O interrogante deseja saber como
a minha mente funciona. Se posso estender-me um pouco a esse respeito, eu o
mostrarei. Não há um centro de onde ela opera, não há memória de onde ela
reage. Há a lembrança do caminho que acabo de tomar, do caminho no qual vivo,
há o reconhecimento de pessoas, incidentes; mas não há processo de acumulação,
não há processo mecânico de gradual acumulação do qual procede a reação. Se eu
desconhecesse o uso do inglês ou de outra língua qualquer, não estaria em condições
de falar. A comunicação no nível verbal é necessária, para que possamos
entender-nos; mas o que se diz, como é dito, e de onde é dito, isso é que tem
importância. Ora, quando se faz uma pergunta, se a resposta parte de uma mente
que acumulou experiências e lembranças, essa resposta é então mera reação e não
é, portanto, raciocínio; mas quando não existe acumulação, o que significa que
não existe reação, não há frustração, nem esforço, nem luta. O “processo” de
acumulação, o centro acumulador, assemelha-se a uma árvore de raízes profundas,
dentro de um curso d’água, a juntar dejetos em redor de si; e o pensamento,
sentado no alto dessa árvore, imagina que está pensando, vivendo. A mente assim
só está acumulando; e a mente que acumula, sejam conhecimentos, seja dinheiro
ou experiência, não está vivendo, evidentemente. Só quando a mente se move,
quando fluí, há o viver. O interrogante deseja saber como se chega à sabedoria
e como ela se cultiva. Não se pode chegar à sabedoria; pode-se cultivar o
saber, o cabedal intelectual, mas a sabedoria não é cultivável, porque não é
coisa que se possa acumular. No momento em que começamos a acumular, o que
temos é mera informação, mero conhecimento, que não é sabedoria. A entidade que
cultiva sabedoria faz ainda parte do pensamento, e o pensamento é uma mera
reação de estímulos. O pensamento, por conseguinte, é, tão só, a acumulação de
memória, de experiência, de conhecimento, e, nessas condições, o pensamento não
pode encontrar a sabedoria. Só na cessação do pensar há sabedoria; e a cessação
do pensar só ocorre ao terminar o processo de acumulação, o que significa
reconhecimento do “eu” e do “meu”. Enquanto a mente funciona na esfera do “eu”
e do “meu”, que é apenas reação, não haverá sabedoria. Enquanto falo, estou consciente
das palavras que pronuncio, mas não estou reagindo à pergunta de um centro.
Para se descobrir a verdade de uma questão, de um problema, o processo do
pensar, que é mecânico, e que conhecemos, tem de parar. Significa isso, por
conseguinte, que há necessidade de completo silêncio interior, e só então
conhecerão aquela ação criadora que não é mecânica, que não é mera reação. O
silêncio, pois, é o começo da sabedoria. Veja, senhor, isto é bastante simples.
Quando você tem um problema, sua primeira reação é pensar a respeito e
resistir-lhe, aceita-lo ou livrar-se dele por meio de explicações — não é
assim? Observe a si mesmo, e verá. Tome qualquer problema que surgir, e verá
que a reação imediata é resistir-lhe ou aceita-lo; ou, se não faz nenhuma
destas duas coisas, você o justifica ou o afasta com explicações. Assim, quando
se faz uma pergunta, sua mente é logo colocada em movimento, como uma máquina;
reage prontamente. Mas se quiser resolver o problema, sua reação imediata será
o silêncio e não o pensar. Quando esta pergunta foi feita, minha reação foi o
silêncio; e, estando em silêncio, vi logo que onde há acumulação não pode haver
sabedoria. Sabedoria é espontaneidade, e não pode haver espontaneidade ou
liberdade, enquanto há acumulação de saber, de memória. Assim, o homem de
experiência não pode ser sábio nem um homem simples; mas o homem que está livre
do processo de acumulação é sábio, sabe o que é silêncio; e tudo o que procede
desse silêncio é verdadeiro. Esse silêncio não é coisa cultivável; não há
nenhum meio, nenhum caminho que a ele conduza, não há “como”. O perguntar “como?”
implica cultivo, não passa de uma reação do desejo de acumular silêncio. Mas ao
compreender todo o processo de acumulação, que é o processo do pensar você
conhecerá então aquele silêncio de onde brota a ação que não é reação; e
pode-se viver nesse silêncio a todas as horas, pois não é um dom, uma
capacidade — nada tem que ver com capacidade. Ele só vem a existência quando
observamos com atenção cada reação, cada pensamento, cada sentimento, quando
estamos conscientes do fato, sem explicação, sem resistência, sem aceitação ou
justificação; e ao perceber o fato com toda a clareza, sem o obstáculo de
barreiras e cortinas, então a própria percepção do fato dissolve o fato, e a
mente fica tranquila. Só quando a mente está tranquila, sem fazer esforço algum
para estar tranquila, só então ela é livre. Senhor, só a mente livre é sábia, e
para ser livre, a mente tem de ser silenciosa.
Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?