razão nunca há um momento de liberdade, para explorar. E acho muito importante compreender, isto é, "experimentar", real e instantaneamente, esse estado de liberdade do passado, sem continuidade, — e não apenas asseverar que a mente pode ou que a mente não pode ser livre. 

(...) A mente, em verdade, é resultado do passado, de muitos dias pretéritos, o que é um fato bem óbvio. Ela é o resíduo do conhecido — sendo o conhecido a coisa experimentada, a palavra, o símbolo, o nome, o inteiro processo de reconhecimento. Essa mente, de certo é incapaz de descobrir ou "experimentar" o desconhecido. Ela poderá especular, mas sua especulação estará baseada no conhecido, nas coisas que leu. Só poderá a mente experimentar "aquele estado", quando o conhecimento — e por este termo entendo a memória de muitas experiências, — o inteiro processo de reconhecimento, que é "eu", "meu" — houver terminado. 

Pois bem. Se você puder, escutar não apenas o que está sendo dito, mas também afastar de si tudo o que conhece — as conclusões, as avaliações, as determinações, os ideais — verá então surgir um estado sem continuidade, como memória, mas que é, instantaneamente, a totalidade do Ser. Esse momento é que é o Sublime, o Supremo, e ele precisa ser experimentado. Mas só se pode experimenta-lo, quando a mente está completamente tranquila, compreendendo a totalidade de sua própria estrutura. É pelo autoconhecimento que vem a quietude da mente, e não por meio da disciplina, por meio da compulsão. E nessa tranquilidade total, você encontrará um momento em que não está relacionado com o passado, um instante em que se verifica a criação. E esse estado é essencial, porque liberta a mente do "coletivo" e dá existência à individualidade. 

O "coletivo" é a mente condicionada pela sociedade, por influências inúmeras, pelos valores e crenças a que se apega a multidão e de que uns poucos se livram, mas só para lhe acrescentarem mais uma crença. Em vista de tudo isso, é possível para a mente, sem esforço algum, renunciar ao passado? Enquanto não o fizer, continuará a haver a observância da tradição, de ontem ou de há milhares de anos. E a mente que segue a tradição é imitativa, dependente de um instrutor, com o que mantém a desigualdade, não apenas no nível físico, mas também no nível psicológico. Para essa mente, a "criação" é apenas uma palavra sem sentido. Para se reproduzir um estado diferente, uma cultura diferente, uma diferente maneira de vida, é de todo necessária a libertação do indivíduo, a libertação dessa força criadora interior que produzirá sua sociedade própria, seu valores próprios.

Krishnamurti em, DA SOLIDÃO À PLENITUDE HUMANA

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O estado de criação que não é imitação

Principalmente nestes tempos em que tanta confusão lavra pelo mundo, em que há tanta autoridades, tantos gurus, tantos guias, cada um deles afirmando e negando, cada um oferecendo um novo padrão de ação, não será importante descobrir o que é a ação independente do padrão, independente da cópia? Só podemos descobrir isso quando compreendermos o processo e o significado da imitação — não só a imitação e o conformismo produzidos pela autoridade de nossa experiência. A autoridade vem à existência — não é verdade? — quando desejamos estar bem seguros; e quanto mais desejarmos segurança, tanto menos a teremos — o que bem demonstram estas guerras intermináveis. Cada grupo constituído de supostos indivíduos deseja estar em segurança e por isso cria um sistema, um padrão de segurança baseado em sua própria autoridade, em conflito com a autoridade dos outros. Assim sendo, enquanto buscais a segurança, sob qualquer forma, psicológica ou fisiológica, haverá conflito, haverá destruição. O desejo de segurança implica conformismo; e só quando a mente está de fato insegura, completamente incerta, quando não depende de autoridade alguma, nem exterior nem interior, quando não está imitando um exemplo, um ideal, ou aferrada à autoridade do que foi — só então está a mente isenta de conformismos e, portanto, livre para descobrir; e só então há criação.

Nosso problema, pois, não é de como agir, mas de como fazer surgir aquele estado de criação que é a verdadeira individualidade. Aquele estado, obviamente, não se baseia em ideia alguma, porque a criação nunca pode ser uma ideação. A ideação tem de cessar, para que surja a ação criadora. Não pode haver ação criadora enquanto existir um padrão, uma ideia; e como a nossa vida está baseada na ideia, no ajustamento ao ideal, não somos criadores — este é o problema real, e não como agir. Qualquer um pode dizer-vos como agir, qualquer político, qualquer sistema engenhoso, pode indicar-vos o que deveis fazer; mas, ao fazê-lo, criareis mais malefícios, mais sofrimentos, mais confusão, mais luta, porque a vossa ação não é consequência da criação. Eis porque importa  que eu esteja livre do conformismo e seja um verdadeiro indivíduo. Para o conseguir, precisamos saber o que somos, a cada momento; e na compreensão do que somos, encontra-se a possibilidade de criar uma sociedade não baseada no conflito, na destruição e no sofrimento. Um indivíduo nesse estado é um indivíduo feliz, e a sociedade não exige imitação de virtude; ao contrário, a felicidade cria a virtude. Um homem feliz é um homem virtuoso — o homem infeliz é que não é virtuoso; e por mais que se esforce por se tornar virtuoso, enquanto for infeliz, para ele não existirá virtude. Pode ele tornar-se respeitável, mas a respeitabilidade só servirá para encobrir sua infelicidade. O que tem importância, portanto, é descobrir por nós mesmos o padrão de conformismo e perceber a verdade relativa a esse conformismo; porque só quando percebermos que o padrão é criado pelo temor à insegurança atingiremos o estado de criação.

Jiddu Krishnamurti — 12 de fevereiro de 1950 — O que estamos buscando?


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Por que razão a mente se deteriora?

Numa destas manhãs, vi quando um morto era levado para ser cremado. Envolto em vistoso pano cor de vermelho purpúreo, o corpo oscilava ao ritmo dos quatro mortais que o transportavam. Que espécie de impressão lhe causa um corpo morto? Você não desejaria saber por que há deterioração? Você compra um motor novo em folha e, passados poucos anos, está completamente gasto. O corpo também se gasta; mas, você não desejaria investigar um pouco mais além, para descobrir porque razão a mente se deteriora? Mais cedo ou mais tarde ocorrerá a morte do corpo, mas a maioria de nós já tem a mente morta, já se verificou a deterioração; por que a mente se deteriora? O corpo se deteriora porque o mantemos em uso constante, e o organismo se gasta. Doença, acidente, velhice, má alimentação, deficiências hereditárias — tais são os fatores responsáveis pela deterioração e morte do corpo. Mas, por que deve a mente deteriorar-se, envelhecer, tornar-se pesada, embotada?

Ao ver um corpo morto, isso não lhe dá o que pensar? Embora nosso corpo deva morrer, por que deve a mente deteriorar-se? Nunca lhe ocorreu esta pergunta? Pois a mente, com efeito, se deteriora; vemos isso acontecer não só com as pessoas idosas, mas também com as pessoas jovens. Vemos como, nos jovens, a mente já está se tornando embotada, pesada, insensível; e, se pudermos descobrir por que razão a mente deteriora, então talvez descubramos algo verdadeiramente indestrutível. Talvez compreendamos, então, o que é a vida eterna, a vida que não tem fim, que não está no tempo, a vida que é incorruptível, que não degenera como o corpo que se transporta para o cais à beira do rio, onde é cremado e suas cinzas lançadas ao rio.

Mas, por que a mente se deteriora? Você já refletiu a esse respeito? Como você ainda é muito jovem — e se a sociedade, ou seus pais, ou as circunstâncias ainda não lhe tornaram embotado — você possui uma mente nova, ardorosa, curiosa. Você deseja saber por que existem as estrelas, por que morrem os pássaros, por que caem as folhas, como voa o avião a jato; muitas coisas você deseja saber. Mas, esse impulso vital para investigar, descobrir, é depressa sufocado, não é verdade? Sufocado pelo medo, pelo peso da tradição, por sua própria incapacidade para enfrentar essa coisa extraordinária que se chama a vida. Você já não notou quão rapidamente é destruído o seu ardor, através de uma palavra áspera, um gesto depreciativo, pelo medo de um exame, a ameaça de um pai — significando isso que a sua sensibilidade já está sendo destruída e sua mente se tornando embotada?

Outro caso de embotamento é a imitação. Pela tradição, você é obrigado a imitar. O peso do passado lhe força a se ajustar, a estabelecer uma linha de conduta e, com esse ajustamento, a mente se sente protegida, em segurança; você se instala numa rotina bem “lubrificada”, para que possa deslizar suavemente, livre de perturbações, sem o mais ligeiro estremecimento de dúvida. Observe os adultos que lhe rodeiam e verá que a mente deles não quer ser perturbada. Eles querem paz, ainda que seja a paz da morte; mas a verdadeira paz é coisa muito diferente.

Você já notou que, quando a mente se fixa numa rotina, num padrão, sempre o faz inspirada pelo desejo de segurança? É por esta razão que ela segue um ideal, um guru. Quer segurança, ausência de perturbação e, por isso, adormece. Quando lê, em seus livros de história, a respeito dos grandes líderes, santos, guerreiros, você não se surpreende desejando igualá-los? Isto não significa que não haja grandes homens no mundo; mas o instinto é imitar os grandes homens, procurar tornar-se igual a eles — e este é um dos fatores de deterioração, porque, então, a mente se coloca num molde. Igualmente, a sociedade não deseja indivíduos alertados, ardorosos, revolucionários, porque tais indivíduos não se ajustarão ao padrão social estabelecido e há sempre o perigo de que quebrem esse padrão. É por isso que a sociedade se empenha em prender sua mente em seu padrão, e é por isso que a chamada educação lhe estimula a imitar, a seguir, a se ajustar.

Ora, pode a mente deixar de imitar? Isto é, pode deixar de formar hábitos? E pode a mente que já se acha enredada no hábito, dele ficar livre?

A mente é o resultado do hábito, não? Ela é o resultado da tradição, do tempo — sendo “tempo” a repetição, a continuidade do passado. E pode a mente, a sua mente, deixar de pensar em termos daquilo que foi — e daquilo que será, que é, na verdade, uma projeção do que foi? Pode sua mente se libertar dos hábitos e deixar de criar hábitos? Se você penetrar bem profundamente neste problema, verá que pode. E quando a mente se renova sem formar novos padrões, novos hábitos, sem tornar a cair na rotina da imitação, permanece, então, fresca, jovem, “inocente”, sendo, portanto, capaz de infinita compreensão.

Para essa mente, não há morte, uma vez que já não existe processo de acumulação. É o processo de acumulação que cria o hábito, a imitação, e, para a mente que acumula, há deterioração, morte. Mas, para a mente que não está cumulando, juntando, que está morrendo a cada dia, a cada minuto — para essa mente não há morte. Ela se acha num estado de “espaço infinito”.

Assim, pois, deve a mente morrer para tudo o que acumulou, todos os hábitos e virtudes imitadas, para todas as coisas de que se acostumou a depender, para ter o sentimento de segurança. A mente então já não está aprisionada na rede de seu próprio pensar. No morrer para o passado, a cada instante, a mente se torna fresca, nova, nunca se deteriorará nem colocará em movimento a “onda da escuridão”. 

Krishnamurti - A cultura e o problema humano

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Quem têm medo não pode ser inteligente

A inteligência, para mim, é verdade, beleza e amor.
(...)
O que eu chamo inteligência é o estado de plena consciência da fonte de suas ações e, para descobrir essa fonte, devem estar libertos da limitação da individualidade.

Busquem a fonte da ação de vocês pela constante vigilância da mente, pela compreensão do transitório, pelo significado pleno de uma experiência que encerra o eterno.
(...)
A inteligência, liberta do eu-consciência, torna a mente perfeita.

Inteligência é a harmonia da mente e do coração e, por isso, ela é suprema, em si mesma divina.
(...)
A sabedoria é como as águas que correm; não pode ser capturada nem adquirida. A sabedoria é verdadeira inteligência, e a verdadeira inteligência é o discernimento do reto valor. Vocês só podem descobrir o reto valor, quando a mente não mais procurar aquisições nem conformidades.  

Deixem que eu tome um exemplo e saberão o que tenho em mente dizer. Suponham que estão sofrendo intensamente, por causa da morte de alguém, ou porque alguém não lhes ama. Nesse sofrimento buscam felicidade, consolação. Por isso, prontamente aceitam qualquer consolo que outrem tenha para lhes oferecer. Se, entretanto, não estiverem buscando a felicidade como uma coisa oposta ao sofrimento de vocês, então examinarão impessoal e criticamente o que quer que lhes sobrevenha e, por essa maneira, descobrirão o verdadeiro valor de cada experiência, de cada dádiva da vida. No assim experimentar cada incidente da vida, com todo o ser de vocês, não buscando satisfação ou consolo próprio, nasce a inteligência.
(...)
A harmonia da mente e do coração é a verdadeira inteligência, não a inteligência proveniente do muito aprender, do muito conhecimento armazenado, porém a inteligência de uma mente que continuamente está se libertando de suas próprias ações, mente que, pelo fato de viver completamente no presente, não cria memória, mente que, pela sua própria ação, não cria uma resistência que desperdiça a concentração no presente.

Vocês necessitam da harmonia da mente e do coração para realizar a verdade, sendo que a maioria das pessoas evitam ser inteligentes, porque isto lhes exige ação. Para ser inteligente, vocês necessitam de se libertarem do fingimento da sociedade, da consciência de classe, do egoísmo. As pessoas que se interessam pelo movimento da realidade, podem ser inteligentes. A inteligência não é somente o dom do gênio. É na verdade muito simples; tão simples é, que lhes evita; ou melhor, é tão delicada que vocês a evitam, porque querem algo de concreto em que se agarrar. O que é que torna uma pessoa obtusa, estúpida, lenta? A falta de adaptabilidade, de plasticidade. É escrava de ideias particulares, que são ela própria, ao passo que, se sempre estiver alerta, vigilante, abrindo seu caminho sem finalidade fixa, sem uma ideia concreta de consecução, então será inteligente.
(...)
É o medo que conduz à ação não inteligente, portanto, ao sofrimento, e como os indivíduos estão cativos desse medo, eu procuro despertar neles a percepção da barreira por si mesma criada de ignorância e preconceito. Pelo fato de cada indivíduo buscar a própria segurança sob múltiplas formas, não pode haver cooperação inteligente com seu ambiente, e seguem-se daí muitos problemas, que não podem ser superficialmente resolvidos. Se cada um de vocês fosse corajoso, não ansiando por segurança, sob qualquer forma que fosse, neste mundo ou no além, então, neste estado de valentia, a inteligência poderia funcionar e produzir ordem e felicidade.
(...)
A inteligência desperta-se por meio do próprio percebimento de vocês, de um modo novo de viver, espontaneamente, sem esforço para se ajustarem. Nisto existe um êxtase que é verdadeira beleza.
(...)
O homem que têm medo não pode ser inteligente — pois o medo impede o puro discernimento.
(...)
Onde houver a imitação, não poderá haver o rico preenchimento da vida.
(...)
O desejo do oposto cria o temor e deste temor surge a imitação.
(...)
Onde há imitação, deve haver também medo, e a ação imitativa é desprovida da inteligência.
(...)
O indivíduo é o universo inteiro, o mundo inteiro, e não somente uma parte separada do mundo. O indivíduo é o todo-inclusive, não o todo-exclusivo. Ele está continuamente fazendo esforços, experimentando, em diferentes direções; porém o "eu" em vocês, em mim e em todos, é igual, embora suas expressões possam e devam variar. Quando compreenderem este fato e dele forem plenamente conhecedores, já não procurarão salvação no exterior. Não necessitarão de agente exterior e assim ficará abolida a causa fundamental do medo. Desembaraçar-se do medo é compreender que em vocês está o centro focal da expressão da vida. Quando tiverem tal visão, serão os criadores das oportunidades, já não evitareis as tentações, as transcenderão; já não desejarão imitar e se tornar uma máquina, em um tipo que é apenas o desejo de se conformar com uma base. Utilizarão a tradição para avaliar e por esse meio transcender toda a tradição.
(...)
A conduta nascida da compulsão, seja da recompensa ou da punição, a do temor ou do amor, não é reta conduta. É mera imitação forçar e drenar a mente, de acordo com certas ideias, a fim de evitar o conflito. Esta espécie de disciplina, imposta ou voluntária, não conduz à conduta reta.

A conduta reta só é possível, quando vocês compreenderem o pleno significado do processo auto-ativo da ignorância e o reformar da limitação pela ação do desejo. No discernimento profundo do processo do medo, dá-se o despertar daquela inteligência que produz a reta conduta. Pode a inteligência ser despertada pela disciplina, imposta ou voluntária?

Será isso questão de drenar o pensamento de acordo com um molde particular? A inteligência pode ser despertada, pelo medo que lhe impede de se subjugarem a um padrão moral? A compulsão, de qualquer espécie que seja, externa ou voluntariamente imposta, não pode despertar a inteligência, porque a imposição é resultante do temor. Onde há medo não pode haver inteligência. Onde funciona a inteligência, há ajuste espontâneo, sem o processo da disciplina.

Portanto, a questão não é se a disciplina é certa ou errada, ou se é necessária, mas como pode a mente libertar-se do temor por si próprio criado. Pois, quando há libertação do medo, não existe o sentimento da disciplina, mas sim a plenitude da vida.

O pensamento deve ser vital, dinâmico, não mecânico ou imitativo.

Considera-se pensar positivo um sistema de disciplinar a mente de acordo com uma modalidade particular. Primeiramente, vocês criam ou aceitam uma imagem intelectual, um ideal e, de acordo com este, torcem o pensamento de vocês.

Esta conformidade, esta imitação é tomada erroneamente por compreensão; porém, de fato, é apenas ânsia de segurança, nascida do medo. O incitamento do medo conduz apenas à conformidade, e a disciplina nascida do medo não é o reto pensar. 

Krishnamurti — O medo — 1946

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill