Principalmente nestes tempos em
que tanta confusão lavra pelo mundo, em que há tanta autoridades, tantos gurus,
tantos guias, cada um deles afirmando e negando, cada um oferecendo um novo
padrão de ação, não será importante descobrir o que é a ação independente do
padrão, independente da cópia? Só podemos descobrir isso quando compreendermos
o processo e o significado da imitação — não só a imitação e o conformismo
produzidos pela autoridade de nossa experiência. A autoridade vem à existência
— não é verdade? — quando desejamos estar bem seguros; e quanto mais desejarmos
segurança, tanto menos a teremos — o que bem demonstram estas guerras
intermináveis. Cada grupo constituído de supostos indivíduos deseja estar em
segurança e por isso cria um sistema, um padrão de segurança baseado em sua
própria autoridade, em conflito com a autoridade dos outros. Assim sendo, enquanto
buscais a segurança, sob qualquer forma, psicológica ou fisiológica, haverá
conflito, haverá destruição. O desejo de segurança implica conformismo; e só
quando a mente está de fato insegura, completamente incerta, quando não depende
de autoridade alguma, nem exterior nem interior, quando não está imitando um
exemplo, um ideal, ou aferrada à autoridade do que foi — só então está a
mente isenta de conformismos e, portanto, livre para descobrir; e só então há
criação.
Nosso problema, pois, não é de como
agir, mas de como fazer surgir aquele estado de criação que é a verdadeira individualidade.
Aquele estado, obviamente, não se baseia em ideia alguma, porque a criação
nunca pode ser uma ideação. A ideação tem de cessar, para que surja a ação
criadora. Não pode haver ação criadora enquanto existir um padrão, uma ideia; e
como a nossa vida está baseada na ideia, no ajustamento ao ideal, não somos
criadores — este é o problema real, e não como agir. Qualquer um pode dizer-vos
como agir, qualquer político, qualquer sistema engenhoso, pode indicar-vos o
que deveis fazer; mas, ao fazê-lo, criareis mais malefícios, mais sofrimentos,
mais confusão, mais luta, porque a vossa ação não é consequência da criação.
Eis porque importa que eu esteja livre do
conformismo e seja um verdadeiro indivíduo. Para o conseguir, precisamos saber
o que somos, a cada momento; e na compreensão do que somos, encontra-se a
possibilidade de criar uma sociedade não baseada no conflito, na destruição e
no sofrimento. Um indivíduo nesse estado é um indivíduo feliz, e a sociedade
não exige imitação de virtude; ao contrário, a felicidade cria a virtude. Um
homem feliz é um homem virtuoso — o homem infeliz é que não é virtuoso; e por
mais que se esforce por se tornar virtuoso, enquanto for infeliz, para ele não
existirá virtude. Pode ele tornar-se respeitável, mas a respeitabilidade só
servirá para encobrir sua infelicidade. O que tem importância, portanto, é
descobrir por nós mesmos o padrão de conformismo e perceber a verdade relativa
a esse conformismo; porque só quando percebermos que o padrão é criado pelo
temor à insegurança atingiremos o estado de criação.
Jiddu Krishnamurti — 12 de fevereiro de 1950 — O que estamos
buscando?