O descobrimento do que é
verdadeiro não se efetua por meio de esforço consciente. Se compreendermos isso
verdadeiramente, chegaremos ao estado em que a mente reconhecerá a sua
incapacidade de atender aos nossos problemas. Então talvez nos seja oferecida a
possibilidade de descobrirmos uma nova fonte de ação, uma fonte diferente, cujo
descobrimento nos habilitará a encontrar uma nova maneira de pensar, de sentir,
de viver, de existir.
(...)A Verdade é aquilo que nunca
se contaminou, que não se pode conceber, premeditar, ler nos livros, que não
pode nos ser dada por outrem. A única solução para os nossos problemas é o
descobrimento do que é a Verdade. Esta é a única revolução capaz de nos influir
radicalmente na existência, na nossa vida de cada dia, em nossas relações
diárias.
(...) Esse descobrimento do que é
a Verdade não se verifica por meio do esforço consciente. Acho muito importante
compreender-se que não podemos IR à Verdade. E A VERDADE SÓ PODE VIR-NOS
IMPERCEPTIVELMENTE, QUANDO NÃO A ESPERAMOS. Qualquer forma de expectativa, de
esperança é uma forma de "projeção" — projeção do "eu",
sendo o "eu"o coletivo. (...) Esse estado só é realizável quando
compreendermos o processo de nossa mente, e não quando procuramos imaginar o
que ele seja, ou especular-lhe a respeito. Tão-somente ao compreendermos o
processo do nosso pensar e vermos o quanto nossas mentes estão condicionadas,
só então há uma possibilidade de descobrir o que é a Verdade, a qual, só ela,
pode libertar-nos dos nossos problemas.
(...) O descobrimento da Verdade,
porém, é um processo muito árduo. Requer pensamento amadurecido — e não fáceis
soluções, conclusões, ou juízos, segundo a fórmula esquerdista ou direitista,
ou tirados do que aprenderam nos seus livros ou da experiência de vocês. Requer
estudo muito sério.
(...) Vocês não podem achar o que
é a Verdade com uma mente frívola. Uma mente superficial, maldizente, estúpida,
ambiciosa — jamais descobrirá o que é a Verdade. Uma mente frívola não pode
criar senão uma coisa frívola; não pode criar senão um Deus frívolo. Nosso
problema, por conseguinte, não é o de achar ou descobrir o que é Deus, mas o de
percebermos como somos frívolos.
(...) O importante é descobrir-se
e compreender-se O QUE É, e não, transformá-lo noutra coisa. Afinal, uma mente
estúpida, mesmo quando procura tornar-se muito sagaz, muito penetrante e
inteligente, contínua estúpida do mesmo modo, porque sua essência mesma é a
estupidez.
(...) Só a Verdade pode
libertar-nos. A compreensão apenas pode vir quando não estamos seguindo alguém,
quando não existe autoridade alguma — seja a autoridade da tradição, seja a
autoridade dos livros, do GURU, da nossa própria experiência. Nossa experiência
é resultado do nosso condicionamento, e tal experiência não pode ajudar-nos a
descobrir a Verdade.
Nessas condições, os que se sente
seriamente interessados, os que desejam de verdade descobrir a Verdade relativa
aos seus problemas, devem, naturalmente, colocar de lado tudo quanto é
autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de
temor.(...) Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a
compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos, assim, a nós
mesmos, o descobrimento da Verdade.
(...) A Verdade — a única
religião — só pode ser achada, ou, melhor, pode manifestar-se somente quando
nossa mente se acha de todo tranquila, sem sentir necessidades, em
"projetar", sem desejar "fazer" ou "não fazer".
Isso não implica retirada para longe do mundo; não há possibilidade de retirada,
não há possibilidade de isolamento. Estar em relação é — Vida. E nas nossas
relações podemos descobrir o que é Verdade, o que é Amor.
(...) A Verdade tem de vir a
vocês. A Verdade não pode ser chamada. E ela só pode vir quando estão abertos,
quando não possuem nenhum desejo. Só quando vazia, de todo vazia, a taça de
vocês, só quando sabem que estão mortos, só então se apresenta aquele estado em
que vocês têm a taça sempre cheia. Só há, então, Amor, o amor infinito.
(...) Mas, no que diz respeito à
maioria de nós, nosso conhecimento, nossas experiências, autoridades,
compulsões, as várias atividades de nossa vida diária estão nos impedindo de
experimentar diretamente algo que é verdadeiro. Por mais que me ouçam, suas
mentes estão sendo estorvadas de tal maneira pela autoridade, pelo saber, pela
experiência, que são incapazes de ver as coisas diretamente. Assim, pois,
apenas vem a compreensão quando a mente está realmente tranquila, quando não é
coagida, compelida, quando na sua tranquilidade e serenidade, a mente está
receptiva. Se compreensão não é acumulação, não se pode juntar compreensão; não
se pode armazenar compreensão. A compreensão vem em clarões, numa série de
clarões ou num só clarão de longa duração — o que indica que a mente deve
achar-se sobremodo tranquila, ESCUTANDO, sem fazer escolha alguma. Mas uma
mente condicionada, uma mente disciplinada, aprisionada, limitada por
conclusões — essa mente não pode compreender, não pode experimentar diretamente
a Verdade. E é esse experimentar da Verdade, de momento a momento, que produz a
libertação criadora.
(...) Essa atividade criadora é
Amor. Sem Amor não há revolução, e o Amor não é uma ação consciente. O Amor é
algo além dos limites do pensamento. Só se pode compreender, sentir,
experimentar o Amor, quando a mente se acha de todo tranquila; e só então
existe a possibilidade de efetuar-se uma revolução fundamental no mundo.
Jiddu Krishnamurti — Autoconhecimento — Base da Sabedoria
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