Temos de considerar juntos se o cérebro, que opera parcialmente, tem a capacidade de funcionar inteiramente, completamente. Agora, estamos usando apenas uma parte dele, o que podemos observar por nós mesmos. Podemos perceber que a especialização, que pode ser necessária, produz o funcionamento de apenas uma parte do cérebro.(...) No mundo moderno temos que nos especializar e estamos perguntando se, mesmo assim, é possível permitir ao cérebro que opere inteiramente, completamente.
(...) Agora, pode o cérebro ser totalmente livre para funcionar inteiramente? Porque qualquer especialização, o seguir qualquer caminho, uma determinada rotina habitual ou modelo, inevitavelmente implica que o cérebro está funcionando parcialmente e, portanto, com energia limitada. Vivemos numa sociedade de especialização(...) certas especializações são necessárias (...) mas, apesar disso, pode o cérebro funcionar completamente, inteiramente e, portanto, possuir uma energia extraordinária?
(...) Se observarmos nossa própria atividade, descobrimos que o cérebro funciona de modo muito parcial, fragmentariamente, resultando que a nossa energia torna-se cada vez menor à medida que envelhecemos. Biologicamente, fisicamente, quando somos jovens somos cheios de vitalidade; mas aos sermos instruídos e, depois, seguirmos um modo de vida que necessita de especialização, a atividade do cérebro torna-se reduzida, limitada e a sua energia torna-se cada vez menor.
Embora o cérebro possa ser obrigado a ter uma determinada forma de especialização(...) será que ele também pode operar integralmente? Ele só pode operar integralmente, com a tremenda vitalidade de um milhão de anos, quando é completamente livre.
(...) Pode o cérebro humano ser totalmente livre, sem qualquer forma de ligação — ligação a determinadas crenças, experiências, assim por diante? Quando o cérebro está ocupado com problemas, com especialização, com um modo de vida, está numa atividade limitada.
(...) Pode a consciência de vocês, com seu conteúdo básico de medo, da busca do prazer, com todas as implicações do pesar, da dor e do sofrimento, sendo magoado interiormente, e assim por diante, tornar-se totalmente livre?
(...) O conteúdo da nossa consciência é formado por todas as atividades do pensamento. Pode o conteúdo ser sempre livre, de modo a haver uma dimensão totalmente diferente?
(...) O conteúdo do nosso consciente é o movimento do pensamento no tempo e no espaço. Seja esse tempo muito limitado, ou vasto e extenso, ainda assim é um movimento no tempo e no espaço.
O pensamento criou muitas formas diferentes de poder em nós, psicologicamente, mas todas elas são limitadas. Quando há a libertação da limitação há um surpreendente sentido de poder, não o poder mecânico, mas um extraordinário sentido de energia. Isso nada tem a ver com o pensamento e, portanto, esse poder, essa energia, não podem ser mal-empregados. Mas se o pensamento diz: “vou usá-la”, então esse poder, essa energia é dissipada.
Jiddu Krishnamurti — A rede do pensamento